Resumo: Artigo 36202
A memória e a idéia de verdade no cinema científico de Benedito Junqueira Duarte (25, 42, 50, 59, 50)
Márcia Regina Barros da Silva, Universidade Federal de São Paulo, Brazil.
Apresentação: Thursday, May 29, 2008 1:15PM - 3:15PM sala 215 - UNIRIO VII ESOCITE - Sessão 52 - Chair: Moema Vergara
Abstract.
A realização de filmes de temática científica apresenta a possibilidade de uma gama bastante diversificada de abordagens. O objetivo desta apresentação é discutir a produção audiovisual do cineasta Benedito Junqueira Duarte, cujos trabalhos realizados em conjunto com grandes nomes da medicina paulista entre as décadas de 1950 e 1970, obtiveram grande repercussão. Além da realização de mais de 500 filmes científicos, o cineasta teve intensa participação em congressos e festivais, principalmente na Europa, obtendo mais de 50 prêmios, nacionais e internacionais. B. J. Duarte, como ficou conhecido, iniciou suas atividades no meio intelectual paulista a partir dos anos 1940 como fotógrafo do jornal Diário Nacional, local em que seu irmão, Paulo Duarte, era redator-chefe. B. J. possui uma extensa lista de filmes sobre medicina, executados com diferentes laboratórios da área, que participavam como produtores de seus trabalhos, entre os quais estava Laboratório Torres, Johnsonn & Johnsonn, Laboratório Roche, Rhodia no Brasil, Carlo Erba do Brasil, entre outros. Ao acompanhar o desenrolar do que foi nomeada como a cirurgia coronariana moderna, a produção do cineasta paulista atingiu o seu auge com a realização no Brasil do 1o. Transplante Cardíaco Humano da América do Sul. Sendo a 17o. cirurgia de transplante realizada no mundo, em maio de 1968, foi conduzida pelo médico Euryclides de Jesus Zerbini, do Hospital das Clínicas USP, filmada e fotografada por B. J. Duarte. O objetivo explícito do cineasta, apontado em diversos de seus textos, foi explicar os fatos e fenômenos da ciência, na tentativa de penetrar em locais pouco acessíveis do corpo humano, para de lá colher imagens fugidias e inimigas da captação. A intenção deste trabalho é proceder a uma análise inicial da produção de imagens em medicina como uma tarefa múltipla. Duas grandes percepções podem ser aqui discutidas. Uma avaliar como o cinema em ciência é utilizado como tentativa de produzir provas de verdade sobre o mundo que nos cerca. Neste aspecto se destaca a função de levar ao público as práticas, ações e representações dos espaços particulares da atividade de ciência, principalmente dos acontecimentos realizados nos universos especiais dos laboratórios, mas também das salas de cirurgia, fazendo assim com que os não iniciados possam participar desses mundos desconhecidos. Em segundo lugar pensar a imagem cinematográfica como um modo de construir e solidificar uma memória histórica sobre as realizações e personagens envolvidos, quando estava em jogo, na produção deste cineasta em especial, anunciar e capturar a crescente eficiência das atividades médicas, identificando em solo nacional seus representantes. Subjacente a esses processos esta também a tentativa de sustentar o discurso tecnológico da medicina como um embate com a realidade, em que estaria em jogo tanto a perspectiva de expor quanto de construir significados novos para o conhecimento científico disponível em determinado momento, como acontecerá com o conhecimento sobre a cardiologia naquele período.