Resumo: Artigo 36753
A psicologia e a dócil fabricação de subjetividades ( 89, 93,102, 108, 112, 115)
Arthur Ferreira, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brazil.
Apresentação: Friday, May 30, 2008 1:15PM - 3:15PM sala 201- UNIRIO VII ESOCITE - Sessão 20 - Chair: Carlos Alvarez Maia
Abstract.
Por que existem tantas orientações psicológicas, não concordando os psicólogos nem quanto à própria definição da psicologia? Para tentar explicar esta pluralidade da psicologia, lançamos mão do modelo de Máquinas de Múltipas Capturas, segundo o qual o surgimento de uma versão psicológica é possibilitado a partir do cruzamento de conceitos e modelos científicos com práticas sociais. Estas práticas sociais, ungidas pelo poder da verdade científica, retornam sobre os sujeitos, impondo-se a eles como sua verdade última. O objetivo deste trabalho é poder estudar empiricamente esta produção de subjetividades gerada pelo poder de verdade embutido nas práticas psicológicas. Para este estudo empírico, foram constituídos alguns questionários de sondagem. Com o primeiro questionário, pretendeu-se testar a concordância dos sujeitos, em função da posição do enunciador do discurso. No caso, a hipótese proposta era de que a enunciação de um grupo de três sentenças sobre a violência, variando através do proferimento de diversos personagens fictícios como religiosos, políticos e psicológicos, teria, perante estes últimos maior possibilidade de concordância. Já com segundo questionário tentou-se avaliar o grau de adesão a proposições de cunho psicológico, neurobiológico e esotérico na explicação de diversos temas, esperando-se uma maior adesão às primeiras. Isto, de três formas: numa escolha exclusiva entre estas alternativas (forma A), na atribuição de um grau a estas (forma B) e na avaliação da ordem de preferência pelas sentenças (forma C). Com o terceiro questionário, realizado à maneira da sondagem anterior, esboçou-se uma avaliação do grau de adesão a enunciados oriundos das principais orientações psicológicas (psicanálise, humanismo, behaviorismo e cognitivismo). Tais questionários foram submetidos ao comitê de ética em pesquisa da UFRJ e aplicados em estudantes do segundo grau, assim escolhidos por se encontrarem num período da formação sem qualquer especialização profissional, apesar de se esperar uma ampla difusão de experiências, práticas e conceitos psicológicos. Os estudantes, cerca de 320 eram oriundos de quatro escolas do Estado do Rio de Janeiro, uma privada e três públicas, possuindo os mais variados perfis sócio-econômicos. Quanto aos resultados, na primeira sondagem, obteve-se uma preferência maior pelos enunciados pronunciados pelos psicólogos em contraposição aos religiosos e políticos, mesmo que esta não fosse estatisticamente significativa no teste Qui-quadrado. Com relação à segunda sondagem, foi observada a predileção pelos enunciados psicológicos, tanto no formato A, superados nas formas B e C pelos esotéricos. Os resultados foram estatisticamente significativos tanto na forma A (Qui-quadrado) quanto na forma B e C (análise variância). No caso da terceira sondagem, onde era testada a preferência por uma das quatro principais linhas psicológicas (humanismo, behaviorismo, psicanálise, cognitivismo) foi observado que, tanto na sondagens A, B e C houveram diferenças pequenas, mas estatisticamente significativas. No caso, as sentenças psicanalíticas obtiveram a predominância nas forma B e C, embora tenham-na cedida na forma A (escolha excclusiva) às cognitivistas. No caso, pode ser constatada uma certa desvalorização das sentenças humanistas e behavioristas À guisa de conclusão, pode-se dizer que este estudo utilizou métodos e análises psicológicas dentro do quadrante da pesquisa quantitativa, supostamente mais rigorosa e objetiva, para trazer à cena a possibilidade de adesão prévia dos sujeitos ao discurso psicológico. O que traz à cena um impasse: ou tais métodos são por demais precisos revelando que os sujeitos possuem uma pré-disposição de adesão aos discursos psicológicos, ou tais métodos são falhos, uma vez que não conseguem contornar este viés da adesão prévia dos sujeitos. De uma forma ou de outra, como sugere Vinciane Despret, coloca-se em cena a "docilidade" dos sujeitos psicológicos dentro deste tipo de investigação. No entanto, esta pesquisa pode ser aperfeiçoada na direção de novas abordagens, solicitando dos sujeitos intervenções mais abertas, liberando não apenas a possibilidade de respostas mais livres, mas a própria colocação de novos problemas por parte dos sujeitos. Considerando estes cada vez menos como simples "sujeitos" e mais como co-experts. Pois, quanto mais ingênuos e puros os consideramos, mais paradoxalmente podemos extorquir subjetividades em nossos moldes.