Resumo: Artigo 35897
Tecnologia, saberes e poderes: uma análise em fábricas da indústria de linha branca (7, 14, 18, 35, 40, 45)
Giovanna Pezarico, Universidade Federal do Paraná, BrazilGilson Queluz, PPGTE, UTFPR, Brazil.
Apresentação: Friday, May 30, 2008 1:15PM - 3:15PM sala 205 - UNIRIO VII ESOCITE - Sessão 13 - Chair: Ismael Ledesma
Abstract.
Este resumo indica alguns resultados de pesquisa realizada numa empresa composta por duas fábricas da indústria de linha branca localizadas no Sudoeste do Estado do Paraná, Brasil, nos anos de 2006 e 2007. A pesquisa analisou no contexto fabril atual, como as relações entre saberes e poderes se estabelecem e são mediadas pela tecnologia, repercutindo para a constituição dos sujeitos. A partir deste objetivo, uma diversidade de componentes das relações entre saberes e poderes foi percebida nas fábricas investigadas: a relação com o tempo, espaço, corpo, conhecimento, bem como com a tecnologia, estava permeando as relações de reprodução, de disciplina e também, de resistência. Diante de um panorama complexo composto por uma multiplicidade de tramas que envolvem as relações entre saberes e poderes, para este momento, optamos por um recorte metodológico que abordasse principalmente o elemento tecnologia como mediador de tais relações. Como orientação, enfatizamos que o estudo fora construído por um arcabouço teórico amparado na perspectiva de Michel Foucault, contemplando as noções de poder, saber, discurso e tecnologia, no contexto da microfísica do poder. Pensar como as relações entre os saberes e os poderes se estabelecem mediadas e mediante a tecnologia, implicou numa reflexão acerca da definição do termo, além de uma tomada de posição política sobre ela. Consideramos tecnologia uma prática social e histórica. Porém, na sociedade capitalista e moderna, cenário deste estudo, a tecnologia passa a exercer um papel preponderante na medida em que também é elemento determinante das relações de trabalho, do controle e da hierarquia social. A tecnologia historicamente tem sido apropriada pelo discurso e ressignificada por ele, impondo sua superioridade enquanto dominação e constituição dos sujeitos por uma infinidade de micropoderes dispersos com a finalidade de estabelecer o controle de si e dos outros. Este discurso pôde emergir a partir do momento em que a tecnologia fora descontextualizada da prática social, fetichizada, sendo definida como algo de existência autônoma e neutra. No entanto, partimos de uma concepção de tecnologia que é também uma linguagem que estaria a provocar relações sociais. De maneira, que à medida que os indivíduos se organizam em torno de tecnologias, o poder também se ordena e exerce o controle social (BASTOS, 1998). É a partir desta reflexão, que passamos a abordar o conceito de tecnologia que permeou o estudo. Adotamos a perspectiva teórica da tecnologia na concepção de Foucault. Para o autor existiriam duas tecnologias essenciais, das quais derivariam outras representadas como estratégias do poder: uma tecnologia regulamentadora da vida e uma tecnologia disciplinar. A tecnologia, mais do que um instrumental para a produção estaria também inserida no processo da construção de subjetividades. Para Foucault (1982) estas tecnologias derivariam para quatro conjuntos de técnicas específicas: 1) as técnicas de produção que nos permitem produzir, transformar e manipular objetos; 2) as técnicas de sistemas e signos, que permitem a utilização de signos, de sentidos, de símbolos ou de significação; 3) as técnicas de poder, que determinam a conduta dos indivíduos, submetendo-os a certos fins ou à dominação, objetivando o sujeito; e 4) as técnicas de si, que permitem aos indivíduos efetuarem, sozinhos ou com a ajuda de outros, um certo número de operações sobre seus corpos, suas almas, seus pensamentos, suas condutas, seus modos de ser; de transformarem-se a fim de atender um certo estado de felicidade, de pureza, de sabedoria, de perfeição ou de imortalidade. Contudo, a concepção foucaultiana de tecnologia está também relacionada a uma construção histórica de saberes e poderes que resultariam em máquinas concretas ou abstratas. Estas máquinas poderiam ser representadas pela máquina-prisão, pela máquina-escola, pela máquina-hospital ou pela máquina-fábrica. Para Foucault, emerge primeiramente uma tecnologia humana, e posteriormente, uma tecnologia material. A tecnologia humana está em permanente diálogo, produzindo, reproduzindo e resistindo à transformação dos saberes, da disciplinarização da sociedade, das transformações do espaço-tempo, do imaginário social e da construção de subjetividades, determinando a constituição dos sujeitos. É por meio desta concepção, que investigamos no contexto das fábricas analisadas como a tecnologia, apropriada pelas máquinas concretas ou abstratas, exerce papel determinante mediando saberes e poderes por meio do espaço, do corpo, da produção e do tempo.