Resumo: Artigo 35737
Pólos de Alta Tecnologia: fábula e perversidade (2, 3, 107)
Rogério Silva, UNICAMP, Brazil.
Apresentação: Friday, May 30, 2008 3:45PM - 5:45PM sala 210 - UNIRIO VII ESOCITE - Sessão 8 - Chair: Germán Sánchez
Abstract.
O trabalho analisa o processo de constituição de dois arranjos institucionais, o Pólo de Alta Tecnologia de Campinas (PAT localizado em Campinas-SP, Brasil) e o Pólo Tecnológico Constituyentes (PTC localizado em San Martín-BsAs, Argentina). Esses dois arranjos estão entre aqueles considerados mais exitosos em seus respectivos países. O trabalho trata dos atores envolvidos no processo de constituição desses arranjos buscando evidenciar seus interesses e as instituições que mais se destacam. Embora o processo de implantação do PAT tenha se iniciado na década de 1980, o trabalho analiserá somente o período mais recente de constituição desse arranjo, que segue desde o ano de 1998 até os dias de hoje. Mais especificamente, será analisado o processo de constituição do Parque CIATEC II, que é o principal instrumento de implantação do PAT na atualidade. Quanto ao PTC, a análise vai da sua criação, em 1997, até 2006. Desde esse ano, quando a atual Diretoria Executiva tomou posse, o PTC está passando por uma grande transformação em sua gestão e, sobretudo, em seus objetivos. A hipótese do trabalho é a de que esses arranjos institucionais, ao contrário do que querem fazer crer seus defensores (de que eles são fundamentais para o desenvolvimento científico e tecnológico e econômico e social), respondem aos interesses particulares de alguns poucos atores, sobretudo os da comunidade acadêmica envolvida no processo. O PAT e o PTC têm como atores mais relevantes, respectivamente, segmentos das comunidades acadêmicas da UNICAMP e da UNSAM. Para verificar a hipótese do trabalho, foram feitas entrevistas estruturadas e não-estruturadas com atores envolvidos no seu processo de constituição. Outro meio de aquisicao de informaçao foi a pesquisa em artigos de jornais e revistas. No livro Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal (Editora Record, 2000), Milton Santos observa a globalização sob três óticas: como fábula, perversidade e possibilidade para o futuro. A fábula, primeira ótica, é a propagação da concepção de que a globalização é um fato inevitável. Propagar essa concepção serve, na verdade, para esconder o seu caráter perverso. O que permite que a globalização possa ser entendida como uma perversidade - segunda ótica - na medida em que seus benefícios não atingem sequer um quarto da população mundial. Como possibilidade - a terceira ótica -, a sociedade passaria a empregar as técnicas existentes nos dias atuais de forma mais solidária, de modo a derrubar o globalitarismo (termo cunhado por Milton Santos que agrega ao conceito de globalização a noção de totalitarismo). Construir relações humanas baseadas na solidariedade era um desejo de Milton Santos. Ele propunha alterar o uso da base técnica criada para a circulação de capital e utlizá-la para veicular valores humanos. Essa seria a globaização enquanto possibilidade. A possibilidade de mudança social está dada pelo Movimento da Economia Solidária e pela Tecnologia Social. Porém, esse tema, que se enquadra nessa terceira ótica, não será desenvolvido no trabalho. O trabalho enquadra o processo de constituição do PAT e PTC nas duas primeiras óticas destacadas por Santos (2000): como fábula e como perversidade. Porque, na verdade, é isso que são. Com uma escala de análise distinta da utilizada por Santos (2000), que trata da escala global, o que se analisa é a dinâmica de lugares. Tão perversos quanto o globalitarismo são os processos de implantação de Pólos Tecnológicos em dados lugares. A analisa do processo de constituição desses arranjos, sobretudo quando se destaca os atores relevantes e seus possíveis interesses, implica constatar que eles são meramente fábulas bem contadas. Todavia, o que essas fábulas escondem é uma grande perversidade praticada por alguns atores da comunidade acadêmica. A fábula dos Pólos de Alta Tecnologia serve para que esses atores defendam interesses próprios. Um dos interesses dos atores é fazer com que os acadêmicos empreendedores sejam beneficiados com recursos governamentais para manter seus empreendimentos. Outro interesse é criar um mercado de consultorias para os setores produtivos. Essa se constitui, inclusive, como a principal atividade dos arranjos institucionais. No caso do PAT, há, provavelmente, envolvimento dos atores com o mercado imobiliário. Reside aqui a perversidade do PAT e PTC. Ao contrário do que é divulgado, tanto o PAT quanto o PTC servem para legitimar interesses da comunidade acadêmica da UNICAMP e da UNSAM, que são os atores relevantes no processo de constituição dos arranjos.