Resumo: Artigo 36359
Beleza nanoestruturada, a carência de debates envolvendo seus riscos e benefícios no contexto brasileiro (88, 10, 13, 90)
Denise Nunes, Universidade Federal de Santa Catarina, Brazil.
Apresentação: Thursday, May 29, 2008 3:45PM - 5:45PM sala 205 - UNIRIO VII ESOCITE - Sessão 27 - Chair: Jonatas Ferreira
Abstract.
Atualmente, no mundo cosmético fala-se em Beleza inteligente, onde produtos produzidos através da nanotecnologia entram na pele e prometem fazer milagres. Cremes anti-rugas, para o clareamento das manchas, para a redução da celulite, novidades em produtos para coloração, relaxamento e alisamento de cabelos. Quase tudo parece possível no mundo dos cosméticos com nanotecnologia. A nanotecnologia em cosméticos faz com que os produtos consigam penetrar mais fundo na pele e, dessa forma, agir de forma mais eficaz, explicam os pesquisadores. No debate sobre os possíveis riscos da nanotecnologia à saúde encontramos, por exemplo, a divulgação do relatório Managing the Effects of Nanotechnology (Administrando os Efeitos da Nanotecnologia). O documento preparado por J. Clarence Davies, ex-administrador assistente da Agência de Proteção Ambiental (EPA, sigla em inglês) dos Estados Unidos, diz que é preciso elaborar uma lei específica para o setor, atribuindo às empresas a responsabilidade de provar que seus produtos não apresentam um "risco inaceitável. No Brasil, também reconhece que existem razões para a regulamentação, pois uma substância inofensiva pode transformar-se em um veneno dependendo do tamanho das partículas e da forma de organização e dispersão destas. No mercado de cosméticos brasileiro, temos empresas investindo em nanotecnologia considerando apenas seus benefícios e, apesar de suas políticas ambientais, não mencionarem ou estabelecerem relação alguma entre as nanotecnologias e o meio ambiente. No site do Ministério de Ciência e Tecnologia encontram-se documentos onde tais empresas são apresentadas dentro de uma das áreas de nanotecnologia (Cosméticos e Saúde), apresentando apenas as principais vantagens das pesquisas, ignorando-se questões ambientais e de percepção pública. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), no Brasil existiam 1.123 empresas atuando no mercado de produtos de Higiene e Beleza, Perfumaria e Cosméticos. Destas, quinze são de grande porte, com faturamento acima de R$ 100 milhões e representam 73,4% do faturamento total. O Brasil é o terceiro maior mercado consumidor de produtos de higiene e beleza do mundo, de acordo com dados da Euromonitor. Prova disso são os lançamentos da FCE Cosmetique 2007 (Exposição Internacional de Tecnologia para a Indústria Farmacêutica). Este é um tema novo aqui no Brasil desde a perspectiva da sociologia (desde as áreas ambiental e da ciência), que está sendo pesquisado já por Guivant (2004) e consideramos que este trabalho tem uma contribuição relevante a realizar. Sem pretender esgotar o tema em questão, buscamos colaborar na produção de bases sociológicas voltadas as pesquisas com nanotecnologias considerando a relevância destas e a falta de cientistas sociais nas redes de pesquisa desta área. Acreditando que a modernidade é capaz de produzir um mundo fora do controle, precisamos considerar a importância de categorias como segurança e confiança que por sua vez é concomitante ao conceito de risco. Partimos da teoria do ator-rede, que toma como foco de análise as redes sociotécnicas, e que ressalta o caráter socialmente construído dos fatos e artefatos técnicos e científicos, onde tecnologia e sociedade são trabalhadas de maneira conjunta. Previamente é importante destacar que acreditamos que em toda produção técnica há interferência de valores e crenças. Todo objeto técnico é construído num processo de negociação e, portanto, político. Observamos que no Brasil o debate sobre os riscos e benefício é muito limitado na bibliografia brasileira, distanciando-se de debates que já estão acontecendo, por exemplo, no contexto da União Européia.