Resumo: Artigo 36295
As mutações da Mundialização ou quando o capitalismo financeiro direciona o capitalismo cognitivo: desafios para a América latina (1,12,17,19,103)
Marcos Lima, Universidade Federal de Pernambuco, Brazil.
Apresentação: Thursday, May 29, 2008 1:15PM - 3:15PM sala 205 - UNIRIO VII ESOCITE - Sessão 35 - Chair: Noela Invernizzi
Abstract.
É cada dia mais freqüente ler e ouvir nos meios de comunicação que passamos a viver numa sociedade do conhecimento, evocando os impactos provocados pelas novas tecnologias de comunicação e informação sobre o crescimento econômico, a organização do trabalho, a mundialização da produção, do comércio e das finanças. O leitmotiv desse trabalho está na compreensão do processo de consolidação desse avanço científico associado à uma imensa disparidade, com tendência à ampliação, da incapacidade dos países periféricos (late-commers) de terem acesso à mudança, para reproduzir, adaptar e aperfeiçoar as tecnologias importadas, de não se tornarem aptos à inovação tecnológica, como condição para crescerem, se transformarem, se modernizarem e garantir o bem estar de suas populações. Na medida em que nos países industrializados os resultados das pesquisas produzidas em instituições públicas terminavam apropriados por firmas industriais privadas; em que apenas um seleto número de grandes firmas, e de países, tinha condições de enfrentar os altos níveis de investimentos em conhecimento, o mundo da ciência e da tecnologia passou a enfrentar cinco problemas-chave: 1. A apropriação do conhecimento, através dos direitos de propriedade intelectual que, por um lado, restringem o acesso de países e classes sociais à inovação, e por outro, internacionaliza a P&D, mas a circunscrevendo aos oligopólios internacionais, que passam a controlar, por exemplo, o patrimônio genético e a farmacologia, privilegiando a propriedade privada ao uso coletivo do conhecimento. 2. A modificação do papel do Estado na produção do conhecimento, com sua posterior transferência para a iniciativa privada. A pesquisa pública, sob a consigna de sua valorização (no sentido de uma utilização privada com objetivos comerciais), passa, então a ser submetida às regras da rentabilidade: a princípio nos Estados Unidos e posteriormente em todos os países industriais, os governos puseram em prática, políticas tecnológicas e de inovação baseadas no aperfeiçoamento da oferta, resultando na redução do custo dos investimentos para a iniciativa privada e aumentando a quantidade de recursos de inovação constituída pela coletividade em benefício dos interesses privados. O comportamento do Estado passou, em muitos casos, a ser confundido com aquele dos grandes grupos industriais e financeiros e os laços fortes de interdependência que são criados entre estas instituições justificam, muitas vezes sem a menor transparência, a transferência dos recursos públicos para o capital privado. A formulação pelo Estado de uma política de inovação, tem se fundamentado, mais e mais, na socialização dos custos e na privatização dos benefícios. 3. O « dirigismo » da pesquisa cientifica para áreas que não necessariamente respondem a prioridades civilizatórias, como o são a medicina para os pobres ou as tecnologias ambientalmente sustentáveis. 4. A «mercantilização » da ciência, buscando áreas e pesquisas de retorno financeiro breve e altamente lucrativas que, entre outros aspectos, significa reduzir o papel da educação superior, da pesquisa e do conhecimento técnico, direcionando-as mais para o negócio e menos para a formação. 5. A dinâmica da programação da obsolescência dos produtos, ou o encurtamento do ciclo do produto, que entre muitos efeitos perversos, implanta um marketing pesado e uma cultura de consumo já denunciada na obra dos Frankfurtianos, e ainda incide dramaticamente sobre os recursos naturais e no meio ambiente, em geral. Nessa dinâmica, aumentaram drasticamente as desigualdades de acesso à produção científica e tecnológica, sem a qual os países de baixa industrialização permanecerão ocupando, na divisão internacional do trabalho, o lugar de produtores de commodities agrícolas, expressando baixos valores agregados e submissão ao atraso e à onerosa dependência decorrente desta posição. Mas também crescem as desigualdades de renda e de padrão de consumo no interior das sociedades afluentes. O texto se estrutura em 04 partes articuladas: i) uma introdução ao problema; ii) uma análise crítica sobre as escolas neoclássica; neoschumpeteriana, regulacionista e neomarxista; iii) as políticas científicas e tecnológicas e os sistemas nacionais de inovação e iv) a colonização do tecnológico pela finança mundializada. Uma síntese do estado da arte da produção do conhecimento e da tecnologia na OCDE é fundamental para melhor compreender as teorizações e trajetórias do desenvolvimento nos países centrais, como condição para refletir sobre as alternativas possíveis para a América latina.