Resumo: Artigo 35860
Para além da redundância? Robert Merton e a "nova" sociologia da ciência (103, 40, 113,97,89, 87)
Rafael Antunes Almeida, Universidade Federal de Minas Gerais, Brazil.
Apresentação: Friday, May 30, 2008 1:15PM - 3:15PM sala 204 - UNIRIO VII ESOCITE - Sessão 16 - Chair: Olga Restrepo Forero
Abstract.
David Bloor em sua obra seminal, Knowledge and social imagery (Bloor, 1971), colou-se a seguinte questão: Pode a sociologia do conhecimento investigar o conteúdo e a natureza do conhecimento científico? A esta indagação Bloor respondeu positivamente, erigindo a partir de sua resposta o que posteiormente ficou conhecido como " Programa Forte em sociologia da ciência. Este programa, expresso no referido livro, representou um conjunto de instruções e referências dentro de sua própria disciplina, para aqueles sociólogos interessados em estender os domínios da sociologia da ciência para além do que se poderia chamar de uma abordagem institucionalista, cujo principal representante é Robert Merton. Empenhado no trabalho de criação de um novo equipamento teórico para a sociologia , Bloor, logo no preâmbulo de seu longo ensaio nos sugere à que tipo de abordagens ele deseja se opor, entre as quais figura a sociologia da ciência de Robert Merton. Segundo ele, os estudos sociais da ciência anteriores ao Programa Forte não ousaram tocar naquele que seria o ponto de consumação da disciplina - conteúdo das teorias científicas, seus métodos, em suma, seu processo de produção - e deixaram-se seduzir pela tentativa (característica do programa Mertoniano) de definir aquelas que seriam as orientações valorativas dos cientistas, o sistema de recompensas implicado na organização, os graus de institucionalização da ciência em diferentes países e também, suas relações com o sistema político vigente. Esta forte oposição em relação à sociologia propugnada por Merton, diga-se de passagem, não é uma característica única da obra de Bloor. Steven Shapin, por exemplo, em Understanding Merton Thesis (Shapin, 1988) aponta que tanto na monografia de 1938, como nos textos subsequentes, Merton nunca esteve preocupado em aduzir fatores sociais para explicar a forma e o conteúdo do conhecimento científico. Pablo Kreimer, na introdução ao livro " The manufacture of Knowledge", de Knorr Cetina, nos informa que Merton e seus discípulos teriam se empenhado muito mais em realizar uma sociologia dos cientistas do que propriamente uma sociologia da ciência. A própria Knorr Cetina, em um texto intitulado "The constructivist Programme in sociology of Science: Retreats or Adavances" argumenta que Merton, por estar compromissado com uma análise macro-sociológica, ao contrário dos estudos de laboratório, foi incapaz de traçar relações fortes entre contexto social e o conteúdo e a forma da ciência. Com base nesta rejeição à sociologia de Merton, as abordagens para a ciência a partir da década de 60 se propõe como um novidade ante ao que prevalecera desde os anos 30. Thomas Gieryn, um expoente discípulo de Merton parece ser uma voz discordante em meio a esta euforia diante da novidade. Ele argumenta (Gieryn, 1982) que toda a sociologia da ciência que se desenvolveu a partir de Merton, ou representa uma redundância em relação ao que a abordagem institucionalista já tinha trazido à tona, ou uma recuada em relação àquele que ele chama de "o problema constituitivo da sociologia da ciência." Minha proposta neste artigo é examinar os argumentos de Gieryn, com vistas a avaliar a razoabilidade desta tese. Este trabalho se configura assim, como uma incursão tanto nos escritos de Merton como nos de Bruno Latour, Harry Collins, Knorr Cetina e David Bloor,entre outros expoentes das abordagens contemporâneas em sociologia da ciência. O Objetivo aqui é tentar auferir a importância de Merton para o desenvolvimento destas últimas abordagens, ainda que elas pretendam ser novidades em relação a seu trabalho.