Resumo: Artigo 36364
Autoralidade e novas mídias (5, 7, 10, 59, 92)
Daniel Nogueira, PUC-Rio, Brazil.
Apresentação: Thursday, May 29, 2008 3:45PM - 5:45PM sala 205 - UNIRIO VII ESOCITE - Sessão 27 - Chair: Jonatas Ferreira
Abstract.
O que têm em comum blog, fotolog, YouTube, Napster, MySpace, Wiki, Creative Commons, Linux e GNU, para ficar apenas nos mais conhecidos? O objetivo deste trabalho é tentar abranger sob um olhar único todas essas tecnologias (no sentido amplo da palavra) para compreender o que elas trazem de novo e de revolucionário. A discussão corrente sobre tais tecnologias geralmente fracassa em ir além do aspecto técnico e tecnicista da coisa, ou então reduz-se a uma admiração constante de novidades e uma esperança progressista no novo. Faz-se necessário, portanto, uma visão anterior, mais ampla e profunda, que possa entender o movimento histórico que elas perfazem em direção a novas possibilidades de produção e difusão da cultura. Neste trabalho, pretende-se analisar esse movimento do ponto de vista da figura do autor e sua relação de autoralidade com a obra. Em um primeiro momento, tentaremos ainda atualizar a discussão iniciada por Walter Benjamin em seu artigo de 1936 A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica: Que sentido ainda faz falar em propriedade intelectual na era da reprodutibilidade técnica perfeita a cópia digital , que não aliena o suposto proprietário de seu bem original? Que sentido ainda faz falar em bem quando este é apenas um conjunto de informações em um computador? Que sentido ainda faz falar em original de obras como um texto na internet ou um arquivo MP3 nas redes P2P? No meio digital, não é mais possível distinguir original e cópia, portanto tudo tem o mesmo valor valor de cópia. Cópia que, ainda por cima, pode ser feita livremente do ponto de vista técnico não há, portanto, sequer um valor de trabalho agregado. Disso pode-se entender, em parte, a crescente desvalorização da música gravada, e por outro lado, a crescente valorização de shows, a presença física do artista. Mas a revolução empreendida por essas tecnologias não pára por aí: as licenças Creative Commons e GNU representam o surgimento de uma nova forma de produção, que se aplica à produção artística (no caso de licenças CC, por exemplo), à produção de informação (no caso de toda a umbrella Wiki, por exemplo) e à produção de software (caso de Linux e de todo o movimento de software livre). Tome-se o como exemplo o paradigmático caso do Linux: um sistema operacional usado livremente no mundo todo, desenvolvido por milhares de pessoas sem uma coordenação central verticalizada, que teria custado cerca de US$ 1 bilhão se desenvolvido de modo tradicional. Como argumenta Eric S. Raymond em A catedral e o bazar, se por um lado essa forma de produção parece a princípio mais desorganizada portanto mais improdutiva , há que se levar em conta que por outro lado ela pode se aproveitar da criatividade e habilidade de um número muito maior de pessoas, que estão inseridas em mais e mais complexas relações entre si. E o aumento do número dessas relações faz aumentar exponencialmente a criatividade e habilidade técnica embutidos no produto final, além de retribuir os produtores com um acesso a um acervo mais vasto de conhecimento. As tecnologias nascidas da internet permitiram uma certa democratização e desmistificação da figura do autor qualquer anônimo pode publicar um texto, uma imagem, uma música ou um vídeo na internet. Mas com isso também alterou a relação tradicional produtor-receptor, vertical e direcionada, em nome de uma rede de relações horizontal e difusa, em que todo receptor é um novo produtor ou reprodutor possível. Ou ainda: não existe mais o produto final, estanque, acabado; toda criação pode ser recriada livremente, infinitamente. O ato de criação deixa de ser, enfim, um privilégio para tornar-se cada vez mais um direito, possibilitado tecnicamente e garantido juridicamente.