Cinema e divulgação científica: (des)caminhos entre artes e ciências
Gabriel Cid de GarciaResumo:
Minicurso
De que forma as imagens nos forçam a pensar? A partir de um enfoque no cinema e em sua relação com as práticas que associam imagem, audiovisual e divulgação científica, este minicurso abordará algumas das relações possíveis entre arte, filosofia e ciência, a partir da contribuição de elementos e conceitos da filosofia contemporânea, da estética e dos estudos sociais da ciência.
Desde a aurora da tradição metafísica no Ocidente, a visão sempre apareceu como metáfora do conhecimento racional, como signo da abstração e da cisão ontológica entre o inteligível e o sensível. Antes do surgimento do cinematógrafo, as imagens técnicas admitiam um duplo estatuto: por um lado, e sob certas características, poderiam ser associadas a representações imagética do real, aplicação prática de pesquisas científicas; de outra forma, seus usos permitiam a criação de efeitos ilusórios, subvertendo leituras objetivas do real, sendo prontamente incorporadas ao universo das artes e do espetáculo. As imagens técnicas apresentam uma característica diferencial em relação às imagens tradicionais, sendo consideradas por Vilém Flusser como abstrações de terceira ordem em relação ao mundo concreto.
Com o cinema, o aspecto temporal é introduzido no âmago das imagens técnicas, na medida em que promove a ilusão do movimento, a reprodução de mais uma componente de nossa experiência do mundo. O jogo de presenças e ausências define o que Christian Metz chamou de regime escópico do cinema, no qual a ilusão do objeto representado na tela seria suficiente para mobilizar o desejo do espectador. No entanto, de acordo com Edgar Morin, a expressividade do cinema, sua característica intensificadora de pensamento, se associa menos à fidelidade ao real e mais aos aspectos que forçam o espectador a construir e adentrar um mundo próprio, com suas leis e regras específicas, investindo nas fronteiras entre a afetividade de seu efeito e a objetividade de sua técnica. No fluxo descontínuo das imagens, os elementos objetivos e subjetivos se apresentam como indiscerníveis.
Analisando tanto a arte quanto a ciência como formas de pensamento, investigaremos os (des)caminhos possíveis sugeridos pelas suas mútuas contaminações, levando em conta a potência do aspecto expressivo do cinema para o cenário da comunicação pública da ciência. Percorreremos filmes, ações e práticas que se entrelaçam em uma aposta ética, de confrontar o público com a rede complexa de atores envolvidos na produção e na difusão de conhecimento - não restrito a determinadas áreas ou domínios do saber. No lugar de tratar a arte como efeito didático ou elemento inferior em uma pressuposta hierarquia de saberes, enfatizaremos a importância dos aspectos estéticos, políticos e sociais que promovem a desconstrução da dicotomia "ciência / cultura", ressaltando a necessidade de sua desnaturalização no âmbito dos museus e centros de ciência.
Bibliografia:
AGAMBEN, G. O que é o contemporâneo? e outros ensaios. Chapecó: Argos, 2009.
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DERESIEWICZ, William. No, Jane Austen Was Not a Game Theorist. 2014. Disponível em:
http://www.newrepublic.com/article/116170/jane-austen-game-theorist-michael-suk-young-chwe-joke. Acesso em: 13 dez 2014.
FLUSSER, Vilém. Towards a philosophy of photography. Londres: Reaktion Books, 2000.
GARCIA, G.C. "A divulgação científica no horizonte do (im)provável". In: Livro de anais do Scientiarum Historia VII - Congresso de História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia, 2014.
GARCIA, G.C. (org.) Ciência em foco, vol. 2: pensar com o cinema. Rio de Janeiro: Casa da Ciência da UFRJ/Editora Garamond, 2013.
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LÉVY-LÉBLOND, J-M., A velocidade da sombra: nos limites da ciência. Rio de Janeiro: DIFEL, 2009.
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PINKER, Steven. Science is not your enemy. 2013. Disponível em: http://www.newrepublic.com/article/114127/science-not-enemy-humanities. Acesso em: 13 dez 2014.
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VALENTE, Maria Esther (Org.). Museus de Ciência e Tecnologia. Interpretações e ações dirigidas ao público. Rio de Janeiro: MAST/MCT, 2007.
XAVIER, Ismail (org.) A experiência do cinema: antologia. Edições Graal/Embrafilme, 1983.
As relações entre ciência técnica e tecnologia desde as origens da ciência moderna
Fumikazu Saito, Maria Helena Roxo BeltranResumo:
Minicurso
Análises específicas, pautadas em tendências historiográficas atualizadas em história da ciência, têm revelado que a relação entre os conhecimentos científico e tecnológico não podem ser reduzida a uma fórmula simples. O surgimento da ciência e da tecnologia modernas resultou, dentre outros fatores, de um intrincado e complexo processo ligado às formas de transmissão e de apropriação de conhecimentos referentes às artes (technai) e à natureza. Entretanto, tal processo não pode ser resolvido ou interpretado a partir da distinção entre ciência, técnica e tecnologia. Essas três diferentes expressões de conhecimento, que ora se aproximaram e ora se afastaram, devem ser examinadas cada uma em seu respectivo contexto social, político e religioso. A techné (arte), bem como a tecnologia e a ciência, passou por profundas modificações. O que se compreende hoje como tecnologia, técnica e ciência é resultado de um longo caminho em que a ciência moderna percorreu desde suas origens até o início do século XX. Nesse percurso, o conhecimento das artes (technai) e da natureza interagiram de diferentes maneiras não só no que diz respeito ao conhecimento científico, técnico e tecnológico em si, mas também em relação às formas de sua transmissão e apropriação. Desse modo, este minicurso tem por objetivo apresentar alguns aspectos desse percurso com o propósito de contextualizar a ciência, a técnica e a tecnologia e levantar novas questões que possam contribuir para o atual debate CTS.
O minicurso encontra-se dividido em três encontros:
1) Historiografia da história da ciência, da técnica e da tecnologia: neste primeiro encontro, apresentaremos as atuais vertentes historiográficas que têm norteado recentes investigações em história da ciência, da técnica e da tecnologia. Discutiremos sobre os limites de uma história da ciência e da técnica, bem como da tecnologia, de vertente tradicional. Com base em estudos desenvolvidos por especialistas em história da ciência e da tecnologia, buscaremos por meio de uma historiografia atualizada, ampliar o escopo e o alcance de temáticas voltadas para as relações entre ciência, tecnologia e sociedade.
2) As relações entre natureza e artes (technai) nas origens da ciência moderna: neste segundo encontro, com base em documentos originais e recentes estudos em história da ciência, discutiremos sobre a transmissão e a apropriação de conhecimentos relativos à natureza e às artes (technai) nas origens da ciência moderna, tendo por foco a interação entre o saber e o fazer. Especial atenção será dada a um conjunto de tratados que lidam com instrumentos e imagens.
3) As relações entre ciência, técnica e tecnologia desde as origens da ciência moderna: neste último encontro, discutiremos sobre o desenvolvimento e a elaboração do conhecimento científico, técnico e tecnológico, tendo por foco a natureza de suas relações na contingência histórica. Questões de ordem teórica e prática, bem com outras de ordem política, religiosa, econômica entre muitas outras, estiveram na base do processo da especialização moderna. O que hoje reconhecemos como ciência, técnica tecnologia foi parte de um processo em que podemos identificar diferentes expressões de conhecimentos que se relacionaram de múltiplas formas. Esse aspecto multifacetado da ciência, da técnica e da tecnologia levanta questões de diferentes ordens que podem ser exploradas e discutidas no âmbito CTS.
O minicurso será ministrado por: Maria Helena Roxo Beltran (HISTÓRIA DA CIÊNCIA/CESIMA/PUCSP) e Fumikazu Saito (HISTÓRIA DA CIÊNCIA/EDUCAÇÃO MATEMÁTICA/CESIMA/PUCSP)
Nanotecnologias e Sociedade: desafios e perspectivas para uma Revolução Tecno-Científica
Raquel von Hohendorff, Paulo Roberto Maretins, Tania Elias Magno da Silva, Wilson EngelmannResumo:
Minicurso
Objetivo Geral: Refletir sobre o desenvolvimento das nanotecnologias, os reflexos jurídicos e os seus impactos na sociedade e no meio ambiente.
Objetivos Específicos:
1.Avaliar as consequências das nanotecnologias para o futuro da sociedade e do meio ambiente;
2.Fomentar o exercício do direito à informação (do consumidor) e o dever de informação (do pesquisador e fabricante) no tocante aos avanços das nanotecnologias;
3.Estudar os avanços nanotecnológicos a partir das contribuições das Ciências de Produção e o papel ético-normativo que deverá ser desempenhado pelas Ciências de Impacto;
4.Acompanhar e avaliar criticamente os debates regulatórios brasileiros e estrangeiros sobre a temática;
Pesquisadores:
Prof. Dra Tania Elias Magno da Silva ( http://lattes.cnpq.br/4392730514333344)
Prof. Dr Wilson Engelmann (http://lattes.cnpq.br/7143561813892945 )
Doutoranda Raquel von Hohendorff (http://lattes.cnpq.br/1290476074978770) Unisinos- Jusnano
Dr Paulo Martins- Renanossoma ( http://lattes.cnpq.br/2923786279963555)
As novas tecnologias na atualidade têm papel central, tanto na atividade humana, quanto no desenvolvimento do conhecimento contemporâneo. Estas novas tecnologias desenvolvidas pelas mais variadas áreas do conhecimento humano desafiam a capacidade de compreensão do mundo na atualidade. Os avanços gerados pelas áreas tecnológicas (áreas duras) precisam respaldar-se nos pressupostos epistemológicos alcançados pelas ciências Humanas.
Nesse contexto, os juristas, professores e estudantes da atualidade possuem o desafio de estudar em conjunto a Nanotecnologia, e seus impactos na Sociedade e no Meio Ambiente.
A proposta de minicurso envolve três sessões de 30 minutos, cujos objetivos principais seriam a reflexão sobre o desenvolvimento das nanotecnologias, os reflexos jurídicos e os seus impactos na sociedade e no meio ambiente. Objetiva-se expor a atual realidade da nanotecnologia no país com avaliação das consequências das nanotecnologias para o futuro da sociedade e do meio ambiente, fomentando o exercício do direito à informação (do consumidor) e o dever de informação (do pesquisador e fabricante) no tocante aos avanços das nanotecnologias. Também objetiva-se discutir os avanços nanotecnológicos a partir das contribuições das Ciências de Produção e o papel ético-normativo que deverá ser desempenhado pelas Ciências de Impacto. A primeira parte, sob coordenação do Dr. Wilson Engelmann e da doutoranda Raquel abordará as nanotecnologias como um exemplo de tecnociência e seus impactos, apresentando dados relevantes e alarmantes sobre o desconhecimento dos riscos dos produtos nanotecnológicos e dos poucos investimentos em pesquisas em nanotoxicologia. Também se objetiva apresentar o atual estado da arte da (não)regulação brasileira sobre nanotecnologias e como o Direito está enfrentando este novo desafio.
A segunda sessão, a ser coordenada pela Prof. Dra. Tania, tratará dos avanços tecnocientíficos e os desafios no campo da alimentação, abordando a modernidade da fome, expondo a necessidade de que o consumidor saiba o que está sendo produzido, como esta sendo produzido e o que ele está comprando e comendo e ainda, que é preciso responder a uma questão básica: O que de fato estamos comendo? Objetiva-se expor que é preciso estar ciente dos limites e alcances das conquistas no campo tecnocientífico, bem como considerar o ônus e o bônus da empreitada, pois se por um lado nos beneficiamos com as conquistas científicas e tecnológicas em vários campos da vida, como o da saúde, alimentação, transporte, comunicação entre outros, por outro estas conquistas não tem beneficiado a todos igualmente, ao contrário, tem aumentado as diferenças entre o mundo desenvolvido e as regiões pobres do planeta, entre os ricos e os pobres de uma maneira geral, para os quais esse "mundo novo" ainda parece distante, e inalcançável.A terceira sessão, a ser coordenada pelo Dr . Paulo Martins abordará a necessidade de que as políticas científicas e tecnológicas ligadas às nanotecnologias devem deixar de ter o foco específico na competitividade e se voltarem mais ao desenvolvimento social, envidando esforços para a construção de uma nova forma de inserção das políticas públicas e das empresas no avanço das nanotecnologias. Será abordado o papel dos diferentes atores sociais para a construção dos marcos regulatórios aplicáveis às nanotecnologias, bem como a necessidade de que a utilização de verba pública para o desenvolvimento de pesquisas nas áreas da escala nanométrica deverá ser transparente, em um portal de acesso público, além da disponibilização dos resultados ao público especializado e leigo, objetivando a prestação de contas dos valores recebidos e dos objetivos realizados.
Redes de Conhecimento e Produção Científica
Maria do Rocio Fontoura TeixeiraResumo:
Minicurso
Proporcionar conhecimentos básicos sobre as redes de conhecimento, seus antecedentes, elementos constitutivos, funcionamento e estruturas.
Introduzir os alunos no estudo das redes de conhecimento, através de metodologias de análise de redes sociais.
Apresentar as relações entre redes de conhecimento e a produção científica.
Desenvolver nos alunos suficiente juízo crítico para permitir melhores opções metodológicas para a pesquisa no campo científico.
Saúde Global: Uma Breve História
Marcos Cueto CaballeroResumo:
Minicurso
Nos últimos anos, muitas escolas de saúde pública, agências internacionais e governos substituíram o tradicional termo "saúde internacional" pelo o conceito de "saúde global." No entanto, poucos especialistas conhecem as origens históricas desses conceitos. Este minicurso procura apresentar uma visão panorâmica do percurso e os desafios de saúde global. A ênfase do minicurso é as últimas décadas de século XX e começos do século XXI. O minicurso discutira uma diferença entre a saúde global e internacional: o primeiro tornou mais visível a coexistência de duas perspectivas sobre a saúde nacional e internacional: uma perspectiva social que promove intervenções holísticas, considerando reformas sociais e uma perspectiva tecnológica, que se considera uma parte da contribuição para o desenvolvimento econômico. Além disso, o minicurso discutirá as mudanças nas relações entre Estado e agências multilaterais; em especial a Organização Mundial de Saúde, OMS, e a Organização Pan-americana da Saúde, OPAS. Temas a serem abordados: surgimento das agências internacionais, campanhas verticais, Atenção Primaria de Saúde, Promoção da Saúde, AIDS e as doenças emergentes e reemergentes, Parcerias Público Privadas, Comissão de Determinantes Sociais de Saúde e reformas neoliberais em saúde.
História das Ciências e Tecnologia no Ensino Fundamental
Verônica Gomes dos Santos, Elaine Silva Rocha Sobreira, Suseli de Paula VissicaroResumo:
Minicurso
Diferentes pesquisadores e publicações diversas apontam para a importância da utilização de reflexões sobre História das Ciências (HC) e da Tecnologia no ensino de ciências, em suas diferentes modalidades, com o objetivo de promover uma Educação Científica, na qual a mesma se apresente de forma não neutra, acessível socialmente, como resultado de um processo histórico e dentro de uma proposta reflexiva, que de antemão revela a possibilidade de refletir sobre a natureza da ciência. Neste viés a tecnologia desempenha um papel duplo, partindo do seu contexto histórico e social que justifica e motiva a criação e avanço tecnológico e chegando a ser o recurso que tende a propiciar a aproximação entre a educação, milenar e necessária, ao cotidiano social e tecnológico dos estudantes atuais, estreitando a persistente lacuna que se cria entre escola e sociedade.
Tal perspectiva busca possibilitar através desta, compreender as relações entre ciência, tecnologia e sociedade, localizando a ciência histórica e culturalmente, influenciando e sendo influenciada pela sociedade na qual está inserida.
Assim, observando-se uma gama de trabalhos voltados para sua utilização no ensino médio e superior, com uma carência declarada de trabalhos no ensino fundamental e compreendendo que a Educação desempenha um papel singular na formação do cidadão, que deve começar desde cedo já nos anos iniciais da escolaridade, esta proposta busca se justificar pertinente na contribuição formativa e reflexiva dos educadores que atuam com a modalidade educativa em questão.
Objetivos
Refletir sobre a possibilidade de utilização da HC no ensino a partir do estudo da história da tecnologia e seu contexto social.
Reconhecer e valorizar práticas exitosas que preconizam um trabalho fundamentado, contextualizado e significativo.
Promover a oportunidade de elaboração de propostas que privilegie a HC no ensino e o compartilhamento entre os pares.
Descrição da proposta:
1º encontro: Breve histórico da História das Ciências e as principais correntes historiográficas. Composição do cenário da HC no ensino e suas contribuições pedagógicas.
2º encontro: História das Ciências na prática pedagógica: apresentação de propostas de utilização da HC no ensino - episódios, história das invenções, leitura de textos originais. Seleção bibliográfica de boas práticas. Panorama do livro didático - análise critica de como a HC é abordada nos LD da área de ciências.
3º encontro: construção e socialização de propostas que trabalham com a HC a partir da história da Tecnologia para aplicação em sala de aula de acordo com a modalidade educativa presente.
Políticas Sociais no Século XXI: TIC, inovação e qualificação para um trabalhador socialmente situado e potencialmente emancipatório.
Loryne Viana de Oliveira, Thiago Varanda BarbosaResumo:
Minicurso
Geral: Apresentar o atual contexto das políticas sociais no Brasil enquanto campo de inovação e uso intensivo de TIC problematizando a inserção do trabalhador como ator central deste processo para, assim, subsidiar painel de mapeamento das possibilidades de qualificação do trabalho.
. Discutir uso de TIC e a gestão da inovação em políticas sociais.
. Debater os limites do atual modelo voltado para o combate à pobreza.
. Debater o conceito de economia popular como base real para pesquisa acadêmica e formulação de políticas sociais de última geração.
. Delinear o mapa de conhecimento existente no Brasil sobre economia popular.
. Definir técnicas e instrumentos pedagógicos adequadas a qualificação do trabalhador envolvido ou beneficiário das políticas sociais de apoio à produção.
Como compor o social a partir de nossos objetos de estudo? O caso do sequestro de carbono florestal
Viviane Fernandez, Fátima Teresa Braga BranquinhoResumo:
Minicurso
O campo de estudos em Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) pretende tornar evidentes as conexões existentes entre fatos e artefatos técnico-científicos e a sociedade em que vivemos. Neste contexto, a teoria ator-rede surge como um caminho para compreender que isso não significa aproximar o conteúdo científico do contexto social, mas reformular toda nossa forma "moderna" de construir conhecimento. Ou seja, reconhecer que tanto os fatos como os valores são deliberados e decididos (Latour, 2004, p. 248), que a sociedade, assim como a natureza, não é uma instância pré-estabelecida. Para a teoria ator-rede, o social precisa ser composto a cada objeto híbrido que criamos. Mas, como fazer isso com um objeto de estudo em mãos? Como ver nele próprio as implicações políticas, econômicas, culturais, ideológicas, ético-morais, etc.? Como percebê-lo como um híbrido de natureza e cultura? Os livros de Bruno Latour estão repletos de procedimentos metodológicos, todavia atribuir ação aos mesmos é um desafio que cabe a nós pesquisadores. Conforme o próprio autor disse ao final do livro Jamais fomos modernos, "[...] eu realizei meu trabalho de filósofo e de constituinte [da constituição não moderna] quando reuni os temas esparsos da antropologia comparada. Outros [nós] saberão convocar este parlamento" (Latour, 1994, p. 142).
O objetivo deste minicurso é apresentar exemplos práticos sobre como perceber o social em nossas pesquisas científicas. Sua base empírica é uma tese de doutorado que, para fazer ciência na democracia, optou por compor a rede sociotécnica do carbono assimilado por florestas de mangue.
O minicurso será dividido em três sessões, nas quais serão abordadas as seguintes questões:
a) Como utilizar as justificativas de nossos estudos técnicos para obter pistas sobre o social que precisamos compor?
b) Como identificar os "fluxos sanguíneos" da ciência?
c) Como tornar o conhecimento científico mais situado?
d) Como acrescentar práticas de mediação às de purificação e traçar a dimensão não moderna de estudos científicos?
e) Como caracterizar a ontologia de geometria variável?
f) Como fixar grampos a fim de manter o social plano e não saltar rapidamente do conteúdo para contexto, ou do local para o global?
Estas questões foram abordadas na referida tese para caracterizar o carbono como um híbrido de natureza e cultura, sendo ao mesmo tempo natural-social, científico-político e local-global.
Bibliografia
FERNANDEZ, V. Para onde vamos com o sequestro de carbono? A rede sociotécnica do carbono assimilado por manguezais. 448 p. Tese (Doutorado em Meio Ambiente) - Programa de Pós-graduação em Meio Ambiente/ Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014
LATOUR, B. Para distinguir amigos e inimigos no tempo do Antropoceno. Revista de Antropologia, v. 57, n.1, p. 11-31, 2014.
LATOUR, B. Reagregando o social: uma introdução à teoria do ator-rede. Bauru: Edusc e Salvador: Edufba, 2012. 399 p.
LATOUR, B. Políticas da Natureza: como fazer ciência na democracia. Bauru: Editora Edusc, 2004. 411 p.
LATOUR, B. War of the Worlds: what about the peace? Chicago: Prickly Paradigm Press, 2002. 53 p.
LATOUR, B. A Esperança de pandora: ensaios sobre a realidade dos estudos científicos. Bauru: Edusc, 2001. 371 p.
LATOUR, B. Jamais fomos Modernos. Rio de Janeiro: Editora 34, 1994. 150 p.