Resumo: Artigo 36047
A Tecnologia Social como estratégia para o desenvolvimento sustentável : o caso da Mandalla (2, 6, 9, 12, 13, 22)
Angela Mesiano, Facamp, BrazilRafael Dias, Universidade Estadual de Campinas, Brazil.
Apresentação: Thursday, May 29, 2008 1:15PM - 3:15PM sala 212 - UNIRIO VII ESOCITE - Sessão 18 - Chair: Rosalba Casas
Abstract.
Para atingir o desenvolvimento sustentável os países não devem limitar-se à sustentabilidade ambiental, mas também com as outras dimensões da sustentabilidade, como a social, a cultural, a territorial, a econômica e a política. A tecnologia tem um papel fundamental no sentido de viabilizar o desenvolvimento sustentável em todas as dimensões apontadas acima. Para tanto, é necessário modificar a tecnologia existente (a convencional). A inadequação tecnológica é um dos desafios centrais para o alcance do desenvolvimento sustentável. A tecnologia convencional é: segmentada (não permite controle do produtor direto); alienante (não utiliza a potencialidade do produtor direto); hierarquizada (demanda a figura do proprietário, do chefe, etc.); maximiza a produtividade em relação à mão-de-obra ocupada; possui padrões orientados pelo mercado externo de alta renda; monopolizada pelas grandes empresas dos países ricos; e ambientalmente insustentável. Essas características evidenciam a natureza da tecnologia convencional, produzida pela e para a empresa privada. Em linhas gerais, pode-se afirmar que a tecnologia convencional, ao poupar mão-de-obra e aumentar o controle do capitalista sobre o trabalho, vai contra muitas das dimensões de desenvolvimento sustentável apresentadas anteriormente. Neste cenário, há a necessidade de criar uma tecnologia alternativa capaz de realizar a inclusão social e o desenvolvimento, numa ação conjunta com a comunidade, de tecnologias simples, baratas e intensivas em mão-de-obra. Assim, nesse contexto surge o movimento da Tecnologia Social (TS) com o intuito de interromper a fragmentação social e o estrangulamento econômico interno através do desenvolvimento sustentável. Esse movimento é tributário de um outro, anterior a ele (o da Tecnologia Apropriada). A Tecnologia Social não visa apenas à criação de novos meios de produção que proporcionem a inserção social, mas também, visa modificar as tecnologias existentes, por exemplo, através do aumento da vida útil das máquinas, da propriedade coletiva dos meios de produção, da divisão igualitária do excedente, da preocupação com o impacto ao meio ambiente que essas tecnologias causam etc. Assim, o intuito não é abandonar/ignorar a tecnologia já existente, e sim utilizá-la de modo sustentável. A Tecnologia Social possui as seguintes características: adaptada a pequenos produtores e consumidores de baixo poder econômico; não promotora do controle, segmentação, hierarquização e dominação nas relações patrão-empregado; orientada para o mercado interno de massa; incentivadora do potencial e da criatividade do produtor direto e dos usuários; e capaz de viabilizar economicamente os empreendimentos como, cooperativas populares, incubadoras e pequenas empresas. As características apresentadas acima ilustram o porquê da Tecnologia Social poder ser entendida como um movimento harmônico em relação às discussões acerca do desenvolvimento sustentável. Com o propósito de apoiar o desenvolvimento de tecnologias com essas características, foi criada a Rede de Tecnologia Social (RTS), que envolve um conjunto de instituições unidas com o propósito de promover o desenvolvimento sustentável, difusão e reaplicação da TS. No trabalho que aqui apresentamos, discutimos uma TS específica no sentido de ilustrar a argumentação. Trata-se do projeto Mandalla de produção, que utiliza uma tecnologia simples e de baixo custo, que valoriza as tradições e costumes locais, e que é implantada em pequenas propriedades rurais. A Mandalla é, basicamente, uma nova forma de irrigação com a construção de um reservatório no meio do plantio que é disposto em círculos com o intuito de aproveitar melhor o espaço já que o projeto é aplicado em pequenas propriedades rurais. A produção de alimentos é diversificada, são plantadas leguminosas, hortaliças, frutas, etc. São criados animais de pequeno porte como peixes, patos, galinhas, porcos e cabras o que complementa a dieta das famílias já que esses animais são fontes de carne, ovos, leite e derivados, além de servirem como fontes de adubo e auxiliarem no combate às pragas. Este projeto já foi implantado em 12 estados brasileiros. Com essa análise, procuramos testar a hipótese que norteia a nossa argumentação, de que a Tecnologia Social é, de fato, uma estratégia de desenvolvimento sustentável promissora.