Resumo: Artigo 36307
Construção Participativa de Diagnósticos e Oficinas de Tecnologia Social em Cooperativas de Triagem de Resíduos Sólidos (12, 54, 98, 108, 116)
Ricardo de Oliveira Filho, Universidade Estadual de Campinas, Brazil.
Apresentação: Wednesday, May 29, 2008 1:15PM - 3:15PM sala 203 - UNIRIO VII ESOCITE - Sessão 57 - Chair: Laura Cruz Castro
Abstract.
No Brasil o sistema de separação de materiais recicláveis urbanos, além da população como produtora direta dos resíduos, conta como atores principais: o encarregado da coleta (geralmente empresas contratadas pelas prefeituras) e cooperativas de triagem. Este artigo está interessado nestas cooperativas, que surgem com a necessidade de geração de renda de famílias excluídas do mercado formal de trabalho que situam-se na linha de pobreza, e que, antes de se organizarem, muitas vezes trabalhavam em lixões em condições sub-humanas. As cooperativas representam uma forma de estruturação produtiva anti-hegemônica, dignificam e dão reconhecimento social ao trabalho dessas pessoas, mas mais que isso, são a fonte de sustento de diversas famílias, sendo este, um dos laços mais fortes que unem os trabalhadores. Longe de um modelo ideal, com condições dignas de trabalho, retiradas compatíveis com pelo menos o salário mínimo brasileiro, local de trabalho estruturado, materiais de proteção individual, material de trabalho e maquinário adequado à sua realidade, as cooperativas no Brasil enfrentam problemas que vão desde a falta de lugar para trabalhar (trabalham a céu aberto), passando pela baixa qualidade da matéria prima e indo até tecnologias inadequadas as suas condições. É importante destacar que neste trabalho, entende-se como tecnologia no seu sentido mais amplo que o aspecto puramente técnico, que somente envolve as máquinas, técnicas e conhecimentos aplicados, mas incluindo os aspectos culturais e ideológicos (Pacey, 1990) e que a questão tecnológica é essencial nos processos de mudança e desenvolvimento social. A tecnologia convencional é mais poupadora de mão-de-obra do que seria conveniente, possui escalas ótimas de produção sempre crescentes, sua cadência de produção é dada pelas máquinas, é segmentada, alienante e hierarquizada (Dagnino, 2004). Trazendo as características citadas para o contexto das cooperativas no Brasil, pode-se perceber que esta tecnologia é inadequada, entre várias razões pois o maquinário disponível é de alto custo (quase 100 vezes o valor do salário do cooperado), além de não levar em consideração as diferenças de gênero, como por exemplo, quando a força aplicada em determinadas etapas da produção requer quase sempre a presença masculina para sua realização. Outra questão relevante é que o fato da tecnologia convencional ser hierarquizada e segmentada fere os princípios do cooperativismo popular, onde a autogestão deveria predominar. Para este quadro, um instrumento de transformação sugerido é a Tecnologia Social, que aparece como uma alternativa à tecnologia convencional. Segundo Dagnino (2004), a TS é adequada a realidade local, leva em conta os valores sociais, é libertadora da criatividade e do potencial do produtor. A TS diferencia-se de outras alternativas à tecnologia convencional principalmente por promover processos participativos e por reconhecer o conhecimento popular no seu desenvolvimento. O projeto que se relata está sendo desenvolvido na Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Universidade Estadual de Campinas (ITCP/UNICAMP). A ITCP/UNICAMP é um projeto de extensão universitária, cujo objetivo é contribuir para o desenvolvimento da Economia Solidária a partir da formação de grupos autogestionários e/ou cooperativas e que embasa sua metodologia de trabalho na educação popular, levando sempre em conta a troca de saberes. O objetivo dessa pesquisa é promover elementos que possam gerar autonomia em relação a utilização ou desenvolvimento de Tecnologia Social nas cooperativas que fazem parte da Associação das Cooperativas e dos Grupos Associativos de Coleta e Manuseio de Materiais Recicláveis de Campinas e Região (ACOOP). Para tal, a metodologia utilizada consiste em elaborar diagnósticos participativos em cooperativas no estado de São Paulo, que estejam desenvolvendo Tecnologia Social e em divulgar essas iniciativas à ACOOP, também através de oficinas participativas. Para a realização das visitas e do desenvolvimento das oficinas, contar-se-á com a participação de uma cooperada que forma parte da associação. A importância deste trabalho radica no diálogo de saberes, entre o conhecimento acadêmico e o conhecimento popular, sem estar um por cima do outro, com a visão de extensão universitária como um caminho de mão-dupla, onde se faz uma divulgação para o público mais interessado, as cooperativas populares, iniciativas que estão desenvolvendo fora da universidade na construção de um conhecimento tecnológico.