Resumo: Artigo 35672
Versos que curam: controvérsia sobre procedimentos de cura nos folhetos de cordel (10, 36, 45, 108, 116)
. Messias Basques, Universidade Federal de São Carlos, Brazil.
Apresentação: Wednesday, May 29, 2008 1:15PM - 3:15PM sala 210 - UNIRIO VII ESOCITE - Sessão 11 - Chair: Lorelai Kury
Abstract.
O presente projeto de pesquisa visa discorrer sobre os saberes medicinais retratados pelos folhetos de cordel, tendo como principais objetivos a análise dessa produção poética e o escrutínio da sua difusão, que propiciou a circulação de conhecimentos acerca de diversas doenças e sua respectiva profilaxia e terapêutica, práticas de cura e medicação. Visamos não só retratar a cisão que legou a estes conhecimentos de origem popular um papel subalterno (visto pelo viés do obscurantismo e da superstição), mas, sobretudo, problematizar a cisão entre as ditas medicinas alternativas ou populares e as ciências médicas modernas. O projeto ora proposto fundamenta-se numa antropologia simétrica. Neste ponto, estudos de autores tais como Bruno Latour e Stelio Marras nos auxiliam a questionar a assimetria epistemológica produzida entre o "saber" da ciência e a "crença" dos outros. A fim de perquirir como os saberes medicinais populares foram difundidos por meio de uma forma poética que se sustenta, sobretudo, na oralidade de seus versos, atraindo a atenção de seu público leitor e/ou ouvinte não só pelo conteúdo das suas narrativas, mas também mediante o recurso imagético das xilogravuras que as estampam e do ritmo que marca o desenrolar contagiante e de fácil memorização das histórias contadas em seus versos. A hipótese geral do trabalho é que os saberes medicinais populares tinham no universo poético dos folhetos de cordel um importante meio de divulgação de casos, histórias e estórias de procedimentos de cura e profilaxia. Mais que isso, eles não seriam meros meios de divulgação, mas sim um elemento constitutivo dessas práticas de cura, práticas que não podem ser desvinculadas de seu suporte artefatual ou artístico, verbal e visual. E, sendo assim, deveríamos questionar a tradicional classificação tanto destes saberes quanto deste gênero poético nas categorias da superstição e do folclore, em razão de que tal julgamento implicaria a perda daquilo que poderia ser caracterizado como expressão de um sortilégio de saberes medicinais, além da inobservância da peculiaridade e estatuto da poesia e a relação de alteridade suscitada pela fala na escrita e seus recursos imagéticos. Para tanto, serão analisadas os folhetos das coleções do IEB-USP. Neste ínterim, também será pesquisada a apropriação desta literatura pelos projetos e campanhas de saúde de instituições federais, estaduais e municipais, aqui representados no caso ilustrativo da Terceira Viagem dos Poetas ao Brasil Nordeste Caravana da Saúde.