Resumo: Artigo 35807
Visões do futuro: como a nanociência e a nanotecnologia são apresentadas à comunidade científica e ao público?(88, 3, 58, 27)
Noela Invernizzi, Universidade Federal do Paraná, Brazil.
Apresentação: Thursday, May 29, 2008 3:45PM - 5:45PM sala 204 - UNIRIO VII ESOCITE - Sessão 32 - Chair: Maria Lucia Maciel
Abstract.
A partir do ano 2000, Brasil começa a costurar sua política de nanociência e nanotecnologia (N&N) estudo e manipulação da matéria em nível atômico ou molecular. Surge, como resultado, o Plano Nacional de Desenvolvimento da Nanociencia e Nanotecnologia, incluído no Plano Pluri-Anual 2004-2007 do Ministério da Ciência e da Tecnologia. Os cientistas que pesquisam esse novo campo tiveram uma participação muito ativa nesse processo, seja na forma de consultores do governo, seja diretamente, como formuladores de política ao assumir cargos no MCT e outras instâncias e, também, enquanto atores que contribuíram, através de suas visões de progresso científico, a legitimar essa área emergente de pesquisa perante o resto da comunidade científica e o público em geral. Neste artigo nos centramos principalmente no último aspecto. Apresentadas como um campo revolucionário, as N&N chegaram à areia da política de C&T, à mídia e ao público em geral carregando uma série de visões sobre a futura sociedade nanotecnológica. Trata-se de visões revolucionárias não somente num sentido tecnológico, mas também em termos sociais e culturais. Envolvem, por isso, não apenas conteúdos cognitivos, mas também interesses, valores, ideologias, e concepções sobre a relação ciência-tecnologia-sociedade. Essas visões, com suas promessas, buscam demarcar e legitimar um campo de pesquisa emergente, assegurar financiamento e, naturalmente, influenciar o curso de desenvolvimento das próprias trajetórias tecnológicas. Todavia, tais visões do progresso tecno-científico também convocam a crítica e o debate público. No caso de N&N o debate começou cedo nos países desenvolvidos, na esteira dos conflitos surgidos em torno à biotecnologia. Neste terreno contestado identificamos tanto visões mobilizadas no sentido de criar aceitação pública e apoio político para programas de pesquisa, como no sentido de criar resistência em relação a tecnologias ou programas específicos. No entanto, é difícil determinar o impacto concreto de uma visão, ou da dinâmica das contradições entre visões divergentes, sobre a configuração concreta dos programas de pesquisa e sobre as trajetórias tecnológicas que elas estimulam. A avaliação de visões, uma ferramenta que se integra à avaliação de tecnologias, permite uma aproximação a esta questão. O propósito da avaliação de visões sobre C&T é analisar o sentido, o papel, e os fundamentos, valores e interesses subjacentes às visões para entender sua influência na dinâmica do debate de um campo tecnológico específico. A partir desta ferramenta, analisamos as visões sobre N&N divulgadas pelos cientistas brasileiros que pesquisam na área para o resto da comunidade científica e para o público geral. Baseamo-nos na análise de matérias (sendo os cientistas diretamente autores ou fontes citadas) publicadas pelo Jornal da Ciência e-mail (JC), por duas revistas semanais direcionadas ao público geral, e duas revistas de divulgação científica. O período de análise vai de 2000 a 2004, em que se concretizam as principais ações da política nacional para N&N. Nossa análise das visões divulgadas pelos cientistas aborda cinco dimensões: a) as promessas da N&N; b) suas implicações econômicas, sociais, e éticas e potenciais riscos, confrontando as perspectivas dos cientistas brasileiros com o debate suscitado em nível internacional; c) como promessas, implicações e riscos são conjugados nos discursos que visam legitimar o novo campo de pesquisa; d) quem são os atores mais relevantes na difusão de tais visões; e) como os cientistas reagem frente a manifestações públicas sobre N&N. Os resultados mostram que os pesquisadores brasileiros em N&N estão difundindo visões lineares de progresso, eficiência e competitividade relacionadas aos avances neste campo, considerando marginalmente questões como os potenciais riscos e implicações econômicas, sociais e éticas dessas tecnologias. Os cientistas brasileiros são bastante refratários à introdução de novos atores como ONGs e organizações sociais na discussão sobre N&N. Enquanto a informação direcionada à comunidade científica se amplia consideravelmente ao longo do período, as revistas direcionadas ao público em geral, e as de divulgação científica, veiculam ainda escassa informação sobre a que se considera uma revolução tecnológica já desencadeada. Palavras-chave: nanociência, nanotecnologia, avaliação de visões tecnocientíficas, comunidade científica, progresso científico.