Resumo: Artigo 36338
Quando Crescer Quero Ser Musicoterapeuta (38, 46,47,53,86,114)
Marcello Santos, Programa EICOS - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brazil.
Apresentação: Thursday, May 29, 2008 3:45PM - 5:45PM sala 213 - UNIRIO VII ESOCITE - Sessão 53 - Chair: Debatedor a Confirmar
Abstract.
O presente trabalho pretende fazer uma leitura latouriana de um processo de emergência em uma rede sociotécnica. No caso, trata-se da construção de uma profissão. Musicoterapeuta. Em seu livro Ciência em Ação, Bruno Latour propõe um método para se estudar ciência, não a entendendo como um produto acabado, mas um estudo de seu processo de construção, sua história marcada não só pelo conhecimento duro, mas por uma história de passionalidades, incertezas, escolhas, alianças, micropoliticas, acasos. Na primeira regra metodológica enunciada pelo autor francês, há a indicação de se acompanhar as controvérsias constituintes das emergências, entendidas por mim como, a partir do conceito de Johnson (2001, p. 14), o movimento das regras de nível baixo para a sofisticação do nível mais alto, no qual uma rede produziria fatos e artefatos por uma inteligência coletiva, em termos latourianos, uma engenharia heterogênea. Essa trama sociotécnica é o objeto de estudo de quem pretende entrar pela porta de trás da ciência, a percepção de uma construção na qual contexto e conteúdo estão completamente indissociados, permitindo-nos um olhar sociotécnico estratégico, recuperando-nos da grande divisão cartesiana que nos constitui e que naturalizamos, separando natureza de cultura. Esse trabalho teve como escopo acompanhar os primeiros passos de um grupo de musicoterapeutas antes que o campo se torne uma profissão, os desafios, as portas abertas, as frestas, as decisões, os receios. Em meio a algumas entrevistas realizadas, revolucionariamente alguns fatos me saltaram às vistas, norteando-me no sentido verdadeiro de minha busca. Refiro-me às questões do coletivo, que não poderia em hipótese alguma transformar-se numa caixa preta. Seria empobrecedor. Assim sendo, a trama me encaminhou para outras direções. As entrevistas foram ricas, o material permanece para análise posterior, pois me parece ter havido uma precipitação nas perguntas, um adiantamento dos fatos bem depois de se tornarem fatos. A partir das falas de dois representantes da classe, Marly Chagas, presidente da Associação de Musicoterapia do Rio de Janeiro e Marco Antônio Carvalho Santos, ousadamente mudei meu itinerário, na direção do coletivo e suas traduções, sua complexidade que é anterior à formação da profissão. Essas eram minhas perguntas e essa monografia é o começo de um insight, que não me atrevo de chamar respostas. Entendi que para efeito de meu pensamento no sentido de uma tese sobre essa rede sociotécnica,ater-me nesse trabalho a questões de tradução podem me libertar de muitas decisões erradas no caminho, de realmente poder configurar a saída de dentro para o lado de fora. Na própria apresentação de minhas intenções em sala, colegas puderam evidenciar a fragilidade desse coletivo, uma caixa ainda aberta, transparente. Ironicamente, caímos na dificuldade moderna em realmente se entender um coletivo que podemos chamar categoria profissional. Fala-se de identidade, de interesse comum, de Profissão, com p maiúsculo, algo que simboliza uma junção, um bloco, uma massa homogênea de pouca ou nenhuma história passional. A falácia científica moderna nos toma por completo: categoria, classe, classificação. Um bando!, como define o atual presidente da UBAM (União das Associações Brasileiras de Musicoterapia), Marco Antonio Santos, em momento de desencanto. Um saco de gatos que oferece risco à nossa regulamentação, afirmava eu quando presidente da Associação de Musicoterapia do Rio de Janeiro. É esse coletivo historicamente marcado pela heterogeneidade que produz o que chamamos de Musicoterapia e de categoria dos musicoterapeutas. É necessário entender que essa história coletiva é marcada pela construção de humanos e não-humanos. Seguindo a primeira regra metodológica de Latour, buscamos as controvérsias. Entre os lugares que podemos eleger para vermos essa heterogeneidade seria a lista de e-mails musicoterapia.com. br , criada para agilizar a circulação de informações, diminuir espaços e formar uma rede de musicoterapeutas. Uma rede formada por humanos e não-humanos. Devido à complexidade dessas ações, Latour sugere que se dê a tradução, a interpretação dada pelos construtores dos fatos aos seus interesses e aos das pessoas que eles alistam. Resume em estratégias de tradução, que permearão nossos estudos..