Resumo: Artigo 36133
Vida cotidiana nos laboratórios: tetos de vidro e micro-desigualdades na produção do conhecimento do projeto genoma brasileiro (15, 65, 81)
Neide Osada, Universidade Estadual de Campinas - Unicamp, BrazilMaria Costa, Unicamp, Brazil.
Apresentação: Wednesday, May 29, 2008 1:15PM - 3:15PM sala 211 - UNIRIO VII ESOCITE - Sessão 39 - Chair: Luiz Otavio Ferreira
Abstract.
Este paper tem como objetivo analisar laboratórios de biologia molecular para entender as relações sociais de gênero. Pretende-se analisar o cotidiano dos laboratórios através dos estudos etnográficos em laboratórios a fim de se verificar como laboratórios organizam o cotidiano de trabalho e como se dão as relações entre pesquisadores homens e mulheres. Os principais representantes dessa corrente teórica Bruno Latour, Steve Woolgar e Karin Knorr-Cetina entendem que o pesquisador interessado em compreender as ciências, precisa converter-se em um antropólogo para analisar como os cientistas e pesquisadores produzem conhecimento. Em Ciência em Ação, Latour afirma que o laboratório é um espaço privilegiado onde é possível entender as relações e conexões entre pesquisadores , homens e mulheres equipamentos e as diversas técnicas de pesquisa. Além disso, o laboratório é também o local onde se reproduz a natureza e as relações sociais. De modo geral, as atividades de pesquisa da Biologia Molecular podem ser divididas em trabalhos realizados nos laboratórios de Biologia e Bioinformática. As atividades de preparação dos fragmentos de DNA, seqüenciamento e verificação de hipóteses, formuladas anteriormente, ocorrem no laboratório de Biologia; no laboratório de Bioinformática, os pesquisadores montam as seqüências de DNA, fazem os trabalhos de anotação análise da seqüência de DNA -, compreendem melhor as funções dos genes analisados e formulam hipóteses que podem gerar uma nova muda de laranja resistente à doença do amarelinho ou à invenção de uma nova terapia contra o câncer. Após a formulação de hipóteses, o pesquisador volta para a bancada do laboratório para testá-los. As atividades realizadas nos laboratórios de Biologia Molecular são atividades que exigem destreza manual, organização e disciplina. Até 1995, Segundo Kethlenn Jordan e Michael Lynch no artigo the dissemination, standardization and routinization of a molecular biological technique publicado na Revista Social Studies of Science, as atividades de seqüenciamento eram manuais, após a introdução dos seqüênciadores de DNA, nota-se: "um processo de estandardização, automação e industrialização[...]Walter Gilbert um dos mais "proféticos" da Biologia Molecular, descreveu o futuro da Biologia como uma área do conhecimento cuja principal atividade será a interpretação de informações abstratas [pg. 773]. De acordo esses autores, a automação da tecnologia da PCR levou ao desenvolvimento de uma série de protocolos, ou seja, padronizações adequadas ao preparo do material a ser analisado. Nos laboratórios, foram chamados de receitas de bolo ou cookbook. A receita abaixo foi criada para iniciantes no preparo de um experimento utilizando o PCR: 1) Etiquetar os tubos; 2) Adicionar volume apropriado de água; 3) Preparar mistura de reagentes para 10 reações; 4) Adicionar 30 microlitros da mistura de reagentes em cada tubo; 5) Adicionar apropriado volume de DNA para cada tubo; 6) completar com 50 microlitros de óleo mineral estéril; 7) Posicionar os tubos no circulador térmico para 90 Cº , 50 Cº e 72Cº, e8) Rodar 40 vezes.[Jordan e Lynch, 1998: 779]. Com isso, observa-se que a rotatividade da equipe de pesquisadores no laboratório técnico é alta, e a permanência das mulheres é maior que a dos rapazes. No Projeto Genoma da Fapesp (1997 - 2003), alguns pesquisadores sugeriram a vigência no âmbito da ciência de uma divisão sexual do trabalho similar à que se verifica atualmente no exercício das demais atividades humanas: tarefas repetitivas e monótonas são atribuídas às mulheres, como se elas fossem naturalmente mais adequadas, ou mais conformadas para isso; atividades que exigem o manuseio de equipamento ficam para as mulheres enquanto o raciocínio e o pensamento abstrato fica a cargo dos homens. Afinal, o que ocorre no interior dos laboratórios que levam a avanços mais lentos nas carreiras das mulheres pesquisadoras?