Resumo: Artigo 36377
Ética na pesquisa com células-tronco: do aprendizado em células e cobaias aos experimentos em seres humanos (50, 37, 38, 36, 10, 5)
Naara Luna, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brazil.
Apresentação: Wednesday, May 29, 2008 1:15PM - 3:15PM sala 212 - UNIRIO VII ESOCITE - Sessão 33 - Chair: Marta de Almeida
Abstract.
O objetivo geral do trabalho é investigar a área de pesquisa das terapias celulares, em particular os usos e significados que envolvem os projetos com células-tronco adultas e embrionárias. Esta comunicação vai analisar questões éticas implicadas na pesquisa em modelos experimentais (modelo animal e cultura de células) em contraste com ensaios clínicos em seres humanos. Metodologia: em 2006, fez-se mapeamento das pesquisas envolvendo células-tronco em visitas a 12 laboratórios que promovem tais projetos e entrevistas com 17 professores e 19 alunos da Pós-graduação no Centro de Ciências da Saúde (CCS), UFRJ. Em 2007, foram entrevistados 17 pesquisadores participantes dos protocolos de pesquisa em terapia celular usando células adultas extraídas da medula óssea em cardiopatia chagásica, hepatopatias crônicas e acidente vascular cerebral realizados no Hospital Universitário da UFRJ: 6 professores e médicos coordenadores dos protocolos (doutores), 6 estudantes de pós-graduação e 5 de iniciação científica. Houve entrevistas com doze pacientes/sujeitos dos ensaios clínicos citados. Trata-se de metodologia qualitativa que inclui entrevistas em profundidade com roteiros semi-estruturados de questões abertas e registro gravado, além de observação etnográfica dos laboratórios e das práticas médicas que cercam os ensaios clínicos em seres humanos. As entrevistas com cientistas versavam sobre formação profissional e carreira, o projeto de pesquisa e questões éticas e sociais relativas às pesquisas com células-tronco. Já aos sujeitos dos protocolos de terapia experimental se perguntava sobre doença, expectativa e vivência quanto à participação no protocolo, e opinião sobre questões éticas. O Comitê de Ética em Pesquisa local aprovou o projeto de trabalho de campo realizado no hospital universitário e os depoentes assinaram termo de consentimento livre e esclarecido. Na abordagem pela mídia, já se constatou que a pesquisa básica com células-tronco e a pesquisa clínica de terapias celulares em seres humanos são representadas de forma encantada. As entrevistas com cientistas revelam expectativas mais modestas quanto ao próprio objeto de investigação, principalmente nas terapias em seres humanos. A pergunta acerca de questões éticas envolvendo a pesquisa com células-tronco visava esclarecer se os cientistas encaravam de forma distinta o uso de células-tronco adultas e embrionárias, fato que se confirmou, sendo o primeiro visto de forma não problemática, desde que envolvesse células autólogas (extraídas do próprio paciente). Já o uso de células embrionárias envolvia diversas questões éticas, com implicações de riscos maiores para os pacientes, mas principalmente por demandar a destruição de embriões humanos. A maioria dos pesquisadores entrevistados era favorável ao uso das células embrionárias, mas constatou-se que minoria representativa desconhecia a procedência dos embriões autorizados para pesquisa no Brasil. Quanto aos pacientes entrevistados, a possibilidade de participar de protocolo experimental com oferta de novas chances de tratamento foi mais significativa que o entusiasmo pela eficiência das células. A comparação entre os projetos de pesquisa básica e as terapias experimentais em seres humanos revela tensões referentes à possibilidade de manipulação dos entes, com diversas limitações éticas da investigação clínica em pacientes, bem como das disposições dos últimos em colaborar. Isso contesta as afirmações de Latour sobre a recalcitrância dos não humanos em contraste com os humanos.