Resumo: Artigo 35954
A tecnologia como mediador na produção do tempo no teletrabalho (7,46,47,102)
Daniela Alves de Alves, Centro Universitário Franciscano, Brazil.
Apresentação: Thursday, May 29, 2008 1:15PM - 3:15PM sala 204 - UNIRIO VII ESOCITE - Sessão 2 - Chair: Rosa Pedro
Abstract.
Esta reflexão é parte do estudo de doutorado, desenvolvido pela autora, sobre produção e experiência do tempo no teletrabalho. Foram entrevistados 35 teletrabalhadores brasileiros e portugueses e cujo corpus formado pelas entrevistas foi analisado utilizando-se a análise da fala. O teletrabalho é fruto das mudanças sociotécnicas das últimas décadas e consiste em uma modalidade de trabalho cuja organização do trabalho é flexível, o exercício das atividades é realizado à distância da empresa contratante e são utilizadas intensamente as tecnologias informacionais. Neste paper abordamos o papel de mediador desempenhado pelas tecnologias e pelos artefatos de medir o tempo na relação dos teletrabalhadores com o tempo. Utilizamos o conceito de mediador desenvolvido por Bruno Latour que pode ser tanto uma coisa, não humano, quanto uma agência que ao interferir em um estado de coisas, em uma agência, causa modificações. De acordo com esta perspectiva do ator-rede, desenvolvida em especial por Bruno Latour, John Law e Michel Callon, cada ação é composta por muitas outras agências entrelaçadas, ou seja, quando um ator age muitas outras agências agem através dele. O agente é ao mesmo tempo ator e rede. A utilização das tecnologias informacionais é um mediador importante da maneira como teletrabalhadores produzem e experimentam o tempo do trabalho, devido as suas características: funcionamento sem necessidade de interrupções, instantaneidade e simultaneidade nas relações de troca (informações, dados e opiniões), encurtamento das distâncias. A internet, os telefones multifuncionais, os bancos de dados e os softwares permitem não somente a interatividade, mas também a eliminação das barreiras espaço temporais para a realização do trabalho. O paper está dividido em quatro partes. Na primeira parte é abordado o papel das tecnologias informacionais como mediadores da produção e gestão dos tempos de trabalho, tempo remunerado, e de não trabalho, tempo livre. Constatamos que no teletrabalho os tempos de trabalho e de não trabalho não têm suas fronteiras claramente definidas, pois há uma tendência à indissociabilidade entre vida pública e vida privada em termos temporais e espaciais. Na segunda e na terceira partes são abordadas as características do tempo produzido no teletrabalho. Na segunda é enfatizada a potencialidade da disponibilidade integral para o trabalho, podendo o trabalho realizar-se durante as 24 horas do dia, a partir de qualquer lugar, e a produtividade intensiva, que significa gerir o trabalho no tempo de forma intensiva de maneira que os resultados sejam atingidos no menor tempo possível. Na terceira são enfatizadas as características das redes de relações profissionais e pessoais em que se engajam os teletrabalhadores, quais sejam a instantaneidade versus a demora na rede, a lógica de curto prazo e a urgência. Finalmente na última parte do texto abordamos a modulação elástica do tempo, que pressupõe um duplo engajamento dos teletrabalhadores, de um lado flexibilidade, elasticidade e autonomia, de outro autocontrole e autodisciplina.