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A pesquisa acadêmica sobre o Programa Um Computador por Aluno no Brasil: o que dizem as dissertações e teses
Adda Daniela Lima Figueiredo Echalar (UFG), Lorena Carvelo e Silva Lima (PUC-GO)Grupo Temático: Tecnologia e mediações
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Resumo:
O Programa Um Computador por Aluno (PROUCA) é um programa de inclusão digital via ambiente escolar implantado no Brasil a partir do ano de 2007, sendo instaurado em 2010 (Lei nº 12.249). O Programa teve o objetivo de intensificar o uso das tecnologias da informação e da comunicação (TIC) nas escolas, por meio da distribuição de computadores portáteis aos alunos da rede pública de ensino.
Foi efetivado o levantamento das produções, teses e dissertações, entre os anos de 2008 a 2014 sobre o Programa. O PROUCA foi pesquisado em 50 dissertações e nove teses, sendo objeto de investigação especialmente dos pesquisadores em Educação com 33 dissertações e cinco teses.
Verificamos que as escolas foram objeto de avaliação, de uma forma geral, pelos pesquisadores que constituíram o Grupo de Trabalho do PROUCA (GTUCA) e compõem as denominadas Instituições de Ensino Superior (IES) Globais do Programa: PUCSP, UFC, UFPE, UFRGS, UFS, PUCMG, UFRJ, USP e UNICAMP, que implantou essa política em cada estado. As avaliações costumaram ser de caráter amostral, não cobrindo as particularidades de cada região do País ou de um bloco de escolas de um mesmo estado, o que não oportuniza um olhar global sobre o Programa.
Observamos a necessidade de estudos críticos sobre os desdobramentos das políticas em espaços permeados por práticas concretas. Ou seja, consideramos a necessidade de estudos e pesquisas que considerem o PROUCA em uma perspectiva de totalidade e não a partir de vieses marcados por organismos financiadores. A perspectiva de totalidade implica também em não considerar a gênese do Programa, a sua implantação e a sua operacionalização como elementos dissociados ou simplesmente orientados pelas funcionalidades técnicas dos laptops. Tratar uma ação política e sua decorrente prática social como uma totalidade social implica em levar em conta, de maneira articulada, as condições históricas nas quais o Programa foi gestado, suas origens e seu processo histórico de constituição (MARX, 1996).
Isso significa considerar os laptops como objetos técnicos que são fruto da ação humana social e historicamente localizada (FEENBERG, 1991; FIGUEIREDO-ECHALAR; PEIXOTO, 2014; PEIXOTO, 2015, 2012) e não como tecnologias neutras com poderes de promover - por si sós - a inclusão das massas populacionais que vivem, trabalham e estudam em condição de marginalidade.
O aporte da teoria de ator-rede para o estudo dos movimentos sociais em conflitos socioambientais
Adela Parra Romero (Unicamp), Leda Maria Caira Gitahy (Instituto de Geociências UNICAMP)Grupo Temático: Pedra, planta, bicho, gente... coisas: encontros da teoria ator-rede com as ciências ambientais
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Resumo:
As políticas econômicas extrativistas nos países da América Latina têm provocado o aumento dos conflitos sócio ambientais. De um lado empresas e governos se associam para com o discurso do crescimento econômico justificam a expansão de suas atividades extrativistas, e por outro as comunidades afetadas pela expropriação de seu território e de seus recursos naturais, se mobilizam para defender seus direitos. Essas comunidades se organizam em movimentos de resistência, associando diferentes atores (acadêmicos, organizações, manifestações, discursos, práticas e artefatos) à luta por suas demandas. Nesse processo de resistência elas associam a defesa de seu território, seus modos de vida e suas práticas culturais ao caminho para atingir a sustentabilidade ampliando o leque de aliados possíveis em seu enfrentamento com governos, empresas e políticas que as ameaçam.
Nossa proposta é estudar os movimentos sociais de resistência como redes de agregados materiais e culturais, de humanos e não humanos que se auto organizam e que podem o não se juntar a outras redes para atingir suas demandas. A ideia deste trabalho é explorar as possiblidades das ferramentas conceituais e metodológicas da teoria de ator-rede no estudo desse tipo de movimento. Achamos que eles podem ser entendidos como redes de produção de conhecimentos que produzem um pensamento próprio, que circula pela rede e influencia as políticas ambientais e as práticas sociais.
O caso a ser analisado é o movimento pela “Defensa del agua en el páramo de Santurban” na Colômbia. A contribuição deste trabalho é refletir sobre como a teoria de ator-rede pode nos ajudar a seguir os fluxos dos conhecimentos produzidos, assim como mapear o agregado (reassembling) do movimento social em suas múltiplas configurações.
Ofício de Paneleiras de Goiabeiras (Vitória-ES): Práticas e trajetórias de uma associação de artesãs nos interstícios da memória coletiva, dispositivos patrimoniais e biomas
Adimilson Renato da Silva (Universidade do Vale do Rio dos Sinos-UNISINOS)Grupo Temático: PROCESSOS TECNOLOGICOS E CULTURA: sociabilidades, saberes populares, assimetrias e meio ambiente
Resumo:
A dinâmica mobilizada pelas paneleiras de Goiabeiras como sinônimo de tradição-luta-arte tem base no ato de fazer panelas, mas também, identidades, memórias e reconhecimento. (Nicole, Nascimentos & outros 2012). Panorama que, por sua vez, remete ao diagnóstico de que as reivindicações de indivíduos, coletividades e instituições estão cada vez mais circunscritas à posição que se adquire dentro de uma lógica de negociação. Este espaço de contestação e manobra indica que a performatividade consolida-se como imperativo de desempenho a ser observado na análise dos agenciamentos e projetos em curso na contemporaneidade. Tendo isso em vista, percebe-se também que as políticas culturais de patrimonialização investem na tentativa de evocar a existência de “culturas diversas e plurais” e seus “bens materiais e imateriais”. (SANTOS, 2012, p. 82). Este trabalho propõe identificar e analisar as lógicas operantes na gestão da cultura dentro do contexto da produção artesanal de panelas de barro. A hipótese principal supõe que a diversidade cultural torna-se premissa para a garantia de preservação da biodiversidade (LOPES, TATARO, BARROS, 2015) em territórios marcados pela disputa de recursos naturais escassos. Assim, a experiência das Paneleiras de Goiabeiras pode se constituir como um exemplo de apreender a “[...] via ecológica do encontro do sujeito humano com a natureza [...]” (STEIL, CARVALHO, 2012). Este empreendimento investigativo faz parte de uma primeira inserção junto à problemática anunciada. O estudo em questão se constituirá por momentos de análise dos materiais produzidos sobre e com as artesãs de Goiabeiras, seguida de inserções neste contexto, realizadas através do estudo de caso com base em pesquisas etnográficas. Dessa forma, consideramos a pertinência de compreender como as coletividades, antes vistas como depositárias do sentimento de segregação e apartamento na sociedade, principalmente aquelas populações situadas em contextos de pobreza e privação de recursos (ribeirinhos, populações quilombolas, artesãs, pescadores artesanais, etc.) ao reivindicarem legitimidade e reconhecimento às suas práticas e trajetórias, alcançam visibilidade e inserção na agenda de políticas públicas principalmente no transcurso da história recente.
Ciência-Tecnologia-Sociedade: Com a palavra os professores de Ciências e Biologia da Educação Básica
Adrian Evelyn Lima Henriques (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), Luís Fernando Marques Dorvillé (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)Grupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
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Resumo:
O presente trabalho, de natureza qualitativa, buscou identificar e compreender as principais concepções apresentadas por professores de Ciências e Biologia sobre Ciência, Tecnologia e Sociedade, e suas inter-relações. A partir da articulação entre o referencial do educador Paulo Freire e a Perspectiva CTS para o Ensino de Ciências apresentada por Santos (2007), Nacimento e von Lisingen (2006), entre outros, procuramos discutir as principais implicações destas concepções sobre o processo de Educação Científica e Tecnológica empreendido por estes profissionais em sala de aula. Foram entrevistados 5 professores atuantes em diferentes redes e modalidades de ensino da Educação básica, e a partir de um roteiro semiestruturado pedimos que estes docentes se posicionassem sobre temas polêmicos e atuais envolvendo aspectos científicos, tecnológicos e sociais, a exemplo Transgênicos, Pesquisas com Células Tronco e Crise Hídrica, e que analisassem a relevância do tratamento destes nas aulas de Ciências e Biologia. Os principais resultados mostram que os professores possuem pouco entendimento sobre tais assuntos, definem Ciência como teoria, Tecnologia como um tipo de Ciência aplicada a partir de uma dimensão puramente técnica, e reservam pouco espaço para a atuação democrática sobre as interações CTS. Acreditamos que tais concepções se mostram potencialmente prejudiciais para a apresentação das inter-relações CTS no ensino de Ciências e Biologia, pois podem levar a um ensino descontextualizado e acrítico dos alunos da Educação Básica, prejudicando assim o potencial formativo da Educação Científica para atuação cidadã crítica e reflexiva destes.
O trabalho com museus na educação infantil: possibilidades de um ensino de ciências contextualizado
Adriana Regina de Oliveira Couto (Unicamp)Grupo Temático: História das Ciências e da Tecnologia aplicadas ao Ensino
Resumo:
Muitas discussões têm acontecido nas últimas décadas sobre a educação infantil acerca de concepção de infância, alfabetização e letramento, organização do espaço físico, a importância do lúdico, entre outros. Porém, o ensino de ciências ainda é um grande desafio na educação infantil, pois há poucas pesquisas neste sentido. Há muito ainda a se fazer no ensino de ciências e nos resta saber o como fazer, uma vez que lidamos com crianças bem pequenas e somos desafiados a todo tempo a refletir sobre metodologias que alcancem suas formas de pensar, elaborar hipóteses e construir saberes. Ciências naturais é um assunto que encanta as crianças, afinal que criança que não gosta de falar sobre dinossauros, animais em geral, flores, sol, lua, estrelas? Assim, reconhecendo que desde o nascimento a criança interage com seu meio (físico, social) e tem o direito de compreendê-lo, o presente trabalho vem apresentar a proposta de resgatar os museus como espaços que possibilitam um ambiente rico de diversas aprendizagens. A história dos museus, não é isolada no tempo e no espaço, está, pois, atrelada a contextos históricos, sociais, econômicos, culturais. Trazer essa discussão na esfera da educação infantil é um passo inicial no resgate de memórias, na evolução das tecnologias e até mesmo nos estudos de animais quando se trata de museu e história natural. Desta forma, saídas culturais devem ser muito além do que meros passeios, podendo ser encaradas como oportunidades de aprendizagens reais através do trabalho efetivo com pedagogia de projetos.
LIMITAÇÕES E POSSIBILIDADES DOS INDICADORES ENERGÉTICOS: formulação de políticas públicas no setor de energia brasileiro e o desenvolvimento sustentável
Adriana Ripka (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), Christian Luiz da Silva (UTFPR), Denise Rauber (UTFPR), Flávia de Faria Gomes (UTFPR), Gabriel Massao Fugii (Universidade Tecnolóvica Federal do Paraná)Grupo Temático: Políticas Públicas e Desenvolvimento Local: interveniências e interações entre tecnologia, sociedade e democracia
Resumo:
De 2,5 bilhões de pessoas no mundo, em 1950, passamos para mais de 7,2 bilhões em 2014. Tal crescimento aumentou a demanda por bens. Sendo a energia um fator fundamental para o setor produtivo, há uma pressão por seu fornecimento constante. Após limitações das fontes de energia não renováveis, ocorridas entre 1960 e 1970, a busca por fontes de energias renováveis e tecnologias energeticamente eficientes tornou-se representativa no planejamento político. A discussão sobre desenvolvimento sustentável e Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), no final do século XX e início do século XXI, contribuiu para que o desenvolvimento almejado por este planejamento político, antes focado em resultados puramente econômicos, passasse a considerar também os aspectos sociais e ambientais. Em tal cenário, os formuladores de políticas públicas passaram a demandar, cada vez mais, informações sistematizadas para guiar suas decisões da forma mais eficiente possível, se adaptando à inclusão dos novos aspectos – sociais e ambientais. No setor de energia, os indicadores são utilizados como fonte de informação para a formulação de políticas, e estes podem estar relacionados tanto à eficiência energética quanto ao desenvolvimento sustentável, sendo este último o foco principal deste artigo. Este artigo tem como objetivo apresentar as limitações e possibilidades dos indicadores energéticos, envolvidos no processo de formulação de políticas públicas e ligados ao desenvolvimento sustentável. Trata-se de uma pesquisa exploratória que repousa sobre uma pesquisa bibliográfica pautada nas ferramentas de busca EBSCO e SCHOLAR, reunindo conteúdos (livros, teses e dissertações) de diversas bases de dados. Além destas fontes, foram acessados relatórios oficiais de organizações do setor energético como a International Energy Agency (IEA) e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Como resultado de análise, são apresentadas as limitações e as possibilidades dos indicadores energéticos relacionados à formulação de políticas públicas no Brasil. Estes, contextualizados na discussão de CTS e desenvolvimento sustentável, contribuem para o entendimento das fragilidades dos indicadores e estimulam a busca por soluções.
Cultura e tecnicização: Simmel e a lógica do dinheiro na tecnicização moderna
Adriana Tenório da Silva (UNIFAP)Grupo Temático: Tecnologia e mediações
Resumo
A modernidade traz em sua estrutura um conjunto de transformações econômicas, políticas, sociais, culturais e tecnológicas. No entendimento desse panorama, que passa a caracterizar a sociedade, diversos teóricos apresentaram suas contundentes interpretações no exercício de compreensão da vida social. Entre esses teóricos destacamos o pensamento de Georg Simmel (1858 - 1918) que em suas obras ressaltou a dinâmica entre subjetividade e cultura objetiva, a prevalência da lógica do dinheiro nos elementos objetivos da cultura e a consequente autonomização da tecnologia em relação às finalidades subjetivas que a tornaram desejante. Assim, a partir dessas reflexões buscamos salientar a contribuição original que traz para pensarmos a vida social e junto com esta a tecnologia, na constante dinâmica que é viver em sociedade, e mais precisamente, em uma sociedade tecnológica, bem como superar uma interpretação dicotômica entre sociedade e tecnologia em busca de uma abordagem relacional.
Claude Bernard no Ensino de Ciências: possíveis contribuições de um fisiologista
Alan Dantas dos Santos Felisberto (UNICAMP), Silvia Fernanda de Mendonça Figueirôa (Faculdade de Educação - UNICAMP)Grupo Temático: História das Ciências e da Tecnologia aplicadas ao Ensino
Resumo
Nas últimas décadas, diversos estudos apontaram a utilização da História da Ciência (HC) como ferramenta importante no Ensino de Ciências, destacando a possibilidade de abordagens múltiplas no ensino. Este trabalho -de natureza teórica- tem como objetivo apresentar o fisiologista Claude Bernard (1813-1878) e identificar aspectos da experimentação com seres vivos que possam contribuir para a discussão sobre a construção dos diferentes métodos das ciências no ensino. A metodologia de pesquisa em HC consiste na análise de duas categorias de fontes bibliográficas: fontes primárias e secundárias. Nesta pesquisa, a fonte primária será o livro de Claude Bernard Introduction à l'étude de la médecine expérimentale (Introdução ao estudo da medicina experimental), de 1865. Para tomar conhecimento do contexto da produção e publicação da fonte primária, serão analisadas fontes secundárias, ou seja, textos produzidos por historiadores da ciência sobre o tema 'método experimental' em ciências e sobre o personagem histórico. Paralelamente, serão apontadas as possíveis contribuições do documento histórico analisado para sua utilização no ensino. Durante o século XIX, houve um período de sete anos (1859 a 1865) em que pesquisadores se destacaram na história das ciências: Charles Darwin (1809-1882), Louis Pasteur (1822-1895) e Johan Gregor Mendel (1822-1884). As contribuições desses três são bem conhecidas entre todos, mesmo entre não cientistas, no entanto, Claude Bernard é bem menos familiar, apesar de suas numerosas e importantes contribuições para nossa compreensão do funcionamento dos organismos no campo da Fisiologia. Dentre as contribuições de Claude Bernard, a mais notória é a sistematização de experimentos com seres vivos. Na análise de sua obra, podem ser observadas a exploração de metodologias diversificadas na experimentação. O fisiologista discute e exemplifica os métodos e experimentos na mesma obra, dando indícios de que, no século XIX, a prática científica não se restringia ao escopo de procedimentos aparentemente inflexível. As discussões e experimentos de Claude Bernard são fonte considerável de material a ser trabalhado no ensino de ciências e em sala de aula, podendo contribuir para debater diversos aspectos da Natureza da Ciência.
As representações das trabalhadoras rurais nos rótulos litográficos de cachaça do Paraná (anos 1930-1950)
Alan Ricardo Witikoski (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), Ana Caroline de Bassi Padilha (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), Marilda Lopes Pinheiro Queluz (UTFPR), Marinês Ribeiro dos Santos (Universidade Tecnolígica Federal do Paraná)Grupo Temático: Gênero, Ciência e Tecnologia: avanços e desafios
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Este trabalho é resultado de uma pesquisa mais ampla sobre os rótulos de cachaça litográficos do Paraná. O presente artigo objetiva discutir sobre a construção de representações de feminilidades relacionadas à produção de cachaça, presentes nos rótulos da aguardente. O recorte de estudo tem como foco três rótulos criados e produzidos em oficinas litográficas do Paraná entre as décadas de 1930 e 1950 e encontrados no acervo da Casa da Memória da Fundação Cultural de Curitiba (FCC). A partir de uma abordagem qualitativa de natureza interpretativa, serão examinados os discursos textuais e imagéticos dos rótulos. Para a análise e compreensão dos rótulos, fez-se uso do modelo proposto por Martine Joly (2005) como procedimento de leitura dos códigos que organizam os significados das imagens. Durante os anos de 1930 e 1950, o processo de trabalho litográfico, mesmo sendo considerado um trabalho marcadamente masculino, também contava com a participação das mulheres na criação, produção e reprodução dos rótulos de cachaça. Além disso, em algumas imagens de rótulos é possível observar a representação de figuras femininas relacionadas à paisagem rural e à produção de cachaça, e assumindo a identidade social ora de trabalhadoras, ora de consumidoras da aguardente. Por meio das análises dos rótulos, é possível perceber representações de vários tipos de feminilidades, tensionando os processos de mudanças de comportamento, provocando deslocamentos e ressignificações entre o consumo da bebida e o consumo da imagem feminina.
A crítica tecnológica de Álvaro Vieira Pinto à Oswald Spengler
Alberto Bezerra de Abreu (UFPE)Grupo Temático: Álvaro Vieira Pinto - Resumo para Grupo Temático
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Resumo
O objetivo do presente trabalho consiste em expor e analisar a crítica empreendida pelo filósofo brasileiro Álvaro Vieira Pinto à concepção de tecnologia defendida por Oswald Spengler, adotando como metodologia a confrontação das obras específicas de ambos os autores sobre o tema: “O conceito de tecnologia” e “O homem e a técnica”, respectivamente, complementando tal confrontação com consultas a outras obras de ambos os pensadores, bem como a estudos sobre eles. O cerne da crítica “vieiriana” ao pensamento de Spengler consiste em considerá-lo como promovendo uma hipostatização (substancialização) da tecnologia, ou seja, de descrevê-la como algo que transcende o humano, adquirindo autonomia em relação a ele, ficando clara tal perspectiva em virtude de sua explícita demonização da máquina. Ao dotar a máquina dum caráter diabólico, Spengler exime de responsabilidade os verdadeiros culpados pelas agruras contemporâneas da humanidade: o próprio homem, construtor não só das máquinas, mas também da organização social que legitimava e impunha uma verdadeira escravização do humano ao maquinal. O caráter social da tecnologia defendido por Vieira em oposição a concepção desta como sendo obra do gênio individual preconizada por Spengler parece-nos uma fecunda contribuição do presente trabalho para a literatura dos estudos de ciências-tecnologias-sociedades (CTS), haja vista a possibilidade que tal enfoque nos dá em termos de democratização da tecnologia, em contraste com suas recorrentes utilizações em prol do privilégio de minorias, pois sendo uma criação coletiva (social), deve a tecnologia ser usufruída em semelhante medida por todos. Esperamos ainda contribuir para a difusão do pensamento deste importante e pouco conhecido filósofo brasileiro chamado Álvaro Vieira Pinto.
Tecnologias livres, educação profissional e design de artefatos eletrônicos: enredando saberes/práticas tecnocientíficos/as e discurso libertário na formação de jovens trabalhadores
Alberto Jorge Silva de Lima (CEFET/RJ)Grupo Temático: Práticas democráticas: diálogos econômico-pedagógicos mediados (ou não?) por tecnologias
Resumo
Este trabalho visa relatar a experiência de um projeto de extensão desenvolvido em 2013, no âmbito de uma escola federal de educação profissional e tecnológica (CEFET/RJ), sob minha coordenação e tendo um bolsista de ensino médio como executor. O projeto procurou articular saberes e práticas relativos ao projeto (design) de artefatos eletrônicos a uma tradição na Ciência da Computação de cunho “libertário” e “progressista” que advoga o uso e a criação de tecnologias para o fortalecimento da livre circulação de informações (ROSZAK, 1998)”. São desdobramentos dessa tradição, com a adição de novos elementos, diversos movimentos atuais que advogam, de uma maneira geral, pelo compartilhamento livre de ideias e tecnologias, como o movimento pelo software livre e o que defende o licenciamento da produção cultural humana como bem comum (Creative Commons) (FARIA, 2010). Este projeto se insere nesta tradição, a partir da consideração, no processo pedagógico, da noção de que as tecnologias estão intrinsecamente ligadas ao contexto social no qual são forjadas e carregam consigo todo um universo de permissões e restrições à construção do porvir (LATOUR, 2000). Foram objetivos do projeto (a) mapear as ferramentas de hardware/software livres/abertas disponíveis para o desenvolvimento de artefatos eletrônicos; (b) propor, implementar e avaliar uma metodologia de ensino de eletrônica baseada no desenvolvimento de projetos a partir de ferramentas de desenvolvimento livres/abertas; (c) propiciar, a partir de licenciamento livre/aberto, a replicação/experimentação/adaptação da metodologia proposta em outros espaços, com destaque para escolas públicas que atendam ao segmento básico e (d) colocar em pauta, no CEFET/RJ, a discussão sobre tecnologias livres/abertas. Apesar das diretrizes curriculares nacionais para a educação profissional técnica de nível médio apontarem para a articulação entre as dimensões ciência, trabalho, tecnologia e cultura, os currículos dos cursos de formação tecnológica ainda são marcados por um certo tecnicismo e pela ideia de neutralidade tecnológica; sendo assim, este relato destacará, sobretudo, a organização de uma Oficina voltada aos estudantes do CEFET/RJ, que possibilitou vislumbrar caminhos para a articulação de um discurso libertário na formação tecnológica de jovens trabalhadores e para a desconstrução do mito da neutralidade tecnológica.
A espiritualidade no âmbito da saúde
Alessandra Teixeira Marques Pinto (Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro)Grupo Temático: Estudos CTS, Práticas Psi e Modos de Produção de Subjetividades
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Em 1988, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu a espiritualidade dentro da perspectiva multidimensional desse conceito. Assim, além das dimensões física, mental e social soma-se a espiritual. Essa dimensão, tal como entendida pela OMS, não está atrelada à adesão a um credo religioso. Ao contrário, refere-se às questões de significado e sentido da vida, da doença, da morte ou do sofrimento, não se restringindo à prática religiosa. É a experiência que transcende a todo aspecto material da vida. Curioso interesse, já que a ciência sempre rejeitou tudo o que não era tangível, observável. Muitas vezes confundida com religião, seu estudo não despertava o interesse da ciência. Além disso, pensar no sofrimento, na morte e na doença parece não condizer com o paradigma atual, o qual enfatiza a busca pela felicidade, pelo prazer e pelo consumo.
Os séculos XX e XXI apresentam vários estudos nacionais e internacionais que demonstram a influência da espiritualidade na saúde física, mental e social. Além disso, na rede pública de saúde, trabalhos relacionados à perspectiva espiritual e inter-religiosa vêm sendo desenvolvidos nas unidades hospitalares.
Dessa forma, que leva a retomada pelo interesse da espiritualidade, ao ponto de se reconhece-la como uma dimensão da saúde? O objetivo desse trabalho é propor a problematização do interesse pela espiritualidade no contexto da saúde. Para tal, o fio condutor deste trabalho é a genealogia proposta por Michel Foucault, a qual não é uma técnica ou uma metodologia, mas uma postura ético-política para a desnaturalização de certos objetos tomados em sua evidência, como é o caso da dimensão espiritual da saúde. A genealogia proposta por Foucault possibilita a produção de descontinuidades e a desconstrução de conceitos e práticas, permitindo, assim, a problematização da espiritualidade no campo da saúde.
Os Estudos da Cientista Marta Vannucci Sobre o Plâncton no Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (1946-1969)
Alex Gonçalves Varela (UERJ)Grupo Temático: Gênero, Ciência e Tecnologia: avanços e desafios
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Os estudos sobre as relações ciências e gênero têm crescido a cada dia no Brasil. Aumentou consideravelmente o número de historiadores das ciências que se dedicam a estudar essa questão. Temos como objetivo contribuir para uma reflexão sobre as relações de mulheres/gênero, trajetórias científicas e institucionalização das ciências no âmbito da história das ciências oceanográficas. Seguindo essa linha de pesquisa, o objeto de análise do estudo é a trajetória da cientista Marta Vannucci, pesquisadora do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP), e a sua contribuição para o processo de inserção das mulheres nas instituições científicas, quer de pesquisa ou ensino, ocupando assim um lugar central na História das Ciências do Brasil, bem como para o processo de institucionalização das ciências oceanográficas em nosso país. A análise da trajetória da cientista Marta Vannucci no âmbito do IO-USP é de fundamental importância para se compreender a forma como se deu a inserção das mulheres nas instituições científicas brasileiras, quer de ensino ou de pesquisa, a contribuição da mulher para o processo de institucionalização das ciências no Brasil, e aprofundar e avançar as reflexões sobre a relação ciências/gênero. Analisar-se-á a trajetória da cientista Marta Vannucci na referida instituição de ensino e pesquisa, enfatizando o estudo da atividade científica por ela realizada. Para tal, os textos científicos da referida pesquisadora do IO-USP são valiosos e constituem-se como fontes importantes para a história das ciências. Dentre esses textos, aparecem os artigos científicos produzidos no Boletim do Instituto Oceanográfico. O trabalho a ser apresentado visa realizar uma reflexão sobre os estudos científicos realizados pela cientista Marta Vannucci no âmbito do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP). A pesquisadora se dedicou a estudar o plâncton. Realizou viagens e excursões, e fruto dessas atividades publicou diversos artigos no Boletim do IO-USP. Seus artigos científicos comprovam o seu empenho para a produção de conhecimento, e deixam transparecer a sua ativa participação para conquistar espaço e reconhecimento no meio universitário brasileiro.
Cinema na escola: tecendo redes entre tecnologias, autorias e saberes
Aline Verissimo Monteiro (Faculdade de Educação UFRJ)Grupo Temático: Tecnologia e mediações
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O presente trabalho apresenta e discute como experiências com cinema na escola promovem a mediação de diferentes tecnologias na escola, tecendo redes de tempos, afetos e saberes distintos, permitindo o exercício da autoria, da construção de conhecimento e da experiência de compreensão e criação dos agenciamentos entre tecnologia, ciência e sociedade como sendo os componentes das diferentes realidades que vivemos e podemos viver. A partir da discussão sobre ser a escola uma tecnologia de época, lançada por Sibilia (2012), e sobre o fato de estarmos vivenciando uma aceleração no progresso tecnológico que nos faria sermos neoprimitivos para nosso próprio tempo, como discute Santos (2009), as experiências com cinema na escola são aqui pensadas como agentes que podem recolocar esta tecnologia na contemporaneidade em uma deriva de acoplamentos, tal como pensados por Kastrup (2008), com outros ritmos tecnológicos e permitindo percorrer a rede de conexões entre os agentes da realidade incluindo elementos que são alterizados, como diz Law (2004). Fazer e ver cinema na escola permite compreender a história desta tecnologia cinematográfica, bem como seu sentido histórico, além de com ela podermos fazer, no presente, uma história da escola, de seus conteúdos científicos que nos permite, também, entendê-los transformá-los como tecnologias de uma nova época, para um novo tempo. As experiências com cinema aqui relatadas e analisadas vem sendo realizadas em escolas públicas do Rio de Janeiro pelo programa de extensão CINEAD – Cinema para aprender e desaprender, do LECAV – Laboratório de educação, cinema e audiovisual, da Faculdade de Educação da UFRJ. Elas envolvem o contato com filmes que permitem conhecer a estória do cinema, as técnicas e elementos que o compõem, a realização de exercícios envolvendo essas técnicas, bem como outros que remontam a infância do cinema. Realizadas no espaço escolar elas recolocam os sentidos e saberes que integram a experiência escolar e a experiência do aprender, bem como a dos conteúdos científicos que aí são ensinados e que apoiam esse ensino escolar. O protagonismo e a autoria permitidos aos alunos nessas experiências são foco da discussão empreendida neste trabalho.
Encontros interdisciplinares entre ciência, tecnologia e sociedade através da publicidade
Allan Tadeu Pugliese (Programa de pós graduação em ciência, tecnologia e sociedade)Grupo Temático: Produção de conhecimentos e artefatos - Experiências interdisciplinares em design
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Pretende-se com esse trabalho levantar questionamentos sobre os encontros interdisciplinares que ocorrem em publicidades automobilísticas, as quais criam um efeito de tradução (JACOB,1981) de termos técnicos criados pela engenharia (tecnologia) e pela ciência para o público geral. Desta maneira deve-se levantar hipóteses de como a interdisciplinaridade deve funcionar dentro do campo CTS, permitindo o uso de varias metodologias que exemplificam e alargam o entendimento, uso e reconfiguração dos mais variados objetos (artefatos), analisando sua criação de sentido dentro do mundo e suas forças ideológicas na criação de relações entre os campos da ciência, tecnologia e sociedade
PesquisarCOM: um fazer ciência no feminino que soma forças ao resgate da epistemologia
Amanda Muniz Logeto Caitité (Universidade Federal da Bahia)Grupo Temático: PesquisarCOM e o feminino na ciência
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Dispondo de argumentos trazidos por Nunes (2008) em defesa de uma epistemologia radicada nas experiências do Sul global, pretendemos traçar pontos de encontro entre o PesquisarCOM (Moraes, 2010) e a ciência no feminino (Stengers, 1989) de modo a compor uma alternativa de reflexão sobre o conhecimento que opere um resgate da epistemologia. Há no presente uma proposta de abandono do uso desta palavra por parte de autores que nos são caros, dado que ela designa um campo filosófico historicamente comprometido com a legitimação do projeto de ciência moderna, em sua pretensão de afirmar-se como via única de acesso ao conhecimento da realidade. Tem-se documentado o efeito falsificador, desrealizante deste projeto sobre saberes advindos de outros campos que não o cientifico (Castro, 2003), bem como sua maior suscetibilidade à produção de enunciados que reforçam opressões contra minorias (Harding, 1993). Como aponta Souza (2012), em meio à tentativa de desenvolver práticas de pesquisa e políticas de escrita que considerem a questão da alteridade com a seriedade devida, alguns antropólogos contemporâneos tem reivindicado um deslocamento do campo epistemológico em direção ao ontológico, sendo a epistemologia aqui entendida como estudo dos diferentes conhecimentos que os grupos humanos produzem sobre a realidade. Nos estudos sociais em ciência e tecnologia, a rejeição ao pressuposto de que existiria uma única realidade sobre a qual se desdobrariam distintas perspectivas encontra-se de forma particularmente explícita nos estudos de Law e Mol (2001). De modo semelhante, Puig de la Bellacasa (2012) refere-se à palavra epistemologia como pouco proveitosa aos estudos feministas. Neste trabalho, pretendemos levar em consideração as críticas destes autores, tomando-as como fundamento para fazer do PesquisarCOM em sua interface com uma proposta de ciência no feminino, uma outra epistemologia, que compreenda o logos, o pensamento, não como abstração, mas como prática; uma epistemologia que não se pretenda normativa e que adote, como critério de avaliação do conhecimento, suas implicações políticas sempre situadas.
Fronteiras de gênero no IFRN – uma análise a partir das concepções, princípios e fundamentos do currículo e das práticas institucionais
Amilde Martins da Fonseca (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte - IFRN)??????
Resumo
O campo da ciência e tecnologia consolida-se ao longo de sua história como domínio dos homens. A expansão da Educação Profissional e Tecnológica em nosso país vem proporcionando a entrada de mulheres nessa esfera. Perquirir como tem sido conduzido esse processo, desvela as assimetrias que caracterizam esse campo. Tomando como objeto o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, a proposta deste artigo é refletir sobre as concepções, os princípios e os fundamentos do currículo e das práticas institucionais, tendo gênero como categoria de análise, para elucidar como as mulheres são ou não contempladas na construção dessas concepções e avaliar que prejuízos materiais e/ou simbólicos podem advir dessa escolha que é ideológica. A análise de cada uma dessas concepções, definidas como elementos estruturantes do currículo e do conjunto das práticas que envolvem a ação educativa, será empreendida a partir da leitura do Projeto Político Pedagógico Institucional. A referência é o ponto de vista feminista instrumentalizado pela análise crítica do discurso.
Impacto de poluentes: exercitando as cinco fontes de incerteza da teoria ator-rede no contexto de um estudo sobre o metabolismo de xenobióticos em peixes
Ana Carolina Volpato Zanandrea (Universidade Estadual do Rio de Janeiro)Grupo Temático: Pedra, planta, bicho, gente... coisas: encontros da teoria ator-rede com as ciências ambientais
Resumo
Resumo: Malefícios ao meio ambiente causados pelo despejo de efluentes não tratados e por produtos químicos já foram divulgados, entretanto, outros efeitos menos óbvios ainda não foram compreendidos. Nos tecidos dos peixes acontecem reações enzimáticas que podem variar de acordo com alterações do meio em que o animal habita. Estas reações são interessantes biomarcadores para verificar o desequilíbrio em ecossistemas aquáticos. Este estudo visa compreender aspectos do metabolismo de xenobióticos de peixes. Além dos procedimentos de laboratório, tentamos enxergar esta questão com os “óculos” fornecido pela teoria ator-rede (ANT). Propomos apresentar as cinco fontes de incertezas que são explicadas por Latour no livro Reagregando o Social. Na 1ª fonte: não há grupos, apenas formação de grupos; observamos um grupo que está em constante formação: os peixes com os xenobióticos. Aqueles podem ser de cultivo ou selvagens e é verificada sua interação com diferentes tipos destes. Relacionamos experimentos de laboratório com trabalhos de campo, montando diversos grupos de acordo com o interesse dos cientistas, dos produtores rurais, da política e outros. Na 2ª: a ação é assumida, acreditamos que os peixes e as reações enzimáticas são os principais intermediários, e os xenobióticos e as variações ambientais os principais mediadores das ações. Na 3ª: os objetos também agem, destacamos duas situações para ver a atividade do objeto: o estudo de inovações, pela análise enzimática do sangue, e o estudo de ocasiões de acidentes. Na 4ª: questão de fato versus questão de interesse. Como esta pesquisa é pautada na “ciência de laboratório”, os fatores sociais não são um tipo de análise que utilizamos. Todavia, esta fonte atenta para não cair na armadilha do reducionismo de gerar resultados de forma rápida e precipitada, sem a devida reflexão e tempo para descrever as análises. A 5ª: escrever relatos de risco; será conhecida com o andamento da pesquisa. O estudo deste tema não se deve limitar ao âmbito laboratorial, podendo ser complementado pela ANT, a qual auxilia a reflexão e permite que sigamos as (re)ações para descrever o problema. Acreditamos, com este estudo, contribuir para o alcance do equilíbrio entre a necessidade e a capacidade do ambiente.
Tecnicas de composr e calcular não-humanos: sobre estudos e condicionantes ambientais de empreendimentos hidrelétricos do Mato Grosso
Ana Cecília Campos (Ufscar)Grupo Temático: Experiências contemporâneas em Antropologia da Ciência e da Tecnologia: etnografia, grandes projetos e escala planetária (ou não)
Resumo
Inscrita no contexto de crescentes estudos na antropologia da ciência e de interfaces entre animais humanos e não-humanos, a pesquisa em questão observa mobilizações de seres não-humanos em documentos que compõe o Licenciamento Ambiental de empreendimentos hidrelétricos no Eixo de Energia do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no Mato Grosso, Brasil. O foco recai sobre técnicas de produção da “análise biótica” de estudos e condicionantes ambientais - os quais pressupõem participação de uma expertise vinculada às ciências biológicas.
Destaco que o que conecta a análise biótica, as técnicas que as elaboram, seres não-humanos nela mobilizados e os empreendimentos hidrelétricos passa pela dimensão espacial. Isso porque o calculo que dimensiona os impactos que o empreendimento causará está embasado no registro quali e quantitativo dos não-humanos existentes na na área que se pretende realizar o empreendimento. Nesse sentido, os estudos do Licenciamento Ambiental não só examinam uma área, antes mobilizam não-humanos compondo a área – ou pelo menos, compondo-a para os efeitos legais do estudo. Uma vez que impacto biótico é determinado pelos não-humanos mobilizados no estudo, compensar pelo impacto é atribuir caráter de equivalência aos seres mobilizados.
A despeito das variações de categorias usadas na lei e nos estudos a questão do expertise, em minha pesquisa, não se volta para o problema da tradução – já que é antes uma questão de conversão. Cálculos estão envolvidos tanto impacto quanto a compensações, e nesse sentido atribuir equivalências permite compensar pela existência dos seres mobilizados nos estudos. Portanto, trato aqui de conversões de diferentes composições do mundo.
A Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares ITCP/UNEB e a formação de quadros para estudos em ciência e tecnologia social
Ana Celeste da Cruz David (UFBA)Grupo Temático: Programas de Pós-Graduação em Estudos CTS & políticas científicas e tecnológicas para inclusão socioprodutiva: um debate
Resumo
A Blogosfera educativa: formalidade e informalidade no ensino de Física sob uma nova perspectiva de filmes e animações hands-on
Ana Claudia Danhoni Neves (Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR)Grupo Temático: Ciência e Techné na História - Resumo para Grupo Temático
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Resumo
O presente trabalho apresenta uma pesquisa envolvendo a questão da produção de filmes e animações didáticas e contextualizadas na história da ciência para o ensino de Física. O PSSC (Physical Sciences Study Committee) foi o grande projeto de ensino de física que caracterizado pelo uso intenso de uma série de filmes didáticos procuravam reunir a tecnologia audiovisual com as técnicas de cinematografia (BRYAN, 1987). Os filmes produzidos mantinham um rígido programa de Física utilizando-se da experimentação.
O presente trabalho apresenta uma pesquisa envolvendo a questão da produção de filmes e animações didáticas e contextualizadas na história da ciência para o ensino de Física. O PSSC (Physical Sciences Study Committee) foi o grande projeto de ensino de física que caracterizado pelo uso intenso de uma série de filmes didáticos procuravam reunir a tecnologia audiovisual com as técnicas de cinematografia (BRYAN, 1987). Os filmes produzidos mantinham um rígido programa de Física utilizando-se da experimentação.
Por meio de técnicas de slow-motion, fotografias estroboscópicas, etc., o projeto contribuiu para o surgimento de outros, mas que passaram a adotar mais tópicos de HC ou de uma linguagem midiática múltipla.
O projeto Harvard Project Physics, por exemplo, recriou o ensino de física de forma interativa com grande conteúdo de HC como tema transversalizador das atividades didáticas. Hoje através de alguns aplicativos desenvolvidos em JAVA, ALGODOO e outros programas de animação digital é possível recriar simulações virtuais que descrevem experimentos e que hoje encontram-se amplamente disseminados nas redes sociais que poderíamos batizar de “blogosfera educativa”. Esses aplicativos e blogs contribuem significativamente para capturar a imaginação dos estudantes e sua potencial criatividade na elaboração de simuladores virtuais de grande valia para o uso no Ensino de Física formal e/ou informal.
As experiências práticas realizadas com o uso de simulações, softwares e outros recursos do gênero no ensino de Física contribuem para uma aprendizagem mais dinâmica e potencializadora de situações de superação de obstáculos epistemológicos que encontram na HC um exemplo muitas vezes crucial, determinante.
Acoplar objetividade (experimentação) e a subjetividade (simulação, virtualidades) envolve uma grande carga de interdisciplinaridade necessária à educação contemporânea de qualidade e com muita eficácia.
Será explorado neste trabalho o aplicativo ALGODOO como possibilidade de produção de animações do tipo hands-on em física
Corpo e subjetividade em oficinas de sensibilização
Ana Claudia Lima Monteiro (Professor), Clara Sym Cardoso de Souza Costa (Universidade Federal Fluminense), Gabriela Cabral Paletta (Universidade Federal Fluminense), Hugo Faria Pereira Martins Costa (Universidade Federal Fluminense), Letícia Maciel Pereira (Universidade Federal Fluminense), Maria Paula Borsoi Raimundo (Universidade Federal Fluminense)Grupo Temático: Saberes do corpo e sobre o corpo: formas de conhecimento, experiência, ciência e expertise
Resumo
Em nosso trabalho, busca-se articular as relações entre corpo e subjetividade, tendo como campo de estudos oficinas de sensibilização realizadas no Serviço de Psicologia Aplicada da UFF. Apostamos numa metodologia que tem como ponto de partida a ideia de que os sujeitos são ativos na produção de seus próprios corpos, levando em consideração o que os afeta, o que faz sentido ou não para eles. Os coordenadores, por outro lado, elaboram diários de campo a cada oficina e estes são lidos nas supervisões semanais que servem tanto para elaborar as próximas oficinas quanto para discutir os impasses e dificuldades da própria coordenação. Os diários de campo levam em consideração não apenas o que foi feito objetivamente, mas as impressões e interferências que ocorreram ao longo do processo das próprias oficinas. Contamos não apenas com a produção do corpo em relação ao grupo de participantes, mas também a produção de um corpo de coordenador que faz parte deste processo, que se deixa afetar pelas articulações que emergem no grupo. Assim, os próprios coordenadores são produzidos nestes encontros e nessa articulação singular. Os efeitos e afetos que emergem nestas oficinas nos ajudam a pensar e construir novas relações entre corpo e subjetividade, questionando o lugar da subjetividade como espaço exclusivo da linguagem, ou mesmo como instância interiorizada do sujeito. Pensamos a subjetividade como algo que se constitui nas relações que os sujeitos produzem com o mundo que o cerca, não se apresenta na interioridade do sujeito e é afirmado como o que se constitui numa distribuição, numa negociação do que pertence ao sujeito e do que pertence ao mundo. O corpo, portanto, aparece como este espaço de negociação. Em nossas oficinas, buscamos momentos em que podemos perceber esta negociação, bagunçar um pouco estas fronteiras. Para que isso ocorra, são convocados elementos de produção do corpo vinculados a utilização de materiais diversos e a construção de dispositivos corporais, tais como dramatização e sensibilização corporal. buscamos a produção de uma nova relação com o corpo, a partir destes dispositivos, como produção, ao mesmo tempo, de relações mais criativas na vida cotidiana. Corpo e subjetividade são produzidos simultaneamente, o que possibilita aos sujeitos se ressignificarem.
O cuidado nas práticas com crianças com deficiência: uma experiência em conjunto com a natação adaptada
Ana Claudia Lima Monteiro (Professor), Clara Santos Henriques de Araújo (Universidade Federal Fluminense), Eduardo Sousa de Castro (Universidade Federal Fluminense), Isabela Brito da Silva (Universidade Federal Fluminense), Tainara Cardoso Nascimento (Universidade Federal Fluminense)Grupo Temático: PesquisarCOM e o feminino na ciência
Resumo
Este trabalho visa, em parceria com o Departamento e Educação Física, oferecer atendimento tanto às crianças portadoras de deficiências, quanto aos seus cuidadores. Neste intuito, são realizadas duas frentes de trabalho: o acompanhamento direto com as crianças que são atendidas pelos professores e alunos de Educação Física no trabalho e, concomitantemente, a realização de grupos de conversa com cuidadores das crianças atendidas pelo programa. Em relação às crianças, busca-se pensar a relação entre desenvolvimento físico e psíquico, no qual o corpo torna-se instância fundamental para a compreensão desta relação. Nas atividades realizadas na piscina, podemos perceber a importância de elementos diversos que atuam não apenas no desempenho das crianças na natação, mas também a interação destas crianças entre si e com os profissionais da Educação Física. Percebemos que as articulações produzidas na piscina criam um novo corpo e, portanto, constroem novos mundos para estas crianças Em contrapartida, os encontros oferecidos aos cuidadores tem como proposta não apenas uma reflexão sobre o relacionamento com as crianças, mas busca potencializar a vida destas pessoas criando um espaço de troca, de reflexão e compartilhamento. Toda semana estes encontros são elaborados e discutidos em supervisões nas quais são elaboradas as atividades que serão realizadas, mas também são trazidas as impressões que foram vivenciadas nestes encontros. Cada encontro é pensado tendo em vista a participação dos cuidadores, a forma como eles se engajam com nossas propostas. Os cuidadores são, portanto, ativos na construção destes encontros e são eles que nos apontam o que é importante ou não abordar. Desta forma, a participação dos cuidadores nos encontros oferecidos tem como foco produzir um número maior de articulações, seja com as crianças, seja entre os próprios cuidadores, seja com a toda a equipe que participa do projeto por se apresentar como um espaço de experimentação no qual contam os diversos elementos que compõem a vida e as histórias destas pessoas. Desta maneira, construímos uma nova história que comporta estes múltiplos elementos e nos faz perceber que existem muitas maneiras de viver e se relacionar com as deficiências apresentadas. Mesmo que os diagnósticos convirjam, o que experimentemos em nossos encontros, é a diversidade de formas de viver e experimentar a deficiência.
(Inter)Relações de instituições e artesãos na comercialização artesanal em Foz do Iguaçu.
Ana Lidia Wolochen Walter (UTFPR)Grupo Temático: PROCESSOS TECNOLOGICOS E CULTURA: sociabilidades, saberes populares, assimetrias e meio ambiente
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Resumo
O presente artigo é um recorte da pesquisa de mestrado, e que aqui, objetiva apresentar duas instituições o Programa Trinacional Ñandeva e a Coooperativa de Artesanato do Oeste e Sudoeste do Paraná, localizadas na cidade de Foz do Iguaçu. Motivado pelos questionamentos de como se dá a relação entre as instituições, e consequentemente como os artesãos se organizam na Cooperativa, a partir dessa relação com o Programa. Com base nas metodologias utilizadas: pesquisa exploratória, bibliográfica e entrevistas semiestruturadas, com o uso dos diários de campo e das narrativas das interlocutoras, primeiramente apresenta-se as instituições. O Programa Trinacional Ñandeva, um programa ligado ao Parque Tecnológico de Itaipu, que objetiva o fortalecimento do setor artesanal e da identidade regional, trinacional, a partir da transferência de tecnologia. Da mesma forma, a Cooperativa de Artesanato do Oeste e Sudoeste do Paraná, criada com o objetivo de reunir os artesãos da região. Posteriormente, trata-se da relação entre as instituições, iniciada da necessidade de comercialização dos produtos criados com a marca Ñandeva, e assim expondo como os artesãos se organizam, formando diferentes perfis, a partir das estratégias encontradas por eles para a comercialização de seus produtos. Desta maneira pretende-se apontar reflexões iniciais sobre as desigualdades e conflitos entre sistemas culturais, permeadas por relações de poder envolvidas em processos de produção e circulação artesanal.
Estudos CTSA: ecologia de práticas científicas e ecologia de saberes na abordagem das questões climáticas
Ana Lucia Lage Pereira (Instituto de Humanidades, Artes e Ciências IHAC/UFBA)Grupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
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Resumo
A área interdisciplinar de Estudos de Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente (CTSA) enfoca os aspectos sociotécnicos envolvidos em desenvolvimentos científicos e tecnológicos, atenta para a pluralidade das culturas científicas e de suas práticas situadas, para o envolvimento de políticas, dispositivos, instituições e coletivos nessas produções, para os seus aspectos controversos e seus impactos sócio-econômicos e ecológicos. Ao tempo em que se ocupa da comunicação pública da ciência, do acolhimento de saberes de comunidades tradicionais e da participação de cidadãos e comunidades nas decisões sobre desenvolvimentos científicos e tecnológicos que tenham impacto social e ambiental, a nível local e global.
O artigo tratará da importância de abordar na Educação Científica e Tecnológica, a
pluralidade das práticas científico-tecnológicas, por um lado, e por outro lado, do reconhecimento e acolhimento de saberes leigos (saberes de comunidade tradicionais, saberes da experiência de comunidades de prática, do senso comum), inspirado no conceito de Ecologias de Saberes no pensamento de Boaventura de Sousa Santos.
A promoção de diálogos entre o saber científico ou humanístico e “saberes outros” se alinha com objetivos de estabelecer estratégias que permitam fortalecer o processo de formação de cidadãos críticos, reflexivos e comprometidos com a realidade sócio-economico-cultural-ambiental, capazes de atuar no cenário contemporâneo das ciências e tecnologias, e ainda, das humanidades, da cultura, das artes, da educação e da saúde, e capazes de fomentar o desenvolvimento sustentável de suas comunidades locais.
O artigo buscará articular o referencial analítico de Boaventura de Sousa Santos no caso da abordagem sócio-ecológica, inter e transdisciplinar das atuais questões que envolvem as mudanças climáticas pelo renomado grupo de pesquisa do Stockholm Resilience Center, responsável pelo desenvolvimento do conceito de Fronteiras Planetárias. Tal grupo tem valorizado o conhecimento de comunidades de prática situadas em diferentes pontos do planeta e o que elas têm a ensinar sobre resiliência em contextos de escassez de recursos. Ao tempo em que tem-se ocupado da divulgação pública de ciência, tal grupo tem apontado a relevância em se fomentar formas de desenvolvimento sustentável e de prosperidade mais justa para as diferentes populações do planeta.
Trabalho e rede social: controvérsias acerca da visibilidade e vigilância na contemporaneidade e os desafios de pesquisar com na rede
Ana Paula da Cunha Rodrigues (UFRJ), Rosa Maria Leite Ribeiro Pedro (INSTITUTO DE PSICOLOGIA - UFRJ)Grupo Temático: PesquisarCOM e o feminino na ciência
Resumo
O potencial das controvérsias sóciocientíficas para a educação ambiental com abordagem CTS
Ana Silvia Alves Gomes (SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO)Grupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
Resumo
O processo de industrialização e o desenvolvimento científico e tecnológico estão intimamente vinculados ao progresso da Ciência, isso tem influenciado tanto o modo de vida das pessoas quanto o equilíbrio ambiental do planeta. A ocorrência frequente de grandes impactos ambientais e o desenvolvimento de estudos sobre ecossistemas e clima nos últimos quarenta anos, acabaram desencadeando movimentos sociais e intelectuais que passaram a denunciar e combater os perigos da exploração desenfreada de recursos naturais e descarte inadequado dos rejeitos industriais e do lixo urbano. Esse movimento culminou na elaboração de políticas para o que se convencionou chamar de Desenvolvimento Sustentável, ou seja, um conjunto de práticas que possam garantir o desenvolvimento econômico sem exaurir os recursos prejudicar ecossistemas ainda existentes. Dentre as práticas recomendadas, pensou-se na necessidade de apresentar e discutir os problemas ambientais no âmbito escolar, fazendo com que os cidadãos pudessem ter consciência dos problemas e das formas de mitigá-los. Com isso criou-se a chamada Educação Ambiental. Desde então, vários educadores vem se empenhando em pesquisar e elaborar estratégias de ensino e currículos que considerem a Educação Ambiental como um objetivo relevante na formação de cidadãos da sociedade contemporânea. Dentre as estratégias contemporâneas de ensino-aprendizagem inspiradas na necessidade de conscientizar cidadãos para os problemas socioambientais, encontram-se as chamadas controvérsias sóciocientíficas. Uma tentativa de educar os alunos fazendo-os discutir os distintos aspectos relacionados à estrutura, produção e aplicação de conhecimentos científicos e as implicações socioambientais que decorrem ou podem decorrer do seu (mal) uso tecnológico ou social. Neste trabalho resgatamos alguns pormenores da trajetória histórica da inserção e aperfeiçoamento da Educação Ambiental no âmbito escolar, que acabou culminando na proposição e desenvolvimento de pesquisas sobre a viabilidade e importância do uso de controvérsias sóciocientíficas na educação escolar, as discussões sobre o assunto, bem como as relações desta estratégia com a Educação Ambiental e Educação Científica contemporâneas.
Sistema Local de Inovação: Diagnóstico do Contexto da Região do Grande ABC
Anapatrícia Morales Vilha (Universidade Federal do ABC)Grupo Temático: Sistemas de Inovação e seu Alcance Conceitual, Metodológico e Normativo
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Resumo
Desde os primórdios da II Revolução Industrial constatou-se que as inovações tinham um caráter sistêmico e dificilmente aconteciam de maneira solitária ou encapsulada (Freeman e Soete, 2008). Dessa forma, o processo de inovação, visto de maneira interativa, relaciona-se com o conceito de Sistema de Inovação (SI), que pode ser entendido como um conjunto de instituições públicas e privadas que contribui nos âmbitos macro e microeconômico para o desenvolvimento e a difusão de inovações de um determinado setor, região ou país (SBICCA & PELAEZ, 2006, p.417).
A questão que orientou o desenvolvimento deste trabalho consiste em investigar o cenário das interações dos atores políticos, científicos, tecnológicos e inovativos da região do Grande ABC, ressaltando os desafios, entraves e potencialidades do seu sistema local de inovação. Para tanto, realizou-se em 2013 uma pesquisa de campo qualitativa com os atores mais representativos da região do Grande ABC.
Verificou-se que a região exibe atores para o desenvolvimento científico, tecnológico e inovativo, destacando-se neste contexto a presença de universidades, empresas e organismos de articulação regional, como a Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC e o Consórcio Intermunicipal Grande ABC. Não obstante, a pesquisa mostrou a existência de uma debilidade das interações entre os atores responsáveis pelo dinamismo inovativo da região, com especial desarticulação frente às potenciais parcerias que podem ser deflagradas entre universidades e empresas.
Combinado a isso, o tecido industrial da região é revestido por uma boa porção de empresas de pequeno e médio porte, cuja natureza setorial e de trajetória de desenvolvimento tecnológico se mostra pouco densa. Nota-se também a ausência de lideranças capazes de aglutinar os diferentes interesses e articular os atores diretamente relacionados com os processos de inovação na região. Finalmente, a pesquisa sinalizou que o tema inovação ainda não penetrou nas estratégias dos municípios na intensidade que se deveria, dificultando laços mais consistentes entre os atores inovativos da região.
A emergência de uma rede científica profissional sobre saúde mental, religião e espiritualidade
André Luis Mattedi Dias (UFBA), Taís Oliveira da Silva (Secretaria de Saúde do Município de Salvador)Grupo Temático: Estudos CTS, Práticas Psi e Modos de Produção de Subjetividades
Resumo
O extraodinário crescimento do número de publicações sobre saúde mental e religião indexadas em bases de dados como a PSYCINFO, a PUBMED ou a SCIELO desde 1980, assim como o número crescente de pesquisadores, publicações, projetos e instituições dedicados à saúde mental, religião e espiritualidade (SMRE) são pistas que apontam para a emergência contemporânea de uma rede científica e profissional internacional em torno deste tema. Como seria uma história sobre o processo de constituição desta rede? Quais seriam as principais caracterísitcas da SMRE? Quais seriam seus atores, conceitos, teses, referenciais teóricos e metodológicos de pesquisa e prática profissional? A tentativa de abordagem da SMRE levou-nos a um emaranhado de questões ontológicas, epistemológicas, metodológicas, éticas e políticas decorrente da sua riqueza e complexidade, da multiplicidade e variedade dos pontos de vista, abordagens, referenciais e práticas que a constituem. Talvez, o único ponto de unidade seja a ideia comum segundo a qual o ser humano ou a saúde mental não pode ser reduzida apenas a qualquer conjunto de parâmetros físico-químicos. Em suma, existem muitas questões para serem discutidas, algumas mais gerais e abrangentes, outras mais específicas e locais, mas todas são implicações da SMRE: monismo vs. dualismo em neurociência (ontologia); conhecimento e prática baseados em evidências (epistemology); constructivismo, microhistória, arqueologias/genealogias e abordagens de fronteira (metodologia); religiosidade, new age, secularismo, modernisação, publico, privado e estado (politica); diversidade étnica, alteridade e multiculturalismo (cultura), religião e espiritualidade (conceitos), relação profissional de saúde - paciente (the gap); técnicas e intercenções RE (práticas); fronteiras e limites profissionais (ética); relação entre profissionais de saúde e cuidadores praticantes em RE (profissões); sistemas de saúde, serviços comunitários, instituições RE e empreendedorismo; esquizofrenia e transe RE; RE e morbidade (diagnósticos diferenciais); Fé, oração e enfrentamento das doenças, dentre outras.
Artesanato figurativo e mediações culturais: o lugar da tradição e das tecnologias nos discursos de artistas populares da Casa dos Figureiros de Taubaté
André Luiz da Silva (Universidade de Taubaté)Grupo Temático: PROCESSOS TECNOLOGICOS E CULTURA: sociabilidades, saberes populares, assimetrias e meio ambiente
Resumo
Este trabalho apresenta as reflexões sobre as mediações culturais e ambientais presentes na matriz discursiva de atores sociais integrantes de uma associação de artistas populares denominado “Casa dos Figureiros” no município de Taubaté, estado de São Paulo. O objetivo é analisar as tensões presentes nos discursos sobre a autoprodução artística individual e coletiva. Novas formas de consumo de seus artesanatos e novas tecnologias de produção parecem estar ressigficando os saberes e práticas tradicionais e trazendo mudanças discursivas sobre o saber-fazer característico do grupo. Por meio de bibliografias, acervos técnicos e entrevistas foram discutidos os desafios e as estratégias para a produção de sentido que a coletividade vêm adotando sobre as novas lógicas culturais que os alcançam. A tensão entre tradição e inovação e entre autenticidade e homogeneização produtiva, mediadas pelo uso de tecnologias e relações de trocas, têm produzido novas agências dentro do grupo, capazes de apropriação das novas narrativas sobre o popular das recentes políticas culturais nacionais.
Norteando levantamentos empíricos para o campo da Política Científica e Tecnológica: da definição do tema à abordagem metodológica
André Luiz Sica de Campos (Universidade Estadual de Campinas), Janaina Oliveira Pamplona da Costa (DPCT - UNICAMP)Grupo Temático: Política de Ciência e Tecnologia
Resumo
O campo da política científica e tecnológica (PCT) se encontra amplamente estabelecido dentro das ciências sociais, contando com corpo teórico e empírico parcialmente consolidado. Nestes últimos, há casos mais extremos em que ocorre o estabelecimento de diálogo com as principais teorias disciplinares. Por exemplo, nas ciências econômicas a abordagem Neoschumpeteriana é considerada um corpo alternativo às abordagens ortodoxas de corte Neoclássicas acerca do progresso sócio-tecnocientífico (Freeman & Soete, 1997). Neste contexto, propõe-se uma revisão de procedimentos relevantes para levantamentos empíricos, os quais servem de fundamentação para a construção do método de coleta e análise de dados no campo da PCT.
Metodologia
Baseando-se em trabalhos voltados para o tema da metodologia em PCT propõe-se a codificação dos procedimentos de levantamento da literatura, definição de tema, objeto e questão de pesquisa, arcabouços conceitual e analítico, definição e aboradagem metodológica para coleta de dados, e, por fim, a análise de dados com contribuição para o estado da arte da literatura.
Contribuição para a literatura
Na América Latina, e em especial no Brasil, desde os anos de 1960 um extenso grupo de pensadores tem contribuído para a consolidação do campo da PCT,, com enfoques conceituais tais como: ‘Cadeia Inovativa’, ‘Triângulo de Sábato’, ‘Dimensão Implícita de Política’, e ‘Arranjos Produtivos Locais’. A este corpo conceitual, soma-se um crescente trabalho empírico, cuja expressão mais evidente sejam talvez os levantamentos nacionais de inovação, baseados no Manual de Oslo. Este trabalho se propõe a construir um conjunto de procedimentos metodológicos que façam uso das contribuições oferecidas até o momento (Vessuri et al 2014) potencializando a consistência dos resultados das pesquisas futuras.
Ações coletivas em redes
André Vinicius Leal Sobral (UFRJ)Grupo Temático: Internet: entre o capital e as ruas
Resumo
Este estudo foi motivado por inquietações de um nativo do mundo informatizado. Convivi com o surgimento de diversas plataformas de contato pela rede, das salas de bate-papo do Brasil Online aos programas de mensagens instantâneas como o ICQ e o MSN Messenger e finalmente as redes sociais como Orkut e Facebook. Estes espaços permitiram interações antes improváveis, intensificando relacionamentos já existentes e abrindo portas para novos agrupamentos e amizades. A percepção de que diferentes formas de contato se tornavam possíveis com a existência destas tecnologias nos levam a imaginar as possibilidades de ações políticas que estariam contidas neste novo cenário. O ano de 2013 se provou exemplar em demonstrar o poder mobilizador desta nova conjuntura, exemplificando o poder das ações coletivas possibilitadas por estes sistemas de comunicação. O cenário construído nos protestos de junho de 2013 trazem características diferenciais de espontaneidade, mobilização via redes e organização horizontal, sem lideranças ou pautas centralizadas, inauguram também de forma mais marcante a figura do mascarado e do anônimo. O enfrentamento se dá não apenas nas ruas, mas nas informações, onde governo e mídia oficial procuram mascarar os acontecimentos e são contraditos pelas mídias alternativas que constroem discurso de resistência e poder popular munido de dispositivos portáteis de gravação e reprodução como celulares, computadores e redes de comunicação sem fio. Entre as páginas mais movimentadas do período dos protestos está a Anonymous Rio, fundada em 7 de setembro de 2011 e que conta hoje com aproximadamente 180 mil assinantes, sendo entre as páginas Anonymous brasileiras, uma das que possui um posicionamento mais combativo e popular. Através de um estudo de caso, foi possível realizar contatos pessoais com participantes da célula Anonymous Rio, construindo um relato rico sobre seus participantes e a atuação destes como ativistas dentro e fora da rede.
A inclusão do saber do catador na construção de plataforma informativo-educativa em prol da reciclagem inclusiva
Andréa Cardoso Ventura (Universidade Federal da Bahia), José Celio Silveira Andrade (UFBA)Grupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
Resumo
Um dos maiores problemas socioambientais da atualidade está representado na má gestão dos resíduos sólidos, especialmente em áreas urbanas. Trata-se de uma problemática crítica em toda a América Latina, que vem buscando soluções alternativas para minimizar os impactos a ela relacionados.
Entre os exemplos de solução buscadas, está a inclusão efetiva dos catadores (profissionais que trabalham, geralmente, na informalidade, recolhendo lixo de ruas e lixões) na realização desta gestão. Não obstante haja demonstrações, por meio de legislações em prol da inclusão dos catadores na gestão dos resíduos municipais, por exemplo, a participação destes profissionais ainda é vista com preconceito, sendo estes trabalhadores na maioria das vezes marginalizados do processo de tomada de decisões sobre a temática.
Com isto, até o presente momento esta busca de soluções permanece centrada em políticas públicas que não valorizam e nem tampouco incorporam o conhecimento acumulado destes mesmos catadores na definição de possíveis técnicas, métodos ou processos de gestão. Não se reconhece seu papel fundamental na criação ou definição das tecnologias necessárias para fazer frente ao problema.
Neste estudo, pretende-se analisar como uma proposta tecnológica diferenciada de aprendizagem, a Plataforma Online Interativa Passo Certo, envolveu diretamente catadores latinoamericanos em seu processo de criação e desenvolvimento, valorizando-os como detentores de saberes imprescindíveis para a gestão dos resíduos sólidos em diversas partes da América Latina.
Por meio de pesquisa bibliográfica aprofundada e estudo de caso baseado em observação participativa, os autores analisam como se deu o papel dos catadores na construção desta tecnologia social, que pretende auxiliar catadores de oito diferentes países a serem incluídos no sistema de gerenciamento de resíduos de suas nações.
Com isto, pretende contribuir para os estudos de Ciência, Tecnologia e Sociedade, realizando a sistematização e a análise de um caso concreto de participação dos usuários de uma tecnologia em sua criação e desenvolvimento.
Escassez de água potável no Nordeste: possibilidades e limites do Programa Água Doce no Semiárido paraibano
Andrea Carla de Azevêdo (Universidade Federal do Rio de Janeiro)Grupo Temático: Políticas Públicas e Desenvolvimento Local: interveniências e interações entre tecnologia, sociedade e democracia
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Neste estudo, discute-se a natureza das políticas públicas de enfrentamento da escassez hídrica no Semiárido brasileiro no contexto da retomada dos debates sobre o desenvolvimento regional. Analisa-se como a questão da água está pautada no desenvolvimento do Semiárido e de que forma o Programa Água Doce (PAD) vem sendo apresentado como alternativa de acesso à agua e democratização da água. Uma vezUma vez que a escassez hídrica condena milhões de pessoas à vida de pobreza, com condições de saúde precárias e oportunidades limitadas além de perpetuar profundas desigualdades não só entre os países, mas também no interior dos mesmos. Um dos principais obstáculos para o desenvolvimento humano é a profunda e crônica desigualdade, que restringe as escolhas e corrói o tecido social. Defende-se, aqui, que o acesso à água de qualidade e em quantidade suficiente gera transformações profundas na vida das pessoas: diminui a incidência de doenças, reorganiza as relações familiares, permite a diversificação da produção (garantindo a segurança alimentar), e rompe com a dependência política dos carros-pipa e de outras fontes de água sob domínio privado, favorecendo condições de vida cidadã. Foi investigado o processo de implantação dessa política, a participação dos diferentes atores nelas envolvidos e os resultados de sua implantação em três municípios do Semiárido paraibano: Amparo, Aroeiras e Sumé. Trata-se de uma pesquisa do tipo exploratório-descritiva e interpretativa, sob a forma de estudo de caso, cujos aspectos particulares servem de objeto de investigação para analisar a política pública, com a utilização de diferentes procedimentos complementares: visita às comunidades beneficiadas, observação e consulta a documentos. Verificaram-se no PAD fragilidades técnicas, endividamento das comunidades, participação incipiente e resultados socioeconômicos limitados, em grande medida, ao acesso à água de beber. Os resultados do Programa estão muito aquém do desejável ou necessário no sentido de promover transformações significativas e o alcance social se mostra pequeno diante da problemática da escassez de água para o consumo humano na região do Semiárido paraibano.
A biografia local da cesárea: contribuições dos estudos sociais da ciência para pensar a normalização da técnica cirúrgica de fazer nascer
Andreza Rodrigues Nakano (IFF/Fiocruz), Luiz Antonio da Silva Teixeira (Fiocruz)Grupo Temático: Estudos Sociais das Ciências e das Tecnologias em Saúde Sexual e Reprodutiva
Resumo
Procedimento cirúrgico e, portanto, privativo dos médicos, a cesárea ocupa lugar destacado nos debates públicos e médicos, representando mais de 50% dos nascimentos no Brasil. Este trabalho discute a tese da normalização da cesárea como modo de nascer na atualidade. Com a perspectiva dos CTS, o estudo analisa a biografia social da cesariana, partindo do entendimento: 1)que ela é um actante: provoca, influencia, participa ativamente da configuração de associações entre atores, grupos e instituições; 2)da co-construção da técnica cirúrgica e daqueles que a executam, vivenciam, demandam, oferecem e regulam – ou seja, médicos, mulheres, maternidades, famílias, mercado e Estado. A utilização da cesariana hoje se distingue daquela do início do século XX, realizada quando o parto não se resolvia por via vaginal e/ou a vida da mãe estava em risco. A biografia da cesárea demonstrou que os percursos globais de aprimoramento da técnica marcaram o circuito local de seu desenvolvimento, tendo como protagonista Jorge de Rezende, autor de Obstetrícia e catedrático na Maternidade Escola/UFRJ. Ele afirmou sua posição cesarianista e divulgou sua “técnica preferente” a gerações de obstetras através de seu tratado. A análise do aprimoramento da técnica cirúrgica demonstrou que as mudanças - em especial no sentido do corte abdominal e uterino e nas suturas dos planos cirúrgicos - atenderam não somente o objetivo de alcançar melhores resultados clínicos, mas agregaram valor estético ao procedimento cirúrgico de fazer nascer. A trajetória local da cesariana tem como contexto as peculiaridades dos padrões normativos de gênero (compreensão sobre corpo feminino e maternidade, entre outros), a configuração do sistema de saúde e de seus usuários(público e privado), os valores atribuídos e as formas de disseminação e uso de tecnologias médicas e de intervenções cirúrgicas. No Brasil, a cesárea se inscreveu como uma via de parto, tanto para especialistas como para leigos. A incorporação da técnica como alternativa sempre disponível e até substituta ao processo fisiológico acaba por moldar as experiências e os discursos acerca do parto, produzindo efeitos tanto na forma como individualmente as pessoas passam a perceber seus corpos - especificamente, o corpo grávido e parturiente - quanto nas narrativas, na linguagem e nos valores em torno do evento do parto e nascimento.
Inventar para conhecer
Angela Maria Carneiro Silva (Grupo_Entreredes)Grupo Temático: PesquisarCOM e o feminino na ciência
Resumo
A partir de uma experiência com imigrantes na Casa do Brasil de Lisboa, Portugal, apresento algumas reflexões de um modo de fazer conhecimento, laços que se faz com o outro. Tomar a noção de território como um espaço de fronteiras de reinvenção de novos encontros. Primeiramente contextualizo o trabalho da Casa do Brasil no período de maior austeridade da crise econômica e social em Portugal (2011) e seus efeitos nos imigrantes que a procuram: brasileiros, africanos e do leste europeu. Formamos um grupo de conversa que colocou em cena um encontro radical nas fronteiras da língua, da cultura, do não lugar, dos afetos, das reinvenções da lógica do mercado e seus efeitos nos processos de subjetivação. Enquanto o mundo se redefine em novas fronteiras, como habitar espaços que aportem um comum e façam da deriva um momento e não uma condenação? Nesse percurso, a escuta ganha um destaque fundamental: uma película sensível a outras sintaxes, que ativam novas sensibilidades e intensidades, promissoras de acontecimentos. Uma escuta que acolha o que ainda é murmúrio e que pede abrigo. Diante de tantos acontecimentos de um encontro, o que ouvir, onde colocar a atenção? Como dar corpo ao que nos toca, no corpo que somos? Escutar, aonde dói no corpo, não seria um caminho para sustentar o que está por vir? Esses encontros se fizeram pelas marcas do cotidiano que foram se tornando matéria de produção e de sustentação de outros processos que se abriram tanto no grupo, como para a pesquisadora. Derivar para aportar, uma aposta.
Existência relativa em atmosferas sensoriais: o experimento de escrita do livro 1926 de Hans Gumbrecht
Angela Mastella Coradini (Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)), Dolores Galindo (UFMT)Grupo Temático: Tecnologia e mediações
Resumo
Este trabalho tem como objetivo pensar o livro de Hans Gumbrecht (1999), “Em 1926: Vivendo no limite do tempo”, como um experimento de escrita de existência relativa (LATOUR 2001) em atmosferas sensoriais. Comprometido com o abandono por “compreender o passado” frente à busca em levar os leitores a se sentirem no ano de 1926, o livro é um instrumento que produziria a sensação e/ou ilusão de uma presentificação de mundos passados (GUMBRECHT 2004, p. 123). Ao abandonar no campo a história um “compreender o passado”, que estaria alocada próximo aos processos hermenêuticos, em troca de uma presentificação, o autor marca mais uma vez a centralidade que a reflexão sobre a “presença” toma em sua obra (GUMBRECHT 2004). Para produzir seu ensaio sobre a simultaneidade histórica, Gumbrecht ativa seu corpo cercando-se de materiais (fontes, artefatos, acontecimentos) que estavam disponíveis em 1926, vagando de forma indutiva por entre essas informações, ou seja, redige o conjunto de verbetes descritivos que, segundo ele, seria um instrumento – algo como um dicionário escrito em ordem alfabética e em tempo presente, sem cronologia linearidade e sem restrições de entrada e saída (GUMBRECHT 1999) para tentar tornar esses mundos passados novamente tangíveis. O conceito de “existência relativa” (LATOUR 2001) nos leva a pensar a coexistência de atmosferas sensoriais evocadas pelo experimento junto a atmosferas sensoriais não evocadas pelo experimento, sem que seja preciso a saída de uma para a entrada de outra, e sem a restrição de movimento, mas a oscilação dessas atmosferas variaria conforme se alterariam as associações que são estabelecidas entre as entidades (LATOUR 2001). Nesse caso, o livro não suscitaria apenas atmosferas que comporiam um “estar em 1926”, mas estaria permeado, por exemplo, por atmosferas sensoriais de 1999, ano de sua escrita, ou de outros anos, ou seja, atmosferas relativamente existentes e relativamente reais.
Construções de maternidade na relação com corpos diferentes: um diálogo com a competência biotecnocientífica contemporânea
Anita Silva Paez (Fernandes Figueira/FIOCRUZ), Martha Cristina Nunes Moreira (FIOCRUZ)Grupo Temático: Saberes do corpo e sobre o corpo: formas de conhecimento, experiência, ciência e expertise
Resumo
A competência biotecnocientífica vem transformando nossas concepções mais arraigadas acerca da vida e da morte, saúde e doença, e por isso deve gerar questionamentos. Torna-se pertinente repensar o estatuto do corpo a partir do nascimento de crianças com malformações graves que, até há poucos anos, seriam incompatíveis com a vida.
Situaremos nossa discussão a partir das narrativas de 10 mulheres confrontadas com a tarefa de se fazerem mães de crianças marcadas por uma grave condição crônica de saúde, a síndrome do Intestino Curto. A maioria gerou um bebê com o intestino exteriorizado. Ainda que tais casos pareçam estar referidos a um segmento muito particular, os mesmos operam como situações exemplares pelas questões que colocam frente às intervenções biotecnocientíficas na sobrevivência de crianças e suas repercussões na construção subjetiva das mulheres.
O estudo se deu no INSMCA Fernandes Figueira em 2014, e foi aprovado pelo CEP/INSMCA Fernandes Figueira sob o número CAAE 31173614.6.0000.5269.
Utilizou-se o método biográfico, baseado na indagação sobre histórias de vida a partir de um roteiro que propiciou a produção de narrativas. Optou-se por uma análise baseada na adaptação de Moreira et al da hermenêutica de profundidade de Thompson. As narrativas apresentam histórias que se compõem de uma constelação de personagens e de uma sucessão de eventos, combinados de maneira a exibir certo enredo.
As interpretações maternas relacionadas ao corpo da criança foram articuladas com a literatura socioantropológica. Destacam-se dois campos de tensão que estruturam as construção de maternidade: 1) um filho que desafia a condição humana e tudo aquilo que seria esperado e 2) um filho que tem uma condição de existência diferente, mas afirmativa de vontade e expressão.
O corpo modificado por cirurgias pode parecer “inumano” no sentido de não-natural. Entretanto, paradoxalmente, oferece um contato com a natureza em seu estado mais bruto. As entranhas, as secreções, tudo que costumeiramente se encontra oculto, é exposto e comparece no campo da interação.
O organismo malformado não representa uma condenação, não determina por si um destino disforme. A interpretação das mães injetando intencionalidade nos gestos corporais de suas crianças é um fundamento de garantia de sua humanidade, ainda que na diferença radical de um corpo fora dos padrões.
Seria a ciência brasileira excessivamente tropical ou excessivamente europeia? – contribuições dos estudos sociais de ciência, tecnologia e sociedade
Antonio Augusto Passos Videira (UERJ)Grupo Temático: Ciência e Techné na História
Resumo
Como fazer com que a filosofia da ciência contribua para a avaliação e reorganização da ciência brasileira? Essa pergunta justifica-se pelo seguinte estado de coisas: a filosofia parece não ter abandonado por completo as suas pretensões de compreender a realidade enquanto totalidade. Assim, a avaliação e a reorganização da ciência devem almejar certa completude. Aceitando que a filosofia pode avaliar a ciência brasileira, propomos levar a sério o diagnóstico, construído ao longo do século passado por cientistas e intelectuais brasileiros, que afirmava que a ciência, para se tornar uma realidade, deveria contar com uma base institucional sólida, segura e favorável à ciência. Sem instituições “adequadas”, a ciência seria ou ficção ou fraca e dependente. Passado um século desde que esse diagnóstico começou a ser aplicado e gerou tentativas de terapêutica para o problema, tornando possível a constituição de um sistema institucional científico sofisticado, pode-se dizer que a ciência aí produzida é do mesmo nível? Os resultados científicos correspondem àquilo que os torna possíveis? Estas perguntas não são novas, sendo feitas repetidamente nos últimos tempos, exprimindo uma insatisfação de setores da comunidade científica. O nosso objetivo é defender que a filosofia da ciência no Brasil deve entender as instituições onde a ciência é feita, bem como aquelas que sustentam essa produção. A história da ciência se dedica a essa tarefa desde a década de 1980 com resultados fragmentados, em que pese a contribuição para o abandono de teses consideradas como estabelecidas. Para que os brasileiros passem a ter outra imagem da sua ciência, é importante que a historiografia compreenda a relação constitutiva entre a natureza da instituição científica e a ciência. A filosofia e a história da ciência podem ser úteis nesse processo de modificação, devendo dialogar entre si, tomando como elemento central desse diálogo a natureza das instituições científicas existentes no nosso país. A metodologia desta comunicação aliará reconstrução conceitual a um estudo de caso específico, a saber: os argumentos usados pelos cientistas em favor da criação do Ministério de Ciência e Tecnologia.
A História Da Ciência e a Filosofia da Ciência Como Fundamento Para Uma Prática Interdisciplinar Do Conhecimento
Antonio Carlos c Marques (Colégio Estadual Leôncio Correia)Grupo Temático: História das Ciências e da Tecnologia aplicadas ao Ensino
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A ciência quando vista a partir de fontes históricas, parece um empreendimento muito diferente do que aparece implícito na pedagogia científica e explícito nos relatos filosóficos usuais sobre o método científico. A ciência provém de fatos dados pela observação que tiveram de ser descobertos antes que pudessem tornar-se dados para a ciência. Esses fatos são anteriores às leis e teorias científicas para as quais fornecem o fundamento. A ciência não tem nenhuma autoridade e as dificuldades que parecem solapar a autoridade da ciência não deveriam ser vistas simplesmente como fatos observados a respeito de sua prática. Mas, ao contrário são características necessárias de qualquer processo de desenvolvimento ou evolução. A História poderia se revelar uma fonte particularmente relevante de problemas e novas intuições. Em se falando da característica do historiador, tem-se que ele prepara seu cenário através da narrativa relatando os fatos do passado, abrangendo os atores humanos, as situações vividas e as mudanças de crenças ao longo do tempo. Já o filósofo está mais interessado nos problemas e possíveis soluções para os mesmos. Em linhas gerais, o filósofo tem uma atividade crítica, enquanto o historiador prefere investigar os fatos e dados para a composição histórica. Por sua vez, algumas características das várias práticas entraram em cena bem cedo no desenvolvimento evolutivo e são compartilhadas por todas as práticas humanas. A interação entre a história, a filosofia e a ciência deve ser interdisciplinar, na qual o estudioso do desenvolvimento da ciência deve utilizar ora o método da história, ora o método da filosofia, todos com o intuito de fazer uma análise mais completa do fenômeno científico. Essa postura interdisciplinar entre a filosofia, história e ciência se justifica. Veja-se: a filosofia da ciência discute os aspectos filosoficamente problemáticos da realidade desvendada pela ciência, logicamente tem um grande campo de estudo envolvendo as partes. Já a história relata os fatos que ocorreram na trajetória do tempo e abrange a evolução da ciência e isso pode ser explicado pela filosofia.
O campo da Psiquiatria infanto-juvenil e a multiprofissionalidade: saberes e práticas em disputa
Arieli Januzzi Buttarello (Universidade Federal de São Carlos), Thales Haddad Novaes de Andrade (Professor Associado)Grupo Temático: Estudos CTS, Práticas Psi e Modos de Produção de Subjetividades
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O objetivo deste trabalho é apresentar discussões sobre os estudos sociais da ciência e tecnologia focados no campo psiquiátrico infantojuvenil, a partir das contribuições dos conceitos de Pierre Bourdieu. O objetivo geral é contribuir para reflexões sobre como o lidar com a criança e o adolescente diagnosticados com transtorno mental vem se construindo no Brasil, considerando os impactos que a ciência e técnica psiquiátrica causam na concepção da política pública de saúde mental e nas subjetividades e vivências dos usuários dos Centros legislados para tratar de tal população. A partir da teoria campo-habitus apresentam-se considerações das ações dos multiprofissionais constituintes de um Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSi) e suas relações com o paradigma psicossocial e a epistemologia médica-psiquiátrica baseada no tratamento medicamentoso.
Os apontamentos são dados de uma pesquisa em andamento, levantados a partir da literatura que aborda a questão da atuação em equipe multiprofissional dos trabalhadores de saúde mental de CAPS e a partir de pesquisa de campo baseada em um estudo de caso em um CAPSi do estado de São Paulo. O foco dá-se em abordar a relação dos agentes da equipe entendendo-os como implementadores dos critérios da Política Nacional de Saúde Mental e como construtores de heterodoxias diárias e seguidores de ortodoxias, considerando a relação do status profissional médico e as outras profissões. Apresentam-se também considerações sobre a relação dada entre o cuidar monológico do profissional-cientista-agente e a constituição da autonomia e cidadania de indivíduos tutelados à tais práticas, sob olhares de entendimentos de “fragilidade” e “proteção”.
A partir dos questionamentos suscitados, pretende-se inserir o campo CTS na discussão sobre os cuidados da saúde mental das crianças e dos adolescentes, ainda repleta de lacunas na literatura e escassa de investigações e avaliações da política que guia o tratamento público.
Seguindo os atores numa Divisão de Psicologia Aplicada: mutiplas articulações e distintos modos de produção de subjetividades
Arthur Arruda Leal Ferreira (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Bruno Foureaux Figueredo (UFRJ), Caroline Haussman dos Santos (UFRJ), Gabriel Loureiro Figueira (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Isabela Rodrigues Da Costa Pimenta De Moraes (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Letícia Beltrão Belmiro Nogueira (UFRJ), Pedro Felipe da Silva Medeiros (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Rafael de Souza Lima (UFRJ)Grupo Temático: Estudos CTS, Práticas Psi e Modos de Produção de Subjetividades
Resumo
Busca-se com este trabalho trazer à cena os diferentes modos de produção de subjetividades forjadas pelas práticas psicológicas clínicas e os modos de articulação e tradução entre elas. Nesta investigação, são utilizados como referenciais teóricos e metodológicos a Epistemologia Política de Isabelle Stengers e Vinciane Despret e a Teoria Ator-Rede de Bruno Latour e John Law. Para estes autores, o conhecimento científico se produz não como mera representação da realidade, mas como modos de articulação entre pesquisadores e entes pesquisados. De modo geral, essa articulação pode engendrar um efeito de recalcitrância (problematização das hipóteses, instrumentos, etc ou mesmo questões da pesquisa) ou docilidade (extorsão de uma resposta) por parte dos entes investigados. A possibilidade de gerar e acolher a recalcitrância seria a base para um novo parâmetro de legitimidade científica. De modo mais específico, nossa proposta é acompanhar os processos ligados às técnicas terapêuticas vindas de orientações distintas (Psicanálise, Terapia cognitiva-comportamental, Abordagem humanista-existencial, Gestalt-Terapia e Psicoterapia Institucional Francesa) da forma como estão sendo performadas na Divisão de Psicologia Aplicada da Universidade Federal do Rio de Janeiro, através de entrevistas e ocupação de determinados espaços. Foram entrevistadas pessoas em início e em meio de terapia, estagiários, a equipe de triagem e supervisores. Em tais entrevistas é buscada uma composição conjunta na produção de conhecimentos (o “pesquisar com”), onde os pesquisados são considerados co-experts ao falar de sua experiência e na abertura para propor novas questões. Além das entrevistas, seguindo as pistas do método etnográfico, passamos a ocupar o campo da DPA – sala de recepção (onde são realizados os cadastros para triagem), reuniões gerais de equipes e supervisões de equipes - seguindo nossos atores e observando de que maneira esses modos de articulação são produzidos na relação entre eles. Com a pesquisa ainda em desenvolvimento, nossa expectativa ao acompanhar de perto a rotina da DPA é entender quais as articulações estão sendo feitas e de que modo elas estão produzindo pacientes, supervisores, estagiários, sujeitos a partir do processo terapêutico.
Processos migratórios de trabalhadores haitianos no contexto das relações de trabalho na região Sudoeste do Estado do Paraná: limites e possibilidades
Audrey Merlin Leonardi de Aguiar (UTFPR - Câmpus Pato Branco), Beatriz Leite Gustmann de Castro (UnoChapecó), Giovanna Pezarico (UTFPR - Câmpus Pato Branco)Grupo Temático: Políticas Públicas e Desenvolvimento Local: interveniências e interações entre tecnologia, sociedade e democracia
Resumo
O presente estudo se insere na temática Tecnologia e Sociedade, por considerar que os processos migratórios vivenciados pelos trabalhadores haitianos no contexto da Região Sudoeste do Estado do Paraná dialogam com as relações de trabalho, nas quais técnicas, tecnologias, saberes e poderes implicam em mediações significativas. Neste sentido, o estudo assume perspectiva exploratória ao analisar os limites e possibilidades acerca da inserção de trabalhadores haitianos no contexto das relações de trabalho das organizações regionais. Logo, em termos de delineamento do problema de pesquisa, que ora se propõe, é importante considerar as trajetórias de estudos e de dinâmicas que têm sido vivenciadas no cenário brasileiro no âmbito da diáspora haitiana, principalmente, no que diz respeito às implicações, limites e possibilidades e às perspectivas assumidas pelas organizações brasileiras. Ainda, é importante destacar a perspectiva do crescimento do número de estudos sobre a temática que também têm acompanhado a expansão dos movimentos migratórios principalmente a partir do ano de 2010, por ocasião das dinâmicas decorrentes do terremoto experenciado em Porto Príncipe naquele ano. Além disso, estudos tem apontado para uma estreita relação entre os fluxos migratórios haitianos e a mobilidade espacial de trabalhadores, com vistas a atender aos interesses do capital e às articulações necessárias ao seu modo de produção e reprodução imbricadas às novas maneiras de produzir e atual à organização social do trabalho. Desta maneira, é importante considerar as possíveis implicações para o âmbito do mundo do trabalho e das significativas perspectivas assumidas pela força de trabalho no que diz respeito às suas relações. Logo, emergem para as universidades e, de modo específico para o campo da gestão, problemáticas que dialogam com temas como cultura organizacional, formação profissional, apropriação técnica, dentre tantos outros que se demonstram relevantes para a inserção qualificada dos trabalhadores estrangeiros frente às dinâmicas de trabalho no Brasil, de modo a refutar a precarização das relações de trabalho.
Entre as cavidades do chip contraceptivo. Reflexões sobre metáforas científicas e médicas na apresentação de uma nova tecnologia contraceptiva.
Ana Cristina de Lima Pimentel, Claudia Bonan Jannotti, Paula GaudenziGrupo Temático: Estudos Sociais das Ciências e das Tecnologias em Saúde Sexual e Reprodutiva
Resumo
Em 2014 foi anunciado o desenvolvimento de um método contraceptivo, uma espécie de chip eletrônico. Composto por titânio, tal dispositivo ultrafino tem o volume semelhante ao de um selo e contém pequenas cavidades onde o hormônio levonorgestrel (utilizado em outros contraceptivos) está depositado. Cada uma destas cavidades é coberta por platina e titânio, que possibilita a liberação lenta e contínua do fármaco. Uma conexão eletrônica wireless entre o chip e um controle remoto permite controlar a liberação do hormônio, caso o médico identifique a necessidade de mudança da dosagem. O chip é projetado para ser implantado logo abaixo da pele das nádegas, braço ou estômago, em uma microcirurgia que duraria 30 minutos e funcionaria por até 16 anos. O trabalho proposto tem como objeto o recente anúncio dessa nova tecnologia contraceptiva, os chips contraceptivos. Almeja-se refletir sobre as metáforas cientificas e médicas envolvidas e mobilizadas no anúncio da nova tecnologia e os pressupostos culturais que permeiam as visões científicas e médicas veiculadas nas matérias que dão publicidade a esses objetos. O material do estudo são notícias divulgadas na internet, nos meios de comunicação impressos e em materiais de divulgação científica e utiliza-se a técnica de análise de conteúdo. A análise preliminar evidencia que o anúncio da tecnologia é parte de um processo de torná-la fato consumado. Os testes pré-clínicos ainda serão iniciados em 2015, porém, sua expectativa de lançamento está detalhadamente configurada, toda sua divulgação já enseja a existência da tecnologia. Seguindo a esteira analítica de Emily Martin, as metáforas científicas e médicas apresentam noções de corpo e, especificamente, do corpo feminino, e podem lançar luzes sobre o modelamento reciproco corpo-gênero-tecnologia (Oudshoorn e Pinch). A noção de um circuito integrado, ou seja, de um dispositivo que, implantado sob a pele, pode desempenhar múltiplas funções, com um baixo custo e elevado desempenho. O dispositivo embora localizado sob a pele feminina - espaço discreto, não alcançável imediatamente por olhares humanos - abre os corpos a um comando (controle) remoto. É interessante observar a partir desta tecnologização da vida - e dos corpos biológicos - que, ao mesmo tempo, tornam o corpo remodelado organicamente, abre-o a circuitos e as possibilidades de replanejamentos (Nikolas Rose).
Estruturas de gestão em programas de pesquisa de grande escala: dispersão de redes sociotécnicas na Amazônia
Adriano PremebidaGrupo Temático: Experiências contemporâneas em Antropologia da Ciência e da Tecnologia: etnografia, grandes projetos e escala planetária (ou não)
Resumo
Este artigo busca compreender a construção e institucionalização dos grandes programas de pesquisa na Amazônia, principalmente os com enfoque e interação em ecologia, biotecnologia e mudanças climáticas. Apesar de não existir um grande esforço etnográfico para subsidiar a apresentação e análise dos dados, processos de imersão e convívio a partir de dentro dos programas estudados fornecem uma dimensão de método interessante para levantar alguns problemas de pesquisa importantes no contexto dos estudos sociais de ciência e tecnologia. Os argumentos e informações empíricas desta proposta são resultados ainda parciais da experiência e convívio do autor com o corpo técnico das redes citadas abaixo, através de interações (metaexpertise) com a coordenação e com os meandros inerentes da dinâmica das pesquisas: discussões indiretas sobre desenho experimental, buscas por recursos, arregimentação de pessoal, condições normativas e legais para se realizar a pesquisa, destaques para as operações burocráticas e integração entre redes. A hierarquia na organização das pesquisas foi utilizada da seguinte maneira: um conjunto de projetos forma um programa. Ou seja, uma estrutura mais hierarquizada por objetivos e metas, dependendo da sua envergadura, grau de complexidade ou ambição científica e duração. Já quando se utiliza a noção de rede não existe esta hierarquia, a estrutura pode ter ligações de projetos/projetos, projetos/programas e programas/programas, além de outras formatações. Além das questões que caracterizam o nível de institucionalização dessas redes de pesquisa, existe, também, o interesse em explicar como a comunidade regional de técnicos, pesquisadores e gestores públicos integra-se a grandes programas de investigação, com diversas áreas especializadas, envolvendo múltiplas instituições e países. Em termos de método, apontar-se-á caminhos e opções às análises de como os diversos atores regionais conectam pontos do tecido social para operar a estruturação e consolidação dos programas de pesquisa que subsidiarão empiricamente este artigo, alguns mais, outros menos: Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia, Green Ocean Amazon, Torre Alta de Observação da Amazônia, Programa de Pesquisa em Biodiversidade, INCT Estudos Integrados da Biodiversidade Amazônica e Centro de Biotecnologia da Amazônia.
O Eixo Energia do PAC: scaling e domaining em grandes empreendimentos hidrelétricos
Anna Catarina Morawska ViannaGrupo Temático: Experiências contemporâneas em Antropologia da Ciência e da Tecnologia: etnografia, grandes projetos e escala planetária (ou não)
Resumo
O Programa de Aceleração do Crescimento 2 (PAC2), plano plurianual de políticas econômicas do governo federal brasileiro para o período 2011-2015, vem sendo apresentado à opinião pública como uma das principais forças impulsionadoras do desenvolvimento brasileiro. No caso específico do Eixo Energia do PAC, o recorrente uso de cálculos dos mais variados, desde o "potencial energético subaproveitado" nas diferentes regiões do país até a "demanda energética futura" a partir de projeções de curva de mercado, contribui para atribuir à noção de desenvolvimento econômico um valor intrinsecamente positivo e às usinas hidrelétricas (UHE) o caráter de inevitabilidade. Os apologistas do desenvolvimento exaltam a construção de centenas de UHEs a partir de uma retórica economicista que considera os seus impactos socioambientais como um mal necessário, de pouca importância frente aos supostos benefícios que trazem para a nação. Por outro lado, os opositores destas grandes obras de geração de energia, geralmente atores da sociedade civil organizada nacional e internacional, buscam estratégias para que as dimensões ambiental e social sejam incorporadas como elementos de peso na tomada de decisão sobre as estratégias dos governantes para políticas energéticas. Este trabalho pretende se unir aos esforços das ciências humanas em dirigir um olhar crítico ao Eixo Energia do PAC, porém, por meio do diálogo com a antropologia da técnica, propõe-se fazê-lo a partir do deslocamento dos termos do debate. Não se pretende conclamar o "social" para denunciar o "econômico", mas sim apontar as maneiras pelas quais, nas etapas de planejamento e execução de UHEs, os domínios do social e ambiental são incorporados e neutralizados por meio do cálculo, linguagem por excelência da Economia. Propõe-se explicitar a lógica economicista que justifica a política energética do PAC, em especial como os cálculos se pautam por procedimentos que Marilyn Strathern chama de "scaling" e "domaining." Trata-se, mais amplamente, de contribuir para discussões sobre a tecnologia do cálculo em grandes empreendimentos técnico-científicos.
Reflexões sobre as relações da universidade com o seu entorno: o engajamento acadêmico
Ana Maria Nunes Gimenez, Maria Beatriz Machado BonacelliGrupo Temático: Gestão da Tecnologia e Inovação nas Universidades Latinoamericanas
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Estudos provenientes de diferentes áreas do conhecimento têm discutido reiteradamente o papel do ensino superior e, especialmente, da universidade na Sociedade do Conhecimento, sob os mais variados enfoques, ora com ênfase no ensino, ora na pesquisa, ou em ambos, ora ressaltando a necessidade de envolvimento com a sociedade, com a prestação de serviços, inovação, empreendedorismo e outros aspectos relacionados com a terceira missão e com uma atuação mais ativa nos Sistemas Nacionais de Inovação (SNI). Pode-se argumentar que estas visões têm relação com o termo criado por Clark Kerr (1963) - "multiversidade", em substituição ao termo universidade, já que esta desempenha inúmeros papéis e se relaciona com diversos públicos. Na verdade, as universidades têm sido forçadas a abandonar o seu status de "torres de marfim" para interagirem mais intensamente com a sociedade. O termo "torre de marfim" tem servido, desde o século XIX, para designar um ambiente no qual as atividades de ensino e pesquisa estão desconectadas das necessidades e preocupações práticas da sociedade (E3M, 2012). O presente trabalho apresenta uma reflexão sobre a evolução do conceito da terceira missão da universidade, assim como discute questões ligadas às interações desta com públicos externos, a partir do conceito de engajamento acadêmico, que representa as interações formais e diretas entre pesquisadores e outros sujeitos externos (pessoa-pessoa), como também as informais. Essas interações podem envolver pesquisas colaborativas, consultorias, palestras, reuniões, redes de comunicação, entre outras (PERKMANN et al., 2013). O estudo também considera a concepção de Sistema de Inovação e do Modo 2 de produção do conhecimento. O método utilizado foi o da revisão bibliográfica para apurar o estado da arte da literatura especializada nesta temática e em estudos realizados principalmente em universidades dos Estados Unidos, Europa, Ásia e Brasil. As principais conclusões são que existem determinantes individuais, organizacionais e institucionais que influenciam a decisão do pesquisador sobre o tipo de relacionamento ou atividade que considera prioritária (publicações, patenteamento, etc.), e que os impactos do patenteamento sobre outras formas de transferência do conhecimento, como as publicações, por exemplo, podem ser tanto negativos (efeito substitutivo), quanto positivos (efeito complementar).
Um objeto tecnológico na física do ensino médio - a ressonância magnética
André Coelho da Silva, Maria José Pereira Monteiro de AlmeidaGrupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
Resumo
Assumindo a importância em abordar elementos culturais da física relacionados a aspectos do mundo material, tais como o funcionamento de objetos tecnológicos, e em problematizar algumas das inter-relações entre ciência, tecnologia e sociedade, tivemos como objetivo compreender o funcionamento no ensino médio da leitura de um texto de divulgação científica sobre ressonância magnética, publicado na revista Ciência Hoje. Tomamos como apoio teórico-metodológico noções apresentadas por Eni Orlandi, filiada à Análise de Discurso em sua vertente originada por Michel Pêcheux, e coletamos informações junto a estudantes de três turmas do segundo ano do ensino médio de uma escola pública estadual paulista nas quais o primeiro autor deste trabalho era o professor regular. As informações foram coletadas em agosto de 2012 por meio da gravação das aulas em áudio e de dois questionários, um aplicado logo após a leitura individual do texto pelos alunos e outro aplicado após a mediação do assunto conduzida pelo professor. Entre outros resultados, destacamos que: houve predomínio de repetições formais (o "dizer com suas palavras") com maiores níveis de embasamento conceitual nas respostas ao segundo questionário, sendo recorrente a materialização de trechos da mediação; e que os estudantes, em geral, preferiram destacar como conhecimento apreendido elementos associados ao funcionamento da ressonância magnética, tais como: saber que não se pode realizar o exame em posse de objetos metálicos; saber que, por não utilizar-se de radiação ionizante, trata-se de um exame que pode ser realizado quantas vezes for necessário; saber que pessoas claustrofóbicas têm dificuldade em realizar o exame; saber que há controvérsias a respeito dos riscos envolvidos na realização de um exame de ressonância magnética etc. Vale ressaltar que, em contrapartida, poucos estudantes destacaram como conhecimento apreendido elementos conceituais da física, tais como: saber o que é spin; saber o que é campo magnético; saber o que são ondas de rádio etc. Além de apontarem para a importância da mediação do professor, esses resultados sugerem que discutir elementos do funcionamento de objetos tecnológicos contemporâneos no ensino formal pode contribuir para a formação de cidadãos conhecedores e críticos das inter-relações entre ciência, tecnologia e sociedade.
As Ciências Sociais e as Controvérsias em torno da Mudança Climática
Allan Rogério VeltroneGrupo Temático: Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia e as Mudanças Climáticas
Resumo
A proposta do trabalho é mostrar o quão importante são as ciências sociais para a compreensão das mudanças climáticas. Trata-se de um tema inegavelmente hibrido, onde os aspectos sociais da questão são tão importantes quanto as analises dos cientistas do clima. Estas análises são realizadas com o objetivo de se elaborarem ações de mitigação, que devem contar, de alguma forma, com a participação do publico. Este, no entanto, tem mais facilidade para acessar os argumentos dos chamados céticos, que são, em sua maioria, divulgadores científicos, e não cientistas. Explorando estas controvérsias, mostraremos então a relevância de algumas teorias de autores consagrados: Beck, Latour, Giddens e Hanningan.
Visões sobre a tecnologia observadas na peça O homem e o Cavalo de Oswald de Andrade.
Aline Prado MacielGrupo Temático: Ciência e Techné na História
Resumo
Neste artigo, analisamos a peça O Homem e o Cavalo (1933), do escritor brasileiro Oswald de Andrade (1890-1954), investigando como o autor representa discursivamente o universo da tecnologia. Estudamos estas representações no âmbito do discurso, não nos detendo nas questões de encenação. Na peça O Homem e o Cavalo, observamos que a tecnologia é representada a partir de uma visão plural em que impera a ambigüidade, a ambivalência, os aspectos duais e multifacetados. A peça engloba uma temporalidade de longa duração, vindo da Antiguidade clássica até a URSS, no período de trinta do século XX. Há inúmeras personagens mitológicas, históricas, lendárias e ficcionais que vivenciam situações em que o universo da tecnologia se acha presente. Dentro desse amplo painel, a cada quadro, temos uma dada representação discursiva da tecnologia, dada por intermédio e mediação da sátira, da ironia e da carnavalização. Não há uma única representação hegemônica, destacando-se a pluralidade de facetas, relevando-se em seus aspectos múltiplos: determinista, neutra, velha, nova, boa, má, pragmática, progressista, autoritária e risível. O primeiro quadro parte de um céu decadente em que os personagens não hesitam em sair desse ambiente estéril. A condução da viagem à terra se dá através de uma nave espacial, conduzida por um cientista americano que também remete ao Ícaro da Mitologia Grega. Na trajetória, passa-se pela Inglaterra das corridas de cavalo, típicas do século XIX, e a chegada se dá na Rússia transformada pela industrialização, conduzida pelo Socialismo de Estado. O escritor satiriza a sociedade burguesa e socialista, mostrando que a tecnologia utilizada no processo de transformação social é calcada pelos valores burgueses e liberais que permanecem, mas também atendem a outros propósitos de bem-estar coletivos. Vários personagens vindos da história e da mitologia participam da viagem rumo à nova sociedade, criticando tanto o novo quanto o velho sistema, satirizando, carnavalizando e apontando as mudanças e permanências da sociedade. O novo não substitui o velho: ambos convivem de maneira imbricada.
1977: Ano-chave da História da Informática no Brasil
Ana Christina Saraiva IachanGrupo Temático: Dimensões da História e Memória da Informática no Brasil
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Resumo
A história da Informática no Brasil se cruza inevitavelmente com a história do regime militar instaurado em 1964, e também com uma longa história de aspirações e esforços de desenvolvimento e de industrialização. A ideia de uma política para o segmento de minicomputadores já havia entrado na agenda pública, mas o processo de decisão sobre a forma de sua execução foi sendo constituído ao longo do ano de 1977, com muitas idas e vindas.
No início do ano, ainda não tinha sido construído um modelo, nenhuma opção estava claramente delineada. Nada, também, a que os opositores, com destaque para as empresas multinacionais, líderes do segmento, pudessem se bater contra. No primeiro semestre de 1977, tendo como aliada a difícil situação do Balanço de Pagamentos, foi construída uma ação governamental baseada em certas restrições, seguindo um modelo já utilizado em outros países, notadamente no Japão, de modo a induzir uma indústria nacional numa área cujo desenvolvimento se estimava difícil para as empresas nacionais. Esta proposta foi consubstanciada na concorrência para escolha das empresas que seriam autorizadas a fabricar minicomputadores no Brasil, juntamente com a COBRA.
Ao longo de 1977, tem-se uma política de informática de 'geometria variável', que representava coisas diferentes para os diversos atores. Os jovens especialistas da área, viam a chance de desenvolver localmente as suas potencialidades e garantir empregos, os professores universitários vislumbravam perspectivas de desenvolvimento de pesquisa e alocação da mão de obra que estava sendo formada nas universidades. Várias forças, vários aliados foram mobilizados e captados para dentro da rede. Foram transladados interesses, processo sempre custoso e delicado. Um aliado importante, reforçando a linha de atuação por uma independência tecnológica, foi o próprio projeto de Segurança Nacional do regime autoritário. A informática era considerada estratégica e interessava ao Estado maior das Forças Armadas, o EMFA. Um último aliado foi mobilizado, em setembro de 1977, uma pequena fração do empresariado nacional que via na fabricação local de minicomputadores, com apoio estatal, uma oportunidade de ganho.
Em dezembro, foram selecionadas três empresas privadas nacionais para fabricar minicomputadores: SID,EDISA e LABO. A rede da informática estava começando a ser desenhada.
Análise da proposta de sustentabilidade numa implementação brasileira de cidade inteligente
Ana Jane Benites, Flávia Luciane Consoni de MelloGrupo Temático: Elementos e dinâmicas de desenvolvimento no contexto das cidades do século XXI
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Resumo
Segundo o Relatório do PBMC o Brasil experimentará, nas próximas décadas, sérias crises devido à mudança climática e seus centros urbanos serão as áreas de maior vulnerabilidade. É nesse contexto que vem se estabelecendo o conceito das cidades inteligentes (CIs), que usam as tecnologias de informação e comunicação (TICs) para melhorar o fornecimento de serviços e infraestruturas públicas.
Esse estudo investiga a eficiência de uma implementação brasileira de CI, o Centro de Operações do Rio de Janeiro (COR), verificando se o conceito vêm contribuindo com a realização das suas políticas urbanas voltadas à sustentabilidade nas dimensões ambiental, social, econômica e institucional.
O framework de análise submete a fronteira tecnológica do COR ao detalhamento de suas componentes
.estratégica: verificando a capacidade desse modelo de CI em entregar serviços em todas as dimensões da sustentabilidade;
.tática-operacional: utilizando a teoria de Sistemas Tecnológicos de Inovação (STIs) para caracterizar o ambiente em que vêm se desenvolvendo a CI do Rio de Janeiro, determinando sua capacidade de materialização pelas redes de atores que a suporta.
A análise evidencia estreitamento das articulações entre instituições governamentais e atores do setor público e privado formando círculos virtuosos em redes de instituições locais de diversos portes e setores, além da conexão com redes internacionais comprometidas com a sustentabilidade e resiliência das cidades.
Tal trajetória de amadurecimento tático-operacional contribui com a elevação da eficiência estratégica, ampliando a oferta de serviços de sustentabilidade em todas as dimensões.
O arcabouço elaborado no estudo auxilia no processo de adequação de políticas de C,T&I para CIs propondo uma ferramenta útil para orientá-las a soluções duradouras, apoiadas por tecnologias adequadas ao contexto regional e mais abrangentes nas perspectivas da sustentabilidade.
Também pode ser útil como complemento aos rankings de cidades inteligentes, tornando-os um instrumento de colaboração em oposição à competição incongruente que instigam entre cidades de perfis distintos.
Finalmente, o framework contribui com a formulação de políticas para CIs sintonizadas com as estratégias estaduais e nacionais, o que já se pratica em outros países e que o Brasil começa a estruturar.
Discursos de Genética no livro didático: A desatualização dos conteúdos e implicações para o ensino de Biologia
Alberto Lopo Montalvao NetoGrupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
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Os conteúdos de Genética são apontados como um dos mais difíceis a ensinar, por requerer um grande nível de abstração e conhecimentos anteriores dos alunos para sua compreensão. Não obstante outros obstáculos se fazem presentes no ensino de genética, como a desatualização, a fragmentação e a descontextualização dos conteúdos (SARDINHA et al., 2009). Pensando nas inovações científicas, principalmente no que se refere a Biologia Molecular, os estudantes desde muito cedo têm contato com assuntos relacionados a Genética, principalmente por meio da mídia. Porém isso ocorre de forma assistemática, enquanto a escola trabalha com lentidão esses temas (NASCIMENTO & MARTINS, 2005). Pautando-se na Nova Biologia, referente à "integração entre as novas tecnologias do DNA e novas aplicações em Genética" (Xavier et al., 2006, p. 277), nesse trabalho intencionamos discutir sobre os problemas enunciados, a partir de uma análise de um livro didático de Biologia do Ensino Médio, escolhido por ser o mais distribuído pelo PNLD 2015. Análises prévias apontam que a Nova Biologia está sendo pouco contemplada, estando assuntos referentes a Ciência-Tecnologia-Sociedade (CTS) em poucos capítulos, ou abordados em "boxes" descontextualizadas do restante do texto. Embasando-se em pressupostos da Análise de Discurso de linha francesa, acreditamos na não transparência da linguagem. Da mesma forma, os discursos advindos do campo científico também não são neutros, e por isso se faz necessário pensar em formas menos ingênuas e naturalizadas de conceber a Ciência. Partimos também da concepção de que forma e conteúdo não se separam (Pêcheux, 1990), e por isso a forma como estão dispostos os conteúdos dos livros didáticos, privilegiando abordagens e discursos hegemônicos em detrimento de visões críticas sobre os avanços científicos e tecnológicos, influenciam nas formas de leitura e efeitos de sentidos produzidos. Propomos então pensar em uma perspectiva discursiva na Educação CTS, fomentando reflexões críticas sobre "os discursos dominantes da ciência e da tecnologia e sua legitimação na construção e aplicação de saberes" (Cassiani & Linsingen, 2009, p. 134), e suas prováveis consequências, considerando importante que os alunos possam tomar decisões frente as questões científicas e tecnológicas da contemporaneidade.
Exposições destinadas à saberes e técnicas de civilizações pré-colombianas em museus latino-americanos e o Ensino de Ciências e Tecnologias
Ana Paula GorriGrupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
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Vêm se constituindo no cenário latinoamericano de pesquisas em educação científica e tecnológica, abordagens que procuram articular contribuições de interessantes perspectivas recentes originárias de outras áreas de conhecimentos. Podemos apontar, por exemplo, as Epistemologias do Sul, proposta por Boaventura de Souza Santos, ou saberes que vem emergindo das reflexões do Projeto Colonialidade/Modernidade (engendrado por diversos autores, como Mignolo, Grosfoguel, Quijano, Dussel, Lander, etc). A mobilização dessas leituras no âmbito do quem vem sendo denominada Educação CTS latino-americana, vem oferecendo importantes subsídios na construção de outros olhares para a Educação Científica e Tecnológica em nosso país e, de maneira mais geral, em nosso continente - dada sua particular formação histórica e política.
Pensando as particularidades dessa educação no contexto específico do ensino não-formal, propomos olhar para museus existentes em países latino-americanos que possuam exposições destinadas à saberes e técnicas de civilizações pré-colombianas. Acreditando que neles podem estar sendo constituídos/desencadeados inúmeros discursos e saberes desses povos. Saberes que, dada a fundamentação teórica assinalada acima, podem e devem ser ressaltados e dialogados com os saberes dominantes associados às ciências e às tecnologias (CT), que majoritariamente compõem exclusivamente nossos currículos.
Assim, este trabalho tem como objetivo investigar em quais museus de países latino-americanos encontram-se exposições destinadas à essas temáticas. Buscando compreender como elas podem contribuir para problematizações sobre a dominância e a neutralidade concedidas aos conhecimentos científicos e tecnológicos a partir da consolidação do contexto histórico da modernidade-colonialidade.
Pretendemos com isso, contribuir nas reflexões atuais no campo dos Estudos CTS, ao ressaltar dimensões associadas às relações de subordinação/subalternidade que se insinuam no ensino de ciências e tecnologias e que acabam por favorecer a reprodução das relações de dependência, seja por meio de silenciamentos das culturas e especificidades locais e regionais, ou por meios mais explícitos de relações de poder. Fomentando assim a busca por práticas pedagógicas mais sensíveis aos inúmeros discursos acerca das CT e da pluralidade dos saberes humanos.
A questão da técnica em Álvaro Vieira Pinto e Ortega y Gasset.
Adilson Boell, Sandro Luiz BazzanellaGrupo Temático: Álvaro Vieira Pinto
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O presente estudo realizar-se-á mediante análise bibliográfica e seu objetivo reside em torno da concepção de técnica presente no pensamento do filósofo espanhol José Ortega y Gasset e, do filósofo brasileiro Álvaro Vieira Pinto. A relevância deste trabalho consiste na necessidade de maior compreensão do pensamento destes dois autores em especial o segundo, e pelo próprio tema do estudo. Pretende-se demonstrar num primeiro momento a convergência dos referidos pensadores em torno da centralidade da questão da técnica na modernidade, sobretudo em sua instrumentalidade como forma de domínio e controle do humano. E num segundo momento, as diferenças de fundo teórico e conceitual nas análises levadas adiante sobre a técnica pelos referidos pensadores. A análise de Ortega y Gasset sobre a questão da técnica ancora-se no materialismo fenomenológico existencialista, procurando chamar atenção para o fato de que a essência da técnica não se encontra em seu caráter instrumental, mas na forma como desvela os objetos, as coisas que passam a fazer parte e interferir na forma como os seres humanos concebem a relações e, por extensão o mundo em que se encontram inseridos. Nesta direção, tem-se a percepção que o posicionamento de Ortega y Gasset se apresenta um tanto quanto cético em relação ao tecnicismo moderno e sua instrumentalidade sobre o homem e o mundo por ele articulado e construído. Por seu turno, a análise de Álvaro Vieira Pinto ancora-se no materialismo dialético, o que lhe permite tomar a técnica como condição sine qua non do humano, tornar-se humano pelo domínio e transformação da natureza que o cerca. Assim, se num primeiro momento, seu posicionamento diante da técnica se circunscreve nas exigências materiais do fazer-se humano frente à natureza, num segundo momento, o filósofo chama atenção para os limites da constituição humana quando se estabelece o limite de acesso à técnica, ou a inovações técnicas por parte do trabalho, limitando o horizonte cognitivo, e de domínio do mundo pelo limite da capacidade de técnica do homem nele agir e realizar-se.
A Teoria do Conhecimento de Álvaro Vieira Pinto: uma perspectiva onto-gnosiológica.
Alex Ubiratan Goossens Peloggia, Any Marise OrtegaGrupo Temático: Álvaro Vieira Pinto
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O cerne da teoria do conhecimento de Álvaro Vieira Pinto, exposto em Ciência e Existência: problemas filosóficos da pesquisa científica, é a dialética entendida como expressão do modo de ser da realidade e reflexão desse modo de ser no campo das ideias. Este caráter totalizador possibilita entender a ciência como fase mais desenvolvida do processo histórico e social do conhecimento, a partir de dois pressupostos: o reconhecimento do homem como ser ativo no mundo, dotado de consciência e intencionalidade (teleologia) e a consideração do mundo real enquanto objeto apreensível pela reflexão. Para Vieira Pinto, a realidade é a matriz fundamental da qual os outros fenômenos são decorrência, e o conhecimento (gnosiologia/epistemologia) e o método não a supõem, mas são dela decorrentes. Ou seja, postula-se a prioridade ontológica do estar no mundo em relação ao conhecer o mundo, e a existência é vista como circunstância do conhecimento, do que resulta, em última instância, seu caráter social. A ciência caracteriza-se, nesse contexto, pela atividade metódica da razão direcionada para a investigação da realidade, e o método é visto como um caminho dinâmico, dotado de historicidade, intencional e (auto)reflexivo, ou seja, crítico, não se configurando em organização intelectual apriorística. Enfim, o pensamento de Vieira Pinto, tal como o de Marx e de Lukács, mostra uma relação indissociável entre dialética e ontologia, bem como uma ênfase decisiva na articulação entre as categorias da universalidade e da particularidade.
Desterritorialização e reterritorialização do conhecimento científico no campo jurídico
Andrea Mara Ribeiro da Silva VieiraGrupo Temático: Ciência e direito na coprodução dos fatos tecnocientíficos
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Para Foucault a "verdade não funciona fora do poder" e cada sociedade possui o seu regime de verdade. A relação entre saber e poder é mantida por Foucault como uma espécie de reciprocidade: "o exercício do poder cria perpetuamente saber e, inversamente, o saber acarreta efeitos de poder" (FOUCAULT, 2007, microfísica, p. 80).
Foucault propõe uma onipresença do poder que, em sua complexidade, surge de todos os lugares e atua em um nível micropolítico exercido a partir de inúmeros pontos e em meio a relações desiguais e flexíveis, produzindo enfrentamentos localizados.
No caso da justiça, o Estado tem o seu poder (para Foucault seria também micropoder) institucionalmente oriundo das relações de poder-saber já normatizadas, isto é, da lei. No caso da ciência o seu poder é proveniente das relações de poder-saber legitimadas pela subjetivação, e em algumas situações legalizadas pela norma.
A aplicação da lei com base na jurisprudência e hermenêutica, por exemplo, contrária à ciência ou ao fato analisado cientificamente, podem contribuir para os movimentos de desterritorialização e reterritorialização da ciência ou do evento científico pelo direito implicando em revoluções moleculares com a transformação das relações jurídico-sociais, e, a partir daí, promove novas práticas analíticas e micropolíticas.
ÉTICA EM PESQUISA - humanos e não humanos radioativos.
Ana Luiza Silveira de Oliveira, Renato CerceauGrupo Temático: Ciência e direito na coprodução dos fatos tecnocientíficos
Resumo
A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa tem fortalecido a atuação na proteção dos direitos dos humanos que participam da pesquisa. Neste sentido, o sistema de avaliação ética das pesquisas emprega as comissões de ética em pesquisa (CEP).
Este estudo de caso apresenta uma controvérsia entre um CEP ligado a um programa de pós-graduação de uma unidade federal e uma estudante da área da medicina nuclear. O objeto da pesquisa foi o estudo da radiação emitida pelo recipiente de transporte do material nuclear (i.e., um balde), com medições a diversas distâncias. Este material era recebido e manipulado por um funcionário que abria o recipiente e retirava o material radioativo do seu interior para posteriormente ser preparado o radiofármaco.
A estudante procedeu às medições sob orientação e escreveu sua monografia. Houve questionamento quanto a questão ética envolvida pois "um humano" era o responsável pela abertura do balde. O primeiro parecer do CEP foi contrário ao prosseguimento da pesquisa. A recomendação foi pela interrupção na coleta de dados e indicação do 'consentimento' do funcionário para sua participação.
Muitos debates entre os envolvidos ocorreram uma vez que não concordaram com o parecer do conselho. Traduziram o relatório do CEP como muito sensível ao ser dada ênfase a participação do ser humano. Demasiada ênfase a radioatividade que poderia estar submetido o ser humano - nada sensíveis à radioatividade emitida de fato pelo balde. No julgamento do CEP houve a polarização de humanos versus não humanos onde a preferência do julgamento foi dada ao humano sem entrar no mérito do elo que os ligava na rede do experimento. O professor orientador teve como posicionamento a crítica ao CEP uma vez que não seria adequado mudar os procedimentos da pesquisa visto que, no processo diário de suas atividades 'era função do funcionário'.
Uma vez estabilizada a controvérsia a estudante apresentou a monografia após três anos. Privações também foram experienciadas, já que até o fechamento da caixa-preta, a estudante não pode registrar sua pós-graduação.
O objetivo deste trabalho é acompanhar este caminhar, as negociações com o CEP, as atuações humanas e não humanas. Olhando para esta narrativa a luz da CTS entendemos que o fazer ciência transpõe os muros do laboratório esbarrando em questões éticas, na radioatividade, em baldes e práticas disciplinares.
O alcance dos projéteis na Nova Scientia de Niccolò Tartaglia
Alessandro MenegatGrupo Temático: Ciência e Techné na História
Resumo
Entre as obras mais conhecidas de Niccolò Tartaglia (1499 ou 1500-1557), está a Nova Scientia Inventa da Nicolo Tartalea, com edições de 1537 e 1550, em que o autor abordou temas ligados à artilharia em seus aspectos práticos e teóricos. Ele analisou especificamente as trajetórias dos projéteis considerando as noções já apresentadas por autoridades bastante reconhecidas em sua época. Este trabalho trata apenas de um aspecto da argumentação de Tartaglia relacionada ao maior alcance atingido pelo projétil.
Podemos dizer que a motivação de estudar e investigar a trajetória dos projéteis não partiu de considerações de ordem teórica, mas práticas. Na Epistola, a dedicatória da obra, Tartaglia relata que o problema do alcance foi formulado por um artilheiro. Para dar uma resposta a ele, o estudioso procurou investigar a questão considerando dois aspectos: as "razões naturais e geométricas" e a forma da trajetória dos projéteis.
Percebemos que Tartaglia apresentou argumentos experimentais, bem como geométricos para convencer o artilheiro e, claro, os leitores da Nova Scientia. Para tanto, ele recorreu ao que denominou isperimenti particolari, que consistiam basicamente em realizar uma série de disparos com o canhão, medindo a inclinação e o alcance dos projéteis, com o auxílio de um instrumento denominado squadra. Essas medidas eram depois relacionadas para verificar qual seria o melhor resultado.
Contudo, é necessário notar que, mesmo que Tartaglia estivesse certo da inclinação ótima, teria de fornecer razões teóricas de que um disparo abaixo ou acima do ângulo de 45 graus não teria um maior alcance. De fato, o tratamento dado por Tartaglia à trajetória dos projéteis, na obra, é de natureza geométrica e segundo a filosofia natural, pois sua argumentação não se apoiou, ao menos explicitamente, nos resultados obtidos por meio dos disparos de canhão, mas em Euclides e Aristóteles.
Trocas dadivosas no YouTube: tutoriais de software livre e as linhas de fuga na cibercultura.
Ana Eliza Trajano SoaresGrupo Temático: Internet: entre o capital e as ruas
Resumo
O presente trabalho propõe uma reflexão sobre um dos fenômenos da internet, os vídeos tutoriais no YouTube. Foram observadas e analisadas produções audiovisuais sobre software livre, a partir da perspectiva das trocas dadivosas, por estes conteúdos possuírem uma lógica que vai além de um software de alto nível tecnológico sendo também uma ferramenta política que afronta a lógica do capital, e por estarem hospedados numa plataforma fortemente comercial que é o Youtube representam também uma linha de fuga (DELEUZE, 1998) encontrada por aqueles que buscam disseminar um conhecimento mais livre e democrático.
A pesquisa se refere aos vídeos do tipo tutorial na plataforma social YouTube, analisados como uma forma de dádiva na modernidade. Sendo a dádiva na concepção de Mauss(2003) a tripla obrigação de dar, receber e retribuir, consideramos como partes envolvidas o produtor do vídeo (dono do canal) como o que dá, os usuários como receptores e retribuidores. E ainda um terceiro elemento que é o meio onde a troca acontece, a plataforma aqui pesquisada e o seu papel nas trocas: YouTube. Optamos por trabalhar com quinze vídeos tutoriais que não fossem monetizados ou veiculassem propagandas. São conteúdos sobre instalação, compartilhamento, atualização, configuração e utilização de ferramentas do sistema operacional Linux e algumas de suas derivações, as chamadas na linguagem da informática, distribuições.
A internet foi construída de forma livre e aberta dando sempre margem para criações e recriações, atualmente a presença e crescimento de grandes empresas do capital que dominam parte dessa rede ameaçam constantemente tal liberdade. Porém, as aberturas apresentadas por essas rede fazem com que o domínio dos Oligopólios não se apresentem como impedimento ao surgimento de novas possibilidades, as linhas de fuga encontradas por aqueles que almejam uma construção do conhecimento de forma democrática, tais como os programadores de software livre aqui estudados conseguem furar bloqueios compartilhando um conhecimento livre numa plataforma de cunho fortemente comercial que é o Youtube. É encontrada uma dimensão colaborativa nesses vídeos através daqueles que dão, recebem e retribuem conhecimentos, informações e palavras de forma dadivosa. São trocas que possibilitam a criação de laços, redes e linhas de fuga para contribuição na construção da esfera do comum.
Mudamos para melhor? Lei Arouca e o Código de proteção aos animais do Estado de São Paulo
Alexandre Meloni Vicente, Maria Conceiçao da CostaGrupo Temático: Política de Ciência e Tecnologia
Resumo
A experimentação animal é controversa. Não somente porque o desenvolvimento das pesquisas, de maneira geral, está sujeito à incerteza que caracteriza as mudanças tecnológicas, mas também por trazer problemas morais: há necessariamente um "outro" diretamente afetado em tais pesquisas, o animal. Caracterizada, sob o ponto de vista das ciências biomédicas, como o mais importante elo entre as pretensões científicas e os resultados de fato, a experimentação animal é também criticada como uma prática abominável pelos grupos ligados ao direito animal, em um debate que envolve interesses diversos de diferentes grupos. É clara a necessidade de estabelecer limites rigorosos para sua realização. Este trabalho procurou comparar as duas principais tentativas brasileiras recentes de impor tais limites: o Código de Proteção aos Animais do Estado de São Paulo e a Lei Nº 11.794, ou Lei Arouca, de abrangência nacional.
Os esforços para estabelecer um certo controle sobre a experimentação animal são, por um lado, políticos no sentido de que estão preocupados com a produção e distribuição de benefícios sociais oriundos das pesquisas científicas; e, ao mesmo tempo, culturais, por intervir na natureza, em significados sociais, identidades e formas de vida. A análise e comparação de políticas científicas e suas críticas é uma importante ferramenta de investigação das interações entre ciência, política e sociedade, e pode ajudar a apontar caminhos e soluções a ser consideradas.
Concluiu-se que a experiência de São Paulo, e as críticas ao seu resultado, poderiam ter servido como um importante exemplo para uma possível reformulação da lei nacional, antes de sua aprovação, mas parecem ter sido ignoradas.
A nova fornalha: ciência, tecnologia, inovação e vida religiosa
Alberto GroismanGrupo Temático: PROCESSOS TECNOLOGICOS E CULTURA: sociabilidades, saberes populares, assimetrias e meio ambiente
Resumo
Convencionalmente em antropologia e sociologia particularmente a experiência religiosa é associada à "vida simbólica". Embora tenha havido autores como Sperber e Boyer que tenham estimulado uma perspectiva digamos "materialista" ou "naturalista" para pensar a vida religiosa, a antropologia simbólica construiu uma hegemonia sobre o tema. Neste sentido, as religiões são abordadas do ponto de vista do discurso e da experiência como "textos" a serem interpretados. Neste sentido, Geertz consolidou esta hegemonia. Estas duas tendências epistemológicas tem sido importantes para as reflexões, embora não deixem de propor uma perspectiva ainda restritiva. Embora não tenha a pretensão de trazer alguma terceira via, tento neste artigo relativizar o alcance destas teorizações procurando estabelecer um parâmetro inusitado de reflexão. Aqui, abordo o tema da experiência e da vida religiosa a partir de enfocar um convite que recebi e uma entrevista que fiz om uma liderança do Centro Espírita Daniel Pereira de Matos, localizado na Amazônia brasileira. O CEDPM é a entidade que reúne pessoas de uma linha de trabalho espritual associada ao uso da bebida sacramental daime, cuja preparação é derivada da preparação da bebida ayahuasca.
Meu enfoque é a concepção da nova fornalha que esta liderança projetou e construiu para a preparação e cozimentos das plantas que resultam no daime. Numa abordagem sintética, ele discute não só os aprimoramentos que foi incorporando à nova fornalha como também menciona seus detratores que discordam de sua forma de fazer a bebida, recorrendo ao argumento da tradição. E que ele refuta com o argumento da evolução. Ao analisar os elementos que são trazidos à reflexão deste dirigente sobre a fabricação da nova fornalha podemos pensar como fica difícil pensar sincretismo como fenômeno particular. De fato, ao que parece a vida humana em geral é sincrética, no sentido que em qualquer ato estamos sempre fazendo referencia, incorporando ou rejeitando o que já existe, ou o que outros já fizeram.
A Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares ITCP/UNEB e a formação de quadros para estudos em ciência e tecnologia social
Ana Celeste da Cruz DavidGrupo Temático: Programas de Pós-Graduação em Estudos CTS & políticas científicas e tecnológicas para inclusão socioprodutiva: um debate
Resumo
Quem somos nós? Apresentando o Grupo de Estudos sobre a inserção da Saúde, Envelhecimento e Gestão Pública no campo de estudos Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS)
Alana de Paiva Nogueira Fornereto Gozzi, Brunela Della Maggiori Orlandi, Edson Malvezzi, Lídia Bonfanti Anitelli, Márcia Niituma Ogata, Maria Lúcia Teixeira Machado, Meliza Cristina da Silva, Silvana Aparecida Perseguino, Wilson José Alves PedroGrupo Temático: Saúde, Trabalho e Desenvolvimento
Resumo
Este resumo apresenta reflexões e temáticas de pesquisas do Grupo de Estudos vinculado à linha de investigação do Programa de Pós-graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade (PPGCTS/UFSCar) denominada "Dimensões Sociais da Ciência e Tecnologia", cujo objetivo é desenvolver estudos voltados para investigações dos antecedentes sócio-históricos, lacunas e obstáculos com que segmentos sociais contemplam atualmente o fenômeno científico e tecnológico, de forma a convergir saberes interdisciplinares. No campo da Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), saúde, envelhecimento e gestão pública tem sido objeto de investigação. O grupo tem se destinado a refletir, debater e aprofundar perspectivas sobre como os Estudos Sociais da Ciência e da Tecnologia podem contribuir para o avanço e aprofundamento das pesquisas nas áreas de Saúde, Envelhecimento e Gestão Pública. De modo integrado e complementar, um conjunto de estudos e pesquisas é desenvolvido através de perspectiva interdisciplinar, trazendo à tona dimensões sociais da ciência e tecnologia, amplamente disseminadas no campo CTS. Os estudantes de pós-graduação e docentes membros do grupo têm se dedicado a análise de políticas públicas nas temáticas em destaque, assim como se aprofundado na utilização de diferentes referenciais teóricos que se alinham ao campo e aos objetos de estudo como forma de análise. Temas como envelhecimento, tecnologias de gestão e de cuidado à saúde, economia solidária e gestão por competências têm feito parte do escopo do grupo, assim como a consolidação de pesquisas sobre Estudos Sociais da Ciência. Nesta vertente investigativa, o grupo é espaço de reflexões e aprofundamento teóricos, bem como tessitura da interdisciplinariedade e construção de identidade de pesquisadores. Sua proposição aponta fomento de novos estudos interdisciplinares tendo o campo CTS como lócus prioritário, cujos aportes teóricos e metodológicos evidenciam grande potência para integração dos saberes, numa perspectiva ética e dialógica. Tendo em vista a complexidade das discussões apresentadas nas temáticas voltadas à Saúde, Envelhecimento e Gestão Pública, grupos de estudo se revelam como importantes auxiliares na solidificação do campo de estudos, na compreensão do campo CTS e na formação de futuros pesquisadores já em perspectiva interdisciplinar, acompanhando a construção do conhecimento na contemporaneidade.
Seguindo os actantes na produção e uso de conhecimento em saúde pública: uma pesquisa avaliativa da Rede Programa de Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Saúde Pública-Teias/Fiocruz
Ana Cláudia Figueiró, Juliana Fernandes KabadGrupo Temático: Saúde, Trabalho e Desenvolvimento
Resumo
É crescente o interesse e a ênfase em conhecer as redes sociotécnicas constituídas no âmbito da saúde pública visando verificar como se formam, encontram interesses, abordam as controvérsias e traduzem-se em produtos aplicáveis às políticas públicas e de atenção à saúde. Acredita-se que, assim, possam contribuir com produtos e soluções inovadoras com potencial de utilização pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Uma dessas iniciativas foi o estudo avaliativo da Rede do Programa de Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Saúde Pública-Teias (PDTSP-Teias/Fiocruz). A Rede foi constituída por gestores, projetos, pesquisadores e outros actantes humanos e não humanos, e implementada no período de 2009 a 2012, visando ao financiamento de projetos e elaboração de produtos com potencial de uso no território de Manguinhos. O estudo avaliativo da Rede PDTSP-Teias realizou-se em 2013 e 2014 e objetivou compreender o modelo de gestão da rede e mapear o modo de produção e utilização dos produtos dos projetos, envolvendo os atores nos entendimentos difusos dos atuantes "redes" e "inovações tecnológicas e produtos em saúde pública". Utilizou-se como referencial teórico-metodológico a Teoria do Ator-Rede (TAR) para abordar como se desenvolveu o modelo de gestão da rede, a produção científica e sua aplicação. Buscou-se observar as translações na rede sociotécnica, tomando as entidades e materialidades como relacionais e explorando a configuração e reconfiguração dessas relações. Observou-se que a concepção de Rede de pesquisa e de gestão da Rede não estava definida no início da sua formação, sendo elaborada e amadurecida no decorrer do desenvolvimento do programa, com sucessivas transformações em sua aplicabilidade e reorientações das atividades, porém mantendo como orientação a colaboração coletiva. Os conceitos de "Inovação" e "Produtos" estavam igualmente pouco definidos nos documentos e ao longo do processo de trabalho. Essas lacunas dificultaram a aproximação das pesquisas com as necessidades/problemas do território, insuficiente compreensão dos produtos esperados, predominando na percepção dos pesquisadores o "produto em saúde pública" como aquele vinculado à elaboração de trabalho acadêmico: artigo científico, capítulo de livros, entre outros de difusão científica.
B
Tecnologias femininas ou feministas? Os limites do discurso essencialista como estratégia de ampliação da participação de mulheres no setor de TI
Bárbara Geraldo de Castro (Unicamp)Grupo Temático: Gênero, Ciência e Tecnologia: avanços e desafios
Resumo
Castells defendeu que a sociedade da informação traria oportunidades iguais de trabalho para homens e mulheres. No entanto, tais ideais contrastam com a realidade empírica. Quando o setor de Tecnologia da Informação (TI) entrou em recessão no início da década de 2000, no Reino Unido, os cortes de funcionários tiveram um viés de gênero: entre 1999 e 2003, houve uma redução de cerca de 47% do número de mulheres que trabalhavam no setor contra 10% do número de homens. No Brasil, elas compõem 19% do total de trabalhadores do setor (PNAD, 2009).
A teóricas feministas construtivistas dedicadas ao estudo de gênero e tecnologia (Juliet Webster, Judy Wajcman, Cynthia Cockburn etc.) buscavam entender as razões da baixa participação das mulheres no trabalho no setor, considerando o aparato cultural e histórico como a principal explicação para a sua exclusão. Apesar de elas tratarem das definições de masculino e feminino como algo que muda no tempo e no espaço – por causa da mudança da relação das mulheres com a tecnologia ao longo do tempo -, essas definições eram tratadas como fixas para o contexto que estudavam. Muitas delas, ao se valerem de um argumento que buscava desconstruir o essencialismo do masculino e feminino, acabavam por repô-lo. Concluíram, até, que as mulheres possuem um olhar diferente sobre a tecnologia e que elas deveriam usar isso para produzir tecnologias femininas, diferentes das tecnologias masculinas, impostas pelos homens.
Neste artigo, a partir dos dados de minha pesquisa de Doutorado, realizada entre 2009-2013, apresento os diferentes discursos elaborados por mulheres do setor de TI que buscam legitimar e ampliar a presença de mais mulheres no setor. A essencialização do feminino, presente na teoria construtivista, é o que mais aparece no discurso estratégico tanto nas entrevistas individuais realizadas (entrevistas em profundidade realizadas em 2011 em São Paulo e Campinas), quanto nos grupos de mulheres que atuam na TI (observação participante entre 2011 e 2015). Nesse sentido cabe compreender quais são os limites dos discursos que essencializam o feminino para a ampliação da participação de mais mulheres nas áreas de ciência e tecnologia e como podemos avançar, a partir de uma perspectiva não essencialista e feminista, no diálogo com políticas públicas e empresariais que tenham como objetivo diminuir o gap de gênero desses setores.
A construção colaborativa dos artigos sobre aquecimento global na Wikipédia em português
Bernardo Esteves Gonçalves da Costa (revista piauí)Grupo Temático: Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia e as Mudanças Climáticas
Resumo
Dentre os cientistas que investigam a mudança do clima, praticamente todos atribuem a maior parte do aquecimento da temperatura média da superfície do planeta verificado desde o fim do século XIX ao acúmulo na atmosfera de gases do efeito estufa emitidos pela ação humana. Fora da literatura científica, porém, o consenso não se reflete com a mesma força em alguns setores da sociedade e da imprensa. Nesse contexto, é interessante observar como as causas da mudança climática são postas em cena na Wikipédia, a enciclopédia eletrônica que pode ser editada por qualquer usuário com acesso à internet, independentemente da formação ou das credenciais acadêmicas. Sétimo site mais acessado do mundo, a enciclopédia colaborativa é amplamente usada como fonte de consulta na internet – os artigos sobre aquecimento global da Wikipédia em português foram acessados mais de 6,3 milhões de vezes em 2013. Este trabalho propõe investigar a construção colaborativa desses verbetes, a partir da perspectiva dos estudos sociais da ciência e da tecnologia e, em particular, da Teoria Ator-Rede. Num primeiro momento, caracterizamos o ambiente sociotécnico de escrita colaborativa da Wikipédia, discutimos seus princípios editoriais, a forma como a autoridade é construída ali e o lugar do conhecimento especializado. Apresentamos em seguida os resultados do estudo quantitativo e qualitativo de um grupo de 93 artigos sobre o aquecimento global na Wikipédia lusófona. Nesse estudo de caso, identificamos os editores mais ativos, mapeamos as disputas editoriais envolvendo as causas do aquecimento global e os aliados recrutados pelos editores para fazer valer suas alegações. Os resultados mostraram que a Wikipédia em português por muito tempo foi permeável aos questionamentos à origem antrópica do aquecimento global, mas passou mais recentemente a refletir o consenso dos cientistas acerca do papel predominante da ação humana como causa da mudança climática, embora restem espaços em que ainda persistem os argumentos dos ditos céticos do clima. As regras editoriais da Wikipédia tiveram papel central para arbitrar a controvérsia e excluir alegações sem lastro na literatura científica. A Wikipédia atua como porta-voz da ciência e reforça o espaço central que ela ocupa no enciclopedismo desde o Iluminismo, às vezes em detrimento de outras formas de saber.
Integrando debates sobre tecnologia na formação de professores de ciências desde uma Perspectiva Discursiva em Educação CTS: discursos e práticas formativas
Bethania Medeiros Geremias (UFSC)Grupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
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Apresentamos discussões parciais de pesquisa de doutorado implicando a produção de sentidos sobre tecnologia em processo de pesquisa-ação, na qual buscamos problematizá-la no âmbito de propostas de formação de professores de ciências desde uma Perspectiva Discursiva de Educação CTS (LINSINGEN; CASSIANI, 2010), que realiza interlocuções com a Análise de Discurso, os Estudos CTS e teorias críticas de educação. Ao propormos esses diálogos de saberes, nos filiamos à abordagem transcultural defendida por Castro-Gómez (2007) para construir alternativas teórico-pedagógicas mais dialógicas e críticas na formação de professores. Tais articulações são coerentes, pois proporcionam a base para desenvolver dinâmicas educativas condizentes com os cenários latino-americanos e ações educacionais que rompam a cultura do silêncio (FREIRE, 1987) produzida em processos colonizadores (CASTRO-GÓMEZ, 2007; LANDER, 2005). Para tanto, realizamos uma série de estratégias formativas durante processo de Pesquisa-ação, que envolveu estudantes de graduação, professores de escolas, e estudantes de pós-graduação, todos bolsistas do Observatório da Educação. Nesse contexto, coletamos os registros que formam o corpus de análise: questionários, oficinas de leitura de diferentes textos e planejamentos para as aulas de ciências desde a perspectiva discursiva citada. Como resultados parciais, analisamos que as estratégias elaboradas para a mobilização dos discursos possibilitaram a elaboração intersubjetiva de conhecimentos, abrindo espaço para que os efeitos de sentido (Pêcheux, 1990) sobre tecnologia pudessem ser colocados em funcionamento e problematizados. A priori, podemos afirmar que há uma série de temas significativos que envolvem tecnologia-sociedade e ciências que poderiam ser trabalhados desde uma perspectiva discursiva em Educação CTS, pautada em uma abordagem crítica de seleção e organização curricular. Diferentes vias têm sido experienciadas, como demonstraram os trabalhos que recuperamos no processo de revisão, contudo ainda parece ser longo o trajeto, principalmente quando buscamos abordagens que articulem ciência-tecnologia-sociedade, não importando, no caso a ordem linear proposta pelo acrônimo, mas as formas como esses temas podem ser abordados, ou seja, enquanto tecidos sem costuras (THOMAS, 2010), como assim propõem os Estudos Sociais da Tecnologia (EST).
Uma Visão da Luteria Através da Viola da Gamba
Bogdan Skorupa Ribeiro dos Santos (Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Ponta Grossa), Josie Agatha Parrilha da Silva (UEPG), Marcos Cesar Danhoni Neves (univrsidade estadual de maringá)Grupo Temático: Ciência e Techné na História
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Os instrumentos musicais são mais conhecidos do que a própria atividade técnica que os cria, a luteria. Um destes instrumentos musicais, a viola da gamba, oferece uma descrição sobre muitos significados da luteria. Diante da questão "o que é uma viola da gamba?", este artigo tem como objetivo descrever uma análise dos significados materiais e históricos que podem ser conhecidos sobre uma viola da gamba na perspectiva de um observador. A questão será respondida através da análise material pelo ponto de vista da luteria em articulação com a história e acústica peculiar ao instrumento, denotando sua intensa relação entre matemática, física e música que remonta a sua origem e auge do século XV ao XVII. Descreve-se esta análise de forma a orientar um observador que tome contato com a viola da gamba. Toma-se fundamento na fenomenologia existencialista, em especial, desenvolvida a partir de Greene (1978; 1995). Entende-se que há um diálogo entre o observador, que se conecta de maneira imaginativa com os significados e o construtor do instrumento musical, criador destes significados. A partir do observador atento ao objeto, o instrumento musical pode ser uma forma interessante de fornecer estudos sob diversas perspectivas simultâneas e includentes: artísticas, tecnológicas e científicas, assim como colaborar para que a luteria encontre reconhecimento pelas suas criações. O caso particular da viola da gamba é especialmente instigante pela pouca popularidade atual deste instrumento, o qual pode vir a ser melhor reconhecido em sua riqueza histórica e artística.
Tecendo redes sociotécnicas na formação de engenheiros têxteis
Brenda Teresa Porto de Matos (Universidade Federal de Santa Catarina), Marilise Luiza Martins dos Reis Sayao (SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL)Grupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
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Este texto tem como objetivo apresentar um dos projetos que compõem as Práticas Curriculares de Inovação e Desenvolvimento Regional e Interação Social (PIDRIS), enquanto uma proposta de caráter teórico-prático integrada a algumas das disciplinas que compõem a estrutura curricular do curso de Engenharia têxtil, da Universidade Federal de Santa Catarina, campus Blumenau.
O intuito dessas práticas curriculares é construir, conjuntamente com os alunos e professores da área, atividades e estratégias de intervenção em comunidades, instituições, empreendimentos de natureza associativa ou empresas da região, que resultem em um saber/produto para os grupos envolvidos, oportunizando, assim, aos futuros engenheiros começarem a operar com a investigação científica e com a elaboração de projetos, fundamentados em problemas detectados junto a esses atores sociais; em suma, começarem a operar com uma abordagem sociotécnica.
Busca-se suscitar, por meio de uma nova perspectiva de formação de engenheiros, o entendimento de que as sociedades são tecnologicamente construídas, ao mesmo tempo em que as tecnologias são socialmente configuradas. Tendo-se isso presente, a relação problema/solução passa necessariamente por compreender que os problemas, assim como as soluções, são construídos socialmente a partir da interação com os diferentes grupos sociais.
O projeto em foco, denominado: “Modelando uniformes para os jogos de primavera de Blumenau numa abordagem sociotécnica”, iniciado em março deste ano com a segunda turma do curso de Engenharia têxtil, será desenvolvido em etapas, no período compreendido entre 2015-2018. Almeja-se, assim, por meio de uma metodologia baseada na pesquisa-ação e em projetos de intervenção junto a escolas do município, o alcance dos objetivos das práticas curriculares, pautados no desenvolvimento regional e local e em formar profissionais capazes de trabalhar com modelos democráticos, identificando necessidades e transformando-as em soluções negociadas, em processos de adequação sociotécnica.
O desvelamento da rede que abarca a concepção, elaboração e produção de uniformes emerge como um dos objetivos-chave do projeto, possibilitando aos alunos não apenas o acesso a conhecimentos acerca da realidade social em que irão agir, mas também solidificando in loco sua compreensão do artefato tecnológico como um misto de natureza e propósitos humanos.
A tecnologia moderna como mediação das relações antropológicas e o homem unidimensional no mundo contemporâneo
Brenna Karoline Alves Aires (Universidade Federal do Rio Grande do Norte)Grupo Temático: Tecnologia e mediações
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Quais as implicações da tecnologia para a configuração antropológica do ser humano na modernidade? Esta questão está no centro deste estudo que busca compreender introdutoriamente os impactos antropológicos da tecnologia na modernidade a partir da caracterização de unidimensionalidade do homem pelo filósofo Herbert Marcuse e, analisar a contemporaneidade de sua tese. Trata-se de uma investigação filosófica, bibliográfica e descritiva, sobre os efeitos da tecnologia na modernidade, abordados desde uma perspectiva antropológica e onde se segue uma linha de pensamento marcuseana, e seus impactos na sociedade e no próprio sentido de ser na contemporaneidade, analisados por autores como, Zygmunt Bauman, Eric Hobsbawm, Milton Santos e André Gorz. Considerando que “a tecnologia é um fenômeno social, circunscrita a partir de circunstâncias históricas de cada época e, por isso mesmo, passível de identidade variável ao longo da história” (MIRANDA, 2002, p. 4), seu estudo parte da análise da era industrial até os seus reflexos nas relações antropológicas nos dias atuais. A tecnologia é um fenômeno que não pode de modo algum ser desvinculada do uso que lhe é dado; ela cumpre uma função social. Tal como afirma Marcuse (1973), ela possibilita a introdução de necessidades acima do nível biológico e da esfera material do homem, transformando-o em unidimensional: aquele que é possuidor do mundo objetivo como extensão da mente e do corpo humano. Encerramo-nos em um ciclo tecnológico, numa sociedade da microeletrônica onde há, parafraseando Marcuse, uma conquista tecnológica do homem pelo homem: seu pensamento e suas ações agem dependentes de uma racionalidade tecnológica. Por fim, conclui-se que, para entender as relações que circundam os assuntos de ciência, tecnologia e sociedade (CTS), necessita-se alargar as discussões a respeito da relação e função social da tecnologia em nosso meio. Dessa forma, analisar o caráter antropológico da tecnologia é problematizar os impactos da mesma em nosso dia-a-dia, e procurar promover uma visão mais ampla sobre este fenômeno, longe de identificá-la e reduzí-la como instrumento (visão instrumental) ou um mero fazer humano.
O Método Científico na escola: do conteúdo programático à maneira de pensar
Breno de Miranda Marques (Universidade Federal do Rio de Janeiro)Grupo Temático: História das Ciências e da Tecnologia aplicadas ao Ensino
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Esse projeto tem por objetivo abrir a caixa preta que é o ensino do método científico como é tradicionalmente feito nas escolas brasileiras, quiçá propondo uma maneira de trabalhar a metodologia científica que seja mais adequada às demandas da nossa população. Para tanto vamos seguir professores nas escolas atuais, entender que conflitos surgem na lida com esse assunto e com a maneira na qual ele é retratado em materiais de referência para professores e alunos. Vamos seguir também em uma linha do tempo mais antiga o próprio retrato do método científico e sua importância para o cidadão e o país, e de que forma o método consegue penetrar na escola brasileira. O terceiro e último ator a ser seguido é o livro didático, representando a interface entre método e escola. Por ser deveras concreto e delimitado, sua atuação tem claros impactos e suas possibilidades têm claras limitações. Vale o que está escrito, e em disputas sobre gabarito o livro é comumente a referência definitiva. Mas por que aquele conteúdo está no livro daquela determinada forma? A que interesses esse conteúdo respondia? Será que ainda hoje o método científico é retratado no livro didático de modo fidedigno e favorável aos interesses da comunidade tecnocientífica e da população geral? Como ideia propositiva, podemos pensar que possivelmente o melhor modo de retratar o método científico não seja dedicar um capítulo de livro a ele (e ter consequentemente questões pontuais em provas sobre o assunto), mas tê-lo como pano de fundo metodológico em todo e qualquer assunto científico a ser abordado na escola. Nos parece mais interessante que a escola forme pessoas que saibam observar e analisar cientificamente diversas situações com as quais vierem a se deparar. Nessa proposta teremos que pensar em referenciais CTS, epistemológicos, historiográficos e psicopedagógicos.
O campo das alternativas sociotécnicas desde a ótica feminista
Bruna Mendes de Vasconcellos (Unicamp)Grupo Temático: Gênero, Ciência e Tecnologia: avanços e desafios
Resumo
Este artigo é parte de uma pesquisa de doutorado em andamento que visa, a partir do campo dos Estudos Feministas em Ciência e Tecnologia (EFCT), analisar o desenvolvimento de alternativas sociotécnicas protagonizadas por organizações produtivas de mulheres populares no Brasil. Realiza-se o esforço teórico de, a partir da ótica dos estudos feministas da tecnologia, analisar as três vertentes de estudos mais conhecidas no campo das alternativas sociotécnicas, evidenciando aqueles que são os pilares androcêntricos nos mais notórios estudos desse pensamento, e resgatando igualmente as vozes feministas que ao longo desse período contribuíram ao engendramento1 das abordagens do campo. As correntes analisadas são aquela da Tecnologia Apropriada conhecida a partir dos anos 1970 na Europa e EUA, os herdeiros de Gandhi que através da rede Honeybee protagonizam na Índia a construção de Grassroots Innovations2, e por fim as contribuições Latino-americanas ao tema através do conceito de Tecnologia Social. Esse esforço teórico é complementado na pesquisa com uma leitura analítica dos abundantes estudos de caso atualmente sistematizados sobre o desenvolvimento de alternativas sociotécnicas no Brasil, e da incipiente bibliografia sobre organizações produtivas protagonizadas por mulheres. A hipótese que permeia a escolha metodológica da pesquisa é a de que aqueles(as) engajados(as) com a teoria, e consequente prática, de construção de alternativas sociotécnicas negligenciam as desiguais relações estabelecidas entre os gêneros com a tecnologia, e que as pensadoras envolvidas com a construção da autonomia econômica, e produtiva, das mulheres populares subestimam o papel da tecnologia. De forma preliminar, podemos destacar como principais conclusões uma evidente invisibilidade de categorias analíticas do pensamento feminista, como gênero, divisão sexual do trabalho, e a própria categoria mulher, nos escritos dos mais conhecidos autores do campo das alternativas sociotécnicas, combinada a pouca visibilidade das autoras que incluíam essas categorias em suas análises. A pesquisa também indica que permanece uma lacuna no que diz respeito à abordagens engendradas da construção de alternativas sociotécnicas, que poderiam potencializar tanto os debates desse campo, como aqueles engajados com a constituição da autonomia econômica e produtiva das mulheres populares no Brasil.
Construindo redes sociotécnicas de segurança pública: o Sistema Integrado de Comando e Controle
Bruno de Vasconcelos Cardoso (Universidade Federal do Rio de Janeiro - Programa de Pós-graduação em Sociologia e Antropologia)Grupo Temático: Experiências contemporâneas em Antropologia da Ciência e da Tecnologia: etnografia, grandes projetos e escala planetária (ou não)
Resumo
Com a realização da Copa do Mundo de 2014 no país, o Ministério da Justiça, através da Sesge (Secretaria Extraordinária de Segurança em Grandes Eventos), criou o que foi nomeado Sistema Integrado de Comando e Controle (SICC). Este sistema é composto, grosso modo, por Centros Integrados de Comando e Controle (CICCs) espalhados pelas 12 cidades sede, e um 13o no Distrito Federal, centralizando as informações e coordenando os trabalhos locais. Desse modo, a construção de 13 CICCs e a criação do SICC concentraram parte considerável dos recursos destinados à segurança da Copa do Mundo, e são apresentados como principal “legado” deixado pelo evento na área. No âmbito nacional, o SICC representa um novo modelo de ação integrada e coordenada entre diversas agências e instituições, colaborando também para o estabelecimento de uma política securitária comum a todo o país, sob a influência do Ministério da Justiça (vale atentar que a segurança é, majoritariamente, responsabilidade dos Estados e não da União, ressaltando a excepcionalidade dessa experiência). No âmbito local, os CICCs funcionam sob o comando das secretarias de segurança, e são apresentados como os pilares de uma nova forma de gerenciar as demandas e desafios cotidianos de uma metrópole, além de enfrentar situações de exceção ou crise. Os Centros Integrados de Comando e Controle têm como objetivo principal possibilitar, ou facilitar, a atuação conjunta e coordenada de diferentes instituições possivelmente implicadas em questões de segurança pública ou do que vem sendo chamado de “defesa social”. Isso se refere tanto ao manejo de situações cotidianas relativamente comuns a boa parte das grandes metrópoles, quanto ao enfrentamento de catástrofes, crises ou calamidades, ou a organização e a logística de grandes eventos, sejam eles rotineiros ou excepcionais. O presente trabalho trata tanto da criação do SICC quanto do CICC-RJ, maior de todos os prédios utilizados no sistema, onde foi realizada a pesquisa de campo que serve de base para as principais conclusões aqui expostas. Serão apresentadas e discutidas algumas das dificuldades práticas cotidianas relativas ao estabelecimento e tentativa de estabilização das muitas redes sociotécnicas construídas, além do mapeamento de alguns dos mediadores não humanos fundamentais para a composição dessas redes (temporárias ou não).
Percepção e tecnologia no século XXI: interações entre dispositivos tecnológicos e os modos de escuta
Bruno Henrique Cremonez (UFSCar)Grupo Temático: Tecnologia e mediações
Resumo
O Século XX é palco de acontecimentos que vão mudar profundamente a maneira de nos relacionarmos com o mundo. A disseminação da eletricidade e a revolução tecnológica processaram mudanças que atingiram todas as áreas de conhecimento.
Usados de várias maneiras em praticamente todas as sociedades, com as possibilidades tecnológicas atuais, o som e a música foram capaz de transcender os contextos. Ouvimos hoje uma música de 200 anos atrás, ou feita do outro lado do mundo, enquanto dirigimos até o mercado. Propagandas e anúncios influenciam comportamentos e pensamentos através do som e quase não temos a escolha do que iremos ouvir.
Pretende-se abordar, com a pesquisa proposta, a relação entre escuta e tecnologia. Mais precisamente, essa relação dentro da escuta como definida por Pierre Schaeffer e também por Murray Schafer, e após as mudanças tecnológicas processadas no Século XX, que se estendem até hoje, gerando ainda novas interações com os sons. O problema de pesquisa se expressa nas seguintes questões: De que forma as tecnologias atuais de som impactam nos modos de escuta? Quais as consequências sociais deste fenômeno?
A dissertação será construída principalmente em duas fases: através de pesquisa e revisão da bibliografia acerca do objeto, e também através de coleta e análise de dados a partir de entrevista semi-estruturada. A revisão bibliográfica será feita através de leitura sistemática e fichamentos, mapeando as ideias de Tecnologia e de Escuta na medida em que se relacionam. Pretende-se aplicar a entrevista a dois grupos: um de estudantes do curso de música da UFSCar, e outro de estudantes de uma escola pública estatual na cidade de São Carlos. Para concluir, através do cruzamento dos dados com os elementos teóricos da pesquisa, pretende-se abordar os impactos sociais causados pelo problema apresentado.
A pesquisa contribui aos estudos CTS pois versa sobre interações entre tecnologia e modos de percepção socialmente estabelecidos em determinados contextos. A problemática da pesquisa se funda ao redor dos impactos sociais causados pelo advento de novas tecnologias, propondo uma investigação sobre os elementos que influenciam a percepção dos sons e sobre as evoluções tecnológicas que permitiram o armazenamento e difusão do som em massa, caracterizando a formação de um discurso sobre os modos de escuta e sobre a música.
"Yo también quiero ir a Partículas": identidades y agendas de investigación en torno a la elección de temas de tesis de física en el Instituto Balseiro
Barbara BurtonGrupo Temático: Experiências contemporâneas em Antropologia da Ciência e da Tecnologia: etnografia, grandes projetos e escala planetária (ou não)
Resumo
En el presente texto se analizan los resultados de un trabajo de campo etnográfico que estoy realizando en el marco de mi tesis de licenciatura desde marzo de 2014 en el Instituto Balseiro (IB), instituto de formación de grado y posgrado de físicos e ingenieros perteneciente la Comisión Nacional de Energía Atómica (CNEA) y la Universidad Nacional de Cuyo. Me propongo dar cuenta de las representaciones que explicitan los estudiantes, profesores y autoridades del IB en torno a las distinciones entre física teórica y física experimental, ciencia básica y ciencia aplicada, y entre las seis orientaciones en Ciencias Físicas que ofrece el IB a sus estudiantes, durante el proceso de elección de temas de tesis. A su vez, exploraré el modo en que se interrelacionan estos ejes de distinción en prácticas y discursos de los distintos actores, observando articulaciones como las de física teórica aplicada, o física teórica básica por ejemplo. Finalmente, indagaré acerca de la redefinición y discusiones identitarias y la manera en que estas producen tensiones que se ponen en juego en la proyección y consecución de distintas agendas de investigación científica.
A ciência, a "individualidade" e o "progresso": pensando a "educação científica" no Brasil de acordo com a tese do "anarquismo epistemológico" de Paul Feyerabend
Bruno Camilo de OliveiraGrupo Temático: Ciência e Techné na História
Resumo
Essa comunicação propõe uma análise entre o conceito de "educação científica" elaborado por Paul Feyerabend e o modelo de ensino que é propagado na maioria das instituições de ensino no Brasil, de modo que possamos apresentar no fim uma crítica a "educação científica" que é praticada em nossas escolas. A análise será feita também com a compreensão de outros seguintes conceitos pertinentes ao pensamento de Feyerabend: "pluralismo teórico", "oportunismo", "individualismo" e "progresso". Os três argumentos principais, que permitem estabelecer a crítica, podem ser assim enumerados: primeiro, a "educação científica", tal como praticada em nossas escolas, não estimula a criatividade dos estudantes (não há estimulo a processos revolucionários e a inovação); segundo, numa "educação científica", tal como nós temos, praticamente não há possibilidade para que o estudante possa afirmar sua individualidade (não há total liberdade na escolha de procedimentos metódicos); terceiro, a "educação cientifica", em nossas escolas, prepara o estudante para negar a sua própria conjectura histórica por meio de convenções que se estabelecem como padrões (o estudante não é um "oportunista"). Uma vez que a exposição desses argumentos se mostre sustentável levando em consideração os conceitos teóricos de Feyerabend, será fácil visualizar o problema em torno da "educação científica" no Brasil, ou seja, a "educação científica", que é propagada pelas instituições brasileiras, vai contra a "individualidade" do estudante e não oferece estímulos para o "progresso" da ciência, se levarmos em consideração as posições teóricas do pluralismo de Feyerabend.
Desenvolvimento de games: Interações Interdisciplinares entre Pedagogia, Design de Produto e Tecnologias Sociais
Bianca Siqueira Martins Domingos, Maria Cristina Marcelino Bento, Rosinei Batista RibeiroGrupo Temático: Produção de conhecimentos e artefatos - Experiências interdisciplinares em design
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Esta proposta consiste na criação de games adaptados à realidade de um grupo de alunos do município de Lorena, São Paulo, Brasil, em que os preceitos e metodologias das Tecnologias Sociais serão aplicados no sentido de possibilitar alternativas, produtos e técnicas adaptadas e voltadas à realidade de um grupo de atores sociais, levando em conta as demandas emergidas do campo de forma linear entre pesquisador (es) e pesquisado (s). O Design de Produto, neste ínterim, possibilitará a prototipagem rápida 3D destes acessórios que irão compor os jogos. Com a mesma essência das Tecnologias Sociais, porém por vias dicotômicas, a educação também estabelece linearidade nas suas relações, e os games e gamificação na e para a educação são considerados pontos de inovação em educação escolar. Gamificação (original inglês: gamification) é o termo usado para a aplicação de elementos e mecânica de design de jogos, utilizados em outros contextos, que não são jogos eletrônicos. A utilização de games na educação justifica-se por estimular a motivação, raciocínio lógico e cognitivo, pertencimento, compreensão de geometrias complexas, respostas a estímulos sensoriais por meio de texturas a partir da técnica de biônica. Sistemas gamificados apresentam: feedback constante, desafios, competição, recompensa. Dentre os dados apresentados destacamos aquele que utilizaremos para a nossa pesquisa: maioria dos estudos concentra-se em investigar como a gamificação pode ser utilizada na área de ensino para motivar estudantes, aprimorar suas habilidades e maximizar o aprendizado. Considerando que a Pedagogia deve planejar, coordenar e avaliar projetos educativos, de coordenação, gestão e supervisão em espaço escolar e não escolar. Desta forma, o desenvolvimento de games interconecta-se com o Design de Produto na materialização destes jogos, com a utilização de materiais estruturais, com as características mecânicas, físicas e químicas adequadas ao uso cotidiano destes jogos. Para a criação das peças acessórias, serão realizados o detalhamento técnico, sketchings, modelagem 3D e a prototipagem rápida. Estas práticas propõe um rompimento com a compartimentalização de saberes e disciplinas, levando em conta pluralidades culturais e sociais por meio de um movimento exógeno entre a Universidade e a sociedade.
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A fotografia antiga como consumo de memória sobre cidades na rede Social Facebook
Caio Vinicius Targa Rezende (Universidade de Taubaté)Grupo Temático: PROCESSOS TECNOLOGICOS E CULTURA: sociabilidades, saberes populares, assimetrias e meio ambiente
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A vida sem fotografia é um passado sem história, o objetivo deste trabalho é analisar práticas de consumo de imagens de cidades antigas. O objetivo é identificar apropriações que os sujeitos fazem da memória sobre a perspectiva do consumo de fotografias antigas respectivamente das cidades de Taubaté e Pindamonhangaba, estado de São Paulo. A coleta de dados está sendo realizada por meio de entrevistas semi-estruturadas com frequentadores dos encontros presenciais mensais dos referidos grupos virtuais e de análise das intervenções escritas sobre imagens postadas aos usuários das fans pages “Taubaté das Antigas” e “Pindamonhangaba em Fotos Antigas”. As fotografias constituem suporte tecnológico de memória, e nessa direção ela remete a ensejos vividos ou passados entre gerações. Tendo como premissa a discussão sobre a “cultura da memória” na contemporaneidade, busca-se pensar a questão do consumo da fotografia como patrimonialização tecnológica da memória e como narrativas produzidas sobre o passado pela coletividade dos participantes de grupos sociais digitais.
Experiências em pensar os processos produtivos de produtos a partir da perspectiva da Teoria Ator-Rede: Dados Preliminares
Camila Loricchio Veiga (Universidade Federal de Itajubá - UNIFEI), Adilson da Silva Mello (UNIV FEDERAL DE ITAJUBÁ), Douglas dos Santos Lemos Lima (Universidade Federal de Itajubá)Grupo Temático: Produção de conhecimentos e artefatos - Experiências interdisciplinares em design
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Essas experiências são parte de um projeto de pesquisa de mestrado em Desenvolvimento, Tecnologias e Sociedade pela Universidade Federal de Itajubá. Ao pensar processos produtivos de produtos sob a perspectiva do Design de Produto, tem-se uma gama enorme de referencial bibliográfico, mas quando se vai para o artesanato, essas linhas se tornam mais tênues. Ainda mais ao se trabalhar com a perspectiva da Teoria Ator-Rede, construída por Bruno Latour, Michell Callon e John Law, que propõe uma visualização diferenciada, propondo “dar voz” aos atores que não a possuem, os não-humanos, e colocando a pesquisa dentro do laboratório e não apenas sobre o laboratório. A visão de simetria generalizada utilizada pela TAR e essa preocupação em visualizar todos os elementos da rede propicia uma dificuldade e uma possibilidade de ir além, considerando todas as “vozes” ao pensar a pesquisa, pensar o campo, pensar os próprios produtos feitos pelos artesãos, as artesãs e a Associação. Essas experiências na pesquisa advém de um processo de análise sociotécnica, ainda em curso, dentro de uma associação de artesãs localizada em Maria da Fé, no sul de Minas Gerais, que tem como método: inserção e apresentação de pesquisadores na associação, visitas à associação e aos laboratórios das artesãs que concordaram, um total de 17 artesãs, encara-se laboratório como o local onde cada artesão realiza seus produtos, compilação e análise de dados coletados. A intenção reside em trabalhar com o Programa Empírico do Relativismo (PER), trabalhado por Collins, Pinch, Travis e Bijker para auxiliar no conceito de tradução trazido por Latour na TAR e também trabalhar com a CST – Construção Social da Tecnologia como modo de visualizar melhor as relações da rede no momento da análise do campo. São 13 produtos que já tiveram os processos mapeados por conta das entrevistas, desde bonecas de palha de bananeira, cestaria com palha de milho até bonecas de EVA e ímãs de biscuit. As diferenças são grandes ao se considerar a construção de um produto considerando toda a rede, todos os tipos de relações que são travados, que conseguem ser visualizados e considerados através das teorias estudadas. Ainda não se tem toda a inserção no campo completa, por se tratar de uma pesquisa em andamento, mas as questões e experiências ao pensar a rede ao pensar os produtos estão sendo trabalhadas e estudadas.
The walking dead: Estudo sobre o significado da série e sua relação com a sociedade ocidental contemporânea
Camila Nogueira de Sá Boaventura (Universidade de Taubaté)Grupo Temático: PROCESSOS TECNOLOGICOS E CULTURA: sociabilidades, saberes populares, assimetrias e meio ambiente
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Resumo
O presente estudo teve por problema central investigar o significado simbólico do seriado The Walking Dead e sua relação com a sociedade contemporânea para alguns de seus telespectadores. Segundo Giddens a forma de viver em sociedade decorrente da modernidade rompeu com tradições tanto em sua extensionalidade quanto em sua intencionalidade. Economicamente verifica-se a solidificação do capitalismo como modelo, além da globalização do mercado e desenvolvimento tecnológico. A mídia e seus conteúdos diversos de propagandas, comerciais, dentre outros permeiam o cotidiano surgindo novas formas de exploração deste universo, como por exemplo, através da convergência e objetos transmídia. O primeiro se refere à conversão propriamente dita de conteúdos em diversidades de tecnologias. Já as narrativas transmídias apresentam uma nova estética em que uma história desenrola-se através de múltiplas plataformas. A série tomada como objeto neste trabalho se enquadra como transmidiática e convergente. No presente estudo, pensou-se que a enorme repercussão da temática do The Walking Dead nas variadas formas midiáticas são expressões da cultura de massa, própria da sociedade globalizada. Porém, tomando-se por norte as características da contemporaneidade torna-se possível pensar haver um significado presente em tal tema, visto que a arte pode ser entendida como uma forma de mediar expressões do sujeito e sua relação com a sociedade, bem como através do meio cultural serem mediados relações entre instituições e mercado, conforme aponta Barbero. Dessa forma, este se deu através de pesquisa básica, qualitativa quanto à abordagem do problema e exploratória. Utilizou-se como instrumento de coleta de dados fontes bibliográficas pertinentes ao tema e entrevistas semiestruturadas. Objetivou-se entender quais características da sociedade ocidental contemporânea se expressam simbolicamente através da temática exposta na série The Walking Dead para seus telespectadores, sendo que os resultados preliminares apontam para uma correlação estreita entre o sentido simbólico apresentado no seriado e a vida contemporânea. Imprevisibilidade, caos e individualismo foram ressaltados como operadores nas duas esferas: no simbólico do seriado e na sociedade ocidental contemporânea.
Sobre pêndulos e música para máquinas
Carla Bromberg (PUC/SP)Grupo Temático: Ciência e Techné na História
Resumo
Atualmente relacionamo-nos e compreendemos a música como sendo um fenômeno físico de apreciação estética. O som é seu elemento básico e pode ser fisicamente definido por uma onda longitudinal de determinada frequência que se propaga num dado meio. Contudo, ao analisarmos a história da música constatamos que a definição do fenômeno ou causa de sua natureza foi por vezes numérico-matemático, quando não havia teoria do som que o fundamentasse; por outras esteve ligado a fenômenos vibratórios e por outra à oscilatórios. Nesta comunicação gostaríamos de apresentar algumas relações entre música e instrumentos, dentre os quais alguns chamaremos de máquinas, que contribuam para uma interpretação menos linear da física da música dado que, como se verá, está comprometida com as ideias de tempo, de medida e de técnica.
Negociação sociotécnica como parâmetro conceitual na criação de uma Rede Virtual de Leitores para usuários de bibliotecas escolares
Carla Floriana Martins (Universidade Federal de MInas Gerais), Raoni Rajão (UFMG)Grupo Temático: Um olhar sociotécnico sobre o software
Resumo
Temos vivido nos últimos anos, uma experiência única, onde a comunicação e suas tecnologias oferecem infinitas oportunidades para a quebra de barreiras geográficas, lingüísticas e culturais, numa perspectiva cada vez mais relacional. Pesquisas educacionais demonstram que os estudantes aprendem mais e atingem melhores resultados nos seus trabalhos acadêmicos quando tem acesso a uma biblioteca com programas educativos bem estruturados, ambientes físicos, digitais e tecnológicos acessíveis, profissionais qualificados, além de acervos diversificados, em suportes variados e relevantes. Porém, as bibliotecas ainda engatinham na concepção e materialização de espaços virtuais vinculados às informações já existentes em seus softwares de gerenciamento, o que acaba por dificultar os esforços dos seus profissionais para um melhor atendimento aos seus usuários. O objetivo desse estudo é partilhar com os participantes do ESOCITE.BR, o desenvolvimento e monitoramento da criação de uma Rede Virtual de Leitores, vinculada a um Software de Gerenciamento de Acervos, Projeto i10 Bibliotecas, bem como delinear algumas tensões ocorridas neste percurso devido às negociações necessárias para que as escolhas para formulação do software respeitassem as características dialógicas, sociais e culturais já inerentes às bibliotecas e às dinâmicas de rede.
O campo dos Estudos Feministas da Ciência e da Tecnologia: um olhar histórico para três décadas da produção de pós-graduação das regiões Sul e Sudeste
Carla Giovana Cabral (UFRN)Grupo Temático: Gênero, Ciência e Tecnologia: avanços e desafios
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Resumo
Este trabalho trata de apresentar, discutir e analisar dissertações e teses oriundas de programas de pós-graduação das regiões Sul (S) e Sudeste (SE) na perspectiva dos Estudos Feministas da Ciência e da Tecnologia (EFCT), acurando o olhar para aspectos, tais como autores/as e orientadores/as, instituições, áreas de conhecimento, ano da produção e temáticas, entre outros. Esses aspectos contribuem para uma leitura histórica e epistemológica do campo, tentando indicar caminhos pelos quais se deu a circulação do conhecimento científico de pós-graduação e, como isso contribuiu para a constituição dos EFCT no Brasil. Nas regiões S e SE, foram encontrados, entre 1980 a 2011, um total de 82 trabalhos. Esse número resultou de uma análise dos resumos com o qual nos deparamos a partir da pesquisa bibliográfica realizada em bases de dados nacionais e programas de pós-graduação. Além do levantamento bibliográfico e sua análise, iniciamos uma pesquisa na área da história da ciência e com viés de memória com professoras, de forma a valorizar sua trajetória e contextualizá-la no bojo do campo científico. A exemplo do que identificamos na produção científica das regiões Norte (N), Nordeste (NE) e Centro-Oeste (CO), no S e SE há uma variedade de áreas e temáticas, indicando um tecer interdisciplinar. Embora neste trabalho centremo-nos nas regiões S e SE, apresentaremos também resultados da análise preliminar realizada no N, NE e CO, a título de comparação. A análise dos resumos de todas as regiões localiza as primeiras publicações a partir da década de 1980. Há trabalhos publicados em todas as regiões brasileiras na década de 1990, exceto no Norte. Mas é a partir dos anos 2000 que a produção se amplia. Acreditamos que essa amplitude esteja refletindo o surgimento e crescimento de grupos de pesquisa e núcleos de gênero e feminismo, assim como a incorporação de áreas de concentração e linhas de pesquisas articulando gênero, ciência e tecnologia em programas de pós-graduação e a contribuição que o aumento dos espaços para os EFCT em eventos científicos regionais, nacionais e internacionais, seja em simpósios temáticos, grupos de trabalho ou mesas-redondas. As professoras Ângela Maria Freire de Lima e Souza e Marília Gomes de Carvalho sobressaem-se em número de orientações de teses e dissertações no campo dos Estudos Feministas da Ciência e da Tecnologia no período estudado.
O mundo do trabalho na obra Jorge, um brasileiro, de Oswaldo França Júnior
Carla Prado Lima Silveira Vilela (Universidade Tecnológica Federal do Paraná)Grupo Temático: Saúde, Trabalho e Desenvolvimento
Resumo
O presente estudo vincula-se ao Projeto de Pesquisa “A formalização discursiva do universo do trabalho e da tecnologia em textos literários brasileiros”, do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. A análise consiste em uma investigação das construções discursivas sobre o mundo do trabalho no romance Jorge, um brasileiro, de Oswaldo França Júnior, publicado em 1967. Como embasamento teórico para o campo da linguagem e da literatura tem-se os conceitos de Mikhail Bakhtin, proposta que auxilia a perceber certas peculiaridades artísticas e composicionais da estrutura do romance, a partir da matriz dialógica como princípio constitutivo de todo discurso. Para o mundo do trabalho a pesquisa pauta-se nas reflexões de pensadores que contribuíram para um olhar mais crítico sobre essa temática na obra, como Marx e Engels, Lukács, Gorz, Marcuse e Antunes. Os discursos sobre o trabalho são investigados a partir da dicotomia entre dois planos enunciativos ambivalentes no romance, o da sociedade capitalista, onde paira a exploração daquele que ganha o pão com o suor do rosto, e o do trabalho coletivo e socializado, que cria um universo simbólico sutil em que é possível o trabalho e as relações sociais carregarem sentidos mais humanos. O primeiro plano aponta para um certo fatalismo quanto à jornada do trabalhador que vende sua mão-de-obra na sociedade de mercado e, por mais que lute e se esforce, não logra romper com a hierarquização social ou ter uma vida mais emancipada. O segundo plano é tido simbolicamente como campo de resistência ao modelo produtivo hodierno, e apresenta uma arquitetônica dotada de certa positividade, pelo trabalho conjunto em interação com a natureza e pelos momentos comuns de lazer e auxílio mútuo entre os nove caminhoneiros, na jornada pelo interior de Minas Gerais.
Avaliação em ciência e tecnologia, para além do quadro de indicadores: O caso da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa no Brasil
Carlos Alberto Montero Corrales (Universidade Estadual de Campinas), Milena Pavan Serafim (UNICAMP)Grupo Temático: Política de Ciência e Tecnologia
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Resumo
A Associação Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (Associação RNP) tem apoiado o desenvolvimento das universidades e institutos de pesquisa por mais de duas décadas no Brasil. Desde sua criação como organização social (2002) de interesse público celebra Contratos de Gestão com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. A Associação RNP provê serviços de acesso à internet académico administrados pela gestão do Contrato de Gestão que incorporam atividades de acompanhamento, avaliação e ações corretivas. O objeto desta pesquisa é o mecanismo de avaliação institucional o qual tem percorrido por mudanças que focaram em alterações, principalmente, no quadro de indicadores, contudo essas não têm sido suficiente para afrontar a prestação de contas em relação aos benefícios e prejuízos sociais dos programas em ciência e tecnologia executados pela organização. Faz-se interessante explicar a trajetória (2002-2015) da gestão, componentes e procedimentos do Modelo de Acompanhamento e Avaliação do Desempenho Institucional (MADI), questionando: Qual é a situação observada pelo MADI? Quais são as interrogantes avaliativas? Qual é o método de avaliação selecionado? Qual é a problemática (conceito nativo) que atende a Associação RNP? Quais tem sido os critérios de avaliação e a sua funcionalidade do MADI? Tenta-se desnaturalizar a ideia de que a avaliação é a aplicação mecânica de técnicas e metodologias ao valorar os programas de ciência e tecnologia desenvolvidos na Associação RNP. Pelo contrário, compreende-se que o processo político (ideologia, interesses e informações, segundo Carol Weiss (1986)) é inerente ao desenho, implementação e desenvolvimento dos processos avaliativos das políticas públicas nas organizações sociais em ciência e tecnologia. Esta pesquisa é qualitativa já que as informações serão analisadas no intuito de explicar o caso particular da organização-objeto sem ânimos de generalizar as conclusões do estudo. Como fontes de informação primaria aplicara-se uma entrevista semiestruturada aos funcionários encarregados da gestão do MADI. As fontes secundarias serão geradas da revisão documental dos documentos institucionais da organização. Espera-se que este trabalho possa contribuir nas reflexões sobre a compreensão dos processos avaliativos para além do quadro de indicadores e sua influência na tomada de decisões institucionais.
Teoria-Ator-Rede (ANT) e Design de Ambientes
Carlos Magno Pereira (Universidade Federal de Itajubá), Rita de Castro Engler (Universidade do Estado de Minas Gerais)Grupo Temático: Produção de conhecimentos e artefatos - Experiências interdisciplinares em design
Resumo
A presente pesquisa tem como viés propor um estudo de Design de Ambientes a partir da Teoria-Ator-Rede (ANT) em comunidades artesãs situadas nas cidades de Itajubá e Piranguçu, ambas localizadas na microrregião de Itajubá no Sul de Minas Gerais. A ANT parte da convicção que os artefatos tecnológicos, têm um importante papel na construção do restabelecimento da relação entre os mediadores entendidos como “humanos e não-humanos”, a partir da compreensão da rede. A partir da ANT pretende-se entender quais as suas contribuições na construção de projetos de Design de ambientes nos locais a serem pesquisados. Neste sentido, há uma preocupação com a compreensão da relação ambiente, humano e artefato. De tal via, a partir desse cenário, propõe-se apresentar ferramentas para a construção social de um ambiente condizente com os estudos realizados e discutir as aplicações do Design de Ambientes por meio da análise sócio-técnica de processo em movimentos sociais. O Design de Ambientes é uma atividade criativa de caráter interdisciplinar que se dedica ao planejamento da ocupação dos ambientes habitados, internos e externos onde se tem como foco o usuário do projeto levando em consideração os aspectos funcionais, estéticos, simbólicos, socioeconômicos e cultural. Ao se pensar que o Designer de Ambientes tem como eixo de atuação a realização de projetos intrínsecos (não se repetem por condições da rede) e, por isso mesmo, de grande complexidade pelos vínculos estabelecidos, o presente projeto de pesquisa estabelece então uma relação metodológica que busca superar a dicotomia humano/artefatos e sua relação com o ambiente. A metodologia consiste em revisão bibliográfica, pesquisa de campo com intuito de recolher dados referentes aos valores culturais locais e relacioná-los aos artefatos produzidos pelas comunidades artesãs e análise e interpretação dos dados coletados registrado em texto dissertativo, tendo como base a ANT. Entretanto, pode-se mencionar que ao utilizar a ANT para propor um estudo de projeto em Design de Ambientes torna-se relevante compreender as afetações na rede, uma vez que se parte do pressuposto que os artefatos não compõem o “social” nem contribuem para tomada de posições e/ou formação de comportamentos dentro de rede.
AGRADECIMENTOS: DTecS/FAPEMIG/UNIFEI
Do crivo ao livro: A Etologia para além do artigo científico
Carolina Alves dAlmeida (Universidade Federal do Rio de Janeiro)Grupo Temático: Estudos CTS, Práticas Psi e Modos de Produção de Subjetividades
Resumo
O processo de construção de fatos científicos na Etologia é um campo de experiências ontológicas, onde são construídas redes heterogêneas com diferentes atores humanos,não-humanos, cientistas, não-cientistas. Tais atores, trabalhando juntos em situações dinâmicas, trocam, coproduzem e reproduzem conhecimentos híbridos e múltiplos, combinando perspectivas subjetivas, objetivas, científicas, não-científicas e etnocientíficas. Busco discutir a importância da literatura extracientífica na expressão da produção científica da Etologia inexprimível através da linguagem científica formal, objetiva e “pura” dos artigos científicos. No fechamento da caixa-preta da Etologia, relatos anedóticos, histórias reais e fictícias não purificadas e não purificáveis de relações intersubjetivas de amizade, amor, empatia, entre animais e humanos são descartadas. Tais narrativas “impuras” são resgatadas nos livros, que reabrem, desvelam e revelam caixas-pretas. Comparando a linguagem/literatura científica dos artigos de Etologia, com a linguagem/literatura extracientífica e poética sobre comportamento animal, pretendo reunir e combiná-las, enfatizando a importância dos livros extracientíficos para o enriquecimento conceitual da Etologia. Tal literatura (narrativa, romance, ficção, zoopoesia) não é externa à produção de conhecimento científico, mas faz parte dessa bricolagem. Alguns etólogos expressam suas experiências através de narrativas que combinam perspectivas subjetivas e objetivas. Marc Bekoff escreve livros sobre sentimentos e relações de amizade com/entre animais, já que não pode escrever sobre isso em artigos científicos. No Artigo é cognição, no Livro é mente animal. E a zoopoética com o devir-animal e resgate da animalidade humana? Obras literárias que revelam diálogos intersubjetivos, comunicação interespecífica, vida sentimental, inexprimíveis através do discurso e linguagem científica, só existem oficiosamente para a ciência. Com o deslocamento da análise da Etologia do artigo científico para o livro (na dinâmica da produção) constatamos que a literatura extracientífica exerce papel fundamental como parte da coprodução e constituição epistemológica híbrida da Etologia como tecnociência multidimensional. As narrativas fictícias e as anedoticamente reais dos livros, resgatam conhecimentos relevantes do comportamento animal perdidos na finalização do artigo científico.
O Programa de Pós-Graduação em Tecnologia para o Desenvolvimento Social (PPGTDS) do Núcleo Interdisciplinar para o Desenvolvimento Social (NIDES/UFRJ)
Celso Alexandre Souza de Alvear (COPPE/UFRJ), Felipe Addor (UFRJ), Flávio Chedid Henriques (IPPUR/UFRJ)Grupo Temático: Programas de Pós-Graduação em Estudos CTS & políticas científicas e tecnológicas para inclusão socioprodutiva: um debate
Resumo
Este resumo tem como objetivo apresentar o Núcleo Interdisciplinar para o Desenvolvimento Social (NIDES/UFRJ) e seu Programa de Pós-Graduação em Tecnologia para o Desenvolvimento Social (PPGTDS) como estratégias de formação de quadros dentro de uma abordagem ECTS. O NIDES é resultado do acúmulo prático e teórico de diversas iniciativas de extensão, pesquisa e ensino, que desde 1994 buscam problematizar a atuação das engenharias a partir das atividades desenvolvidas por seus estudantes, técnicos e docentes. A proposta deste mestrado profissional foi concebida tendo em vista que várias dessas atividades de extensão que deram origem ao NIDES, resultaram em projetos de pesquisa ao longo de seu desenvolvimento. Busca-se assim suprir a deficiência de formação crítica dos técnicos (VIEIRA PINTO, 2005), que faz com que a epistemologia da técnica seja exercida apenas por profissionais de áreas não tecnológicas, como a filosofia e as ciências sociais. O problema em não se debruçar sobre tais relações sociais é que tal miopia obscurece os quadros de referências (MARQUES, 2005) que embasaram as decisões tomadas pelos técnicos no processo de criação. Trata-se, portanto, da necessidade de desenvolver uma teoria crítica e, também, métodos de atuação dos engenheiros que os permitam concretizar ações voltadas para o desenvolvimento social. Em Lianza e Addor (2005), temos o conceito de solidariedade técnica. Para os autores, implementar nas relações sociais e ambientais a solidariedade técnica exige uma responsabilidade recíproca, construída a partir do diálogo livre e qualificado entre os atores sociais, os representantes do capital e os poderes governamentais. As linhas de pesquisa que compõem o PPGTDS – Gestão participativa, Tecnologia Social e Trabalho e Formação Politécnica– têm como base comum, atrelada aos objetivos da proposta, o interesse em promover conhecimentos e práticas que problematizam tradicionais cisões: teoria e prática, universidade e sociedade. A interdisciplinaridade como método praticado pelos docentes envolvidos na proposta, que se materializa em projetos e laboratórios com repertório crítico e interventivo, recompõem dissensões históricas que se mostraram, em que pesem avanços tecnológicos, no empobrecimento do repertório acadêmico e de práticas articuladas promotoras do desenvolvimento social.
A normalização da cesárea em imagens: elementos discursivos que colocam a cirurgia como um modo normal de (fazer) nascer
Claudia Bonan Jannotti (Fundação Oswaldo Cruz), Andreza Rodrigues Nakano (IFF/Fiocruz)Grupo Temático: Estudos Sociais das Ciências e das Tecnologias em Saúde Sexual e Reprodutiva
Resumo
Procedimento cirúrgico e, portanto, privativo dos médicos, a cesárea ocupa lugar destacado nos debates públicos e médicos, representando mais de 50% dos nascimentos no Brasil. Este trabalho discute a tese da normalização da cesárea como modo de nascer na atualidade. Analisamos imagens relacionadas ao parto e à cesariana, acessadas em buscas livres no Google Imagens® e compiladas não sistematicamente, durante quatro anos (2011-2015). Consideramos a imagem como uma das instâncias onde os discursos são produzidos; uma expressão de linguagem que tece nossa interação com o mundo. As cerca de 80 imagens compiladas ofereceram uma diversidade de formas como a cesariana é colocada na cena. Considerando o seu caráter cirúrgico, observamos que a apresentação do corte, do sangue e da intervenção profissional são colocadas no centro das imagens que tem uma representação técnica do procedimento. De outro modo, vemos imagens que explicitamente tiram o foco do procedimento para direcioná-lo ao evento do nascimento, marcando a cesárea como uma forma de (fazer) nascer. Com o foco no evento do nascimento, a mulher aparece acordada, interativa com os demais sujeitos em cena e, algumas vezes volta-se diretamente para o ângulo de onde são feitas as imagens; esta representação confronta ideias de que o evento cirúrgico coloca a mulher em desvantagem no que concerne ao protagonismo no parto. De modo importante, vemos também que as imagens informam um novo arranjo – técnico e relacional – no procedimento cirúrgico: imagens de profissionais mostrando o bebê à mulher, ou colocando-o junto dela, ou ainda, imagens da mulher, seu companheiro e o bebê posando para a foto, enquanto - pelo espaço temporal entre a retirada do bebê e a finalização da cirurgia – a sutura dos planos cirúrgicos está sendo realizada. De modo mais emblemático, é possível identificar as inovações na técnica cirúrgica: como na imagem em que a mulher, com as mãos enluvadas, retira, ela mesma, o bebê através do corte cirúrgico realizado pelo médico. Identificamos que as imagens compiladas apresentam uma cesárea marcada por valores de estética do parto, de afetividade, de simplicidade, de segurança e de modernidade. A imagem de uma cirurgia clean e organizada se destaca como um dos elementos que podem promover a incorporação da cesárea como uma via de parto.
El cambio de la matriz energética en Uruguay: interacciones entre actores y políticas de CTI
Claudia Cohanoff (Universidad de la República), Lucía Simón (Universidad de la República), Soledad Contreras (Universidad de la República)Grupo Temático: Política de Ciência e Tecnologia
Resumo
La fuentes utilizadas para la producción de energía eléctrica en Uruguay han sido históricamente los combustibles fósiles y la energía hidráulica (la primera importada en su totalidad y la segunda producida de forma local). El aumento en la demanda energética y el agotamiento de las posibilidades de incrementar la capacidad de generación hidroeléctrica en la década de los `90, marcó el precedente para trabajar en el cambio de la matriz energética. Esto llevó a que en el año 2008 se aprobara la nueva Política Energética Nacional concebida como un instrumento de desarrollo e integración social.
Con una institucionalidad relativamente nueva en Ciencia, Tecnología e Innovación (CTI) en la que se destaca la creación del Gabinete Ministerial de la Innovación y de la Agencia Nacional de Investigación e Innovación en el año 2005, el apoyo específico a la investigación e innovación en el área de energía es aún incipiente. Sin embargo, en el proceso de transformación de la matriz energética nacional se identifican diversas interacciones entre la academia, actores políticos y del sector productivo, que involucran demandas de desarrollo de nuevo conocimiento y apoyo para su generación. Este estudio se centra en el desarrollo de la energía eólica en particular y la pregunta nuclear es la siguiente: ¿Constituyen las interacciones no sistemáticas entre los actores involucrados en el desarrollo de la energía eólica en Uruguay una política implícita de incentivo a la investigación?
En tal sentido, el objetivo de este trabajo es analizar el relacionamiento entre la academia, el gobierno y las empresas del sector energético en el proceso de transformación de la matriz energética uruguaya y dilucidar el rol que juega la interacción entre actores en la creación de nuevo conocimiento.
Como principal estrategia de investigación se usan entrevistas semi-estructuradas a informantes calificados. A partir de las mismas se describe el rol de cada uno de los actores en el desarrollo de la energía eólica y sus interrelaciones, para lo que se utiliza como herramienta el mapeo de actores. Se analiza la relación sinérgica entre la política sectorial de energía (concebida como política de CTI) y la creación de nuevo conocimiento científico.
Games, café e pornografia: da excitação à depressão, um estudo de caso
Cláudia Dias Prioste (Faculdade de Ciências e Letras - UNESP Araraquara)Grupo Temático: Estudos CTS, Práticas Psi e Modos de Produção de Subjetividades
Resumo
O presente estudo parte de um caso clínico de ciberdependência para discutir alguns aspectos da produção de subjetividades excitadas e, paradoxalmente, depressivas. Consideramos que as psicopatologias contemporâneas podem servir-nos como uma lente de aumento de processos de socialização induzidos por um psicopoder tecnológico nutrido pela exploração de pulsões perverso-polimorfas, destacadas por Freud (1905/1996) em Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. O caso em questão diz respeito a um homem de 38 anos atendido em uma instituição de saúde pública com quadro de depressão grave. Wilson (nome fictício) não saia de casa há mais de três anos, restringindo sua vida aos games, ao café e à pornografia virtual. O hábito de jogar videogames iniciou-se na adolescência como uma maneira de não pensar nos conflitos familiares decorrentes do alcoolismo paterno. Além disso, experimentava nos jogos sensações múltiplas e uma superioridade difícil de ser conquistada nas relações concretas. Trabalhou na área de informática, mas teve dificuldades para manter-se nos trabalhos. Wilson abandonou o emprego passando a viver totalmente dependente dos pais idosos que recebiam uma mísera aposentadoria. Seu processo de isolamento nos remete ao personagem Gregor de Kafka, cujo corpo tornara-se progressivamente enrijecido, lento, até atingir a inércia. Suas memórias se perderam nas hiperconexões, seu desejo sexual hipostasiou-se nas imagens técnicas repetitivas, sua existência outrora hiperexcitada pelos dispositivos audiovisuais, tornara-se vazia e sem sentido. Segundo Türcke (2010), o paradigma da sensação na sociedade de consumo é sustentado pelo fetiche e pelo vício. Uma alternativa à opressão capitalista sobre o operário é o entorpecimento por meio da aguardente, das drogas e dos choques audiovisuais. No caso em questão o pai de Wilson recorreu à cachaça e ele, à internet, buscando satisfações substitutivas em contraponto à vida pacata. Na perspectiva de Flusser (2008) a superficialidade das imagens técnicas seduz ao ponto de consumir a vontade humana. O próprio programador é programado e o imaginador é condenado à opacidade dos pontos eletromagnéticos. Deste modo, os aparelhos podem realizar uma antropofagia do espírito, sugando os sentidos enquanto o sujeito estiver se distraindo.
Uma visão das relações contratuais da Universidade Estadual de Campinas: 2000-2012
Claudia Naomi Sakashita (unicamp), André Luiz Sica de Campos (Universidade Estadual de Campinas)Grupo Temático: Gestão da Tecnologia e Inovação nas Universidades Latinoamericanas
Resumo
Autores:
Claudia Sakashita (Faculdade de Educação – Unicamp)
André Luiz Sica de Campos (Faculdade de Ciências Aplicadas – Unicamp)
Sandoval Salvador (Faculdade de Educação – Unicamp)
Argumentos
Estuda-se o caso da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), uma universidade de pesquisa, que tem explicitamente procurado, desde sua origem atuar em proximidade com a indústria (Gomes, 2001, Castilho, 2008). Verifica-se um crescimento apenas moderado no número de contratos, com concentração nas disciplinas aplicadas. Sendo a Unicamp uma universidade com vocação para a aplicação no conhecimento e dotada de capacidade de formação em nível de pós-graduação, é plausível a hipótese de que outras universidades no Brasil tenham apresentado aproximação ainda mais modesta com usuários do conhecimento.
Metodologia
Estudam-se os contratos de cooperação entre os anos 2000 e 2012. Propõe-se um levantamento dos contratos estabelecidos entre a Unicamp e instituições externas, a fim de mapear as parcerias na sua frequência, intensidade, tipos e natureza de instituições que se interessaram em estabelecer tais parcerias, tipos de contratos, valores financeiros envolvidos e duração.
Contribuição para a literatura
Apesar da Unicamp experimentar um incremento no número de contratos, no quinquênio 2008-2012 verifica-se uma acomodação com tendência a estagnação. Em termos de perfil disciplinar, destacam-se o campos aplicados em detrimento das ciências fundamentais e das ciências sociais, humanas e das artes. Estendemos assim, as conclusões de Gomes (2001), sobre os anos 1990, que considerou que a relação entre a Unicamp e os usuários do conhecimento tivesse perfil de curto prazo.
Referências
CAMPOS, A. (2010) A review of the influence of long-term patterns in research and technological development (R&D) formalisation on university-industry links. Revista Brasileira de Inovação, 9, 379-410
CASTILHO, F. (2008) O conceito de universidade no projeto da Unicamp. Ed. Unicamp, Campinas
GOMES, Erasmo José. A relação universidade empresa no Brasil, testando hipóteses a partir do caso Unicamp. Tese doutorado Instituto de Geociências da Unicamp. Campinas. 2.001.
Sistemas de Informação em Políticas Públicas para Mulheres
Cleison Ribeiro Ayres (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), Nanci Stancki da Luz (Universidade Tecnológica Federal do Paraná)Grupo Temático: Gênero, Ciência e Tecnologia: avanços e desafios
Resumo
Este trabalho apresenta resultados da primeira fase de investigação de uma pesquisa de mestrado que tem como objetivo analisar os sistemas de informação de dados utilizados pelas Secretarias Municipais de Políticas Públicas para Mulheres e sua contribuição para a efetivação do enfrentamento da violência contra a mulher. A investigação ocorrerá em duas cidades de porte médio com população entre 100 e 200 mil habitantes localizadas no Paraná e, que em sua estrutura contam com uma Secretaria voltada para a promoção, garantia e defesa dos direitos para mulheres. A violência contra a mulher está entre as principais formas de violação dos direitos humanos, trazendo grandes prejuízos no que concerne ao direito à vida, à saúde e à integridade física. Deste modo, todos os aspectos das políticas de enfrentamento dessa violência devem ser considerados e analisados. Vale destacar que o conceito de violência contra a mulher é bastante amplo e compreende a violência doméstica (que pode ser psicológica, sexual, física, moral e patrimonial), a violência sexual, o abuso e a exploração sexual de mulheres, o assédio sexual no trabalho, o assédio moral, o tráfico e a violência institucional, que são temas discutidos no Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (2013-2015) nas três esferas de governo. Entendemos que decisões no campo das políticas públicas sempre levam em conta aspectos políticos, sociais e econômicos, mas também trazem consigo aspectos “técnicos” que devem ser considerados e aprimorados de forma a contribuir para a efetivação da política. Para a coleta de dados será utilizado a entrevista semi-estruturada que será realizada com gestores públicos, além da aplicação de um questionário que identifique como são armazenadas, tratadas e fornecidas as informações sobre casos de violência contra a mulher, bem como obter um diagnóstico do uso e das relevâncias das tecnologias para as políticas públicas. Assim, busca-se sinalizar funções e processos destes sistemas, que são necessários para apoiar a tomada de decisões e para a concretização das políticas na área de enfrentamento da violência contra a mulher
Gravidez Inesperada: estudo sobre as (in)certezas da fertilidade feminina
Corina Helena Figueira Mendes (Fundação Oswaldo Cruz / Instituto Nacional de Saúde da Mulher, Criança e Adolescente Fernandes Figueira)Grupo Temático: Gênero, Ciência e Tecnologia: avanços e desafios
Resumo
Este estudo analisou aspectos envolvidos na construção das noções de concepção e contracepção de mulheres que, acreditando estarem intervindo em seus processos reprodutivos, viveram histórias do que foi denominado gravidez inesperada. Para empreender tal investigação foi utilizado referencial teórico que considerou a historicidade do saber médico sobre o corpo feminino e sua apropriação pela cultura e, como fonte primária de informações, as narrativas de três mulheres, profissionais de saúde. A análise apontou que elas, no vórtice de informações, não eram meras reprodutoras de comportamentos preconizados pelo discurso das estudos acadêmicos, políticas públicas, prescrições médicas ou informes farmacêuticos. Em suas histórias, as escolhas e as práticas contraceptivas estavam referidas a redes de saberes familiares. A informação compreende uma realidade que pode ser teoricamente medida pelo cálculo de probabilidades, sendo o valor informativo de um acontecimento inversamente proporcional à sua probabilidade. Assim, um acontecimento como as gravidezes que ocorreram nas circunstâncias narradas por elas seriam bastante possíveis. Mas mesmo assim as surpreendeu, sinalizando para um comportamento de desafio frente à própria fertilidade.
Sobre o consumo de medicamentos para a melhora cognitiva e do humor: primeiros passos de uma cartografia das controvérsias
Cristiana de Siqueira Gonçalves (Programa de Pós-Graduação em Psicologia)Grupo Temático: Estudos CTS, Práticas Psi e Modos de Produção de Subjetividades
Resumo
O avanço biotecnológico tem possibilitado o aparecimento das enhancement technologies, intervenções que visam a melhora do funcionamento ou de características humanas para além do sustento da saúde ou reparo do corpo (Hogle, 2005). Uma dessas intervenções, é o consumo de medicamentos para a melhora da performance cognitiva e do humor, tais como o metilfenidato e os antidepressivos.
O metilfenidato, que inicialmente era restrito ao tratamento de crianças com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), teve seu uso estendido quando o diagnóstico de TDAH passou a abranger pessoas em idade adulta (Conrad, 2007). Atualmente, vemos uma apropriação de seu consumo para fins de enhancement, que tem repercutido na mídia através de notícias de “concurseiros” e executivos que fazem uso dessas substâncias para conseguir estudar ou trabalhar por mais horas e bater suas metas. O antidepressivo, surgido nos anos 50, que teve relutância em ser comercializado pela indústria farmacêutica, por falta de mercado para o mesmo (Aguiar, 2004), teve grande expansão nos anos posteriores. Atualmente, o aumento nas prescrições desses medicamentos, leva ao questionamento se este consumo está associado ao aumento de transtornos ou a questões próprias da vida que estão sendo medicalizadas.
Vemos assim, uma apropriação e aumento do consumo desses medicamentos que não está livre de controvérsias. Há uma indefinição das fronteiras que definem o que seria considerado patológico - cuja intervenção estaria voltada para o tratamento - e o que seria considerado “normal” – cuja intervenção estaria voltada para o aprimoramento da performance. Além disso, questões éticas também controversas, como a segurança desses medicamentos, a possibilidade de coerção ao seu consumo, a justiça distributiva e a redefinição da natureza humana se fazem presentes, tendo efeitos sobre a produção da subjetividade contemporânea.
Nesse sentido, o presente trabalho visa cartografar tais controvérsias envolvidas no consumo de medicamentos para fins de enhancement, buscando entender melhor essa rede sociotécnica heterogênea - composta por humanos e não-humanos –, fruto de associações, debates e discussões entre diferentes atores, que tem se estabelecido de determinada maneira, mas pode ser constituída diferentemente, performando outras realidades.
As epistemologias da episiotomia: uma análise sobre a (des)construção do conhecimento na prática obstétrica
Cristiane Kampf (Universidade Estadual de Campinas - Unicamp), Rafael de Brito DiasGrupo Temático: Saberes do corpo e sobre o corpo: formas de conhecimento, experiência, ciência e expertise
Resumo
O trabalho analisa alguns aspectos epistêmicos que possibilitaram a invenção e a introdução da episiotomia na prática obstétrica no século XVIII e de que maneira ela se difere do cenário atual de crise dos paradigmas da ciência moderna. A episiotomia é um corte cirúrgico na pele e músculos localizados entre a vagina e o ânus da mulher (períneo) para, supostamente e de acordo com a obstetrícia intervencionista, facilitar a passagem do feto alargando o canal de parto. É a única cirurgia realizada no corpo de uma mulher saudável sem que seja necessário seu consentimento e, de acordo com a Pesquisa Nascer no Brasil (Fiocruz, 2014), é atualmente praticada em 53,5% das parturientes brasileiras que fazem parto normal. Introduzida na assistência obstétrica em 1742, o procedimento está enfrentando oposição crescente tanto de não-especialistas como de profissionais da obstetrícia adeptos da humanização do parto e do nascimento, sendo por muitos considerado "mutilação genital feminina". Consideramos esta oposição como um dos resultados decorrentes da crise da ciência moderna e dos sistemas especialistas que atualmente vivenciamos e pretendemos discutir, com base em conceitos dos Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia, de que forma a produção científica e atuação profissional de obstetras (adeptos ou não da humanização do nascimento) são permeadas por aspectos políticos, culturais, econômicos e sociais. Levando em conta conceitos como agência; não-neutralidade científica; produção social do conhecimento/conteúdo científico; e tecnificação do cotidiano das sociedades e interações humanas, analisamos o conteúdo de entrevistas/posts/sites/blogs/comentários de obstetras e parturientes na internet/redes sociais. O conteúdo qualitativo e quantitativo colhido em pesquisas acadêmicas e notícias sobre o tema, assim como durante o I Simpósio Internacional de Assistência do parto: ciência, cuidado e tecnologia (01 a 04 de maio de 2014, em São Paulo) e no Encontro Regional pela Humanização do Parto e do Nascimento em Campinas (08 de novembro de 2013) também constitui base importante sobre a qual desenvolvemos a análise. As informações coletadas evidenciam uma espécie de naturalização da episiotomia nas narrativas e práticas médicas, por meio da qual a parturiente e o nascituro são deslocados pela ciência e pela técnica.
CinePsi: fazer e pensar psicologia na articulação com cinema
Cristiane Moreira da Silva (Universidade Católica de Petrópolis), Américo de Araujo Pastor Junior (NUTES/UFRJ), Pedro Rodrigues de Almeida (Autônomo), Raphael Curioni Raia (Autônomo), Sylvio Pecoraro Júnior (Universidade Católica de Petrópolis)Grupo Temático: Estudos CTS, Práticas Psi e Modos de Produção de Subjetividades
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Resumo
Observando o uso frequente de filmes como estratégia metodológica de ensino no curso de Psicologia da Universidade Católica de Petrópolis e as referências à filmes que os estudantes colocam em discussão nas aulas tomamos como fio condutor dessa pesquisa o que pode produzir a articulação Cinema e Psicologia. Interessa-nos de que maneira conteúdos curriculares emergem nos discursos de estudantes e professores e engendram formas de pensar e fazer psicologia. Para tal foi criado o CinePsi que consiste em reuniões mensais para assistir e debater filmes selecionados por professores e estudantes do curso de Psicologia com conteúdos que atravessam as disciplinas curriculares. Neste dispositivo as expertises estão diluídas, não há palestrante e a seleção do filme é negociada com os participantes. O material alvo das análises são as gravações dos debates realizados após a exibição e o rastreamento de comentários, compartilhamentos de textos, sugestões de outros filmes e discussões disparadas pelo encontro no CinePsi em redes sociais que conectam os atores envolvidos. Como inspiração metodológica convocamos a teoria ator-rede utilizando as ferramentas do campo de estudos da Ciência Tecnologia e Sociedade, destacando o trabalho desenvolvido por Latour (2008), entre outros autores, priorizando uma boa descrição como estratégia para produção de análises que evidencie a dimensão política da pesquisa seguindo os atores em ação e tendo em mente que fazemos existir realidades. Deleuze (1990) explica o dispositivo como “máquinas de fazer falar e de fazer ver”. Nessa direção objetivamos deixar falar com o CinePsi estudantes e professores, tornar visíveis os discursos que fortalecem ou produzem. Tal espaço configura-se como um espaço-tempo privilegiado para que sejam produzidas e evidenciadas subjetividades em circulação na formação psi. A pesquisa iniciada em setembro de 2014 e ainda em curso apontou um recorte das reflexões em torno de questões emocionais e familiares dos personagens que, problematizado nos encontros, nos parece consequência de uma prática psi que toma este como seu campo de atuação e, consequentemente, destaque na formação. Apostamos no CinePsi, como tecnologia educacional mediadora favorecendo o questionamento da centralidade da ciência e articulação com outros modos de pensar e produzir conhecimento.
Os projetos OLPC e UCA: informática e educação
Cristina de Melo Valente (UFRJ)Grupo Temático: Dimensões da História e Memória da Informática no Brasil
Resumo
A curiosidade sobre os destinos do projeto da Fundação One Laptop Per Child (OLPC) no Brasil foi o ponto de entrada deste trabalho. Para tanto, a pesquisa parte de uma reconstrução da interseção entre a trajetória do projeto da OLPC e a aquela dos programas do governo federal no campo da informática na educação.
Em uma análise inicial constrói-se a percepção de um movimento em espiral nos sucessivos programas brasileiros que, desde os anos 80, expressaram objetivos muito semelhantes - inclusão digital como tradução da preparação para o mundo da produção, do consumo e até mesmo da plena cidadania-, e estratégias muito parecidas - capacitação de professores e compra de equipamentos -, de forma coerente com uma proposição que persiste desde o primeiro programa – o computador como auxiliar e não como substituto do professor.
Já a iniciativa OLPC, construída no Massachusetts Institute of Technology (MIT) a partir de cerca de vinte anos de experimentos sobre a relação entre computadores e aprendizado em crianças, tem sua breve história no Brasil inaugurada pelo encontro entre um de seus principais formuladores, Nicholas Negroponte, e o presidente Lula durante o Fórum Econômico Mundial de 2005.
Este evento é o ponto de partida de um processo de tradução, no qual a proposta da OLPC é reconfigurada e estabilizada, quando em 2008 o governo brasileiro lança o UCA (Um Computador por Aluno), que ainda pôde ser observado em operação em 2014, em uma escola do município de Angra dos Reis.
As duas trajetórias, da OLPC e a que levou ao UCA, podem guardar também outros paralelos interessantes, uma vez que os dois tiveram suas redes atravessadas por questões relativas à competição empresarial pelo mercado de computadores portáteis nos países em desenvolvimento.
Além disso, OLPC e UCA tornaram-se obsoletos em virtude da expansão da oferta de equipamentos móveis como os celulares, e da diminuição do custo do acesso à internet e ao conteúdo nela disponibilizado. Assim, as discussões que se apresentam no que diz respeito ao uso de informática na educação podem ter seu eixo deslocado das propostas que ofertam acesso a equipamentos e rede nas escolas para a questão de como (e se é possível) conciliar a disponibilidade de conteúdos e a mudança de estilo de aprendizagem ao modelo de educação representado/incorporado pela instituição escola.
Actividades con mayor representación en los currículos académicos de los investigadores nacionales de las ciencias sociales en México
Cristina Restrepo Arango Leonor (UNAM-MEXICO)Grupo Temático: Sistemas de Ensino Superior: instituições regionais e desenvolvimento
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Desenvolvimento de jogos com estudantes de nível médio: experimentando uma proposta crítica
Cynthia Macedo Dias (Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio), Adelyne Maria Mendes Peeira (EPSJV-Fiocruz), Camila Furlanetti Borges (Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio)Grupo Temático: Jogos digitais e suas relações com a Ciência, Tecnologia e Sociedade
Resumo
O presente trabalho parte da noção de game design como atividade que consiste em diversas e sucessivas tomadas de decisão com o objetivo de configurar artefatos que irão mediar experiências, que não são controladas mas influenciadas pelas decisões tomadas (SCHELL, 2015). Como produto técnico e cultural, o jogo atua como meio de entretenimento, aprendizado e comunicação, e carrega valores, não só nos aspectos narrativos e de regras, mas também nos visuais, estruturais e contextuais, entre outros (FLANAGAN, 2014). Esses valores não são transmitidos diretamente aos jogadores, como consideraria a abordagem procedimental (BOGOST, 2010), mas podem ser ativados/interpretados/questionados pela participação ativa do jogador, seja interpretando, reconfigurando ou construindo a partir do jogo (VASCONCELLOS, 2013). Ao analisar, criticar ou construir jogos que ponham em xeque - ou em evidência - ações, processos e os sentidos e valores a eles associados, presentes ou desejáveis na sociedade, podemos nos beneficiar do potencial participatório dos jogos para constituir uma consciência crítica sobre aspectos da própria realidade (MAGNANI, 2007). A partir desses referenciais, apresentamos e fundamentamos a experiência de design de jogos com futuros profissionais da saúde, realizada em uma Escola Técnica de Nivel Médio no Rio de Janeiro. As propostas de jogo colocam em pauta questões relativas à saúde pública no Brasil, sua organização e desafios administrativos, políticos, econômicos e sociais. Ao atuarem como desenvolvedores, os alunos se colocam em uma posição privilegiada em relação aos conteúdos e aos jogos que consomem, pois passam a tomar as decisões sobre tema, foco, discursos e valores, e podem imprimir nesse objeto cultural suas visões de mundo e saberes, tornando-os disponíveis para que outras pessoas vivam novas experiências, estabelecendo novas pontes de comunicação com o mundo. Ao mesmo tempo, ao externalizar esses sentidos e valores e organizá-los em um sistema de regras acompanhado por características materiais, podem colocá-los a prova e testar sua coerência interna, provocando novos movimentos de pesquisa e buscando formas possíveis de comunicá-los. A experiência utiliza as oficinas Gamerama (XAVIER, 2013) como base para o dispositivo de introdução dos alunos ao processo de game design, enquanto os professores atuam como orientadores do projeto.
Desafios e controvérsias para a elaboração de uma política de acesso aberto à produção científica no Brasil
Cristina Abreu Sampaio LemeGrupo Temático: Expertise, deliberação de empreendimentos sociotécnicos e culturas de investigação científica e tecnológica
Resumo
Na presente pesquisa propomos uma discussão a cerca dos desafios existentes para formulação de uma política nacional de acesso aberto à divulgação científica no Brasil. Para tanto, tomamos como ponto de partida o processo de tramitação dos Projetos de Lei nº 1.120/2007 (Câmara dos Deputados) e nº 387/2011 (Senado), ambos idealizados pelo Instituto Brasileiro de Informação, Ciência e Tecnologia (IBICT) e que dispõem sobre a obrigatoriedade da construção de repositórios digitais pelas instituições de educação superior e unidades públicas de pesquisa e a disponibilização em acesso aberto de toda produção técnico-científica realizada a partir de financiamento público.
De acordo com a bibliografia levantada, apesar do pioneirismo do país em apresentar um projeto de lei que versa sobre esse tipo de conteúdo e, igualmente ocupar posição de des-taque no continente no que se refere às iniciativas de repositórios digitais e journals em acesso aberto, pouco tem se avançado no estabelecimento de uma política pública que integre suas diversas iniciativas, de modo a estimular, garantir e até mesmo proteger o acesso à produção científica (MACHADO, 2005; KURAMOTO, 2013; ORTELLADO, 2008).
Nesta pesquisa, de caráter exploratório, utilizamos como referencial teórico autores do campo de Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia (ESCT) para delinear uma cartografia onde são identificados atores, argumentos, articulações (ou desarticulações) e controvérsias exis-tentes no processo de proposição e tramitação dos projetos de lei e, respectivamente na constituição de uma política nacional de acesso aberto à informação científica.
Mulher, Ciência e Tecnologia: o suplemento feminino do Jornal News Seller.
Clara GuimarãesGrupo Temático: Gênero, Ciência e Tecnologia: avanços e desafios
Resumo
Esta comunicação diz respeito a pesquisa de mestrado intitulada "Mulher, Ciência e Tecnologia: uma análise feminista do Jornal News Seller", que realizou uma análise das matérias publicadas para mulheres no Jornal News Seller na década de 60 no ABC Paulista - São Paulo - Brasil. O objetivo foi observar como se deu a difusão científica para mulheres durante a existência do News Seller e a relação estabelecida neste veículo entre Mulher, Ciência e Tecnologia. Tendo como hipótese o uso da ciência pelo jornal como controle dos corpos femininos. A sociedade da época vivia em um constante processo de transformações industriais, tendo esse movimento reverberado para as matérias femininas do jornal. Nele a relação entre mulheres, ciência e tecnologia era bem estreita, e isso pode ser constatado tanto nas matérias quanto nos anúncios. Essa pesquisa faz uma aproximação do CTS com o feminismo. Apesar dos estudos de CTS abrangerem uma crítica acerca da ciência e seus usos, ainda existe um binarismo na relação natureza/cultura, e as feministas da década de 1980 já começaram a fazer severas críticas a essa relação, e nesse sentido, Donna Haraway aponta pra relação entre a mulher e a tecnologia no movimento ciborgue, desconstruindo essas ideias binárias de gênero. Os estudos CTS incorporaram as discussões de gênero depois da Haraway. Foram lidas 3200 matérias durante o período de recorte da pesquisa e analisamos 92 matérias entre os anos de 1967 e 1968, que tratavam especificamente da temática saúde, encontramos em todas elas marcas de discurso científico. Como metodologia usamos o método genealógico de Foucault para nos debruçarmos sobre as matérias. Em relação a tecnologia, analisamos seis matérias e dois anúncios entre os anos de 1958 a 1969, chegamos à conclusão de que o News Seller tinha na mulher uma imagem icônica que se assemelhava a tecnologia, como se elas fossem objetos decorativos e que utilizava o discurso científico como legitimação dos discursos relacionados a beleza, comportamento, maternidade e principalmente, saúde. Esta pesquisa foi financiada pela FAPESP e vinculada ao programa de pós-graduação em Ensino, História, Filosofia e Matemática da Universidade Federal do ABC - UFABC.
Da floresta a tonelada de carbono - Construindo um projeto REDD
Camilla Pires Marcolino, Raoni RajãoGrupo Temático: Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia e as Mudanças Climáticas
Resumo
O desmatamento é uma das principais causas das mudanças climáticas em escala global, visto a grande quantidade de CO2 emitida pela mudança do uso do solo, contribuindo assim para o efeito estufa. No cenário mundial, o programa de redução de emissões por desmatamento e degradação florestal (REDD) vem ganhando grande espaço. Organizações sem fins lucrativos e instituições de pesquisa tem assumido um papel importante nesse mercado de carbono desenvolvendo metodologias que visam padronizar e dar credibilidade a esse mercado. Ao mesmo tempo, países com grande interesse em comprar o crédito de carbono dos países amazônicos investem em pesquisa e tecnologia para criar metodologias confiáveis a atender o mercado não voluntario priorizando as metodologias de MRV (monitoramento, replicação e verificação). Mas, como os projetos de REDD transformam a floresta em créditos de carbono reconhecidos internacionalmente? O objetivo desse artigo é mostrar como que algo imóvel e profundamente local como o carbono florestal se transforma em crédito de carbono, algo móvel porem imutável. Para alcançar esse objetivo vem sendo usado o conceito de referência circulante nos dados coletados através de estudo etnográfico, análise de documentos e entrevistas. O estudo busca inspiração na Teoria Ator-Rede para compreender as múltiplas inscrições, traduções, alinhamentos que permitem tentar descrever o surgimento de uma tonelada de carbono provinda do desmatamento florestal, o estabelecimento de projetos de REDD e a venda do carbono gerado pelo desmatamento evitado.
Princípio da precaução e as evidências científicas para a consolidação de uma política climática brasileira
Carlos José Saldanha Machado, Rodrigo Machado VilaniGrupo Temático: Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia e as Mudanças Climáticas
Resumo
As sociedades contemporâneas encontram-se diante de inúmeros desafios políticos, jurídicos, sociais, econômicos e ambientais para se adaptarem aos riscos climáticos da modernidade (MACHADO e VILANI, 2015). O objetivo desse trabalho é analisar o princípio da precaução enquanto instrumento de vinculação do processo decisório às evidências científicas produzidas sobre mudanças climáticas. Para tanto, analisamos o caso brasileiro adotando uma abordagem qualitativa pautada sobre pesquisa bibliográfica e documental, privilegiando uma leitura multissetorial das políticas públicas federais relacionadas aos riscos climáticos. A utilização de medidas cientifico-jurídicas para evitar o risco conhecido, a título de prevenção, ou o desconhecido alcançado pela precaução, comanda a atuação do Poder Público, assim como o faz, na ordem jurídica elementar, o princípio da legalidade, que representa uma garantia para os administradores, pois qualquer ato da administração pública somente terá validade se for respaldado em lei, em sua acepção ampla. Com grande consenso na literatura jurídica, o uso desse princípio tornou-se uma prerrogativa de um novo modelo desejado de processo de tomada de decisão, aquele conduzido segundo claras, suficientes e incontroversas evidências científicas. A certeza científica, objetivamente, opera como o eixo central da precaução (MILARÉ, 2001) e, consequentemente, da governança climática. As políticas de proteção do meio ambiente, particularmente a política de mudança do clima, devem possuir em sua gênese dados científicos robustos, e não é admissível que sejam implementadas "à revelia da ciência" (ARAGÃO, p. 10). A precaução não afasta definitivamente qualquer medida, apenas suspende decisões que expõe a saúde humana e/ou o meio ambiente a riscos em um cenário de incertezas científicas até que essas sejam superadas. Giddens (2014), ao defender a avaliação de riscos como substituto da precaução, não está criando, na verdade, uma alternativa, uma vez que a avaliação de risco é o instrumento técnico-científico que materializa na realidade concreta os desígnios teorizados pelo princípio da precaução. Conclui-se afirmando que o distanciamento entre as evidencias cientificas e a politica climática é um reflexo da não aplicação do principio da precaução nas instância decisórias do Poder Executivo Federal.
A visão de CTS das pesquisas de iniciação científica do curso de Engenharia Agronômica do IFSULDEMINAS
Cássia Mara Ribeiro de PaivaGrupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
Resumo
As transformações sociais refletem concepções de ciência e tecnologia (C&T) de forma muito acelerada. Os processos científicos são essenciais para a solução não só dos problemas técnicos, mas também para o desenvolvimento de uma visão social da C&T que considera os antecedentes e consequências sociais do avanço científico e tecnológico. A formação de engenheiros ganha relevância no olhar dos Estudos de Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS). Linsingen (2007) destaca a importância de desenvolver nos estudantes de engenharia uma sensibilidade crítica acerca dos impactos sociais decorrentes de novas tecnologias ou da aplicação das já existentes, produzindo por sua vez uma visão mais realista da natureza social da C&T, assim como do papel de agentes do desenvolvimento junto à sociedade. Assim, esta pesquisa busca identificar a visão de C&T que se propaga no âmbito das atividades de iniciação científica de estudantes de engenharia agronômica do IFSULDEMINAS e suas relações com a sociedade, a fim de verificar como se dá a produção destes conhecimentos. Para o desenvolvimento da pesquisa serão analisadas as atividades de pesquisa do Programa Institucional de Iniciação Científica (PIBIC), realizadas entre os anos de 2012 e 2014. A partir da análise documental dos projetos e relatórios de pesquisa do curso de engenharia agronômica, pretende-se buscar indicadores dos processos de produção de conhecimento e das visões sobre as relações CTS, a fim de verificar paralelos entre as visões de C&T presentes em cada pesquisa de iniciação científica e as perspectivas dos estudos CTS a partir da abordagem das quatro visões CTS propostas por Andrew Feenberg - Determinismo, Instrumentalismo, Substantivismo e Teoria Crítica. A região sul de Minas Gerais, destaca-se no setor agrário, justificando-se o estudo sobre a produção do conhecimento acerca de CTS de Agrônomos em formação na região para atender a demanda por profissionais com competências interdisciplinares a fim de buscar um desenvolvimento rural e regional não somente sob os aspectos econômicos, mas também sob as perspectivas sociais e culturais. Portanto espera-se contribuir com os estudos de Formação de Engenheiros e com os estudos CTS, para que a formação de engenheiros agrônomos seja fundamentada tanto na Ciência e Tecnologia, como nas Ciências Sociais para garantir a aproximação do conhecimento às necessidades sociais.
CTS, educação e conhecimento humano: articulações, enfoques e possibilidades numa disciplina de pós-graduação
Cristhiane Carneiro Cunha FlôrGrupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
Resumo
Atualmente, no Brasil, a formação de professores para o ensino superior se dá no âmbito da pós-graduação stricto sensu. Entendemos que a prática pedagógica de um professor pode ser influenciada por sua visão das articulações entre ciência, tecnologia e sociedade (CTS), no contexto dos mais diversos cursos de graduação e, desde 2012, lecionamos em um Programa de Pós-graduação em Educação a disciplina denominada: "Ciência, Tecnologia e Sociedade na Educação: articulações, enfoques e possibilidades". Buscamos problematizar as diferentes visões CTS e suas articulações com a educação, no sentido de uma compreensão do mundo contemporâneo e das questões que norteiam o conhecimento e o desenvolvimento humano e, assim, trazemos à discussão uma proposta de mudança de olhar, conforme apontada por Von Linsingen (2007). Uma abordagem CTS extensiva requer mudanças significativas nos moldes educacionais atuais e vemos possibilidades mais factíveis em disciplinas de pós-graduação, por apresentarem maior abertura para flexibilização curricular.
A disciplina em questão é proposta e ministrada por dois professores, das áreas de ensino de física e de química, que compartilham simultaneamente o mesmo espaço educativo, e é ofertada anualmente, com carga horária 45h, dividida em cinco eixos principais de discussão: Visões de ciências e de mundo; As revoluções industrial e tecnológica; O modelo capitalista e a sociedade de consumo; O movimento CTS; O enfoque CTS na educação.
As discussões de cada encontro são registradas em um diário de bordo, feito a cada semana por um estudante diferente, que relata as impressões e os principais temas discutidos. Durante a leitura do diário são observados os pontos de divergência e convergência e as necessidades de aprofundamento em algumas questões.
Ao longo dos anos observamos que a pluralidade e a diversidade constitutivas dos estudantes que frequentam a disciplina promovem desdobramentos diferenciados na condução da mesma, permitindo a adoção de múltiplos dispositivos na composição de saberes que permeiam as relações entre conhecimento humano e CTS.
Von LINSINGEN, Irlan . Perspectiva educacional CTS: aspectos de um campo em consolidação na América Latina. Ciência e Ensino, v.1, número especial, novembro de 2007.
Discussões educacionais em CTS: relato de experiência em sala de aula na visão discente do Programa de Pós Graduação em Tecnologia da UTFPR
Claudia Bordin Rodrigues da Silva, Cristiane Ratier, Luiz Ernesto Merkle, Marilane Carneiro Di MarioGrupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
Resumo
A ideia da confecção deste relato de experiência surgiu a partir das discussões sobre temas da atualidade propostas pelos/a docentes da disciplina de Tecnologia e Sociedade I, ministrada entre os meses de março e maio de 2015, no Programa de Pós Graduação em Tecnologia da UTFPR - PPGTE. Essa é uma disciplina obrigatória para discentes do mestrado e do doutorado e conta com a atuação dos docentes provenientes das três linhas do Programa (Tecnologia e Trabalho, Tecnologia e Desenvolvimento e Mediações e Culturas), bem como discentes das mesmas linhas. Ao final de 11 semanas, aconteceram três encontros nos quais foram debatidos os temas: "Terceirização", "Interação entre a Educação e as Tecnologias de Informação e Comunicação" e o "Transporte Público". O objetivo deste relato é refletir sobre a experiência desses debates, em que puderam ser integradas tanto as formações especificas de graduação, quanto as linhas e temáticas de pesquisa de cada integrante do grupo, considerações que implicam necessariamente no confronto das ideias disciplinares com as mediações em CTS. A metodologia da pesquisa foi feita por meio do levantamento de dados e documentação das experiências em sala de aula, considerando as áreas de formação distintas e os pontos de vista dos autores aos demais componentes da turma. Na sequência, foi realizada a união das ideias para formação de um texto único contendo os elementos de análise selecionados pelo grupo, embasamento em CTS e aspectos interdisciplinares. Para fundamentação teórica foram utilizados os autores em CTS do contexto nacional e internacional (Dagnino, Vacarezza, Hughes, Feenberg, Callon) e outros advindos das áreas "disciplinares" das discentes. Dadas as diferenças de formação das discentes, o contato com a área CTS e os debates intrínsecos a questão da interdisciplinaridade, este artigo pretende, além do compartilhamento dessa experiência com professores e acadêmicos de outros programas CTS, fomentar o debate sobre as práticas de ensino na perspectiva das múltiplas visões disciplinares no seio do campo CTS, considerando a experiência discente como ponto de partida para a percepção dos dilemas disciplinares na academia e da problemática CTS na universidade.
Inovação, sociedade, economia solidária e o caso da Flaskô
Cícero Costa HernandezGrupo Temático: GT Ciência, tecnologia e inovação social
Resumo
A economia solidária (ES) compõe uma discussão na economia, que se baseia na situação de marginalização, precarização e exploração do trabalho, de maneira que deste entendimento a produção, a tecnologia, e a sociedade poderiam se influenciar seguindo esse mesmo caminho. Assim, é objeto de estudo da ES cooperativas, fábricas recuperadas e ocupadas, coletivos, associações, grupos de indivíduos e comunidades sustentáveis, bem como aspectos relacionados ao trabalho, a cultura, a qualidade de vida, a solidariedade, coletividade e democracia, de forma a desalienar o trabalho, tendo em vista a alteração nas relações de produção que estão na base dessas alternativas de propriedades do meio. Há mudanças na forma da expropriação originalmente capitalista e há também a legitimação por meio de diferentes ações e programas coletivos do desenvolvimento social.
Um dos casos presentes na ES é o da Flaskô, situada no município de Sumaré, no estado de São Paulo, produtora de embalagens plásticas industriais, como bombonas e tambores. A Flaskô de 1980 - 2000 ficou sob administração patronal quando contraiu uma série de dívidas mal administradas que levaram ao sucateamento e ao abandono pelos antigos donos. Essa situação fez com que os trabalhadores ocupassem a fábrica para manter os postos de trabalho e Assim a Flaskô é administrada e organizada pelos próprios operários desde 2003.
Desta maneira busca se pensar como novas relações sociais de produção nacionais e/ou internacionais, em uma esfera global e/ou local, que geram riqueza e/ou valor social, geram também mudanças na sociedade e tanto mais configura novas características econômicas, tecnológicas e sociais, que em alguns casos podem ser considerados inovações. Estas formas de organização e propriedade configuram novas possibilidades de relação que por sua vez produzem inovações, pois elas surgem diante de desafios urgentes que cobram respostas decisivas e nesse contexto é que se apresentam novas soluções e novos processos de organização, entendo que que novas relações estariam na base de configurações inovadoras, e o artigo busca relacionar essas temáticas sob essa perspectiva. Outrossim, são colocados alguns exemplos envolvendo o assunto e os elementos da economia solidária. Inovação e sociedade são postas em discussão sem a pretensão de esgotar o entendimento de tais elementos.
Da inserção de novas tecnologias na normalização da surdez: o caso do implante coclear
César Augusto ParoGrupo Temático: Medicina na América Latina: práticas científicas, dispositivos tecnológicos e inovações terapêuticas
Resumo
A Surdez sempre foi atravessada por uma série de incompreensões que fez com que o sujeito surdo fosse historicamente estigmatizado, excluído e desrespeitado em sua diferença. A medicina ao longo da história perpetuou diferentes formas de controle do corpo surdo, medicalizando o ser surdo e produzindo, assim, o que pode ser denominado do "anormal surdo". A atitude reparadora e corretivista da surdez foi e continua sendo alvo da medicina. Tendências na oralização do surdo foram hegemônicas neste campo. No entanto, o discurso socioantropológico da diferença que começa a se constituir no século XIX e ganha impulso na metade do século XX traz resistências a este discurso médico-pedagógico da deficiência. A despeito de diversos outras tecnologias anteriormente inseridas no corpo surdo pelo saber médico, os Aparelhos de Amplificação Sonora Individuais (AASI) podem ser considerados como os primeiros dispositivos tecnológicos com grande influência à terapêutica do corpo surdo. Mais recentemente, o desenvolvimento do Implante Coclear e, inclusive a sua disponibilização gratuita no sistema público de saúde brasileiro, toma centralidade na terapêutica/normalização da surdez. Esta discussão pretende problematizar a inserção deste dispositivo tecnológico ao campo da habilitação/reabilitação fonoaudiológica. Novamente, tem se perdido a visão do surdo na sua diferença para uma normalização por meio de inovações tecnológicas que se pretendem "por um fim na surdez".
Acumulação de capacidades tecnológicas em centro de pesquisa da Fiocruz
Carlos Medicis Morel, Ana Elisa Xavier de Oliveira e Dias, Bruna de Paula Fonseca e FonsecaGrupo Temático: Política de Ciência e Tecnologia
Resumo
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) é uma organização que realiza pesquisa, desenvolvimento tecnológico e produção de insumos para o Sistema Único de Saúde (SUS). Com a implantação do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS), a Fiocruz visa vencer o hiato entre a pesquisa básica e a aplicação do conhecimento na produção de tecnologias, buscando avançar em produtos mais próximos da fronteira tecnológica. Este estudo analisa como o CDTS tem-se capacitado desde o lançamento de seu projeto estratégico, há dez anos, para cumprir a missão de ser um centro de referência em inovação em saúde, desenvolvendo produtos e processos para o SUS e articulando alianças nacionais e internacionais. O trabalho avalia a trajetória de acumulação de competências científicas, tecnológicas e organizacionais em um centro alinhado aos objetivos do Complexo Industrial da Saúde. Como a unidade mobiliza um conjunto diverso de recursos para as suas atividades chave? Como e com qual velocidade o CDTS tem acumulado competências ao longo do tempo? Como o CDTS apropria o conhecimento e qual a função do seu portfolio de patentes? O estudo se baseia na metodologia descrita por Figueiredo (2014). A coleta de dados envolveu publicações, patentes, relatórios e entrevistas semiestruturadas.
O CDTS possui 18 projetos distribuídos por sete plataformas tecnológicas, coordenadas por dez pesquisadores. Foram identificadas as seguintes competências: desenvolvimento de fármacos, síntese de peptídeos, técnicas de ressonância magnética nuclear, bioinformática e biologia computacional, expressão gênica e genômica funcional, espectrometria de massas e biologia de vírus. Beneficia-se de competências já acumuladas pela Fiocruz, mas aporta novidades ao construir uma estratégia complementar e original de catching-up, com aquisição de habilidades em C&T e gestão da inovação escassas na área pública, diversificação de financiamentos, desenvolvimento de política de inovação e propriedade intelectual, absorção planejada de profissionais brasileiros e estrangeiros e atualização de equipamentos e tecnologia da informação. O trabalho investigou fatores potencialmente restritivos (burocracia, crises, legislação, escassez de recursos humanos, etc) que afetam o processo de emparelhamento tecnológico típico de economia de médio porte.
Laboratório de Design Solidário - LABSOL - Extensão Universitária e Artesanato
Claudio Roberto y Goya, Tatiane Kaori AmanoGrupo Temático: Produção de conhecimentos e artefatos - Experiências interdisciplinares em design
Resumo
O Laboratório de Design Solidário O Laboratório de Design Solidário - LabSol do Departamento de Design da Faculdade de Arquitetura, Artes de Comunicação da Universidade Estadual Paulista, Campus de Bauru, FAAC Unesp Bauru, é um Projeto de Extensão Universitária criado em 2007 com a finalidade de proporcionar aos alunos do Curso de Design desta Faculdade, a possibilidade de entrar em contato com a prática do curso, com as atividades de projeto e com as reais necessidades do mercado através do desenvolvimento de Projetos de Design embasados nos conceitos de Economia Solidária, Dialogicidade, Ecodesign e Sustentabilidade. O projeto é composto pelo professor coordenador e por alunos dos cursos de Design e Relações Públicas: voluntários, bolsistas do CNPq em iniciação científica, da PROEx Unesp, e do Programa de Permanência Estudantil. Um dos objetivos que impulsiona o Labsol é poder levar um design de qualidade, à parcela da população que não teria acesso a este trabalho, assim tem sido realizadas ações junto a comunidades e grupos cuja renda advém da produção artesanal. O Labsol tem otimizado e revitalizado objetos artesanais e vem desenvolvendo - com sucesso projetos e ações cuja proposta central é a de promover encontros e ações conjuntas entre o Design, o patrimônio cultural do artesanato e o ecodesign, preocupado com a qualificação do produto artesanal de tradição e sua inserção no mercado, tendo em vista a autosustentabilidade das comunidades produtoras. As atividades do LabSol preocupam-se com a qualificação do produto, sua inserção no mercado, a possibilidade de geração de trabalho e renda e integração social das comunidades e grupos atendidos, sem perder o foco da preservação e conscientização ambiental, através da preferência pelo uso de materiais naturais ou biodegradáveis e processos produtivos que não agridam o meio ambiente, tanto pelos métodos e técnicas de produção, quanto pela preocupação com a reciclagem e reaproveitamento dos resíduos.
A Metamorfose Ambulante do Coletivo: Uma reflexão crítica sobre velhos paradigmas em arquitetura-urbanismo
Cláudia Rioja de Aragão Vargas, Giselle Arteiro Nielsen Azevedo, Paulo Afonso RheingantzGrupo Temático: Qualidade dos lugares e paisagens híbridos
Resumo
Alinhados com os estudos Ciência-Tecnologia-Sociedade (CTS), entendemos o coletivo como uma rede que envolve o lugar. Tecemos paralelos entre a poética de Raul Seixas e os princípios propostos por Latour na Teoria Ator-Rede (TAR) para tentar explicar a complexidade e diversidade do coletivo como o meio em que se desenvolvem as relações que qualificam lugares. O lugar, aliás, como um recorte do coletivo localizável em espaço e tempo, depende dos agenciamentos da rede sociotécnica e se constitui a partir dessa experiência; também depende de configurações momentâneas, de atmosferas, que lhe conferem significado. Esse entendimento envolve tanto ações locais quanto ações globais: os ambientes em sua materialidade, os fluxos de informações, as tecnologias, desejos, sentimentos e interpretações que vão dar origem às traduções sobre o lugar. Nesse aspecto, "a civilização se tornou complicada, que ficou tão frágil como um computador". Por conseguinte, na atualidade, a qualidade de um lugar varia conforme as assimetrias geradas no coletivo e é dependente das associações e mediações que estimulam mais ou menos a agência de determinados atores; dos deslocamentos mais ou menos fortes com o ambiente. Na busca por essas associações em arquitetura-urbanismo, procuramos desmistificar hierarquias no processo de projeto ao considerar o coletivo como uma "metamorfose ambulante", para ampliar a discussão e a crítica à hierarquias e estruturas preconcebidas, desde o processo de projeto até a materialização do objeto arquitetônico. Assim, como pesquisadores, nos despimos das "velhas opiniões formadas sobre tudo", comuns aos cientistas, para discutir a ação no ambiente construído. Nessa ação em rede, o ambiente construído não é, simplesmente, o resultado de projetos ou da concepção de seus autores, mas é o resultado desse coletivo que reúne inúmeros atores humanos e não-humanos. Ao utilizarmos a cartografia das controvérsias como metodologia de análise nos relatos de experiências da prática, destacam-se naturalmente os embates, tensões e interações entre as narrativas dos atores-rede; as controvérsias que vão possibilitar o entendimento das relações que promovem o sentido de qualidade do lugar. Como contribuição, nessa discussão procuramos evocar responsabilidades/'des-responsabilidades' assumidas e/ou esquecidas na arquitetura-urbanismo.
Núcleo de Cartografias Ator-Rede em Arquitetura-Urbanismo
Cláudia Rioja de Aragão VargasGrupo Temático: Qualidade dos lugares e paisagens híbridos
Resumo
O Núcleo de Cartografias Ator-Rede em Arquitetura-Urbanismo visa consolidar pesquisas em Arquitetura-Urbanismo alinhadas com os Estudos CTS, mais especificamente com a Teoria Ator-Rede (TAR), no Brasil. Como subgrupo do Grupo ProLUGAR (PROARQ/FAU-UFRJ), ainda pretende desenvolver e aprimorar os Mapas de Controvérsias (Vargas, 2015), em busca de uma aproximação entre a abordagem da TAR e a arquitetura-urbanismo, com um instrumento gráfico próprio ao olhar dos arquitetos. Assim, procuramos demonstrar a utilidade da TAR como abordagem para o entendimento de Qualidade do Lugar e como metodologia de aproximação para fins de APPs e APOs (Vargas, 2012; Vargas & Azevedo, 2012; Vargas & Azevedo, 2013), ressignificando o uso de instrumentos próprios para este fim, como entrevistas e mapas mentais. Para a TAR, esses instrumentos são as 'falas' dos atores, uma interpretação única de um coletivo composto de humanos e não-humanos, visto de dentro para fora. O pesquisador, como um cartógrafo, registra essas 'falas', procura por agências e faz um mapeamento em busca do entendimento de Qualidade do Lugar. Assim, esse entendimento é uma construção conjunta entre todos os atores envolvidos. Os Mapas de Controvérsias podem ser apresentados individualmente ou sobrepostos uns sobre os outros, evidenciando os entrelaçamentos e tensões da rede sociotécnica; com linguagem familiar aos arquitetos, possibilitam uma visualização direta de conexões que envolvem os atores da arquitetura-urbanismo. Também como proposta da criação do Núcleo, buscamos interlocuções com grupos de pesquisa internacionais já estruturados que desenvolvem trabalhos similares no campo da arquitetura-urbanismo, como o Mapping Architectural Controversies (MAC), da Manchester School of Architecture, coordenado pela Prof. Dra. Albena Yaneva, além da plataforma Macospol, iniciativa de cooperação interinstitucional coordenada por Bruno Latour e Tomaso Venturini, aos quais passamos a tomar como fundamento de nossa iniciativa. Nesse sentido, buscamos contribuir com um instrumento de visualização de controvérsias na tentativa de arregimentar aliados e ampliar o diálogo ator-rede em arquitetura-urbanismo no Brasil. Ainda pouco expressiva em nossa área, a abordagem da ANT traz grandes benefícios para o entendimento da complexidade e da diversidade dos atores que envolvem tanto o projeto quanto o ambiente construído.
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Crítica e adesão ao sistema de ensino superior brasileiro entre pesquisadores de instituições regionais
Daniel Guerrini (UTFPR)Grupo Temático: Sistemas de Ensino Superior: instituições regionais e desenvolvimento
Resumo
O trabalho apresenta resultados parciais da pesquisa “A perspectiva profissional da comunidade acadêmica de instituições da região sul”, financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior. Nesta primeira etapa, foram selecionadas instituições do Estado de Santa Catarina, que apresentam uma grande oferta de cursos de graduação e poucos cursos de pós-graduação stricto sensu, os quais, de modo geral, têm conexão com as atividades socioeconômicas da região em que se situam. Submeteu-se um questionário a 150 professores dessas instituições, membros de programas de pós-graduação das áreas de saúde, de exatas e agrárias. Dentre eles, 37 responderam o questionário, cujas perguntas tinham como eixo a motivação profissional dos respondentes, a importância por eles atribuída às atividades de pesquisa científica, sua percepção sobre o reconhecimento social dessas atividades, os mecanismos de financiamento existentes e a atuação de órgãos acadêmicos reguladores. Conforme as hipóteses levantadas no projeto, os pesquisadores investigados fizeram críticas à concentração de recursos entre as instituições e programas de maior prestígio acadêmico nacional e à dinâmica (desigual, segundo os mesmos) de competição por prestígio e recursos existente no sistema brasileiro. Os pesquisadores investigados também explicitaram tensões com relação à sociedade de modo geral, a quem atribuem falta de reconhecimento, despreparo e ignorância com relação às atividades científicas e de pesquisa. Entretanto, observa-se uma forte adesão ao sistema de ensino superior como um todo, às suas regras, às normas, às decisões e aos critérios das agências reguladoras. Logo, a coesão em torno das regras sobrepõe-se às críticas que os respondentes fazem ao sistema brasileiro. Isso demonstra um sistema fortemente institucionalizado, porém, pouco legitimado, o que se verifica pela falta de reconhecimento social explicitada pelos respondentes.
Patrimônio cultural e tecnologias patrimoniais
Daniel Messias dos Santos (Universidade de Taubaté/UNITAU)Grupo Temático: PROCESSOS TECNOLOGICOS E CULTURA: sociabilidades, saberes populares, assimetrias e meio ambiente
Resumo
A cidade de São Luiz do Paraitinga localizada no interior do Estado de São Paulo, na região do Vale do Paraíba, sofreu nos primeiros dias de 2010 o maior desastre natural de sua história. O maior desafio após aquele momento era como seria feita a reconstrução e como ficariam prédios destruídos e carregados de valor simbólico - cujo exemplo emblemático é a Igreja Matriz de São Luís de Tolosa. Esse evento crítico – enchente de 2010 – provocou o questionamento deste trabalho, que tem como objetivo investigar e interpretar a dimensão simbólica e política que aparecem na patrimonialização de uma cidade considerada patrimônio histórico nacional. A percepção do cidadão luizense, os conflitos que aparecem nas questões ligadas aos órgãos do patrimônio e aos agentes externos – governo estadual e federal -, o turismo e os interesses de mercado relacionados ao patrimônio, a relação entre patrimônio cultural material e imaterial são temas discutidos neste trabalho. O objeto do trabalho é a patrimonialização, os sentidos ligados ao patrimônio e, ainda, a percepção dos órgãos envolvidos na reconstrução da cidade e os proprietários de bens tombados em relação ao tombamento e as tecnologias patrimoniais relacionadas ao tema. Para realizar a pesquisa investigativa e qualitativa foram utilizadas entrevistas semiestruturadas e observação participante. Serão usados dados primários coletados em entrevistas e para a a análise de dados a triangulação de dados.
Análise dos discursos sobre ciência em um livro de divulgação científica sobre formigas: diálogos com educação CTS
Daniel Prim Janning (Universidade Federal de Santa Catarina)Eixo: Grupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
Resumo
A divulgação científica é um meio de levar o conhecimento produzido no interior da academia para o público leigo. Estes materiais midiáticos podem trabalhar socialmente através do aumento do conhecimento e compreensão do grande público acerca de como a ciência funciona (seus processos e lógica), a fim de estimular a curiosidade científica da população, informar a população leiga para criar uma opinião pública informada sobre impactos sociais, ambientais e econômicos dos desenvolvimentos científicos e tecnológicos ou ampliar e qualificar a população em temas relacionados a tomadas de decisões políticas, como as alternativas energéticas. Para tanto, os processos científicos devem ter sua linguagem habitual, em que o trabalho é impessoal, de ações regidas pelo método e de precisão atemporal e universal, cambiada para uma linguagem mais próxima do seu público alvo não-cientista.
Pensando nisso, neste trabalho faço uma análise de um livro de divulgação científica sobre a vida das formigas (“Formigas em ação: como se organiza uma sociedade de insetos”, escrita por Deborah Gordon, uma especialista em mirmecologia (área da entomologia dedicada ao estudo das formigas). A escolha pelas formigas se dá pelo seu potencial didático nos ensinos fundamental e médio e educação ambiental ao se relacionar com temas como pragas agrícolas, interações ecológicas e coevolução, folclore e conhecimento tradicional e no seu comportamento social de animais. Para tanto me apoio nos referenciais teórico-metodológicos da Análise do Discurso de linha francesa e nas contribuições da perspectiva discursiva de educação CTS. Através da análise podemos vislumbrar relações de sentido tecidas entre nossas sociedades e das formigas, através da atribuição de valores humanos na interpretação de relações entre os insetos; também podemos perceber questões sobre o papel do cientista, do método e do erro na pesquisa; e, por fim, a análise também demonstra como um discurso não científico se transforma, através de efeitos de sentidos, em discurso científico no livro analisado.
Política de software e serviços de TI no Brasil: atores, interesses e condicionantes políticos e econômicos
Daniela Albini Pinheiro (Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)), Milena Pavan Serafim (UNICAMP)Grupo Temático: Dimensões da História e Memória da Informática no Brasil
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O trabalho analisa, em uma perspectiva histórica, condicionantes e características da política brasileira de software e serviços de tecnologia da informação (TI) da ditadura militar até o período recente, buscando compreender sua relação com as políticas industrial e de ciência e tecnologia (C&T) e entender a participação de diferentes atores sociais em sua conformação.
A metodologia utilizada contemplou três formas de análise de dados: revisão de literatura, análise de documentos oficiais e entrevistas semiestruturadas com consultores que participaram de diferentes fases da elaboração do Programa TI Maior, política brasileira mais recente para software e serviços de TI. O trabalho caracteriza-se como uma pesquisa qualitativa e exploratória.
A análise da história das políticas de software e serviços de TI no Brasil evidenciou que seu conteúdo nasceu da inter-relação entre o contexto das políticas mais abrangentes (base das ações governamentais para economia, indústria e C&T), problemas, objetivos e alternativas de diferentes atores sociais.
Nesse sentido, observamos que, do regime militar até o início dos anos 1990, o conteúdo da política de software e serviços de TI - ainda integrada à política de informática - foi característico de política industrial e teve como importante condicionante o interesse na autonomia tecnológica. De 1992 até o início dos anos 2000, esta política foi influenciada pelo ideário neoliberal e sua busca por competitividade interna e externa, priorizando inovações e exportações das empresas privadas. Nos anos 2000, exceto por dois programas amplos para investimentos e exportações, a indústria de software e serviços de TI contou com medidas genéricas de apoio ao P&D privado e à relação universidade-empresa. Por fim, em 2012 foi lançado programa específico para esta indústria - o Programa TI Maior, com características de política de C&T e integrado a instrumentos de política industrial - num momento em que políticas mais abrangentes (econômicas e de C&T) foram favoráveis a sua elaboração e em que grupos interessados em software ingressaram em instituições responsáveis pela formulação de políticas. O trabalho buscou contribuir com os estudos da história da política de software e serviços de TI no Brasil.
Controvérsias sociotécnicas sobre o biodiesel no Brasil
Daniela Alves de Alves (UFV), Marco Vinicius de Castro (Universidade Federal de Viçosa)Grupo Temático: Expertise, deliberação de empreendimentos sociotécnicos e culturas de investigação científica e tecnológica
Resumo
Este trabalho propõe apresentar resultados do mapeamento de controvérsias sociotécnicas, iniciado em 2013, sobre a adoção e ampliação do biodiesel na matriz energética brasileira. Acompanhamos os atores e as controvérsias sobre os aspectos ambientais, sociais e econômicos do biodiesel como substituto dos combustíveis fósseis. São atores importantes os pesquisadores e seus laboratórios, a Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biodisel, as entidades de classe (ABIOVE, UBRABIO, Anfavea, etc), os produtores de oleaginosas, as certificações, etc. Consideramos que conhecimentos e interesses de diferentes origens resultaram no cenário atual do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel. As principais controvérsias constatadas nas redes de concepção e adoção do biodiesel no Brasil se referem às matérias-primas (soja versus outras oleaginosas brasileiras) e à amplitude do marco regulatório. Os discursos e práticas mobilizados são de ordem ambiental (emissão de gases efeito estufa na produção e no uso, emissão de materiais particulados e hidrocarbonetos no uso); ordem econômica (relação entre oferta e demanda de óleo; risco inflacionário; competição com alimentos); ordem social (agricultura familiar versus agricultura empresarial da soja; selo social); ordem tecnocientífica (matérias primas estabilizadas versus matérias primas selvagens; viscosidade). Fomento CAPES e FAPEMIG
Gênero e Hacktivismo: apropriação social de tecnologia?
Daniela Camila de Araújo (Unicamp), Leda Maria Caira Gitahy (Instituto de Geociências UNICAMP)Grupo Temático: Gênero, Ciência e Tecnologia: avanços e desafios
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As cidades e a rede de produção da reciclagem: um território de tecnologias socioambientais
Daniela Janaína Pereira Miranda (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ)As cidades e a rede de produção da reciclagem: um território de tecnologias socioambientais
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O objetivo é debater os principais aspectos teóricos metodológicos da cadeia de produção dos resíduos sólidos urbanos e, suas perspectivas de sustentabilidade. A cidade independente de seu tempo/escala são territórios que registram problemáticas organizacionais de gestão de conhecimento, inovação, desenvolvimento socioambiental e, tecnológico. Os resíduos sólidos urbanos são cenários paradoxos e desafiadores que necessitam de um diagnóstico de articulações inovadoras, pautadas por uma cultura de um ciclo criativo, visando à qualidade e os interesses entre: políticas, econômicas, sociais, ambientais, educacionais e tecnológicas. A Política Nacional dos Resíduos Sólidos - Lei 12.305/2010 visa a qualidade cotidiana do espaço urbano, por meio de seus instrumentos por ela citada. A Educação Ambiental; A Logística Reversa e, a Gestão de Responsabilidades Compartilhadas são referências orientadoras para a formação de inovadores processos de redes urbanas para criação de novos produtos. A reciclagem no Brasil precisa do aporte estrutural da gestão do conhecimento, da inovação e desenvolvimento socioambiental, pois fazem parte deste mosaico a qualidade ambiental e, de vida das cidades. Dentro dessa cadeia os catadores são agentes/atores que vem se multiplicando e, representam a redução de custos de serviços ambientais da coleta seletiva municipal, entretanto, é preciso competências e habilidades de projetos que reconheçam e, participem de um conjunto de aprendizagens a fim de consolidar as práticas da gestão dos resíduos sólidos urbanos por meio de tecnologias socioambientais. A gestão do conhecimento multidisciplinar e transversal é uma prospecção para a inclusão e maximização socioprodutiva para a cadeia da reciclagem. O aumento do volume e a classificação dos resíduos sólidos urbanos são preocupações da gestão socioambiental e, quando mapeados por uma rede de conhecimentos multidisciplinares e multisetoriais se faz necessário o uso de técnicas e ferramentas de projetos complexos nos mais diversos desenhos urbanos. A metodologia é bibliográfica e, exploratório por periódicos, livros e outras comunicações científicas.
TV Justiça: STF em cena
Daniele Martins dos Santos (UFRJ)Grupo Temático: Ciência e direito na coprodução dos fatos tecnocientíficos
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A TV Justiça é um canal público e não-lucrativo de televisão, administrado pelo Supremo Tribunal Federal, órgão de cúpula do Poder Judiciário brasileiro. Foi criada através de lei e tem como principal objetivo aumentar a publicidade dos atos do Poder Judiciário, através da aproximação com a sociedade. Já está no ar há mais de doze anos e constitui-se em prática pioneira, pois até o ano de sua criação não se tinha notícia de experimento semelhante no mundo. Possui uma programação extensa e variada, mas a transmissão ao vivo de julgamentos constitui a faceta mais reveladora. Já foi responsável pela divulgação ao vivo de debates intensos e ásperos entre Ministros e desvelou as entranhas do Tribunal. Os vídeos de julgamentos célebres possuem milhares de acessos e, juntos à retransmissão pelos grandes canais de televisão, são responsáveis por uma ampla visibilidade do Supremo Tribunal. São também fonte de forte controvérsia. Nosso trabalho tem como objetivo pensar como foi articulada a necessidade de criação desse novo meio de divulgação. Passando por esse ponto, avançaremos até a análise das vantagens e desvantagens do uso da tecnologia de transmissão ao vivo dos julgamentos, assim como apontadas por alguns estudiosos que se debruçaram sobre a questão. Outro ponto crucial que se pretende analisar é a forma pela qual esse novo sistema de publicidade teria (ou não) criado um novo Supremo Tribunal Federal.
Minha Casa Minha Vida: Limites da intervenção em assentamentos precários
Danieli Lopes Cabrial Kiefer (COHAB CURITIBA)Grupo Temático: Elementos e dinâmicas de desenvolvimento no contexto das cidades do século XXI
Resumo
Nos últimos 10 anos temos vivenciado experiências no que se refere à configuração de uma politica de urbanização e habitação no Município de Curitiba. Contudo, estas experiências muitas vezes ficam condicionadas aos programas do Governo Federal e por isso acabam sofrendo alterações significativas a cada novo arranjo de normativas. Em 2003 foi possível observar uma sistemática para construção de uma politica habitacional, onde a estruturação proposta reforçava o papel estratégico do município, mas propunha a articulação deste com os demais níveis da administração pública, através do Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS). Este Sistema seria viabilizado através do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS), onde o repasse dos recursos seria a fundo perdido para os estados e municípios, sendo estes os principais executores da política. No entanto, o enfoque dado ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e ao Minha Casa e Minha Vida (MCMV) confronta os princípios do SNHIS e impacta no papel estratégico da administração local e nos mecanismos de controle social. Neste sentido, o presente trabalho pretende apontar os principais aspectos do desenvolvimento do trabalho social em um assentamento precário, denominado Vila Santo Andrade com mais de 300 famílias identificadas em trecho de urbanização e reassentamento. Estas famílias foram mobilizadas em 2013 para o processo de habilitação conforme prevê as normativas do MCMV e em 2014, parte das famílias conseguiram atendimento através do programa. Contudo, não foram poucos os limites encontrados para esta intervenção, principalmente por não caracterizar uma proposta integrada de planejamento urbano, deixando pra trás elementos fundamentais da organização socioespacial. Para a coleta de dados utilizou-se da leitura e compilação dos diferentes registros elaborados pelos técnicos de referencia responsáveis pela intervenção, além de entrevista semiestruturada com famílias não atendidas, lideranças da comunidade, técnicos de referencia das demais politicas locais como assistência, saúde, meio ambiente e educação.
Tecnologias na educação: os recursos educacionais abertos configurando novas práticas educacionais
Danielle de Carla Divardin (UFSCar)Grupo Temático: História das Ciências e da Tecnologia aplicadas ao Ensino
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Vive-se um momento de mudanças nos processos de comunicação, aquisição e produção do conhecimento, propiciados pelos avanços tecnológicos da informática e das telecomunicações. As novas formas de percepção e construção do conhecimento repercutem diretamente na escola. O desafio atual é integrar os meios de comunicação ao processo educativo para refletir sobre as diferentes linguagens e suas maneiras de informar o mundo para que suas potencialidades sejam usadas de forma crítica e consciente.
De acordo com alguns setores ligados diretamente com as novas tecnologias, a massificação de sua utilização seria a chave para resolver os principais problemas da humanidade. No entanto, esse enfoque tecnocrático ignora a complexidade dos processos sociais. O conhecimento e a informação tornaram-se fatores-chaves da produção na economia moderna e, sendo assim, não há razão para que seu acesso seja democratizado somente em virtude do desenvolvimento técnico. A questão que se coloca, portanto, é como as técnicas poderão ser socializadas e não como se tecnificar a sociedade.
Nesse cenário, o movimento REA (Recursos Educacionais Abertos) pode contribuir para o acesso ao conhecimento, à informação e à cultura. Os REAs são recursos de ensino, aprendizagem e pesquisa que estejam em domínio público, ou que estejam disponíveis com licença aberta para uso e adaptação de terceiros.
O trabalho que está sendo desenvolvido parte de um panorama histórico da utilização de recursos audiovisuais (cinema, televisão, mídias digitais) na educação evidenciando como seu uso pode ser apropriado pelo Estado ou por organizações privadas. Em seguida, propõe-se um estudo de caso analisando a produção de Objetos Educacionais Digitais para o PNLD 2014 (ensino fundamental, área de ciências). Essa iniciativa demonstra a preocupação do governo brasileiro em facilitar o acesso de professores e alunos às novas tecnologias.
As novas tecnologias podem e devem ser utilizadas para tornar a educação mais acessível e menos excludente, formando cidadãos com capacidade de reflexão e análise crítica e que participem ativamente em prol de uma sociedade mais justa e democrática. Os REAs poderão ser uma ferramenta importante para a conquista destes objetivos.
Controvérsias na divulgação científica e tecnológica no século XIX: o transporte ferroviário pela ótica do jornal “A Província de São Paulo”
Danilo Brancalhão Berbel (Universidade Federal de São Carlos), Camila Carneiro Dias Rigolin (Universidade Federal de São Carlos)Grupo Temático: Ciência e Techné na História
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O jornal “A Província de São Paulo” (que passaria a se chamar “O Estado de São Paulo” após a Proclamação da República) nasce em janeiro de 1875 e traz já em sua primeira edição discussões acerca da ciência e tecnologia da época. Entre diversos temas, destaca-se o desenvolvimento das estradas de ferro e surgem discussões a respeito do emprego desta tecnologia no Brasil: tamanho das bitolas a serem utilizadas, modelos internacionais a serem adotados, capacidade de transporte de carga e passageiros, velocidade das máquinas, potência para enfrentar aclives e curvas e necessidades econômicas e sociais são algumas dessas controvérsias, discutidas em espaço privilegiado. Através de análise qualitativa sistemática, buscou-se revelar aspectos importantes para a compreensão do desenvolvimento científico e tecnológico da época e entender como a informação de C&T era apresentada à população por meio do jornalismo. Cabe ressaltar que, nesta época, as tradições culturais geravam um material muito mais próximo das artes literárias que o jornalismo atual. Os autores eram poetas, escritores, advogados, latifundiários, médicos e outros profissionais, incluindo cientistas e engenheiros que publicavam pareceres técnicos sobre o desenvolvimento da época. Como principais resultados, destacam-se os dois momentos distintos da discussão sobre as estradas de ferro no país: primeiro, entre 1875 e 1876, com ênfase para tecnologias de bitola estreita, vagões mais leves e máquinas capazes de puxar quantidade maior de vagões; e um segundo momento, a partir de 1877, que enaltece a tecnologia da bitola larga, com vagões maiores e capazes de carregar mais carga, situando as limitações das máquinas quanto a aclives, curvas e potências. Questões técnicas eram apresentadas para a população sem preocupações quanto à compreensão das informações ou mesmo introdução ao conteúdo especializado. Foram analisados 70 textos entre 1875 e 1889 a respeito do transporte ferroviário publicados na “Secção Industrial”, espaço do jornal reservado para discussões de avanços tecnológicos.
A usabilidade e suas faces: uma análise de um ambiente virtual de aprendizagem numa instituição de ensino
Danilo Cortez Gomes (Servidor Público Concursado), Giovana Silva Santos (IFRN), Lucas Alves Balbino (IFRN)Grupo Temático: Um olhar sociotécnico sobre o software
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O Moodle, ambiente virtual de aprendizagem derivado do conceito de e-Learning, foi implantado em diversas instituições de ensino, aumentando assim a oferta de cursos de ensino a distância consideravelmente na última década, bem como as instituições que atuam com essa metodologia. Destaca-se na modalidade de educação a distância, a importância da estrutura fornecida pela instituição aos alunos que deve permear por características baseadas numa usabilidade adequada, pois é através da interface que o usuário/aluno percebe, vê e busca as informações. Nessa perspectiva, o presente estudo buscou identificar as características referentes à usabilidade do moodle no IFRN – Campus Currais Novos. A pesquisa, feita no período de dezembro de 2014 a janeiro de 2015, de caráter descritivo e de campo foi realizada com 153 alunos (com 86 respostas válidas) do curso técnico em Segurança do Trabalho através da aplicação de questionário em que os dados foram coletados e em seguida analisados. Os resultados revelaram que a maior parte dos alunos pesquisados está satisfeita com o moodle, porém, uma parcela considerável dos alunos se mostraram descontentes com o mesmo, explicitando, em sua maioria, que o design precisa ser melhorado. Por fim, os resultados apresentados se limitam a uma realidade específica de um ambiente virtual, de um curso e uma instituição, não podendo ser generalizado para outras instituições, cursos ou ambientes virtuais.
A fundamentação antropológica em Vieira Pinto: formação humana e trabalho no âmago do real
Danilo Svágera da Costa (Escola da Serra)Grupo Temático: Álvaro Vieira Pinto
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Este estudo analisa o sistema nacional-educacional proposto pelo pensador contemporâneo Álvaro Vieira Pinto e sua estreita vinculação com uma antropologia – amálgama que suscitará sua fundamentação para reflexões tecnológicas. Visamos, ao efetuar o presente estudo, primeiramente repensar a antropologia vieirista, base de todo o pensamento do autor, além de buscarmos resgatar o corpus filosófico de um autor de suma importância, embora negligenciado por questões políticas (dentre outras), e que se empenhou como agente propulsor de uma nova nação – integrada com uma consciência de criticismo no âmago dos países periféricos.
Para atingirmos o proposto, metodologicamente discutiremos os conceitos presentes em sua obra Consciência e Realidade Nacional, tais como: intelectuais, trabalho, consciência, ingenuidade, criticismo, ideologia do desenvolvimento; mediatizados pela contextualização histórica na qual o autor se insere e pelo levantamento de seus marcos teóricos, visando reconstruir os passos que garantiriam a discussão acerca da viabilidade do projeto.
Como fundamentação teórica Vieira institui, em primeiro plano, uma crítica à filosofia, pedagogia e sociologia atuais, as quais careceriam do sentido categorial de totalidade necessária para fomentar uma explicação satisfatória da realidade. Segundo o autor, tais disciplinas ficaram presas a categorias estrangeiras do centro desenvolvido, que não serviriam como aparato explicativo da situação real dos países periféricos. Num segundo momento, ao se dar conta da necessidade de alteração dos pólos políticos e educacionais contemporâneos, propõe um sistema filosófico articulado pela substituição da consciência ingênua e de suas categorias por uma consciência crítica, vinculada à representação efetiva do panorama social – em última instância, o filósofo oferece-nos os fundamentos para uma nova educação, centrada na ideia de processo de humanização do povo como integrado à sua situação existencial do país – além da sua inserção existencial pelo mundo do trabalho e tecnologia.
Desse modo, endossando a perspectiva do autor, a partir de uma ressignificação tanto pedagógica quanto representativa, aliada ao denominado desenvolvimentismo do povo, podemos fundamentar uma educação tecnológica, transcendendo um mero projeto partidário-político e afirmando um projeto amplo de nação.
A atuação de uma psicóloga em um pré-vestibular: um fazer no feminino
Grupo Temático: PesquisarCOM e o feminino na ciênciaGrupo Temático: PesquisarCOM e o feminino na ciência
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Este trabalho pretende abordar a atuação situada de uma psicóloga em um pré-vestibular comunitário, bem como as transformações ocorridas em sua atuação através de um pesquisarCOM que propiciou um fazer no feminino. Trago a ideia do fazer no feminino como uma postura diferente da lógica dominante de fazer ciência, discutida por Stengers em seu texto A ciência no feminino. Neste trabalho, a autora traz a história de Barbara McClintock e sua maneira peculiar de fazer ciência. Dentre muitas características deste fazer, para este trabalho, pretendo abordar dois aspectos importantes que, ao meu ver, tem sido negligenciados pelo fazer científico moderno, são esses: discussões a cerca do corpo e o resgate da sensibilidade, que permite uma outra postura no campo, como por exemplo, o exercício de se surpreender no campo. Nesses sete anos de atuação no contexto do pré-vestibular comunitário, passei de estudante de psicologia a psicóloga formada, e agora mestranda. Me proponho a pensar a prática desenvolvida neste local, passando por cada uma dessas fases, não de uma maneira linear, mas trazendo as heranças, bem como as criações que foram se dando ao longo do tempo e com o aporte dos estudos cts (ciência, tecnologia e sociedade). Pensar a prática e refletir sobre ela me permite construir, com os actantes deste espaço, um fazer no feminino. Para isso, Isabelle Stengers, Vinciane Despret, Favret-Saada, Donna Haraway e Anemarie Mol me auxiliam nesta tarefa. Entendendo que cada uma dessas traz em seus trabalhos contribuições valiosas, pricipalmente, no que tange a prática em pesquisa, estas servem de referência para que minha prática e reflexão sigam em direção a construção de um trabalho pautado no pesquisarCOM e no fazer no feminino. Muito embora sejam todas, as citadas, mulheres, o fazer no feminino passa ao largo de uma discussão focada no gênero para ser uma discussão politica a cerca do fazer científico.
Gestão integrada de recursos hídricos: entraves e interações dos usos múltiplos da água através do olhar da ciência, tecnologia e sociedade
Denise Rauber (UTFPR), Adriana Ripka (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), Christian Luiz da Silva (UTFPR), Flávia de Faria Gomes (UTFPR), Gabriel Massao Fugii (Universidade Tecnolóvica Federal do Paraná)Grupo Temático: Políticas Públicas e Desenvolvimento Local: interveniências e interações entre tecnologia, sociedade e democracia
Resumo
O presente artigo aborda a temática dos usos múltiplos da água e de sua gestão em determinado território, considerando os entraves e as interações dos atores, instituições e políticas em uma visão interdisciplinar e sistêmica. A água suporta e integra as interações das atividades com a indústria, energia, saúde humana, desenvolvimento urbano, agricultura e com todo o sistema biológico, tornando-se relevante a compreensão de fatores que venham contribuir para a adequada gestão integrada dos recursos hídricos. Diante de diversos usos, aparecem os interesses e conflitos (potenciais ou explícitos) que atuam de alguma forma sobre os meios físico, natural e construído, neste contexto o planejamento da gestão integrada de recursos hídricos pressupõe uma política que deve orientar as ações humanas públicas e privadas, no sentido de organizar a relação entre a demanda e a oferta de água de modo a que as ações realizadas tenham um sentido complementar, observando a própria indicação da Lei Federal nº 9.433/97 – Lei das Águas, através de seus instrumentos de gestão. Assim, esses aspectos acabam por interferir diretamente no desenvolvimento territorial, indicando a relevância do planejamento integrado de recursos hídricos, que pressupõe ainda uma compreensão dessas relações através da ciência, tecnologia e sociedade. Todo uso dos recursos naturais está vinculado a um padrão tecnológico próprio de cada momento, estabelecido pelas relações de produção e consumo provenientes das necessidades humanas, entendendo que a tecnologia é o resultado das relações sociais de produção dentro da sociedade. Desta forma, é possível observar que os interesses e conflitos se estabelecem em função do próprio entendimento do uso dos recursos naturais pela sociedade. Assim, utilizando-se de revisão bibliográfica, meio exploratório e descritivo o artigo trabalha a gestão integrada de recursos hídricos abordando os entraves e interações dos usos múltiplos da água através do olhar da ciência, tecnologia e sociedade.
“A Pedra que Pariu” - das práticas e estratégias de aproximação de mulheres/gestantes em situação de rua que usam crack na cidade do Rio de Janeiro.
Diana Jenifer Ribeiro de Almeida (UERJ)Grupo Temático: PesquisarCOM e o feminino na ciência
Resumo
O presente resumo tem como proposta expor narrativas de experiências de uma pesquisadora e seu campo de estudos, composto por mulheres em situação de rua e como se relacionam com a maternidade.
Minha inserção no tema da população em situação de rua que faz uso abusivo de crack iniciou em 2011 e transformada em campo de pesquisa da minha dissertação de mestrado¹, defendida em janeiro de 2014. O produto deste percurso, narrado a partir das minhas experiências como psicóloga e pesquisadora nos espaços que se concentravam, só foi possível a partir da relação que estabelecemos de nos deixarmos ser afetados por nossas presenças e experiências. Um tema pouco explorado e com muitos mitos a seu respeito, foi apresentado como sendo uma versão local e situada de uma realidade mais ampla e complexa.
Com proposta de aprofundamento da temática, proponho acompanhar histórias e trajetórias de mulheres em situação de rua e que usam abusivamente o crack e outras drogas, a partir do recorte da maternidade. Considerando que tal característica não teve forte evidência, já que se propunha a descrever as principais características e práticas coletivas, tanto de homens e mulheres, desenhando uma verão dos comportamentos e falas daqueles encontrados nas cenas de uso de crack.
A maternidade das mulheres em situação de rua me saltou aos olhos, pois somente acompanhando a rotina e estórias dessas mulheres, foi possível ir além da versão de descaso e abandono que as rotulam, já que não interrompem o uso de drogas apenas da gestação.
Quantitativamente elas não são maioria dos que estão nestas condições (30% das pessoas em situação de rua são mulheres), mas mediante às especificidades do gênero, estão mais expostas à violências e fragilidades de saúde e sociais. Desta forma, entendendo que elas são múltiplas e suas experiências de vida são rodeadas de conflitos e incertezas, pretendo trazer a partir da condição de mulher e pesquisadora em campo minhas versões, levando em consideração o que nos assemelha e nos difere.
Jornadas de Junho, midiativismo e a narrativa colaborativa na rede distribuída da internet.
Diego Felipe de Souza Queiroz (Servidor SEEDUC), Nilton Bahlis dos Santos (FIOCRUZ), Rodrigo Cunha Bertamé Ribeiro (PROURB - FAU -UFRJ)Grupo Temático: Internet: entre o capital e as ruas
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Resumo
Este artigo se propõe a investigar o processo de midiativismo insurgente nas manifestações de 2013 potencializado pelas redes sociais. Analisa como as redes facilitaram a difusão de um sistema de mídia horizontal e descentralizado estudando como os novos processos de produção promovem uma mudança nas relações e dinâmicas dos sistemas de comunicação e informação, seja pautando reportagens, seja construindo disputas e espaços políticos em ambientes virtuais.
Em meio as discussões políticas e sociais suscitadas à época, ganhou destaque a atividade dos midiativistas. Munidos de aparelhos portáteis de captura de som e imagem com seus canais de vídeo, portais e páginas em redes sociais, estes peripatéticos produtores de conteúdo revolucionaram a forma de produzir e trabalhar com a informação.
Durante a “primavera brasileira” a proliferação de blogs, canais de vídeos, de streamings e o compartilhamento de suas produções nas redes sociais, promoveram um levante informativo que trasbordou todas as barreiras colocadas pelo paradigma da comunicação tradicional. A cobertura colaborativa emergente, potente enquanto movimento oriundo de inúmeros nós dentro da rede distribuída da internet, não demorou em superar os discursos consensuais e monolíticos dos grandes noticiários da TV aberta, capas de jornais e revistas, que não foram capazes de deter o mar de vozes divergentes.
Campanhas de criminalização das lutas foram contrapostas por narrativas de legitimação vindas diretamente das ruas. Se na imprensa convencional tínhamos imagens frias, capturadas por caríssimas câmeras em helicópteros, por outro se multiplicaram imagens orgânicas produzidas em meio as barricadas, fumaça e correria. E, muitas vezes, o enxame comunicacional aparentemente frágil, conseguiu se contrapor e se impor, ainda que localizadamente, ao poderio das mega corporações de comunicação.
Em um cenário onde o capitalismo cognitivo impõe mudanças nas formas de produção, as estruturas políticas típicas do paradigma moderno da centralidade entram em crise. A democracia representativa começa a ser questionada por movimentos que em muito se diferem dos tradicionais partidos e organizações políticas. E em meio a estes questionamentos surge também um ambiente vívido, marcado pela criatividade e colaboração, onde linhas de fuga são traçadas para transcender o sistema de controle do poder constituído.
El gobierno de la niñez y la adolescencia en situación de calle: sobre racionalidades políticas, procesos de traducción y producción de subjetividad
Diego Gonzalez García (Facultad de Psicología)Grupo Temático: Estudos CTS, Práticas Psi e Modos de Produção de Subjetividades
Resumo
Esta ponencia se nutre de los resultados de dos tesis de la Maestría en Psicología Social sobre dispositivos de atención a niños, niñas y adolescentes (NNA) en situación de calle en Uruguay.
Los primeros resultados, están vinculados en establecer cómo se producen las nociones de NNA en situación de calle a partir del análisis de la racionalidad de las políticas públicas. El concepto de gubernamentalidad (Foucault, 2006) permite estudiar la trama desplegada en el campo de Políticas Públicas, como aquellas acciones dirigidas a conducir la conducta de las poblaciones e incluye al menos tres planos de análisis. 1- Unas tecnologías de poder, que implican la puesta en marcha de una serie de técnicas dirigidas sobre la conducta de los sujetos. 2- Unos saberes específicos, que se producen entorno al objeto que debe ser gobernado. 3- Una determinada producción de subjetividad, que se compone por las prácticas que asumen los procesos de gobierno entre gobernantes y gobernados. De esta manera, indagando los planes, programas y proyectos de gobierno en cuanto a su perfil poblacional de atención y en las acciones diseñadas, es posible analizar la red de elementos que conforman la política y obtener un mapa de procedimientos, estrategias y tácticas de gobierno dirigidas a NNA en situación de calle.
El segundo punto entrada, es dilucidar la actividad de atención directa a NNA en situación de calle, a partir de comprender cómo se despliega la compleja red de prácticas; atravesadas por instituciones, disciplinas, cálculos, estrategias y tácticas. Los equipos de atención son un nodo de traducción entre las racionalidades gubernamentales y las poblaciones gobernadas. Siguiendo un análisis de las traducciones desde la teoría del actor red (Latour, 2008), las prácticas que se despliegan en la red socio técnica implican la interacción entre actantes humanos (directivos, coordinadores, educadores y los NNA en situación de calle) y no humanos (protocolos, disciplinas, y espacios de trabajo) que están en tensión entre las intermediaciones y mediaciones de sus prácticas. Las intermediaciones están relacionadas a las traducciones verticales de las políticas, mientras que las mediaciones están relacionadas a la posibilidad transformadora he instituyente del acto educativo.
O IPCC e o processo de construção do conhecimento sobre mudanças climáticas: os paradigmas da ciência pós-normal, da coprodução do conhecimento e da dupla hermenêutica
Diogenes Salas Alves (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais)Grupo Temático: Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia e as Mudanças Climáticas
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Resumo
O problema das mudanças climáticas antropogênicas é objeto de acordo internacional maior - a Convenção das Mudanças Climáticas - e de diversas instituições em inúmeros países. Essas instituições demonstram o reconhecimento do problema pelo campo político - não obstante incertezas, controvérsias, polêmicas e impasses - reconhecimento para o qual o Intergovernmental Panel of Climate Change (IPCC) contribui desde sua fundação.
Neste trabalho, propõe-se uma reflexão sobre o papel do IPCC (“the leading international body for the assessment of climate change … established … to provide the world with a clear scientific view on the current state of knowledge in climate change and its ... impacts”, http://www.ipcc.ch) na aceitação da tese das mudanças climáticas pelo campo político, dando-se ênfase às questões de detecção e atribuição das mudanças climáticas e tomando-se como referência os paradigmas da ciência pós-normal (Saloranta, 2001), da co-produção do conhecimento (Jasanoff, 2004) e da dupla hermenêutica (Alves, 2012).
Buscar-se-á mostrar que os paradigmas da ciência pós-normal privilegiariam aspectos procedurais do IPCC à luz da complexidade e das incertezas e da multiplicidade de interesses (“stakes”) da questão climática, os da co-produção do conhecimento ajudariam a explorar os elementos solidários entre produção do conhecimento e relações políticas e de poder, e os da dupla hermenêutica assumiriam que problemas como as de detecção e atribuição incluiriam aspectos inicialmente mais técnicos, que terminariam sendo deliberados e critica e seletivamente absorvidos pelo campo político (conf. Giddens, 1996).
Apesar dos aparentes elementos comuns entre as três concepções, o trabalho irá propor que à primeira e à segunda pode ser atribuído um interesse maior por aspectos interacionais e epistemológicos (em oposição a elementos mais constitutivos e/ou reflexivos), enquanto a segunda e a última atribuiriam maior importância às dimensões políticas das mudanças climáticas (em oposição a uma orientação mais tecnocrática ou de gestão).
Finalmente, o trabalho tentará indagar como cada concepção pode contribuir para explorar, de um lado, os papéis esperados das ciências no campo das mudanças climáticas, e, de outro, os tipos de articulação interdisciplinar que daí decorreriam.
Ciborgue em revista. O info-entretenimento científico impresso no Brasil e a naturalização do corpo pós-humano
Djaine Damiati (UNESP)Grupo Temático: Saberes do corpo e sobre o corpo: formas de conhecimento, experiência, ciência e expertise
Resumo
A partir dos anos 1980, começa a ganhar força no Brasil um gênero de publicação impressa de grande apelo visual, cuja identidade se caracterizava por oferecer um conteúdo baseado em informações sobre tecnologia, ciências biomédicas, astrofísica, história e psicologia, numa linguagem acessível ao público leigo, sob o pretexto de desenvolver o que as próprias editorias denominavam “entretenimento inteligente”.
A pioneira no gênero foi a revista Planeta nascida em 1972. Uma versão nacional da Planète francesa surgida em 1961 com base no sucesso do realismo fantástico literário em evidência na época. Atualmente, um íncone deste gênero no Brasil, também caracterizado como “info-entretenimento” é a revista Superinteressante, criada em 1987 a partir do modelo espanhol, a Muy Interessante, publicada pela primeira vez em Madrid no ano de 1981. Apelidada pelos leitores e redatores de “Super”, ela mantém-se como um exemplo de mídia massa com grande penetração e uma tiragem média de 400 mil exemplares, resistindo às intempéries da revolução digital e ainda inspirando publicações no mesmo segmento.
Entendendo a relevância que este tipo de publicação assume na cultura contemporânea, enquanto mediadoras do discurso científico voltado para o público leigo e tendo em vista o fato de que os meios de comunicação na atualidade constituem-se como uma dimensão importante do espaço público, capaz de ressignificar os referenciais de espaço e tempo, bem como o sentido da própria experiência humana, este trabalho lança um olhar analítico sobre as revistas Superinteressante, Galileu e Planeta, com o intuito de verificar, a partir do seu conteúdo imagético e textual, o modo como estes produtos midiáticos apresentam o corpo humano como objeto de intervenções da tecnociência, por meio de um discurso de naturalização totalmente moldado pela linguagem do entretenimento sci-fi, através do qual são lançadas as discussões sociais, éticas, morais, identitárias e até ontológicas que tais intervenções dinamizam, caracterizando a forte influência da herança cibernética e do liberalismo científico.
O cartógrafo social, um designer de associações.
Douglas dos Santos Lemos Lima (Universidade Federal de Itajubá), Adilson da Silva Mello (UNIV FEDERAL DE ITAJUBÁ), Camila Loricchio Veiga (Universidade Federal de Itajubá - UNIFEI)Grupo Temático: Produção de conhecimentos e artefatos - Experiências interdisciplinares em design
Resumo
Mapeando as percepções coletivas sobre as políticas de mudanças climáticas: como ampliar a participação pública no Brasil?
Daniela de Oliveira Klebis, Maria Conceiçao da CostaGrupo Temático: Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia e as Mudanças Climáticas
Resumo
O presente resumo pretende propor uma discussão sobre formas possíveis de analisar as políticas sobre mudança climática vis-à-vis o engajamento público. A atual implementação de políticas públicas relacionadas à mudança do clima no Brasil passa, como regra geral, por um caminho linear: a partir do alerta disparado por observações científicas para as deliberações do governo. A participação do público é restrita a um papel consultivo, e dominada pelos chamados stakeholders. Este estudo investiga como é possível melhorar a participação pública no processo deliberativo das políticas climáticas. Como as alterações climáticas e as suas políticas são percebidas por ambos os tomadores de decisão e público? E como seria possível melhorar a participação do público nestes processos?
Para responder a essas perguntas, busca-se, em primeiro lugar, observar como as políticas sobre mudanças climáticas têm sido desenvolvidas no Brasil e, em uma segunda etapa, adaptar uma ferramenta de mapeamento de política amplamente utilizado na Europa, o mapeamento multicritérios (MCM) (STIRLING, 2005) para observar as diferentes percepções sobres essas políticas e explorar quais combinações de propostas são mais propensas a serem aceitas e implementadas. Busca-se, assim, possíveis caminhos que, conforme sugere Bruno Latour (2004, 2014) , se proponham a pensar a criação de alianças que insiram os problemas colocados pela ciência dentro de um contexto adequado que potencialize a participação pública e o desenvolvimento de políticas.
Autonomia Privada versus Disposição Sobre o Próprio Corpo
Diego de Oliveira BragaGrupo Temático: Ciência e direito na coprodução dos fatos tecnocientíficos
Resumo
O presente trabalho falará dando enfoque à problemática existente entre a autonomia privada e os possíveis limites à disposição do próprio corpo acerca dos Direitos da Personalidade, os quais são inerentes à condição humana, irrenunciáveis, intransmissíveis, imprescritíveis, inalienáveis.
O ordenamento jurídico brasileiro tem como princípio matriz o da Dignidade da Pessoa Humana, o qual está presente no inciso III do artigo 1° da Constituição Federal de 1988, que representa a Cláusula Geral de Tutela de todos os direitos da personalidade humana. Dessa forma, há um vínculo indissolúvel entre a dignidade e a personalidade, que, graças à referida cláusula, está com seus direitos (integridade psicofísica, nome, imagem, honra e privacidade) integralmente tutelados.
A autonomia privada consiste na faculdade que o indivíduo possui para fazer aquilo que bem entender: seja escolher qual religião adotar para si, seja escolher qual imóvel comprar, seja escolher com quem se relacionar. A liberdade de realizar escolhas está ligada à responsabilidade humana. Ou seja, o exercício da liberdade pressupõe a não violação da dignidade.
Dessa forma, atos decididos consciente e racionalmente que são realizados sobre o próprio corpo, como a autoflagelação, poderiam ocorrer sem objeção, visto que seriam apenas manifestação da autonomia privada ou, por causarem agressões ao corpo, afetando assim a dignidade, deveriam ser coibidos?
Diante desse quadro, o presente trabalho apoia-se e realiza seu estudo.
O Laboratório de Psicologia Experimental da Faculdade Salesiana de Lorena-SP
Denise Pereira de Alcantara FerrazGrupo Temático: Ciência e Techné na História
Resumo
Este estudo é parte de pesquisa realizada para tese de doutoramento em Psicologia Social, concluída em 2014, cuja temática foi a história do Curso de Psicologia da Faculdade Salesiana de Filosofia, Ciências e Letras de Lorena - SP, com a perspectiva de compreender as relações sociais, culturais, as práticas cotidianas e os modos de fazer que caracterizaram a constituição daquele curso. Esta história foi construída por meio de fontes documentais e iconográficas, dentre as quais se destacam as fotografias, recortes de revistas, jornais da época, documentos oficiais e não oficiais, além de entrevistas narrativas. Um dos recortes feitos para este estudo foi a análise da importância dos equipamentos trazidos de Turim nos anos de 1952 e 1953 para a criação do Laboratório de Psicologia Experimental desta faculdade, inaugurado em 1954. O Laboratório Experimental de Psicologia tinha como objetivos a formação científica dos alunos e estagiários no método da observação sistemática e da experimentação psicológica, a fim de adquirirem objetividade, precisão e senso científico; a pesquisa no campo da Psicologia Pura e Aplicada que possibilitaria aos professores e aos alunos interessados diversos trabalhos e estudos; demonstrações didáticas, feitas para os alunos ou estudiosos de outros institutos científicos para que pudessem constatar, na prática, a veracidade de certas leis ou o valor de suas aplicações; o atendimento para aqueles que desejassem orientação profissional, educacional, diagnose e terapia de desajustamentos. A partir da análise do material que fazia parte do laboratório, é possível identificar aparelhos, testes e equipamentos para a realização de medidas biométricas, sensoriais, de aptidões específicas, de personalidade e de interesses. Outros aparelhos eram de uso geral, como é o caso do amplificador, máquina calculadora e projetor, e dos medidores e registradores. Atendendo às necessidades dos diferentes momentos, este laboratório se modificou, foi acrescido de biotério, testes, alguns aparelhos foram deixados em desuso e as práticas foram transformadas ao longo do tempo, desde sua criação em 1954 até sua incorporação ao curso de Psicologia em 1969.
Popular ou dialógica? Condições de disseminação do conhecimento científico
Daniel Maurício Viana de SouzaGrupo Temático: GT Ciência, tecnologia e inovação social
Resumo
Vive-se contemporaneamente em uma sociedade cada vez mais acercada e dependente de conhecimentos científicos e tecnológicos, fato este, suficiente para justificar o crescente incentivo às práticas sistemáticas de disseminação da ciência, a partir de múltiplas e diversificadas iniciativas, atreladas a diferentes instâncias institucionais e áreas de atuação. E apesar de se poder acrescentar a este quadro inúmeras experiências destoantes da ideia mitológica do cientificismo messiânico, não se pode negar que ainda persiste um imaginário amplamente propalado no qual se admite uma certa autoridade hegemônica nas formulações advindas do horizonte científico, em detrimento das demais formas de leitura e interpretação do real. É sobremodo importante, dessa maneira, conceber e privilegiar propostas de comunicação irrestrita acerca do domínio científico, verdadeiramente críticas e reflexivas, capazes de produzir representações que forjem uma "fisionomia" da ciência estabelecida não no seu 'aparecer social' mas, sobretudo, na sua 'ação cultural' dentro da sociedade. Neste sentido, inseridas na miríade terminológica, conceitual e prática, típica desta esfera de interesse, é possível localizar alternativas que procuram aproximar o conhecimento científico dos, assim denominados, "saberes comuns". Mesmo no escopo de tais esforços de valorização do "popular" ainda é possível perceber nuances que, em última análise, identificam métodos e objetivos distintos. Assim considerando, procederemos aqui inicialmente num delineamento das fronteiras daquilo que genericamente se qualifica como 'popularização científica', de forma a distinguir as iniciativas mais ligadas ao modelo da compreensão pública da ciência, das mais comprometidas com o engajamento das minorias historicamente alijadas dos processos concernentes ao domínio científico e tecnológico. A partir disso, será possível num segundo momento, discutir sobre a viabilidade de uma postura que foque mais na proposição de situações democráticas de interlocução horizontal entre as diferentes formas de saber, do que numa busca obstinada para suprir os débitos ocasionados pela estratificação histórica entre ciência e senso comum. Intencionamos, com isso, contribuir para a consolidação de uma perspectiva de disseminação de ciência e tecnologia, intrínseca e verdadeiramente dialógica.
Pesquisar COM animais: notas sobre responsividade e cavalarices
Dolores Galindo, Danielle MilioliGrupo Temático: PesquisarCOM e o feminino na ciência
Resumo
A Psicologia Social, dificilmente, pensa sobre as relações entre humanos e outros animais sem que os últimos sejam posicionados num estatuto subtrativo em relação aos primeiros. A psicóloga belga Vinciane Despret, situada no campo dos chamados Estudos Sociotécnicos, parece-nos ser uma das poucas psicólogas na atualidade que pode ajudar a desviar às armadilhas do antropocentrismo.
Para despret, Não se trata de tomar o animal como um ser respondente, alguém que responde às nossas atuações. Relações responsivas apontam novas versões do que o outro pode fazer, apontam que o outro que interrogamos pode fazer existir outras coisas não previstas por nós. A partir desta proposição, animais deixam apenas de reagir e se tornam mais inventivos e interessantes.
Em nossa pesquisa, na interface entre Psicologia Social e Dança, criamos todo um universo a respeito dos cavalos que é alimentado por encontros com obras de outros artistas, com um cavalo puxando uma carroça passando na rua, por memórias e sensações de nossas convivências passadas com esses animais. Para buscar outros modos de conexão com os cavalos, fomos ainda até a escola de equitação Cavalarices.
Interessa-nos a produção de territórios heterogêneos de articulação, onde arte, ciência e cotidiano se afetam mutuamente nas suas diferenças. Ao trazer a invenção artística e o cotidiano para a escrita acadêmica, buscamos potencializar esses afetos e, mais, buscamos a produção de saberes menos pautados por eixos de dominação e mais conectados com o mundo, com a vida (HARAWAY, 1995; MATURANA, 2001; COSTA, 2014).
Na ocasião do experimento, os cavalos da escola de equitação encontravam-se em baias localizadas na cidade de Palhoça-Santa Catarina, no bairro Guarda do Cubatão, sendo que algumas atividades eram desenvolvidas em um Centro de Tradições Gaúchas (CTG) próximo a este local e em estrutura de uma escola de equitação localizada no município de São José-Santa Catarina. Visitamos todos esses lugares.
Observações, entrevistas formais e informais com cavaleiros, cavaleiras e criadores, registros fotográficos e em diário de campo, participação em algumas das atividades da e na escola e nas baias como Treinamento de Retidão, passeios, além de todos os procedimentos de manejo e doma dos animais e realização de improvisações de contato com um dos cavalos constituiram a dança- experimento.
Organismos multilaterales de crédito y políticas públicas. Análisis de las negociaciones de préstamos de ciencia y tecnología entre el Banco Interamericano de Desarrollo y el Estado Argentino
Diego Sebastián Aguiar, Francisco Javier Aristimuño, Nicolás MagriniGrupo Temático: Política de Ciência e Tecnologia
Resumo
Los autores del campo de los estudios sociales de la ciencia y la tecnología coinciden en que la ciencia, la tecnología e innovación juega un papel central en el desarrollo de América Latina. En este contexto, resulta fundamental entender el proceso de construcción social de la agenda de las políticas de fomento a la ciencia y la tecnología, y los distintos actores y teorías que intervienen en la construcción social de políticas, instituciones e instrumentos. En las últimas décadas en América Latina los organismos internacionales de financiamiento vienen ocupando un lugar central en las políticas de ciencia, tecnología e innovación; en particular Argentina, desde la década de 1990 ha sido el mayor tomador de créditos para ciencia, tecnología e innovación del Banco Interamericano de Desarrollo de la región.
El presente trabajo analiza las negociaciones que dieron lugar al Programa de Modernización Tecnológica I en 1994 y al Programa de Modernización Tecnológico II en 1999. La hipótesis del trabajo es que dichos préstamos influyeron tanto en la forma en la que se concibe las políticas y se fomenta la ciencia, la tecnología e innovación en Argentina, como en la transformación de la configuración de las instituciones (creación del Fondo para la Investigación Científica y Tecnológica, Fondo Tecnológico Argentino y la Agencia Nacional de Promoción Científica y Tecnológica), jugando el Banco Interamericano de Desarrollo un rol significativo en ese proceso.
El abordaje teórico utilizado triangula conceptos de distintos campos: análisis de políticas públicas, estudios sobre expertos, e historia del pensamiento económico. La metodología es centralmente cualitativa, incluye análisis de documentos (informes de organismos públicos de ciencia y tecnología y estadísticas oficiales) y entrevistas en profundidad a funcionarios y expertos del gobierno y del Banco Interamericano de Desarrollo.
Projeto e reprojeto em plantas industriais
Daniele Aparecida da Silva Vieira, Rodrigo RibeiroGrupo Temático: Reflexões sobre Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: dimensões históricas, econômicas e sociais
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Um projeto de engenharia é elaborado, a princípio, para atender às necessidades de um determinado sistema produtivo. Os envolvidos em atender à esta demanda, geralmente engenheiros de várias especializações, como eletricistas, estruturais, de automação, mecânicos, etc., se veem diante de um processo mais social do que puramente técnico (Bucciarelli, 2003). Eles terão que se inteirar de suas diferenças técnicas para encontrar um denominador comum para as zonas de conflito na intenção de minimizar ao máximo as futuras alterações que podem ocorrer no projeto, antes e após sua implantação. A tentativa é de diminuir o ônus de reprojetar, tanto para a empresa projetista, quanto para o cliente e seus operadores. Adicionalmente, percebe-se na prática, que existe uma distância significativa entre o que está prescrito no projeto e a atividade realizada em situação (Béguin, 2007). O presente trabalho analisa um caso de reprojeto em uma planta de produção de ferro-níquel, na intenção de discutir essa relação entre projeto e produção em plantas industriais. Com base em um estudo de caso, será discutido esse distanciamento e como isso pode afetar as condições de trabalho dos operadores e a produção.
Catadoras/es de materiais recicláveis: corpos abjetos demarcadores da ordem social?
Daniela Isabel Kuhn, Gilson Leandro QueluzGrupo Temático: Saberes do corpo e sobre o corpo: formas de conhecimento, experiência, ciência e expertise
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E
A mudança das instalações do laboratório de Química do Externato do Colégio Pedro II entre 1925-1932
Edson de Almeida Ferreira Oliveira (UFRJ)Grupo Temático: História das Ciências e da Tecnologia aplicadas ao Ensino
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O Colégio Pedro II, criado para servir de modelo aos estabelecimentos secundários do Império; tem a partir da Reforma Rocha Vaz (1925), em seu currículo, maior ênfase em Ciências. Nessa época, as instalações para as aulas práticas de Química no Externato eram modestas e acanhadas. A ampliação de tais instalações é levada a efeito com a Reforma Francisco Campos e a Portaria de 15 de abril de 1932. Nessa Portaria, encontra-se a relação de materiais necessários para que um Laboratório de Química cumprisse as exigências legais. Neste ano, o Laboratório de Química do Externato do Colégio Pedro II passou por amplas reformas e ampliação, o que pode ser verificado no relatório do Diretor-Geral, bem como no diário oficial.
Educação CTS no curso de Engenharia da Computação: sentidos construídos pelos docentes
Edson Jacinski (UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ CAMPUS PONTA GROSSA)Grupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
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Um dos desafios prementes do campo da Educação CTS é como atuar na construção de currículos que possam contribuir para uma formação tecnológica comprometida com os desafios sociotécnicos dos cenários locais, regionais e globais. Este resumo aponta para os sentidos produzidos por docentes sobre as interações entre tecnologia e sociedade na formação de engenheiros, a partir de uma pesquisa qualitativa realizada no curso de Engenharia de Computação da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Para desenvolver tal pesquisa articulamos referenciais da Educação CTS com os Estudos Sociais da Tecnologia, bem como uma perspectiva discursiva do Circulo de Bakhtin. As entrevistas com os docentes buscaram compreender de que forma a concepção de uma formação social e humanista do engenheiro da Computação, prevista no Projeto Pedagógico, está sendo implementada. Entre outros aspectos, muitos docentes mostraram sua perplexidade com os desafios de trabalhar os aspectos sociais da atividade tecnológica. Assim, diferentes obstáculos foram apresentados, entre os quais as concepções prévias de tecnologia dos discentes. Nesse sentido, mesmo com as atividades de integração previstas no currículo, foi mencionado o quanto persiste uma tendência em reiterar um olhar determinista e linear da Informática. Ficou explícito a dificuldade de abrir a caixa-preta da tecnologia, dos artefatos ou mostrar a importância de tal empreendimento para os futuros engenheiros. Outro aspecto salientado foi a necessidade de um compromentimento de todas disciplinas e não apenas das Ciências Sociais, nas quais estão previstas temáticas da Educação CTS. Também veio à tona a questão de quais são as compreensões dominantes que circulam entre os docentes sobre a relação entre C&T e sociedade refletidas no modo como são desenvolvidas as atividades didático-pedagógicas.Contudo, também houve manifestações significativas mostrando como acontecem atividades curriculares interdisciplinares que demandam uma interação significativa entre questões técnicas, sociais, ambientais, etc. Em síntese, permanece uma tensão dialógica entre uma formação que problematiza os aspectos sociais da tecnologia e uma organização curricular disciplinar que reitera perspectivas deterministas e lineares da Tecnologia, o que enseja desafios consideráveis para sua superação, em especial para o campo da Educação CTS.
Construção de redes de atenção à saúde: uma inovação no SUS
Edson Malvezzi (Universidade Federal de São Carlos), Everton Soeiro (IEP Hospital Sírio Libanês), José Maurício de Oliveira (instituto Ensino e Pesquisa Hospital Sírio Libanes), Márcia Niituma Ogata (Universidade Federal de São Carlos), Renata Lúcia Gigante (Hospital Municipal Dr. Mário Gatti)Grupo Temático: Saúde, Trabalho e Desenvolvimento
Resumo
Uma forma de inovação em saúde é a mudança nas relações e interações entre sujeitos, em suas práticas no cotidiano das instituições, num determinado contexto histórico e social. Os resultados do Sistema Único de Saúde-SUS demonstram indiscutíveis avanços, mas é reconhecida a necessidade de reorganização constante deste sistema para atender à população. Para enfrentar este desafio o SUS vem adotando várias estratégias, dentre elas a implantação de Redes de Atenção à Saúde-RAS, com o intuito de oferecer acesso e qualidade aos serviços, possibilitando atenção integral com eficiência na utilização de recursos. Campinas-SP com estrutura complexa de serviços públicos de saúde adota a RAS em seu repertório de estratégias para a qualificação do cuidado. Destaca-se neste cenário a experiência do Distrito de Saúde Sul com o Hospital Municipal Dr Mário Gatti, que vem construindo história de integração com disposição para mudanças e inovações no cuidado à população. Fruto desta parceria e de análises epidemiológicas tem origem em 2009 o Projeto ICSAP-Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária que propõe a articulação de ações entre os serviços deste território. Estas internações se referem a agravos que o cuidado oportuno e efetivo pela atenção primária reduz o risco de hospitalização. São norteadores deste projeto a otimização dos recursos disponíveis, o protagonismo dos sujeitos envolvidos e a sintonia técnico-política com os desafios do SUS, tendo as ICSAP como disparadoras. Operacionalmente, a partir da identificação do paciente na internação hospitalar, a Unidade Básica de Saúde de referência é automaticamente informada no momento da alta, por meio eletrônico, para a continuidade do acompanhamento. Este processo é monitorado conjuntamente através de reuniões mensais entre os serviços. Pesquisa de 2013 com o intuito de identificar a percepção de trabalhadores e gestores envolvidos neste projeto, constatou que ocorreram mudanças organizacionais nos serviços participantes e que estas contribuíram para a integração entre os serviços e para a qualificação da oferta de cuidados aos pacientes-alvo. Aponta que estas mudanças ocorrem pela sensação de protagonismo dos diferentes atores envolvidos, que assumem corresponsabilidade pelo processo de concepção e implantação das mesmas. Reconhece ainda que o Projeto ICSAP é instituinte de inovação nas práticas em rede.
Como pesquisar COM Maria do Socorro?
Eduardo Nazareth Paiva (UFRJ), Lucimeri Ricas Dias (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Marcia de Oliveira Cardoso (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Tales Mello Paiva (UFRJ)Grupo Temático: PesquisarCOM e o feminino na ciência
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O projeto experimental se materializa sob a forma de uma boneca, uma representação semiótica de uma pesquisadora brasileira, que empresta seu corpo para ser um laboratório de experiências antropofágicas e sociotécnicas. Sua existência busca, de forma poética, demonstrar que navegar pelo mar dos conhecimentos não é preciso [falta algo aqui?] assim como também não é preciso o convívio com seus simbólicos e mais típicos marinheiros. Em suas intervenções, Maria do Socorro, com seu visual controverso e através de seus aliados procura se misturar de tal forma com os atores locais em cena nos ambientes acadêmicos ou não. Essa convivência provoca investimentos nos campos das representações e das reflexões, produzindo imprevisibilidades, gerando tensões e dinâmicas, fazendo com que os interagentes (re)ajam. Desta forma, a presença de Maria do Socorro e seus aliados causam reações inesperadas: espanto, surpresa, alegria, raiva, desconforto. Com isso se pode configurar um outro lado da questão e da conjuntura. Denominaremos esse lado controverso de LADO B e nele argumentaremos que é necessário pensar ciência, arte e demais como um tecido inconsútil, constituído de elementos heterogêneos. Não há fronteiras na construção de conhecimentos. E todas as formas de expressão e comunicação são importantes neste percurso. Consideramos que as usuais tentativas de conceituar o que seja ciência, arte, tecnologia, etc, terminam por delimitar espaços, estabelecendo fronteiras que se materializam, por exemplo, nas divisões dos campi acadêmicos, dentre outros espaços. Esta separação empobrece a construção de conhecimentos porque discrimina a presença de qualquer tipo de expressão de conhecimentos no local que não lhe é destinado. Como encontrar Maria do Socorro e perguntar pelo Lado B? Facebook: https://www.facebook.com/soumariadosocorro Twitter: https://twitter.com/soumariasocorro Blog: http://sramariadosocorro.wordpress.com/ Email: sramariadosocorro@gmail.com Canal Youtube: Maria do Socorro - Caixa Preta http://www.youtube.com/watch?v=Pm3Yfe6jA-4 Maria do Socorro - Cabeça (Walter Franco) http://www.youtube.com/watch?v=qfEk8zNYDGc Maria do Socorro - Scientiarium V - Momentos http://www.youtube.com/watch?v=wffDj_stT9E.
Um Estudo Comparativo no Ensino Técnico Integrado - Instituto Federal de Santa Catarina
Egre Padoin (UTFPR)Grupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
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Esta pesquisa teve o objetivo de conhecer e investigar as causas, fatores e contexto que influenciam na permanência e evasão dos alunos do curso técnico integrado em Telecomunicações e Refrigeração/Ar-condicionado, do campus São José, do Instituto Federal de Santa Catarina. A partir dos Encontros Pedagógicos verificou-se problemas e questionamentos referentes ao ensino profissionalizante proposto, nos mais diferentes aspectos, como o currículo desatualizado, informações sobre o curso técnico, tanto no ingresso como no decorrer dos cursos, integração curricular e interdisciplinaridade. O estudo de caso comparativo foi uma pesquisa quantitativa e qualitativa, descritiva e exploratória. A pesquisa proporcionou conhecer alguns fatores que possibilitam a permanência e evasão. A falta de identificação com o curso, tanto pode ser um fator de permanência, como evasão. Porém se analisado em relação a outros fatores, revelam-se outros motivos, nos diferentes cursos. Enquanto em telecomunicações o estágio é um motivo de permanência, explicado pela grande oferta na região, no curso de Refrigeração, notam-se outras correlações. A evasão também apresenta-se de maneira diferente:enquanto em Telecomunicações está mais relacionada a dificuldade de aprendizagem, em Refrigeração está mais atrelada ao curso de quatro anos. No entanto, em ambos os cursos foi possível observar as mesmas expectativas dos educandos: fazer um ensino médio de qualidade e ingressar no nível superior. Neste sentido, muitos são os desafios para esta modalidade de ensino, que na presente pesquisa ainda encontra-se distante do que preconiza o decreto 5.154/04 e sinaliza necessidades de mudanças estruturais.
Projetos Integradores como metodologias inovadoras para melhoria do ensino técnico profissionalizante: um estudo de caso do Senai.
Elaine Cristina de Andrade (UTFPR), Hélio Gomes de Carvalho (Universidade Tecnológica Federal do Paraná)Grupo Temático: Sistemas de Inovação e seu Alcance Conceitual, Metodológico e Normativo
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O objetivo desta proposta está pautado na necessidade de utilizar novas metodologias com foco na aprendizagem colaborativa, uma aprendizagem baseada em resolução de problemas com o uso de novas tecnologias integrando a teoria com a prática. Isso acontece por uma série de razões, entre elas: a complexidade dos problemas sociais, alunos e professores insatisfeitos com a fragmentação do conhecimento, a exigência de uma aprendizagem mais conectada ao currículo, e também porque cada vez mais empresas precisam de profissionais mais bem preparados para atender as necessidades do mercado, integrando o que aprenderam em campos de conhecimento distintos, incluso a formação de perfil empreendedor. Assim o Senai Centro Internacional de Inovação do Paraná, com base na sua experiência neste tema, apoiou o departamento nacional do Senai para articular ações no fortalecimento da prática por “Projetos Integradores” e com isso capacitar e apoiar nesta metodologia os vinte e sete departamentos regionais do Senai no Brasil, sendo um em cada estado. Na sua operação o trabalho teve início com quatro desafios com abordagens industriais, nos quais alunos de cursos técnicos formaram equipes multidisciplinares com dois cursos distintos para por meio da Metodologia Senai de Educação Profissional, planejarem e executarem um projeto que solucionasse os desafios. Hoje o número de participantes é de dois mil duzentos e vinte alunos, que formam quinhentos e setenta e um projetos. Durante a capacitação, a metodologia que envolveu os docentes buscou apresentar casos reais para conduzir o trabalho em uma educação mais empreendedora e inovadora, e para interação de todos os envolvidos neste desafio, foi apresentada uma plataforma de inovação aberta, web colaborativa de compartilhamento e produção coletiva de conhecimento, denominada InoveMais, sítio: www.inovemaispr.com.br. Este espaço de captação de ideias, que pode ser desenvolvidas conjuntamente, por meio da colaboração e interação de professores e alunos, permite ainda acesso de outras pessoas comentarem as ideias, como avaliadores, coordenadores estaduais, diretores dos cursos técnicos do SENAI e a comunidade em geral. Ao final do semestre, há uma seleção de projetos, com critérios pré-estabelecidos, que direcionam para prêmios os primeiros lugares.
Perspectivas dos profissionais de farmácia sobre a contracepção de emergência: um debate entre ciência e sociedade
Elaine Reis Brandão (Instituto de Estudos em Saúde Coletiva - UFRJ), Cristiane S. Cabral (FSP/USP), Miriam Ventura (IESC/UFRJ), Sabrina P. Paiva (FSS/UFJF), Luiza L. Bastos (IESC/UFRJ), Naira V.B.V. Oliveira (FF/UFRJ), Yolanda Szabo (IESC/UFRJ)Grupo Temático: Estudos Sociais das Ciências e das Tecnologias em Saúde Sexual e Reprodutiva
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Em países da Europa e América do Norte as farmácias privadas se constituem como espaços complementares de provisão do contraceptivo de emergência (levonorgestrel), mediante protocolos de cooperação entre Estado e estabelecimentos farmacêuticos. A obtenção da pílula de emergência em tempo oportuno (até 120h.) após a relação sexual desprotegida é de suma importância para se evitar uma gravidez imprevista e recurso ao aborto inseguro. No Brasil, as políticas públicas de atenção à saúde da mulher incluem a distribuição do contraceptivo de emergência nos serviços de atenção básica, sob prescrição médica e/ou do enfermeiro e nos programas de atendimento às vítimas de violência sexual. O acesso das mulheres na rede pública de saúde à pílula de emergência se faz de modo bastante precário, tendo em vista o funcionamento descontínuo destes equipamentos nos finais de semana e horário noturno. Assim, o recurso às drogarias privadas para aquisição do medicamento tem sido recorrente entre nós. Na literatura nacional, há uma lacuna sobre as circunstâncias da dispensação do levonorgestrel nas drogarias. Ao buscarmos conhecer as representações sociais dos farmacêuticos e balconistas sobre tal contraceptivo e o modo de interação com as consumidoras no balcão de atendimento ao público, encontra-se a reificação de um discurso alarmista, moralista, centrado nos muitos “riscos” que podem ameaçar o organismo feminino. A acepção difundida no imaginário social da pílula de emergência como uma “bomba hormonal” com capacidade disruptiva aos corpos é acionada. Por ser um contraceptivo utilizado pós-coito e deter a posição liminar entre contracepção e aborto, há um intenso debate sobre seus possíveis efeitos e modo de agir que desperta concepções sobre os dispositivos científicos, o saber médico e as moralidades sociais que incidem sobre a sexualidade e o gênero. Pretende-se discutir tais articulações com base em pesquisa socioantropológica (2012-2014) entre farmacêuticos dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e outros estados através de questionário online disponível na Plataforma Datasus/Formsus, anônimo, divulgado com apoio de órgãos da categoria profissional (n=383). Também foram entrevistados 20 balconistas (12 homens, 8 mulheres), mediante roteiro semi-estruturado, de estabelecimentos comerciais e áreas distintas da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Apoio: CNPq/Faperj.
A construção da percepção do risco com o uso do Modelo APPEL
Elaine Ribeiro Sigette (UFRJ), Paulo Roberto Souza Junior (COPPE)Grupo Temático: Seguindo cientistas em ação - desafios metodológicos das ciências de dados e das neurociências em CTS
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No final dos anos 80, foi iniciado o Programa de Alerta e Preparação para Emergências em Nível Local (APELL), desenvolvido principalmente pela UNEP (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) com o objetivo de prevenir e preparar as comunidades com risco de acidentes químicos contra acidentes industriais. O APELL consiste em uma ferramenta metodológica aplicada na comunidade local para identificar riscos industriais, na tentativa de mitiga-los. Os especialistas em risco acreditam que a aplicação da ferramenta, aumenta a conscientização sobre os fatores que representam o risco e que passa a existir através desta conscientização, um aumento sobre a capacidade para respostas imediatas emergenciais. Ao empregar a metodologia APELL, o especialista constrói um cenário junto à comunidade, cuja percepção sobre os riscos existentes passam pelo framework desenhado pela ferramenta. Porém a aplicação deste framework em determinadas comunidades é falha: exige negociações de termos como “perigoso”, “frequente”, entre especialistas, indústrias e habitantes locais e carece de adaptações teóricas, uma vez que no escopo do APELL existem análises que não fazem parte dos potenciais riscos percebidos em solo Brasileiro. Ao observamos as fragilidades e indefinições que cercam a convergência da ferramenta como uma solução para a mitigação do risco, percebe-se que tanto o risco quanto a mitigação do mesmo são frutos de muitas negociações entre os atores envolvidos neste processo.
Este trabalho tem como proposta principal, o entendimento da rede APELL e seus diferentes atores. Uma vez que se faz necessário democratizar o entendimento desta ferramenta para ampliarmos o conhecimento sobre ela, utilizaremos a base teórica proposta por Bruno Latour: seguir cientistas em ação para observar a estabilização provisória desta rede.
Ao tecer a rede local APELL, problematizando a percepção sobre o risco, pretende-se contribuir com os estudos em CTS, apontando novos caminhos e abordagens sobre um tema já consolidado e difundido entre os engenheiros. A ampliação deste entendimento sob esta ótica é também uma tentativa de melhorar a compreensão sobre os problemas sociotecnicos que fazem parte da adoção do APELL, muitas vezes negligenciados, para que sejam incorporados em futuras análises.
A criação de games para o desenvolvimento da aprendizagem de ciências no ensino fundamental I: protagonismo e autoria infantil para disseminação de conhecimentos científicos
Elaine Silva Rocha Sobreira (Unicamp)Grupo Temático: Jogos digitais e suas relações com a Ciência, Tecnologia e Sociedade
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O ensino de ciências da natureza nos anos iniciais do Ensino Fundamental possui, predominantemente, uma abordagem voltada para a mera recepção de informações e memorização, sem apresentar investimentos para uma metodologia voltada para a pesquisa, investigação e criação, pois a ênfase no trabalho dos anos iniciais do ensino fundamental se dá nas áreas de Língua Portuguesa e Matemática, em detrimento das demais áreas de conhecimento. É fundamental que haja um processo sistematizado de ensino e aprendizagem na área de Ciências que possibilite à criança a construção das explicações do mundo que a rodeia, favorecendo a discussão de ideias e formação de conceitos. Assim, a escola precisa ensinar seus alunos a pensar, de modo que possam ser bem-sucedidos nessa era de constante transformação e desenvolvimento tecnológico, de forma que a tecnologia se torne aliada no processo de ensino e aprendizagem, integrando-se ao currículo escolar. O potencial interativo do uso das tecnologias digitais no ato pedagógico possibilita uma criação dialógica e intersubjetiva tornando-se fundamental para uma transformação no modo de ensinar e aprender. Este relato, fruto do projeto de pesquisa da autora, propõe a investigação da criação de games por alunos do ensino fundamental I. Tem como objetivo analisar como a produção autoral e o protagonismo infantil, através da programação de jogos digitais, pode favorecer o aprendizado de conteúdos relacionados ao ensino de ciências. A temática escolhida para esta investigação foi a utilização do Scratch para programação dos games, por se tratar de um ambiente de programação próprio para crianças. Neste trabalho, a pesquisadora tem uma participação ativa, atuando como pesquisadora-participante, caracterizando-se como uma pesquisa de intervenção, que ocorre em parceria com a professora de sala de aula, incluindo as habilidades necessárias para o trabalho com programação, até então não dominado pela professora. Neste contexto, serão observados, o avanço na aprendizagem dos conteúdos de ciências e o desenvolvimento das habilidades e competências envolvidas no processo de produção de jogos digitais.
A quebra de invisibilidades como método ou como contar uma história encarnada
Eleonôra Torres Prestrelo (Universidade Federal Fluminense)Grupo Temático: PesquisarCOM e o feminino na ciência
Resumo
Co-autor: Grupo de Pesquisa PesquisarCOM/UFF
O tema do cuidado faz-se presente em minha formação pessoal e acadêmica, constituindo-se, no momento, em tema de pesquisa de doutorado e também se faz presente em alguns estudos CTS. Debruço-me sobre esse tema acolhendo as narrativas de sofrimento dos alunos de graduação em Psicologia da Instituição da qual faço parte, bem como da escuta de histórias de cuidado assim identificadas por eles e outros envolvidos nela. Será possível ensinar a cuidar sem performar práticas de cuidado? Em última instância, não seria o cuidado um direito? De origem nordestina, trago o cuidado expresso em pequenas práticas cotidianas, na repartição daquilo que, por vezes, se apresenta tão escasso em outras esferas, como a comida, a solidariedade, formas de “compartilhar o pão”, não no sentido tão somente alimentar e sim naquele trazido por Haraway (2009), ou seja, das conexões que fazemos, do estabelecimento de parcerias, formas onde se faz visível a matéria de que somos feitos, ou seja, como somos performados. A pesquisa desenvolvida não segue o caminho das noções clássicas de cuidado e sim dos manejos em que este se faz no cotidiano, em suas formas de expressão, o invisível de um fazer, suas minúcias, as redes de conexões que se estabelecem para que se façam existir, um cuidado que não se determina a priori (MOL, 2008). Ao construir a quebra de invisibilidades como método, busco o engajamento numa forma de fazer ciência que poderíamos identificar como o fazer “ciência no feminino” (STENGERS, 1989), uma ciência de múltiplas versões, um fazer que inquiete o universal o suficiente para fazê-lo progredir (DESPRET e STENGERS, 2012). Que leve em consideração, na pesquisa, os pequenos acontecimentos (CHAUVENET, DESPRET e LEMARIE 1996), que acolha a afetação de todos os envolvidos na experiência e, principalmente, fuja a armadilha de um conhecimento generalizável, valorizando a legitimidade de um saber localizado (HARAWAY,1995). Todo o conhecimento se faz numa historicidade, com suas marcas “locais” necessárias de serem narradas a fim de não repetirmos uma história de dominação, a que valida uma única história. Nessa pesquisa sigo os rastros de um fazerCOM (MORAES, 2010), encarnando o que já nos disse Eduardo Galeano “(...) o mundo não está feito de átomos, o mundo está feito de histórias!”
Uma breve análise da relação entre ciência e técnica no final do século XVIII: os trabalhos do Conde Rumford sobre iluminação
Eliade Amanda Alves (PUC-SP)Grupo Temático: Ciência e Techné na História
Resumo
Este trabalho é parte de pesquisa de Doutorado que vem sendo desenvolvida no Programa de Estudos Pós-Graduados em História da Ciência/CESIMA/PUC-SP. Pretendemos apresentar alguns aspectos da relação entre ciência e técnica, tendo por base os trabalhos e os estudos sobre luz e iluminação realizados por Benjamin Thompson, o Conde Rumford (1753-1814). Como se sabe, Thompson é bastante conhecido pelos historiadores da ciência não só por seu trabalho teórico, mas também por suas habilidades técnicas. Assim, de um lado, ele ficou conhecido como grande estudioso da natureza do calor e por suas críticas à teoria do calórico. Rumford passou a maior parte de sua “carreira cientifica” buscando demonstrar, experimentalmente, a imaterialidade do calor, ou seja, que o calor não era um fluido imponderável, tal qual afirmavam muitos de seus contemporâneos. Por outro lado, ele é também bastante reconhecido por ter criado diversos inventos, tais como lareiras, fornos, chaminés, cafeteiras, lâmpadas, dentre outros, além de engenhosos aparatos experimentais. É bem provável que o conjunto de invenções de Rumford estivesse associado ao pressuposto utilitarista baconiano, que apregoava que o conhecimento científico deveria proporcionar o bem-estar geral para a sociedade, visto que, em diversos trabalhos, ele defende a importância do saber científico útil. Nesse sentido, tomados em conjunto, o saber teórico e o prático sugerem que a ciência e técnica estavam imbricadas uma na outra no empreendimento de Rumford. De fato, um estudo preliminar de seus trabalhos tem apresentado indícios de que suas invenções estavam diretamente relacionadas às suas conclusões encontradas em estudos teóricos. Assim, neste trabalho procuraremos apresentar alguns desses indícios, tendo por foco as investigações e invenções de Thompson acerca da iluminação: lâmpadas e velas. A apreciação da relação estabelecida entre as concepções teóricas acerca da natureza da luz e a aplicação prática desses conceitos por meio da construção e do aprimoramento de lâmpadas, proposta por Rumford, pode contribuir para uma melhor compreensão das relações entre ciência, técnica e sociedade em finais do século XVIII e início do XIX.
Novas interações ecológicas e comunicativas: interseções entre redes digitais, saberes locais e sustentabilidade
Eliete da Silva Pereira (Centro de Pesquisa ATOPOS (ECA/USP))Grupo Temático: PROCESSOS TECNOLOGICOS E CULTURA: sociabilidades, saberes populares, assimetrias e meio ambiente
Resumo
As relações ecológicas estabelecidas pelos povos indígenas e comunidades tradicionais (caiçaras, quilombolas, ribeirinhos, etc) revelam significativas práticas sustentáveis ancestrais. Com a emergência das redes digitais e a apropriação de dispositivos de conectividade por esses povos e comunidades surgem, por um lado, novas formas de visibilidade, ação e gestão dos seus territórios, capazes de fomentar a valorização de suas práticas e de seus saberes locais. Por outro lado, tem-se uma complexificação reticular das formas precedentes de socialidade e de agências pertencentes aos saberes e cosmologias desses povos e comunidades que ultrapassam àquelas restritas aos humanos. A combinação dessas “redes” (de biodiversidade, cosmológicas, humanas e não humanas) perfaz interações ecológicas e comunicativas que à luz das teorias de Ator-Rede de Michel Callon e Bruno Latour, e das formas comunicativas do Habitar de Martin Heidegger e Massimo Di Felice fomentam novas leituras teóricas sobre experiências emergentes decorrente das relações entre “culturas, tecnologias, objetos técnicos e territórios” que parecem alterar a condição ecológica das comunidades e os povos e comunidades envolvidos. Para isso, examinaremos duas experiências que nos inspiram a confrontar suas especifidades e os seus significados agregados às essas novas interações ecológicas e comunicativas. A primeira experiência advém da análise de Rede de Sementes do Xingu que vêm conectando coletores de sementes da região do rio Xingu por meio de uma plataforma online de troca e comercialização de sementes, fomentando uma “rede de redes” que disponibilizam sob demanda sementes da flora regional. A segunda experiência configura-se por um sistema de monitoramento territorial que nós chamamos de “Escuta da Floresta”, dos povos Povos Tembé e Timbira da Terra Indígena Alto Rio Guamá (Pará) em parceria com a organização não governamental Rainforest Connection, um sistema de vigilância por meio sensoriamento remoto com celulares e placas solares fotovoltaicas instaladas nas copas das árvores, por onde captam sons de motosserras e de caminhões avisando as lideranças indígenas responsáveis por vigiá-la.
O Uso do Rock na Investigação da Tecnociência para Adolescentes em Projetos de Educação Integral
Emerson Ferreira Gomes (Universidade de São Paulo), Ana Paula de Oliveira (Universidade de São Paulo), Bianca De Lissandri Braz Amaral (Universidade de São Paulo - USP), Carlos Henrique de Almeida Ferreira (USP Universidade de São Paulo), Giovanna Lourenção Macedo (EACH- USP), Joyce Regina dos Santos Monteiro da Silva (Universidade de São Paulo), Olga Maria Aldana Nora (Universidade de São Paulo (EACH USP LESTE)), Vitor Martins Menezes (Universidade de São Paulo (EACH-USP))Grupo Temático: Tecnologia e mediações
Resumo
A presença da tecnociência como tema de produtos culturais e artísticos vem sido debatida em alguns trabalhos da área de Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente. Nesta pesquisa, buscamos contribuir nessa interface, analisando o uso de canções do rock na investigação sobre temas CTSA, realizados numa situação de ensino por projetos. Esse projeto interdisciplinar, denominado R.I.T.A. (Rock n' Roll na Investigação da Tecnociências para Adolescentes), foi formado por pesquisadores e estudantes da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo.
Nesse projeto, estudantes de 8º e 9º anos do ensino fundamental, de uma escola da rede municipal de São Paulo, em período contrário ao de seu estudo, eram apresentados a temas relacionados à exploração espacial e seu contexto tecnocientífico. Esse projeto foi vinculado ao programa Mais Educação, que prevê a extensão do período escolar.
O uso do rock justificou-se pelo fato de temas sobre exploração espacial aparecerem no trabalho de diversos artistas desse gênero musical, permitindo reflexões em nível conceitual, epistemológico e sociopolítico sobre a ciência, a tecnologia e suas relações com a sociedade e o ambiente. Além disso, identificamos que tanto o rock quanto as missões espaciais foram fenômenos culturais que dependeram em sua gênese dos avanços da tecnologia e da ciência e tiveram sua repercussão na sociedade através de processos midiáticos. Os artistas e conjuntos que permitiram essa perspectiva e tiveram canções utilizadas nas atividades de ensino foram: David Bowie; Mutantes; Elton John; Black Sabbath; Pink Floyd; Queen, Genesis e Rush.
No processo de ensino-aprendizagem, foram desenvolvidas atividades que envolviam leitura-comentada da canção, identificando na letra, melodia e harmonia, aspectos evidenciavam um discurso crítico sobre a ciência e sua relação com a sociedade e o ambiente. Essas atividades envolveram três instâncias: Elaboração, Aplicação e Análise. Como referencial norteador dessas etapas articulamos referenciais dos estudos discursivos (MAINGUENEAU, 1994), da área de CTSA (AULER, 2003; LISSINGER, 2007) e das teorias socioculturais de Vigotski (2001) e Snyders (1988). Verificamos que o rock permitiu, num processo de ensino informal, aspectos de divulgação científica e uma reflexão crítica acerca da relação da tecnologia com a sociedade.
O processo de mercantilização do ensino superior: a relação entre universidade-empresa sob diferentes abordagens
Evandro Coggo Cristofoletti (Unicamp), Milena Pavan Serafim (UNICAMP)Grupo Temático: Política de Ciência e Tecnologia
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As universidades públicas, no Brasil e no mundo, desempenham importante papel na pesquisa científica e podem ser alvos de políticas deliberadas para promoção de determinados objetivos relacionados a formação e produção de conhecimento científico e tecnológico. Neste sentido, a promoção da interação entre universidade empresa se faz. Com efeito, o artigo proposto objetivará apresentar o debate acerca da relação entre universidade pública e empresa privada à luz de duas abordagens distintas: 1. As correntes teóricas da economia do conhecimento e da universidade empreendedora (ou inovadora); 2- A perspectiva do chamado “Capitalismo Acadêmico” e as reflexões críticas de estudos que abordam o tema da interação universidade-empresa, como Pensamento Latino Americano em Ciência e Tecnologia (PLACTS), além de estudos sociológicos e filosóficos sobre o processo de mercantilização da universidade. Para cumprir com o objetivo proposto, será feita uma revisão da bibliografia acadêmica sobre o tema, expondo as ideias apresentadas na literatura da seguinte forma: justificativas, motivações e críticas da aproximação entre os dois atores; as formas genéricas de interação; e os impactos da aproximação e da racionalidade mercadológica na formação, na estrutura administrativa da universidade pública e na pesquisa científica. O estudo, assim, tem por objetivo explorar os antagonismos das diferentes abordagens para entender como a educação superior - e a produção de ciência e tecnologia – vem imprimindo o seu papel social dentro do contexto econômico e político atual. Ainda que o artigo não procure responder uma pergunta específica, o debate entre as abordagens pode contribuir para outros questionamentos importantes: a aproximação com o mercado é um caminho adequado a ser trilhado? Quais as mudanças institucionais implementadas pelas IES reforçam essa aproximação? Que diferença isso faz para a universidade e para a sociedade? Quais políticas são implementadas a partir dessas considerações teóricas?
A mediação e informação entre humanidade e natureza na perspectiva da filosofia da técnica de Gilbert Simondon
Evandro Smarieri Soares (Universidade Estadual de Campinas), Rafael Alves da Silva (Universidade Estadual de Campinas)Grupo Temático: Tecnologia e mediações
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O presente trabalho pretende refletir sobre a mediação entre o humano e a natureza a partir da perspectiva de Gilbert Simondon, sobretudo, segundo a teoria apresentada em Du Mode d’Existence de Objets Techniques (Simondon, 1958), que compreende a mediação entre a humanidade e o meio natural como uma relação de informação. Através desta noção, refletimos em primeiro lugar sobre a modalidade de pensamento e mediação do humano com o mundo, a técnica, que o torna capaz de ‘localizar e multiplicar os esquemas de mediação’ (Simondon, 1989). Deste modo de pensamento analítico, que progressivamente objetifica e compreende o mundo como uma cadeia de mediações sucessivas (Simondon, 1989) e busca a eficácia das ações humanas sobre este mundo, decorre o surgimento dos objetos técnicos. Estes, têm importância central para a presente discussão, pois estabelecem a mediação entre a humanidade e o mundo, humano e natural. No contexto específico da mediação em redes digitais, os objetos técnicos são os veículos e o meio das relações humanas que são travadas neste ambiente. No entanto, veremos com Simondon, que a compreensão da essência destes seres é negligenciada pela cultura geral. O estatuto do objeto técnico, dentro desta cultura, é deficitário em relação aos objetos estético e religioso. Tal negligência culmina no que o autor conceitua por alienação técnica; discutiremos esta forma de alienação e como ela se manifesta em diferentes contextos atuais. Através destes exemplos, pretendemos elucidar a proposta simondoniana para a emergência de promovermos a cultura técnica e a atividade técnica como meios emancipatórios de apropriação das tecnologias.
Imbricamento ser humano-máquina e a tecnopolítica: considerações sobre o estatuto do ciborgue no capitalismo contemporâneo
Edemilson C. Santana Junior, Marcio Felipe Salles MedeirosGrupo Temático: Expertise, deliberação de empreendimentos sociotécnicos e culturas de investigação científica e tecnológica
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A partir da dialética programador-programado como metáfora para pensar a estruturação do poder tecnopolítico nas formações sociais contemporâneas, o presente artigo discute o imbricamento ser humano-máquina em sistemas sociotécnicos no tocante ao processo de racionalização das sociedades (pós)modernas e às transformações recentes no modo de produção capitalista - regime de acumulação flexível, pós-fordista. Com isso, pretende-se lançar novas questões para o debate em torno do ciborgue no início no século XXI a partir de um encontro entre perspectivas micro e macrossociológicas de análise.
O livro infantil sob a perspectiva dos estudos culturais: um estudo exploratório com aplicações educacionais
Erica Prado PimentelGrupo Temático: Gênero, Ciência e Tecnologia: avanços e desafios
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O presente projeto visa um levantamento exploratório e analítico, sob o ponto de vista da educação científica de livros ilustrados infantis disponíveis no Brasil, empregando como referenciais de análise ferramentas da semiótica, da análise de discurso de dos estudos culturais. A primeira etapa do trabalho é a revisão bibliográfica sobre o tema e o levantamento das produções, em caráter amplo, com a catalogação das principais produções e uma análise da linha temática adotada em cada uma. A partir dessa etapa preliminar, delimitará um corpus específico de análise, com recorte temático, editorial e temporal, considerando possíveis aplicações educacionais. Em atividade paralela, denominada formulação didática, será realizado o desenvolvimento de produtos educacionais para interação com o público em situações de educação não-formal na modalidade exposição científica interativa em eventos, locais públicos e espaços escolares, observada a dimensão lúdica do prazer, entretenimento e interesse cultural proporcionado por tais produtos culturais, bem como a articulação de conteúdos entre ciências naturais, humanidades e artes. E por fim, aplicar ou acompanhar a aplicação desses produtos diretamente com o público, ocasião na qual coletará dados sobre a interação e os resultados do trabalho.
Os livros ilustrados infantis, dirigidos ao público entre 2 e 7 anos, sejam ou não produzidos com finalidades educativas, além de produtos de entretenimento, também veiculam inúmeras mensagens, e valores, por vezes despercebidos pelos pais e professores, que podem e devem ser analisados criticamente. Essas mensagens e suas respectivas representações sociais, artísticas e culturais apresentam ideologias e princípios fundamentais que incidem sobre a formação do indivíduo. O resultado dessa formação por sua vez é a constituição da identidade construída parcialmente pelo reconhecimento ou não de um indivíduo perante a sociedade ou grupo de pessoas ao seu redor. No entanto, ainda há poucos estudos voltados para uma catalogação analítica detalhada de tais produções com o objetivo de aplicações educacionais e, menos ainda, uma produção didática sistematizada para interação com o público. Esse estudo permitirá o contato com a pesquisa aplicada em estudos culturais, voltada para produtos culturais com valor educacional, articulando educação em ciências, humanidades e artes.
Relações de gênero espelhadas através dos saberes da matemática e da língua portuguesa: uma investigação no ensino médio integrado do IFS
Elza Ferreira SantosGrupo Temático: Gênero, Ciência e Tecnologia: avanços e desafios
Resumo
O presente artigo resulta de uma pesquisa que teve como objetivo diagnosticar a relação que os/as estudantes mantêm com os saberes da matemática e da língua portuguesa considerando as relações de gênero. A investigação se iniciou no segundo semestre do ano letivo de 2013 no Campus Aracaju do Instituto Federal de Sergipe (IFS) e fez parte do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Científica - Acões Afirmativas (PIBIC - AF). O arcabouço teórico compreendeu o conceito de gênero, principalmente, o utilizado pelas feministas de vertente pós estruturalista e o conceito relação com o saber funadamentado por Bernard Charlot. O trabalho de campo foi dividido em três fases, pois seu intuito foi acompanhar o corpo discente dos cursos Integrados - Alimentos, Eletrônica, Eletrotécnica, Edificações, Informática e Química - desde o primeiro ano até o último ano de formação. Aqui, serão apresentadas as análise relativas à fase inicial, quando os/as discentes estavam concluindo o primeiro ano. Essa etapa da pesquisa se constituiu de modo exploratório, descritivo e, nesse momento, a coleta de dados se deu por meio de uma abordagem quantitativa. No artigo, ver-se-ão seus resultados discorrerem acerca da matrícula dos/das estudantes, das opiniões em torno dos saberes de matemática e português, do que sentem por esses componentes curriculares, da escolaridade de seus genitores, da descriminação de gênero, da evasão escolar, enfim, dos aspectos escolares que fizeram parte do cotidiano pedagógico. Foi utilizado o questionário como estratégia de recolha e para entendê-lo e construir a análise empregou-se a ferramenta o software R - um software livre - fazendo uso do pacote estatístico Rcmdr. Portanto, como a pesquisa se insere nas políticas de ação afirmativa, é inegável o desejo de alcançar a equidade de gênero e ações que minimizem ou erradiquem o preconceito de gênero e o abandono escolar.
Afirmação do desejo de filhos no contexto de medicalização da reprodução: entre escolhas e direitos
Eliane Portes Vargas, Luciane da Costa MoásGrupo Temático: Estudos Sociais das Ciências e das Tecnologias em Saúde Sexual e Reprodutiva
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Na sociedade contemporânea casais e indivíduos de diferentes orientações sexuais que desejam filhos recorrem a tratamentos médicos mediante o amplo avanço da ciência no campo biomédico. Na comparação entre as duas últimas mais recentes resoluções do CFM (2010 e 2013) podem ser observadas alterações quanto à indicação do recurso às tecnologias reprodutivas. Em 2010, como na resolução anterior, há referência expressa à infertilidade sendo a reprodução assistida indicada no tratamento médico de pessoas classificadas como inférteis ou estéreis. Já em 2013 a resolução inova ao atribuir às técnicas papel auxiliar no processo de procriação visto que a atuação dos médicos pode também ocorrer em casos além daqueles definidos a partir de causas patológicas e clínicas alargando, portanto, a utilização das técnicas no que concerne ao processo de escolha. A transposição no discurso médico de causas orgânicas para causas psicológicas sobre a ausência de filhos no âmbito conjugal constitui o interesse deste trabalho. Na experiência reprodutiva entre casais heterossexuais, inseridos universos culturalmente definidos a partir de estudo etnográfico, a percepção da não concepção como um acontecimento inesperado visto ser concebida como dado natural, o que contrasta com a ideia socialmente aceita de existir controle voluntario sobre a concepção e, por oposição complementar, a contracepção que efetivamente se realiza pelo uso adequado de métodos contraceptivos. Prevaleceu, portanto, entre casais da pesquisa que decidiram ter filhos, sobretudo em situações limites impostas pela biologia, uma compreensão naturalizada do desejo/ausência de filhos. Observa-se, por outro lado, nos discursos médicos explicativos acerca das causas da infertilidade 'outros fatores' atribuídos à não concepção involuntária, distintas das fisiológicas relativos às doenças, que pretendemos analisar. Destacamos os fatores psicológicos, como a ansiedade e o estresse, presentes de forma subjacente à explicação biomédica das causas de infertilidade. O propósito é o de assinalar como determinadas indicações das causas da ausência de filhos, que se apresenta aos nossos olhos como absolutamente 'subjetivo' e aparentemente tão singular podem revelar o quanto a experiência de não ter filhos, é marcada pelo social e pela cultura.
Política de acesso e permanência à universidade para indígenas a partir da lei de cotas
Eliane de Fátima Massaroli Metzler Gomes, Leonel PiovezanaGrupo Temático: Políticas Públicas e Desenvolvimento Local: interveniências e interações entre tecnologia, sociedade e democracia
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As políticas sociais no Brasil existem para evitar formas extremas de desigualdades. A educação, em especial o ensino superior, foi negada por décadas à população pobre, aos pretos e aos indígenas. As políticas sociais começam a ser introduzidas como forma de dar oportunidades diferentes à quem não as tinha, e o acesso e permanência dos indígenas no ensino superior é o foco dessa pesquisa.
Em 2012 o Ministério da Educação e do Desporto (MEC) publicou a Lei 12.711, também conhecida como Lei de Cotas, que dispõe sobre o ingresso nas universidades federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio, reservando vagas para estudantes que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas, e cotas etnicos-raciais para pretos, pardos e indígenas.
Para alcançar o objetivo da pesquisa de analisar os impactos da lei de cotas para a população indígena na abrangência da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), vamos identificar as principais políticas sociais de acesso dos indígenas ao ensino superior, com destaque à lei de cotas; identificar as ações da UFFS para acesso e permanência do estudante indígena, assim como os principais problemas de permanência dos indígenas à universidade e reconhecer as pedagogias e metodologias de ensino no processo intercultural.
Contudo, esta pesquisa é relevante , visto que, baseada nos dados qualitativos e quantitativos, possibilita avaliar se a política social chamada Lei de Cotas está atendendo os interesses da população a que se destina, considerando a região de abrangência da UFFS. Além disso, também contribui para que a UFFS possa avaliar o seu Programa de Acesso e Permanência para indígenas, visto que o programa estabelece procedimentos específicos de acesso e ações de permanência para os indígenas na instituição.
A educação superior no brasil na era da sociedade do conhecimento: heteronomia, explosão epistemológica e comercialização do saber
Everton Garcia da Costa, Léo Peixoto RodriguesGrupo Temático: Sistemas de Ensino Superior: instituições regionais e desenvolvimento
Resumo
A emergência de uma sociedade do conhecimento trouxe consigo um conjunto de aspectos positivos e negativos, os quais incidem diretamente sobre o funcionamento e a inter-relação dos diferentes sistemas e subsistemas sociais, tais como a economia, a educação, a política, o direto etc. No que concerne ao sistema educacional, foco central deste trabalho, uma das grandes preocupações que têm mobilizado pesquisadores do mundo todo diz respeito ao papel da universidade e da educação superior no âmbito da sociedade do conhecimento. Tal preocupação, justamente, levou a UNESCO a elaborar o documento Desafios da Universidade na Sociedade do Conhecimento, publicado originalmente em 2003. Segundo o documento, a universidade - instituição por excelência produtora de conhecimento - tem sofrido com sérios problemas na contemporaneidade. O primeiro deles é a heteronomia. No interior de uma sociedade em que o conhecimento é fonte de poder e de disputa em nível estatal e empresarial, a instituição universitária corre o sério risco de se tornar submissa às necessidades oriundas da lógica do capital, ou ainda, sofrer com a precarização caso não atenda a essas necessidades. Além disso, outro problema oriundo da sociedade do conhecimento é a explosão epistemológica, ou seja, a fragmentação da ciência em um incomensurável número de subdisciplinas. Tal fragmentação vai totalmente de encontro ao que tem pregado inúmeros cientistas contemporâneos, os quais, frente a ascendente complexidade do real, defendem uma abordagem multi e interdisciplinar. Por fim, cabe destacar ainda a questão em torno da comercialização do saber. Uma vez que o conhecimento se transformou em mercadoria, muitas instituições de ensino passam literalmente comercializá-lo. Esse processo é determinado pela lógica do mercado: maximização dos lucros e redução dos custos de produção. Com efeito, a educação superior - em especial a privada - fica marcada pela proliferação de novos cursos, os quais, muitas vezes, não atendem aos mínimos padrões de qualidade, visando unicamente à rápida inserção dos alunos no mercado de trabalho. Este trabalho reflete sobre crescimento exponencial da educação superior no Brasil nas últimas décadas. Busca demonstrar que a expansão do ensino superior no país tem sido marcada pelos problemas citados: a heteronomia, a explosão epistemológica e a comercialização do saber.
Uso do RPG eletrônico como estratégia pedagógica em aulas de Biologia possibilitando aprendizagem mais significativa
Elaine Santana de SouzaGrupo Temático: Um olhar sociotécnico sobre o software
Resumo
O Ensino de Biologia, ainda na atualidade, utiliza-se da decoreba de conceitos e termos complicados que são passados aos alunos, sendo por estes, muitas vezes incompreendidos. Assim, a disciplina não é bem vista por eles que não entendem o motivo do uso de tantos desses termos, o que dificulta a contextualização. O lúdico é uma maneira de contextualizar os conhecimentos permitindo construção de conhecimento e não apenas memorização. Utilizando o Role Playing Game (RPG) como ferramenta, proporcionando interação, pode-se favorecer a aprendizagerm significativa de imunologia. O objetivo era desenvolver um aplicativo de RPG sobre imunologia, para ser utilizado por alunos do ensino médio no IFF. Foi feito revisão de bibliografias sobre o tema da utilização do RPG na educação e pesquisa sobre programas mais utilizados para criação de jogos gratuitos. Buscou-se tutoriais e foi feito o roteiro para o desenvolvimento do jogo. Foi preparada uma aula onde os alunos interagiram com o aplicativo, ao final foi apresentado um questionário aos alunos para avaliação do software e para fazer um levantamento do que foi aprendido na aula. Interagindo com os personagens os alunos receberam mais que entretenimento, eles compreenderam as funções desempenhadas pelas células de defesa e o quanto é importante o trabalho conjunto delas. O lúdico é um método mais dinâmico aonde o aluno perde sua passividade e pode ser um agente na aprendizagem. Com essa perspectiva, a criação desse aplicativo promoveu ao aluno a função de agente na construção do conhecimento, passando a participar no processo de aprendizagem.
F
Qualidade do lugar Rua do Lavradio: tecendo controvérsias e traduções a cerca de usos e apropriações
Fabíola Belinger Angotti (UFRJ), Denise de Alcantara Pereira (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), Paulo Afonso Rheingantz (Universidade Federal de Pelotas)Grupo Temático: Qualidade dos lugares e paisagens híbridos
Resumo
O artigo vincula-se a pesquisa Rua do Lavradio: cartografando traços e rastros do coletivo-lugar (ANGOTTI, 2013) . Apresenta como temática a qualidade do lugar, entrelaçada as controvérsias a cerca dos usos e apropriações da Rua do Lavradio, localizada no bairro da Lapa na cidade do Rio de Janeiro. Explora a noção de lugar como um coletivo ou rede sociotécnica (LATOUR, 2001) e os efeitos que diferentes atores – humanos e não humanos –produzem na rede.
A Rua do Lavradio passou por diversos processos de transformação de usos e funções ao longo do tempo. A Feira Rio Antigo, criada em 1996 por comerciantes de antiguidades que pretendiam revitalizar a rua e atrair consumidores, acelerou ainda mais a dinâmica de transformação do lugar. Atualmente, observa-se a substituição dos antiquários por bares e restaurantes, fazendo da rua local de entretenimento e lazer. A heterogeneidade das relações e atividades, associadas às características físicas e morfológicas, configuram a Rua do Lavradio como um coletivo ou lugar sociotécnico.
O artigo segue a recomendação de Bruno Latour de dar voz aos atores humanos e não humanos e explora os conflitos e a diversidade de interesses, refletidos nos usos e apropriações da Rua do Lavradio. A cartografia das controvérsias (LATOUR, 2005), juntamente com instrumentos de análise tipomorfológica e de Avaliação Pós-ocupação experiencial, evidenciou a multiplicidade de associações entre seus atores.
A riqueza dos relatos e traduções confirma a contribuição da abordagem sociotécnica no entendimento dos ambientes urbanos, além de reconhecer os atores não humanos, que em geral são excluídos de agência e tratados como pano de fundo ou cenário da vida urbana.
Uma experiência de aprendizado coletivo sobre controvérsia e deliberação sociotécnica: o caso do “conselho cidadão”
Fabrício Monteiro Neves (UNB)Grupo Temático: Expertise, deliberação de empreendimentos sociotécnicos e culturas de investigação científica e tecnológica
Resumo
Esta trabalho oferece uma narrativa com base na observação-participante do “I Conselho Cidadão” organizado pelo Programa de Ensino Tutorial ciências sociais da UNB (PETSOL). A organização deste Conselho se inspirou nas “Conferências de Consenso” sobre assuntos controversos em C & T já bastantes comuns na Europa desde a década de 80, em especial na Dinamarca. O Conselho ocorreu no primeiro semestre de 2015 em Brasília, mas foi organizado e planejado por alunos e professores do Departamento de Sociologia durante todo o ano de 2014. Neste período debateu-se qual a controvérsia relevante deveria ser levada ao Conselho, e consensualmente optou-se pelo Programa “Mais Médicos”. As discussões para a organização se concentraram no perfil dos “conselheiros”, nos subtemas a abordar, na mediação com vistas à criação de um espaço equânime de fala. Tratou-se, sobretudo de discussões envolvendo estrutura e acesso ao sistema de saúde no Brasil, da formação dos agentes de saúde, em especial médicos, da diferença de formação entre médicos brasileiros e estrangeiros, dos critérios de seleção, da importância do “Revalida”. De porte desta experiência pretendo desenvolver uma abordagem em diálogo com as recentes discussões dos estudos sociais em ciência e tecnologia (ESCT), em especial aquelas que tratam da questão da democracia técnica, expertise e experiência (Callon et all, 2009; Collins e Evans, 2002; Wynne, 2003; Jasanoff, 2003). Pretendo apontar as limitações na formação de um consenso sociotécnico por meio do mecanismo aqui apresentado. Estas limitações, a título de hipóteses, emergem principalmente por conta da hierarquia sócio/cognitiva que sustenta o status diferenciado dos atores que participaram do Conselho. Longe de tal hierarquia se localizar meramente no plano valorativo, ela influencia nas práticas dos profissionais de saúde e ali se reforçam, levando a conflitos cognitivos irreconciliáveis.
Construções e Apropriações Sociais da Noção de Crise Climática: o que é feito em nome do clima?
Fabrina Pontes Furtado (Ippur - UFRJ)Grupo Temático: Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia e as Mudanças Climáticas
Resumo
A partir de evidências científicas e de sua difusão midiática, construiu-se progressivamente um senso comum de que existe uma crise climática e que seu correto diagnóstico teria fundamentado o estabelecimento de medidas, instituições e políticas para o seu enfrentamento. O debate dominante tem-se mostrado propenso a desvincular as mudanças climáticas do modelo de desenvolvimento que lhe é subjacente, propondo ações mitigadoras tais como o chamado mercado de carbono, o pagamento de serviços ambientais (PSA) e soluções tecnológicas.
A consolidação da lógica do mercado de carbono enquanto proposta de solução, abriu caminho para a apropriação material e simbólica da natureza. O artigo 41 do capítulo X do novo Código Florestal, por exemplo, institui a Cota de Reserva Ambiental (CRA), “título representativo de vegetação nativa” que pode ser comercializado. É com base na CRA que funciona hoje a Bolsa de Valores Ambientais do Rio de Janeiro (BVRio). O Estado do Acre criou, em 2010, o Sistema de Incentivo aos Serviços Ambientais (SISA) para a geração, manutenção e recuperação de serviços e produtos ecossistêmicos como estratégia de mitigação e adaptação às mudanças climáticas.
Neste processo, a apropriação política da ciência fundamenta e legitima a transformação de ¨características ecológicas¨ em serviços e produtos a partir do processo de abstração de algo chamada ¨natureza¨. O Sisa, por exemplo, conta com um comitê científico para ¨zelar pela seriedade de propósitos e pela veracidade dos fatos apresentados¨.
Considerando a perspectiva construtivista da ciência ambiental, o presente trabalho busca identificar o que é realizado em nome do clima, analisando os interesses e projetos que orientam a formulação de políticas e os processos utilizados para a sua legitimação. Reflete sobre as relações entre o campo científico e o político, percebendo a questão ambiental como uma construção social com implicações políticas, culturais e morais. Diferentes atores sociais constroem a noção de crise climática a seu modo e se apropriam das evidências científicas para justificar soluções capazes de solucionar o problema que é apresentado para a sociedade como “de todos”. Portanto a necessidade de considerar as formas pelas quais determinados conhecimentos científicos das questões ambientais, naturalizam e reforçam valores culturais e morais específicos.
Diálogos entre a teoria ator-rede e a formação de professores: pensando a EAD.
Fátima Kzam Damaceno de Lacerda (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)Grupo Temático: Pedra, planta, bicho, gente... coisas: encontros da teoria ator-rede com as ciências ambientais
Resumo
Num cenário de grandes transformações tecnológicas, buscamos discutir a contribuição do campo da sociologia das associações, ou teoria ator-rede, para a educação, em especial na área da formação de professores na modalidade a distância. Temos acumulado alguma experiência no âmbito do oferecimento de cursos de licenciatura no Estado do Rio de Janeiro através de um trabalho consorciado envolvendo as instituições de ensino federais e estaduais (LACERDA, 2012). Esperamos, com esta proposta de estudo, contribuir para o entendimento do papel da EAD na formação de professores, em especial, no âmbito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Como os educadores da UERJ formam novos docentes (futuros educadores) através da modalidade a distância? Como a modalidade a distância forma tanto educadores quanto novos docentes formados pelos primeiros na prática educativa? Qual a contribuição da EAD para a formação docente neste contexto? Como os professores e estudantes da universidade vêm vivenciando esta proposta? Como se dá a atuação dos tutores na prática da docência compartilhada? Como vem acontecendo a relação entre os estudantes EAD e a universidade? Como tem se caracterizado a evasão nos cursos semipresenciais? Qual a opinião dos egressos destes cursos? De que forma acontece o processo de institucionalização da EAD na universidade? Quais são os problemas relacionados à captação de recursos? Nossa proposta é desinvisibilizar as controvérsias que emergem do campo de conhecimento que discute a formação de professores e a EAD, provocadas por estas questões aqui formuladas. Acreditamos que a rede sociotécnica agenciada pelo objeto laboratório de educação a distância poderá nos oferecer algumas pistas.
Referência:
LACERDA, F.K.D. Contribuições da Educação a Distância para a Educação Ambiental: utilização da rede sociotécnica na análise das concepções de meio ambiente e saúde no Polo de Nova Friburgo. 2012. 292 f. Tese (Doutorado em Meio Ambiente) – PPGMA, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012.
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Tecnologia como mediadora da prática artística dos Microrroteiros da Cidade
Fernanda Bornancin Santos (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), Marilda Lopes Pinheiro Queluz (UTFPR)Grupo Temático: Tecnologia e mediações
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Resumo
Este trabalho propõe uma reflexão sobre como as escolhas técnicas e os processos de configuração das materialidades da prática artística dos Microrroteiros da Cidade podem potencializar suas possibilidades de circulação e apropriação. Criado pela artista e roteirista paulistana Laura Guimarães, em 2009, o projeto consiste em pequenos roteiros que convidam à visualização de histórias e situações vivenciadas por pessoas que transitam e/ou habitam a cidade de São Paulo. A linguagem utilizada nos textos dos microrroteiros é construída a partir da lógica do roteiro e do código técnico de elaboração de textos do Twitter, uma plataforma de microblogging que prioriza o compartilhamento por meio de mensagens curtas de até 140 caracteres, constituindo, assim, diferentes materializações dessas representações em espaços urbanos e redes sociais. Por meio de levantamento fotográfico, entrevista e coleta de dados realizamos um mapeamento dos trânsitos dessas dinâmicas e, posteriormente, desenvolvemos uma análise das opções tipográficas, dos variados suportes, composições e das conexões entre diferentes espaços geográficos identificados, problematizando, a partir da Teoria Crítica da Tecnologia de Andrew Feenberg, como questões técnicas/tecnológicas são fundamentais na co-construção e mediação desse circuito/rede. Compreendemos as hibridações de linguagens expressas nessa prática artística como deslocamentos que ocorrem de modo não linear, mas de maneira cruzada e simultânea, borrando fronteiras de autoria e de fruição passiva, possibilitando outras construções de visualidades, coletivos e randômicos e mediando processos de ressignificação e reapropriação da cidade.
Hormônio do amor? narrativas sobre a ocitocina nas redes sociais mamíferas
Fernanda de Carvalho Vecchi Alzuguir (Instituto de Estudos em Saude Coletiva/UFRJ), Marina Fisher Nucci (Instituto de Medicina Social - UERJ)Grupo Temático: Estudos Sociais das Ciências e das Tecnologias em Saúde Sexual e Reprodutiva
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Subsidiadas por estudos do campo do gênero e ciência, pretendemos analisar o lugar do hormônio ocitocina nos discursos e práticas sobre maternidade, amamentação, parto e gravidez produzidos em blogs e sites de mães que se autodenominam “mamíferas”. Para tanto, apresentaremos as discussões preliminares de um estudo etnográfico baseado nas narrativas produzidas no contexto daquelas redes sociais.
Perpassando o ideário da humanização do parto e da amamentação, os discursos das mamíferas reiteram a valorização de uma natureza feminina universal mediante o traçado de uma continuidade entre mães biológicas e mamíferos e da enunciação de evidências cientificas sobre parto, gestação, amamentação e cuidado com os filhos. Este cenário configura um campo que denominamos de “maternidade baseada em evidências”, que contempla referências a estudos científicos evocados por vários especialistas do âmbito da saúde materno-infantil como obstetras, ginecologistas, psicanalistas, pediatras.
Nesse contexto à primeira vista contraditório no qual evidencias cientificas se aliam à defesa da humanização e desmedicalização do parto e da amamentação, semelhanças entre aspectos fisiológicos entre humanos e animais são enaltecidas, justificadas e ancoradas na ação do hormônio ocitocina. Também chamada de “hormônio do amor”, a ocitocina aparece nas narrativas como prova cientifica da “natureza” mamífera das mães e elo de aproximação entre elas e animais mamíferos.
Em um estudo realizado na França, Fillod (2014) observa que, a despeito da não confirmação científica de sua validade, teorizações a respeito da ocitocina se disseminaram na cultura francesa e serviram de suporte para a defesa da ideia de “instinto materno”. A premência do discurso sobre a ocitocina nos blogs que analisamos evidencia a disseminação destas teorias também no contexto brasileiro. Entre as influências, destacam-se as concepções sobre a ocitocina do médico francês Michel Odent, defensor do movimento do parto humanizado na década de 70 e que podem ser lidas no livro “A Cientificação do Amor” (2000).
Destacaremos o contexto social e político de perpetuação da noção de que as mulheres são uma extensão da natureza e o importante papel da ciência como matriz de naturalização da condição feminina a partir dos processos reprodutivos das mulheres.
FEBRÔNIO ÍNDIO DO BRASIL: loucura, crime e imprensa nos anos 1920 e 1930.
Fernanda Glória Bruno (UFRJ), Ramiro Faria de Melo e Souza (UFRJ), Raphael Thomas Ferreira Mendes Pegden (UFRJ)Grupo Temático: Estudos CTS, Práticas Psi e Modos de Produção de Subjetividades
Resumo
Pretendemos, por meio deste trabalho, retraçar a rede que entrelaça os acontecimentos históricos, as formações discursivas e as transformações institucionais que constituem o caso médico-judicial de Febrônio Índio do Brasil. A história de Febrônio teve grande repercussão na imprensa brasileira da época, a qual contribuiu para a construção da imagem de “monstro” deste mineiro que se julgava o primeiro profeta de uma nova religião. Em seu delírio místico-religioso, Febrônio buscou cumprir a missão de escrever um livro, As Revelações do Príncipe do Fogo (1926), de imolar e tatuar dez jovens rapazes com o dístico D.C.V.X.V.I, símbolo do seu “Deus-Vivo”. Quando preso em 1927 pelo assassinato de Alamiro José Ribeiro, chamou a atenção do público brasileiro, da imprensa e dos psiquiatras da época que foram convocados a opinar sobre o caso no tribunal. Seus crimes e sua loucura o condenaram a ser o primeiro interno do Manicômio Judiciário do Rio de Janeiro, onde morreu aos 86 anos, após 57 anos de confinamento.
O processo judicial de Febrônio Índio do Brasil, documento-chave deste trabalho, inaugurou as relações do direito com os saberes psicológicos e psiquiátricos no Brasil. Seu julgamento foi marcado pelo desvio das atenções do crime para o criminoso e suas motivações, sua interioridade, sua alma. Aqui destacamos um duplo aspecto que reflete, não tanto a relação entre o crime e a loucura, mas antes, e principalmente, as transformações no modo pelo qual o crime da loucura foi gerido no sistema penal do direito brasileiro desta época. A interseção entre o discurso jurídico com o discurso psiquiátrico/psicológico e o deslocamento da Escola do Direito Clássico para a Escola do Direito Positivo integram um mesmo movimento histórico que culminou na criação do primeiro manicômio judiciário no Brasil. Este se apresenta na história do Brasil como uma resposta institucional à questão jurídica inaugurada pelo caso Febrônio: a questão do destino da loucura inscrita no âmbito da sua inimputabilidade. O Manicômio é, também, o ponto de intercruzamento entre o direito e a psiquiatria materializados, ambos, num dispositivo disciplinar. A demanda médica pela questão “para onde encaminhar os doentes mentais marcados pelo crime” vem acompanhada de uma resposta duplamente jurídica e médico-psiquiátrica.
O ensino da encadernação no Brasil na década de 1940: o livro “Manual do aprendiz encadernador,” de Jorge Menegazzi e os livros “Curso de Encadernação”, vol. I e II, do SENAI.
Fernanda Kelly Silva de Brito (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo)Grupo Temático: Ciência e Techné na História
Resumo
Este trabalho tem como intuito apresentar o livro “Manual do Aprendiz Encadernador”, de autoria de Jorge Menegazzi, publicado pela Escola Industrial Dom Bosco, em Niterói, no ano de 1944 e os livros “Curso de Encadernação” vol. I e II, que fazem parte da Biblioteca do Ensino Industrial do SENAI e publicados pela Comissão Brasileiro-Americana de Educação Industrial, CBAI, no ano de 1949.
Trata-se de 2 publicações utilizadas para o ensino do ofício da encadernação na década de 1940, e a proposta é realizar uma análise das relações entre imagem e texto, verificando como foram apresentadas nas publicações, a que público se destinava e como é representado o ofício da encadernação, indicando como se dava a transmissão deste conhecimento e as mudanças nas formas da leitura e relações com o livro.
Pretendemos através desta análise, indicar especificidades na formação do técnico encadernador e evidenciar através de aspectos das imagens alguns indícios relacionados à tradição dos ofícios.
O processo de institucionalização do oficio médico na América Portuguesa
Fernanda Soares Rezende (Universidade Federal de Goiás)Grupo Temático: Medicina na América Latina: práticas científicas, dispositivos tecnológicos e inovações terapêuticas
Resumo
Este trabalho versa sobre a figura dos cirurgiões e dos práticos da medicina ao longo dos séculos XVII e XIII na América Portuguesa. De modo que, a observação e o trato de moléstias até então desconhecidas, o uso de produtos da farmacopeia indígena, o recurso a procedimentos terapêuticos ensinados pelos moradores da terra ou por antigos colonos, constituem temáticas presentes nas narrativas feitas a partir de suas vivências.
Esta pesquisa propõe historicizar os lugares e os momentos em que o processo de institucionalização da pratica médica ocorreu na América Portuguesa. Uma vez que, as sociedades desenvolveram diferentes formas de lidar com suas moléstias e com seus doentes. O meio social exercera influência decisiva nas modificações das formas de interpretar as doenças e também das práticas de cura das mesmas. No contexto da América Portuguesa, os cirurgiões exerceram e se preocuparam em desenvolver uma prática médica que pudesse atender à população, que estava relegada a própria sorte por meio do contexto social em que se encontravam inseridas. Com isso, espera-se contribuir, por meio da História, para a compreensão desse processo de institucionalização das práticas médicas, bem como, para discussões e possíveis indagações contemporâneas acerca do tema. Este que se insere na proposta do Simpósio em questão. O procedimento metodológico é hermenêutico, isto é, comparativo e interpretativo no que se refere aos fundamentos e transformações históricas dessas práticas médicas ao longo do período supracitado.
Cartografando traduções na estratégia da saúde da família, construindo software
Fernando Severo (UFRJ), José Marcos Silveira Gonçalves (UFRJ)Grupo Temático: Um olhar sociotécnico sobre o software
Resumo
Investigar o processo de implantação de sistemas de informação com um olhar menos atento pode dar a impressão da existência de um divisor que separa artefatos técnicos dos fatos sociais. Contudo, ao investigar o processo de implantação de um software (um prontuário de atendimento médico eletrônico) para apoio às atividades da estratégia de saúde da família na região de Manguinhos, no município do Rio de Janeiro, através de uma abordagem sociotécnica, pode mostrar o quão frágil ou precário é esse divisor. Ao descrever a construção de um fragmento desse software, nosso interesse é avaliar como se formaram as adaptações necessárias à realidade local da atenção de saúde primária naquela região. Em especial, procuramos compreender como se estruturam os diálogos (em especial as evidências materiais ) entre os múltiplos atores que vêm negociando as decisões sobre a customização deste software. Ao utilizarmos o referencial metodológico da Teoria Ator-Rede (TAR), identificamos: i) uma gama de traduções que se estabilizavam numa rede, provocando a colaboração entre atores heterogêneos; ii) e que um software era o elemento responsável pela amarração desses atores.
Quando se fala de gestão em saúde, o primeiro pensamento que passa pela cabeça de alguém que se aproxima do assunto é a sensação de COMPLEXIDADE. Palavras como epidemiologia, resolutividade, referenciamento e outras tantas tornam mais herméticas a praxis médica e as práticas administrativas no contexto da saúde moderna. O próprio termo complexidade é utilizado para diferenciar os procedimentos médicos, em função da sofisticação tecnológica de cada tipo de intervenção. Os procedimentos são divididos em baixa (atenção básica), média e alta complexidade . Mas se a atenção básica é, por um lado, “simples” em relação à tecnologia envolvida em seus procedimentos médicos, é a que mais demanda esforços em termos de gestão. Por exemplo, acompanhar famílias, de um determinado território, de forma contínua, registrando todos os eventos médicos da vida de cada pessoa, demanda uma estrutura de suporte à informação muito sofisticada. Ao acompanhar mais de perto a customização de um desses sistemas de informação em saúde (SIS), identificamos a existência da construção sociotécnica de um artefato de software ao apresentarmos uma cartografia das operações de tradução que estabilizam o mesmo.
Tecnojovem Realidade virtual como renda real: quando as tecnologias sociais mesclam o real e o virtual
Fernando Severo (UFRJ)Grupo Temático: Práticas democráticas: diálogos econômico-pedagógicos mediados (ou não?) por tecnologias
Resumo
Cena 1: Ilha do Fundão, manhã de quarta-feira dia 24 de setembro de 2015, numa pequena do sala do bloco H cerca de 40 pessoas se amontoam para responder a seguinte pergunta: De que forma a tecnologia pode transformar os atores, ações, e processos da educação? A primeira vista é de dessa forma que consigo descrever o Seminário Educação e tecnologia na cidade, um evento criado pela RPPE (Rede de Políticas Públicas de Educação) que pretende discutir as “potencialidades e limites das novas tecnologias nos métodos de ensino-aprendizagem” e as “novas relações na transversalidade das instituições que nos permitem associar atores do espaço urbano no processo de educar”. Relações transversais entre instituições que associam atores para tentar promover espaços educativos... vários elementos dessa frase pareciam se relacionar com uma oficina organizada por “atores” de uma empresa que não decide se é pública ou privada, mas que conseguiu “associar atores do espaço urbano no processo de educar.” A partir da oficina chamada Tecnojovem, pretendo mostrar a rede sociotécnica que configura os elos que agregam o CRJ, a produtora colaborativa Colabor@tiva.PE, o FBES e o LAB3D. No Tecnojovem, o voluntário poderá ensinar informática avançada, multimídia e gestão para jovens em risco ou desvantagem social. Oficina ou Produtora Colaborativa?painel.vi.esocite.br.tecsoc
Café, cultura, Ciência e Tecnologia: uma mistura que dá certo
Flávia Aparecida da Silva Zocoler (Universidade Federal do ABC)Grupo Temático: História das Ciências e da Tecnologia aplicadas ao Ensino
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As novas tecnologias favorecem diferentes maneiras de comunicação, possibilitando um novo jeito de ensinar e aprender, a relação dialógica, a autoria e coautoria de sentidos.
Seu uso possibilita o contato com narrativas diversas. É possível desenvolver trabalhos cooperativos, pesquisar, aprimorar a produção escrita e compartilhar resultados, o que pode colaborar no aprendizado dos alunos.
Este trabalho mostra as possibilidades e desafios do uso da tecnologia como facilitador no processo de aprendizagem do discurso escrito e discute a contribuição da História das Ciências e Tecnologia para a Educação Científica no Ensino Fundamental I.
O objetivo da proposta foi analisar as contribuições de um trabalho de pesquisa e produção de textos utilizando ferramentas disponíveis na internet (Google Drive e Glogster), para ampliar a leitura de mundo dos alunos. Foram abordados os aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais relacionados ao cultivo do café no Brasil, do século XVIII até os dias atuais. Buscou-se identificar a evolução tecnológica do seu processo de produção e manufatura no decorrer das décadas.
Após uma roda de conversa sobre o café na mesa do brasileiro, as diversas maneiras de prepará-lo, seu processo de produção e manufatura, um texto coletivo foi escrito no Google Drive para registrar o que foi dito e elaborar um roteiro sobre o que gostariam de descobrir sobre o assunto.
A seguir os alunos, em grupos, pesquisaram informações sobre o que haviam conversado, incluindo imagens e vídeos. Cada pesquisa deu origem a um texto colaborativo compartilhado no Google Drive da turma. A socialização dos resultados foi através de um painel no Glogster.
Os alunos identificaram a importância do café no Brasil, estabeleceram comparações entre os processos de produção e manufatura da bebida ao longo do tempo e identificaram os impactos sociais da utilização da tecnologia nestes processos.
Verificou-se que o uso da tecnologia motivou os alunos, facilitou o processo de ensino aprendizagem e favoreceu a interdisciplinaridade, simplificando o acesso à informação e divulgação do conhecimento construído.
Os estudos de ciência tecnologia e sociedade (CTS) e sua contribuição para a participação popular no contexto da ciência pós-normal
Flávia de Faria Gomes (UTFPR), Adriana Ripka (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), Christian Luiz da Silva (UTFPR), Denise Rauber (UTFPR), Gabriel Massao Fugii (Universidade Tecnolóvica Federal do Paraná)Grupo Temático: Expertise, deliberação de empreendimentos sociotécnicos e culturas de investigação científica e tecnológica
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A ciência moderna considerava-se segura e eficiente, por subjugar a natureza como domesticável e útil através de suas metodologias, sobrepondo-se a outros tipos de conhecimento. Decisões políticas restringiam-se à racionalidade científica, apenas a expertise tomava decisões sobre a natureza e a sociedade. Desta forma, o desenvolvimento tecnológico tornou-se conflituoso, como observado em projetos hidrelétricos: manifestações públicas nacionais, atuação do Ministério Público Federal, intensificação dos movimentos sociais – conectam-se num embate sobre os modos de vida e pontos de vista (externalizados) das comunidades afetadas. A ciência criou poderes que resultaram em distúrbios socioambientais, a expertise abstraiu a incerteza de seus conhecimentos e valores, conduzindo-nos a dilemas políticos. Então a tecnologia-científica moderna deparou-se com a necessidade de mudanças, visto as novas tarefas impostas (remediações). Uma mudança de paradigma deu vida à ciência pós-normal, que colocou em confronto as complexidades e incertezas, frente às decisões tecnológicas e socioambientais que se fizeram urgentes, por seus impactos de longa duração e grande escala. Promoveu-se o diálogo sobre a qualidade das informações e sua aplicação, a partir de novas expertises (população afetada e interessados) fazendo emergir a chamada “comunidade ampliada dos pares”, considerando a pluralidade de perspectivas (transdisciplinaridade), em busca da solução negociada de problemas científicos e questões políticas. Nesta linha, desenvolveram-se políticas e instrumentos, como o licenciamento ambiental, propondo compatibilizar o desenvolvimento econômico, social e ambiental. Mas, ainda enraizado na antiga ciência, recebe críticas sobre a participação pública em grandes projetos tecnológicos. Por isso, a partir de uma metodologia descritiva, por analisar a contribuição de conceitos antes desconsiderados; e explicativa, por interpretar a mudança de paradigma a partir dos fatos registrados, a pesquisa visa analisar como os estudos CTS, entendidos como uma “ferramenta” da nova ciência, por propor superar modelos tecnocráticos de decisão, influenciam na formação de cidadãos críticos sobre aspectos políticos, econômicos, ambientais, éticos e morais, e favorecem a compreensão societária para a democratização da vida política no momento da participação pública no licenciamento ambiental.
Representações da Ciência e Tecnologia em jogos digitais: uma análise de Deus Ex: Human Revolution
Flávia Garcia de Carvalho (Icict), Marcelo Simão de Vasconcellos (Fundação Oswaldo Cruz)Grupo Temático: Jogos digitais e suas relações com a Ciência, Tecnologia e Sociedade
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Jogos digitais podem ser vistos como um importante produto cultural, o que pode ser atestado por seu grande sucesso comercial. Além de um meio altamente tecnologizado, cujo desenvolvimento acompanha intimamente os avanços dos computadores, estes jogos são lugar de investimento simbólico, ou seja, eles são mais um espaço onde o mundo é representado. Contudo, suas representações não são feitas somente por meio de narrativas complexas e gráficos 3D avançados. Jogos podem fazer representações da realidade por meio de suas regras e procedimentos, através de uma forma de persuasão conhecida por retórica procedimental, um meio de produção de sentidos específico dos jogos de computador. Por seu funcionamento procedimental, tais jogos devem ser vistos não somente como objetos, mas também como processos. Não podem ser simplesmente lidos, ouvidos ou assistidos, mas sempre devem ser jogados. Para este trabalho, selecionamos o jogo de grande sucesso comercial e de crítica, Deus Ex: Human Revolution, que conta uma história de ficção científica, mais especificamente do subgênero cyberpunk, ocorrendo em um futuro próximo, quando melhorias mecânicas e digitais podem ser largamente implantadas no corpo a ponto de apagarem o termo “prótese”, passando a ser itens de consumo chamados de “aprimoramentos”. O fio condutor desta narrativa é uma desconfiança com relação à interferência da Ciência e da Tecnologia na vida humana, abordando o transumanismo e a hipótese de tais interferências serem o caminho para novas etapas da evolução humana. Este trabalho investiu na análise do jogo como dispositivo discursivo, com o auxílio de princípios teórico-metodológicos da Análise de Discursos. Com isso, pudemos perceber o quanto um material cultural pode ser capaz de ser investido de discursos da Ciência e Tecnologia e as diferentes maneiras como isso ocorre em um jogo digital. Entre os resultados da análise, encontramos diversas representações de questões comuns aos estudos de Ciência, Tecnologia e Sociedade, com destaque para a reprodução dos mitos hegemônicos da Ciência, as controvérsias relacionadas à construção social da Ciência e Tecnologia, impactos sociais e indissociabilidades entre Ciência e Tecnologia, Políticas Públicas, Ética e Saúde.
Gente que...se encontra nas redes sociais
Flávia Thaís Sobrinho Souza Dias (Universidade Federal do Rio de Janeiro)Grupo Temático: Internet: entre o capital e as ruas
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Resumo
Com os anos, as redes sociais tornaram-se mais complexas e multifuncionais. Os perfis dispõem de vários dados do usuário e isso o coloca como foco principal. Segundo Stuart Hall, a identidade do sujeito pós-moderno pode ser ganhada ou perdida. A partir desse conceito, constata-se que há uma preocupação do usuário com o próprio perfil no Facebook: a foto do perfil, as fotos do álbum que estão ou não acessíveis ao público, likes que recebem, as referências e páginas curtidas.
O estudo trata da mudança de atuação do indivíduo diante da internet e da apropriação que ele faz das novas ferramentas disponíveis. Neste trabalho investigou-se o processo de construção do self nos tempos atuais e como as redes sociais são utilizadas para externalizar a autodefinição, afirmação e pensamentos dentro de uma rede de laços, baseando-se nos conceitos de Pierre Lévy sobre humanização das comunidades virtuais.
A pesquisa qualitativa procurou, a partir de uma observação sistemática, compreender e interpretar o comportamento dos internautas nos posts da fanpage Indiretas do Bem, em relação às marcações de nomes e compartilhamentos. Percebe-se a tentativa pessoal de criar uma identidade para a rede de amigos. Ao analisar alguns posts da página, é possível notar novos posicionamentos de empresas na tentativa de se aproximar do público-alvo de maneira implícita e criar laços afetivos, gerando buzz e engajamento nas páginas.
Por fim, infere-se que os usuários entendem o Facebook como uma rede que necessita de manutenção constante (fotos atualizadas, frequência de posts, status...) porque não é apenas um canal para se relacionar, mas é uma forma de apresentação do indivíduo para o mundo, confirmando os escritos de Paula Sibília no livro Show do eu – a intimidade como espetáculo. Portanto, em cada ação tentam expressar sua identidade para a rede, como forma de afirmação do self que é construído naquele espaço virtual. Já as marcas se aproveitam dessa relação humana para conquistar o público de maneira casual e fortalecer o branding no mercado.
As Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação como possibilidades para constituição de Redes Interculturais de Formação de Professores de Ciências da Natureza
Francisco Fernandes Soares Neto (PPGECT - UFSC), Irlan von Linsingen (UFSC), Patrícia Barbosa Pereira (Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC))Grupo Temático: Tecnologia e mediações
Resumo
A partir do entendimento de características vinculadas à transnacionalização de conhecimentos (ORTIZ, 1996; DALE, 2004) e considerando que, a partir disso, podem emergir impactos nas produções, apropriaçõs e espoliações descontextualizadas de conhecimentos nas ditas relações globalizadas, esse trabalho propõe buscar alternativas para que possíveis abismos nas relações de troca de saberes não impeçam todo e qualquer tipo de intercâmbio cultural. Assim, de uma maneira geral, esse trabalho pretende delinear um conjunto de propostas para a interlocução entre práticas formativas, voltadas a formação inicial de professores de ciências, numa perspectiva intercultural e de troca de saberes, inerentes ao projeto de cooperação educacional realizado entre Brasil e Timor-Leste. Dessa forma, buscamos vislumbrar os limites e possibilidade das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC) como instrumentos de vínculo, e espaço de troca, entre universos distintos de formação de professores, além dos impactos no trabalho pedagógico dos formadores e nas relações construídas nesse processo, principalmente acerca dos conhecimentos científicos. Com isso, como perguntas norteadoras da propostas de estudo, pretendemos enxergar quais as possibilidades de desconstrução das barreiras impostas pela globalização dos conhecimentos científicos e tecnológicos, com auxílio das TDIC, em contextos multiculturais? Como elas podem vir a ser ferramentas para o estabelecimento de conexões entre culturas distintas, afim de possibilitar a construção de conhecimentos locais e globais por meio de redes? Como essas tecnologias podem ser estruturantes de práticas pedagógicas, na construção de propostas que visem a problematização do ensino Ciências da Natureza? Dessa forma, o que se vislumbra é o desenho de uma proposta que estruture alternativas, baseadas em práticas de autoria compartilhada de conhecimentos e, portanto, que busque assumir questões relativas à interculturalidade, a partir de uma apreciação e contato com o diferente. Nesse sentido, o intuito é viabilizar uma ampliação da discussão sobre as interações interculturais na educação científica e, por meio da perspectiva discursiva (ORLANDI, 2013) analisar os sentidos construídos a respeito de conceitos científicos, da ciência e das tecnologia em ambientes coletivos e interculturais de aprendizagem, modelados a partir de TDICs.
Formação técnica e científica em Terapia Ocupacional - uma perspectiva feminista
Francisco Leal de Andrade (UFBA)Grupo Temático: Gênero, Ciência e Tecnologia: avanços e desafios
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Resumo
Este artigo é um recorte do estudo para a tese de doutorado em Estudos Interdisciplinares Sobre Mulheres, Gênero e Feminismo e apresenta uma reflexão sobre a formação técnica e científica de terapeutas ocupacionais, temática norteadora da tese, tomando os estudos feministas como base epistemológica para a compreensão das questões de gênero que marcam tal temática. Vale destacar que a Terapia Ocupacional é um campo de estudo voltado para a formação de profissionais da saúde com intensa atuação no campo social, e que fazem uso da atividade como principal recurso terapêutico. Estudos apontam que o modelo biomédico ainda é a principal referência na formação desses profissionais, que se deparam, constantemente, com concepções biologicistas e deterministas. Neste sentido, ao considerar que a perspectiva determinista biológica busca justificar as supostas diferenças comportamentais, cognitivas e ocupacionais presentes no cotidiano de homens e mulheres, busca-se avaliar se esta perspectiva no processo de formação de terapeutas ocupacionais tem contribuído para o fortalecimento das abordagens terapêuticas que refletem princípios patriarcais que valorizam estruturas biológicas de diferenciação sexual em detrimento dos componentes sociais que configuram as identidades de gênero. Um exemplo dessas abordagens é evidenciado em estudos que apontam o processo de reabilitação de mulheres acometidas por doenças do trabalho, como LER/DORT, e sobre a atenção à saúde ocupacional de cuidadoras de pessoas com deficiência que apontam preocupantes evidencias de sexismo baseado na divisão sexual das ocupações e papeis sociais que envolvem o cotidiano feminino. Assim, as assimetrias de gênero presentes no contexto da readaptação e inclusão social podem revelar o “sexismo ocupacional”, na medida em que postos de trabalho e papeis sociais são sexualmente definidos a partir de uma perspectiva determinista biológica, constituindo uma realidade que demanda estudos, discussões e ações sob a luz das teorias feministas. A investigação em andamento traz contribuições para os estudos de ciências-tecnologias-sociedades (CTS) ao propor reflexões sobre a transversalização de gênero na formação técnica, científica e de ação social de terapeutas ocupacionais.
As diferentes representações do boi e de suas funções durante o medievo e o Renascimento
Fabiana Dias KlautauGrupo Temático: Ciência e Techné na História
Resumo
As imagens possuem um importante papel na transmissão de informações visuais e na divulgação de conhecimentos (BELTRAN, 2000). O Bestiário medieval era um gênero de livros informativos e ricamente ilustrado (FONSECA, 2013). Nele os animais eram caracterizados por uma descrição física, seguida da narração de seus hábitos e finalizando com uma correspondente moralização (BENTON, 1992). Através das imagens nele contidas proporcionava-se aos iletrados uma compreensão eficaz das histórias bíblicas e sua importância é também observada pelo seu deslocamento no texto, abrindo ao invés de fechar a descrição (VARNADAS, 2006). No Bestiário de Aberdeen, uma das representações do boi é em forma de um animal chamado bonnacon, um touro com rabo de cavalo que possui chifres entrelaçados e por isso, não apresenta perigo ao oponente. Porém, ao se sentir ameaçado, ele ejeta seus excrementos à longa distância, que podem incendiar qualquer coisa que for alcançada. As origens dos Bestiários remontam ao Physiologus que traziam descrições literais das criaturas, sendo que as moralizações foram introduzidas posteriormente. No Physiologus Medieval Sul Eslavo por exemplo, vemos a imagem do boi acompanhada da descrição "Quando um boi encontra um lugar onde há sangue de boi, ele clama de todo o seu coração e louva a Deus"(STOYKOVA, 1994). No período que vai de 1550 a 1650, vemos a difusão dos livros de emblemas associada à publicação do Emblematum Liber de Alciati, em Augsburgo, no ano de 1531. Estruturalmente, um emblema é composto pelo inscriptio que dá o título ao emblema; pictura uma imagem simbólica que ocupa a parte central do emblema; e suscriptio um pequeno texto que explica a imagem(BOMBASSARO, 2013). Andrea Alciati utilizou em seus emblemas imagens de animais, entre elas, a do touro. Como exemplo, podemos citar o emblema intitulado "Sustine et abstine" (Espere e deixe esperar) onde vemos a imagem de um touro sendo apascentado por um homem e esse emblema faz alusão à tolerância. Diferentemente das obras supra citadas, Conrad Gesner optou por imagens que expressavam características particulares do animal e algumas traziam representações do envolvimento com a vida quotidiana na sociedade. É o caso do boi que por ser um animal castrado é adequado para o serviço do arado, ilustrado na imagem que retrata um homem guiando um boi, fazendo este último o trabalho pesado(Gesner,1551).
Desenhos e instrumentos de medida no processo de transmissão do conhecimento geométrico
Fumikazu SaitoGrupo Temático: Ciência e Techné na História
Resumo
É possível reconhecer, em meados do século XVI, três diferentes formas de geometria: uma de ordem teórica, exposta nas diversas traduções de ELEMENTOS de Euclides; outra, que perpetuava a tradição medieval da PRACTICA GEOMETRIAE em estreita conexão com a arte da agrimensura; e a "geometria das construções", encontrada nos cadernos de desenhos em que arquitetos e "mestres de obras" (carpinteiros e pedreiros) esboçavam genuínas "construções geométricas", tais como os desenhos de Villard de Honnecourt (século XIII). Essas três formas de geometria chegaram ao século XVI por diversas vias de transmissão de modo que elas não podem subordinar-se umas às outras, uma vez que cada uma delas atendia a uma diferente demanda. Pode-se dizer que o conhecimento geométrico não seguiu uma única via de transmissão desde a antiguidade clássica até o século XVI. Nesse percurso, diferentes setores da sociedade se apropriaram de conhecimentos geométricos específicos, que eram úteis para suas respectivas atividades, garantindo, ao mesmo tempo, a sua transmissão a gerações futuras. Assim, este trabalho busca apresentar alguns aspectos desse processo de apropriação e de transmissão de conhecimentos, tendo por base algumas lâminas do caderno de desenhos de Honnecourt. Essas lâminas preservaram não só antigos conhecimentos de geometria euclidiana, mas também outros de geometria prática, explorando genuínas construções geométricas. No que diz respeito ao conhecimento, essas lâminas não fornecem instruções explícitas, mas imagens de procedimentos para realizar construções geométricas e executar medidas por meio do manuseio de alguns instrumentos matemáticos. Estudos a esse respeito têm apresentado indícios de que a transmissão desses conhecimentos era realizada oralmente e que as imagens eram apenas "lembretes" de propriedades geométricas específicas, compartilhadas apenas por arquitetos e mestres de obras. Neste trabalho, apresenta-se um estudo preliminar das lâminas 20, 20v e 21, que trazem indícios não só de instrumentos matemáticos utilizados por Honnecourt, mas também de técnicas de medidas, que seriam posteriormente bastante explorados por diferentes estudiosos de matemáticas no século XVI.
Rede de Políticas Públicas - RPP
Fabiana Mabel Azevedo de OliveiraGrupo Temático: GT Ciência, tecnologia e inovação social
Resumo
Neste novo momento histórico, onde coexistem espaços reais e espaços virtuais digitais, na qual a sociedade contemporânea está caminhando, é importante abrir novas fronteiras para produzir novos saberes, dados pelas realidades derivada dos meios computacionais (EGLER,2009). Neste sentido, entendemos que um produto que permita aglutinar, armazenar e difundir um conhecimento multidisciplinar, pode contribuir permitindo o acesso à diversas informações legitimadas pelos laboratórios, possibilitando a produção de espaços digitais para a interação social.
A formação da rede em Políticas Públicas parte da compreensão de que não podemos continuar a pensar na separação entre campos de atuação. Mas é necessário observar a especificidade do objeto que na atualidade está em diferentes instituições. A RPP está organizada em torno do objetivo de reunir diferentes laboratórios e proporcionar um diálogo entre eles, examinar as formas de concepção, representação e articulação dos atores em rede, uma proposta que entende as novas tecnologias de comunicação, especificamente a Internet, e sua possibilidade de formação de uma rede sociotécnica, como uma ferramenta capaz de ampliar as formas de interação social (EGLER,2007). Entende que nesta forma de interação social a articulação entre os membros participantes da rede, permite novas formas de socialização do saber. Aumentando o acesso à informação e comunicação, tornando os processos mais abertos, redefinindo as relações e as trocas sociais, e possibilitando sua mediação por processos digitais.
O ponto de partida do sistema proposto é compartilhar conhecimento e trocar experiências metodológicas, onde a capacidade analítica e de representação do conhecimento depende de cada membro da rede e do acervo de teorias, categorias, conceitos e metodologias que foram acumulados ao longo dos anos.
As novas tecnologias nos coloca frente às novas possibilidades de ação, entendendo que nessa nova maneira de representação existe uma totalidade mais complexa, que coloca questões sobre a importância da interlocução no espaço digital. No desenvolvimento do sistema colaborativo, percorremos o campo das idéias e dialogamos com autores que participam do campo: da sociedade, da informação, da comunicação e da educação, construindo um diálogo entre as diferentes disciplinas associadas ao projeto, experienciando e propondo novas formas de diálogo.
Homeopatia e Ciência
Fátima Cristina Vieira PerurenaGrupo Temático: Medicina na América Latina: práticas científicas, dispositivos tecnológicos e inovações terapêuticas
Resumo
A homeopatia é legitimada socialmente no Brasil, faltando-lhe a legitimidade científica. Este trabalho, cujo campo empírico está restrito ao conteúdo da revista Homeopathy (periódico publicado na Inglaterra desde 1945) nos anos de 2012-2013, procura explicar a situação da homeopatia frente ao campo científico da medicina instituída. Trabalha-se com a hipótese de que a homeopatia passa por uma mutação do seu estilo de pensamento, e isto se deve ao fato de estar "enquadrada" nos cânones científicos da biomedicina. A pesquisa evidenciou que a homeopatia procura colocar-se nos parâmetros exigidos de cientificidade - a medicina baseada em evidências. Para estabelecer esta discussão entre homeopatia e ciência, buscou-se referencial teórico no arcabouço conceitual de Ludwik Fleck, especialmente nos conceitos de coletivo de pensamento e estilo de pensamento.
A pedagogia da alternância como proposta de contenção do êxodo rural
Franciele Eleide KuhnGrupo Temático: Políticas Públicas e Desenvolvimento Local: interveniências e interações entre tecnologia, sociedade e democracia
Resumo
No contexto de ocupações e migrações de povos oriundos do estado do Rio Grande do Sul, constituídos em sua maioria de imigrantes de países europeus, a região oeste catarinense tem o povoamento de seus sertões pautado na busca por maiores extensões territoriais. O objetivo principal deste povo, além da posse da terra, era a constituição de família, bem como a sua manutenção econômica. Assim, de um processo de migração para ocupação da terra, vivenciamos um processo de migração do campo para as cidades, o chamado êxodo rural. O meio campesino, espaço que por muitos anos vem sofrendo as consequências da falta de políticas públicas voltadas para a educação do campo, valorização cultural e empoderamento social de agricultores, tem gerado o abandono do campo, à procura de espaços de vida com dignidade. Pensar em uma proposta educacional que valorize o saber de seu povo e suas especificidades nos parece ser fundamental. Tal característica está presente na proposta educacional da Pedagogia da Alternância. Falar em campo é falar de um espaço geográfico e social que possui vida e necessidades próprias, com culturas e práticas sociais que lhes são características. Neste mesmo sentido, também acontece quando falamos em educação do campo, a qual propõe um currículo escolar levando em consideração as características dos sujeitos campesinos, cujo objetivo principal é o desenvolvimento do próprio meio rural. A partir de leituras e inserções in loco, esta pesquisa teve como objetivo central verificar a efetiva contribuição da Pedagogia da Alternância na contenção do êxodo rural, identificando suas potencialidades e fragilidades. A metodologia, pautada no estudo de caso, teve como objeto de estudo a CFR Santo Agostinho, localizada no município de Quilombo (SC), seus estudantes e egressos.
Desafios e Oportunidades Enfrentados pela INTECOOP UNIFEI: um estudo de caso
Fabiano Clarete GuimarãesGrupo Temático: Políticas Públicas e Desenvolvimento Local: interveniências e interações entre tecnologia, sociedade e democracia
Resumo
A Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Universidade Federal de Itajubá - INTECOOP UNIFEI, assim como as demais ITCPs, têm promovido o desenvolvimento social por meio da construção, fortalecimento e troca de conhecimentos entre universidade e comunidade, possibilitando iniciativas econômicas autogestionárias, que resultam na geração de trabalho e renda. A INTECOOP UNIFEI faz parte do rol de ITCPs, as quais têm promovido ações que estimulam o processo de mudança social, influenciam posições e condutas dos atores sociais gerando soluções para as demandas sociais. A INTECOOP UNIFEI, assim como as demais ITCPs, tem procurado estimular a construção da extensão social universitária, resultando num estímulo à mobilização e envolvimento das universidades com a sociedade, permitindo que essa integração possibilite o desenvolvimento social. Nesse contexto, procurou-se por meio da utilização de uma metodologia qualitativa identificar e analisar o processo de institucionalização e metodologia da INTECOOP UNIFEI, seus critérios para seleção de seus grupos incubados, os fatores que influenciam sua atividade de incubação, os resultados alcançados com seus Empreendimentos Solidários, permitindo caracterizar seu processo de desenvolvimento, atuação junto aos seus empreendimentos incubados, desafios e oportunidades enfrentados. Verifica-se que a INTECOOP UNIFEI, assim como cada ITCP, apresenta características distintas, singulares, em razão dos parceiros envolvidos no processo de incubação, da metodologia de incubação adotada, da capacitação e experiência da equipe de trabalho da incubadora, da infra-estrutura e recursos disponíveis, bem como de seus arranjos institucionais. Conclui-se que fatores como recursos físicos, materiais, humanos, financeiros, governança, parcerias, qualificação profissional da equipe de trabalho de incubação e rotatividade de pessoal, são restritivos, em maior ou menor grau à atividade de incubação e que A INTECOOP UNIFEI têm propiciado a transformação social, emancipação e geração de trabalho e renda aos integrantes de seus grupos incubados, momento em que o compartilhamento dessa experiência extensionista poderá contribuir para a literatura dos estudos de ciências-tecnologias-sociedades (CTS).
Design, tecnologia e estímulo das imagens na inclusão dos surdos
Flávia Neves de Oliveira Castro, Nadja Maria Mourão, Rita de Castro EnglerGrupo Temático: Produção de conhecimentos e artefatos - Experiências interdisciplinares em design
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Resumo
Na atualidade, em todo o planeta, os problemas sociais são preocupantes Questões que tratam da inclusão social devem ser atendidas para melhorar a qualidade de vida no país. Segundo dados do Censo Demográfico 2010, mais de 45,6 milhões de brasileiros declararam ter alguma deficiência. A deficiência auditiva foi citada por cerca de 9,7 milhões de brasileiros, o que representa 5,1 % da população com algum tipo de surdez (IBGE, 2010). No decorrer da história da inclusão, percebe-se um distanciamento no convívio da comunidade ouvinte com a comunidade surda. O surdo tem sua própria cultura, ou seja, um grupo minoritário em meio a cultura dominante, no território brasileiro. A comunicação de interpretação dos surdos é possibilitada pela língua de sinais. A Libras é reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais. Investiga-se possibilidades de estimular a popularização da Libras para surdos e ouvintes, através de atividades lúdicas. Considera-se que os fatos comprovem a veracidade da antiga expressão: "uma imagem vale mais que mil palavras". Como objetivo secundário, busca-se analisar a importância das abordagens pedagógicas, mediadas por recursos imagéticos e elementos semióticos de natureza visual, na educação inclusiva dos surdos. Após revisão bibliográfica, a metodologia utilizada foi de pesquisa-ação, através de atividades desenvolvidas no design social. Foram desenvolvidas oficinas de arte educação para jovens, viabilizando a comunicação entre os participantes. Entre os resultados, alguns dados de pesquisas investigadas apontam que 70 a 90% da comunicação humana ocorrem por meios não verbais (SANTOS et al, 2013). Nas oficinas do Design social, os participantes apresentaram interesse e compreensão das imagens com as palavras. Identificaram-se o uso de metáforas visuais que ampliam o vocabulário do surdo, promovem o entendimento de expressões idiomáticas, estimulam o reconhecimento dos surdos aos sinais das expressões, tais como: quebrar o galho, engolir sapo, etc. Conclui-se que o Librário é uma ferramenta em potencial que estimula o aprendizado de Libras e comunicação harmoniosa entre surdos e ouvintes. As imagens rompem o silêncio, criam elos entre surdos e ouvintes, e modificam o futuro próximo, da sociedade contemporânea, cada vez mais ávida de "sentidos".
A evolução dos critérios de avaliação dos programas de pós-graduação interdisciplinar da CAPES e os reflexos no Programa de Política Científica e Tecnológica da Unicamp.
Felipe Tannus Moreira da Costa, Milena Pavan SerafimGrupo Temático: Sistemas de Ensino Superior: instituições regionais e desenvolvimento
Resumo
O estudo de Oliveira e Almeida 2011, apresenta o seguinte descompasso entre as intenções da CAInter e o modelo de avaliação da Capes: enquanto o pós-graduando é visto como um novo pesquisador que expanda os conhecimentos para além dos limites disciplinares e que crie novas formas metodológicas e conceituais para a ciência, o modelo de avaliação exige o mesmo período de tempo de formação de programas disciplinares e mantêm uma matriz de avaliação disciplinar, configurado na lógica disciplinar e no cálculo produtivo no número de trabalhos publicados, teses e dissertações.
Apesar disso, há o empenho e o interesse da Capes para encontrar uma forma de avaliar os programas de pós-graduação interdisciplinares, a intenção perpassa desde a criação do Comitê Multidisciplinar em 1990 até a criação da grande área multidisciplinar da Capes em 2008 e todas as alterações e evolução dos critérios de avaliação realizados pelo comitê de avaliação interdisciplinar.
O presente estudo visa entender como se deu a evolução dos critérios do modelo de avaliação da Capes para os programas interdisciplinares e sob quais orientações estão submetidos para se alcançar o nível de qualidade esperada para nota 6 ou 7 da Capes. Para isso, foi feito um estudo de caso com o programa de Política Científica e Tecnológica da Unicamp, e foram analisados os cadernos de avaliação e os cadernos de critérios respectivos ao programa, referentes aos anos de 1999 até 2013. Foram destacados os anos que ocorreram mudanças dos pesos para cada critério e investiga-se as justificativas dos relatórios dos comitês para tal mudança, a fim de evidenciar os caminhos que a comunidade científica está conduzindo a política de formação científica brasileira e identificar as influências do modelo econômico e do projeto político vigente na condução desses programas interdisciplinares.
OLIVEIRA, Marlize Rubin; ALMEIDA, Jalcione. Programas de pós-graduação interdisciplinares: contexto, contradições e limites do processo de avaliação Capes. Revista Brasileira de Pós-Graduação, v. 8, n. 15, 2011.
A adoção das TICs pelos produtores de morango no Sul de Minas Gerais
Flaviana Totti Custódio dos SantosGrupo Temático: Tecnologia e mediações
Resumo
Este trabalho relaciona-se à pesquisa de mestrado em Desenvolvimento, Tecnologias e Sociedade e encontra-se na fase da pesquisa de campo. Ele justifica-se pela importância dada ao desenvolvimento da economia local pautado no uso de tecnologias: se as propriedades rurais se desenvolverem, em especial as pequenas, a economia local pode crescer com melhor distribuição de renda. Busca-se compreender a adoção das TICs - especificamente a Internet - pelos produtores de morango como ferramenta de desenvolvimento das atividades agropecuárias e consequente competitividade. Traz-se à tona a realidade vivida por eles no contexto Sul mineiro e como se dá ou por que, na maioria das vezes, não conseguem o acesso a essas tecnologias. Nos dias de hoje, usar a informação de maneira mais eficiente torna-se um diferencial de competitividade e exige dos agricultores práticas gerenciais eficientes, cabendo às TICs um papel fundamental. Após levantamento bibliográfico sobre o tema, foram realizados contatos com autoridades responsáveis pela agricultura, cooperativas, associações, escolas, além de membros da sociedade civil. O estudo de caso está sendo conduzido pela observação, formulação e aplicação de entrevistas e questionários. Resultados preliminares, a título de pré-teste, têm mostrado que, nas pequenas propriedades rurais, o acesso à Internet se dá via rádio e que essa ferramenta não é utilizada para a cultura e a produção/comercialização. Nas médias e grandes propriedades, observa-se que há adoção das TICs, e elas fazem parte do negócio. O acesso às TICs por parte desses produtores também se dá na emissão da nota fiscal eletrônica dos produtos vendidos, onde há um controle informatizado das transações de compra e venda, além de alcançar um grande volume de vendas da produção. Os trabalhos definitivos de aplicação dos questionários estão em andamento e iniciaram-se na EMATER, Cooperativa dos morangueiros e escolas das redes municipal e estadual da zona rural do município de Pouso Alegre. Por fim, espera-se com esse estudo contribuir com a pesquisa científica e compreender as questões relacionadas ao desenvolvimento agrícola regional, com uso de tecnologias, especificamente a Internet.
Percepção da pessoa surda na elaboração de softwares para acesso aberto ao conhecimento científico
Flaviani Andrade de Lara, Marilia Abrahão AmaralGrupo Temático: Um olhar sociotécnico sobre o software
Resumo
Na elaboração de softwares, a escolha das fases, dos participantes, dos requisitos elencados e da eleição de prioridades são exemplos da visão do grupo social dominante envolvido no processo. O Design de Interação possibilita a integração dos atores, dando maior protagonismo para o usuário. Esse processo é relevante quando o objetivo é tornar o software acessível para as pessoas. Para estudar as relações de acessibilidade e tecnologia, foram investigadas as implicações do acesso aberto ao conhecimento científico através da web e da percepção das pessoas surdas sobre acessibilidade a esse conhecimento. Pesquisar, estudar e promover a acessibilidade corrobora com os estudos de Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) e é também uma forma de atuar política e socialmente. Os artefatos são carregados de significados e a escolha no desenvolvimento de determinada tecnologia promove maneiras de viver que podem excluir ou incluir camadas da sociedade. A abordagem metodológica utilizada neste estudo foi a qualitativa, realizando entrevistas em profundidade como forma de coleta de dados, com análise através do método comparativo constante da Teoria Fundamentada. A questão da pessoa surda está relacionada com uma percepção diferenciada do mundo, sendo os estímulos visuais a grande fonte de apreensão. O fato de não ouvir, mas poder ver não implica que a pessoa surda possa ler o português como as ouvintes, pois faz uso da Libras. Por essa razão, a recomendação de acessibilidade de legendas em português em vídeos tem sua efetividade questionada. As demandas coletadas foram de melhora na visibilidade, uso de imagens e ícones, setorização dos conteúdos em menus e tradução do conteúdo em Libras. A questão dos tradutores automáticos de Libras precisa ser estudada pelo viés da percepção, buscando conhecer quais são as sensações e sentimentos e como essa tecnologia é vista dentro das especificidades de vivências. A percepção das pessoas surdas entrevistadas nesse trabalho foi de que o conhecimento científico, mesmo neste anseio de ser aberto e livre, não é apenas inacessível, é também excludente para elas. Para todos os pesquisadores, especialmente do campo de CTS, é fundamental fazer a reflexão "para quem estou pesquisando", "para quem estou produzindo" e assim possibilitar que o acesso aos seus conhecimentos esteja engajado com a toda sociedade.
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Ctsa e formação para cidadania: articulações com projetos político-pedagógicos de licenciaturas programas de iniciação à docência
Gabriel Augusto Cação Quinato (UNESP - Campus Bauru)Grupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
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O projeto de pesquisa aqui descrito propõe identificar indicadores da existência de perspectivas teóricas CTSA (Ciência – Tecnologia – Sociedade – Ambiente) em projetos político-pedagógicos de cursos superiores de formação de professores na área de Ensino de Física, como licenciaturas em Física, Ciências Naturais, Ciências Exatas e Ciências da Terra, além de projetos de aperfeiçoamento da formação docente vigentes no quadro das políticas públicas de educação no Brasil contemporâneo, especificamente projetos submetidos no ano de 2013 ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
A existência de perspectivas teóricas CTSA nos documentos em questão será rastreada com a compreensão de que podem contribuir para a formação de um cidadão crítico, que seja consciente de seu papel social e político, tanto no que diz respeito aos direitos como também aos seus deveres, que seja capacitado para engajar-se nos processos democráticos de formulação, execução, monitoramento e avaliação de políticas públicas de impacto sobre a sustentabilidade.
Os projetos político-pedagógicos revelam-se unidades fundamentais de análise para este projeto de pesquisa, uma vez que reúnem valores, princípios e estratégias necessários ao pro-cesso de ensino e aprendizagem, contextualizando-os em relação aos desafios enfrentados pela educação em um dado contexto social, político e econômico.
Já os projetos PIBID comparecem ao corpus porque sua análise permitirá traçar considerações sobre sua contribuição à qualidade dos cursos de formação de professores no quadro das políticas educacionais da atualidade brasileira, considerando-se a iniciativa que está presente no próprio cerne dos projetos PIBID, que seria a de um aperfeiçoamento da formação inicial dos professores da educação básica — que, conforme os pressupostos teóricos deste projeto de pesquisa, pode ser enriquecida por meio do diálogo com perspectivas CTSA.
As análises dos documentos se farão em busca de elementos sintonizados ao que é preconizado dentro de uma formação CTSA, considerada no âmbito deste projeto de pesquisa como perspectiva relevante para a construção de um cidadão crítico.
Gestão de Resíduos uma revisão das publicações realizadas na revista científica Waste Management
Gabriel Massao Fugii (Universidade Tecnolóvica Federal do Paraná), Adriana Ripka (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), Christian Luiz da Silva (UTFPR), Denise Rauber (UTFPR), Flávia de Faria Gomes (UTFPR)Grupo Temático: Políticas Públicas e Desenvolvimento Local: interveniências e interações entre tecnologia, sociedade e democracia
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A proposta deste trabalho é demonstrar as pesquisas na área de gestão de resíduos sólidos urbanos nos últimos cinco anos. Trata-se de uma revisão bibliográfica baseada na consulta de artigos científicos presentes na revista Waste Management. A revista possui uma periodicidade mensal e é indexada em mais de vinte bancos de dados, além de possuir fator de impacto na JCR E SJR, constituindo assim uma das principais revistas sobre o tema. A pesquisa pretende demonstrar as tendências das últimas pesquisas e quais contribuições para as políticas públicas e para o desenvolvimento local, como por exemplo a avaliação de gerenciamentos, estudos de caso, planejamento tomada de decisão, entre outros. O trabalho ainda traz uma quantificação dos trabalhos publicados por meio da distribuição nos seguintes grandes grupos: gerenciamento, reciclagem, tratamento, compostagem, aproveitamento energético e aterro, além da distribuição geográfica dos trabalhos publicados pelos pesquisadores e suas nacionalidades. Como resultado há uma predominância de trabalhos relacionados com o aproveitamento energético e reciclagem, com uma grande produção de artigos produzidos por pesquisadores chineses.
Políticas e Práticas de Sustentabilidade: o exemplo das Ecovilas no Brasil
Gabriela Belleze (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ), Carlos Alberto Máximo Pimenta (UNIFEI), Marcos Eduardo Cordeiro Bernardes (Universidade Federal do Sul da Bahia)Grupo Temático: PROCESSOS TECNOLOGICOS E CULTURA: sociabilidades, saberes populares, assimetrias e meio ambiente
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O presente trabalho circunscreve-se ao tema das Ecovilas no Brasil. O esforço se justifica para explicitar que as Ecovilas assumem formas alternativas de geração de renda e de práticas sustentáveis, o que por si merece investigação, uma vez que tem crescido na sociedade a percepção de que são necessários modos de vida diferenciados da sociedade do consumo para lidarmos com os desafios relacionados à sobrevivência humana no planeta. Objetivou-se apreender o desempenho das Ecovilas no quesito de sustentabilidade, em relação à população em geral. De um universo de 53 Ecovilas contactadas, 19 responderam à ficha de coleta de dados que continha as informações necessárias ao cálculo de 11 Indicadores de Desenvolvimento Sustentável do IBGE (IDS), sendo 5 indicadores de dimensão ambiental; 4 de dimensão social e 2 de dimensão econômica. A ficha de coleta de dados englobou também as informações do modo de governança das ecovilas, da obtenção e distribuição de recursos financeiros e dos principais desafios encontrados na manutenção da sustentabilidade. Na sistematização dos dados, as Ecovilas apresentaram um melhor desempenho em relação à população brasileira sobre todos os indicadores, determinando um modo de vida alternativo à sociedade. Pode-se dizer que os ecovileiros caracterizam um possível cenário diferenciado de relação com a natureza e as formas de organização do ponto de vista econômico, sociocultural e político. Também foi possível observar que os maiores desafios das Ecovilas estão relacionados com as dimensões socioculturais que permeiam as relações existentes dentro das próprias comunidades, no que tange ao engajamento de mais pessoas para este estilo alternativo de vida. Pode afirmar, ainda, que as Ecovilas apresentam algumas práticas diferenciadas, de vanguarda, na dimensão ambiental da sustentabilidade. Contudo, devem caminhar no sentido de melhor incorporar práticas socioculturais, econômicas e políticas que representem, de fato, o que Sachs (2002) denominou de equilíbrio na busca pela sustentabilidade em seu sentido mais amplo.
Os entraves do acesso à diversidade cultural: reflexões a partir da concentração midiática e da “vigilância distribuída”.
Gabriela Dalila Bezerra Raulino (Universidade Federal do Rio de Janeiro)Grupo Temático: Internet: entre o capital e as ruas
Resumo
A difusão da mídia interativa e participativa é comumente associada à ideia de ampliação de acesso aos diversos bens culturais, no entanto, essa realidade se apresenta permeada de contradições quando compreendidas nas relações do sistema capitalista que a subjaz. O presente artigo se inscreve, justamente, no contexto de reflexão dessas disputas contraditórias, problematizando, especialmente, aspectos que contribuem de modo restritivo às perspectivas de diversidade. No olhar mais geral dos sistemas de comunicação, o texto destaca o processo do desenvolvimento das corporações mediáticas globais – que tendem a incorporar todas as fases e os mais diversos segmentos das indústrias mediáticas, do espetáculo e das telecomunicações – e suas implicações nos produtos ofertados. A discussão apoia-se, ainda, na noção de "vigilância distribuída" de Fernada Bruno (2013), sobretudo, no eixo de interseção entre vigilância e informação, na qual, sob a égide das ofertas personalizadas, a máquina taxonômica desenvolvida em torno dos rastros digitais deixado pelo fluxo participativo dos usuários parece colocar em risco as oportunidades, experiências e ações possíveis aos indivíduos.
Da “explosão populacional” ao “complexo de Herodes”: A Ciência Demográfica de Álvaro Vieira Pinto e o combate às Teorias Populacionais Imperialistas
Gilson Leandro Queluz (Universidade Tecnológica Federal do Paraná)Grupo Temático: Álvaro Vieira Pinto
Resumo
No livro El Pensamiento Crítico em Demografia, publicado em 1966, Álvaro Vieira Pinto faz a defesa de uma demografia compreendida como “ciência do homem”, ou seja que leve em consideração a totalidade dos aspectos de sua realidade: históricos, sociais, econômicos, geográficos, morais. Esta ciência, por defrontar-se com um tema complexo deve estar preparada para trabalhar com dados quantitativos e qualitativos no mesmo grau de importância. Para ele, a demografia é uma ciência antropológica que deve se desenvolver com o auxílio da filosofia dialética e existencial. Neste sentido, não existe uma demografia universal que possa chegar a resultados válidos para toda a humanidade, pois a demografia é, principalmente uma ciência cultural a qual pertence a cultura da sociedade que a produz em seu nível de desenvolvimento econômico e social, não sendo uma “ciência a priori”, mas sim fundada no enraizamento histórico do seu objeto de estudo.
Neste artigo, tentaremos discutir algumas das críticas de Álvaro Vieira Pinto , a partir do ponto de vista explicitado, às teorias clássicas sobre as populações. Estas formulações críticas podem ser encontradas, por exemplo, na polemização presente no próprio livro El Pensamiento Crítico em Demografia contra as teorias populacionais oriundas da economia política. Também comparecem no seu ataque ao neomalthusianismo, denominado ironicamente como “complexo de Herodes”, na obra O Conceito de Tecnologia(2005) e, finalmente no seu confronto com o conceito de “explosão populacional” existente no livro A Sociologia dos Países Subdesenvolvidos(2008).
O uso do telescópio no Colégio de Santo Antão de Lisboa nas primeiras décadas do século XVII: um estudo de caso
Giovana Massaretto da Silva (Universidade de São Paulo)Grupo Temático: Ciência e Techné na História
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O colégio jesuíta de Santo Antão de Lisboa foi um importante centro de produção e difusão de conhecimento científico no mundo português da primeira modernidade. Nele foi ministrada, por quase dois séculos, a “Aula da Esfera”, que tratava de astronomia e arte de navegar. Gerações de pilotos das armadas e missionários que estiveram em todo o império português passaram pela Aula, e a análise dos instrumentos astronômicos utilizados durante o ensino permite a compreensão da cultura científica do colégio e da própria ordem jesuítica em um sua relação com as expectativas imperiais sobre o papel da ciência. Apresentamos uma análise da importância do uso do telescópio, então chamado de “canoculo”, dentro desse colégio, nas primeiras décadas do século XVII. O instrumento, que fora aperfeiçoado por Galileu Galilei em 1609, se tornou uma ferramenta científica capaz de causar um desconforto considerável nas relações que a Europa mantinha com a ciência. O uso do canoculo se deu pela primeira vez em Santo Antão pelas mãos do italiano Giovanni Paolo Lembo (ca. 1570-1618), durante sua passagem como professor da Aula da Esfera, por volta de 1615-17. Alguns anos antes, Lembo já tinha construído os telescópios que haviam sido usados no Colégio Romano para verificar a veracidade das observações de Galileu, a mando de autoridades eclesiásticas. Após Lembo, outros professores fizeram uso ou realizaram comentários acerca do canoculo. Um dos exemplos é Cristoforo Borri (1583-1632), que lecionou a Aula da Esfera por volta de 1627. Durante seu magistério, Borri dedicou várias aulas à descrição e ensino das técnicas para a construção de um telescópio, informando desde a confecção do tubo até a melhor forma de encaixe das lentes, como se verifica em um caderno manuscrito deixado por um aluno. Com ele, o Colégio se tornou um centro de difusão das “novidades celestes” representadas pelas observações de Galileu (ainda que sua interpretação não tenha sido copernicana). A partir desse registro das aulas de Borri, examinaremos a importância da utilização do tubo óptico no cenário jesuíta, bem como a rotina de utilização dentro do colégio inaciano. Discutiremos ainda o papel que ocupava Portugal no cenário científico da época.
Educação, tecnologias e consciência nacional para o desenvolvimento social
Giovane Hilário da Silva (UNIFEI)Grupo Temático: Álvaro Vieira Pinto
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Objetos e espaços técnicos no contexto da pedagogia da alternância: diálogos a partir do pensamento de Álvaro Vieira Pinto
Giovanna Pezarico (UTFPR - Câmpus Pato Branco), Gilson Leandro Queluz (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), Maria de Lourdes Bernartt (UTFPR - PPGDR - Câmpus Pato Branco)Grupo Temático: Álvaro Vieira Pinto
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O estudo analisou processos de apropriação técnica no contexto da Pedagogia da Alternância - PA, a partir das interações entre espaços e objetos técnicos, vivenciadas em nove Casas Familiares Rurais – CFR´s, e uma Casa Familiar do Mar, localizadas na região Sul do Brasil. Em termos de construção teórico-metodológica salientam-se as interpretações acerca dos objetos e espaços técnicos, cujas percepções sobre os mesmos, foram sendo assentadas ao longo de perspectivas dialógicas assumidas por pensadores como Álvaro Vieira Pinto. Os estágios de vivências apontaram para uma diversidade de objetos e discursos e práticas atreladas às relações entre técnica e tecnologia que impuseram a responsabilidade de uma ancoragem teórica vigilante ao que Álvaro Vieira Pinto (2005) definiria como concepções ingênuas sobre tecnologia. Neste sentido, julgou-se prudente iniciar as discussões em torno das técnicas e da tecnologia no âmbito da PA, tendo como ponto de partida o questionamento proposto por Vieira Pinto: “que papel desempenha a técnica no processo de produção material da existência do homem por ele mesmo?” (VIEIRA PINTO, 2005, p. 155). Logo, os objetos e espaços técnicos puderam ser percebidos e, principalmente, permitiram o estabelecimento de relações, tensionamentos, contradições e resistências, considerando, porém, que estes não podem ser desvinculados dos sujeitos de suas criações, usos e manipulações. Ou seja, assim, como a tecnologia não pode ser compreendida como determinante da vida social, os objetos e espaços técnicos por si só, também não tem este condão. Por tais razões, a trajetória do estudo conduziu-o de modo a estabelecer três recortes analíticos acerca dos objetos e espaços técnicos: o primeiro recorte evidenciou as relações estabelecidas entre os processos de construção, uso e manipulação de objetos, compreendidos, como artefatos em diálogo com a arte, o artesanato, o trabalho e o lazer e as relações engendradas a todas estas dimensões. O segundo recorte, diz respeito à perspectiva assumida pelas Casas Familiares Rurais e do Mar como “objetos” revestidos de materialidade cultural e simbólica. Por sua vez, o terceiro recorte, referiu-se à relevância assumida pelos denominados espaços técnicos e suas interrelações estabelecidas junto à PA e seus sujeitos.
Territórios educativos: uma pesquisa sobre a relação entre a escola e a cidade
Giselle Arteiro Nielsen Azevedo (FAU / UFRJ), Vera Regina Tangari (UFRJ)Grupo Temático: Qualidade dos lugares e paisagens híbridos
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Este artigo é um desdobramento de uma pesquisa integrada que analisa a qualidade do lugar e da paisagem dos lugares pedagógicos para a Educação Integral do município do Rio de Janeiro. Reconhece a complexidade da educação integral como um coletivo que envolve lugar e paisagem e sua dinâmica de relações entre atores humanos e não humanos. O debate acerca da Educação Integral tem ganhado força nos últimos anos a partir da adesão das escolas municipais ao Programa Mais Educação do Governo Federal, com o objetivo de dar apoio a atividades sócio-educativas no contra turno escolar. O Programa propõe uma educação que busca a formação do educando para a vida, onde a percepção de educação integral seria a formação integral do ser humano e não vinculada somente ao tempo escolar em jornada ampliada. Nessa concepção, aponta especialmente para uma educação integrada à comunidade, à cidade, e retomando Anísio Teixeira “uma educação ambiciosamente integrada e integradora”, reconhecendo o papel da escola como o “centro irradiador” da educação para o bairro, para a comunidade e para a cidade. Assim, a constituição de territórios educativos para o desenvolvimento de atividades de educação integral, por meio da integração dos espaços escolares com equipamentos públicos como centros comunitários, bibliotecas públicas, praças, parques, museus e cinemas, irá ampliar os lugares da educação além dos muros escolares, reconhecendo que a concepção de Educação integral deve considerar o diálogo com outras instâncias educativas e também com a dinâmica complexa da cidade com toda a diversidade do entorno e de suas características socioespaciais. Da mesma forma, os ambientes intramuros da escola devem ser resignificados e desconstruídos, numa tentativa de “desenclausurar” as crianças, reafirmando o potencial pedagógico dos espaços livres e readequando os espaços internos para um entendimento mais amplo da educação. Como é possível então ampliar a “conversa” desses ambientes com a cidade, considerando as dinâmicas de conexão entre o intramuros e o extramuros da escola? Para tanto, propõe-se uma análise crítica sobre as condições de diversidade e as contradições existentes no coletivo Território Educativo e a apropriação desses espaços pelos diversos atores envolvidos. Os recortes empíricos da pesquisa são as escolas do Segundo Segmento do Ensino Fundamental da cidade do Rio de Janeiro.
Impactos da mídia na construção da identidade psicossocial da criança contemporânea
Glacielli Thaiz Souza de Oliveira (UTFPR), Lindamir Salete Casagrande (UFBA), Tânia Gracieli Vega Incerti (Instituto Federal do Paraná)Grupo Temático: Gênero, Ciência e Tecnologia: avanços e desafios
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O que os conceitos de ‘seleção natural’ e ‘cultura’ têm em comum?
Gláucia Oliveira da Silva (UFF)Grupo Temático: Experiências contemporâneas em Antropologia da Ciência e da Tecnologia: etnografia, grandes projetos e escala planetária (ou não)
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Nesse trabalho discuto a permanência das noções de seleção natural, nas ciências biológicas, e de cultura, na antropologia, e, também, na biologia. A hipótese central é que essas ideias, hegemonicamente entendidas como dotadas de grande valor explicativo em seus respectivos campos, vêm entretanto sendo crescentemente vistas como circulares ou tautológicas. A grande utilidade de ambas parece ter sido a viabilização da construção de paradigmas distintos, separando com nitidez, o campo ‘do natural’ e ‘do social’ já que hoje não parecem responder tão bem às perguntas relativas sobre a complexidade do mundo vivo e da diversidade das sociedades humanas. Ou seja, os termos que polarizam a dicotomia natureza/cultura não exibirem valor explicativo.
É possível inventariar muitas tentativas de unificação das explicações biológicas e culturais propostas em geral pelos biólogos que estendem seu paradigma evolutivo ao domínio convencionalmente chamado cultural. Nessas tentativas de explicação, abundam analogias entre genes e traços culturais. Os biólogos parecem então investir em um conceito de cultura independentemente de os antropólogos estarem manifestando algum descrédito em seu rendimento heurístico. A segunda hipótese do trabalho é que há um movimento em direções diferentes. Enquanto os biólogos investem no uso da ideia de cultura, os antropólogos dele desconfiam.
O trabalho, a partir de vasto investimento bibliográfico, pretende apresentar então uma analogia inédita entre seleção natural e cultura, nunca tendo sido tentada anteriormente nem por biólogos nem por antropólogos, por se tratar de uma analogia entre conceitos e não entre os fenômenos que supostamente descrevem.
A contribuição das políticas públicas de mobilidade urbana para o desenvolvimento sustentável das cidades
Graziana Donata Punzi de Siqueira (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBA/MG)Grupo Temático: Elementos e dinâmicas de desenvolvimento no contexto das cidades do século XXI
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O crescimento desordenado das cidades que resultou na segregação espacial, exclusão social e problemas de tráfego e deslocamento, trouxe a preocupação com a Mobilidade Urbana. Assim, fez-se necessária a elaboração de políticas de desenvolvimento urbano que abordem a Mobilidade Urbana como indicador de qualidade de vida das pessoas, relacionada, portanto, à Sustentabilidade. Nesse sentido as políticas públicas de Mobilidade Urbana Sustentável buscam trazer soluções para os problemas de transportes, considerando os aspectos sociais, econômicos e ambientais da sociedade envolvida. Tal abordagem torna-se muito complexa, uma vez que para trazer contribuição efetiva, as políticas públicas de mobilidade urbana enfrentam sérios desafios na sua implementação. Desafios esses, que precisam ser ultrapassados com o envolvimento de toda a sociedade e com a boa vontade política na implementação de medidas que tragam resultados positivos para os problemas de mobilidade de mobilidade urbana, não apenas para a população atual, mas que possam se reproduzidos pelas gerações futuras. O presente trabalho tem o objetivo de, a partir de construção e embasamento teórico, identificar as contribuições das Políticas Públicas de Mobilidade Urbana para o desenvolvimento sustentável das cidades.
Proposta de roteiro temático para videoaulas de treinamentos em pesquisa em bases de dados para o formato EaD
Graziella Yuri Matsuno (UFSCar)Grupo Temático: Gestão da Tecnologia e Inovação nas Universidades Latinoamericanas
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Consiste na proposição de um roteiro temático referencial para guiar o bibliotecário do serviço de referência virtual na elaboração e filmagem de videoaulas que simulem os treinamentos presenciais em pesquisa em bases de dados e periódicos científicos online, em especial as coleções integrantes da assinatura do Portal de Periódicos da CAPES. Os treinamentos em pesquisa em bases de dados e periódicos científicos online são cursos de educação e capacitação de usuários em pesquisa científica e bibliográfica que atendem às necessidades de pesquisa exaustiva e aprofundada dos pesquisadores, cientistas, docentes e alunos das mais diversas áreas do conhecimento humano, atendidos pelas bibliotecas universitárias.
Desenvolvimento de um artefato através de uma abordagem sustentável: estudo de caso
Guilherme da Silva Bertolaccini (UNESP), Liara Mucio de Mattos (UNESP), Melissa Marin Vasquez (UNESP)Grupo Temático: Produção de conhecimentos e artefatos - Experiências interdisciplinares em design
Resumo
Um dos desafios que enfrenta o design é contribuir para a sustentabilidade do planeta, o qual se fundamenta na geração de visões do mundo mais sustentáveis.
A atuação do designer recaí em sua capacidade de dar uma orientação estratégica a suas atividades, gerando visões de um sistema sócio técnico sustentável, organizando em um sistema coerente de produtos regenerativos e comunicando tais visões e sistemas de maneira que sejam reconhecidos e avaliados pela população o qual deve aplica-los efetivamente. Por conseguinte, o presente trabalho apresenta o processo de desenvolvimento do design e as etapas de produção de um protótipo de mobiliário de descanso para uso externo. O produto tem por finalidade atender espaços públicos, como praças e parques integrando as relações sociais com a natureza, visando o desenvolvimento sustentável. A ênfase do trabalho é demonstrar a aplicação de conceitos de design sustentável no projeto de produto e o processo de produção do mobiliário elaborado com madeira de reflorestamento certificada. A metodologia aplicada no presente projeto visa gerar produtos inovadores através da resolução de problemas relacionados ao design de mobiliário para o uso externo. Os procedimentos metodológicos têm por finalidade demonstrar as etapas de concepção do produto, através da geração de um protótipo em escala real e o processo produtivo em laboratório. Os resultados indicam que a atividade projetiva com auxílio do desenvolvimento de protótipos e a análise da produção permitem avaliar o nível de sustentabilidade através de uma abordagem qualitativa do protótipo. A próxima etapa deste trabalho consiste no desenvolvimento de um projeto de geração de renda, que busca a sustentabilidade, em comunidades de baixa renda, através da geração de produtos (ou unidades produtivas) inovadores, ou melhorando o processo produtivo, através dos conhecimentos adquiridos com esse trabalho, assim possibilitando o desenvolvimento de novas tecnologias sociais e promovendo o fortalecimento da consciência empreendedora de seus participantes.
Novas TICs e perspectivas de distribuição, reconhecimento e emancipação tecnopolítica em bases comunitárias locais
Guilherme Flynn Paciornik (Unicamp).Grupo Temático: PROCESSOS TECNOLOGICOS E CULTURA: sociabilidades, saberes populares, assimetrias e meio ambiente
Resumo
As novas TICs alteram as formas e reduzem os custos de organização e comunicação de coletivos locais, já o software livre (SL) modifica as possibilidades de apropriação e invenção popular de possibilidades tecnopolíticas nas lutas por redistribuição e reconhecimento. A associação Casa dos Meninos, na zona sul de São Paulo implementa, desde 1999, ações políticas locais a partir do tripé juventude-território-tecnologia (a noção de território utilizada é de Milton Santos e a de tecnologia a de Álvaro Vieira Pinto). Atualmente está em construção uma intranet local. A ideia de fundo é a de controle protocológico comunitário a partir de intranets locais georreferenciadas para a área de vivência local, bem como criar softwares que possibilitem práticas de economia solidária referentes não somente a riquezas econômicas (como troca de livros e sobras de construção, comuns em territórios de periferia), mas também troca de conhecimentos que caracterizam como riqueza, como programação em informática. A ideia central não é tanto a permanência de riquezas no território, mas a criação de uma cultura de colaboração local, no lugar de uma cultura de competição. A ideia de futuro é a criação de uma Base Comum de Conhecimento Cidadão, sistema de informações cuja estrutura teria como ponto de partida: a divisão territorial de base censitária reconhecida pelos cidadãos no cotidiano de suas relações; um conjunto de informações estruturadas com metodologia reconhecida pela comunidade; um padrão e um campo relacional que seja necessariamente o território de vivência do cidadão; uma tecnologia desenvolvida em SL capaz de suportar as bases de dados; e uma pedagogia de utilização dessas informações.
Serão abordados outros movimentos com conjunções peculiares entre saberes populares e uso de TICs – pesquisa em andamento - como o Coletivo Puraqué, de Santarém-Pará - que possui a moeda comunitária Muiraquitã - e a Rede Mocambos, rede com mais de 200 comunidades quilombolas, negras e indígenas espalhadas pelo país que criou a Baobáxia - rede federada eventualmente conectada; ambos movimentos compartilham associação muito forte e original entre território e tecnologia, realizam metarreciclagem, usam software livre, e defendem a reapropriação, a transformação e a ressignificação da tecnologia em suas lutas de reconhecimento e redistribuição, e na preservação de saberes imateriais locais.
Artefatos e controvérsias em uma cooperativa do Sul de Minas
Guilherme Leite Garrido Silva (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ)Grupo Temático: Produção de conhecimentos e artefatos - Experiências interdisciplinares em design
Resumo
Este projeto se utiliza de bases teóricas oferecidas por Bruno Latour na Teoria Ator-Rede (TAR) como um referencial para seu desenvolvimento. Os métodos de observação, descrição densa, coleta de informação e elaboração de construções de relacionamentos baseadas na Teoria Ator-Rede apresentam um estudo discriminativo das partes atuantes na pesquisa, sejam actantes ou mediadores, diretos ou indiretos, considerados humanos ou não humanos. A pesquisa a ser descrita aborda a criação e o processo de configuração da Cooperativa Mariense de Artesanato – Gente de Fibra a fim de identificar e entender os atores presentes nessa rede que estão sujeitos todas as formas de criação e execução de um contexto social. Essa descrição não será realizada sob os moldes tradicionais dos estudos sociológicos, mas sim dando voz aos artefatos para que eles mesmos sejam capazes de explicar como, quando e por quais razões se fizeram na sua criação e no seu desenvolvimento. A construção dessa rede pela ótica dos artefatos proverá a inclusão dos elementos híbridos da TAR na apresentação histórica das transformações tecnológicas presentes desde o início da cooperativa até seu momento atual. Presentes também nessa elaboração estarão as forças políticas e tensionamentos ocultos e inerentes às relações sociais. Nesse sentido pretende-se traçar a história de uma organização que se faz presente não apenas composta de relações entre humanos, mas sim um olhar histórico sobre os artefatos e desenvolvimentos tecnológicos que ditaram os rumos das relações sociais.
Nise da Silveira, a psiquiatra que pesquisavaCOM
Gustavo Borges de Oliveira (UERJ)Grupo Temático: PesquisarCOM e o feminino na ciência
Resumo
Esse trabalho visa relacionar a prática da psiquiatra Nise da Silveira, partindo da interface dos estudos CTS e da crítica feminista, às práticas científicas. Para isso utilizarei os teóricos Donna Haraway, John Law, Vinciane Despret e Annemarie Mol. Nise da Silveira foi uma importante psiquiatra brasileira, que lutou contra o eletrochoque, lobotomia e trouxe diversas atividades para dentro do hospital psiquiátrico. Ela levou o teatro, o cinema, a dança, a música, as artes plásticas para que seus clientes pudessem se expressar. Devido as suas atividades políticas foi presa durante o Estado Novo. Nise era feminista e marxista. Durante a sua vida participou de diferentes grupos; enquanto jovem de grupos feministas e ao se tornar mais velha de grupos de defesa dos animais. Ela se tornou pioneira no Brasil ao utilizar esses não-humanos, no hospital psiquiátrico como co-terapeutas. Nise não foi pioneira apenas na utilização de cães como co-terapeutas, ela também criou a Casa das Palmeiras, uma clínica psiquiátrica em regime de externato, em 1950. A Casa das Palmeiras funcionou como o que chamamos hoje de CAP’s. Nise da Silveira mesmo sem nunca ter tido contato com os autores dos estudos CTS, sempre se atentou para a singularidade do outro, escreveu na primeira pessoa, se preocupou com os efeitos que seus textos iriam gerar e utilizou estudos de caso para repensar a teoria. Pesquisou COM sem saber o que isso seria.
Uma abordagem sociotécnica sobre a neutralidade de rede: o caso Netflix versus Comcast
Gustavo Gindre Monteiro Soares (Universidade Federal do Rio de Janeiro)Grupo Temático: Internet: entre o capital e as ruas
Resumo
A Internet está em disputa. A rigor sempre esteve. A Internet de hoje é significativamente diferente daquela de 20 anos atrás e tudo indica que nos próximos 20 anos as transformações serão ainda mais radicais. No momento, um dos temas mais importantes na conformação do futuro da Internet é a “neutralidade de rede”, entendido como o princípio de não discriminação do tráfego passante nas redes de telecomunicações que compõem a sua camada física.
Contudo, como toda infra-estrutura de fluxo (estrada, rede de água, linha de transmissão de energia elétrica, etc), a Internet também precisa de regras para organizar o transporte de dados. A Lei 12.965/2014 (conhecida como Marco Civil da Internet), em seu artigo 9°, estabelece o princípio da “isonomia” no tratamento dos pacotes de dados. Mas, já no parágrafo primeiro deste mesmo artigo, admite a “discriminação ou degradação” decorrente de “requisitos técnicos indispensáveis à prestação adequada dos serviços e aplicações”. Mantendo seu viés principiológico, o Marco Civil não avança para definir quais são este requisitos técnicos e o que se entende por prestação adequada, remetendo tudo para a regulamentação através de um decreto presidencial ainda por vir. Em resumo, a rede não é, e nem pode ser, totalmente neutra. É necessário que determinadas priorizações sejam feitas para que o tráfego possa fluir. O slogan da “neutralidade de redes” foi importante instrumento de aglutinação e mobilização política, mas, a partir de agora, ele se mostra insuficiente para lidar com a necessidade de efetivamente regular o tráfego. É preciso definir regras!
O Marco Civil procura inserir tais regras em limites “técnicos”. Ocorre que tampouco existe uma técnica pura, desprovida de aspectos culturais, econômicos, políticos e sociais. Por isso, proponho uma abordagem “sóciotécnica” do tema da neutralidade de redes, que consiga reunir o conjunto inextricável de determinações que confluem para definir como o tráfego de dados será regulado.
Para abordar tema tão complexo, pretendo analisar o caso exemplar do conflito entre Netflix (maior provedora de vídeo por demanda do mundo) e a Comcast (maior operadora de TV a cabo dos Estados Unidos), analisando aspectos como a construção de CDNs (Content Delivery Networks), os acordos comerciais de trânsito e de peering e a política adotada pelo órgão regulador (Federal Communication Comission – FCC).
"Aprender a Projetar para quem?: uma discussão em CTS sobre FabLabs baseada na obra de Álvaro Vieira Pinto "
Gustavo Kira (UTFPR), Luiz Ernesto Merkle (Univerisidade Tecnológica Federal do Paraná), Rodrigo Barbosa e Silva (UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ)Grupo Temático: Álvaro Vieira Pinto
Resumo
Este artigo explora o conceito de projeto no contexto dos espaços de experimentação e construção tais como os FabLabs. O termo FabLab tem origem no Massachusetts Institute of Technology e nomeia uma rede de espaços de construção digital. Na Educação, há vertentes como o FabLab@School (proposto por Blikstein, de inspiração freireana), que propõe a exploração destes espaços à estudantes dos ensinos fundamental e médio. A partir de uma perspectiva ligada aos estudos de Ciência, Tecnologia e Sociedade, problematizamos a compreensão tradicional de projeto – também disseminada na área de Design (representada aqui pelo modelo de Lobach: instrumental, orientada a objetivo específico e com foco no produto), e propomos uma a exploração do conceito de Vieira Pinto, para quem a atividade projetual responde dialeticamente como solução humana às múltiplas e intricadas relações entre seres humanos e as esferas do mundo físico, material e sóciocultural. Entendemos que no modelo tradicional, o potencial educacional e o estímulo à autonomia do estudante podem ser colocados em segundo plano, restringindo os FabLabs e outros espaços de experimentação e formação à espaços de produção de artefatos e não de cidadãos. Seria enfatizado apenas o fabrico (Fab) e não o labor (Lab) envolvido. A forma como Vieira Pinto entende o trabalho projetual mostra-se significante para as propostas progressistas de FabLabs na educação, como o FabLab@school. Defendemos o projeto como uma relação entre diferentes atores e como uma construção de e para si, não apenas como um processo de materialização de um artefato, solicitado por outrém. Vieira Pinto, ao entender o conceito de projeto envolvendo relações das pessoas com os artefatos – em um primeiro círculo de relações – e como relacionamentos de pessoas com pessoas em sociedade – em um segundo círculo, sempre situadas e circunstanciadas historicamente, expande a concepção tradicional, realçando suas dimensões políticas e axiológicas, tão caras ao CTS. Trata-se de uma pesquisa interdisciplinar, exploratória que traz para a educação conceitos da área dos estudos culturais e sociais das ciências e das tecnologias, e também de vertentes do Design e do Design de Interação, com base nos estudos da cultura e da cultura material, para se discutir os fazeres enquanto espaços de construção de cidadania.
Apropriação do conhecimento tecnológico pela agricultura familiar na produção de mandioca, no município de Careiro Castanho - AM
Gilmar Antonio Meneghetti, Elizangela de França Carneiro, José Olenilson Costa Pinheiro, Lindomar de Jesus de Sousa SilvaGrupo Temático: GT Ciência, tecnologia e inovação social
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A mandioca é uma cultura de fácil produção, disseminada e adaptada ao clima tropical. Faz parte da dieta alimentar das comunidades rurais da Amazônia e, para a maioria, é a única fonte de carboidratos. A mandioca associada aos produtos resulta em uma dieta equilibrada para os habitantes. Embora haja uma demanda potencial, em seu cultivo ainda são utilizadas tecnologias do período pré-colombiano, o que induz à estagnação da produtividade e pressiona os recursos naturais. Assim, a adoção de tecnologias é imprescindível para melhorar a produtividade e contribuir para o desenvolvimento do Estado do Amazonas. De acordo com IBGE (2012), no Amazonas, a área plantada com mandioca foi de 95.399 ha, e a produção foi de 926.297 ton. Apesar dos avanços das pesquisas agronômicas, os agricultores familiares não conseguiram incorporar os resultados das pesquisas nos estabelecimentos rurais. O baixo nível de adoção deve-se às políticas públicas deficientes, infraestrutura, assistência técnica e dissintonia da pesquisa gerada com a realidade. A estagnação da produção no estado, mesmo com os avanços de pesquisas remete ao contexto expresso por Castell (1999, p.52), para o qual há segmentos da população "desconectados do novo sistema tecnológico". A pesquisa realizada na comunidade do Andirobão, em 2014, no município de Careiro Castanho - AM, considerando amostra de 20% dos agricultores de um universo de 150, tomados de forma aleatória e casual, identificou-se que a área média utilizada com a cultura da mandioca é de 1,5 hectares, com produtividade de 8,88 t/ha, ou seja, 39% inferior à média municipal de 12 t/ha. Os dados mostram que a cultura predomina em 71% das unidades familiares, indicando o potencial da cultura para o desenvolvimento rural. Diante do contexto, faz-se necessário repensar alguns aspectos da ciência e tecnologia e dos mecanismos de transferência de tecnologias. A Embrapa desenvolve tecnologias voltadas ao aumento da produtividade, como por exemplo, o "trio da produtividade" para a cultura da mandioca, que aumenta em até quatro vezes a produtividade. Consiste basicamente na seleção de manivas-sementes, corte adequado, espaçamento e controle ervas daninhas nos primeiros 150 dias após pós-plantio. O desafio para os atores da pesquisa-transferência é definir estratégias para a apropriação do conhecimento gerado pelos agricultores familiares.
Reverberações da experiência psicodélica no campo da pesquisa em clínica
Gabriel de Figueiredo Maciel Viella, Sandro Eduardo RodriguesGrupo Temático: Estudos CTS, Práticas Psi e Modos de Produção de Subjetividades
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O trabalho busca pensar os usos clínicos de experiências psicodélicas, a partir da apresentação de uma pesquisa de doutorado realizada no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e de um projeto de mestrado apresentado ao mesmo programa. Na tese de doutorado, uma experiência de participação em grupos de intervenção sobre Gestão Autônoma da Medicação (GAM) com estudantes, usuários e profissionais de um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) foi articulada à atuação do pesquisador com o rock psicodélico e sua militância no antiproibicionismo, visando a partilha de uma sensibilidade psicodélica, que venha ao auxílio tanto na formação de profissionais em saúde mental quanto no aumento da abertura de setores da mídia e da gestão de políticas públicas em saúde ao debate. Articulado a questões levantadas em tal pesquisa, foi apresentado um projeto de mestrado ao mesmo programa, no qual é desenvolvido o problema, simultaneamente mais amplo e preciso, dos potenciais usos das experiências psicodélicas na clínica, considerando relações entre clínica e religiosidade a partir da análise de implicações de uma experiência pessoal envolvendo a ingestão da ayahuasca. Ambas as pesquisas consideram a relevância tanto da análise de implicações, conforme proposta em 1970 por René Lourau em sua tese sobre a análise institucional, que consiste em detectar, em afetos vividos de modo intimo, pessoal, linhas de composição políticas, quanto das noções de set e setting, propostas nos anos 1960 por Timothy Leary, Richard Alpert e Ralph Metzner como parâmetros a serem levados em consideração na experimentação com substâncias psicodélicas. A determinação da qualidade de uma experiência com ingestão de psicodélicos é fator não apenas de características específicas do fármaco ingerido, tal como dosagem, farmacocinética, interações etc, mas também do set - o preparo individual, ou seja, as condições fisiológicas, assim como as expectativas e objetivos quanto à experiência, possíveis problemas que se esteja enfrentando na vida, etc - e do setting - as condições do ambiente local e em um sentido mais amplo, do contexto, o que nos força a colocar em relevo a interface clínica e política, colocando em análise, em última instância, o próprio contexto político maior do proibicionismo e da guerra às drogas em sua relação com a produção de subjetividade.
A influência da informática na institucionalização da Matemática Aplicada na USP
Gabriel Soares BádueGrupo Temático: Dimensões da História e Memória da Informática no Brasil
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Um dos marcos na institucionalização da Matemática Aplicada no Brasil, enquanto área de estudo, foi a criação do Departamento de Matemática Aplicada (MAP) em 1970, no recém-criado Instituto de Matemática e Estatística (IME) da Universidade de São Paulo (USP). Essa nova organização, consequência da Reforma Universitária de 1968, reuniu docentes de diferentes unidades da USP, entre os quais destacamos os oriundos da Escola Politécnica, que desde de 1946 contava com um departamento de matemática. Neste cenário, apresentaremos um estudo de caso por meio do qual construiremos uma história sobre a institucionalização da Matemática Aplicada na USP destacando a contribuição da informática neste processo. Para tanto, faremos um recorte temporal com início na década de 1960, quando foi criado o Centro de Cálculo Numérico, que depois se transformou no Centro de Computação Eletrônica, e término no início dos anos 1970, primeiros anos de atividades do DAP. Entre os acontecimentos que contribuíram para a formação do referido departamento destacamos a compra do computador IBM-1620, feita pelo Departamento de Matemática da Escola Politécnica em 1962. A influência da computação sobre a matemática aplicada foi uma forte característica do Departamento de Matemática Aplicada (DAP), desde sua criação, em 1970. Esse vínculo só se rompeu, ao menos estruturalmente, com a criação do Departamento de Ciências da Computação (MAC) do IME, em 1987.
A lei brasileira da inclusão da pessoa com deficiência: invisibilidades. O fechamento de uma "caixa-preta"?
Gonzalo de Alencar LopezGrupo Temático: Ciência e direito na coprodução dos fatos tecnocientíficos
Resumo
Durante o processo legislativo da Lei Brasileira da Inclusão (LBI) nos órgãos legislativos, foram realizadas audiências públicas e consultas, nas quais, além dos parlamentares, juristas, cientistas ("experts") das áreas mais diversas e a sociedade civil puderam se pronunciar com pareceres e opiniões que irão compor o respectivo texto da LBI. É perceptível que estão cientistas coproduzindo fatos ("de direito") e legisladores coproduzindo fatos ("de ciência"), inclusive em termos epistemológicos e ontológicos.
Haverá o fechamento de uma caixa-preta?
Bruno Latour explica que: "A expressão caixa-preta é usada em cibernética sempre que uma máquina ou um conjunto de comandos se revela complexo demais. Em seu lugar, é desenhada uma caixinha preta, a respeito da qual não é preciso saber nada, senão o que nela entra e o que dela sai".
Após a promulgação da LBI, será importante apenas o que entrar e sair dela?
Diante da "supremacia estatal", tais presunções (leis) receberão, muitas vezes, através de tribunais, forte voz e significado entre a comunidade e suas criações tecnológicas. Assim, na contemporaneidade, o direito, nesse movimento, não só interpreta os desdobramentos da tecnociência no cotidiano, mas também intervém na configuração do ambiente no qual aquela adquire significado, utilidade e força.
Dessa forma, o presente trabalho sugere que, em alguns casos, o processo legislativo em suas faces de deliberação, consultas e audiências pode ser tratado como um ator que desdobra cenas na construção do fato tecnocientífico e que passa a fazer parte delas, intervindo nas opções e decisões que configuram o fato científico em sua eventual estabilização (provisional). Além de transportar informação, o processo legislativo, como criador, transporta e traduz questões de fato entre os domínios da ciência e do direito, modificando-as.
Neste sentido, o trabalho pretende propor uma discussão de modos pelos quais os legisladores e juristas, partes processuais "experts", vão se encontrar e coproduzir ciência e direito no desdobrar de uma controvérsia e, sobretudo, de que forma os demais atores foram incluídos (ou não) ao longo dessa coprodução.
É mediante essa inspiração de coparticipação de atores visíveis, mas, também, dos invisíveis, ao menos sob a ótica do processo legislativo majoritário, que o presente estudo pretende buscar certos contornos.
Bem vindos a mais um vídeo! Uma análise do potencial pedagógico das produções de conteúdo gamer para o YouTube
Geovanna dos Passos, Dulce Marcia CruzGrupo Temático: Jogos digitais e suas relações com a Ciência, Tecnologia e Sociedade
Download do Trabalho
Resumo
Desde seu início, o YouTube vem se constituindo em um espaço de compartilhamento de produções audiovisuais de todo tipo, ao possibilitar a autoria e a distribuição de vídeos através de canais que podem ser acompanhados em muitos casos por milhares de seguidores. Em paralelo, a indústria dos games produz títulos em crescente quantidade, num mercado competitivo onde novas tecnologias e novas linguagens geram jogos cada vez mais complexos, que necessitam longos períodos de aprendizagem. No Brasil, jogadores especialistas perceberam um mercado promissor para canais voltados aos gamers, que buscavam não apenas a costumeira crítica e comentários para ajudar a escolher os títulos, mas também tutoriais interativos com dicas e demonstrações procedimentais sobre a jogabilidade dos games. Tendo em vista a originalidade dessas produções ainda pouco conhecidas e buscando contribuir para os estudos de ciências-tecnologias-sociedades (CTS), a questão que se coloca é: podem os vídeos de conteúdo gamer ser considerados videoaulas e, neste caso, se caracterizarem como educação a distância? Para tentar responder a esta questão, o objetivo deste artigo foi fazer um estudo exploratório de três canais de YouTubers (4GameShow, Zangado, LegendsBr) que registram milhões de visualizações, para sistematizar seus princípios orientadores, seu formatos e de que modo tratam os conteúdos vinculados à aprendizagem com, para e através dos jogos digitais. A partir da referência dos estudos de redes sociais (BARNES, 1987; FRAGOSO, RECUERO, 2013) e de multiletramentos (LEMKE, 1998; ROJO, ALMEIDA, 2012), a análise detalhada de um vídeo de cada canal, escolhido pela maior quantidade de visualizações, identificou suas estratégias didáticas e como neles são tratados os conteúdos especialmente os procedimentais, propostos por Zabala (1998). Concluiu-se que esses "YouTubers" produzem vídeos educativos para aprendizes motivados intrinsecamente, que buscam conhecimento de forma interativa e lúdica, e que podem ser considerados exemplos para professores que queiram produzir audiovisuais atraentes para a educação a distância.
Uma doença salutar? A aplicação da malarioterapia no Distrito Federal na primeira metade do século
Giulia Engel AccorsiGrupo Temático: Medicina na América Latina: práticas científicas, dispositivos tecnológicos e inovações terapêuticas
Resumo
Durante a virada do século XIX para o XX a comunidade médica tentava lidar com o crescente número de pacientes acometidos pela sífilis. Os esculápios classificavam a enfermidade em diferentes fases, sendo a última e mais grave a paralisia geral progressiva ou PGP. Quando o doente chegava a este estágio suas faculdades psicomotoras começavam a ser progressivamente prejudicadas, o que resultava, em grande parte dos casos, em óbito. O percentual de cura dos paralíticos era muito pequeno e as técnicas até então disponíveis para o tratamento pouquíssimo promissoras. Ao longo da história, a febre se mostrou benéfica no tratamento de diversas doenças mentais. A utilização dos acessos febris provocados pela malária no tratamento da paralisia geral progressiva foi proposta, em 1917, pelo médico austríaco Julius Wagner-Jauregg. A técnica, batizada de malarioterapia, consistia na inoculação de sangue contendo um dos agentes etiológicos da malária, o protozoário da espécie Plasmodium vivax em doentes portadores desta forma de sífilis nervosa. Através das trocas científicas internacionais que ocorriam em diversas áreas do conhecimento e, especialmente, no campo da medicina experimental, ao longo da primeira metade do século XX, a técnica passou a ser conhecida, utilizada e estudada em diferentes países do mundo, inclusive no Brasil. Assim, o presente trabalho pretende analisar o processo de apropriação da malarioterapia pelos médicos psiquiatras que atuavam no Rio de Janeiro. Procuramos identificar e compreender os diversos desdobramentos derivados da incorporação da técnica de origem vienense no quadro terapêutico de instituições ligadas à Assistência Médico-Legal a Alienados do Distrito Federal e à Fundação Gaffrée e Guinle, elucidando as contribuições fornecidas pelos psiquiatras atuantes nestes espaços para a consolidação da malarioterapia enquanto um fato científico. A manipulação e apropriação da técnica por parte destes profissionais também fomentou o processo de legitimação da psiquiatria carioca como um campo do conhecimento científico e de papel importante no desenvolvimento do projeto de um nação brasileira.
Experimentando maneiras de pesquisar com crianças e jovens em atividade de informática de uma escola especializada na deficiência visual
Giovanna MarafonGrupo Temático: PesquisarCOM e o feminino na ciência
Resumo
Este texto é parte de uma pesquisa em curso, pautada por maneiras de pesquisar que se configuram como política de pesquisa. Maneiras de pesquisar em processo de experimentação, não definidas a priori, sem repertórios muito bem definidos. Diferentemente, apostando na prática da cartografia e na problematização trazida pelo PesquisarCOM (MORAES, 2010), pesquisar aqui tem como referência entrar em contato, buscar uma prática aditiva, espaço de muitos "es", encontrar-se com o referencial do outro. Uma pesquisadora vidente, buscando entrar em interseção com a perspectiva dos sujeitos da pesquisa, crianças e adolescentes cegos e/ou com baixa visão - estudantes de uma escola especializada na deficiência visual. Também participam dessa arquitetura de pesquisa as professoras e o professor que atuam diretamente na sala de informática. São parceiros da iniciativa de construir um trabalho de informática educativa em uma escola especializada e são parceiros da pesquisa. A chegada de uma pesquisadora corporificada e interessada na interface entre atividades com a tecnologia, cognicão e aprendizagem foi da ordem de um encontro não marcado com os profissionais. Apesar de ter um projeto apresentado em diversas instâncias, a chegada àquele espaço composto de diversos atores, humanos e não humanos, situou o pesquisar numa frequência sensível, em que as aproximações podem acontecer, precisam ser cultivadas e o tempo não é controlado. Feita de muitos silêncios recheados de observações, de perguntas em alguns momentos, de oferta de contribuições em temas que criam proximidade, um regime comum começa delicadamente a se estabelecer e, dele, novas semelhanças podem resultar. Em vez de partir de conceitos a serem corroborados sobre cognição, por exemplo, a entrada nesse campo está sendo um exercício de pesquisar, engendrando saberes que podem ser localizados; não são totais, e nem se erigem na figura do pesquisador Homem e Branco (HARAWAY, 1995).
PCT: Um Olhar sobre a Visão de Desenvolvimento adotada pelo Plano Nacional de Pós-Graduação Brasileiro
Georgia Simonelly Lima NascimentoGrupo Temático: Política de Ciência e Tecnologia
Resumo
O objetivo central deste artigo é agendar uma discussão sobre a relação entre desenvolvimento e pós-graduação, a partir da perspectiva dos Estudos sobre Ciência, Tecnologia e Sociedade (ECTS), tendo como foco as estratégias de desenvolvimento sugeridas nos cinco documentos que compõem o Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG). Estes planos, cuja primeira versão foi publicada em 1975 e a última edição em 2011, fazem parte da política científica e tecnológica brasileira, guiando as diretrizes da pós-graduação no país até 2020. Como procedimento metodológico foi utilizada a análise de conteúdo, direcionada de forma mais detida a quatro categorias de análise: ciência, tecnologia, pós-graduação e desenvolvimento. A ideia de que o avanço da ciência e tecnologia é um meio para superar o subdesenvolvimento e alcançar o progresso encontra-se presente na política adotada em todos os documentos analisados. Fica bastante evidente que a percepção de desenvolvimento abordada no PNPG volta-se para integrar as atividades da pós-graduação ao sistema empresarial, buscando a inovação e a utilização da tecnologia para ganhar competitividade no mercado internacional, valorizando a ciência pela sua força produtiva, distanciando-se da proposta dos ECTS, que buscam aproximar o conhecimento das necessidades sociais. Os dados mostrados ao longo deste trabalho apontam que não houve um avanço no desenvolvimento social do país tão significativo, mesmo diante do crescente investimento em C&T. Prova disto, é que entre 2000 e 2012 os dispêndios com a pós-graduação cresceram 389%, enquanto que no mesmo período o IDH brasileiro aumentou apenas 8%. A relevância do presente trabalho consiste em discutir o papel que a pós-graduação desempenha no que se refere ao desenvolvimento nacional, assim como a responsabilidade social dos cientistas perante a sociedade, uma vez que a maior parte das pesquisas científicas desenvolvidas no Brasil são financiadas com recursos públicos.
Comportamentos, correlatos e indicadores: Uma antropologia da Neuroeconomia e do Neuromarketing
Guilherme Perez GiufridaGrupo Temático: Seguindo cientistas em ação - desafios metodológicos das ciências de dados e das neurociências em CTS.
Resumo
A Neuroeconomia e o Neuromarketing são ciências interdisciplinares que se desenvolvem sob o argumento comum de aproximar os estudos da mente às teorias da escolha econômica, com efeitos que ultrapassam salas de aulas e laboratórios e se aproximam do mercado. Nesta fala, pretendo apresentar conceitos, instituições e agentes que participam da construção deste universo no Brasil, cujo objetivo compartilhado é pesquisar o comportamento humano a partir de métodos "experimentais", apesar de guardarem diferenças significativas quanto às práticas, às tecnologias, às formas de apresentação e à ambição dos resultados. Mostro como se transita da observação de comportamentos por psicólogos para a comprovação dos determinantes neurais da escolha por neurocientistas que, por sua vez, sustentam o cálculo de indicadores numéricos sobre a relação de sujeitos diante de decisões "econômicas". Observo as relações entre a individuação dos processos decisórios, a produção de provas definitivas através do cérebro e a matematização das pulsões.
H
Estudos CTS e transgenia: análise de materiais didáticos do Ensino Médio
Helena Maria Salla (UNESP), Danilo Rothberg (Unesp - Universidade Estadual Paulista)Grupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
Resumo
Desenvolver o letramento científico por meio do processo de ensino e aprendizagem é um dos objetivos do Ensino de Ciências segundo os Estudos CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade), que enfatizam a relevância de capacitar o cidadão para engajar-se nos contextos democráticos de formulação, execução, avaliação e monitoramento de políticas públicas. A presença de elementos que proporcionem letramento científico nos currículos escolares pode contribuir para facilitar a compreensão do papel da produção de ciência e tecnologia como meio de inclusão social e sustentabilidade. Temas de áreas como biotecnologia, em particular, em função de sua complexidade que envolve aspectos éticos, políticos e econômicos, podem ser explorados didaticamente a fim de fundamentar a percepção sobre as esferas de decisão pública subjacentes à pesquisa científica.
Este trabalho descreve resultados parciais da pesquisa que assume o objetivo geral de caracterizar a contextualização do tema da transgenia em relação a pressupostos dados pelos Estudos CTS no âmbito dos materiais didáticos da disciplina de Biologia disponibilizados pela Secretaria Estadual de Educação de São Paulo para o Ensino Médio. Os objetivos específicos são: a) identificar a existência de perspectivas relevantes no âmbito dos Estudos CTS no conteúdo didático acerca de alimentos transgênicos; b) interpretar como as abordagens sobre produção, distribuição e consumo de alimentos transgênicos presentes nos materiais analisados podem contribuir para a formação da cidadania; c) propor, a partir da caracterização do conteúdo didático dos materiais didáticos e das contribuições da literatura especializada, aspectos a serem contemplados pelos materiais analisados a fim de proporcionar uma formação para o exercício da cidadania no contexto dos Estudos CTS.
O material didático selecionado para análise de conteúdo é composto por nove coleções de livros didáticos disponíveis através do Programa Nacional do Livro Didático em 2015.
Os resultados parciais sugerem que os materiais analisados oferecem contextualização limitada em relação aos aspectos históricos, políticos, éticos e econômicos envolvidos na pesquisa e produção de transgênicos. Há escassas referências à controvérsia em torno de seus impactos ambientais, e os mecanismos de produção democrática de decisões que determinam sua produção e comercialização são ignorados.
Proposição metodológica de interação entre tecnologia social e desenvolvimento local: um estudo aplicado à cooperativa COOCAT-MEL em Telêmaco Borba-PR
Heloísa de Puppi e Silva (Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR))Grupo Temático: GT Ciência, tecnologia e inovação social
Resumo
Laboratório de sustentabilidade como uma tecnologia social
Heloísa de Puppi e Silva (Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR))Grupo Temático: Programas de Pós-Graduação em Estudos CTS & políticas científicas e tecnológicas para inclusão socioprodutiva: um debate
Resumo
Subjetivação, Parresia e o Governo das Transformações Políticas
Henrique Antoun (Universidade Federal do Rio de Janeiro)Grupo Temático: Internet: entre o capital e as ruas
Resumo
O trabalho se propõe a pensar a contraposição entre a Internet das coisas e uma Internet das subjetivações. Trata-se de considerar a possibilidade da constituição de processos de subjetivação através da exploração de técnicas de si historicamente constituídas que se compõem com técnicas de dominação igualmente datadas. A partir do momento em que o capitalismo atravessa uma crise gerada pela quebra do mercado de sub-prime em 2008; processos de vazamentos massivos de documentação sigilosa, espetacularização da ação de invasão de redes, ocupações de ruas e praças e insurgência urbana reunindo as populações de centro e periferia passarão a assombrar a regulação imperial global. Exigências de justiça ancoradas nas praticas de lisura e franqueza são uma constante nos diferentes levantes. Nestes processos de luta política destaca-se a dúvida sobre o alcance e a profundidade das transformações passíveis de serem alcançadas e o exigido pelos coletivos em luta nos movimentos. Pergunta-se se é possível a dobra dos processos de subjetivação sobre os procedimentos de sujeição para construir uma genealogia onde o sujeito não seja um produto passivo das técnicas de dominação. No seio desta indagação reside o questionamento sobre a potência da franqueza para o governo democrático da luta das populações.
Ciência e vida prática: Considerações acerca da teoria da história de Jörn Rüsen
Henrique Martins da Silva (Universidade Federal de Goiás)Grupo Temático: Ciência e Techné na História
Resumo
Esta pesquisa faz parte do campo da teoria da história e propõe uma discussão acerca da articulação entre ciência da história e vida prática feita pelo historiador alemão Jörn Rüsen. O mesmo pensa o caráter científico da história em relação à práxis orientadora da vida. Nesse sentindo, há uma interação entre o saber e o fazer no que tange a produção e recepção do conhecimento histórico. As técnicas de pesquisa, o tratamento das fontes, a constituição narrativa e a transmissão desse saber, em síntese, constituem o que Rüsen chama de matriz disciplinar da ciência histórica. O conceito de ciência é tensionado a partir dos métodos de pesquisa e da afirmação de que a História, apesar de ser fundamentalmente subjetiva, também é objetiva e possui aplicação prática. Com isso o autor confere uma perspectiva intersubjetiva à ciência da história. É uma relação entre empiria, interpretação e comparação. A chamada consciência histórica também faz parte desse pensamento que traz a luz da discussão o conceito de ciência aplicado à história, bem como sua aplicação na vida prática dos seres humanos, como forma de suprir as carências de orientação. O procedimento metodológico deste trabalho é hermenêutico, isto é, trata-se de comparar e interpretar a teoria de Rüsen em relação a outras vertentes teóricas e metodológicas que trataram do tema em suas especificidades. Espera-se que esta investigação contribua de forma significativa para a constituição de um pensamento histórico que articule teoria e prática, contemplando as propostas do simpósio e do grupo temático em questão.
A presença brasileira na Antártica: considerações sobre a ciência produzida pelo PROANTAR
Heloisa LemmertzGrupo Temático: Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia e as Mudanças Climáticas
Resumo
A sociologia da ciência consiste em demonstrar as dinâmicas que presidem o campo científico e a capacidade de articulação do grupo para reivindicar seus interesses frente à comunidade maior a qual pertencem, neste caso, o Programa Antártico Brasileiro, e também pela busca e negociação com aliados fora do campo para viabilizar seus projetos. A discussão sobre as interações entre dimensões cognitivas e sociais e a forma como estas últimas se fazem presentes na produção do conhecimento científico remonta a autores clássicos como Max Weber, o qual considerava que a presença de valores de ordem extra científica na ciência não impedia a busca de "objetividade" na produção científica. O tema se mantém no centro do debate epistemológico contemporâneo com autores como Gérard Fourez que reconhece a presença de interesses na ciência e chama a atenção para a heterogeneidade das comunidades científicas, apontando para as diferenças de interesses no interior das mesmas. As comunidades científicas possuem o objetivo compartilhado de produzir conhecimento, porém, uma multiplicidade de interesses permeia as mesmas, incidindo sobre a ciência, uma vez que os pesquisadores, que produzem o conhecimento científico, depositam nele algo referente aos processos sociais que os constituíram como cientistas. Um segundo aspecto destacado por Fourez é a existência de grupos externos ao campo científico, portadores de interesses próprios, que influenciam a ciência. Knorr Cetina apresenta o conceito de arena transepistêmica para analisar o processo e atores envolvidos na dinâmica da construção científica, a autora irá afirmar que a ciência é produzida por uma arena formada em torno da execução de um projeto ao qual os atores estarão ligados por meio dos interesses que os mobilizam, assim, a produção científica seria realizada pelos cientistas e também por outros atores interessados na realização das pesquisas. O objetivo desta investigação é de analisar os atores envolvidos na produção científica no âmbito do PROANTAR, bem como, os interesses destes. A metodologia utilizada foi análise do discurso de entrevistas com cientistas e outros atores envolvidos no Programa, análise de documentos produzidos pelas instituições que compõem o PROANTAR e também a utilização de notas de diário de campo construídas a partir de observação participante durante as atividades de pesquisa na Antártica.
Produzindo um "sujeito incapaz": uma análise sobre a elaboração de laudos psiquiátricos em processos de interdição civil.
Helena Moura FietzGrupo Temático: Ciência e direito na coprodução dos fatos tecnocientíficos
Resumo
No processo judicial de interdição civil, fértil campo de análise para compreensão da interação entre os saberes jurídicos e da ciência, cabe a um juiz de Direito, após todos os trâmites judiciais, declarar ou não a "incapacidade para os atos da vida civil" do sujeito. Na comprovação de capacidade, entra em cena o saber especialista de psicólogos e psiquiatras que - através da realização de perícias para avaliação da capacidade e elaboração de laudos - dão subsídios para que o juiz tome sua decisão. O campo de minha pesquisa é, justamente, o trabalho de psiquiatras e psicólogos que tenham atuado como peritos judiciais em processos de interdição civil na cidade de Porto Alegre. Proponho o argumento deste texto a partir da ideia de "incapacidade civil" enquanto uma construção que se dá em um campo de tensões e negociações entre diferentes conhecimentos e estilos de saber. Pensando a "avaliação de capacidade" à semelhança do diagnóstico, entendo-a não apenas como um ritual necessário para que seja criada uma aliança entre os saberes médicos e jurídicos na produção do sujeito "incapaz", mas principalmente, enquanto um meio de comunicação e um mecanismo que estrutura as interseções burocráticas entre os peritos e os profissionais jurídicos (Rosenberg, 2002). Dá mesma forma, valho-me da noção de coordenação (Mol, 2005) para refletir sobre como se dá a elaboração deste documento cujo resultado é a produção de um sujeito "incapaz". Neste artigo, portanto, proponho pensar os peritos não como "aplicadores" de classificações, mas sim como "mediadores" que as utilizam de acordo seus objetivos e com as particularidades do mundo local em que estão inseridos. Estes profissionais trabalham para que seu laudo seja valorizado e levado em consideração pelos profissionais do Direito que tomarão a decisão final acerca da interdição ao mesmo tempo em que se deparam com suas próprias questões em relação à ética profissional e concepções acerca da noção de "incapacidade", as quais se mostram igualmente importantes para sua atuação nestes processos.
Estudos CTS e transgenia: análise de materiais didáticos do Ensino Médio
Helena Maria Salla, Danilo RothbergGrupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
Resumo
Desenvolver o letramento científico por meio do processo de ensino e aprendizagem é um dos objetivos do Ensino de Ciências segundo os Estudos CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade), que enfatizam a relevância de capacitar o cidadão para engajar-se nos contextos democráticos de formulação, execução, avaliação e monitoramento de políticas públicas. A presença de elementos que proporcionem letramento científico nos currículos escolares pode contribuir para facilitar a compreensão do papel da produção de ciência e tecnologia como meio de inclusão social e sustentabilidade. Temas de áreas como biotecnologia, em particular, em função de sua complexidade que envolve aspectos éticos, políticos e econômicos, podem ser explorados didaticamente a fim de fundamentar a percepção sobre as esferas de decisão pública subjacentes à pesquisa científica.
Este trabalho descreve resultados parciais da pesquisa que assume o objetivo geral de caracterizar a contextualização do tema da transgenia em relação a pressupostos dados pelos Estudos CTS no âmbito dos materiais didáticos da disciplina de Biologia disponibilizados pela Secretaria Estadual de Educação de São Paulo para o Ensino Médio. Os objetivos específicos são: a) identificar a existência de perspectivas relevantes no âmbito dos Estudos CTS no conteúdo didático acerca de alimentos transgênicos; b) interpretar como as abordagens sobre produção, distribuição e consumo de alimentos transgênicos presentes nos materiais analisados podem contribuir para a formação da cidadania; c) propor, a partir da caracterização do conteúdo didático dos materiais didáticos e das contribuições da literatura especializada, aspectos a serem contemplados pelos materiais analisados a fim de proporcionar uma formação para o exercício da cidadania no contexto dos Estudos CTS.
O material didático selecionado para análise de conteúdo é composto por nove coleções de livros didáticos disponíveis através do Programa Nacional do Livro Didático em 2015.
Os resultados parciais sugerem que os materiais analisados oferecem contextualização limitada em relação aos aspectos históricos, políticos, éticos e econômicos envolvidos na pesquisa e produção de transgênicos. Há escassas referências à controvérsia em torno de seus impactos ambientais, e os mecanismos de produção democrática de decisões que determinam sua produção e comercialização são ignorados.
Internet: tensões em torno da mercantilização
Horacio Correa LuceroGrupo Temático: Internet: entre o capital e as ruas
Resumo
O trabalho apresenta uma análise dos processos de mercantilização da Internet destacando dois períodos específicos com o interesse de contrastá-los e estudá-los críticamente: em primeiro lugar, o que da inicio (considerando a história da ARPANET), onde não havia interesse comercial directo no processo de concepção e construção de todas as tecnologias digitais que compuseram a rede original; em segundo lugar, o período atual, onde vemos uma crescente comercialização com profundas mudanças nas formas de transmissão de informação, principalmente a partir do surgimento da web e da web 2.0.
Para isso, desenvolvemos uma perspectiva teórica explicitamente baseada na teoria crítica da tecnologia de Andrew Feenberg, destacando no artigo os concetos de código técnico e horizonte cultural. A partir deles podemos descrever as intenções e valores cristalizados no corpo das tecnologias que forman a Internet e as transformações que ocorreram desde as últimas décadas.
Assim, o capital -representado pelas ações dos capitalistas interessados em implantar o ciclo de valorização na Internet- foi introduzido e se expande no interior da rede das redes transformando assim os códigos técnicos iniciais da Internet.
Neste contexto ocorrem importantes confrontações políticas onde os códigos técnicos iniciais cristalizados em uma rede que permite o livre compartilar de recursos e informações sem filtros, começa a mudar incluindo crescentes restrições. Compreenderemos confrontos existentes da comparação histórica desses dois períodos.
Por outro lado, a partir de nossa visão de Internet em duas grandes camadas, una tangível e outra intangível, afirmamos que issas camadas têm processos semelhantes de concentração de informaçõe e aumentos na acumulação de capital.
O trabalho baseia-se na tese de doutorado de um dos autores e expõe seus resultados.
I
Corpos comensuráveis: produção de modelos animais nas ciências biomédicas
Iara Maria de Almeida Souza (Universidade Federal da Bahia)Grupo Temático: Saberes do corpo e sobre o corpo: formas de conhecimento, experiência, ciência e expertise
Resumo
A utilização de modelo animal, em especial camundongos e ratos, é uma prática bastante consolidada nas pesquisas biomédicas. As pesquisas usualmente visam caracterizar processos biológicos ou testar tratamentos, medicamentos ou intervenções em animais antes que ele chegue aos humanos. Tal uso de animais se assenta na proximidade genética entre humanos e roedores, portanto, na suposição de que há uma semelhança nos processos biológicos humanos e animais. Mas as diferença entre ambos também contam na realização dos experimentos, pois é porque os animais são considerados como seres hierarquicamente inferiores é que eles podem ser submetidos a experimentos e riscos que não seriam admissíveis para os humanos. Falar de modelos em ciência, entretanto, não significa apenas dizer que estes são representações cognitivas, eles são também encarnações de ações e práticas que constituem tipos de questões científicas e indicam que perguntas podem ser respondidas. O que este trabalho pretende interrogar são os modos práticos de produção de modelos animais. Como os animais se tornam portadores de doenças relevantes para os humanos? Como tornar seus corpos comensuráveis aos nossos? Quais são os limites que eles impõem a essa comensurabilidade? Pois se os corpos dos animais permitem certos usos, eles não são infinitamente maleáveis, apresentam nesse processo recalcitrâncias e exigências para que possam atuar nas pesquisas.
O trabalhador ideal no trabalho ideológico empresarial - discursos e representações sobre o trabalhador na revista de uma associação empresarial do Paraná
Igor Assoni Monteiro da Silva (Universidade Tecnológica Federal do Paraná).Grupo Temático: Saúde, Trabalho e Desenvolvimento
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O objetivo do trabalho aqui submetido é apresentar resultados preliminares de uma pesquisa que vem sendo realizada na área de Tecnologia e Trabalho no Programa de Pós-Graduação em Tecnologia da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. A pesquisa busca compreender o discurso de gestão empresarial sobre o trabalho e o trabalhador nas revistas da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP). As perguntas que orientam a pesquisa em desenvolvimento são as seguintes: qual é o discurso da ideologia gerencial sobre o trabalho e o trabalhador que se veicula em uma revista da referida associação empresarial? O que esse discurso revela sobre as qualidades que o trabalhador ideal deve ter para o modo de produção capitalista na contemporaneidade?
A relevância de tal pesquisa inscreve-se no estudo das mudanças que vêm acontecendo no mundo do trabalho e no espírito do capitalismo, acompanhadas pela sociologia do trabalho e pelos estudos organizacionais, apontam que as dimensões discursivas e ideológicas têm crescido em importância no que se refere à criação de estratégias de envolvimento subjetivo, afetivo e intelectual do trabalhador (ANTUNES, 2005; FARIA, 2007; BOLTANSKI & CHIAPLLO, 2009;). Na evolução dessas mudanças nas formas de organização do trabalho, as tecnologias adquirem uma importância decisiva. Boltanski e Chiapello (2009) apontam que a empresa é caracterizada nesse contexto pelo “fazer mais com menos”, baseado nas empresas japonesas, em especial na Toyota. Pode-se descrever essa empresa enxuta como portadora dos seguintes componentes: emprego de tecnologias produtivas e administrativas que buscam aumentar a produtividade e eliminar postos de trabalho. Surgem, então, as figuras do just-in-time, qualidade total, processo de melhoramento contínuo, equipes autônomas de produção, círculos de controle de qualidade, entre outros princípios administrativos.
No que se refere à metodologia, a investigação basear-se-á em dados qualitativos e a fonte será documental. Para a consecução dos objetivos, será realizada a seleção dos fragmentos textuais que contenham o tema relacionado ao trabalho e ao trabalhador. Será feita leitura dos documentos e serão selecionadas as cadeias discursivas que contenham o tema acima referido. Os textos que contiverem as unidades de registro correspondentes aos objetivos analíticos escolhidos serão os dados de pesquisa
Estudo e desenvolvimento de um novo material para aplicação em artefatos sacros como proposta de tecnologias sociais município de Aparecida, São Paulo
Isabella Batista Graça Grego (Universidade Federal de Itajubá), Marcelo Manoel Valentim Bastos (UNIFEI)Grupo Temático: Produção de conhecimentos e artefatos - Experiências interdisciplinares em design
Resumo
Este artigo discorre da aplicação simétrica das Tecnologias Sociais em uma pequena organização de artesãos oriundos de técnicas empíricas como processos produtivos para o desenvolvimento de artefatos sacros em gesso. A organização está inserida no município de Aparecida – SP, local marcado por um fluxo intenso, durante todo ano, de peregrinação e comerciantes decorrentes do turismo religioso e intenso comércio presente, agregando assim, significados aos artefatos produzidos pelos artesãos onde se tem um ganho cultural associado aos traços de identidade do município. Diante dessas percepções propõem-se dois vieses de estudos, onde o primeiro discorre do desenvolvimento e inserção de um novo material ao meio, de modo que se evidencie ainda mais as relações entre o social, o território e o ambiental. O segundo se dispõe a partir da ótica da integração entre produção de conhecimento e sua adequação ao meio, por artifício da análise sóciotécnica, onde assim, será possível um mapeamento da rede e das controvérsias decorrentes dos atores inseridos por meio da Teoria Ator-Rede. Os métodos serão decorrentes da interação entre três áreas de ciência, são elas a Engenharia de Materiais, o Design e as Ciências Sociais. Cada ciência por sua vez, terá seu método apanhado de forma que se entrelacem durante o desdobramento do projeto. A Engenharia será responsável pelo desenvolvimento do novo material, realizando testes e as relações de usabilidade do mesmo. O Design se dá pelo resgate cultural e análise territorial diante das avaliações simbólicas estruturadas do artefato, tais como sua forma e textura. A Ciência Social, por meio da análise sóciotécnica atua como fator direto no estreitamento das relações entre pesquisador e organização, viabilizando a clarificação das necessidades, como os atores se formam dentro da rede e o que esperam diante do meio em que estão estabelecidos. Diante das questões abordadas tende a colaborar na implementação de uma nova Tecnologia Social e valorização do território, sem que sejam descartadas as questões sociais, culturais e econômicas do município, as informações coletadas podem então ser absorvidas do grupo e posteriormente desenvolvidas e aplicadas como propostas conforme a demanda local.
O caso da Escola de Farmácia e Odontologia de São Paulo por um viés de gênero.
Isabella Bonaventura de Oliveira (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas)Grupo Temático: PesquisarCOM e o feminino na ciência
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Resumo
Esta pesquisa analisa as controvérsias sociotécnicas (LATOUR, 2004) envolvendo farmacêuticos e dentistas a fim de criarem e manterem uma instituição de ensino em separado da medicina, no contexto da primeira república. Tomando como ponto de partida os discursos acerca da Escola de Farmácia e Odontologia, almeja-se analisar conjuntamente as lutas pela criação de uma faculdade autônoma e a entrada de mulheres nessas profissões.
Em meio a este processo, ressalta-se a construção de um lugar de fala específico para os profissionais de Farmácia e Odontologia, por meio de periódicos especializados, sociedades científicas e a criação de sua instituição de ensino: a Escola de Farmácia, criada em 1898, sendo que em 1903 anexou os cursos de Odontologia e Obstetrícia, passando a chamar-se Escola de Farmácia, Odontologia e Obstetrícia de São Paulo.
Considera-se que a análise do processo de profissionalização da Farmácia e da Odontologia em São Paulo – na primeira república – fica empobrecido caso se ignore a discussão de gênero que a permeia. Para tanto, é possível observar como os argumentos que almejavam estabelecer uma identidade (FOUCAULT, 1985) – para farmacêuticos e dentistas – dialogavam com os debates do período sobre a existência de aptidões restritas e naturalizadas para mulheres e homens. Em concordância com Joan Scott (1989), essa pesquisa considera que a formação de mulheres em Farmácia e Odontologia não é um fenômeno separado do processo de institucionalização dessas áreas, tampouco é a resultante de um “progresso histórico”, segundo o qual as mulheres teriam gradativamente acesso a profissões já cristalizadas - ou seja, com seu conjunto de saberes, práticas e objetos já definidos.
Dessa maneira, considera-se a entrada de mulheres nas profissões de Farmácia e Odontologia enquanto aspecto constituinte da construção da identidade profissional que essas áreas de saber adquiririam na primeira república. Sendo assim, através de uma análise situada (STENGERS, 2013), deseja-se discutir como os papéis sociais relegados a homens, mulheres, farmacêuticos e dentistas foram delineados – e questionados - pelos discursos e práticas do período.
Programa de Apoio à Graduação: Matemática Básica a distância
Ivana Martelli (Pontifícia Universidade Católica de Goiás)Grupo Temático: Tecnologia e mediações
Resumo
Este trabalho apresenta um estudo sobre o curso de Matemática Básica I, curso livre ofertado na modalidade a distância, vinculado ao Programa de Apoio à Graduação da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás). Esse estudo teve por objetivo avaliar as condições de oferta e o impacto deste curso na formação acadêmica dos alunos, permitindo identificar aspectos metodológicos e didáticos que proporcionaram a reorientação e qualificação do curso. Para compreender as condições de oferta definiu-se como sujeitos os alunos inscritos no segundo semestre de 2013 e no primeiro semestre de 2014, dividindo-os em dois grupos: concluintes e evadidos. A metodologia adotada fundamentou-se na abordagem histórico-cultural, considerando-se, portanto, o contexto social na observação empírica. O levantamento dos dados foi realizado por meio de três questionários. O primeiro direcionado aos alunos que realizaram a inscrição no curso e acessaram a sala virtual, mas não iniciaram seus estudos. O segundo, aos alunos evadidos. E o último, aos alunos que concluíram o curso. Embora se tenha observado crescimento no número de inscritos nos dois semestres, o índice de desistência dos alunos manteve-se alto com a média de 56%. Entre os motivos da desistência foram destacados os que se referem ao nível de dificuldade dos exercícios, de acesso a computador conectado à internet e à falta de tempo para os estudos. A análise dos dados indica que a complexidade das atividades está relacionada à necessidade de conhecimento elementar não publicado na sala virtual do curso. Reforça essa percepção a informação dos alunos concluintes de que as formas de apresentação do conteúdo e dos enunciados dos exercícios não dificultaram o entendimento da atividade, tendo sido o material didático classificado por 43% desses alunos, no semestre 2014/1, como Ótimo e Muito bom e 38% deles, como bom. Constatou-se uma melhora de 12% em relação aos índices identificados na análise do semestre anterior. Este trabalho investigativo desencadeou, em 2014/2, ações no sentido de reorganizar a oferta do curso em seus mais diversos aspectos como o acompanhamento sistemático de alunos por monitores, o aprofundamento do estudo sobre os conteúdos identificando a complementação necessária para a superação de dificuldades do aluno que têm origem no ensino fundamental e médio na área da matemática.
Fanon, a educação e o esporte na África libertada: desafios ético-politicos das/os estudantes cotistas
Ivo Pereira de Queiroz (UTFPR)Grupo Temático: Presença Africana no Brasil: conhecimento tecnológico, linguagem, educação e interação social
Resumo
A escrita deste texto está motivada pelo seguinte problema: em que medida os desafios ético-políticos que Fanon sugeriu para a educação e o esporte, na África libertada, teriam eco no processo de formação de cotistas negras/os? Em resposta, o texto argumenta que a educação e o esporte na África libertada seriam uma resposta enérgica aos efeitos da violência colonial em processo de erradicação, tendo em vista a consolidação da liberdade. Os educandos africanos e atletas deveriam primar pelo interesse no bem estar do povo, os quais precederiam aos ditames do mercado. O artigo interpreta que as diretrizes e desafios indicados por Fanon beneficiariam o processo de formação de cotistas negras/os pela aproximação dos cenários do Brasil e o das nações africanas em luta de libertação. A partir da dialética violência/cura problematizada por Fanon, coloca-se o desafio ético-político que as/aos cotistas façam uso da violência simbólica para consolidar sua formação profissional. Para isto, deveriam: tornarem-se intelectuais de nível excelente; assumir o compromisso de fidelidade ao povo negro, crescendo na ancestralidade africana; agir de tal modo que o conhecimento adquirido e o trabalho realizado contribuam para fazer o planeta e a humanidade melhores.
A participação no Centro Acadêmico Franco Seminário (CAFS) e a Produção de Subjetividade no Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IP/UFRJ)
Isabela Rodrigues Da Costa Pimenta De MoraesGrupo Temático: Estudos CTS, Práticas Psi e Modos de Produção de Subjetividades
Resumo
Os Centros Acadêmicos são órgãos de representação dos alunos de nível superior garantidos na Lei nº 7.395, de 31 de outubro de 1985, tornando-se, a partir da década de 1990, dispositivos difundidos na mobilização estudantil brasileira. Inserida no contexto o qual os alunos de Psicologia/UFRJ, a partir do segundo semestre de 2013, têm esvaziado o espaço dessa representação, esta pesquisa incidiu sobre como as linhas de composição do CAFS não têm sido atravessadas pelo desejo de participação discente, já que ele não tem funcionado como vetor de subjetivação (GUATTARI, 1981) de grupo. Para acompanhar os processos de gênese da realidade, optou-se pela constituição de uma cartografia psicossocial (ROLNIK, 1989) como direção metodológica. A pesquisa avaliou a participação referida e a implicação no discurso de graduandos atravessados pelas dinâmicas institucionais. O estudo de caráter transversal localizou nos grupos de intervenção estudantes que estão no 1º, 2º e 3º períodos e no 6º, 7º e 8º períodos acadêmicos. Seguiu-se as pistas: (1) A investigação da história do CAFS e das continuidades e descontinuidades na participação; (2) A realização de entrevistas com atores relevantes no cenário; (3) Ter como horizonte aumentar o coeficiente de transversalidade (GUATTARI, 1981) na Instituição, pensando o CAFS como suporte do desejo de grupo. Os referenciais da Análise Institucional Francesa foram instrumentais para cartografar os modos instituídos de composição dos alunos e para analisar o grupo como dispositivo de criação de combinados instituintes pela participação. As entradas na pesquisa avaliaram que o instituído é uma forma que se fortalece porque lança a mesma natureza de força. A subjetividade referida ao plano de forma-sujeito emerge de efeitos dados por articulações políticas, sendo a participação no CA instrumento de produção. A pesquisa apontou como marcantes no IP: (1) Falta de coesão do grupo para, a partir do reconhecimento de suas formas instituídas, viabilizar estratégias para provocar movimentos de desestratificação às suas experiências estudantes; (2) Distância de envolvimento do curso com espaços representativos de participação social. No início de 2015, as mudanças no fluxo da participação dos alunos realçam a importância do acompanhar desse processo como ferramenta de crítica ao cotidiano Institucional.
El Quijote de Emili Pi y Molist: Una reconstrucción modélica de la subjetividad a través de la locura
Ivan Sanchez MorenoGrupo Temático: Ciência e Techné na História
Resumo
Emili Pi y Molist (1886) dedicó un ensayo sobre la locura del Quijote, su sintomatología y posibles causas, desarrollando una sugerente teoría sobre el delirio erotómano con la que se anticipó a futuras premisas del psicoanálisis. No obstante, centró buena parte de su estudio en la reconstrucción del personaje quijotesco que interesa resaltar.
Nuestro enfoque se enmarca en definición que ofrecen Sánchez-Moreno et al. (2011) y González Rey (2009) desde los márgenes histórico-culturales de la psicología y que enlazan con los fundamentos epistemológicos de los actuales Estudios en CTS. En el tratado de Pi y Molist se hace patente la importancia de las condiciones sociales, morales e históricas que potenciaron la emergencia de los particulares dispositivos de subjetivación quijotesca, concebida ésta como producto de un contexto sociocultural, un discurso definido y unas prácticas adscritas. Por ende, debe tratarse en relación con los patrones de acción y con la lógica de pensamiento particular que constituye dicho modelo de subjetividad.
La lectura de Pi y Molist permite abordar la locura quijotesca desde una propuesta para la reconstrucción del yo del paciente (el personaje de Alonso Quijano), mediatizado a través del universo mítico de las novelas de caballería (el Quijote). El autor estructura como alternativa un modelo psicoterapéutico que define al sujeto desde tres dimensiones de análisis: desde la lógica particular del paciente, desde la base constitutiva de su locura y desde una dimensión empírica, como práctica del ser (self). Manifiestamente contrario al paradigma organicista que imperaba en la medicina alienista de finales del s. XIX, el autor sugiere una etiología de índole moral en la locura del Quijote. Tras exponer su sintomatología, el autor traza un análisis pormenorizado de los mediadores que contribuyeron a la fabricación de su insania mental: los libros de caballería, la idealización de una dama a quien rendir honores, el acompañamiento de un fiel escudero, la reivindicación continua de unos valores de nobleza, etc. Aplicando una técnica de análisis sobre los fundamentos que desencadenaron su locura, no sólo se dibujan los trazos para una genealogía de la subjetividad quijotesca, sino que también se describe un modelo terapéutico sin menoscabo de la lógica particular de su delirio, respetando la idiosincrática mentalidad del paciente.
J
Lei da Aprendizagem e a Proteção Integral no trabalho: mito ou realidade?
Janaina Cristina Buiar (UTFPR), Nilson Marcos Dias Garcia (Universidade Tecnológica Federal do Paraná)Grupo Temático: Saúde, Trabalho e Desenvolvimento
Resumo
São apresentados resultados de uma investigação sobre o direito à profissionalização e à proteção integral no trabalho estabelecido pela vigente Lei da Aprendizagem - Lei Federal nº 10.097, de 19 de dezembro de 2000, regulamentada pelo Decreto nº. 5.598/2005. Tomando como referência pressupostos de uma perspectiva histórico-crítica e pautando-se em resultados de processos investigativos realizados anteriormente, procurou-se explicitar não somente a contradição do movimento histórico, político, econômico e social da implantação dessa política pública, como também se buscou analisar se ela está ou não contribuindo para com a proteção integral do adolescente que realiza curso de aprendizagem profissional e que ingressa como trabalhador aprendiz no mercado de trabalho. Visando o entendimento desta dinâmica, num primeiro momento abordou-se a implantação das politicas públicas neoliberais e os impactos proporcionados a classe trabalhadora. Em seguida, apresentou-se o movimento histórico e substitutivo das políticas públicas que antecederam a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, que acabaram fundamentando o que está prescrito na vigente Lei da Aprendizagem. Dados obtidos em pesquisa empírica realizada em uma Instituição que tem atuado como modelo da aprendizagem, preconizada na legislação abordada neste estudo, indicaram haver uma contradição entre o exercício ao direito à profissionalização e à proteção integral quando se permite que adolescentes sejam inseridos precariamente no mercado de trabalho, consequentemente, deixam de viver a fase pertinente às suas idades, para se tornarem, precocemente, adultos produtivos.
Redes de P&D no setor elétrico brasileiro: a contribuição metodológica da análise de redes sociais para o estudo do Programa P&D ANEEL
Janaina Oliveira Pamplona da Costa (DPCT - UNICAMP), Mariana Sartorato Marques (Universidade Estadual de Campinas)Grupo Temático: Sistemas de Inovação e seu Alcance Conceitual, Metodológico e Normativo
Resumo
Este trabalho pretende analisar as parcerias criadas pelas concessionárias de energia atuantes no Brasil dentro do escopo do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) para os anos de 2006 a 2010. O estudo se justifica pela importância estratégica que o setor elétrico desempenha no Brasil e no mundo, devido ao seu potencial econômico, social e ambiental; assim como das atividades de P&D para o desenvolvimento tecnológico nacional. No início da década de 2000, buscando incentivar atividades de inovação no setor elétrico brasileiro, o P&D ANEEL foi implementado impondo a obrigatoriedade de investimentos em P&D por parte das concessionárias de energia estabelecidas no país. O trabalho contribuirá para o entendimento sobre a configuração do setor elétrico brasileiro a partir do recorte conceitual de redes de P&D. Redes são entendidas como um sub-grupo do sistema de setorial de inovação, uma vez que este conceito trata interações entre atores como o ponto central para o desenvolvimento tecnológico e atividades de inovação. A metodologia empregada é a de análise de redes sociais (social network analysis), ressalte-se que o estudo propõe criar a representação visual da rede de P&D, em que poder-se-á inferir, entre outros, o papel exercido pelos atores presentes na rede, a localidade geográfica de tais atores e quais implicações estas características apresentam para a evolução do sistema setorial elétrico brasileiro. A análise da rede de P&D do setor elétrico buscará compreender a importância da localização das empresas proponentes de projetos e de suas parceiras na execução destes para o tipo de conhecimento que é buscado no estabelecimento de parcerias, assim como as áreas e temas de pesquisas que vêm sendo mais difundidos, e o montante dispendido para a realização dos projetos. A coleta de dados foi realizada junto aos dados disponibilizados pela ANEEL e exigiu a criação de um banco de dados próprio para o estudo em função da necessidade de corrigir discrepâncias nas diferentes bases de dados disponibilizadas pela agência. O trabalho almeja contribuir para as áreas da economia da inovação e geografia da inovação, dado que esta última argumenta que elos intra e inter-regionais podem desempenhar papéis distintos na produção e uso do conhecimento necessário para as atividades de P&D desempenhadas pelas firmas.
Relação Entre Samba, Gênero e Raça: Percepções de Sambistas Negras
Janaína Souza de Queiroz (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), Nanci Stancki da Luz (Universidade Tecnológica Federal do Paraná)Grupo Temático: Gênero, Ciência e Tecnologia: avanços e desafios
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Este trabalho apresenta uma reflexão teórica e resultados iniciais de um projeto de pesquisa em desenvolvimento, cujo problema explicita-se por meio da seguinte questão: como as sambistas negras percebem as relações entre samba, gênero e raça? O objetivo geral é analisar a relação entre samba, gênero e raça, a partir da percepção de sambistas negras. Para a concretização desse objetivo, busca-se analisar a presença da mulher negra no samba; compreender seu papel e atividades desenvolvidas tanto na gênese do samba quanto na atualidade; discutir as tensões entre ancestralidade africana e racismo no samba; identificar saberes tecnológicos materiais e simbólicos que permeiam a prática do samba; e, identificar os determinismos tecnológicos intrínsecos a ele, em especial o racismo e o cerceamento das sambistas negras. Entende-se por samba o evento múltiplo que congrega a expressão musical, a dança, a reunião de amigos e familiares, e sambista quem participa e toma parte nesse modo de vida. A pesquisa adotada é qualitativa de cunho interpretativo, e os procedimentos metodológicos incluem pesquisa bibliográfica acerca da participação da mulher negra no samba, definição dos critérios para a escolha das sambistas a serem entrevistadas e a realização das mesmas, de caráter semi-estruturado, com o intuito de coletar as percepções das sambistas acerca da sua participação no samba e das relações de gênero e raça presentes em suas vidas.
Solo criado: conflitos e contradições da aquisição e transferência de potencial construtivo
Janete Teresinha Roncato (UTFPR), Maclovia Corrêa Da Silva (UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANA - UTFPR)Grupo Temático: Elementos e dinâmicas de desenvolvimento no contexto das cidades do século XXI
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Este texto trata de conceitos de solo criado enquanto instrumento para acrescer potencial construtivo em cidades brasileiras e os conflitos e contradições que podem advir de sua implementação quando ele não está regulamentado pelas administrações municipais ou ainda quando as normas apresentam incompletudes. A metodologia de trabalho foi de natureza qualitativa, com pesquisas, consultas a documentos, diálogos com a municipalidade e participação em eventos. O planejamento urbano seria o primeiro passo para estudar esta questão, principalmente para aqueles casos de cidades com crescimento constante de construções e rareamento de lotes em zonas com infraestrutura. O trabalho está dividido em três partes. A primeira é conceitual, com discussões sobre os autores que trabalham o tema. Na segunda, são apresentados casos de cidades brasileiras que estão aplicando o instrumento ‘solo criado’, com contrapartida, para densificar territórios onde há infraestrutura disponível e subutilizada. Na terceira, conclui-se que há necessidade de discutir como este instrumento, inserido em um plano diretor, possa ser democrático e responder às dinâmicas de crescimento da cidade. Olímpio Galvão (2005) explica que a cidade é o espaço onde os agentes interagem com a ciência e a tecnologia para trazer o bem estar e a proteção do meio ambiente. Mas, a organização legislativa citadina e o comportamento do mercado podem corromper os princípios sociais de equidade e cordialidade. Assim, destaca-se a importância do Estatuto da Cidade de 2001, com alicerces para corrigir as distorções de uso e ocupação do solo e atender a função social da propriedade. No corpo do texto da lei, a captação de recursos é meio de redistribuição dos ônus e benefícios das obras e edificações. Citam-se os casos das cidades de Ijuí (RS), Curitiba (PR) e São Paulo (SP) que criaram mecanismos para autorizar a arrecadação provinda do solo criado, que é a transferência ou aquisição de potencial construtivo e assim redistribuir a renda no território. Inédito foi o convite municipal de Curitiba para a população contribuir na revisão do plano diretor em 2014. Contudo o solo criado não foi tema relevante destas discussões. Conclui-se que os investimentos urbanos no contexto social perpassam pela perspectiva tecnocientífica e participação democrática para a tomada de decisões acertada entre setores públicos e privados.
Uso complementar das abordagens quantitativas e qualitativas na resolução de um problema na indústria: implicações da experiência prática no desempenho do modelo estatístico
Jaqueline Medeiros Farah (Universidade Federal de Minas Gerais), Rodrigo Ribeiro (UFMG)Grupo Temático: Estudos Sociais da Tecnologia e Expertise na Engenharia
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Este trabalho é sobre o uso complementar das abordagens metodológicas qualitativas e quantitativas na resolução de um problema na indústria. Discute-se como a experiência prática, que subsidia a análise qualitativa, pode influenciar na análise quantitativa. Para tanto, é dado prosseguimento a estudo realizado, em 2012 e 2013, em planta industrial produtora de ferroníquel. O foco era solucionar um problema prático, cujas causas não eram claramente conhecidas ou socialmente acordadas. Buscou-se recuperar a experiência práticas dos trabalhadores, para se chegar a uma solução aceitável. Foram construídos dois modelos: o primeiro, qualitativo, que consiste em uma representação gráfica construída pelo pesquisador a partir dos discursos formulados pelos sujeitos sobre um objeto (COSSETTE; AUDET, 1992); e o segundo, quantitativo, construído por meio da técnica estatística de regressão linear múltipla (MONTGOMERY; PECK, 1992). Através do segundo modelo foram testadas as hipóteses sobre as causas do problema, formuladas pelos envolvidos, e representadas no primeiro. Contudo, a validação do modelo quantitativo mostrou-se um impeditivo ao alcance da finalidade pretendida. Transcorridos dois anos do encerramento, o alcance da meta de produção da planta evidencia o amadurecimento do seu processo produtivo, decorrente de aprendizagem das equipes. Acerca do problema, verifica-se maior entendimento, inclusive, o refinamento das hipóteses sobre suas causas. Desse modo, configuram-se dois contextos distintos, 2012-2013 e 2014-2015. A partir da atualização dos modelos existentes, são comparados os resultados obtidos nos dois contextos, no que se refere à validação. Este trabalho situa-se na área de Estudos Sociais e da Expertise. Devido às especificidades do problema, que requer análises de cunho quantitativo e qualitativo, recorre-se às noções de modelo e validação. Ambas são encontradas na modelagem, em suas vertentes tradicionais, quantitativas (hards), e interpretativas, qualitativas (softs) Para além da dicotomia entre hards e softs, verificada na literatura, sua contribuição científica está em demonstrar que o êxito da modelagem quantitativa, em grande medida, depende de uma adequada modelagem qualitativa, proporcionada pela experiência prática.
Práticas de ciência aberta: uma abordagem a partir da etnografia
Jean Carlos Ferreira dos Santos (Universidade Estadual de Campinas), Marko Monteiro (UNICAMP)Grupo Temático: GT Ciência, tecnologia e inovação social
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Nas últimas décadas, tem-se presenciado a crescente disseminação dos valores de “abertura” em diversos setores da sociedade, principalmente em função do uso disseminado das tecnologias de informação e comunicação (TICs) por um número cada vez maior de usuários. Esse contexto é marcado pelo desenvolvimento de novas formas de apropriação da informação, baseadas principalmente na liberdade de produção, acesso e uso de produtos intelectuais, como códigos-fonte de programas de computador, produtos culturais, redes de compartilhamento de conteúdo e outros. Assim como é marcado por diversos movimentos que colocam em questionamento os aspectos econômicos, éticos e sociais da manutenção de sistemas proprietários de produção e acesso ao conhecimento. A ciência é um dos setores onde esses movimentos têm se desenvolvido com mais força, muitas vezes vinculados ao argumento de que o conhecimento científico se configura como bem público, portanto, deve ser de acesso livre e gratuito, o que tem intensificado também os debates a respeito da abertura da ciência como um todo. O fenômeno da Ciência Aberta é caracterizado por uma diversidade de práticas de produção, acesso e compartilhamento aberto de artigos, dados, processos e métodos da pesquisa científica. Essas práticas acabam colocando em discussão os sistemas proprietários na ciência e modificando aspectos tradicionais da prática científica, como os modos restritos de disponibilização e de compartilhamento da informação para outros centrados também na publicação em meios de acesso público e gratuito e no trabalho colaborativo através das infraestruturas digitais. Dado esse contexto, a partir do estudo da proposta e das práticas de Ciência Aberta, busca-se analisar no presente trabalho os significados atribuídos no meio acadêmico a essas formas contemporâneas de comunicação do conhecimento e compreender como elas estão sendo possivelmente incorporadas no trabalho científico. Partindo-se de um estudo etnográfico realizado junto a um centro de pesquisa interdisciplinar da área de Neuromatemática, o trabalho aqui apresentado constitui as primeiras reflexões resultantes das aproximações com o campo, centrando-se no rastreamento etnográfico das representações e significados dos pesquisadores atribuídos às práticas abertas, bem como nos modos como colocam em circulação tais significados e representações.
Mudanças Climáticas e Tecnopolíticas: A percepção do ambiente e a biopolítica na produção de cenários climáticos para o Brasil
Jean Carlos Hochsprung Miguel (Unicamp), Marko Monteiro (UNICAMP)Grupo Temático: Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia e as Mudanças Climáticas
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Para a orientação da política de adaptação às mudanças climáticas, na identificação de regiões, ecossistemas, setores econômicos e populações "vulneráveis", os governos têm feito uso de modelos matemático-computacionais do clima que permitem realizar projeções de cenários de impacto em escala regional. Através desses modelos, quantificações de estimativas de perdas na economia, na produção de energia e na saúde das populações são utilizadas para priorizar ações governamentais. Essas práticas tecnopolíticas com modelos podem ser compreendidas como "biopolíticas" pois são tentativas de tornar a vida dócil às intervenções governamentais calculadas. Nesse trabalho, pretendo discutir como projetos de produção de cenários climáticos para o Brasil produzem conhecimentos e percepções de vulnerabilidade regional que expressam a capacidade do Estado em "fazer viver" frente aos riscos antecipados. O processo de adaptação nesses projetos reflete uma preocupação com o futuro que é definida e transmitida através da tecnociência e apresentada como avaliações objetivas dos riscos. Tais avaliações são tecnologias biopolíticas que trazem um futuro potencial para o presente para organizar os fluxos da vida social. Através dessas tecnologias de governo, a questão da vulnerabilidade é progressivamente despolitizada em nível local e concentrada em uma cadeia de comando estatal que, em um nível programático, pretende gerenciar os riscos em termos de oportunidades e ameaças que as mudanças climáticas trazem. Nesses termos, a adaptação às mudanças climáticas é tratada como questões de segurança as quais devem ser planejadas e executadas estrategicamente pelo governo federal.
Um Panorama das Incubadoras de Empresa no Estado do Paraná, Brasil.
Jean Elizeu Sauka (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), Hélio Gomes de Carvalho (Universidade Tecnológica Federal do Paraná)Grupo Temático: Gestão da Tecnologia e Inovação nas Universidades Latinoamericanas
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Os ambientes que propulsionam a inovação têm se apresentado como subsídios importantes no desenvolvimento de novas empresas. As questões sobre a discussão de inovação em incubadoras de empresas crescem gradativamente tanto na literatura como nas aplicações práticas das empresas, onde a inovação vem sendo construída ao longo dos tempos e demonstrando modificações em suas demarcações e adicionando novas ferramentas. As incubadoras de empresas possuem um mecanismo de apoio que prospera como resultado o alcance de empreendimentos capazes de alavancar novas oportunidades de inovação. O presente artigo tem por objetivo apresentar um panorama do viés de sistema de incubação de empresas no Estado do Paraná, Brasil. Para a realização desta pesquisa, realizou-se um estudo de campo englobando um conjunto de incubadoras de empresa de base tecnológica alocadas em instituições de ensino superior e centros de pesquisa, todas pertencentes ao setor público. A coleta de dados deu-se início através do levantamento de dados secundários sobre as incubadoras de empresas de base tecnológica a serem pesquisadas e em seguida aplicou-se um questionário com questões estruturadas sobre cada incubadora ativa identificada no Estado do Paraná, ressaltando os setores de atuação de todas as empresas incubadas. Com as informações fornecidas pelos gestores das incubadoras, construiu-se um panorama geral apresentando os segmentos de produção das empresas incubadas, que diversificam tanto na área de desenvolvimento de produtos como em prestações de serviços. Ao final da pesquisa, constata-se um crescimento na procura de empresas pelo apoio ofertado pelas incubadoras de empresa de base tecnológica, ressaltando que a gestão da inovação torna-se um fator essencial na prática das empresas incubadas, capaz de aumentar o nível da competitividade empresarial, tornando a inovação em novos produtos e processos um diferencial no mercado.
Subjetividades juvenis: a Saga Crepúsculo e a legitimação do amor violento
Jéssica Caroline Pedrosa Pinto (Unesp), Alessandra Pedrosa Pinto (UNESP), Cláudia Dias Prioste (Faculdade de Ciências e Letras - UNESP Araraquara)Grupo Temático: Estudos CTS, Práticas Psi e Modos de Produção de Subjetividades
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Este trabalho foi pensado a partir de discussões no grupo de pesquisa “A formação do sujeito na era digital” que tem como objetivo explorar as problemáticas contemporâneas em relação à constituição subjetiva nos entremeios digitais, tomando por base as referências da Psicanálise e da Teoria Crítica. Nos estudos sobre a atualidade da mistificação cinematográfica nas subjetividades juvenis, identificou-se a “Saga Crepúsculo” como uma versão paradigmática de manipulação das fantasias femininas. Além da análise de todos os episódios, procuramos apreender os fatores que atraíram um grande número de adolescentes ao filme, para isso, realizou-se uma coleta de comentários em sites de cinema. O enredo da saga aborda a história de Bella, uma jovem de 17 anos, de classe média, que se sente deslocada no ambiente escolar e é seduzida por um jovem rico, bonito e misterioso. No primeiro filme há uma tensão relacionada à proibição do namoro devido ao fato de ele ser vampiro. Em todos os episódios Edward exerce o papel de salvador e protetor, mas ao mesmo tempo impõe um modo violento de se relacionar, expresso em uma série de comportamentos sádico-masoquistas. Durante os episódios Bella é disputada por Edward, o vampiro, e Jacob, o lobo. Ao final, casa-se com o vampiro e tem uma filha que será companheira afetiva de Jacob. A Bella frágil e mortal se transforma em uma vampira poderosa e dotada da eterna juventude. O fascínio que o filme exerceu entre as adolescentes parece-nos decorrente de um ideal de amor verdadeiro e incondicional. As fantasias de proteção e de juventude eterna também são muito evidentes, contudo o filme parece legitimar relações violentas justificadas por um suposto amor e proteção. Além disso, enfatiza a relação entre um homem maduro e uma adolescente. Bella se apaixona pelo vampiro centenário e bem experiente, sua filha ainda bebê é destinada ao velho lobo. Adorno e Horkheimer observaram o papel do cinema na formação de estereótipos e também na atrofia da imaginação, homogeneizando as fantasias no sentido de uma inércia do sujeito diante do que considera um destino. Sob a perspectiva da psicanálise as fantasias experimentadas nos dispositivos televisuais podem contribuir para formar uma visão de mundo, cujas referencias inconscientes podem interferir nas escolhas pessoais das adolescentes e na capacidade de interpretação de sua realidade.
Convocando o “Parlamento Ambiental” brasileiro: o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e a teoria ator-rede
Jéssica Garcia da Silveira (Universidade de São Paulo - USP)Grupo Temático: Pedra, planta, bicho, gente... coisas: encontros da teoria ator-rede com as ciências ambientais
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O objetivo deste trabalho é analisar a construção do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, e sua atuação na institucionalização das políticas ambientais no Brasil, que se consolidou com a criação do Ministério do Meio Ambiente (1992). Através da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei Nº 6938), em 1981, o CONAMA foi o primeiro conselho consultivo e deliberativo habilitado a legislar sobre a questão ambiental, a nível nacional, e por essa razão foi intitulado por seus fundadores como o Parlamento Ambiental brasileiro. Em atividade desde 1984, o CONAMA reúne em sua composição: políticos, engenheiros, industriais, técnicos e ambientalistas. Para analisar a trajetória de negociações entre os diversos atores envolvidos na construção das políticas ambientais, através do CONAMA, o referencial teórico-metodológico utilizado é a teoria ator-rede (em inglês, Actor-Network Theory – ANT), de Bruno Latour e Michel Callon. A partir de sua composição híbrida, o CONAMA é observado como o local onde ciência, política e natureza confluem na construção institucional do meio ambiente no Brasil.
Tecnologías en configuración: La intervención en Chile del sujeto adolescente, infractor y adicto
Jimena Soledad Carrasco Madariaga (Universidad Austral de Chile)Grupo Temático: Estudos CTS, Práticas Psi e Modos de Produção de Subjetividades
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En Chile, desde comienzos de la década de los noventas se da lugar a diversos planes de seguridad ciudadana en respuesta a la preocupación creciente de la población por el problema de la delincuencia (Pincheira, 2014). Como parte de este proceso, en 2007 entró en vigencia la Ley 20.084 que establece un sistema de responsabilidad especial para los adolescentes entre 14 y 17 años que violen la ley penal. Además las sanciones pueden tener una pena accesoria de tratamiento y rehabilitación por consumo problemático de sustancias, que será ejecutada por entidades públicas o privadas. Para esto el Servicio Nacional de Drogas y Alcohol (SENDA), dependiente del Ministerio del Interior, otorgará financiamiento y dirección técnica.
A partir de la implementación de la ley se generan una serie de dispositivos de intervención de jóvenes infractores de ley, en los que convergen, por un lado tecnologías carcelarias, como el encierro y acciones técnico jurídicas (Foucault, 1979); por otro lado, tecnologías de seguridad orientadas a gestionar la tasa de criminalidad (1978); y por último políticas de gestión de la vida de la población, o biopolíticas, orientadas a la protección de los menores de edad y el cuidado de su salud (1977).
A fin de responder a las necesidades específicas de esta nueva población objeto, entre los años 2013 y 2014, SENDA lleva a cabo un proceso de adaptación de un instrumento de intervención diseñado para población general: El Portafolio Metodológico de Competencias Para la Integración Social. La presente investigación analiza el proceso de adaptación de este instrumento desde una perspectiva de los Estudios Sociales de Ciencia y Tecnología: se considera como una tecnología de gobierno que tiene cierta agencia en el entramado de relaciones que constituyen los dispositivos de intervención (Muniesa et al. 2007). Para esto se analizan grabaciones de grupos focales realizados para el proceso de adaptación, y en los que participaron profesionales de intervención directa de distintos centros.
Se concluye que pese a los esfuerzos por adaptar el instrumento a la realidad particular, éste sigue teniendo una limitada agencia en los procesos de intervención. Se plantean posibles razones y nuevas preguntas de investigación.
Processos formativos mediados por tecnologias digitais em rede: a educação online em questão
Joana Peixoto (Insituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás), Cláudia Helena dos Santos Araújo (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Anápolis/Goiás)Grupo Temático: Tecnologia e mediações
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Uma das características marcantes da educação a distância (EAD) é a flexibilidade de tempo e espaço do processo de ensino-aprendizagem. Essa característica exige que a EAD seja mediada tecnologicamente a fim de cobrir a distância geográfica e, muitas vezes, temporal entre alunos, professores e instituições. Por esta razão, é comum pensar em desenvolvimento ou gerações de educação a distância em termos da tecnologia utilizada para abranger estas distâncias. Esta compreensão se apoia numa tendência tecnologicamente determinista e tecnocêntrica, que descreve e define a EAD com base nas tecnologias predominantemente empregadas. Refutamos o tecnocentrismo, no sentido de atribuir potencialidades pedagógicas às características técnicas dos artefatos utilizados. O uso dos recursos tecnológicos influencia os contextos educativos, mas os atores do processo de ensino e de aprendizagem não são inteiramente passivos. Assim, além de observar o que as tecnologias fazem com os sujeitos, é importante também verificar os que os sujeitos fazem com as tecnologias. Com base neste pressuposto, colocamos em questão a utilização do termo “educação a distância” e a maneira de definir esta que tem sido considerada uma modalidade de ensino. Para a compreensão das práticas pedagógicas mediadas pelas tecnologias, tal como a educação online, propomos o deslocamento de uma concepção tecnocentrada para uma concepção centrada no sujeito. Tal posição, coloca em questão o papel dos artefatos nas atividades humanas e afirma a importância de analisar estas práticas com base na pedagogia adotada. Assim, a educação online pode ser considerada a partir dos elementos constitutivos do trabalho pedagógico (com ou sem o uso de tecnologias): objetivos, conteúdos, métodos e formas de organização do ensino. Este artigo apresenta alguns aspectos da abordagem instrumental (Rabardel) tomados como referência para a compreensão do uso dos artefatos na educação online. Apresenta as contribuições desta abordagem para a análise da educação online em oposição a uma visão determinista que enfatiza os usos guiados pelos instrumentos e que dicotomiza as suas dimensão técnica e simbólica.
Caminhos para Adequação Ética de uma Ferramenta de Acessibilidade
João Sérgio dos Santos Assis (Universidade Federal do Rio de Janeiro), José Fabio Marinho de Araujo (Instituto Tercio Pacitti), Lucimeri Ricas Dias (Universidade Federal do Rio de Janeiro)Grupo Temático: Ciência e direito na coprodução dos fatos tecnocientíficos
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Resumo
A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) foi criada pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) para avaliar os aspectos éticos das pesquisas em seres humanos e coordenar a rede de Comitês de Ética em Pesquisa (CEPs) nas instituições, com as quais forma o Sistema CEP-CONEP. O objetivo do CEP é revisar os protocolos de pesquisa envolvendo seres humanos como forma de garantir a integridade destes. Segundo a Resolução nº 466/2012, atualmente em vigor, o pesquisador precisa, entre outras exigências, apresentar o Termo de Consentimento de uso de Imagem e de Voz em Pesquisa.
O Núcleo de Computação Eletrônica (NCE/UFRJ) tem uma longa tradição no desenvolvimento de artefatos de hardware e software. Já há alguns anos, parte de suas pesquisas tem sido direcionada ao desenvolvimento de sistemas que auxiliem portadores de diversos tipos de deficiência a utilizar o computador. Destes esforços surgiram os programas DOSVOX (voltado para cegos) e microFenix (voltado para portadores de deficiência motora grave). Como resultado deste direcionamento, tem crescido na instituição a preocupação em atender a estas resoluções.
Uma usuária do DOSVOX, portadora de uma rara doença degenerativa, procurou o NCE buscando uma forma de melhorar seu acesso ao computador. Esta usuária é portadora de mucopolissacaridose (MPS VII) e, por causa desta doença, tem a coluna e as mãos deformadas, não tem tato em seus dedos e é cega. Seu acesso ao teclado do computador é feito por meio de sua boca que ela utiliza como se fosse um dedo.
Pensando no problema desta usuária, o pesquisador Marcos Fialho desenvolveu um sistema híbrido do DOSVOX com o microFenix, cujo acionamento é realizado por movimentos de cabeça detectados por meio de um giroscópio. Para completar o desenvolvimento deste sistema de forma que ele possa ser livre distribuído como as demais ferramentas de acessibilidade da instituição é necessário realizar experimentos tanto com a usuária original quanto com outros portadores de deficiências semelhantes. Além disso, o pesquisador precisará dos relatos e imagens de seus usuários para incluir em sua dissertação. O artigo mostra os caminhos traçados pelo pesquisador para que seu trabalho esteja alinhado com os procedimentos da CEP-CONEP de forma que sua dissertação seja aceita.
Traditional medicinal knowledge and intellectual property rights
John Bernhard Kleba (ITA)Grupo Temático: Reflexões sobre Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: dimensões históricas, econômicas e sociais
Resumo
Is biopiracy a theft? If yes, there must be some violation against ownership. But what is owned to be misappropriated? The paper does not focus on the regulatory framework of the Convention on Biological Diversity but on the difficult relationship between traditional knowledge (TK) and intellectual property rights (IPRs).
I introduce the concept of traditional medicinal knowledge (TMK) entitlements and its uneasy relationship to IPRs in the field of medicines. In the first section I show why ownership matters, contesting positions for which issues of ownership either do not matter in justifying TK rights or that TMK is fundamentally opposed to patents. In the second section in order to illuminate the similarities and differences of the concepts of TK and IPRs, I begin by debating the fundamental opposition between the Western values of private property, individualism and free markets, represented in strong IPRs, and the non-Western values of ILCs grounded common property regulation and shared knowledge. Contrary to this opposition, I will argue that TK, understood as embedded and embodied knowledge, is a form of IPR, however, presenting tensions and contradictions. Elaborating on this rationale, a disagreement about the justification of IPRs in the pharmaceutical branch is presented. At the same time the moral and legal demands for TK entitlements represent a movement from below, an offensive in favor of poor inventors and creators against a legal system which has primarily privileged corporations. Finally I argue that the relationship between IPRs and TK is a very complex one, which is better represented in three possible ways: opposition, coexistence and complementarity. Whatever ideological coleur is advocated, there will be strong consequences for the options at hand for the indigenous and local communities as well as for policymakers.
Uma análise das interlocuções entre Neurociências e Educação a partir dos Estudos da Ciência
Jonathan Henriques do Amaral (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)Grupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
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Área que passou a se constituir recentemente, a Neuroeducação procura articular contribuições da Educação e das Neurociências, partindo do princípio de que a aprendizagem poderia ser aprimorada a partir do conhecimento de suas bases neurobiológicas. O presente trabalho – em andamento – visa a analisar, sob a perspectiva dos Estudos da Ciência, o processo de constituição dessa área, conhecendo os estilos de pensamento que têm se formado a partir de suas pesquisas e a forma como se estabelecem os diálogos entre Neurociências e Educação. Analisaram-se 57 artigos, em português, inglês e espanhol, publicados entre 2002 e 2014 e resgatados a partir do Portal de Periódicos da CAPES. Praticamente todos os trabalhos fazem referência à neuroplasticidade (capacidade que o cérebro tem de se modificar a partir das situações de aprendizagem a que um indivíduo se expõe), enfatizando que a compreensão do comportamento humano deve levar em conta as interações entre biologia e ambiente. Muitos autores manifestam preocupação com a disseminação, no campo educacional, dos “neuromitos” – informações supostamente baseadas em conhecimentos sobre o sistema nervoso, mas que careceriam de chancela científica. Teorizações tradicionais da Educação (e.g., a Epistemologia Genética) são ressignificadas, com base em saberes neurocientíficos: o que outrora era considerado “hipotético” passa a ser “comprovado cientificamente”. A maioria dos autores afirma que o diálogo entre Educação e Neurociências deve consistir efetivamente em um diálogo, e não na mera “imposição” de estilos de pensamento neurocientíficos à pesquisa educacional. Neste trabalho, compreende-se a emergência da Neuroeducação como consequência do expressivo desenvolvimento das Neurociências e da grande valorização de seus conhecimentos – daí o esforço em ressignificar teorias tradicionais da Educação com base em seu referencial, como se ele pudesse garantir maior legitimidade. Entende-se o surgimento da Neuroeducação como sintomático não só da crise das Ciências Humanas diante do atual estágio de desenvolvimento das Ciências Biológicas mas também dos questionamentos das fronteiras entre natureza e cultura. Argumenta-se que a Neuroeducação aponta um caminho para que Ciências Humanas e Ciências Biológicas repensem suas relações, estabelecendo diálogos mais profícuos, que não se limitem à mera realização de críticas ou denúncias.
La construcción de lo público y lo político en las políticas de cercanía. Siguiendo a los operadores sociales.
Jorge Chávez Bidart (Universidad Nacional de Córdoba), Pablo Piquinela Averbug (Facultad de Psicología. Universidad de la República)Grupo Temático: Políticas Públicas e Desenvolvimento Local: interveniências e interações entre tecnologia, sociedade e democracia
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Neurociência Computacional na Educação Brasileira – desafios e controvérsias
Jorge Juan Zavaleta Gavidia (UFRJ)Grupo Temático: Seguindo cientistas em ação - desafios metodológicos das ciências de dados e das neurociências em CTS
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O Entendimento do funcionamento do cérebro, embora ainda se constitua como um grande desafio para as neurociências tem contribuído substancialmente para a compreensão dos processos de aprendizagem. Isso se verifica, por exemplo, na quantidade considerável de novos estudos sobre as dificuldades de aprendizagem enfrentadas por crianças e jovens com problemas comportamentais e sociais. Neste sentido, ferramentas computacionais para a detecção dos transtornos de aprendizagem viram aliadas e conseguem elaborar diagnósticos mais precisos e objetivos. No entanto, ao introduzir uma ferramenta tecnológica para a elaboração do diagnóstico, levantam-se questionamentos sobre o esvaziamento do papel do pedagogo e do psicólogo, os especialistas que fazem este tipo de diagnóstico. Pedagogos e psicólogos também questionam a eficácia da utilização de ferramentas tecnológicas para identificar problemas que passam por análises subjetivas. Tendo em vista esses questionamentos sobre o uso da tecnologia como aliado na detecção dos transtornos de aprendizagem, este trabalho apresenta um estudo sobre linhas de investigações baseadas em redes neurais que considera a faixa etária de 9 a 18 anos com ou sem o Transtorno de Aprendizagem. O objetivo é demonstrar que as redes neurais possuem consistência ao lidar com os problemas de reconhecimento de padrões e se mostram eficientes na detecção precoce em portadores destes transtornos. Para que as redes neurais falem em defesa própria, utilizaremos a noção de porta voz introduzida por Bruno Latour em Ciência em Ação, onde “não há muita diferença entre pessoas e coisas pois ambas precisam de alguém para falar em seu lugar” e descreveremos através do estudo mencionado como as redes neurais são um forte aliado. Este estudo pretende contribuir com a área CTS, com uma abordagem ampla e diferenciada sobre o assunto.
As abordagens teórico-metodológicas dos trabalhos apresentados no V TEC SOC e no ESOCITE/4S e sua articulação com o campo da Educação CTS
José Carlos da Silveira (UFSC), Brenda Teresa Porto de Matos (Universidade Federal de Santa Catarina), João Paulo Ganhor (UFSC)Grupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
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Embora inúmeros artigos em torno dos Estudos Sociais da Ciência e da Tecnologia venham sendo contemplados em encontros, periódicos e livros vários, o esforço de mapear e enquadrar as vertentes manifestas hoje nesse campo de trabalho, acentuando as idiossincrasias latino-americanas e brasileiras, pode contribuir para situar aqueles que estão se inserindo nele, particularmente no âmbito da Educação CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade), e instigar os que já estão instalados a corrigirem desvios perceptivos e autenticarem suas convergências e desacordos.
Este trabalho objetiva, pois, apresentar a discussão propiciada pelos artigos apresentados nos últimos encontros TEC SOC (V) e ESOCITE/4S, realizados, respectivamente, em 2013 e 2014. A partir da análise dos textos dos GT’s de Educação CTS, busca-se apreender a perspectiva adotada, os referenciais teóricos e as metodologias propostas, sejam elas direcionadas ao ensino CTS, para as áreas de ciências em geral ou para as engenharias, sejam elas voltadas à aplicabilidade ao contexto social no interior do qual ou sobre o qual ocorre a “ação técnica” de engenheiros, físicos, químicos, biólogos, geógrafos, dentre outros.
A Educação CTS preza pela formação de profissionais éticos e socialmente comprometidos, que sejam capazes de negociar soluções para os problemas percebidos, de avaliar o impacto das intervenções sociotécnicas, de trabalhar em equipes multidisciplinares e de traduzir, em termos de requisitos de engenharia, física, biologia, etc., as diferentes demandas da sociedade.
Entretanto, como as visões estampadas nos artigos desses fóruns de debate operacionalizam, de fato, tal formação CTS, além de seu próprio discurso ou de suas intenções?
A implementação de disciplinas e conteúdos pertinentes ao acrônimo CTS nos cursos de graduação depara-se com grandes desafios, pois não se trata apenas de incluir as “humanidades” em seus currículos, para desenvolver um “espírito crítico” ou uma “consciência política”, como penduricalhos animando uma alma tecnicista, mas de possibilitar aos graduandos o acesso a conhecimentos substantivos acerca da realidade social em que irão agir, como caminho para a aquisição e desenvolvimento de uma consciência humanista alicerçada no fato de que a tecnologia é uma mescla de natureza e propósitos humanos.
Seguindo um pesquisador do Rio até o interior de Goiás
José Fabio Marinho de Araujo (Instituto Tercio Pacitti), João Sérgio dos Santos Assis (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Marcos Fialho de Carvalho (NCE - UFRJ)Grupo Temático: Seguindo cientistas em ação - desafios metodológicos das ciências de dados e das neurociências em CTS.
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Iporá, em Goiás, fica a 250 quilômetros de Goiânia. No dia 2 de abril de 2014, o pesquisador do NCE da UFRJ, Marcos Fialho, realizou uma grande viagem do Rio de Janeiro até esta cidade para se encontrar com Thamires Aguiar. Ela tem 19 anos e é portadora de uma doença rara: mucopolissacaridose (MPS VII). Por causa desta doença ela tem a coluna e as mãos deformadas, não tem tato em seus dedos e é cega.
Thamires é uma usuária frequente do computador com a ajuda de um artefato de software desenvolvido no NCE e utilizado por mais de 60 mil cegos no Brasil: o programa DOSVOX. Porém, ela não é uma usuária comum do DOSVOX, pois para ter acesso ao teclado do computador, tem de utilizar sua boca como se fosse um dedo.
O motivo da visita de Marcos foi mostrar a Thamires seu trabalho: uma modificação do DOSVOX que permite que este programa seja acionado por movimentos da cabeça do usuário. O novo sistema faz uso de um giroscópio que detecta movimentos de cabeça em quatro direções e envia para o DOSVOX na forma de comandos que normalmente seriam enviados pelo teclado: movimento do cursor para cima e para baixo, tecla ESC para retornar a um menu anterior e tecla ENTER para selecionar uma opção de um menu. Para que o sistema funcione a contento, alguns parâmetros de sensibilidade têm de ser previamente estabelecidos. Marcos havia calibrado o sistema a partir de testes com pessoas sem nenhuma deficiência. Em poucos minutos junto de Thamires, descobriu que o sistema não detectava seus movimentos. Os parâmetros tiveram de ser ajustados na hora e em pouco tempo ela já estava conseguindo usar o novo artefato.
Diversos atores foram mobilizados, realizando traduções e translações em seus interesses antes de convergir para este artefato. Inicialmente, Antônio Borges, pesquisador do NCE na área de acessibilidade e desenvolvedor de programas como o DOSVOX e o microFenix (software que permite que pessoas com deficiência motora utilizem o computador), viu na tese de mestrado de Marcos a possibilidade de ajudar pessoas como Thamires. Marcos, que trabalhava com interface cérebro-computador utilizando um dispositivo com um giroscópio embutido, criou um híbrido do DOSVOX com técnicas utilizadas no microFenix. O comitê de ética foi acionado para permitir novos testes, de forma que Thamires e outras pessoas com deficiência possam validar o novo artefato.
As Localidades Invisíveis da Saúde
José Marcos Silveira Gonçalves (UFRJ), Henrique Luiz Cukierman (Programa de Eng. de Sistemas e Computação-COPPE-UFRJ)Grupo Temático: Um olhar sociotécnico sobre o software
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A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) estabelece diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica e da Estratégia Saúde da Família (ESF). Destacaremos da PNAB alguns aspectos para a discussão do papel dos Sistemas de Informação em Saúde (SISs) como subsídio à ESF.
A PNAB apresenta um forte direcionamento à descentralização e à autonomia, induzindo a participação dos indivíduos como corresponsáveis pela gestão e continuidade do cuidado com a saúde de cada localidade.
O Art. 188 da Constituição Federal também destaca a “descentralização” e a “participação” da comunidade, ideias alinhadas à PNAB. Entretanto esse mesmo artigo utiliza os termos “sistema único” e “rede hierarquizada”, que apontam para uma visão centralizada e totalizante (único), com estrutura de dependência entre as partes (hierarquizada). Esses conceitos parecem conflitantes com a ideia de autonomia e de respeito à especificidade local, pois para manter uma estrutura única, é preciso forte padronização de valores, práticas e controles.
Ao longo dos 25 anos de SUS, a maioria dos municípios brasileiros, seguindo a descentralização, já adotou o modelo de Gestão Plena, onde a prefeitura assume a organização dos seus serviços locais de saúde. Mas muitos especialistas acham que essa descentralização foi excessiva, gerando um caos ingovernável. Entendemos que os conflitos entre controle x autonomia, padronização x especificidade, unicidade x multiplicidade, centro x periferia são fundamentais para compreender o que se discute neste artigo: um SIS que apoia as atividades da ESF numa região do município do Rio de Janeiro. É possível conceber um SIS que sustente um padrão totalizante, atendendo às necessidades de informação do SUS, e, ao mesmo tempo, que tenha flexibilidade para tratar as diversidades de cada local?
O artigo pretende iluminar esse conflito também à luz do livro de Italo Calvino As Cidades Invisíveis, no qual o viajante Marco Polo narra ao imperador Kublai Khan as viagens que fez pelos domínios do soberano e os detalhes das inúmeras cidades que cruzavam o seu caminho. O reino de Kublai Khan é tão extenso que ele não enxerga mais nem onde o império termina nem suas fronteiras. E as cidades que fazem parte dessa vastidão, que parece tender ao infinito, se tornam invisíveis para o soberano que, distante da periferia, ocupa o centro do império.
Implementação da vacina HPV no Brasil: Diferenciações entre a comunicação pública oficial e a imprensa midiática e seu reflexo nas coberturas vacinais
Josemari Poerschke de Quevedo (Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas), Adriana Moro Wieczorkievicz (universidade federal do paraná), Myrrena Inácio (Universidade Federal do Paraná), Noela Invernizzi (Universidade Federal do Paraná)Grupo Temático: Riscos e controvérsias científicas: teorias e estudos empíricos
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Esta comunicação discute a implementação da vacina HPV no Brasil, a partir de uma abordagem entre as diferenças na comunicação pública de governo e a comunicação midiática da imprensa. A vacinação foi implementada pelo Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde. A campanha prevê um processo de três doses, das quais as duas primeiras já foram realizadas, em março e setembro de 2014. De caráter complexo, a política pública tem como público alvo meninas de 9 a 13 anos e vem provocando controvérsias devido a possíveis efeitos colaterais e a públicos críticos à vacina. Além disso, na comunidade médica não há consenso sobre a segurança da imunização quanto aos riscos à saúde das adolescentes. Neste contexto, analisam-se as estratégias de Estado para implementar a inovação, qual foi a repercussão pública à campanha e como o público crítico reagiu à vacina. O corpus é formado por argumentos da publicidade oficial da campanha na aplicação da 1a e 2a doses e de notícias da imprensa. De forma complementar a essas fontes de informação documentais, visando esclarecer algumas questões técnicas da campanha, foi realizada uma entrevista focal com a coordenadora da campanha do HPV em Curitiba-PR. A metodologia consiste em análise de conteúdo referenciada em categorias provenientes da bibliografia específica. A discussão se dá a partir do conceito de comunicação pública, no que tange à permeabilidade do Estado a controvérsias; e do conceito de tradução proposto pelos estudos sociais da ciência. Verifica-se que a comunicação oficial enfocou a divulgação procedimental da vacina, enquanto a mídia expôs a controvérsia sobre a imunização e seus possíveis riscos e outras implicações, na realização das duas primeiras etapas. Salienta-se que, embora a comunicação de governo tenha sido refratária às dúvidas na 1a etapa, a meta de 80% na maioria dos municípios foi atingida devido à operacionalização da vacina nas escolas. Em contrapartida, na campanha da 2a dose houve tentativa, de parte da campanha governamental, em responder a questionamentos surgidos na 1a fase, sem considerável sucesso, mas a estratégia de vacinação nas escolas – adotada na 1a fase - não se repetiu. Ademais, há relatos sobre efeitos controversos que surgiram com maior evidência, culminando na redução do alcance da campanha na maioria das cidades e, por consequência, não correspondendo à meta esperada.
Cromismo e anacronismo nas esculturas gregas: o ressuscitar da cor na antiguidade clássica
Josie Agatha Parrilha da Silva (UEPG), Anselmo Rodrigues de Andrade Junior (Universidade Estadual de Ponta Grossa)Grupo Temático: Ciência e Techné na História
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A pintura caminha de mãos dadas com o homem desde os primórdios do tempo, são frutos dos seus primeiros registros artísticos, elaborados nas paredes das cavernas por caçadores primitivos. Nessa ótica observa-se a conexão homem e pintura em todo decorrer da história da arte. No entanto, quando imaginamos a escultura grega pensamos na imagem sem cor, apenas no mármore puro. Isso ocorre porque na maioria dos livros de história da arte encontramos análises quanto ao estilo, às formas e aos materiais utilizados, sem quase nenhuma referência à questão das cores, o que induz ao entendimento que os gregos, ao esculpirem o mármore, os deixavam na cor natural. As questões que se levantamos sobre esse tema são: as esculturas não recebiam pigmentação? Os estudiosos de arte teriam negligenciado a utilização das cores nas esculturas da Antiguidade Clássica? O segundo questionamento pode ser parcialmente respondido com outro: seria negligência ou apenas falta de equipamentos e materiais adequados para uma analise onde a utilização da cor pudesse ser percebida? A partir destas discussões a presente pesquisa tem como objetivo apresentar novos estudos sobre as pinturas originais nas esculturas gregas da Antiguidade, em especial, as esculpidas no mármore, demonstrando as técnicas e pigmentações. Em visita ao Museu da Acrópole e ao Museu Arqueológico Nacional de Atenas Museus de Atenas observamos que algumas esculturas gregas apresentam resquícios de pintura e algumas estão sendo estudadas e reproduzidas como pintadas na cor original. Tal trabalho foi possível graças às novas analises nas esculturas realizadas com investigação dos pesquisadores com infravermelho e espectropia de raios X. Anteriormente era difícil definir com certeza a cor que era utilizada nas esculturas com uma observação, mesmo que minuciosa, dos restos de pigmentos - a mistura dos pigmentos utilizados e o tempo os distanciavam da tonalidade original. Por isso a importância do entendimento dos materiais para a confecção das tintas utilizadas com essas novas técnicas, para que essa aproximação da tonalidade original destas esculturas. Tais técnicas aproximam tecnologia, arte e ciência, resultando em novas descobertas das cores nas esculturas gregas da Antiguidade.
A controvérsia científica nos veículos de comunicação de grande circulação e especializados: um estudo sobre a cobertura das células-tronco do cordão umbilical e placentário
Juliana Michaela Leite Vieira (UFMT), Dolores Galindo (UFMT)Grupo Temático: Riscos e controvérsias científicas: teorias e estudos empíricos
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Este trabalho constitui-se de um recorte da minha dissertação de mestrado no qual analiso o tema “A divulgação científica sobre células-tronco do cordão umbilical e placentário”. A pesquisa toma como objeto a divulgação científica sobre o tema nos veículos de comunicação de grande circulação e especializados. A coleta, armazenamento e pesquisa com o sangue do cordão umbilical e placentário tem tido um amplo debate pela ciência e imprensa, principalmente por apresentar a possibilidade de cura para diversas doenças como o Câncer, Parkinson, entre outros. O trabalho pretende analisar as redes que constituem a divulgação científica das pesquisas com células-tronco do cordão umbilical, a controvérsia no discurso científico e os dispositivos de biopoder nos desdobramentos das mediações e a constituição de actantes, suas negociações e estabilizações. Foi realizado o levantamento de uma série histórica, de 2002 a 2014, com quatro jornais de circulação nacional (Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, O Globo e Jornal do Brasil) e cinco especializados (Ciência Hoje Online, Revista Pesquisa Fapesp, Agência USP de Notícias, Agência Fapesp e Revista ComCiência) utilizando a ferramenta de busca por palavras-chave nos sites dos respectivos veículos. A pesquisa resultou em 301 matérias, reportagens e notas publicadas que mencionavam “células-tronco do cordão umbilical”. Das 301 matérias, 220 foram dos jornais de circulação nacional e 81 dos veículos especializados. Em síntese, os jornais de grande circulação se destacaram em divulgar a evitação do risco e a esperança de cura para doenças degenerativas produzindo o enquadramento de uma visão positiva da ciência e o benefício das pesquisas. Já os veículos especializados atuaram, ao modo do jornalismo de serviço, indicando o que vem sendo desenvolvido nas pesquisas e tratamentos. A cobertura nos especializados foi maior durante o período de aprovação da Lei de Biosegurança – Lei nº 11.105/05 e no julgamento no Supremo Tribunal Federal da ação penal, questionando a referida lei por permitir o uso de embriões humanos em pesquisas. Outro destaque é que, nas reportagens, o armazenamento do sangue do cordão umbilical e placentário em bancos públicos ou privados forma o epicentro de uma controvérsia que se ramifica em novas legislações, matérias jornalísticas e na mediação cada vez mais marcante das assessorias de imprensa.
Cinema, Mediação e Identidades : mulheres negras produzindo imagens-metáforas de si mesmas.
Júlio César dos Santos (Instituto Federal de Goiás)Grupo Temático: Tecnologia e mediações
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Este trabalho apresenta indagações que questionam os estereótipos da mulher negra, que vista por si mesma, através de um filme, põe em questão o "ser para o outro", assumindo posições de sujeita política, histórica, cultural e subjetiva, enfim, o "ser para si"- campo no qual as mulheres negras interpelam a sociedade contemporânea em seus fundamentos na luta feminista antirracismo. Ao representar-se através do cinema, uma mulher negra pode interferir diretamente no processo de construção de sua identidade como mulher e como negra e ao apropriar-se do cinema como tecnologia lhe confere papel de mediador de processos de representação, produzindo imagens-metáforas da negritude feminina, ou seja, simbólicos identitários que conduzem a uma poética visual marcada pelo engajamento.
Política de Cotas Raciais na Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Jussara Marques de Medeiros (UTFPR), Nanci Stancki da Luz (Universidade Tecnológica Federal do Paraná)Grupo Temático: Gênero, Ciência e Tecnologia: avanços e desafios
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Este trabalho discute, a partir de uma perspectiva de gênero, o impacto da política de cotas raciais (Lei n°12.711/2012) implantada, em 2013, na UTFPR. Essa análise será feita a partir de dados sobre ingresso e permanência de alunas e alunos nas engenharias e licenciaturas (Matemática, Física, Química) do Campus Curitiba. Considera-se que os cursos da área científica e tecnológica ainda permanecem com um corpo discente (e docente) predominantemente masculino e branco. A pesquisa foi realizada a partir dos dados do sistema acadêmico da instituição, buscando-se comparar dados de cotistas e não cotistas, ou seja, análise do perfil e desempenho acadêmico desses(as) alunos(as) e a mudança do perfil discente da universidade a partir da implementação da lei nº 12.711/212 na instituição.
Considera-se que as relações de gênero racializadas estão presentes no universo acadêmico e interferem no acesso, nos processos de escolha de um curso, nas relações pessoais e de aprendizado, na produção e reprodução de conhecimentos, na escolha de conteúdos e saberes trabalhados e na permanência dos(as) discentes na universidade, o que contribui para que cursos das áreas científica e tecnológica continuem sendo percebidos como espaços masculinos e compostos majoritariamente por homens brancos (corpo discente e docente). Aliado ao gênero, o conceito de raça, contribuirá para uma reflexão acerca da construção histórica da desigualdades e da discriminação racial e de gênero presentes no universo universitário e se esta realidade tem sido alterada a partir da implementação da política de cotas na instituição. Assim, busca-se verificar em que proporção esta política contribui para a igualdade de gênero e racial e sua efetividade para a democratização da educação e para um maior acesso e permanência de minorias na universidade e, em particular, para a maior inserção da mulher negra nos cursos de engenharia e licenciatura da UTFPR
Projeto de desenvolvimento e cooperaçao para gestao, conservacao e longevidade digital de arquivos historicos entre Guiné-Bissau, Cabo Verde, Moçambique e Brasil: relato de uma experiencia em processo.
Jamile Borges da SilvaGrupo Temático: Experiências contemporâneas em Antropologia da Ciência e da Tecnologia: etnografia, grandes projetos e escala planetária (ou não)
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As tecnologias digitais desenvolvidas para o trato com as instituições de memoria (arquivos, museus e bibliotecas) tem ofertado aos pesquisadores uma série de possibilidades para o trato com acervos, documentos e fontes históricas,facilitando o trabalho etnográfico e metodológico com uso de email,revistas online,arquivos digitais e museus digitais; todos oferecem novas oportunidades para a internacionalização de pesquisa e para a criação de novas possibilidades de curadoria digital (crowdsourcing) e compartilhamento de documentos(crowdsharing). No entanto, eles também colocam problemas e desafios à prática da pesquisa. No processo de construção do Museu Digital da memoria afrobrasileira, projeto do qual participo como coordenadora, me deparei com dois manuscritos originais de extrema relevância para a área dos estudos afro-diaspóricos. Estes documentos finalmente podem ser divulgados sob a forma de uma galeria no Museu Digital, por exemplo. O The Hale Manuscript" foi resultado da primeira missão folclore do Congresso dos Estados Unidos, organizado em 1848, em que o pesquisador ficou um ano no porto do Rio de Janeiro entrevistando escravos africanos, assim como a coleção de fábulas na língua iorubá compilado pelo linguista Lorenzo Dow Turner em Salvador em 1940-41. As duas coleções aqui listadas encontram-se nos Arquivos Nacionais do Instituto Smithsonian. Interessa-me tratar da história desses tipos de manuscritos e propor formas e métodos para a sua divulgação através de musealização virtual. Do mesmo modo, durante os anos de 2010,2011 2012 estive em Maputo, Guiné Bissau e Cabo Verde para uma serie de atividades de formação, intercambio e transferência de tecnologia com os Arquivo Histórico desses países para estabelecer consolidar a parceria entre esses países. Em termos operacionais objetivamos a formação e treinamento em técnicas de digitalização e conservação digital através de plataformas de crowdlearning via Internet, de funcionários dos Arquivos Históricos, realização de workshops, seminários de treinamento para uso de ambientes, plataformas de captura, preservação e digitalização de arquivos. Esse projeto é uma tentativa de descolonizar a memória dos povos africanos através da arqueologia e indexação de documentos e fontes e coleções para conservacao e longevidade digital da memória histórica desses países.
Relações entre Tecnologia e Sociedade : contribuições de Ortega Y Gasset.
José Rogério Vitkowski, Edson JacinskiGrupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
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Vivenciamos um processo histórico de profundas mudanças provocadas pelas transformações tecno-científicas. Compreender esses complexos fenômenos não é tarefa simples e demanda um esforço e a busca de referencias que pode ser desenvolvido com singularidade. Um desses pensadores, é o espanhol Ortega Y Gasset ( 1883-1955). A perspectiva teórico-metodológica assumida nesse texto, é de cunho cartográfico, de inspiração deleuziana e que nos sugere pensar a temática proposta como um exercício de pensamento potencializador. Ortega y Gasset, escreveu um conjunto expressivo de textos , designado pelo nome de "Meditação sobre a Técnica". Interessantes argumentos ontológicos podem ser destacados. O homem no universo é um ente, que se vê obrigado, se quiser a existir a estar em outro ente, o mundo ou a natureza. O homem ao estar- no- mundo, defronta-se com o fato de que o mundo a seu redor é uma intricada rede, tanto de facilidades como de dificuldades. O fenômeno mais radical é de que a nossa existência está rodeado tanto de facilidades como de dificuldades, o que dá seu especial caráter ontológico à realidade A existência humana, seu estar no mundo, não é passiva. É essa condição de vinculação e de não vinculação à natureza, que faz do homem uma espécie de centauro ontológico, cuja metade está imersa na natureza e outra transcende-a. O que o ser humano tem de natural se realiza por si mesmo, e não é problema, mas o que é extra-natural, depende da dimensão projetiva do homem . Essa condição do ser humano, faz dele próprio, algo de singular, um ente cujo ser consiste não no que já é, mas no que ainda não é, um ser que consiste em ainda não ser. No mundo da natureza prevalece uma ontologia da coincidência entre ser e coisa, enquanto no mundo humano isso não se dá efetivamente. Cada época, cada povo, cada indivíduo modula de forma diferente a pretensão geral humana. A vida, consiste em um problema para o ser humano, não para os demais entes do universo. Existir para o homem, não é existir, sem mais nem menos, como ser que é, mas é mera possibilidade. Para Ortega a vida não é contemplação, mas sim produção, fabricação, e porque essas circunstâncias o exigem, ela é também teoria e ciência. A vida é assim a descoberta dos meios para se realizar o programa que se é.
Sentidos sobre Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) no Rap nacional.
João Paulo Ganhor, Irlan von LinsingenGrupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
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Resumo
No intuito de contribuir com as investigações sobre as especificidades da Educação Científica e Tecnológica em contextos de periferias urbanas, neste artigo - que é parte de pesquisa em desenvolvimento no âmbito de mestrado acadêmico em Educação Científica e Tecnológica - discutimos a pertinência do Rap nacional na articulação de práticas pedagógicas mais significativas e sensíveis aos diferentes olhares sobre Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) que têm transpassado os diversos espaços escolares.
Para isso, primeiramente identificamos os grupos mais emblemáticos no cenário brasileiro, através das 9 primeiras edições da revista Rap Nacional, veículo de maior destaque e circulação no gênero. Foram selecionados os 10 grupos que mais vezes apareceram nas capas dessas edições. Em seguida, foram coletadas as discografias completas desses grupos, resultando em um total de 670 músicas. Atualmente, essas músicas estão sendo ouvidas individualmente na busca por pontos de deriva que, de alguma forma, se remetam às ciências e tecnologias e/ou suas relações com os grupos sociais. Dessa lista principal, serão selecionadas apenas àquelas músicas que se remetam diretamente à dimensões das relações CTS que serão, então, analisadas fundamentando-se na Análise de Discurso da escola francesa preconizada por Michel Pêcheux e nos Estudos Sociais da Ciência e da Tecnologia (ECTS).
Buscamos compreender como os sentidos emergidos no âmbito do Rap nacional podem contribuir para a explicitação de problemáticas próprias das relações da CT nesses contextos periféricos marcados por descaso e injustiça social, oferecendo gestos de deslocamentos interpretativos em relação aos sentidos dominantes. Esses novos olhares podem constituir rico material paradidático para elaboração e articulação de práticas mais referenciadas nas questões e espaços culturais desses contextos, buscando uma educação científica comprometida com processos socioinclusivos e democracia sociotécnica. Intentamos sustentar ainda a necessidade pedagógica, mas também política, de pensar esse recorte educacional do Ensino de CT em periferias urbanas, abordando suas particularidades locais, e que ele é consonante às atuais perspectivas emergidas das aproximações entre os ESCT e o campo que vem sendo denominado CTS latino-americano.
De objetos e técnicas à sistemas agroflorestais
Jhonatan Carlos dos SantosGrupo Temático: Pedra, planta, bicho, gente... coisas: encontros da teoria ator-rede com as ciências ambientais
Resumo
No presente trabalho são acompanhadas técnicas e objetos que proliferam em duas situações: 1. nas práticas de agricultores que trabalham com sistemas agroflorestais - SAFs nos municípios de Morretes e Antonina, no litoral do Paraná; 2. nas instituições que atuam no fomento de projetos junto a estes agricultores. Com foco no (re) surgimento de técnicas e objetos durante as atividades de implantação e manejo das áreas de Agroflorestas, a presente comunicação se apoia em conexões estabelecidas entre sujeitos e artefatos, materiais e imateriais, para compreender como se organizam os processos de desenvolvimento de desenhos de SAFs na região. Foram acompanhadas atividades de mutirão para implantação e manejo das áreas de Agroflorestas, capacitações e reuniões institucionais que serviram de substrato para a análise. As intencionalidades dos atores, suas experiências e as particularidades impostas pelo local, são aspectos considerados no surgimento de desenhos de Agroflorestas adaptados ao litoral do Paraná. Para tanto, noções da teoria do Ator Rede e da teoria da Atividade são mobilizadas buscando estabelecer relações das agroflorestas com as ideias de desenvolvimento territorial.
Onças e homens, ciência e política - é possível um mundo comum?
Joana Silva MacedoGrupo Temático: Pedra, planta, bicho, gente... coisas: encontros da teoria ator-rede com as ciências ambientais
Resumo
Conflito entre populações humanas e a fauna silvestre (Human-Wildlife Conflicts) é um ramo bastante desenvolvido do estudo da relação e partição de recursos entre homens e animais, e do conflito de interesses entre populações humanas afetadas negativamente pela fauna e conservacionistas. Felinos de grande porte são propensos a predar criações domésticas e, em alguns casos, atacar pessoas, e por consequência são perseguidos. Esforços têm sido feitos para recuperar populações reduzidas de felinos, como a proibição ou restrição de abates, criação de Unidades de Conservação e sensibilização da opinião pública. No entanto, esses animais continuam a gerar prejuízo e insegurança para populações humanas, que, por conseguinte prosseguem com abates. As discussões para a mitigação dos conflitos esbarram frequentemente em legislações rígidas e discursos ambientalistas, que muitas vezes não consideram a diversidade de situações e a vulnerabilidade das populações afetadas. Para tratar de uma questão que envolve não-humanos que têm agência e humanos com discurso controverso e assimétrico, é adequado fazer o esforço metodológico para superar a divisão entre natureza e cultura e incorporar a política na prática científica. Para tanto, tendo como estudo de caso a relação entre populações ribeirinhas e onças (Panthera onca e Puma concolor) nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, no Amazonas, a Teoria Ator-Rede foi usada como ferramenta teórico-metodológica. A proposta foi assumir a ontologia múltipla das onças, evidenciando as controvérsias no discurso do saber e da vivência tradicional e no repertório científico/conservacionista. Para por esses preceitos em prática, é preciso que os profissionais da conservação atentem para a importância do diálogo simétrico e procurem estar qualificados para incorporar a política nas suas ações. Não uma política impregnada da concepção moderna ocidental, subsidiada por verdades científicas estabelecidas à priori, mas antes uma política democrática, que consulte os envolvidos a despeito de seu aparato de leitura do mundo. É importante entender o ponto de vista de todos os envolvidos, incluindo os atores não-humanos, e ser capaz de considerar e entender crenças, medos, atitudes e necessidades. Assumir que as onças podem ser simultaneamente ameaça e ameaçadas é o ponto chave para a composição de um mundo comum.
Entre saberes e práticas populares no sul de minas gerais: geração de renda e tecnologias
João Francisco Sarno Carvalho, Adilson da Silva Mello, Carlos Alberto Máximo PimentaGrupo Temático: PROCESSOS TECNOLOGICOS E CULTURA: sociabilidades, saberes populares, assimetrias e meio ambiente
Resumo
Trata-se de pesquisa sobre os processos de geração de renda, em que se toma como referência as técnicas contidas nos saberes e práticas populares, fora da lógica presente na relação capital versus trabalho. A proposição é a de explicitar os modos e os fazeres populares para geração de renda na atividade de produção artesanal, especificamente das doceiras e artesãs das cidades de Maria da Fé, Piranguçu e Carmo do Rio Claro, localizadas no sul do Estado de Minas Gerais. Este esforço circunscreve-se às discussões realizadas no PPG em Desenvolvimento, Tecnologias e sociedade da Universidade Federal de Itajubá, em que se pauta por transcender as lógicas desenvolvimentistas e tecnológicas, para além daquelas vinculadas aos métodos hegemônicos privilegiados pelo modo de produção capitalista vigente. Dentro dessa perspectiva é que se objetiva apreender os modos de produção, as dimensões do humano e do não-humano, do material e do imaterial, contidos nas práticas estudadas. Do campo antropológico, a apreensão dos impactos dessas técnicas aos projetos individuais e coletivos de geração de renda, delimitados por um sistema de imposições tecnológicas, é que se pode ver traduzido as possibilidades e os limites das inserções econômicas e socioculturais desses grupos, por meio de observações das atividades de produção das doceiras e artesãs. Para registro das observações, realizadas de agosto de 2012 até dezembro de 2014, utilizou-se, apenas, o caderno de campo, com a predisposição de acompanhar: a elaboração dos objetos, as técnicas utilizadas, a origem dos ensinamentos ou das receitas, a quantidade de pessoas envolvidas, os modos de organização, a produção e os canais de vendas, enfim, o sentido e o significado do saber-fazer artesão. Considera-se que os saberes da produção artesanal contrapõem os modelos hegemônicos encontrados nas concepções de desenvolvimento e de tecnologia atualmente atrelados ao capital. Nota-se, para que o processo ganhe expressividade em termos de geração de renda, a necessidade de transcendência da lógica do modo de produção capitalista ao agregar como valor os saberes e práticas populares.
Políticas tecnológicas y gestión del conocimiento. Análisis de las políticas de radarización en Argentina entre 1948 y 2012.
Juan Martin Quiroga, Diego Sebastián AguiarGrupo Temático: Produção de conhecimentos e artefatos - Experiências interdisciplinares em design
Resumo
La presente ponenica tiene como objetivo analizar la historia de las políticas de radarización de Argentina desde 1948 hasta 2012 desde una perspectiva que integre elementos sociales y tecnológicos en la explicación, evitando así tanto el determinismo tecnológico como el social.
En la primera sección se presentan los iniciales desarrollos de radares en países desarrollados -mostrándose la creciente influencia de los radares tanto en el ámbito de la defensa como en el civil-; posteriormente en la segunda se realiza un análisis de las políticas estatales de radarización en Argentina desde 1948 hasta el año 2004, es decir las políticas t a para incorporar, gestionar, utilizar y desarrollar tecnologia radar en el país; en la tercera sección se analiza, por un lado, el Sistema Nacional de Vigilancia y Control Aeroespacial creado en el año 2004 y el rol que jugó en dicho sistema la Fuerza Aérea Argentina. Por otro lado, se analizan las diferentes tecnologías de gestión del conocimiento que implementó la empresa INVAP S.E. en el desarrollo de radares; y finalmente, en la última sección, se presentan las conclusiones preliminares.
El abordaje teórico integra conceptos de las teorías de análisis de políticas públicas y de gestión del conocimiento. La metodología incluye el análisis de documentos oficiales y entrevistas a funcionarios del Estado e ingenieros de INVAP S.E.
Movimento Social de Catadores de Materiais Recicláveis: Uma Pesquisa Bibliométrica
Juliana Soares de SouzaGrupo Temático: Programas de Pós-Graduação em Estudos CTS & políticas científicas e tecnológicas para inclusão socioprodutiva: um debate
Resumo
O objetivo do presente trabalho é demonstrar importância do tema estudado no Programa de Mestrado Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade Federal de São Carlos - SP, mediante pesquisa bibliográfica empreendida, tendo como objeto, pesquisas que empregaram os termos "Movimento Social" e "Catadores de Materiais Recicláveis" e seus respectivos correlatos, na base de dados CAPES, no período compreendido entre os anos de 2010 a 2012. Para isso foi indispensável conceituar ambos os termos. A pesquisa bibliométrica apontou para as peculiares das publicações e permitiu uma análise pormenorizada da justificativa sobre a importância da temática "movimento social", especificamente, de catadores de materiais recicláveis - o chamado Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis - MNCR, no campo científico. O referido movimento social busca organizar os catadores por todo o país, a valorização da classe sob os princípios da autogestão, ação direta, independência de classe, solidariedade de classe, democracia direta e apoio mútuo. O movimento que conta com mais de dez anos de luta, comemora resultados e vem organizando pessoas por todo o Brasil, mas ainda coexiste com a realidade dos catadores que trabalham em lixões e nas ruas em condições precárias. Porém, hoje os catadores têm sua voz ampliada e ouvida em vários espaços. O impacto dos problemas gerados pela globalização da economia, como o incentivo ás políticas econômicas neoliberais nos países latino-americanos ocasionou o surgimento de redes produtivas comunitárias. É o caso dos catadores de materiais recicláveis, que se agrupam em cooperativas e associações e recentemente em redes cooperativas. O MNCR tem grande influência na concretização e sobrevivência dessas redes, negociando financiamento e outras formas de subsídio, diretamente dirigentes de com órgãos públicos, especialmente os federais. Por sua contribuição inconteste, faz-se urgente o incentivo às pesquisas no campo CTS, aos movimentos sociais tais como este, como ferramenta de divulgação e reivindicação de direitos sociais, por ora renegados pela sociedade brasileira, cuja desigualdade social alimenta a exclusão.
Lei da Aprendizagem e a Proteção Integral no trabalho: mito ou realidade?
Janaina Cristina Buiar, Nilson Marcos Dias GarciaGrupo Temático: Saúde, Trabalho e Desenvolvimento
Resumo
São apresentados resultados de uma investigação sobre o direito à profissionalização e à proteção integral no trabalho estabelecido pela vigente Lei da Aprendizagem - Lei Federal nº 10.097, de 19 de dezembro de 2000, regulamentada pelo Decreto nº. 5.598/2005. Tomando como referência pressupostos de uma perspectiva histórico-crítica e pautando-se em resultados de processos investigativos realizados anteriormente, procurou-se explicitar não somente a contradição do movimento histórico, político, econômico e social da implantação dessa política pública, como também se buscou analisar se ela está ou não contribuindo para com a proteção integral do adolescente que realiza curso de aprendizagem profissional e que ingressa como trabalhador aprendiz no mercado de trabalho. Visando o entendimento desta dinâmica, num primeiro momento abordou-se a implantação das politicas públicas neoliberais e os impactos proporcionados a classe trabalhadora. Em seguida, apresentou-se o movimento histórico e substitutivo das políticas públicas que antecederam a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, que acabaram fundamentando o que está prescrito na vigente Lei da Aprendizagem. Dados obtidos em pesquisa empírica realizada em uma Instituição que tem atuado como modelo da aprendizagem, preconizada na legislação abordada neste estudo, indicaram haver uma contradição entre o exercício ao direito à profissionalização e à proteção integral quando se permite que adolescentes sejam inseridos precariamente no mercado de trabalho, consequentemente, deixam de viver a fase pertinente às suas idades, para se tornarem, precocemente, adultos produtivos.
(Des)encontros do software livre a caminho de uma possível transformação da sociedade
Josivan dos Santos MouraGrupo Temático: Tecnologia e mediações
Resumo
Esta comunicação é parte da minha experiência e interação com software livre. Ela tem como objetivo apresentar a trajetória política de (des)encontros do software livre (SL) com relação ao(s) conceito(s), barreiras e ações de disseminação dessa poderosa ferramenta agregadora de "sonhos" de combate no mundo dos excluídos. Para decorrer sobre esses temas partimos de uma análise crítica das tecnologias, sobretudo, das novas tecnologias digitais da informação e comunicação (NTDIC) a partir de uma leitura social, cultural onde elas estão amplamente inseridas. Nessa perspectiva, o SL também se encontra amplamente difundido. Hoje são inúmeros os combatentes que se engajaram na luta a favor do software livre, este se apresenta como uma das possíveis soluções tecnológicas na contemporaneidade com possibilidades de levar o acesso à informação para todos. Por conta disso, SL pode ser direcionado às camadas mais populares da sociedade no sentido de oportunizar a promoção da liberdade de acesso às tecnologias computacionais. Desse modo, o SL se insere no contexto das NTDIC, observamos que as NTDIC, de fato, têm possibilitado a criação de novos paradigmas, o que nos dá a certeza do quanto elas têm modificado o modo da sociedade se comportar e de ser transformada continuamente. Em particular, ousamos julgar que o software livre também oferece iguais alterações, sobretudo quando a problemática em torno das NTDIC se refere à democratização e universalização das tecnologias de modo geral para toda e qualquer sociedade. O SL por ser uma tecnologia "especial", isto é, diferenciada por está suplantada numa lógica de combate as assimetrias sociais, de aspectos libertários, pode contribuir com o desenvolvimento da sociedade criando uma corrente humana de ações para o bem-estar coletivo de milhões de pessoas. A partir desse prisma, é que esta comunicação se faz oportuna, primeiro face à emergência de haver na academia diálogos a respeito da dimensão do SL dentro da discussão emergente de inclusão/exclusão a partir do debate do acesso as tecnologias de forma irrestrita para todos. Segundo pela importância de ser apresentado o(s) conceitos) e ações, mas também, principalmente, as barreiras políticas que desemboca sobre a tecnologia especifica e emancipatória do SL.
Conhecendo os processos de interação na contemporaneidade: uma abordagem da configuração infanto-juvenil no espaço físico e virtual
Jaciana Marlova Gonçalves Araujo, Murilo Paiotti DiasGrupo Temático: Tecnologia e mediações
Resumo
O presente trabalho tem o objetivo de iniciar um diálogo interdisciplinar para comparar os processos de interação presentes entre os membros de um fã-clube (da obra de Rick Riordan) e seu desenvolvimento se dará em cinco etapas. (1) Será feita uma introdução sobre a vida e a obra dos autores Jacab Levy Moreno (considerado pai do Psicodrama e do Sociodrama) e Erving Goffman (interacionista simbólico de influência durkheimiana), abrangendo as influências em suas teorias, como o teatro e a filosofia pragmática. (2) Seguida de uma introdução dos conceitos chave em suas teorias, os quais serão utilizados posteriormente para apresentar os dados empíricos, e dar sustentação ao método. Para melhor exemplificar os conceitos, alguns exemplos literários serão utilizados. (3) Os conceitos apresentados pelos dois autores serão comparados demonstrando ora o complementar ora o antagônico (como os conceitos de papel, identidade, ator, etc.). (4) O método será composto por uma observação participante e uma etnografia, fruto da participação em uma reunião junto aos membros de um fã-clube infanto-juvenil denominado Vale Semideus na cidade de São José dos Campos-SP (os membros são provenientes de diversas regiões do estado de São Paulo, e de outros estados). Foram feitas entrevistas, além de fotografias e vídeos das atividades da reunião (ocorrida em 17/11/2015, das 11h às 17h) que contou com a presença de cerca de 200 jovens, os quais se organizaram pela rede social Facebook para a realização do evento (há um grupo na rede social com cerca de dois mil membros). Fora o encontro, também serão apresentadas algumas postagens (com diálogos e discussões entre os membros) realizadas no já mencionado grupo on-line. Também farão parte do contexto empírico breves trechos das obras literárias Percy Jackson & Os Olimpianos e Os Heróis do Olimpo (ambas do escritor Rick Riordan) que fundamentam o fã-clube, e são essenciais para que se entenda as atividades e as interações sociais. (5) A etnografia será analisada a partir da discussão dos conceitos fundamentais dos autores para que se interprete e caracterize a realidade social e psi do objeto empírico, e seus resultados. Tão importante quanto a realidade social, será a análise conceitual dos exemplos literários da obra literária que fundamenta o fã-clube e dão curso às atividades desempenhadas no encontro e na rede social Facebook.
Mapeando redes de longo alcance: Motores chineses, rios amazônicos, ribeirinhos em (transform)ação
Jorge Ricardo Coutinho MachadoGrupo Temático: Tecnologia e mediações
Resumo
O presente estudo, realizado mediante observação participante/entrevistas e conduzido por reflexões teóricas vinculadas ao Programa Forte da Sociologia das Ciências, mapeia uma rede sociotécnica estabelecida a partir da entrada na região das ilhas de Abaetetuba (município ribeirinho localizado no nordeste paraense) de motores de combustão interna portáteis, de pequenas dimensões e baixo custo utilizados, com rabetas longas, na propulsão de vários tipos de embarcações, em geral de pequeno porte, em substituição a remos, velas e motores fixos. A mencionada rede associa fabricantes chineses, importadores, revendedores de peças, motores e combustível, rios amazônicos, construtores de embarcações e comunidades ribeirinhas, conduzindo a novas relações sociotécnicas estabelecidas quando os moradores dessas comunidades passaram a abandonar uma rede local antes tacitamente estabelecida (teia de menor alcance, que associava elementos da natureza e da cultura essencialmente amazônicos, como os regimes de marés, o fluir do tempo - e a consequente medida de distâncias - demarcado por fenômenos da natureza; madeiras locais e técnicas navais e de navegação tradicionais) aderindo a essa nova e mais extensa rede. O estudo problematiza as relações de força, negociações (no polo cultura e no polo natureza), mecanismos de adesão/persuasão e as consequentes ações adaptativas que modificam/modificaram as relações anteriormente estabelecidas pelos ribeirinhos com a natureza, o espaço geográfico, as formas de produção e de relações sociais, influenciadas a partir de então pela popularização da propulsão motorizada em larga escala que acabou por estabelecer as lojas de motores e peças, postos de combustível e certos estaleiros como pontos de passagem obrigatória na nova rede sociotécnica. O artefato tecnológico introduzido no meio amazônico como "caixa preta" aparece, assim, como mediador de novas relações das comunidades locais com o ambiente natural e cultural no qual elas estão imersas.
K
Ideologia de gênero no PNE 2010-2020
Kaciane Daniella de Almeida (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), Nanci Stancki da Luz (Universidade Tecnológica Federal do Paraná)Grupo Temático: Gênero, Ciência e Tecnologia: avanços e desafios
Resumo
Este artigo tem como objetivo analisar os discursos religiosos proferidos durante a tramitação do Plano Nacional de Educação (PNE) em relação ao que “vulgarmente” passou a ser chamada de “ideologia de gênero”. Para isso, serão considerados dados de sitios de entidades religiosas que propagaram informações contarias à abordagem de gênero e da discussão sobre orientação sexual no PNE. Sendo um documento que visa estabelecer metas para a educação a serem cumpridas em um prazo de dez anos, o PNE encontra-se referido no Art. 214 da Constituição Federal de 1988 regulamentado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB/1996 e aprovado pela Lei n° 10.172, de 09/01/2001, com vigência decenal, sendo responsabilidade dos municípios, estados e união. O primeiro PNE vigorou de 2001 a 2010, o novo plano que deveria ter entrado em vigência em 2011 a 2020 tramitou no congresso durante quatro anos tendo sua aprovação no segundo semestre de 2014. Em meio a uma série de debates que se instaurou em torno do PNE, destaca-se a repercussão do que ficou conhecido como “ideologia de gênero” - termo cunhado recentemente, que faz analogia pejorativa aos estudos de gênero. A proposta transitou entre a câmara e o senado diversas vezes, sendo que pressões de entidades em sua maioria religiosas e bancadas políticas conservadoras contrárias ao debate sobre os direitos LGBTs e a igualdade de gênero saiu vitoriosa. A influência dos discursos religiosos proferidos pela bancada evangélica e pela igreja católica tiveram alta repercussão, haja vista que o texto “a superação das desigualdades educacionais com ênfase na promoção da igualdade racial, regional, de gênero e de orientação sexual” foi suprimido e substituído por “a superação das desigualdades educacionais com ênfase na promoção da cidadania e na erradicação de todas as formas de discriminação”, mais genérico e que não explicita os grandes desafios da educação brasileira no sentido de efetivar a igualdade, representando assim um retrocesso no campo educacional, principalmente referente as discriminações de gênero e orientação sexual, uma vez que o espaço escolar encontra-se atravessado por múltiplos olhares e deve ser um espaço de encontro de diferenças e não discriminação, baseado no respeito e cidadania.
Mediações culturais na paisagem urbana: espaço de expressão, tensão e poder
Kando Fukushima (UTFPR), Marilda Lopes Pinheiro Queluz (UTFPR)Grupo Temático: Tecnologia e mediações
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A pesquisa versa sobre como se dão as mediações entre os cidadãos e o espaço público fora dos dispositivos institucionalizados de comunicação, particularmente no que diz respeito à comunicação visual. O ambiente urbano é um espaço onde podemos encontrar uma grande diversidade de representações de identidades culturais e posicionamentos políticos não hegemônicos. Este trabalho pretende investigar algumas das maneiras como ocorrem as apropriações de espaços da cidade para a manifestação de perspectivas não hegemônicas, pelo viés das pesquisas de Tecnologia e Sociedade.
Para isso, foram selecionados alguns artefatos visuais impressos, principalmente cartazes, espalhados pelo centro da cidade de Curitiba durante os meses de abril e maio de 2015, período de intenso debate social protagonizado por servidores públicos do Estado do Paraná. Através de registros fotográficos, os artefatos analisados são aqueles especificamente relacionados com temáticas sociais ou de expressão poética. Busca-se compreender como a produção de diversos grupos que interagem e constituem a paisagem visual da cidade e que comumente são ignorados ou abordados apenas como manifestações que estabelecem desordem, podem ser reinterpretados num contexto de exclusão política e cultural.
Conforme autores como Andrew Feenberg, devemos discutir questões sobre valores sociais, levando em consideração o estudo do horizonte cultural que é a base das modernas formas de hegemonia social. Trata-se de uma abordagem crítica que destaca a necessidade de recontextualizar os usos da tecnologia, da comunicação e das identidades visuais, desmistificando uma racionalidade técnica relacionada com uma ideia de eficiência e expõe a relatividade das escolhas técnicas/gráficas predominantes.
A partir dos conceitos de mediação (ou mediações) de Martín-Barbero (2008), pretende-se abordar os aspectos culturais, históricos e políticos presentes nas relações entre esses cartazes e as apropriações cotidianas do espaço público.
El enfoque CTS: entre la divulgación y la apropiación. Percepción social de la ciencia y la tecnología en ingresantes a la carrera de Ingeniería
Karina Cecilia Ferrando, Olga Haydee PaezGrupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
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L
Tecnologia e democracia nas experiências de resistência tecnológica dos movimentos sociais no Brasil
Lais Fraga (FCA/Unicamp)Grupo Temático: GT Ciência, tecnologia e inovação social
Resumo
Este artigo se insere no debate amplo sobre tecnologia e modernidade e parte da perspectiva de autores e autoras que, para além da crítica aos efeitos negativos da tecnologia, exploram as possibilidades de conectar tecnologia e democracia. Com esse intuito, o artigo explora as experiências de resistência tecnológica no Brasil inseridas em movimentos sociais organizados, a saber Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Considera-se que esses movimentos têm resistido a projetos tecnológicos e elaborado propostas alternativas de desenvolvimento tecnológico, embora tenham recebido pouca atenção tanto por parte de análises acadêmicas quanto de políticas públicas de tecnologia para a inclusão social. Nessa omissão, os estudos e políticas relacionados ao tema têm tido como foco a ideia de construção de alternativas tecnológicas associadas a artefatos pontuais e não a sistemas tecnológicos (HUGHES, 2008). Em oposição a essa visão da tecnologia, o artigo se ancora nas contribuições dos Estudos Sociais em Ciência e Tecnologia e nos debates por eles travados sobre tecnologia e democracia (FEENBERG, 2010; WINNER, 1992).
Para além da compreensão dos projetos tecnológicos de movimentos sociais organizados, o artigo buscou explorar essas experiências como possíveis embriões de democracia tecnológica e, como questão de fundo, elaborar um conceito de democracia tecnológica.
Bibliografia
FEENBERG, Andrew. Racionalização subversiva: tecnologia, poder e democracia. In. NEDER, R. T. (org.) A teoria crítica de Andrew Feenberg: racionalização democrática, poder e tecnologia. Observatório do Movimento de Tecnologia Social na América Latina/ CDS / UNB / CAPES: Brasília, 2010.
HUGHES, Thomas P.. La evolución de los grandes sistemas tecnológicos. In: THOMAS, Hermán; BUCH, Afonso (org.). Actos, actores y arctefactos: sociologia de la tecnologia. 1ªed. Bernal: Universidad Nacional de Quilmes, 2008.
WINNER, Langdon. (ed.) Democracy in a technological society. Dordrecht, Holanda: Kluwer Academic Publishers, 1992.
A Subjetividade e o Ciberespaço: a problemática da sociabilidade tecnototêmica e a dificuldade do Acontecimento comunicacional
Lauren Ferreira Colvara (UNIFEI)Grupo Temático: Estudos CTS, Práticas Psi e Modos de Produção de Subjetividades
Resumo
A visibilidade é o símbolo de status e poder na era digital devido à crescente ubiquidade das redes que potencializaram a natureza individualizada e competitiva da sociabilidade. Solidão e privacidade são ingredientes primários para a formação da personalidade individual Winnicott (1963), que defende que temos uma parte em nós que não deve ser compartilhada, tampouco comunicada; uma parte importante para a manutenção do si-mesmo. Observa-se o crescimento de certos “sensos comuns” que organizam tanto a organização da vida individual e quanto a realização da sociabilidade, ou seja, pautam a vida online e offline. Esse “senso comum” manifesto tanto nos usuários como nos arquitetos destas plataformas é que estar rede e compartilha seja comunicar. Esse entendimento é consequência da aplicação de um conceito raso de sociedade e de comunicação, diretamente relacionado à exposição da privacidade, à obrigatoriedade de ser visto e à matematização da comunicação: quanto mais se compartilha mais se comunica. A relação totêmica com a tecnologia é uma das configurações deste social. O tecnototemismo sintetiza a ambiguidade do refinamento da técnica, ocorrendo em simultaneidade à eclosão de manifestações arcaicas do sujeito em relação ao social. Ao compreender a comunicação como o ato de compartilhar e dividir informações, essa idealização de que o ‘tornar comum’ facilita o reconhecimento dentro desta teia (web) torna as plataformas digitais como um sinônimo empírico das relações sociais. Sendo assim, ignora-se o Acontecimento comunicacional (MARCONDES FILHO), ou seja, a comunicação como um fenômeno capaz de produzir sentido e como algo nem sempre realizado. Adicionada a esta questão, a sociabilidade deixa de ser uma experiência para se tornar uma representação, pois a inclusão nessas plataformas é a premissa para a existência social. Consequentemente, a competência social se desloca da capacidade de conviver na coletividade para o reconhecimento numérico digital, como uma necessidade de comprovação existencial por números de visitas, comentários, curtidas e amigos. Esta justaposição entre as relações sociais e a comunicação como compartilhamento de informações gerais é um ponto problemático a nosso ver, pois esvazia a subjetividade do sujeito, pois as experiências tornam-se mediadas e quase oníricas, e dificultam o Acontecimento da comunicação e a produção de sentido.
Mapeamento de campos de estudo em Ciências Humanas através de técnicas de análise de redes sociais e de textos
Leandro Batista de Almeida (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), Edson Armando Silva (Universidade Estadual de Ponta Grossa)Grupo Temático: Ciência e Techné na História
Resumo
A crescente disponibilidade de informações acadêmicas em repositórios, indexadores e bibliotecas virtuais e o aumento dos canais de divulgação científica levanta ao pesquisador um novo problema: selecionar os textos de artigos, livros e teses que dão contribuições para seu campo de estudo.
Este estudo apresenta uma metodologia que articula um conjunto de ferramentas em software livre que possibilitam montar as redes de relacionamento de autores que trabalham com um determinado assunto, calcular suas centralidades e, a partir do conjunto de citações agrupar esses autores em comunidades. Dentro de cada comunidade, outras ferramentas revelam aproximações teóricas, baseados nos resumos e títulos.
A metodologia é baseada em softwares de recuperação automática de informações a partir de padrões como o OpenArchives, ferramentas livres como o Zotero e serviços web como o Google Scholar. A partir das informações levantadas, essas serão tratadas com ferramentas de análise de redes sociais e grafos, ferramentas de análise de textos, e um software desenvolvido pelo grupo que coordena a execução das ferramentas externas, oferecendo uma interface única e consistente ao pesquisador.
No que diz respeito à análise, levando-se em consideração que as citações revelam, em principio, proximidades teóricas e conceituais, as redes de conceitos elaboradas automaticamente a partir de títulos e/ou resumos permite dar ao pesquisador uma idéia da perspectiva teórica que aproxima cada comunidade de autores, apontando possíveis caminhos de pesquisa, que, de outra maneira, exigiriam uma análise preliminar humana que seria morosa e extenuante ao pesquisador.
Dessa maneira o uso das modernas tecnologias modifica os procedimentos habituais dos pesquisadores das áreas de ciências humanas e sociais permitindo o tratamento de um imenso volume de informações, sistematizando o conjunto e permitindo a elaboração de critérios para as escolhas feitas na produção dos argumentos desenvolvidos.
Sobre as decisões do 2º Conselho de Estado no campo dos privilégios industriais: um estudo sobre tecnologia e propriedade no Império do Brasil (1842-1860)
Leandro Miranda Malavota (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)Grupo Temático: Reflexões sobre Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: dimensões históricas, econômicas e sociais
Resumo
Criado em 1823, o Conselho de Estado tinha como incumbência a prestação de auxílio ao monarca na arbitragem de conflitos sociais e na conciliação de interesses, criando instrumentos para a administração da coisa pública e definindo padrões para o exercício do Poder Moderador. Extinto em 1834 — em meio às medidas descentralizadoras que compunham o Ato Adicional — e posteriormente recomposto em 1841 — já em um contexto marcado pelo reforço das prerrogativas jurídico-políticas do governo central —, acumulou rapidamente força e prestígio dentro da aparelhagem burocrática do Estado brasileiro, expandindo sua esfera de atuação e assumindo progressivamente funções cada vez mais diversificadas. Dentre elas, inclui-se o pronunciamento quanto à conveniência e ao mérito da concessão de patentes a inventores, bem como a resolução de litígios que envolvessem a matéria. O objetivo deste trabalho é justamente efetuar uma análise das decisões tomadas pelo Conselho de Estado em tal campo. Tenciona-se, a partir da observação dos pareceres emitidos pelos conselheiros, identificar padrões de decisão, as distintas interpretações formuladas acerca dos dispositivos da Lei de Patentes de 1830 e, principalmente, os argumentos utilizados para deferimento ou denegação dos pedidos de privilégios. Sempre que possível, procuraremos estabelecer comparações com os padrões de decisão prevalentes em países como os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, onde a jurisprudência no campo da propriedade industrial já foi alvo de vários estudos historiográficos.
La Responsabilidad Social Universitaria (RSU) en la formación de ingenieros: ¿un nuevo campo para repensar la CTS?
Leonardo Costucica (Universidad Tecnológica Nacional, Facultad Regional Bs As), Karina Cardaci (Universidad Tecnológica Nacional, Facultad Regional Bs. As.), Milena Ramallo (Universidad Tecnológica Nacional, Facultad Regional Bs. As.)Grupo Temático: GT Ciência, tecnologia e inovação social
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La enseñanza de la ingeniería viene acompañando los cambios en el paradigma productivo y político, a nivel nacional, regional e internacional. La incorporación de la enseñanza de la ingeniería en el ámbito universitario es una novedad del siglo XX y está vinculada al modelo productivo ocurrido durante el segundo ciclo de acumulación del capital. El modo de producción industrial al que nos referimos se nutre de aquella cosmovisión, aún dominante aunque haya entrado en crisis. En este contexto, la enseñanza de la ingeniería viene siendo testigo de los procesos económicos y políticos acontecidos. Los actores universitarios son protagonistas de estas transformaciones, buscando dar respuestas, no sólo a las demandas del contexto sino a la reflexión sobre sí mismos. La Responsabilidad Social Universitaria (RSU) es uno de los aspectos del campo Ciencia, Tecnología y Sociedad (CTS). Este movimiento constituye un campo multidisciplinar centrado en las implicancias y consecuencias sociales, políticas, económicas, éticas y ambientales de la ciencia y la tecnología. En este escenario, cabe realizar una reflexión acerca de algunas de las características tradicionales de la ingeniería como disciplina emblemática del hacer técnico y repensarla como protagonista indispensable para contribuir al Desarrollo Sostenible (DS). Consideramos que la tecnología está condicionada no sólo por factores técnicos sino también por aspectos sociales y culturales, y el saber y los productos de la ingeniería no son socialmente neutrales. Entenderla desde esta concepción es introducir un cambio en la concepción tradicional de la ingeniería. Es propósito de este trabajo reflexionar acerca de los posibles cambios que esta nueva visión aporte al paradigma del DS y averiguar qué genera en la formación de los ingenieros. Consideramos que el campo CTS en la enseñanza de la ingeniería es fundamental porque da sentido a los conocimientos aprendidos por los estudiantes, potenciando su utilidad y funcionalidad fuera del aula; colabora a formar ciudadanos capaces de construir fundamentos propios y asumir responsabilidad social sobre muchos problemas actuales; contribuye a evitar rupturas drásticas entre la ciencia y la tecnología, favoreciendo las actitudes hacia su aprendizaje. La metodología adoptada se propone analizar la literatura especializada sobre esta temática en el área de educación superior.
Redes e disputas em torno da extensão rural no município de São Carlos
Leonardo Menezes (UFSCar)Grupo Temático: PROCESSOS TECNOLOGICOS E CULTURA: sociabilidades, saberes populares, assimetrias e meio ambiente
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O presente trabalho tem o intuito de discutir sobre a relação entre os conhecimentos científicos e os saberes locais, a partir da Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER). Como metodologia foi realizado um estudo de caso, no Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) “Santa Helena”, no município de São Carlos/SP, como parte de minha monografia intitulada: ““Viemos aqui para ajudá-los”: a ciência e o saber local em campo na extensão rural, um estudo de caso”. Observa-se que a ATER é um processo de avanço do capitalismo no meio rural, por meio do ensino e da transferência tecnológica e de saberes, nesse sentido, o trabalho apresenta autores como Vandana Shiva, Boaventura de Souza Santos e Hugh Lacey para debater sobre diferenças entre os conhecimentos científicos agrários e seus impactos em outras formas de saberes; trazendo também as teorias oriundas da educação e dos Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia, sobre o processo de extensão e de transferência do conhecimento, argumentando sobre as diferenças nas práticas extensionistas, a não-neutralidade do conhecimento científico, e os problemas acerca da transferência tecnológica e do conhecimento. A partir de do estudo de caso em questão, realizado através de entrevistas e acompanhamento de atividades dos agente envolvidos, criou-se uma tipologia dos modelos de ATER observados, na qual denominei de: empresarial-burocrática, profissionalizante, ambiental, e universitária; possibilitando uma comparação entre a racionalidade, a origens dos recursos, e as formas de articulação. Nossa principal conclusão, é a de que se formam redes entre os diferentes modelos de extensão, que perpassam instituições públicas, privadas, órgãos de pesquisa, sindicatos rurais e a comunidade, e que essas redes articulam discursos, estratégias e práticas para se efetivarem na transmissão do conhecimento.
Movimento migratório no sul do Brasil: o caso do haitianos na região oeste catarinense
Leonel Piovezana (Unochapecó - ACHJ), Sandra de Avila Farias Bordignon (UNOCHAPECO)Grupo Temático: Políticas Públicas e Desenvolvimento Local: interveniências e interações entre tecnologia, sociedade e democracia
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Este estudo de pesquisa apresenta a configuração dos movimentos recentes de migração haitiana no Sul do Brasil, especialmente na região oeste de Santa Catarina. Descrevendo as várias possibilidades de trânsito, o processo de mobilidade humana e as principais características de chegada e permanência dos haitianos e suas implicações na região. Expõe também o desenho do espaço geográfico e o movimento promovido pela migração atual. Nossos registros se baseiam em documentos e relatos de experiências encontrados em diversos materiais, bem como observação participante dos pesquisadores. A migração no país é uma constante em todas as épocas, apesar das políticas imigratórias terem sofrido mudanças ao longo de toda história, elas não foram acompanhadas de soluções de permanência e integração. No caso dos haitianos, que em 2010 sofrem uma calamidade ambiental, que intensificou o processo de migrar com um fluxo que vem se transformando em permanente. A falta de instrumentos legais de uma política migratória adequada faz com que a chegada desses imigrantes ao país se transforme em uma situação única, que coloca desafios para a sociedade brasileira. No caso específico dos haitianos, o Brasil aceita receber um fluxo migratório muito além de suas expectativas e, mesmo assim, não direciona uma política de imigração coerente. As consequências desse ato tendem a desumanização dessa população não atendida, que hoje vê no Brasil uma oportunidade, mas que sem as medidas adequadas, pode se tornar um problema.Com isso gera-se uma expectativa internacional de que o Brasil possa efetuar o acolhimento de um número expressivo de migrantes, podendo ser um problema a ser enfrentado pelos governos de todos os níveis e por diferentes atores individuais e institucionais. Os haitianos na região oeste de Santa Catarina - cidade de Chapecó chegaram no início de 2011 em um número muito restrito, eram 24, buscados para trabalhar na Empresa Fibratec. A configuração dos movimentos desses imigrantes na região aparece com três fluxos definidos: a busca de trabalhadores estrangeiros, realizadas principalmente pelo interesse das empresas; a presença das mulheres/esposas; e, de forma mais sutil, a chegada dos filhos dos imigrantes haitianos. Esses estudos fazem parte do início da pesquisa e da análise dos programas relativos à presença dos haitianos em nossa sociedade.
A dinâmica de gênero no corpo docente do Departamento de Matemática da UFBA
Leopoldina C.Menezes (NEIM-UFBA), Ângela Maria Freire de Lima e Souza (PROGRAMA DE PÓS-GRADAÇÃO EM ESTUDOS INTERDISCIPLINARES SOBRE MULHERES GÊNERO E FEMINISMOS)Grupo Temático: Gênero, Ciência e Tecnologia: avanços e desafios
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Dados estatísticos oficiais do IBGE entre 2002 e 2010 mostram que a força de trabalho feminina no Brasil esteve, em sua maioria, concentrada nas áreas de Educação, seguidas do Comércio (Quirino e Aranha,2011). Esta presença das mulheres na educação ocorre em todos os níveis, inclusive no Ensino Superior, podendo ser notada também na área das Ciências Exatas e Matemática. Considerando as discussões que temos construído ao longo dos últimos anos sobre a presença feminina nesta área específica no contexto dos estudos sobre Gênero, Ciência e Tecnologia, esse artigo tem como finalidade analisar quantitativa e qualitativamente a evolução do quadro docente do Departamento de Matemática da UFBA, no período de 1970 a 2012, numa perspectiva de gênero. Este intervalo de tempo compreende o ano da criação do Departamento de Matemática e o ano em que o estudo que originou este artigo se iniciou, no Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo.
No intuito de investigar as razões pelas quais na última década houve uma mudança expressiva na composição do corpo docente do Departamento quanto ao gênero dos docentes, o estudo quantitativo se inicia baseado nos dados coletados sobre transferências entre universidades e/ou unidades de ensino da própria UFBA e também sobre concursos públicos realizados no período. Esses dados foram levantados a partir da leitura de registros encontrados nas Atas da Congregação, Editais de concurso, Decretos e Diário Oficial da União. Entender o que ocorreu na UFBA, onde a quantidade de professoras era maior do que o de professores até 2003, invertendo o quantitativo após a realização de um concurso, é relevante, já que essa maioria feminina em uma instituição de ensino de matemática não era comum em instituições nacionais e internacionais.
(Re) normalizações e usos de si no trabalho: estudo de caso em uma indústria metal-mecânica.
Letícia Aparecida da Silva (Unifei)Grupo Temático: Saúde, Trabalho e Desenvolvimento
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Esta pesquisa possui como objeto de estudo a análise da complexidade das situações de trabalho dos operários do setor de produção de uma indústria metal-mecânica localizada no interior de Minas Gerais. Diante um cenário de profundas transformações no mundo trabalho, esses profissionais necessitam utilizar saberes práticos e/ou (re)normalizar as tarefas prescritas a fim de suprir as deficiências e preencher as lacunas das normas antecedentes, bem como fazer usos de si por si e pelos outros. Devido a isso, a pesquisa terá como aporte teórico a abordagem ergológica de Schwartz uma vez que estuda o trabalho a partir da atividade concreta de quem trabalha. Para tanto, utilizar-se-á como metodologia o estudo de caso visto que a pesquisa concentra-se em uma organização específica e pela relevância de estudar os fenômenos humanos em suas relações sociais. A coleta, análise e interpretação dos dados serão estruturadas por meio de observações das condições e modo de produção de trabalho e entrevistas semiestruturadas com dez operários distribuídos pelos três diferentes turnos de trabalho. Espera-se com este estudo aprofundar o conhecimento sobre o complexo universo da atividade humana no trabalho, bem como, correlacionar os conceitos existentes sobre desenvolvimento e tecnologias com foco no trabalho.
Antropologia Multi-situada e a Questão da Escala: notas com base no estudo da cooperação sul-sul brasileira
Letícia Maria Costa da Nóbrega Cesarino (UFSC)Grupo Temático: Experiências contemporâneas em Antropologia da Ciência e da Tecnologia: etnografia, grandes projetos e escala planetária (ou não)
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Como a antropologia pode abordar fenômenos transnacionais, dado que seu método e o tipo de conhecimento construído a partir dele foram originalmente estruturados com base no estudo de pequenas comunidades locais? A apresentação trata do trânsito entre escalas micro e macro a partir de uma das vertentes (meta)teóricas que têm sido propostas desde a “virada pós-moderna” nos anos 1980, inspirada na obra de Marilyn Strathern. Essa perspectiva, baseada no primado da relacionalidade e da reflexividade entre as duas faces do ofício do antropólogo (trabalho de campo e escrita etnográfica), aborda operações de produção de conhecimento rotineiramente empregadas tanto pelos antropólogos quanto por seus “nativos”, envolvendo o acionamento de escalas, contextos, domínios e analogias. O artigo buscará operacionalizar esse instrumental analítico no caso da cooperação Sul-Sul brasileira com o continente africano, entendida enquanto composição (assemblage) emergente marcada por esforços de produção de contexto e busca de robustez relacional.
Um Estudo em Representações Gráficas nos Jogos Eletrônicos na Perspectiva de Gênero: Os Tipos de Feminilidade em League of Legends
Letícia Rodrigues (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), Marinês Ribeiro dos Santos (Universidade Tecnolígica Federal do Paraná)Grupo Temático: Jogos digitais e suas relações com a Ciência, Tecnologia e Sociedade
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Este trabalho tem por objetivo explorar os aspectos das representações de gênero na cultura visual dos jogos eletrônicos/digitais. Seu enfoque principal é a análise das personagens presentes no jogo digital League of Legends e a identificação de quais tipos de feminilidades são privilegiados nestas representações, assim como os valores que estas escolhas reforçam no âmbito das relações de gênero. Para tanto, foram consideradas as ilustrações de 117 personagens disponíveis no jogo entre 2013 e 2014. Nos jogos digitais a cultura imagética mostra-se abrangente e relevante, as possibilidades artísticas de apresentar os diversos elementos visuais em um jogo são numerosas. No entanto, no desenho de personagens, ao utilizar-se das representações binárias de gênero para ilustrar corpos considerados “femininos” e “masculinos” o meio ainda utiliza-se de hierarquizações e estereótipos passíveis de perpetuar relações de poder e desigualdades sociais. As representações de personagens femininas adquirem então um caráter bastante específico, contando com atributos recorrentes que servem de indicadores para definir posições de sujeito em relação ao público consumidor de jogos digitais. Por meio da análise das estratégias utilizadas para representar as feminilidades das personagens presentes em League of Legends explora-se o panorama das relações de gênero nos jogos digitais. Os resultados da pesquisa são apresentados pela compilação quantitativa dos aspectos que constituem essas personagens como representações gráficas de feminilidade. Através desta pesquisa, busca-se apontar as complicadas relações de gênero no âmbito das comunidades de jogos digitais e como o recurso gráfico é utilizado como uma ferramenta para reiterar valores específicos a quem ocupa estes espaços. Procura-se também situar o papel político e ideológico de designers de personagens no desenvolvimento de jogos e a importância em assumir uma visão crítica e questionadora sobre as representações de gênero nos jogos digitais contemporâneos.
Perceber sem Ver: Oficinas de Experimentação Corporal com Pessoas Cegas e com Baixa Visão
Lia Paiva Paula (Universidade Federal Fluminense), Alexandra Justino Simbine (Universidade Federal Fluminense), Beatriz Pizarro dos Santos Lopes (UFRJ), Carolina Sarzeda Reis Couto (Universidade Federal Fluminense), Dandara Chiara Ribeiro Trebisacce (Universidade Federal Fluminense), Gabrielle Freitas Chaves (Universidade Federal Fluminense), Luana de Assis Garcia (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Raffaela Petrini de Oliveira (Universidade Federal Fluminense), Thais Amorim Silva (Universidade Federal Fluminense)Grupo Temático: PesquisarCOM e o feminino na ciência
Resumo
O objetivo desse trabalho é apresentar uma política de pesquisa no campo da deficiência visual. A pesquisa Perceber sem ver é realizada no Instituto Benjamin Constant através de Oficinas de experimentação corporal com pessoas cegas e com baixa visão matriculadas no setor de reabilitação dessa instituição. Nessas oficinas colhemos narrativas de pessoas que passam pelo processo de perda da visão e de criação de novas formas de viver sem ver. Os acontecimentos são colhidos e registrados a cada encontro em diários de campo, que são lidos e discutidos no grupo de pesquisa. Interessa-nos interferir no campo da deficiência visual a partir de narrativas construídas de forma situada e local, entendendo assim, que é apenas de um modo situado que se pode interferir e equivocar as concepções hegemônicas de cegueira. Não nos interessa apenas falar sobre a deficiência visual, mas produzir conhecimento com aqueles que passam pela experiência do cegar. Desta forma, a pesquisa se dá com o outro e não somente sobre o outro. Inspirados em autores como Martins e Favret-Saada, afirmamos que os encontros cotidianos de pesquisa são solos férteis para fazer proliferar outras versões de ver e não ver. É com este viés que apresentaremos uma das narrativas colhidas num destes encontros. Tais narrativas apresentam uma subversão dos estilos hegemônicos de conceber eficiência e deficiência, colocando em xeque a concepção de deficiência visual definida apenas pela ausência de uma função sensorial. Que outras versões de não ver podemos coloca em cena a partir desses encontros?
A cesariana e o controle tecnológico do nascimento: um estudo com mulheres do setor privado de saúde no Rio de Janeiro e São Paulo
Liana Carvalho Riscado (IFF-Fiocruz), Regina Helena Simões Barbosa (Instituto de Estudos em Saúde Coletiva/UFRJ)Grupo Temático: Estudos Sociais das Ciências e das Tecnologias em Saúde Sexual e Reprodutiva
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Introdução: Neste trabalho pretendemos colocar em questão a propensão cada vez mais ampla de acesso à cirurgia cesárea, que estaria associada a diversas intervenções tecnológicas no corpo. O Brasil se destaca no cenário internacional pelas taxas crescentes de utilização da cesariana, em especial no setor privado (Villar et al, 2007). Objetivos: Investigar a prática da cesárea dentro de um contexto sociocultural que valoriza e confia nas tecnologias - médicas e não médicas - como forma de controle. Metodologia: A abordagem teórico-metodológica utilizada é a análise de práticas discursivas e produção de sentidos (Spink e Medrado, 2013). Os sujeitos do estudo representam uma parte da amostra de mulheres participantes da pesquisa “Itinerários terapêuticos e a construção da decisão pelo parto cesáreo” (Bonan, 2013). A população do estudo é constituída por 42 mulheres que realizaram cesarianas no ano de 2011, em maternidades privadas da região metropolitana do Rio de janeiro e do município de São Paulo. As informações foram coletadas por meio de entrevistas abertas em profundidade (Minayo, 2010). Resultados: No cerne dos discursos está o valor do controle do corpo e da vida via tecnologias. Pretende-se controlar: a dor; a integridade corporal; os riscos de adoecimento e morte, pois se confia nas tecnologias médicas e nos obstetras; as expressões estéticas do parto e o tempo do nascimento, sendo a cesárea percebida como uma forma de nascer que possibilita um planejamento da vida. Considerações: A crescente prática da cesárea entre essas mulheres faz parte de um contexto sociocultural, econômico e político em que se valoriza a ideia de controle tecnológico do corpo e da vida (Rose, 2013). O ideário de controle é perpassado por forças materiais (Cardoso e Barbosa, 2012) e normas (Foucault) radicadas nos processos de (bio) medicalização (Clarke et al, 2003) e seus enredamentos com os processos do capitalismo neoliberal contemporâneo.
A política de saúde da pessoa idosa na Agenda de Prioridades de Pesquisa em Saúde: uma análise na perspectiva da Ciência, Tecnologia e Sociedade.
Lídia Bonfanti Anitelli (Universidade Federal de São Carlos), Márcia Niituma Ogata (Universidade Federal de São Carlos), Meliza Cristina da Silva (UFSCar), Wilson José Alves Pedro (PPGCTS - UFSCAR)Grupo Temático: Saúde, Trabalho e Desenvolvimento
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A transição demográfica brasileira aponta para uma profunda transformação política, econômica, social e cultural. A estimativa é que a população idosa triplique nas próximas décadas, passando de 20 milhões em 2010 para 65 milhões em 2050. As demandas emergentes deste processo impactam nas políticas e na gestão, bem como na dinâmica das organizações, programas e serviços e nas interações intersetoriais de trabalhadores, gestores e usuários. O objetivo desta comunicação é analisar aspectos da política de saúde da pessoa idosa a partir da Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde, tendo o campo CTS como lócus privilegiado desta reflexão. A partir dos aportes teóricos e metodológicos do campo CTS, caracteriza-se estudos em andamento, tendo a região geográfica do DRS III – Araraquara/ SP em análise. Participam deste estudo, profissionais e pesquisadores inseridos nesta região e que atuam na articulação, na formação profissional, na gestão e na produção de conhecimentos em saúde. Trata-se de um recorte das pesquisas em andamento, sustentado de revisão bibliográfica, cujos trabalhos de campo iniciaram (após aprovação do Comitê de Ética) e que aponta um caráter embrionário sobre as prioridades de pesquisa (idoso) na região, apesar de a Agenda estar em vigor desde 2005.
Tecnologia de inclusão social e geração de renda: trabalho emancipador
Ligia Bugelli Hermano Santos (USP)Grupo Temático: Saúde, Trabalho e Desenvolvimento
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Moda para vestir e para morar: As relações entre moda e decoração nas revistas Casa e Jardim e Casa Claudia
Ligia Cristina Battezzati (IFPR), Alan Ricardo Witikoski (Universidade Tecnológica Federal do Paraná)Grupo Temático: Produção de conhecimentos e artefatos - Experiências interdisciplinares em design
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Este artigo procura refletir sobre como os ícones da moda podem estar contidos em artefatos de decoração, assim como algumas características dos objetos do lar podem estar presentes nas roupas e acessórios. Para isso, são analisadas reportagens das revistas Casa Claudia e Casa e Jardim, especializadas em decoração de interiores, publicadas na primeira década do século XXI. As reportagens foram selecionadas a partir da presença de elementos textuais (textos, fotografias, ilustrações, etc.) que relacionassem tanto em peças do vestuário, como da decoração de ambientes. Entende-se a moda como um fenômeno da modernidade, que funciona como um mecanismo cíclico e impulsiona um consumo contínuo, tanto de elementos materiais, como nas roupas e objetos de decoração, como na produção de significados. Os artefatos utilizados para vestir ou adornar o corpo, assim como os objetos que compõem um arranjo doméstico, podem funcionar como estratégias de negociação, personalização e constituição de identidades. A partir de uma abordagem das teorias dos estudos culturais, como o circuito cultural, pretende-se mapear, nas matérias veiculadas, como os cinco aspectos (representação, identidade, produção, consumo e regulação) se enlaçam, não apenas para dar visibilidade a um determinado modo de se vestir, ou modo de decorar a casa, mas também para evidenciar os conflitos e sintonias nos discursos presentes nos artefatos que nos constituem.
Uma reflexão acerca da articulação entre a extensão e o ensino de CTS na construção de saberes dentro das universidades
Lígia Maria de Mendonça Chaves Incrocci (Universidade Federal de São Carlos), Thales Haddad Novaes de Andrade (Professor Associado)Grupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
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Os Estudos em Ciência Tecnologia e Sociedade (ECTS) têm se consolidado por intermédio de movimentos de delimitação que partem da interdisciplinaridade e da valorização do local. Esses preveem a quebra da dupla “Estado – academia” a fim de possibilitar uma formação voltada à inclusão social oriunda da participação da sociedade civil nos processos de decisão no âmbito da C&T (Ciência e Tecnologia), bem como da democratização do conhecimento. Neste sentido, o presente texto pretende refletir sobre como a articulação entre as políticas de extensão e o ensino de CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade) pode contribuir para a construção de saberes plurais no âmbito universitário. Para tanto, traz-se, de um lado, a extensão e seus três pilares: indissociabilidade, entre pesquisa e ensino universitários, a interdisciplinaridade e a ação transformadora das realidades tanto da comunidade, quanto dos atores envolvidos na prática extensionista. E, de outro, o ensino de CTS e a renovação educativa dos conteúdos curriculares, das metodologias e técnicas didáticas, por ele proporcionada. Considera-se que ambos, extensão e estudos de CTS, partem da abertura da C&T à sociedade e ao saber local. A metodologia do texto é composta pelas concepções teóricas de abordagem dos fatos selecionados para reflexão. E as considerações remetem à distância ainda existente entre as teorias dos ECTS e a realidade da indissociabilidade entre o ensino de CTS e a política de extensão nas universidades no que concerne à construção e democratização dos saberes.
Um olhar de gênero sobre as Engenharias e Licenciaturas da UTFPR e da UFBA
Lindamir Salete Casagrande (UFBA)Grupo Temático: Gênero, Ciência e Tecnologia: avanços e desafios
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O objetivo deste artigo é apresentar uma parcela dos resultados de uma pesquisa que foi desenvolvida para realização de estágio de pós-doutorado junto ao Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Estudos sobre Mulheres, Gênero e Feminismo – PPGNEIM da Universidade Federal da Bahia – UFBA. O objetivo desta pesquisa foi analisar a participação masculina e feminina nos cursos de licenciatura (Letras e Matemática) e engenharias (Civil e Mecânica) da UFBA e da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR. Buscou-se identificar as similaridades e os contrastes acerca dos quadros discentes destas duas instituições sob a perspectiva de gênero. Na primeira etapa da pesquisa fez-se um levantamento dos números de homens e mulheres matriculados nestas duas áreas do conhecimento nas duas universidades em questão. Na sequência partiu-se para a pesquisa qualitativa. Para tal optou-se pela entrevista virtual que se mostrou eficiente para a coleta de dados neste caso. Enviou-se por e-mail a todos/as os/as estudantes dos quatro cursos e dos três câmpus (UTFPR – Curitiba e Pato Branco e UFBA-Salvador) selecionados para a pesquisa, um formulário no qual apresentava-se um quadro para obtenção de dados sócio-econômicos e cinco perguntas abertas. A partir das respostas dos/as participantes foram elaboradas novas perguntas com o intuito de aprofundar a entrevista. Obteve-se a participação de 158 estudantes sento 75 homens e 83 mulheres. A análise dos depoimentos de moças e rapazes nos leva a concluir que os motivos que levam eles e elas a escolherem o curso superior não estão relacionados exclusivamente ao gênero. Percebe-se ainda que o meio universitário é hostil com quem ousa transpor os espaços que são vistos como destinados prioritariamente a homens ou mulheres. Essa hostilidade afeta mais mulheres do que homens. Outro fator importante a se ressaltar é que os/as estudantes mostravam-se otimistas com relação ao futuro profissional. A maioria afirmou que daqui a dez anos se via num bom emprego ou atuando como empresários/as. A continuação dos estudos também se fez presente nos depoimentos dos/as jovens. O resultado desta pesquisa poderá contribuir para realização de ações que visem incrementar a participação feminina nas engenharias e masculinas nas licenciaturas buscando a equidade de gênero nestas áreas do conhecimento.
Ciência, técnica e tecnologia em dicionários de Sociologia e Ciências Sociais
Lino Trevisan (UTFPR)Grupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
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A partir do pressuposto de Aroux (1992) de que o dicionário é uma tecnologia, consideram-se os dicionários de Sociologia e Ciências Sociais objetos históricos, instrumentos pedagógicos e testemunhos valiosos para a compreensão de interpretações sociológicas. Diferenciam-se os dicionários terminológicos dos dicionários de língua, pois estes últimos normalmente estão associados à sistematização e legitimação de um idioma, que é definido como uma língua nacional, estando, portanto, associados à questão da identidade nacional. Os dicionários terminológicos, como de Sociologia e Ciências Sociais, destinam-se a registrar definições ou acepções de conceitos e termos de uma área do conhecimento. O objetivo do trabalho é investigar a dicionarização dos termos ciência, técnica e tecnologia em 42 dicionários de Sociologia e Ciências Sociais publicados em doze países do Norte (Alemanha, Bélgica, Canada, Espanha, EUA, França, Holanda, Inglaterra, Itália e Portugal) e em 19 dicionários de Sociologia e Ciências Sociais publicados em oito países do Sul (Argentina, África do Sul, Brasil, Cuba, Hong Kong, Líbano, México e Singapura), totalizando 61 obras publicadas entre os anos de 1905 e 2010. Esta comparação objetiva identificar: i) quais obras dicionarizam os termos ciência, técnica e tecnologia; ii) se há diferenças significativas na incidência dos termos dicionarizados entre os dois grupos de obras; iii) semelhanças e diferenças nas definições dos termos presentes nas obras; iv) as temáticas mais frequentes nas respectivas definições. Pretende-se com esta comparação da dicionarização ou não dos termos objetos desta investigação e das definições presentes nos termos dicionarizados, identificar se há questões que apontem para especificidades regionais.
Eppur si Muove: uma crítica à tecnologia na educação
Lua Isis Braga Marques (Uiversidades de Brasília)Grupo Temático: Tecnologia e mediações
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Este artigo trata-se das novas tecnologias digitais para informação e comunicação inseridas na questão educacional das instituições de ensino. Em todos os níveis elas podem seja escola ou universidade, consideradas como caixas pretas, no qual, seu código técnico encontra-se fechado, aproximando o aparelho escolar locais pouco criativos ou abertos para experimentações e ensaios. como situar este tipo de escola diante da incorporação de novas tecnologias digitais para informação e comunicação? a maioria dessas instituições, no seu agir educacional vem buscando o uso destas tecnologias. não está determinado que elas sejam tratadas como parte da caixa preta convencional. abrem-se possibilidades diversas, em especial no ambiente de rede, que possibilitou um modo diferente de adquirir conhecimento e de troca de experiências. diante deste contexto, analisamos neste artigo como e por que a ética e a filosofia hacker (dos que rompem caixas-pretas), pode ser um deslocamento, analogia ou metáfora para modelos educacionais que podem vir a utilizar a colaboração e a liberdade como preceitos educacionais fundamentais.
Há controvérsias científicas na Prova do ENEM? Contribuições dos Estudos CTS à Educação
Lucas Alexandre Debatin Maurici (UFSC)Grupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
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O presente estudo tem por objetivo analisar as questões da prova amarela do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) de 2013, da área Ciências da Natureza e suas Tecnologias, mais especificamente às questões relacionadas à disciplina de Física, e identificar a presença ou não de temas que envolvem controvérsias científicas, a natureza dessas controvérsias, que conteúdos são favorecidos e o que elas contribuem para uma educação emancipadora. Tem o intuito também, de evidenciar a contribuição dos estudos das controvérsias científicas no Ensino de Ciências de forma a ampliar a visão dos alunos sobre as relações entre Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), tema este que tem se manifestado nas mais diversas esferas educacionais. Entendemos ser de extrema importância para o processo de construção de uma cidadania sociotécnica, que a educação científica e tecnológica considere e explicite as dimensões econômica, política, social e cultural constitutivas da ciência e da tecnologia. A partir desta perspectiva de superação do paradigma da racionalidade técnica, o estudo de controvérsias científicas no âmbito de Ensino de Ciências permite ao educador trabalhar sentidos sobre as ciências, e não apenas sentidos e significados das ciências. Para a análise das questões do ENEM utilizamos como parâmetro as seguintes questões: 1. Que visões de ciência e tecnologia estão explicitamente/implicitamente circulando na questão? 2. A questão é interdisciplinar? O que indica isso? 3. Que temas/conteúdos estão sendo privilegiados? 4. A questão é contextualizada? de que forma? 5. É formativa? diagnóstica? sumativa? As análises prévias demonstraram a inexistência de questões que abordam temas de controvérsia científica. Pudemos perceber que as questões, predominantemente, não prezam pela interdisciplinaridade. Os conteúdos privilegiados são bastante técnicos e específicos da área da Física, não abrindo espaço para o diálogo com outras áreas do conhecimento. As contextualizações, por sua vez, pouco influenciam na resolução das questões. Ainda que a pesquisa esteja em fase inicial, há claramente uma visão de ciência positivista que silencia as dimensões sociais que influenciam a construção de conhecimento científico. Podemos questionar então a relevância da prova do Enem e sua contribuição para uma educação crítica.
Gênero, Ciência e Tecnologia: Estado da Arte a partir de periódicos de gênero
Lucas Bueno de Freitas (UTFPR), Nanci Stancki da Luz (Universidade Tecnológica Federal do Paraná)Grupo Temático: Gênero, Ciência e Tecnologia: avanços e desafios
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Este artigo apresenta uma reflexão sobre o estado da arte dos estudos sobre gênero, ciência e tecnologia no Brasil, a partir de uma pesquisa bibliográfica, de caráter inventariante, descritivo e analítico, tendo artigos científicos sobre a temática, publicados em quatro periódicos brasileiros da área de gênero, desde o ano 2000, como objetos de estudo. Os periódicos escolhidos para análise são: Cadernos de Gênero e Tecnologia, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Cadernos Pagu, da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Estudos Feministas, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Revista Feminismos, da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Buscando a objetividade dos paradigmas tradicionais do fazer ciência e tecnologia, muitos/as pesquisadores/as continuam a considerar a possibilidade de neutralidade científica e tecnológica e a ignorar as consequências sociais das suas atividades. O campo de estudos sobre Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) ao questionar a neutralidade e o determinismo científico e tecnológico e resgatar as dimensões sociais nessas áreas, contribui para desvelar as relações histórico-culturais por trás de tais atividades. As agendas feministas e os estudos de gênero têm contribuído para os avanços nesse campo de estudo, revelando que a ciência e a tecnologia, além de não serem neutras, possuem um gênero e refletem uma estrutura de poder. Nesta perspectiva, o objetivo central deste artigo é apresentar um perfil da produção científica sobre gênero, ciência e tecnologia no Brasil, destacando as temáticas abordadas, seus objetivos e principais resultados das pesquisas, buscando identificar possíveis tendências e lacunas nesse campo de estudo.
Informatizando o Leão: o SERPRO e a consolidação do processamento de dados no Brasil
Lucas de Almeida Pereira (Universidade Federal do ABC)Grupo Temático: Dimensões da História e Memória da Informática no Brasil
Resumo
Em 1963 foi firmado o maior contrato de consultoria da história do país, no qual a Fundação Getúlio Vargas elaboraria um projeto para a reforma do Ministério da Fazenda no Brasil. Entre os tópicos do projeto foi proposta a criação de uma agência de processamento de dados para modernizar o sistema de arrecadação federal de tributos, especialmente do imposto de renda, surgindo assim o Serviço Federal de Processamento de Dados. Esta apresentação tem por objetivo analisar o período inicial desta empresa pública, desde sua criação oficial em 1964 até sua consolidação no início dos anos 1970. Busaremos demonstrar a importância da empresa na solidificação do uso de processamento de dados no país, tendo em vista que sua ação não ser resumiu ao Ministério da Fazenda.
Horizontes para cidade de Curitiba: plano diretor participativo
Luci Ines Bassetto (UNIVERSIDADE TECNOLOGICA FEDERAL DO PARANA - UTFPR), Eloy Fassi Casagrande Jr. (Universidade Tecnológica Federal do Paraná-UTFPR), Maclovia Corrêa Da Silva (UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANA - UTFPR)Grupo Temático: Políticas Públicas e Desenvolvimento Local: interveniências e interações entre tecnologia, sociedade e democracia
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A interação entre política pública e as novas formas de relações sociais em Curitiba se consolida na dimensão participativa, no momento em que os técnicos abriram discussões para rever o Plano Diretor da cidade de Curitiba de 2004 reeditado conforme o Estatuto da Cidade de 2001. Neste texto faz-se uma análise de como foram organizadas as estratégias de ação para concretizar a real presença da comunidade nas discussões. O processo aconteceu por meio de diagnósticos, audiências, oficinas, palestras, e seminário final, distribuídos ao longo do ano de 2014 e divulgados pela mídia. Os temas propostos pelas autoridades foram: mobilidade urbana; acessibilidade; infraestrutura; meio ambiente; zoneamento urbano; cultura e economia criativa; segurança e integração com a Região Metropolitana. A população atuou na revisão com o lema “A Cidade que Queremos”. O processo dividiu-se em etapas de análise da Minuta de Lei, Planos Setoriais e Planos Regionais, para sensibilizar as pessoas sobre a importância do cumprimento da Lei do Estatuto da Cidade, projetos de iniciativa popular e apropriacão dos espaços de participação. A “leitura participativa”, ou seja, a participação da sociedade no levantamento dos principais problemas, conflitos e potencialidades, foi realizada através de olhares diversos sobre uma mesma realidade. A UTFPR, por meio dos integrantes do grupo de estudos Tecnologia e Meio Ambiente (TEMA), desenvolveu um cronograma para que os membros pudessem comparecer em um maior número de reuniões. Os alunos e os professores organizaram as suas idas conforme os interesses de pesquisa e atuaram como observadores participantes. O embasamento teórico foi reforçado com a literatura da área e trabalhos interdisciplinares. Visto como resultado de um processo político, dinâmico e participativo, ele mobilizou o conjunto da sociedade para discutir, redesenhar as diretrizes urbanísticas e estabelecer pactos sobre o projeto de desenvolvimento do município. Concluindo, a participação da UTFPR foi representativa no processo de discussão porque pode inserir novos temas com a conotação de sustentabilidade como por exemplo como a Economia de Baixo Carbono e a inversão de prioridades para automóveis e para pedestres. Em 2015, os esforços para introduzir mudanças e criar novos ambientes urbanos continua a ser prioridade para as instituições e a sociedade.
Uma Análise do Bolsa Família como Infraestrutura
Luciana de Farias (Unicamp)Grupo Temático: Políticas Públicas e Desenvolvimento Local: interveniências e interações entre tecnologia, sociedade e democracia
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Este trabalho propõe uma análise do Bolsa Família (BF) a partir dos Estudos de Infraestrutura (EI). Para os EI, infraestruturas são sistemas compostos de artefatos físicos, recursos humanos, instituições e leis; que servem como soluções para a produção de bens e serviços. Conceituamos o BF como infraestrutura, primeiro por sua composição heterogênea – gestores, leis, software, formulários, cartão magnético, etc. Segundo, porque o BF criou uma expertise em identificar a população pobre através de sua implementação descentralizada e do uso intensivo de TICs; essa expertise tem condicionado a formulação de outras políticas sociais. Por último, devido sua extensa cobertura, de acordo com o MDS, em janeiro de 2015, 14 milhões de famílias, distribuídas nos 5.570 munícipios do país, receberam o benefício. Um dos elementos chave dessa infraestrutura é a identificação dos beneficiários feita através da inclusão das famílias no Cadastro Único, tarefa nada trivial tendo em vista a heterogeneidade dos municípios. Nessa heterogeneidade, por outro lado, têm surgido inovações de nível local para a superação de entraves a inclusão e atualização dos beneficiários. No entanto, a unicidade e uniformidade dos dados do Cadastro Único é proporcionada às custas de escolhas de conceitos arbitrários, conceito de pobreza e família, por exemplo. O uso intensivo de TICs em toda sua extensão também exige uma qualificação específica de seus formuladores e gestores. Ou seja, assim como todo sistema tecnológico, o BF tem o desafio de construir - ou forçar - a unicidade a partir da diversidade, a centralização em face ao pluralismo, e coerência a partir do caos. A metodologia dos EI resume-se em recuperar os arranjos embutidos nesses sistemas que já não enxergamos, pois os tomamos como em segundo plano, chatos e sem importância. Sendo assim, o trabalho irá decompor toda a infraestrutura tecnológica e institucional que viabiliza a extensa cobertura do BF, visando explicitar como a parte considerada técnica não é estática e desempenha um papel maior do que simplesmente operacionalizar a rotina do BF. O trabalho visa aproximar os Estudos Sociais da Ciência e da Tecnologia do campo da Análise de Políticas Públicas. Espera-se que esse trabalho traga à luz novas questões tanto para os formuladores de políticas públicas quanto para os desenvolvedores de tecnologia.
Narrativa e método: dizeres de uma experiência em oficinas terapêuticas
Luciana de Oliveira Pires Franco (Marinha do Brasil)Grupo Temático: PesquisarCOM e o feminino na ciência
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Esta apresentação propõe-se a pensar sobre uma pesquisa desenvolvida a partir de oficinas terapêuticas num setor de atendimento à terceira idade. Entendendo o campo segundo as proposições de Bruno Latour, a pesquisa se interessa em colher nas narrativas despertadas nas oficinas um entendimento situado sobre as questões da velhice, bem como pensar como os materiais levados nos encontros despertam novas conexões e arranjos. A aposta é acompanhar os atores em campo, percebendo como os elementos se articulam, quais e de que forma contam para compor as histórias trazidas pelos usuários do serviço. E assim, de forma local, dizer algo sobre a experiência do envelhecer. Consideramos também que o pesquisador, na maneira como acompanha os atores, intervém nas histórias e os faz existir em sua escrita, tem um importante papel político e é de fundamental importância pensar sobre isso.
Facebook e manifestações: conexões e controvérsias
Luciana Santos Guilhon Albuquerque (UFRJ)Grupo Temático: Internet: entre o capital e as ruas
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Uma das redes sociais mais usadas no país, o Facebook teve uma atuação de destaque nas manifestações de 2013 pelo passe livre. Foi instrumento de mobilização para as ruas e serviu de palco para os olhares vigilantes da polícia durante a investigação sobre os atos violentos, como depredação de ônibus e bancos. Diante desse quadro, pretende-se refletir sobre as controvérsias geradas a partir das conexões entre manifestantes, policiais e Facebook, tendo em vista a ideia sustentada pela Teoria Ator-Rede, que a realidade social é construída por atores humanos e não humanos. Como base para essa reflexão serão utilizadas entrevistas realizadas com alguns atores desse processo e que fazem parte de uma pesquisa de doutorado ainda em curso. Até agora foi possível perceber que esse uso do Facebook não é realizado sem tensões. Para os ativistas pode servir como uma plataforma de mobilização e divulgação de ideias e atividades, ao mesmo tempo em que os torna mais vulneráveis à vigilância estatal. Para a polícia pode funcionar tanto como um instrumento de investigação quanto de exposição de atitudes polêmicas, tornando-os mais vulneráveis às críticas da população.
A memória na construção de uma história institucional
Luciane Correia Simões (UFRJ)Grupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
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As instituições são formadas por e para as pessoas, a memória da instituição, como afirma Thiesen (1997), “é um permanente jogo de informações que se constrói em práticas discursivas dinâmicas. O instituído e o instituinte – as duas faces da instituição – fazem suas jogadas na dinâmica das relações sociais.” Os Estudos Sociais de Ciência e Tecnologia são entendidos como um campo de pesquisa interdisciplinar, e sob esse olhar torna-se viável analisar campos do saber científico e tecnológico em seus contextos sociais. Nesta tentativa de interpretar a história da instituição através da memória de seus integrantes, se seguirá as linhas propostas por Pollak (1992). A memória ndividual e a coletiva se constitui de três elementos: acontecimentos, pessoas e lugares. Assim, traçaremos um caminho na construção de uma memória que “o que é comum a um grupo e o que o diferencia dos outros, fundamenta e reforça os sentimentos de pertencimento e as fronteiras socioculturais”; que no nosso caso traça o perfil da divulgação científica através práticas discursivo-informacionais voltadas para a difusão da ciência no Brasil. Para uma produção memorialística da Casa da Ciência analisaremos os documentos oficiais da UFRJ e colheremos relatos de seus integrantes e colaboradores, nos aspectos objetivos (relatos de fatos, datas) e subjetivos (emoções, afetividades, desejos), a História Oral através da entrevista em vídeo será utilizada como meio. Trata-se de uma método útil na reconstrução da história de instituições públicas e privadas, conforme Alberti (2004): possibilita o entendimento de organogramas, funções, processos de tomada de decisões; serve como apoio na organização e no preenchimento de lacunas de arquivos existentes, etc. As interpretações dos fatos transitarão entre o arquivo e o repertório (Taylor,2013) . Indo um pouco além, um é supostamente duradouro e outro efêmero. O que tentaremos é fazer um esforço que os dois - arquivo e repertório - trabalhem juntos, pois os materiais do arquivo dão forma ao repertório. Neste contexto, para a interpretação da história institucional da Casa da Ciência buscaremos uma constante interação entre o arquivo e o repertório. O arquivo sustenta o discurso hegemônico do poder, mas o repertório pode descontruir esse discurso. As narrativas serão permeadas de escolhas -conscientes ou inconscientes- de quem pretende contar a história.
Fatores críticos a implementação do acesso a informação sobre Unidades de Conservação da Natureza no Brasil
Luciano dos Santos Pereira (UERJ), Carlos José Saldanha Machado (Fundação Oswaldo Cruz)Grupo Temático: Políticas Públicas e Desenvolvimento Local: interveniências e interações entre tecnologia, sociedade e democracia
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No território brasileiro, detentor de cerca de 13% de toda a biodiversidade planetária, ainda não foram instituídos mecanismos públicos de controle capazes de garantir o acesso e a soberania sobre esse patrimônio (MACHADO, 2012 p. 104). O objetivo deste trabalho é identificar e analisar fatores críticos na implementação da Politica Pública de acesso à informação sobre as Unidades de Conservação da Natureza através de uma metodologia qualitativa centrada no levantamento e análise bibliográfica e de documentos oficiais. A perda da biodiversidade influencia diretamente as funções desempenhadas pelos ecossistemas, pela água, ar e solo e os meios de subsistência humana representando uma condição critica a manutenção da vida. Formas “[...] tradicionais de cultivo e plantas estão desaparecendo rapidamente, dando lugar a produção em escala e mecanismos produtivos descontextualizados com a realidade de cada região” (IUCN, 2013). Entre as diversas ações que tem por finalidade constituir uma sociedade sustentável está a capacidade dos estados em disponibilizar informações acerca da diversidade biológica. A Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD), resultante da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada em 1992 no Rio de Janeiro (Rio 92), constitui-se no instrumento internacional para a gestão do conhecimento sobre a biodiversidade mundial e reconhece a importância do intercâmbio de informações como um dos mecanismos para a conservação e à utilização sustentável da diversidade biológica (art. 17 da CDB). No Brasil, a informação ambiental sobre diversidade biológica é prevista na Constituição Federal (CF/88), que estabelece o direito a informação (art. 5º, XIV, XXXIII), na Lei nº 12.527/2011, que trata do acesso à Informação nos níveis da administração pública, e no SINIMA, instrumento de política pública responsável pela gestão da informação no âmbito do SISNAMA que, no eixo 2,determina “a criação e integração de bancos de dados e sistemas de informação em consonância com diretrizes estabelecidas pelo Governo Eletrônico - E-gov. Como resultado, espera-se traçar um panorama do papel que o trabalho científico, de diversas especialidades, vem desempenhando no complexo processo local voltado para viabilizar a implementação da política pública em questão em um contexto de degradação ambiental com mudanças climáticas.
A formação identitária em famílias da “nova classe trabalhadora” mediadas pelo consumo de aparelhos tecnológicos
Ludmila Corrêa Gesualdi Chaves Gomes (UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ)Grupo Temático: PROCESSOS TECNOLOGICOS E CULTURA: sociabilidades, saberes populares, assimetrias e meio ambiente
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Este trabalho tem como objetivo analisar quais são as repercussões psicossociais da mediação do consumo de tecnologias de comunicação e informação experimentas pelas famílias que pertencem o grupo econômico denominado “nova classe trabalhadora”, segundo a olhar da mulher chefe de família. Para isso serão examinadas as supostas novas condições de vida dessas famílias (seus hábitos, estilo de vida), o potencial de consumo dessa classe social e sua influência na construção da identidade das famílias, os efeitos subjetivadores da nova configuração socioeconômica e por fim os modos de sociabilidade das famílias, a partir do consumo (aquisição e usos) de aparelhos tecnológicos de comunicação e informação, tais como computadores pessoais, tablets e smartphones. Um olhar para a família é fundamental, uma vez que é uma coletividade onde são transmitidos valores, cultura, práticas, modos de comportamentos e pensamentos, e com isso produzem certos modos de subjetivação e processos identitários. Pesquisar as mediações tecnológicas nas famílias populares através do olhar da mulher pode trazer contribuições significativas, pois ela ocupa um lugar privilegiado dentro desse espaço social. Um olhar interdisciplinar para o tema do consumo tecnológico é indispensável, visto que afeta os modos de vida das pessoas e, portanto, a constituição e produção de suas subjetividades e a maneira como se dará o desenvolvimento humano.
Tecnologia, ciência e transcendência. Mapeamento das discussões teóricas acerca de tecnologia na Era da Informação.
Luiz Adriano Gonçalves Borges (UTFPR)Grupo Temático: Tecnologia e mediações
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Este texto pretende esboçar uma revisão bibliográfica das multiplicidades acerca da relação entre ciência, tecnologia e sociedade. Ao analisar diferentes visões para um mapeamento podemos apontar três questões auxiliares: a tecnologia impacta a sociedade, a sociedade impacta tecnologia, ou ambos ocorrem simultaneamente? A maneira como cada autor responde a este questionamento ajuda-nos a determinar sua posição no conjunto das obras.
Entretanto, deve-se estar ciente que é raro autores ou obras que se encaixem perfeitamente em somente uma definição. Em um lado extremo temos a posição do determinismo tecnológico que vê a tecnologia impactando a sociedade em uma direção. Por outro lado, o determinismo social percebe a tecnologia como artefatos neutros que podem ser usados para o bem ou o mal dependendo de sua utilização pelo indivíduo ou sociedades. A posição mais comum é a da perspectiva de moldagem social da tecnologia, a mais central, entendendo que a relação entre tecnologia e sociedade é uma via de mão dupla. Transversalmente, pode-se perceber a atitude moral de um autor com relação à mudança tecnológica. Em um extremo está o que pode-se chamar de tecno-otimismo, uma crença de que nossas tecnologias estão fazendo do mundo um lugar melhor. No outro extremo estão os “tecno-pessimistas”, uma posição que vê a tecnologia como um destruidor. Podemos apontar também a posição entre estes dois polos, aquela que enxerga que cada mudança tecnológica traz com ela uma ampla gama de consequências, algumas positivas outras negativas.
A crítica cristã, que terá um enfoque especial neste texto, possui três tendências: a primeira tende a se inclinar para o determinismo tecnológico e geralmente é pessimista; uma segunda compreende o papel fundamental da visão cristã para o desenvolvimento da ciência e da tecnologia; e uma terceira, entende a tecnologia e a sociedade inextrincavelmente conectadas que acabam criando sistemas sócio-tecnológicos (Herman Dooyeweerd, Egbert Scruurman). Portanto, pretende-se apontar de que maneira essa crítica cristão auxilia na compreensão da relação entre ciência, tecnologia e sociedade na atualidade.
As pílulas anticoncepcionais: controvérsias e estabilização de uma nova tecnologia contraceptiva
Luiz Antonio da Silva Teixeira (Fiocruz), Tânia Maria Dias (Instituto Fernandes Figueira/Fiocruz)Grupo Temático: Estudos Sociais das Ciências e das Tecnologias em Saúde Sexual e Reprodutiva
Resumo
A introdução das pílulas anticoncepcionais no Brasil, a partir de 1962, provocou o despontar de inúmeras controvérsias sobre essas novas tecnologias contraceptivas e sua trajetória de estabilização. Trata-se se um estudo com enfoque sócio-histórico de matérias veiculadas no jornal O Globo, nas décadas de 1960 e 1970. O material foi coletado no site http://oglobo.com/, o descritor utilizado foi pílula. Foram coletadas 756 matérias que versavam sobre as pílulas anticoncepcionais. Realizamos uma análise descritiva para caracterização das matérias e uma análise das controvérsias por meio dos eixos analíticos segurança, eficácia e oportunidade. Os principais atores presentes nas discussões foram grupos médicos, Igreja Católica e o Estado Brasileiro, embora tenhamos encontrado outras vozes residuais, como os membros das entidades privadas de planejamento familiar e outros. As principais controvérsias encontradas foram sobre a segurança e as oportunidades das pílulas anticoncepcionais, a eficácia embora presente nas discussões não gerou contendas. As discussões sobre a segurança foram polêmicas e acompanhando os debates norte-americanos e europeus, deixavam dúvidas sobre os riscos à saúde feminina e, ao mesmo tempo o aprimoramento dos novos produtos incutia credibilidade e aceitabilidade ao produto. Os debates sobre as oportunidades ou não das pílulas anticoncepcionais foram os mais controversos: discutiu-se os problemas socioeconômicos e sanitários, as questões morais e religiosas e as vantagens terapêuticas. O Estado brasileiro compareceu na última metade da década de 1970, contribuindo para associações que possibilitaram o redimensionamento do debate sobre métodos anticoncepcionais em uma perspectiva pós-neomalthusiana de saúde-direitos-deveres. O desenrolar das discussões, argumentos e visões em torno da segurança, da eficácia e da oportunidade contribuíram para a estabilização dessas novas tecnologias visto que fomentaram mudanças nos padrões normativos que regiam a estrutura e organização das famílias, o perfil demográfico brasileiro e os rumos das discussões sobre as políticas públicas de saúde da mulher brasileira a partir da introdução das pílulas anticoncepcionais nas práticas contraceptivas do país e, nos permitiram identificar o importante papel que essas novas tecnologias contraceptivas representaram para o campo da saúde e sexualidade feminina.
Tempos são dinheiros, mas não só. O caso da Produtora Cultural Colaborativa Universidade Livre do Teatro Vila Velha
Luiz Arthur Silva de Faria (HCTE - UFRJ)Grupo Temático: Práticas democráticas: diálogos econômico-pedagógicos mediados (ou não?) por tecnologias
Resumo
Uma contribuição trazida pelos estudos CTS é a desnaturalização de categorias. Fatos e artefatos que circulam como se sempre tivessem existido, podem ter sua historicidade reconstituída e suas fronteiras refeitas. Uma das possibilidades aqui é seguir coletivos em que circulam “objetos novos”, fatos/artefatos ainda não estabilizados, cujas fronteiras são maleáveis. Parece o caso da Universidade Livre do Teatro Vila Velha (Livre), projeto localizado em Salvador, no “Teatro Vila Velha”.
Por meio de cinco entrevistas, foi possível acompanhar sua rede, que busca estabilizar simultaneamente, como fatos, a Produtora Cultural Colaborativa Livre e a moeda social Tempos, ambos objetos assim denominados pelos entrevistados. A “proposta é formar atores completos capazes de gerir o trabalho, cuidar da iluminação, do som, do figurino, além de atuar e montar os espetáculos” (http://www.irdeb.ba.gov.br/soteropolis/?p=8994). Assim, “ator” é uma das categorias cujas fronteiras são desconstruídas aqui; estas são recosturadas incluindo habilidades antes tidas como externas ao universo das potencialidades do ator.
A “moeda” também é refeita nessa rede: o curso pode ser pago parcialmente em Reais, mas obrigatoriamente deve ser em parte financiado em “Tempos”, moeda criada na proposta e que circula entre atores/alunos e a organização do projeto. Os alunos devem cuidar de atividades necessárias para o funcionamento do teatro, tudo quantificado em Tempos, moeda não impressa mas visível no sistema de informação Corais.org. A “renda” necessária para participar do curso é reconfigurada em “energia”, o que tem implicações não apenas para a formação do ator, mas também nos critérios para acesso e permanência nas turmas.
O uso de um sistema de informação como plataforma para uma moeda traz materialidades diversas daquelas de uma moeda em papel ou em cartão magnético, evidenciando que uma rede não é feita somente de ideias e seres humanos. No caso da Livre e do Corais, o extrato dos participantes em Tempos é público; a cada tarefa realizada por um ator/aluno, os organizadores podem transferir Tempos; mas, de forma indissociável dessas características que poderiam ser consideradas “facilidades” permitidas pelo Corais, está a lentidão do servidor onde ele se hospeda, cujo esquema de financiamento não foi estabilizado.
Movimentos sociais na era da internet
Luiz Carlos Affonso (DATASUS - Ministério da Saúde)Grupo Temático: Internet: entre o capital e as ruas
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Comunidades e redes sociais A vida em comunidades e em redes sempre existiu. Entretanto, a quebra de laços familiares, a desintegração de pequenas vilas, o crescimento dos bairros e das cidades e as condições de mobilidade física e social da humanidade, contribuíram para a descaracterização das comunidades/redes tradicionais, para a formação de comunidades/redes sem referência territorial, que nada mais são do que as redes sociais. A evolução da internet Desde o surgimento, a internet passou por várias fases: A Web 1.0, foi a fase de formação - 1960 a 1995 e a do povoamento - de 1995 a 2005. A Web 2.0, foi a fase do início dos projetos de inteligência coletiva - de 2005 até o momento. A chegada da Internet e a comunicação mediada pelo computador, veio para acelerar processo de transição entre as chamadas comunidades de base local para as comunidades sem referência territorial, que são as redes sociais virtuais. Comunidades virtuais e redes sociais na internet Em 1996 Howard Rheingold, cunhou a expressão comunidades virtuais, que com as redes Sociais na Internet, ganharam novas dimensões, com a multiplicidade de interações apoiadas pela tecnologia. Os avanços tecnológicos que propiciaram o desenvolvimento das redes virtuais, que contribuíram também para mudanças do comportamento nas organizações, facilitando a colaboração e minimizando a rigidez inerente à estrutura hierárquica que as caracteriza. Dois exemplos da aplicação desses recursos foram: as capacitações a distância via internet e as redes sociais corporativas. Paralelo às redes sociais utilizadas nas organizações, surgiram às redes sociais externas, como foi o caso do Facebook em 2004. Nesse momento, já existia os telefones móveis, mas com a chegada dos smartfones, em 2007, esses equipamentos ganharam múltiplas funções, inclusive o uso da internet e as redes sociais. Movimentos sociais na era da internet No dia 17/12/2010, teve inicio na Tunísia, a chamada primavera Árabe. A partir desse momento, vários países daquela região, iniciaram movimentos com objetivos diferentes, como por exemplo, destituir do poder, ditadores e seus regimes. Esses movimentos se multiplicaram na Espanha; Estados Unidos e em junho de 2013, chegou ao Brasil e recebeu o nome de primavera brasileira. A internet, as redes sociais e os smartfones, foram recursos fundamentais nesses movimentos.
Práticas Psicotécnicas na História da Psicologia no Brasil: Algumas condições de emergência
Luiz Eduardo Prado da Fonseca (UFRJ), Hugo Leonardo Rocha Silva da Rosa (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro)Grupo Temático: Estudos CTS, Práticas Psi e Modos de Produção de Subjetividades
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No início do século XX, algumas práticas psicológicas amparadas na psicotécnica se encontraram sendo inseridas em solo brasileiro vindas da Europa e dos Estados Unidos. Com a profusão destas técnicas e sua difusão na sociedade brasileira, a prática psicotécnica encontrou lugar para ocupar e fazer parte de instituições como fábricas, à serviço da psicologia do trabalho. Nesta comunicação, pretendemos estabelecer algumas linhas de pensamento acerca dessas práticas. A história da psicologia no Brasil compreende muitas destas práticas como uma espécie de demanda nacional pelo uso da psicologia em prol do desenvolvimento do Brasil enquanto nação, e neste aspecto a psicotécnica, através das testagens diversas, se apresentaria não apenas viável como bem-vinda. No entanto, compreendemos que tais práticas não foram apenas assimiladas, mas também inseridas em solo brasileiro através de uma rede de interesses que ajudou a diluir uma prática psicológica historicamente recente nos lugares de trabalho. Fábricas e indústrias diversas receberam a testagem psicotécnica não apenas como uma ferramenta de seleção, manutenção e promoção de melhores condições de trabalho, mas produziram uma rede da qual fez surgir a emergência de uma prática psi, amparada na psicotécnica, que rapidamente tomou conta e alastrou-se pelo país como prática legitimada. Partimos de uma breve análise do contexto social e econômico da época para fomentar uma reflexão acerca do lugar que a psicologia ocupa, não apenas como ferramenta de emancipação de uma jovem república a uma nação progressista – uma das muitas razões encontradas em textos históricos da psicologia brasileira para sua inserção no Brasil – mas principalmente como parte de uma rede sociotécnica que incluiu interessados em sua utilização prática, testes e aparelhagem capazes de produzir laudos e resultados diversos, uma opinião púbica levada a aceitar a testagem por seu teor progressista e uma comunidade científica de psicólogos desejosa de novos conceitos e técnicas vindas da Europa. No centro deste arranjo sociotécnico, jaz a psicotécnica, tanto força que une estes atores como emergência da união de diversos interesses.
Black Blocs: O Determinismo Tecnológico como Fator Explicativo da Violência Política
Luiz Felippe de Castro Henning (UTFPR), Gilson Leandro Queluz (Universidade Tecnológica Federal do Paraná)Grupo Temático: Internet: entre o capital e as ruas
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As manifestações de Junho de 2013 no Brasil, aparecem como um dos fatos políticos de maior importância, nos últimos 20 anos. Sua importância se deve especialmente, ao fato de colocar na cena política brasileira protestos de massa, articulados na esteira da ação direta, e também por inserirem na cena política brasileira a violência política. Este último aspecto, aparece associado de forma muito íntima com o aparecimento de grupos Black Bloc. Os Black Blocs, são formações específicas em manifestações que tem como intuito a defesa da manifestação, frente a repressão policial, bem como a destruição de propriedades, o que os próprios Black Blocers em geral definem como uma tática. Estes são constituídos como grupos de afinidade, em meio aos protestos, ou, pouco antes, vestindo roupas pretas para identificar-se. Sua prática está estreitamente ligada com o anarquismo, e guarda intima relação com os meios “contra culturais”. O que é pouco conhecido do público, é que este tem suas bases intelectuais, referenciadas em correntes específicas do pensamento libertário, que possuem uma abordagem “determinista” e “essencialista” da tecnologia. A filiação ideológica, das práticas Black Blocers pode ser encontrada nos escritos de orientação anarquista “insurrecionalista”, bem como sua difusão se dá por meio de nichos “contra culturais”, fortemente influenciados pelo “anarco primitivismo”. Estas duas correntes, tem a tecnologia como alvo, pois esta, é vista como responsável pela alienação dos trabalhadores, e mesmo da humanidade, devendo assim, constituir-se no primeiro alvo dos anarquistas. Diante destas concepções, entende-se porque os atos de destruição do Black Bloc são parte fundamental de suas práticas, pois se referem a destruir símbolos da dominação capitalista, os frutos da indústria, os produtos. Diante destes elementos Históricos, constitutivos da prática Black Bloc, objetivamos discutir as conexões deste movimento no Brasil com as tradições do pensamento anarquista e problematizar os fatores que levaram ao reaparecimento da violência política contestatória, dentre estes o “determinismo”e o “essencialismo” tecnológico.
Manipulações etno(carto)gráficas da noção de cosmopolítica. Alguns apontamentos a partir de Isabelle Stengers
Levindo da Costa PereiraGrupo Temático: Experiências contemporâneas em Antropologia da Ciência e da Tecnologia: etnografia, grandes projetos e escala planetária (ou não)
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O termo cosmopolítica pode ser reconhecido desde escritos estoicos datados de 300AC à publicações contemporâneas, que vai de áreas como direito comparado, filosofia política, estudos pós-coloniais não sem antes ter sido retomado pelo último Kant e suas proposições acerca da Paz Perpétua entre as nações, tendo encontrado ali sua, digamos, cidadania moderna.
Todavia, no que concerne à minha proposta, serão alguns usos e sentidos da noção de cosmopolítica na antropologia contemporânea o foco de meus comentários, servindo como o plano a partir do qual pretendo elaborar algumas relações entre a noção e suas manipulações etnográficas e cartográficas.
O mediador dessas relações será o conceito de cosmopolítica presente nos trabalhos da filósofa e estudios das ciência Isabelle Stengers.
A proposta é muito menos criticar de um ponto de vista "fidedigmamente" stengeriano, os usos e sentidos que o termo vem ganhando na antropologia, particularmente na antropologia da ciências e das técnicas e certamente mais analisar quais podem ser os rendimentos conceituais da noção, cujos usospodem apresentar variações significativas, a partir de um ponto de vista informado por alguns trabalhos de Stengers.
Questões sociocientíficas e argumentação: possibilidades de alfabetização científica
Ligia Esteves Maria, Noemi SutilGrupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
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Neste trabalho, objetiva-se discutir possibilidades de alfabetização científica no Ensino Médio, considerando o desenvolvimento de uma proposta educacional com abordagem de questões sociocientíficas (QSC) no ensino de Física, destacando as relações entre ciência, tecnologia, sociedade e ambiente. Nessa proposta, adquire destaque a expressão dos estudantes, na análise e proposição de alternativas a problemas de seus contextos vivenciais, relacionadas à argumentação. As atividades educacionais foram desenvolvidas em três encontros, envolvendo os temas de energia e gestão de resíduos em Curitiba e Região Metropolitana, em um colégio da rede particular de ensino de Curitiba/PR. As atividades educacionais propostas na sequência didática tinham como objetivo incentivar os estudantes a prestarem atenção aos fatos que os cercam, analisá-los, e proporem alternativas aos problemas de sua realidade, vinculando com conteúdos escolares. A análise de dados compreendeu a identificação, nas produções escritas dos alunos, de indícios de apropriação de conhecimentos científicos, desenvolvimento de concepção de ciência construtiva associada a aspectos sociais, culturais e ambientais e envolvimento em processo de análise de situações e proposição de alternativas, considerando diversos sujeitos e pontos de vista; envolveu a identificação de avanços na exposição desses posicionamentos, do ponto de vista da estrutura argumentativa. Esses processos analíticos foram desenvolvidos considerando pressupostos e características de Análise de Conteúdo, segundo a perspectiva de Laurence Bardin e o layout de estrutura de argumentos de acordo com Stephen Toulmin. Nesta pesquisa, podem ser ressaltados avanços em relação à explicitação de argumentos fundamentados e envolvimento na análise e proposição de soluções às situações apresentadas.
As dinâmicas do conhecimento científico e tecnológico na era da web 2.0: um estudo sobre a wikipédia lusófona
Leonardo Santos de LimaGrupo Temático: GT Ciência, tecnologia e inovação social
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Este estudo trata da relação entre as transformações contemporâneas que envolvem o conhecimento científico e tecnológico diante da disseminação das novas tecnologias da informação e da comunicação e as potencialidades de desenvolvimento de dinâmicas de saber não restritas aos pressupostos do paradigma da ciência moderna. O objetivo principal deste trabalho consiste na investigação dos limites e possibilidades para a emergência de distintas dinâmicas do conhecimento científico e tecnológico associadas aos novos ambientes virtuais surgidos no período da web 2.0. Especificamente são investigadas as potencialidades desses ambientes para a promoção de dinâmicas favoráveis à constituição de ecologia de saberes (Santos, 2010) por seus integrantes. Para isso, busca-se identificar e analisar o conjunto de interesses, representações e práticas que envolvem a organização formal e os processos de participação de um ambiente em especial da internet: a Wikipédia lusófona. Assume-se a ideia de que o site, constituído sob influência dos valores e práticas que deram forma à internet, é capaz de favorecer o desenvolvimento de dinâmicas de colaboração compatíveis com os pressupostos da ecologia de saberes. Esta investigação foi realizada através da análise da estrutura formal wikipedista e da realização de entrevistas semiestruturadas envolvendo a participação de 24 usuários colaboradores em artigos de temática científica e tecnológica do "conteúdo destacado" da Wikipédia lusófona. Conclui-se, de um lado, que o site tende a reproduzir a hierarquia das disciplinas de C&T e a distribuição das áreas de interesse dos usuários de acordo com os espaços por eles ocupados na sociedade, bem como a manifestar valores, representações e práticas fortemente associados ao paradigma da ciência e da tecnologia modernas. De outro lado, entretanto, mostra-se se favorável não só à diversificação do perfil dos agentes voltados à produção, difusão e aquisição de conteúdos científicos e tecnológicos em comparação aos espaços convencionais do conhecimento de C&T e revela-se capaz de incitar entre seus colaboradores o desenvolvimento da capacidade de argumentação, de convivência com diferentes pontos de vista e do interesse pelo trabalho voluntário, de modo a favorecer a emergência de representações imprescindíveis à superação do paradigma da ciência moderna e à constituição de ecologias de saberes.
A sociedade civil desorganizada: o indivíduo político na internet
Lucca Vichr Lopes, Ana Carolina Abreu de CamposGrupo Temático: Internet: entre o capital e as ruas
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Os artefatos digitais têm se apresentado de modo cada vez mais recorrente em nosso cotidiano. Em específico, tem se observado na internet a efervescência de novas formas de vivência e sociabilização, incluindo certamente o ativismo político. Se antes esse ativismo se restringia a participação em processos eleitorais, partidos políticos, movimentos sociais e organizações não governamentais, hoje vemos surgir plataformas online que possibilitam a ocorrência dessas ações de modo menos organizado e mais efêmero. Benkler (2006) coloca como uma das principais características emancipatórias nesse contexto a possibilidade de ação entre entidades com laços mais frouxos. Sites de financiamento coletivo, fóruns de debate e petições online são alguns destes casos em que o indivíduo não precisa necessariamente participar de instituições burocrática e legalmente definidas para agir e manifestar suas vontades políticas. A soma dessa performance individual não institucionalizada chamaremos aqui previamente de sociedade civil desorganizada. Este estudo é resultado das pesquisas de mestrado de ambos os autores e focará os sites de petição e iniciativas semelhantes (como o desenvolvimento de software livre) que transpassam o real, o virtual e o institucional. A grande maioria dos cidadãos não possui vínculos institucionais com ONGs, partidos ou movimentos, e isso não significa que necessariamente são despolitizados. Sua ação política pode ser observada em outros locais, e nos interessa neste estudo justamente entender de que forma as plataformas digitais sensibilizam, comunicam e fazem convergir esses interesses.
Relação Universidade Empresa no Brasil: um estudo exploratório
Livia Maria dos Santos, Robson Thiago Guedes da Silva, Walter ShimaGrupo Temático: Política de Ciência e Tecnologia
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O objetivo é relatar os avanços que a parceria U-E vem promovendo no cenário inovativo do Brasil entre 2000 e 2010. Consultaram-se dados do INPI, Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq e PINTEC. O desenvolvimento inovativo foi apontado como um dos principais pilares para o desenvolvimento econômico. De acordo com a literatura, a importância do trabalho em cooperação da empresa com outras instituições é evidente, apontando que empresas que cooperam tendem a ter maiores chances de produzir inovação, portanto, o trabalho em rede tem sido recomendado, com participação de clientes, fornecedores, institutos públicos de pesquisa e outras instituições.
No Brasil houve um crescimento significativo de empresas que passaram a compor grupos de pesquisa com universidade, que tiveram um crescimento expressivo. As áreas que se destacaram foram engenharias e ciências agrárias. Nas universidades onde mais há interações com empresas em grupos de pesquisa, são as que mais depositam patentes nos INPI.
Observa-se que a tendência do crescimento do número de pesquisas em cooperação, principalmente nas de pequeno porte, contudo, essas relações ainda não são consideradas as mais importantes. Como pronunciado na literatura, as inovações incrementais dependem de parcerias entre clientes e fornecedores, já a cooperação com universidades, visa à produção de inovações radicais. Ambas devem ser estimuladas, uma vez que trazem avanços inovativos nas industrias. Ficam patentes os avanços conquistados com a cooperação intra-institucionais, e que devem continuar a serem encorajadas, mediante a preservação do papel da universidade em promover o conhecimento, mas avançando nos novos papeis que ela passa a ter, em razão da emergência de novas relações entre a dinâmica econômica e da produção de conhecimento.
Lundvall (2002) aponta que deve-se refletir um modo típico brasileiro de inovação diferente do que se encontra em outros países. É só depois de olhar para o sistema de inovação brasileiro como um todo que pode se definir o que é mais apropriado das universidades vis-à-vis a sociedade e a economia. O Brasil tem recebido estímulos para a interação, mas vale a pena verificar se há estrutura cultural que permite avanços através desse modelo. Por vezes, sua história e seus hábitos podem ter sucesso com diferentes modelos de propulsão de inovação, sendo o de cooperação apenas um deles.
Inovações científicas para o desenvolvimento da administração municipal
Livia Soares de Carvalho GutierrezGrupo Temático: Políticas Públicas e Desenvolvimento Local: interveniências e interações entre tecnologia, sociedade e democracia
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O artigo apresenta uma análise sobre o processo de intensificação das relações entre ciência e sociedade, sobretudo, nas últimas duas décadas, em que as universidades e cientistas ampliaram as pesquisas voltadas para a sociedade e suas instituições. Debate-se, de maneira introdutória, as questões éticas envolvidas nesta relação, que ao mesmo tempo que estimula o investimento em ciência, direciona as pesquisas para as necessidades da sociedade, podendo limitar os campos de pesquisas científicas. Também realiza uma reflexão sobre os obstáculos desta relação, principalmente em um país capitalista, que tende a direcionar as pesquisas aos interesses de mercado e sobrevivência das empresas em meio a concorrência. Entre as necessidades da sociedade, destaca-se a importância de se pensar o Estado e administração pública, debruçando-se sobre os governos locais, que receberam mais responsabilidades sobre as políticas públicas após a Constituição de 1988, sem que seus gestores públicos tenham recebido apoio qualificador necessário. Neste contexto de fortalecimento da relação ciência-sociedade, e dada a lacuna de apoio às administrações municipais, este artigo se coloca como um possível caminho, pois ao relacionar tais temas, indica que as administrações municipais podem ser fortalecidas se seus gestores buscarem nas pesquisas científicas as respostas para a resolução de seus problemas.
Pedagogia da Alternância e suas contribuições para o Desenvolvimento Local
Letícia Cristina Antunes, Maria de Lourdes Bernartt, Nayara MassucattoGrupo Temático: Políticas Públicas e Desenvolvimento Local: interveniências e interações entre tecnologia, sociedade e democracia
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A Pedagogia da Alternância - PA - foi adotada no Brasil com a finalidade de proporcionar aos jovens provenientes do meio rural uma formação profissional voltada a realidade local, que os torne protagonistas, capazes de refletir sobre as questões que permeiam sua realidade e consequentemente contribuir para o fortalecimento e desenvolvimento de seu meio. Em face disso, o estudo objetivou investigar como essa modalidade de ensino contribui para a promoção do Desenvolvimento Local. A pesquisa caracterizou-se como bibliográfica, de modo que foram analisados seus princípios e fundamentos para verificar se existem contribuições dessa proposta para o Desenvolvimento Local. O estudo se propõe a contribuir na medida em que discute uma modalidade de ensino, a qual preconiza o envolvimento da comunidade, busca ao longo do processo formativo conciliar teoria e prática, enfatizando as vivências e diálogos estabelecidos dentro e fora do ambiente escolar, para além, oportuniza o diálogo entre os diferentes saberes promovendo a interdisciplinaridade.
Rede, território e políticas públicas: novos paradigmas políticos.
Lalita KrausGrupo Temático: Políticas Públicas e Desenvolvimento Local: interveniências e interações entre tecnologia, sociedade e democracia
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A tecnologia possibilitou novas relações de poder e de interação sociopolítica, constituindo o elemento central se formos considerar a possibilidade que se constuiam novos sujeitos políticos e, portanto, novas oportunidades democráticas.
O objetivo do presente trabalho é explorar a ação sociopolítica da RESAB - Rede de Educação para o Semiárido Brasileiro, e seu potencial em termos de relações políticas mais democráticas e de resultados concretos nas políticas públicas no Semiárido. A RESAB é uma articulação político-pedagógica, que reúne atores governamentais e não-governamentais, e atua no Semiárido brasileiro. O objetivo da rede é contribuir para a formulação de políticas públicas para o Semiárido e a implementação de propostas pedagógicas contra-hegemômicas nas escolas. Impõe-se como um novo sujeito político que se organiza em rede e almeja promover um novo paradigma político de convivência com o Semiárido numa região historicamente vitima de intervenções públicas assistencialistas, emergenciais e ineficazes.
Do ponto de vista metodológico, para investigar a ação sociopolítica da RESAB será explorado o processo organizativo da rede e a mediação tecnológica. Essa relação será articulada com os resultados que a rede alcançou de forma transescalar nas políticas públicas. Em primeiro lugar, serão identificados os atores envolvidos, o processo organizativo e decisório, colocando em destaque o uso e o papel da tecnologia. Isto será feito através da mineração dos dados da rede facebook da RESAB, de entrevistas e da participação nos encontros presenciais da rede. Em segundo lugar, serão investigados os resultados em termos de políticas públicas em nível nacional, estadual e local, através de entrevistas com os membros da rede e representantes do poder público.
Dáwólé Yorubá - Aplicação da mitologia iorubá na construção de um jogo eletrônico infanto-juvenil
Leonardo Alvarez FrancoGrupo Temático: Presença Africana no Brasil: conhecimento tecnológico, linguagem, educação e interação social
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Dáwólé Yorubá é o trabalho de pesquisa e desenvolvimento de um Game Design Document, um guia para a futura criação de um jogo eletrônico, cujo roteiro será baseado em mitos do povo iorubá, nativo da Nigéria e parte importante da formação cultural brasileira. Fundamentado em estudos de Pierre Verger e Reginaldo Prandi, este documento apresenta um registro de elementos culturais que deram origem a diversos aspectos da criação desse jogo. Define elementos narrativos, estéticos, e de jogabilidade. Todos os personagens importantes foram detalhados visualmente, baseados em representações tradicionais e em características importantes representadas por eles em lendas. Também foram descritos textualmente, agregando conhecimentos divulgados pelos pesquisadores supracitados, e demonstrando o papel de cada um na narrativa proposta. Alguns esboços de cenários de jogo e desafios de jogabilidade foram feitos, e artes conceituais foram desenvolvidas. O trabalho tem por objetivo criar um produto que transmita esses conhecimentos às crianças e adolescentes, de forma lúdica e utilizando estruturas de contos mitológicos, para assim combater o preconceito que a cultura negra ainda sofre no país. Visa também utilizar a linguagem dos jogos eletrônicos para divulgar essa mitologia, que é parte importante da nossa sociedade e muitas vezes marginalizada, para toda a comunidade de jogadores.
Patografias de Friedrich Nietzsche - um debate que ultrapassa o campo das ciências médicas
Luciano Monteiro CaldasGrupo Temático: Saberes do corpo e sobre o corpo: formas de conhecimento, experiência, ciência e expertise
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Este trabalho discute alguns aspectos da controvérsia sobre a saúde/doença mental do filósofo alemão Friedrich Nietzsche. As publicações consideradas apareceram na primeira metade do século XX e, apesar de heterogêneas e conflitantes, transformaram o debate em torno das relações entre loucura e atividade criativa uma das passagens obrigatórias para pesquisadores da obra nietzschiana.
A produção científica a respeito costuma ser designada como "patografia", gênero definido como uma variedade de escrita médica comprometida com a reconstrução histórica de um determinado caso. No entanto, as dissonâncias entre o que seriam os exemplares de um único gênero discursivo e a diversidade dos projetos científicos enquadrados na mesma categoria recomenda uma revisão da delimitação corrente.
Com base na revisão da bibliografia e na apreciação de tendências flagrantes no debate sobre a loucura do filósofo, procuro mostrar que as interpretações a respeito remetem a diferentes concepções sobre a relação entre saúde e doença - tema privilegiado na obra nietzcheana.
Avaliação da qualidade de vida das pessoas da terceira idade dentro das instituições de longa permanência dos idosos (ILPIs): estudo de caso de Curitiba
Liliane Cristina de Camargo CochmanskiGrupo Temático: Tecnologia e Dignidade Humana
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O envelhecimento populacional é um processo natural que está ocorrendo no mundo todo. No Brasil, esse ritmo está acelerado, levará apenas 34 anos para a população envelhecer, enquanto a França e outros países europeus levaram um século. Com o aumento da população idosa, a sociedade passa por importantes consequências culturais, sociais e econômicas. Advindo de muitos problemas, que estão relacionadas as famílias com condições econômicas precárias e número cada vez menor de filhos, habitações sem planejamento para a terceira idade, asilos sem infraestrutura para atendimento, cuidadores de idosos sem formação, descaso, abandono, pobreza. Mediante 20 entrevistas estruturadas e 15 visitas nas Instituições de Longa Permanência dos Idosos (ILPIs) existentes na cidade de Curitiba, foi possível identificar as reais condições da qualidade de vida dos idosos. No qual foram observados carência em infraestrutura da edificação; falta de local ao ar livre com direito ao sol fora do recuo frontal e sem exposição à rua; serviços e atividades ofertadas, como: médicos geriátricos, odontológicos, atividades voltadas as doenças que mais se apresentam nas instituições (mal de Alzheimer e outras), cursos para capacitar as pessoas. Percebeu-se que as condições estabelecidas na Legislação para as normas de funcionamento das ILPIs, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Anvisa (RDC n° 283) (Brasil, 2005), devem ser revistas. Além do fato, do padrão mínimo estabelecido ser baixo para se garantir uma qualidade de vida digna dentro das ILPIs, muitas vezes não é atendido. Existe uma falta de integração entre os órgãos fiscalizadores e uma falha na metodologia de avaliação junto as ILPIs.
Inovação tecnológica e propriedade intelectual no setor de defesa nacional e segurança: a transferência de tecnologia como ferramenta para o desenvolvimento econômico.
Lenilton Duran Pinto Correa, Beniamin Achilles BondarczukGrupo Temático: Reflexões sobre Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: dimensões históricas, econômicas e sociais
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Recentemente (2013), o Congresso Nacional aprovou três importantes documentos para o setor de Defesa Nacional e Segurança: a Política Nacional de Defesa (PND); a Estratégia Nacional de Defesa (END) e; o Livro Branco de Defesa Nacional (Brasília, 2013). A PND salienta que a defesa do País deve caminhar inseparavelmente de seu desenvolvimento e que os atores que formam a "tripla hélice" - governo, indústria e academia - devem contribuir para assegurar que o atendimento às necessidades de produtos de defesa seja apoiado em tecnologias sob domínio nacional, obtidas mediante estímulo e fomento dos setores industrial e acadêmico. A END, por seu turno, elegeu a reorganização da Base Industrial de Defesa (BID) como um de seus eixos estruturantes. A END também se liga a outro importante documento de articulação de políticas públicas: a Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (ENCTI). O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), por meio da ENCTI, elegeu o complexo industrial da defesa como um programa prioritário dentre as cadeias mais importantes para impulsionar a economia brasileira.
O tema apresenta especial relevância, uma vez que empresas inovadoras buscam tecnologias de origem interna ou externa às suas fronteiras organizacionais. Uma fonte externa de inovação para as empresas é a transferência de tecnologia (TIGRE, 2014). Uma tentativa de definí-la pode ser enunciada como "uma transferência formal de novas descobertas e/ou inovações resultantes de pesquisa científica administrada pelas instituições de pesquisa ou empresas para o setor industrial e comercial" (MATTOS e GUIMARAES, 2012). Acrescente-se que a cooperação entre instituições públicas e privadas foi e ainda é um meio valioso de construir, com tempo, estratégia e esforços coletivos, vantagens comparativas que beneficiem o setor produtivo. Desta forma, quando se fala em desenvolvimento nacional, as relações institucionais público-privadas assumem importância fundamental na busca de objetivos e soluções comuns (MEDEIROS, 2012).
Ao tratar de políticas de propriedade intelectual e gestão da inovação neste setor sensível e considerado como prioritário para o desenvolvimento nacional, procurar-se-á utilizar de pesquisa bibliográfica e documental (leis, decretos, portarias e outros atos normativos, assim como livros, jornais, revistas, mídia eletrônica e documentos ostensivos).
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Conhecimento teórico e prática artística: a pintura ilusionista entre Portugal e Brasil no reinado joanino
Magno Moraes Mello (UFMG)Grupo Temático: Ciência e Techné na História
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O ilusionismo arquitetônico é um dos campos mais intrigantes da história da arte. Estudar estas pinturas, descobrir os seus segredos científicos e os seus fundamentos teóricos, significa aprender como se realizava uma quadratura e quais eram as consequências visuais deste gênero pictórico. Significa ler a pintura como um tratado e escrever específicos capítulos inseridos tanto na à história da arte como na história da ciência. Algumas questões devem ser examinadas: a relação entre o artista, a obra e os procedimentos perspécticos. Neste caso encontramos a relação com a ciência: um caso fulcral nas nossas investigações. Trata-se aqui do conhecimento teórico, mas também prático de oficina, de hábitos culturais e de condicionamentos sociais. Uma pintura fundamentada na teoria dos diversos tratados de perspectiva, mas também condicionada por questões de ateliê e hábitos culturais. A analogia entre Arte Barroca e Contra-Reforma é fulcral, pois torna-se necessário, neste estudo, uma ligação entre a representação figurativa com temas religiosos e a decoração pictórica no interior das igrejas. Tudo condicionado pela matemática, construindo um conceito de infinitude, de modo que o fruidor sentir-se-á ator e espectador ao mesmo tempo. Neste novo ambiente artístico da pintura de simulação arquitetônica o seu principal objetivo é atingir a fantasia do espectador. No que diz respeito à tratadística ou à teorização da perspectiva, os Jesuítas foram grandes interessados, difundindo esta «nova visualidade» desde a América até à China. Numa tentativa de síntese, os Jesuítas compreenderam que podiam representar o infinito divino no espaço pictórico, através da racionalização da perspectiva e da cenografia; consideraram a perspectiva como uma construção racional da visão divina no estabelecimento da ordem simbólica.
O papel da concepção de saudável nas inovações alimentares: um estudo sobre o campo científico da produção de alimentos na UFSC (Brasil) e na ULG (Bélgica)
Manuela de Souza Diamico (Universidade Federal de Santa Catarina)Grupo Temático: Reflexões sobre Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: dimensões históricas, econômicas e sociais
Resumo
A inovação na área de alimentos tem crescentemente envolvido a noção de saudável. Nosso objetivo nesta apresentação é expor a influência da concepção de saudável sobre o campo científico de produção de alimentos e o desenvolvimento de inovação. Trata-se de uma pesquisa comparativa entre a Universidade Federal de Santa Catarina e a Universidade de Liège. Analisaram-se os currículos, produção bibliográfica e linhas de pesquisas em cinco cursos relacionados a área de produção de alimentos. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com 16 professores das universidades citadas. Apresentam-se os resultados da análise, mostrando as diferenças entre as universidades e como e por que a concepção de saudável utilizada por cada disciplina tem peculiaridades. As disciplinas consideradas tradicionais na área de alimentos relacionam saudável à proteção higiênico sanitária e ao tempo de prateleira, enquanto as disciplinas “novas” veem saudável como uma oportunidade para unir propriedades físicas dos alimentos à intervenções diretas no melhor funcionamento do corpo humano. Apresentam-se também resultados sobre o formato dos sistemas de inovação nos dois países. Esta pesquisa insere-se nos debates sobre propriedade intelectual e as parecerias públicas e privadas, ponto de controvérsias no meio científico. Insere-se no esforço de estudos sobre ciências-tecnologias-sociedades (CTS) em compreender o processo de produção e divulgação do conhecimento.
Práticas de gestão de recursos comuns e alianças estratégicas: apoio à tomada de decisões na conservação socioambiental do litoral do Paraná
Manuela Dreyer da Silva (UTFPR)Grupo Temático: Pedra, planta, bicho, gente... coisas: encontros da teoria ator-rede com as ciências ambientais
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Manuela Dreyer da Silva (autora); Décio Estevão do Nascimento (coautor)
A pesca no litoral do Paraná é caracterizada como artesanal, com grande diversidade de modos de pesca, delineados de forma detalhada por Andriguetto Filho (1999; 2002; 2006). Segundo o Ipardes (1981), a atividade apareceu na região ligada à subsistência, de início articulada à produção rural. Com o aparecimento de mercados locais, a pesca transformou-se em uma atividade autônoma, com importância regional (Ipardes, 1981), reiterando a importância de se conhecer e discutir seus processos de gerenciamento. Os modelos atuais de gestão da atividade pesqueira, os quais embasam fortemente suas diretrizes em modelos centralizadores, muitas vezes desconsideram variáveis sociais em seus sistemas, o que parece comprometer as condições atuais da pesca artesanal (SEIXAS et al., 2011). Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (2015), essa descaracterização da atividade se agrava porque esses modelos de gestão não discutem as tecnologias aplicadas à pesca e as modificações populacionais, políticas, ambientais e econômicas que ocorrem nas áreas ocupadas por comunidades pesqueiras. Para analisar o processo acima descrito, o projeto, recém-iniciado, propõe considerar a pesca na perspectiva de uso de recursos comuns, perspectiva essa que apresenta outros modelos de gestão, embasados na teoria de Elinor Ostrom (OSTROM, 1999). É nesse contexto, que o projeto pretende compreender as práticas gerenciais dos recursos comuns que facilitam ou dificultam os processos de tomada de decisão acerca da conservação socioambiental. Em relação às alianças estratégicas (que é tratada na teoria de Ostrom como um fator de cooperação), espera-se discutir a governança no contexto de governança interativa de Kooiman et al. (2008) e da teoria ator-rede, tratada como uma abordagem relacional por Schmitt (2011). Nesta conjuntura, a pergunta que anima a pesquisa, no que tange os estudos CTS, relacionado ao sistema sociotécnico da pesca artesanal, é: Como pode ser aperfeiçoada a tomada de decisão acerca da conservação socioambiental a partir de modelos de gestão de recursos comuns e alianças estratégicas?
Análise bibliométrica da produção do conhecimento de um programa de pós-graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade
Marcela de Fátima Nascimento de Macedo Torres (Universidade Federal de São Carlos - UFSCar), Leandro Innocentini Lopes de Faria (Universidade Federal de São Carlos UFSCar), Micherlângela Barroso Rocha (Universidade Federal de São Carlos), Wanda Aparecida Machado Hoffmann (UFSCar)Grupo Temático: Programas de Pós-Graduação em Estudos CTS & políticas científicas e tecnológicas para inclusão socioprodutiva: um debate
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A formação de pessoas e a produção de conhecimento são essenciais para a consolidação de um campo científico. O estudo das teses e dissertações de programas de pós-graduação (PPG) de um campo oferece informações sobre seu avanço quanto a temas estudados, lacunas de pesquisa e atores envolvidos. Esta pesquisa teve como objetivo a descoberta dos temas estudados nas dissertações de um PPG interdisciplinar que se identifica dentro do campo CTS. O programa foi o de Pós-graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade da UFSCar (PPGCTS) que busca a formação de recursos humanos para pesquisa, docência e atuação em áreas diversas que se beneficiam da convergência de saberes própria do campo CTS. O método foi a análise bibliométrica das palavras-chave contidas nas 107 dissertações produzidas de 2009 a 2014 nas 3 linhas de pesquisa do PPG: 1) Dimensões sociais da ciência e tecnologia (45 dissertações), 2) Gestão tecnológica e sociedade sustentável (46) e 3) Linguagens, comunicação e ciência (16). Das 369 palavras-chave identificadas, foram agrupadas aquelas que tinham o mesmo significado (ex. Ciência, Tecnologia e Sociedade e CTS), bem como palavras diferentes mas que remetem ao mesmo tema (ex. Bibliometria e Análise bibliométrica), restringindo a análise a 280 palavras-chave. Apenas 3 palavras-chave (Ciência, Tecnologia e Sociedade; Comunicação e divulgação científica e Informação) foram comuns às dissertações das 3 linhas e referem-se ao foco amplo do próprio Programa. Foram identificados temas exclusivos de cada uma das linhas, que representam suas identidades e as diferenciam das demais. A Linha 1 apresentou 98 temas exclusivos, tais como Economia solidária e Propriedade intelectual. A Linha 2 apresentou 99 temas exclusivos, tais como Inteligência competitiva e Empresas de base tecnológica. A Linha 3 apresentou 55 temas exclusivos, como Discurso e Jornalismo literário. As Linhas 1 e 2 apresentaram 21 temas em comum (ex. Patentes, Bibliometria e Inovação) com indícios de que são abordados sob perspectivas teóricas distintas. O método adotado permitiu ampliar o conhecimento sobre os temas estudados pelo PPGCTS e estudos posteriores poderão investigar a trajetória desses temas ao longo do tempo, comparando-os com outros programas CTS, bem como analisar o conteúdo (contribuições metodológicas, problemas estudados, etc) das dissertações.
Programa de Ansiedade e Depressão: uma análise acerca da recepção e consolidação da Psiquiatria Biológica no IPUB/UFRJ (1984-1998)
Marcela Peralva Aguiar (Instituto Fernandes Figueira/Fiocruz)Grupo Temático: Estudos CTS, Práticas Psi e Modos de Produção de Subjetividades
Resumo
No final do século XX surge no campo psiquiátrico norte-americano uma vertente da psiquiatria denominada Psiquiatria Biológica. Esta vertente se consolida como hegemônica no cenário psiquiátrico internacional a partir da publicação da terceira versão do DSM – Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders –, em 1980, que retira a nomenclatura psicanalítica – até então hegemônica no campo - de seu escopo classificatório e passa a se basear em critérios descritivos e objetivos de análise, deixando de fora a discussão acerca da etiologia das doenças psiquiátricas. Neste trabalho, analisaremos a recepção e a consolidação desta vertente psiquiátrica no Programa de Ansiedade e Depressão do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB/UFRJ). Este Programa, que existe até os dias de hoje, se mostrou relevante para nosso estudo por possuir desde sua fundação, em 1984, a orientação da vertente biológica em suas pesquisas e tratamentos. Seu financiamento advém das agências governamentais, da própria Universidade e de indústrias farmacêuticas. De modo mais específico, podemos dizer que o estudo deste Programa visa à compreensão de seu contexto de fundação, à identificação dos principais nomes ligados a ele – fundadores e membros – e à compreensão de sua abordagem teórica e prática da Psiquiatria Biológica, o que inclui o modo de funcionamento de suas pesquisas. O recorte temporal da nossa pesquisa compreende o período de 1984 a 1998. Consideramos que este Programa de pesquisa deve ser compreendido como pertencente a uma rede complexa que interliga uma série de atores, instituições e campos do saber que transcendem em muito ao IPUB e à própria psiquiatria ao mesmo tempo em que depende de ambos.
Análise antropotecnológica de redes sociotécnicas na triagem de resíduos sólidos urbanos
Marcelo Alves de Souza (UFMG)Grupo Temático: Estudos Sociais da Tecnologia e Expertise na Engenharia
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As promessas tecnológicas para solução de problemas urbanos complexos, estão cada vez mais presentes na atualidade. A complexificação da sociedade e de seu funcionamento na modernidade, aliados ao crescimento populacional, principalmente nas grandes metrópoles, gera inúmeros desafios que os gestores públicos devem ser capazes de responder. Um desses problemas é a questão do lixo, que é agravada pelo consumismo exacerbado, característica marcante do atual sistema econômico. O Brasil vivencia um novo marco regulatório para a gestão de resíduos sólidos urbanos (RSU), estabelecido pela Lei nº 12.305/10 (Política Nacional de Resíduos Sólidos). Esse marco estabelece, dentre outras diretrizes, a gestão e o gerenciamento de todo resíduo sólido passível de reutilização, reciclagem e tratamento, e destinação final ambientalmente adequada apenas dos rejeitos. Além disso, considera o resíduo como um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania. Esse cenário almejado é bastante distante da realidade da maior parte das cidades brasileiras hoje, e para as grandes metrópoles ainda mais, devido à altíssima geração de resíduos nesses contextos. Diversas tecnologias estrangeiras se apresentam como solução para o problema da escala. O conjunto de fatores sociotécnicos envolvidos na implantação de uma nova tecnologia deveria ser bem analisado antes do projeto das soluções. Porém, tendências de replicação, balizadas na crença da universalidade dos modelos e das tecnologias entram em voga, e representam perigos para a efetivação prática das promessas de eficiência e eficácia dessas soluções. Esse trabalho discorre sobre duas experiências distintas de aplicações tecnológicas visando soluções para o problema dos RSUs: o caso recente de transferência tecnológica e implantação de centrais semi-automatizadas de triagem de RSU em uma grande cidade brasileira de um lado; e do outro a experiência já consolidada de um município estadunidense, referência mundial em reaproveitamento do RSU que produz, através de sistemas similares aos que foram planejados e que estão sendo implantados na cidade brasileira. Com isso, procuramos investigar os principais elementos que influenciam no funcionamento (ou não funcionamento) dessas estratégias para gestão de RSU.
Tecnologia, ciência, sociedade e cultura
Marcelo Cardoso da Costa (IFRJ)Grupo Temático: Pedra, planta, bicho, gente... coisas: encontros da teoria ator-rede com as ciências ambientais
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Tecnologia, ciência, sociedade e cultura - Marcelo Cardoso da Costa, Monique Kort-Kamp
Promover a interdisciplinaridade e contextualização dos conteúdos, promovendo o diálogo entre a área de conhecimento técnico e a área de humanas, é o desafio posto ao ensino técnico e tecnológico. Para este intuito o conhecimento da CTS – Ciência, Tecnologia e Sociedade vêm ganhando importância. Diante disso, o projeto intitulado “Ciência, Tecnologia, Sociedade e Cultura”, selecionado pelo programa de pesquisa da Petrobrás (PFRH2), tem unido as discussões técnica da química e do Petróleo e Gás com o conhecimento social, buscando a produção e material didático (apostilas, vídeos debates e arte cênica) direcionado a docentes e discentes.
O objetivo deste trabalho é o da produção de material didático e lúdico voltado à interdisciplinaridade entre o ensino técnico e o ensino das humanidades. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1996, o objetivo da educação é a formação dos discentes para o trabalho e o exercício da cidadania. O diálogo entre essas duas bases vem encontrando dificuldades tanto para o corpo docente quando para o discente. Um dos limitadores tem sido a falta de material específico que integre essas duas partes, unindo os conhecimentos da área humana com a área técnica, propiciando aos alunos uma visão holística do conhecimento.
A metodologia aplicada foi à pesquisa, a leitura e o debate bibliográfico da temática da CTS, além de entrevistas com profissionais da área. Outra parte foi a realização de reuniões permanentes, as aulas sobre pesquisa acadêmica e a produção de matéria didático (textos e jogos lúdicos).
Os resultados da pesquisa tem sido: a produção de materiais didáticos; e o fato de fazer os alunos aliarem o ensino com a pesquisa, produzindo textos, jogos e apresentações (slides) na área de petróleo, gás, energia e bicombustíveis, aliado as discussões e preocupações sociais. As atividades do projeto têm envolvido: a produção de texto (matriz energética: funcionamento e impactos sociais), de jogos (tabuleiro e quiz), de reuniões permanentes, de visita técnica e de elaboração de um blog (www.englobando-tecnologia-e-sociedade.blogspot.com) e facebook (facebook.com/englobandocts).
Este trabalho pretende contribuir para o debate sobre CTS, aliando o conhecimento tecnológico com a cidadania, a proteção ao meio ambiente e a vida social.
Design e materialidade sob a ótica da teoria ator-rede: desenvolvimento sustentável de artefatos de gesso como tecnologias sociais no município de Aparecida, São Paulo.
Marcelo Manoel Valentim Bastos (UNIFEI), Isabella Batista Graça Grego (Universidade Federal de Itajubá)Grupo Temático: Produção de conhecimentos e artefatos - Experiências interdisciplinares em design
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A cidade de Aparecida do Norte, localizada no estado de São Paulo, recebe em torno de 12 milhões de turistas por ano do segmento religioso e como consequência são movimentados acima de 1 bilhão de reais no município. Mesmo com esta grande quantidade de recursos, as desigualdades sociais são ainda visíveis, o que permite questionamentos sobre este modelo econômico estabelecido. Dentro deste contexto, o presente trabalho tem por objetivo avaliar a aplicação de design e materialidade empregando artefatos de gesso produzidos por pequenos artesãos no município de Aparecida/SP, com o intuito de contribuir para a geração de renda destes pequenos grupos. Esta aplicação será baseada no aproveitamento da casca de arroz, um subproduto que normalmente é descartado por diversos produtores locais devido a sua limitada aplicação e que no presente estudo será utilizado como um aditivo sustentável para um novo material compósito de gesso. As análises serão realizadas sob a ótica da Teoria Ator-Rede, na qual é colocada como pilar principal nos processos metodológicos desta pesquisa a fim de identificar as associações entre os atores envolvidos neste processo. Sua importância se dá por constantes incertezas na natureza dos grupos, ações, objetos e fatos e a partir do pressuposto de que atores não humanos também tem voz para o entendimento de uma rede, beneficiando estudos que envolvam artefatos, materiais e elementos híbridos, desde os procedimentos de avaliação do material no laboratório até a sua possível adequação nos artefatos produzidos pela rede de artesãos. A analise desta rede consolidará um entendimento no qual espera-se abrir um caminho para a aplicação deste material desenvolvido como uma Tecnologia Social a partir de um modelo de inserção sociotécnica. Dentro do contexto, este trabalho configura-se em caráter interdisciplinar, pois permeia por diferentes áreas do conhecimento, incluindo a do design, da engenharia de materiais e das ciências sociais, formando um elo entre redes que não se comunicam no meio acadêmico, contribuindo neste sentido para a comunidade científica.
Uma comissão, suas decisões e as polêmicas no campo da Informática brasileira – as atividades da CAPRE através da grande Imprensa e nos periódicos especializados.
Marcelo Vianna (PUCRS)????
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O agravamento da crise da balança de pagamentos em 1975 trouxe a necessidade do Estado em tomar uma série de medidas restritivas de importações. Entre elas, estava a redefinição das atribuições da Comissão de Coordenação das Atividades de Processamento Eletrônico (CAPRE), órgão criado em 1972, dotando-a de poderes no controle de computadores e periféricos no país. Logo a CAPRE se constituiu um locus privilegiado para gestar uma policy para desenvolver uma indústria nacional de computadores, buscando assim materializar o discurso de autonomia tecnológica presente na comunidade técnico-científica e demais apoiadores no campo da Informática brasileira. Através de seu conselho plenário, importantes decisões foram tomadas no incentivo de projetos nacionais, como a concorrência para fabricação de minicomputadores (1977). Logo as ações da CAPRE atraíram a atenção da Imprensa, tanto nos grandes veículos de comunicação (O Globo, Jornal do Brasil, Estado de São Paulo), quanto na Imprensa especializada (Dados e Ideias, DataNews), suscitando notícias sobre as principais decisões tomadas pelo órgão – ainda que fosse considerado um tema difícil ao grande público. Nosso objetivo é discutir algumas características dessas coberturas, pontuando as convergências e divergências entre as publicações, como periodicidade de matérias, os espaços em suas páginas e suas posições (favoráveis ou não). Levando-se em conta o uso destas publicações como fontes aos historiadores do tema, trata-se de estabelecer um exercício crítico sobre elas. Como integrantes de um espaço social específico (o jornalístico), os jornais interagem por meio de suas instituições, agentes, matérias e métodos, integrando-se em uma rede com os agentes do campo da Informática. Assim, ao publicizar as ações da CAPRE, não só viabilizam um espaço a ser ocupado pelos defensores de uma política de autonomia tecnológica (muitas vezes através de um discurso tecnopolítico), mas também mostram as intenções dos periódicos em influenciar os rumos da Informática no país.
Lugar de mulher é na matemática – percepções de professoras de matemática sobre suas trajetórias profissionais.
Márcia Barbosa de Menezes (UFBA)Grupo Temático: Gênero, Ciência e Tecnologia: avanços e desafios
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O artigo analisa, na perspectiva dos Estudos de Gênero, trajetórias de vida e concepções - sobre mulheres na matemática - de professoras que deram seguimento ao projeto das pioneiras Arlete Cerqueira Lima e Martha Dantas na construção e na consolidação do conhecimento matemático na Bahia. Com uma ênfase especial sobre as representações que articulam identidade de gênero e habilidades supostamente exigidas para o exercício do pensamento matemático, o artigo destaca o enfrentamento de preconceitos sobre a suposta dificuldade feminina com a racionalidade, uma importante associação entre gênero e geração na percepção das docentes sobre suas próprias trajetórias e revela ainda o difícil equilíbrio entre vida pessoal e carreira profissional, como, aliás, tantos outros estudos vêm demonstrando. A metodologia utilizada no estudo, ancorado na epistemologia do Ponto de Vista (Standpoint Theory) incluiu análise documental e entrevistas semiestruturadas, cuja análise se deu a partir da utilização de elementos da Análise Crítica do Discurso. Os resultados deste estudo revelam as dificuldades das professoras na construção de suas carreiras acadêmicas em função de suas obrigações familiares, especialmente com os filhos. Essas dificuldades se expressam concretamente na impossibilidade de cursarem seus doutorados, condição essencial para a ascensão profissional. O estudo também possibilitou o desvelamento do papel das mulheres no processo de consolidação do Instituto de Matemática da Universidade Federal da Bahia e contribui de modo consistente para a desconstrução de preconceitos sobre a participação feminina na área da Ciência e Tecnologia.
O UNIX-compatível SOX : uma história de um sistema operacional brasileiro no discurso de autonomia tecnológica da década de 1980.
Marcia de Oliveira Cardoso (Universidade Federal do Rio de Janeiro)Grupo Temático: Dimensões da História e Memória da Informática no Brasil
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No Brasil, durante a década de 1980, a empresa estatal Computadores e Sistemas Brasileiros S. A.(Cobra) projetou e desenvolveu um sistema operacional chamado SOX. Originalmente, o sistema foi concebido para fazer parte do conjunto de artefatos que constituiriam um novo produto da empresa: uma linha de computadores chamada Linha X. Porém, logo o SOX também seria comercializado pela Cobra, independente da venda dos novos computadores. Como produto, embora o SOX tenha sido considerado compatível com o UNIX, o sistema operacional norte-americano desenvolvido pela empresa American Telephone and Telegraph (AT&T), diferente de outras empresas brasileiras, a Cobra não o desenvolveu apoiada no código fonte daquele sistema. E esta diferença fez com que estas outras empresas transformassem o sistema em um “padrão brasileiro, UNIX-incompatível, contrário ao que o mundo utilizava”. Desta forma, quando o SOX recebeu uma certificação baseada nas especificações do padrão X/Open Portability Guide 2 (XPG2 ), definidas por um consórcio de empresas europeias, em 1989, a Cobra entendeu este ato como a confirmação e a garantia de compatibilidade do seu sistema com o UNIX. E mesmo assim, em 1992, a direção da Cobra resolveu descontinuar o projeto SOX. Motivo: ele estava “na contramão da história”.
Procurando seguir os princípios e regras propostos por Bruno Latour (2000), este trabalho apresenta uma história do SOX, buscando entender as tramas e os acordos que sustentaram seu desenvolvimento dentro de um discurso de autonomia tecnológica - discurso, este, tal qual definido por Edwards (1996). Ao mesmo tempo, utiliza-se o SOX , para entender as maquinações que proporcionaram o aparecimento de novos discursos, como o de inovação tecnológica, que utilizaram aliados do próprio discurso de autonomia tecnológica, encontrando seus pontos de interseção. Para tal, foi fundamental fazer uso da memória dos desenvolvedores do sistema, trazendo também a experiência pessoal destes atores/protagonistas como fonte material do trabalho.
Novos espaços, novas leis e dinâmicas produtivas na pesquisa biomédica e suas implicações para o trabalho técnico
Marcia de Oliveira Teixeira (Fundação Oswaldo Cruz)Grupo Temático: GT Ciência, tecnologia e inovação social
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O ambiente de pesquisa biomédica no Brasil experimenta uma série de mudanças quanto às suas formas de organização e regulação. Assim nos últimos anos identificamos a constituição e regulamentação de novas leis, a introdução de estratégias de gestão da pesquisa, bem como a indução de objetos com alto potencial de absorção pelo setor produtivo com vistas à competitividade econômica. De modo geral, é possível estabelecer relações entre esses movimentos e a internacionalização da pesquisa. Mas os efeitos de mais longo prazo para as instituições (e para o ambiente de C&T nacional) não estão claros. Isso porque os processos estão em curso, e geram movimentos contrários e hibridações com práticas e processos já instituídos. Consideramos que no interior das instituições e dos laboratórios de pesquisa, em particular, esses movimentos são (re)produzidos em uma dinâmica de (co)produção que afeta o modo como usamos as estratégias de gestão, como interpretamos as leis e tornamos os objetos de pesquisa estratégicos e prioritários.
Ainda assim, é possível identificar um complexo movimento de incorporação de novas dimensões às práticas de trabalho nos laboratórios de pesquisa. Destacamos aqui a pressão legal sobre o uso de animais de pesquisa e para a adequação dos espaços de trabalho às normas de organismos internacionais, a indução ao uso de instrumentações científicas especificas, bem como a formação de arranjos que envolvem o trabalho cooperativo e a prestação de serviços tecnológicos entre laboratórios, instituições e países. Há um esforço de unificação de agendas de pesquisa, pressionando o repertório de conhecimentos necessários ao trabalho, o tipo de pesquisa realizada e como ela é difundida.
Interessa-nos investigar os efeitos da constituição de um espaço específico “plataformas para experimentação de animal” sobre a configuração da pesquisa. Em textos anteriores caracterizamos as plataformas e analisamos alguns desdobramentos do seu uso na gestão da pesquisa. Exploramos também as transformações recentes na experimentação com animais. Apontamos algumas implicações para o trabalho técnico. Nesse trabalho o intuito é aprofundar a discussão sobre as posições do trabalho técnico na produção de conhecimentos científicos, estabelecendo para tanto dialogo entre as abordagens STS e a produção sociológica sobre mundos do trabalho no Brasil contemporâneo.
Circulação de conhecimento na ciência e a negociação da visualidade
Márcia Regina Barros da Silva (Universidade de Sâo Paulo)Grupo Temático: Medicina na América Latina: práticas científicas, dispositivos tecnológicos e inovações terapêuticas
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Bastante conhecido pela sua extensa atividade cinematográfico o documentarista Benedito Junqueira Duarte atuou em projetos que ligam o cinema à pesquisa médica em diversas áreas. Interessa destacar o uso e o manejo que Duarte faz da visualidade própria do cinema para expor temas, tensões e encaminhamentos que o tornam um interlocutor de cientistas e entre esses e o público. A atividade cinematográfica também o habilitou a ser um participante ativo na construção e exposição dos conhecimentos resultantes da prática científica, no caso, da medicina. Seus filmes podem ser divididos em filmes institucionais, de ensino e de divulgação científica, em todos esses casos o que se apresenta é uma relação muito íntima com a prática médica, que permite ao documentarista construir panoramas em que a ciência tem papel de destaque. De modo geral sua produção trata tanto da vida saudável quanto do estado da arte da medicina paulista e brasileira. Interessa discutir especificamente como foram constituídas estruturas e mecanismos, ou procedimentos, em que o laboratório, a sala de cirurgia, o estúdio cinematográfico e a sala de cinema se tornam locais da confirmação e criação de conhecimento. Para discutir como a circulação de ideias sustenta a mudança na ciência é preciso compreender os processos sociais de negociação, situados no tempo e espaço. O que Karin Knorr Cetina chama de “culturas epistêmicas” pode ser, portanto dimensionado frente à noção de que as operações cognitivas são construções antes que descrições do mundo natural, carregadas de decisões em que a seletividade está incorporada à prática científica, que se torna assim contextual e contingente, e assim não universal.
Tecnologia e improviso. A inovação em ambientes de escassez: o caso das oficinas da Light & Power Co.
Marco Antonio Cornacioni Sávio (Universidade Federal de Uberlândia)Grupo Temático: Reflexões sobre Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: dimensões históricas, econômicas e sociais
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No início do século XX, a Light & Power Co. se constituiu como a maior empresa de tecnologia do país, investindo na construção de um vasto sistema sóciotécnico em cidades como S. Paulo e Rio de Janeiro. O estilo de construção desses sistemas baseou-se em opções de caráter híbrido (envolvendo modelos aplicados em países diversos). Num modelo amplamente dependente de fornecimento de peças e mão-de-obra estrangeira, a companhia teve de enfrentar, em diversas ocasiões, longos períodos de escassez de peças de reposição, bem como variações cambiais que encareciam as importações e dificultavam a manutenção dos equipamentos já instalados no país, bem como da expansão desses sistemas. A escassez de um corpo técnico especializado local, bem como a dificuldade de manter um estoque de peças de reposição - principalmente para os bondes - levou a empresa a adotar como prática uma série de improvisações, valendo-se do serviço de artesãos cujos trabalhos foram, ao longo de muito tempo, utilizados pelas empresas de importação sediadas na cidade de S. Paulo. Essa prática, inaugurada já no ano de 1900, transformou as oficinas da empresa num espaço de improvisação e testes de alternativas locais que pudesses, de alguma forma, substituir a dependência do fornecimento de peças vindas dos Estados Unidos, e substituí-las por soluções locais. A adoção dessas medidas acabou por transformar a Light numa propagadora de soluções originais para os problemas diários enfrentados pela empresa, caracterizando um tipo de modelo de inovação de escassez. Nesse modelo, os funcionários das oficinas, sem possuírem uma escolarização técnica formal, eram os responsáveis por encontrar alternativas para os problemas diários enfrentados pela companhia, que iam desde a falta de peças para seus geradores, até a construção de bondes - se utilizando de carros originalmente projetados para o uso em tração animal. Entendendo o processo de inovação como uma relação dinâmica e, muitas vezes, interna ao próprio processo de produção, respondendo a necessidades imediatas colocadas à firma, o estudo do trabalho nas oficinas da Light pode apresentar um melhor entendimento do processo inovativo em situações de escassez, onde a gambiarra se transforma numa alternativa concreta aos modelos e procedimentos originalmente sugeridos nos processos de transferência de tecnologia.
Políticas de C, T & I em petróleo e gás no Brasil do século XXI: do MCTI à ANP?
Marconi Aurélio e Silva (ASCES)Grupo Temático: Política de Ciência e Tecnologia
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Desde que foi criado o Ministério da Ciência e Tecnologia no Brasil, há 30 anos, o ambiente intitucional e as políticas públicas voltadas ao desenvolvimento dessas áreas mudaram radicalmente. Surgiram novos agentes, prioridades e intensidades de investimento por parte do Estado em setores diversos, ditos estratégicos, a depender da prioridade estabelecida pelos diferentes governos. Nos anos 1990, apesar da liberalização e redução de diversas influências estatais, viu-se surgir os Fundos Setoriais, novas regras e estímulos ao investimento público e privado em C, T & I, além do contínuo aprimoramento na ação de instituções como o CNPq e a FINEP, no âmbito federal. Além disso, a criação de agências reguladoras para organizar os novos setores "liberalizados" também marcou aquele redesenho intitucional. Um caso emblemático foi a criação da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Combustíveis Renováveis - ANP, cuja missão inicial foi organizar e regular o setor pós-quebra do monopólio da Petrobras. A partir da década seguinte, com as novas descobertas em Exploração e Produção offshore, mediante a descoberta do Pré-Sal, percebeu-se a importância de alavancar o desenvolvimento científico e tecnológico nacional, viabilizando assim a expansão a novas fronteiras no setor. Assim, à medida que foram sendo leiloados novos campos produtores de petróleo e gás, também foram sendo incorporadas obrigações contratuais de investimento em P & D, que geraram enormes montantes de recursos destinados à inovação, notadamente entre centros de pesquisa empresariais e ICTs nacionais, como as universidades públicas. Com o contínuo contigenciamento de recursos do Fundo Setorial de Petróleo e Gás Natural, o enfraquecimento político do MCTI e de suas agências, em detrimento do aumento dos recursos regulamentados e fiscalizados diretamente por agências reguladoras, como a ANP, estas passaram a direcionar as políticas de C, T & I, criando normas, tendo presença em fóruns decisivos e estratégicos etc. O artigo analisa as principais mudanças em termos de políticas estatais no setor nas últimas três décadas, comparando a atuação do MCTI e de suas agências de fomento (CNPq e FINEP) com a do Ministério das Minas e Energia (MME) e da ANP. Com base em erros e acertos do passado, analisa-se se essa modelo de organização institucional é factível aos demais setores.
A dimensão relacional da inovação colaborativa: propostas para mensuração no setor de saúde
Marconi Aurélio e Silva (ASCES)Grupo Temático: Sistemas de Inovação e seu Alcance Conceitual, Metodológico e Normativo
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A literatura sobre inovação no passado recente destaca a importância da colaboração entre diferentes agentes envolvidos em seus sistemas nacionais, setoriais ou locais. Entre os arranjos mais frequentes e possíveis está o das redes de pesquisa e desenvolvimento, que envolvem agentes empresariais, de ICTs e da sociedade civil, sendo estas continuamente influenciadas pelas decisões de governos. A própria OCDE, que deu vida a diferentes manuais de referência na construção de indicadores de C, T & I (Oslo, Frascati, Camberra etc.), tem revisado seus enfoques à mensuração do fenômeno da inovação ou sobre a identificação dos fatores que lhe são determinantes. A partir do momento em que a interação entre diferentes atores se aprofunda, surge a necessidade de incrementar e cuidar do capital relacional. Desse modo, a inovação, mais que estritamente econômica e condicionada para o mercado, está marcada por fatores sociais. Aprofundar melhor a compreensão sobre a dimensão relacional da inovação colaborativa se mostra agenda de fronteira, visto que compreender o que ajuda ou atrapalha a colaboração, influencia diretamente no esforço inovador em rede. O conceito de Sistema de Inovação, bem como sua crescente teorização, afirmam que as interações entre os atores integram e importam ao funcionamento dos sistemas, como objeto de análise, tanto quanto os próprios atores. Porém, ainda são escassas produções teóricas ou análises empíricas sobre o que determina a colaboração pró-inovação, a partir de seus microfundamentos. O presente artigo pretende, analisando diversas correntes teóricas disciplinares sobre a questão relacional, apresentar uma superação explicativa ao conceito de "destruição criadora" e à consequente formalização de indicadores sobre o fenômeno da inovação pró-mercado, buscando compreender como o conceito de ativos relacionais pode ser útil e servir como novo parâmetro à mensuração do nível de sinergia entre os diferentes atores de um sistema propício à inovação. Com isso, pretende-se compreender melhor se estratégias de lideranças setoriais no tocante ao incentivo do desenvolvimento científico e tecnológico em saúde no Brasil, notadamente lideradas pela FIOCRUZ, levam em considerção tal dimensão.
Gestão local de redes sociotécnicas
Marcos Alberto Martinelli (Universidade Federal de São Carlos)Grupo Temático: Políticas Públicas e Desenvolvimento Local: interveniências e interações entre tecnologia, sociedade e democracia
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A inovação é considerada como um motor do crescimento da economia, mesmo em nível local. A flexibilização das políticas nacionais para ciência, tecnologia e inovação vem permitindo que regiões incluam a gestão da inovação como ingrediente de novas políticas de desenvolvimento. A presente proposta de pesquisa aborda questões sobre a gestão tecnológica e a sociedade sustentável, com foco nos desafios presentes na articulação entre instituições que compõe as chamadas redes sociotécnicas. Nesse contexto, é considerada importante e oportuna as pesquisas de experiências de governança capazes de organizar as articulações dos sistemas locais de ciência, tecnologia e inovação. Entretanto, o problema de pesquisa reside na carência de um modelo de gestão tecnológica adaptável à diversidade dos municípios brasileiros. Assim, o objetivo principal desta pesquisa é investigar os modelos de gestão de territórios tecnológicos e compará-los com exemplo similar de modelos de outros países. Com isso, busca-se propor estratégia para a atuação sistêmica em ambiente favorável à inovação e voltada ao desenvolvimento local sustentável baseado na apropriação social do conhecimento. A metodologia da pesquisa utilizada é aplicada, exploratória e descritiva. Inicialmente serão estudados os municípios de São Carlos e Taquaritinga do Estado de São Paulo. Em uma segunda etapa, está prevista a pesquisa de exemplos de outro país para possibilitar a compreensão de modelos e situações que envolvem redes sociotécnicas fortalecedoras de sistemas de desenvolvimento local. Deste processo se extrai informações para análise qualitativa que fundamentará a formulação de hipóteses em relação à gestão de tecnologias sociais empregadas para o desenvolvimento local, bem como a articulação em rede de forma colaborativa conduzindo a um processo de governança efetiva desse território.
Uma falsa controvérsia: a segunda lua craterada do renascimento galileano entre Elsheimer, Cigoli e Passignano
Marcos Cesar Danhoni Neves (univrsidade estadual de maringá), Josie Agatha Parrilha da Silva (UEPG)Grupo Temático: Ciência e Techné na História
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Galileo Galilei publica em 1610 uma série de novas descobertas astronômicas realizadas mediante o uso de um novo instrumento ótico: o “perspicillum”, mas que se imortalizou com o nome de “telescópio”. O livro, intitulado Sidereus nuncius trazia uma série de descrições ilustrativas de astronomia. Galileo teria descoberto ainda uma natureza tricorpórea ao disco de Saturno e publicou o “Trattato delle macchie solari e loro accidenti”. Este último trabalho deve-se às observações realizadas por três pintores dos seicento, Cigoli, Passignano e Coccapani. Cabe-nos recortar três quadros do seicento: o de Cigoli, o de Elsheimer e o de Passingano. Cigoli afrescou a imensa cúpula papal (Papa Paolo V) da Igreja de Santa Maria, utilizando em seu tema principal, a Madonna Assunta numa subida apoiada numa Lua não imaculada. Um ano antes da publicação do Sidereus um pintor alemão residente em Roma, Adam Elsheimer, pintou o quadro “A fuga para o Egito” que se tornaria célebre pelo significado ganho após a publicação da obra galileana. Há uma interpretação errônea na compreensão da obra de Elsheimer, considerando-a precursora da obra galileana. Um olhar detalhado da obra nos permite refutar a possibilidade da representação de uma “primeira” lua craterada. Finalmente, nos detemos a Passignano ou Domenico Cresti que afrescou também uma Madonna Assunta, apoiada sobre uma lua crescente, mas em forma de corno, no teto da sacristia de Santa Maria Maggiore. No entanto, e esta é uma descoberta de dois dos autores do presente trabalho, um olhar atento para a lua de Cresti revela-nos uma possível lua craterada. Pode-se perceber na linha do terminador uma das crateras representadas por Galileo em seu Sidereus nuncius. Possivelmente, na mesma Igreja, Santa Maria Maggiore, encontra-se a segunda das duas únicas luas crateradas existentes no mundo dentro de uma igreja cristã (católica). Observamos nas obras conjuntas destes pintores o enorme esforço em envolver esse novo mundo numa nova representação pictórica do universo. Entretanto, é necessário compreender cada obra no intrincado quebra-cabeça que dará impetus à radical mudança do velho aristotelismo-tomista para um novo e maravilhoso universo, marcado pelo matrimônio entre o céu e a terra e, especialmente, pelo matrimônio entre arte e ciência.
Política antidoping e a emergência de uma nova ciência da detecção: uma análise antropológica sobre a introdução do passaporte biológico do atleta.
Marcos Silbermann (Unicamp)Grupo Temático: Ciência e direito na coprodução dos fatos tecnocientíficos
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Este artigo apresenta uma análise antropológica sobre a introdução de um novo mecanismo de controle na luta antidoping. Ao realizar esta análise busca compreender como uma nova forma de determinar o uso de doping explicita as imbricadas relações entre moralidade e dispostivos sociotécnicos. Para isso, acompanha a introdução do Athlete Biological Passport (ABP) aos procedimentos de controle de dopagem desenvolvidos pela World Antidoping Agency (WADA), a qual pretende mudar radicalmente a forma como são produzidas provas sobre o uso de doping entre atletas. Com esta nova modalidade de controle antidoping a Wada procura estabelecer pela primeira vez na curta história das políticas de combate ao doping uma no-start rule (Sottas, 2011), o que siginifica impedir com que atletas usuários de substância proibidas cheguem a participar das competições. Baseando-se na instauração de um dispositivo capaz de constituir perfis fisiológicos e analisá-los longitudinalmente, possibilitando monitorar estes perfis com o intuito de identificar pequenas variações em biomarcadores hematológicos ou esteroidais dos atletas. Esta mudança na forma de estabelecer padrões que comprovem a utilização de doping permitiria abandonar a usual abordagem de detecção direta (Wada, 2009; Lausanne, 2013) centrada na identificação química da presença da substância proibida no organismo do atleta para uma abordagem indireta voltada para constituição de uma referência intraindividual, com a elaboração de um perfil que progressivamente fica mais preciso. Por sua vez, a instauração do ABP promove uma nova modalidade de política centrada na prevenção e monitoramento (Rabinow, 1999; Clarke, 2003) do uso de doping. Na prática esta mudança no estatuto da prova implica na constituição de um nova cadeia de custódia que reordena oficiais de controle de dopagem, procedimentos laboratorias e interfaces informacionais encerrando uma mudança mais abrangente nas formas pelas quais o doping é performado (Mol, 2002). Nesta direção, ao oferecer uma abordagem antropológica para analisar o estabelecimento deste dispositivo sociotécnico, este artigo objetiva descrever os procedimentos mais atuais empreendidos na constituição do limite que separa entre o doping e o antidoping, entre o natural e o artificial do esporte.
Em defesa de uma nova ciência médica - a atuação dos homeopatas brasileiros em meados do século XIX
Maria Amélia Mascarenhas Dantes (USP)Grupo Temático: Medicina na América Latina: práticas científicas, dispositivos tecnológicos e inovações terapêuticas
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Nos primeiros anos da difusão da Homeopatia no Brasil, seus seguidores foram bastante ativos. Além de atuarem no atendimento de pacientes em consultórios e farmácias, criaram diversos espaços para o debate e difusão das teorias e práticas homeopáticas. No Rio de Janeiro, foi instalada uma escola para formação de novos praticantes; também foram criadas associações e publicados periódicos em várias províncias brasileiras. Estavam ativas no Brasil, de 1845 a 1855, tres publicações periódicas mantidas por associações homeopáticas e uma editada em Santos por cirurgião adepto das concepções de Hahnemann. Estas publicações se aproximavam do modelo seguido pelas revistas alopáticas, apresentando editoriais, noticias, artigos de cunho científico e relatos de casos clínicos. Nesta comunicação, além de caracterizar os coletivos de homeopatas atuantes no período e as proximidades e distanciamentos que mantinham com os médicos alopatas, analisamos os textos publicados em alguns de seus periódicos, buscando caracterizar sua concepção de conhecimento médico e seus argumentos em defesa do reconhecimento da Homeopatia como uma nova ciência médica.
Corpo-cuidado em saúde pública: mediação com as terapias orientais
Maria Aparecida dos Santos (UFF)Grupo Temático: PesquisarCOM e o feminino na ciência
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Como indagar sobre corpo-cuidado em saúde com filosofias de cosmovisões diferentes dentro do serviço público de saúde brasileiro (SUS)? Minha pesquisa de doutorado, em curso (2012-2016),realizada no Programa de Pós Graduação em Psicologia da Universidade Federal Fluminense, na cidade de Niterói-RJ, integrada ao grupo de pesquisa do CNPq Entre_redes, linha de pesquisa “Laboratório PesquisarCOM”, trata de um estudo que busca as mediações (ações que transformam) em curso das práticas integrativas e complementares - PICs no âmbito Sistema Único de Saúde (SUS). Procuro indagar sobre que cuidado e que saúde são performados por profissionais especialistas e público usuário, na ação das terapêuticas de origem oriental (acupuntura, práticas corporais dentre outras). Como metodologia sigo os actantes inspirada na Teoria do Ator-Rede acompanhada por autores como Latour, Law, Mol, Despret, Márcia Moraes, dentre outros. No presente trabalho analiso a costura corpo-cuidado vista na interface arte-luta-saúde e faço diálogo com autores (LATOUR,2005; MOL,2002; BOFF, 2001 e CANGUILHEM, 1978) no tema corpo-cuidado. Inspirada em uma descrição narrativa sobre uma apresentação de dança no teatro chinês, proponho em uma viagem meditativa irromper percepções de como a filosofia oriental vive corpo-cuidado em saúde. No espetáculo, corpos em movimento animam os caracteres conduzindo-os a significados e manifestações de arte. Em outra versão, o Tai-Chi, Kung-Fu, Tui-Na, meditação, dança e todo tipo de arte são representantes do cuidado cotidiano da vida oriental. Na dança como na luta (artes marciais) os corpos em atitude de gafanhotos, tigres, macacos e serpentes são corpos múltiplos (MOL. 2003), híbridos, que inscrevem múltiplas histórias e inscrevem múltiplos cuidados (DESPRET, 2004; MOL, 2002). Cuidar, como na dança e na luta, exige auscultar-lhe o ritmo e afinar-se com ele (BOFF, 2002) Na lógica do cuidado assim como na normatividade da vida inúmeras negociações superam crises (MOL, 2008; CANGUILHEM, 1987). Estas histórias apresentam versões que fazem pensar a saúde, corpo-cuidado de múltiplos modos. Sugerem que aquilo que é praticado como medicina oriental no oriente não é o mesmo praticado como PICs/SUS no Brasil. Assim, é preciso conhecer diversas versões e traduções (LAW, 2003) para, então, analisar e nomear o conhecimento híbrido que está sendo produzido por nós.
Saber e política da psicanálise lacaniana nas instituições de formação de analistas.
Maria Carolina de Araujo Antonio (UNIVERSIDADE NORTE DO PARANÁ)Grupo Temático: Estudos CTS, Práticas Psi e Modos de Produção de Subjetividades
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Ao definir a psicanálise como disciplina distinta dos saberes médicos e das ciências humanas, lógica que o levou à criação de instituições autônomas e fora do âmbito das universidades, Freud legou aos seus adeptos uma técnica terapêutica que só pode ser ensinada e aprendida na/pela experiência analítica. Com isso, a descoberta da vocação, bem como a formação profissional do psicanalista, depende de certa assimilação e incorporação de seu sistema simbólico na construção de modelos específicos de subjetivação. A partir da etnografia realizada em instituições de psicanalise lacaniana de São Paulo e Buenos Aires, é a relação intrínseca que se estabelece entre produção de conhecimento e uma concepção específica de política o que pretendo abordar neste trabalho. Os interlocutores da pesquisa mesclavam elementos da ciência, crença, filosofia, na definição de um regime de distinção do saber e prática terapêutica da psicanálise, mas que continuava pautado em dicotomias como corpo/alma, objetivo/subjetivo, natureza/cultura. A crítica radical que dirigiam aos postulados científicos se contradizia com a categorização de patologias e a comprovação das realidades psicológicas por meio de conceitos que sua própria prática terapêutica produz. Diante da necessidade de defesa de seus postulados e da construção de distinção de seu saber em relação à ciência e aos demais saberes psi, os “lacanianos de Escola” mobilizavam a categoria de “política” como uma militância em causa própria, ou em prol da causa analítica, articulando clínica e reflexão crítica, subversão subjetiva à subversão “política”. O termo política aparece acionado pelos interlocutores não apenas no que tange à aplicação dos postulados psicanalíticos na clínica particular, mas principalmente no atendimento clínico público, chamado de psicanálise aplicada, nos centros de assistência de saúde mental. Observou-se que, embora os “lacanianos de Escola” reivindiquem um regime de racionalidade que seja específico à psicanálise, e crítico do saber médico-psiquiátrico, eles atualizavam, por outros meios, aspectos da hegemonia e do controle desse saber no atendimento, seja público ou privado, de pacientes/analisantes/usuários do campo de saúde mental.
A contribuição de Simondon para uma ética do feminino no fazer pesquisa.
Maria de Fatima Aranha de Queiroz e Melo (Universidade Federal Fluminense)Grupo Temático: PesquisarCOM e o feminino na ciência
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“Não nascemos mulheres, tornamo-nos mulheres" é a declaração de Beauvoir (1967) que, reeditada por Despret (2002) é tomada para defender a ideia de que “não nascemos pesquisadoras, tornamo-nos pesquisadoras”, ou seja, não nascemos pronto/as, mas aprendemos a construir modos de ser em processo com muitas outras entidades. A ênfase aqui é colocada na transformação e no questionamento de padrões únicos e fixos: de quantas formas nos entendemos mulheres? Como chegamos a ser mulheres em mundos onde ainda prevalece a lógica do homem? É possível uma ciência no feminino? No que uma ciência feita por mulheres difere da ciência convencional? Que ética rege essa ciência? Trazemos a contribuição de Simondon, pensador mais conhecido como filósofo da técnica e ontologista, em cujas ideias encontramos pontos de contato com correntes de pensamento desenvolvidas no século 21, fazendo todo sentido para a formulação de uma ética que respeita os vários modos de existir, que vislumbra seres de todos os tipos que chegam a ser o que são através do processo de individuação. A ética simondoniana gera consequências para as formas de feminismo (Grozs, 2012) e outras vozes silenciadas, ao defender, como Latour (2012), uma pluralidade ontológica que oferece a chave para não tomar as entidades como acabadas ou reduzi-las a umas poucas. Uma ética de pesquisa no feminino inspirada em Simondon oferece um outro modelo de fazer pesquisa e nos provoca a pensar de maneira divergente da ciência hegemônica, apontando o seu caráter ideológico, por vezes racista e sexista, assim como a sua incapacidade de acolher o diferente. Trata-se da construção de um modelo em sintonia com a busca de alternativas a um enquadramento normativo: ao invés do conhecimento racional e objetivo para atingir uma única verdade, o conhecimento que questiona as divisões mente/corpo, razão/emoção, que incorpora as dimensões intuitivas, emotivas, localizadas; ao invés da neutralidade e do isolamento do cientista em seu laboratório, a proximidade dos lugares comuns e o envolvimento do pesquisador COM seus pesquisados; ao invés dos temas universais, a atenção aos detalhes, as experiências do cotidiano, as micro-histórias tecidas com as narrativas de muitos com a linguagem do NÓS.
Diáspora haitiana e impactos para o desenvolvimento urbano e regional: um estudo deste fenômeno nas regiões Sul e Norte do Brasil
Maria de Lourdes Bernartt (UTFPR - PPGDR - Câmpus Pato Branco), Giovanna Pezarico (UTFPR - Câmpus Pato Branco), Leonel Piovezana (Unochapecó - ACHJ), Sandra de Avila Farias Bordignon (UNOCHAPECO), Taize Giacomini (UTFPR)Grupo Temático: Políticas Públicas e Desenvolvimento Local: interveniências e interações entre tecnologia, sociedade e democracia
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Resumo
É sabido que o desenvolvimento brasileiro contou, em grande medida, com a participação direta de imigrantes estrangeiros que aqui aportaram, desde muito cedo (1530), em busca de melhores condições de vida. É sabido ainda que, pelas condições subhumanas e degradantes a que a maioria esteve e/ou está exposta, e pela significativa contribuição no crescimento econômico, social e cultural do Brasil, sentimo-nos em dívida histórica em relação a eles(as). Em períodos mais recentes, registra-se um fluxo contínuo de entrada de imigrantes no país - chineses, coreanos, bolivianos, peruanos, haitianos, senegaleses, dentre outros, com os mesmos objetivos, e, basicamente, sob as mesmas condições. A partir de 2010, presencia-se um novo fenômeno– caracterizado pela diáspora haitiana, especialmente pela mobilidade espacial de trabalhadores, já considerada uma das maiores, nos últimos 100 anos. Tal fenômeno tem despertado a atenção de instituições brasileiras, como – governos federal e estaduais, ministérios, secretarias, conselhos, universidades, ONGs, Associações, Igrejas, de sul a norte do país, dentre as quais menciona-se a UTFPR, UFFS, UNILA, UNOCHAPECÓ, a URI, a UNIR, o Centro de Referência e Direitos Humanos Marcelino Chiarello da UFFS, a Casa Latinoamericana –CASLA, de Curitiba, dentre outras. Com efeito, mesmo com o esforço de diversas instituições, no que tange ao enfrentamento da problemática, evidencia-se no cenário brasileiro a carência de dados e de fontes, os esparsos diálogos entre pesquisadores, entre estes e empresas, escolas, ministérios, secretarias, conselhos e com os próprios haitianos. Em vista disso, algumas universidades, mediante seus pesquisadores, têm desencadeado vários estudos sobre a temática, além de programas, como por exemplo o PróHaiti na UFFS e na UNILA. Assim, no esforço de contribuir com a questão, o texto tem o propósito de socializar os dados e resultados de pesquisas realizadas a partir de 2012, especialmente, as desenvolvidas por pesquisadores no âmbito do projeto aprovado pelo CNPq, pela Chamada MCTI/CNPQ/MEC/CAPES Nº 22/2014 - Ciências Humanas, Sociais e Sociais Aplicadas, intitulado “O processo de imigração de trabalhadores haitianos no século XXI e impactos para o desenvolvimento urbano e regional: um estudo deste fenômeno nas regiões Sul e Norte do Brasil”.
El gobierno de la ciencia y tecnología en democracia: un análisis del debate legislativo/judicial por la venta del reactor nuclear INVAP-ANSTO (2001-2010)
María Eugenia Marichal (CONICET/ Universidad Nacional del Litoral)Grupo Temático: Ciência e direito na coprodução dos fatos tecnocientíficos
Resumo
Este trabajo analiza el conflicto en torno a un contrato de construcción y venta de un reactor nuclear por parte de la empresa argentina INVAP SE a la Organización Australiana de Ciencia y Tecnología Nuclear (ANSTO) por incluir una cláusula opcional de tratamiento en el país del material agotado del reactor, reputada inconstitucional por violación de la prohibición de ingreso al territorio nacional de residuos radiactivos (art. 41 in fine CN). Se caracterizan dos fases de deliberación institucionalizada que atravesó el conflicto. Primero, con el debate parlamentario por la ratificación del Acuerdo Argentina-Australia sobre Cooperación en los Usos Pacíficos de la Energía Nuclear (2001). Segundo, por la acción de amparo ambiental que solicita la nulidad de la mencionada cláusula. Se analizan aquí las dos últimas instancias: apelación (2006) y Corte Suprema de Justicia nacional (2010). Metodológicamente, se identifican los actores centrales del debate y se reconstruyen sus argumentaciones a partir de un análisis del discurso de un corpus documental compuesto por textos jurídicos (doctrina, audiencias, fallos) y científicos (informes de organismos de CyT y Academias Nac. de Ciencia) producidos. A nivel conceptual, se muestra la necesidad de articular un marco teórico que dé cuenta de los mecanismos institucionales y el rol del conocimiento experto (S. Jasanoff; B. Wynne) en una sociedad democrática como así también de los problemas de la interpretación jurídica (E. Marí; F. Ost). La reconstrucción visibiliza que, si bien se trató de una operación privada (contrato) en torno al conflicto se generó una deliberación en la esfera pública sobre cuestiones más amplias acerca del desarrollo económico-social del país, el rol de los expertos, y la competencia de los poderes públicos y la participación ciudadana en los procesos decisorios que involucren riesgos para bienes colectivos. La interpretación del art. 41 CN (que consagra el derecho a un medio ambiente sano) y la calificación del “combustible gastado” del reactor pusieron en escena complejas cuestiones sociotécnicas que situaron a políticos y magistrados como co-constructores de artefactos tecno-científicos. El análisis de este caso contribuye a la literatura de los ESCT en la medida que propone una trama conceptual para comprender el proceso de toma de decisiones públicas en materia de CyT.
La ley de software libre de la Provincia de Santa Fe: condiciones del proceso de estabilización del software libre
María Eugenia Marichal (CONICET/ Universidad Nacional del Litoral), Martín Jorge Bayo (Facultad de Ingenieria y Cs Hídricas), Norma Levrand (Universidad Nacional del Litoral)Grupo Temático: Um olhar sociotécnico sobre o software
Resumo
Este trabajo presenta un análisis de la Ley 13.139 de la Provincia de Santa Fe (Argentina) sobre Sofware Libre (publicada B.O. 23/11/2010) que forma parte de una investigación más general sobre los procesos de estabilización del software libre (SL). En este sentido, este trabajo incorpora el estudio del papel que juegan los procesos de diseño, sanción y aplicación de normas jurídicas en la configuración social de los artefactos tecnológicos (Jasanoff, 2011; Callon, 2008). Como plantean Bayo, Morales y Vallejos (2015), la mencionada ley forma parte de una política pública dirigida hacia el propio Estado provincial en tanto se dirige a regular tanto su infraestructura informacional como sus vínculos con la ciudadanía. Este marco normativo no solamente define el sentido de las condiciones de incorporación de SL al Estado provincial (en todas sus dependencias) sino que también establece qué se considera SL y cómo se lo reconoce. El trabajo avanza en el análisis de esta definición legal de SL, la cual difiere de la caracterización de las cuatro libertades que la comunidad de SL reconoce (Artículo 1°) y cómo intervienen allí las cuestiones vinculadas a las “licencias” que declaran la condición de libre del software. Además, la ley ordena la creación de un Laboratorio de Software Libre (encargado de analizar e investigar sobre el software necesario para la administración pública) y la obligación, a cargo del ejecutivo provincial, de producir la respectiva reglamentación de la norma. Expirado el plazo establecido para ello, ninguna de estas cuestiones ha sido resuelta. Por ello, más allá de la vigencia de la norma, ésta se torna ineficaz por falta de operatividad de sus disposiciones. A partir de esta mora del Estado un colectivo ciudadano inició un reclamo que un "Procedimiento de Elaboración Participativa de Normas" (Resolución 30/11- Fiscalía de Estado, provincia de Santa Fe). El trabajo analiza los documentos ciudadanos producidos como propuesta de reglamentación y las posiciones de actores clave que han participado que fueron relevadas a partir de entrevistas. Si bien este proceso aún está en desarrollo se considera importante incluirlo en el presente análisis.
O estudo da termodinâmica a partir de uma perspectiva crítica da história da ciência aplicado em aulas de física no ensino médio.
Maria Lucia de Camargo Linhares (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), Gilson Leandro Queluz (Universidade Tecnológica Federal do Paraná)Grupo Temático: História das Ciências e da Tecnologia aplicadas ao Ensino
Resumo
A partir da observação de aulas de Física, em diferentes contextos educacionais, e da convivência com os alunos do ensino médio, foi possível perceber que alguns discursos acerca do conhecimento científico e tecnológico estão muito enraizados em uma suposta neutralidade, muitas vezes, não possuindo uma ligação direta com a realidade educacional e seu contexto. Dessa maneira, este trabalho vem do interesse de entender e conhecer os processos históricos que envolvem um determinado conhecimento e de que forma essa compreensão pode ajudar na formação cidadã dos alunos. Portanto, objetivando trazer discussões acerca da historicidade do conhecimento científico para as aulas de física, optou-se por trabalhar com o tema referente à termodinâmica, pois, em sua construção estão envolvidos diversos aspectos sociais, culturais, políticos, econômicos, possibilitando múltiplas abordagens e discussões instigantes sobre ciência, tecnologia e sociedade. Desse modo, a questão que se pretendeu responder foi se a inserção de elementos da história da ciência, nas aulas de termodinâmica no ensino médio, podem colaborar para uma visão mais crítica sobre o processo de construção do conhecimento científico. Para responder esta questão, foram realizadas ações que possibilitassem esse tipo de discussão em turmas do segundo ano do ensino médio. Dessa maneira, em um primeiro momento houve a realização de um grupo de estudos, com dois professores do ensino médio, para analisar e discutir referenciais bibliográficos de autores como Anson Rabinbach e Thomas Kuhn, que ajudassem a compreender as relações entre ciência, tecnologia e sociedade, bem como os temas escolhidos sobre história de ciência. Além disso, foram debatidas as diversas possibilidades de realizar atividades e aulas sobre estes temas. No segundo momento foram criados materiais e elaboradas estratégias de aula para a aplicação de atividades envolvendo a história da ciência em dois colégios, um estadual e outro privado. Os resultados demonstraram que atividades isoladas podem contribuir para uma formação mais ampla, porém também evidenciam que, idealmente, o uso da história da ciência precisa ser um processo contínuo.
Uma análise das políticas públicas em ciência e tecnologia e a aplicação do princípio ético da responsabilidade de Hans Jonas: o caso da agricultura familiar em Ipanguaçu/RN.
Maria Renata de Castro Sulino (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), Angela Luzia Miranda (UFRN)Grupo Temático: Políticas Públicas e Desenvolvimento Local: interveniências e interações entre tecnologia, sociedade e democracia
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Na modernidade, a ciência e a tecnologia passaram a ser essencialmente instrumentalizadas, tal como explicita Habermas em sua obra Técnica e ciência como ideologia. Assim, as decisões por parte da sociedade no que tange às políticas de ciência e tecnologia, também adquiriram um caráter instrumental. Isso ocorre, geralmente, quando a ideia de progresso tecno-científico aparece desvinculada da realidade da sociedade local (Herrera (1995, p. 117; Jassanoff, 1989).
Essa problemática, mais que científica ou política, é também ética. Portanto, este estudo indaga: quais princípios éticos devem nortear a avaliação das políticas científicas e tecnológicas? Ou, que modelo de ética deve garantir a prática democrática destas políticas, de modo que possa respeitar a autonomia e a cultura das comunidades locais?
Com base no aprofundamento desta problemática, esta pesquisa faz um estudo de caso, considerando como contexto a região de Ipanguaçu, município do Rio Grande do Norte/RN. Esta região destaca-se por sua atividade agrícola: de um lado, a agricultura familiar e, do outro, o agronegócio. Assim, o objetivo deste trabalho é analisar, com base na ética da responsabilidade de Hans Jonas (2006), as práticas da agricultura familiar e sua relação com o agronegócio na região de Ipanguaçu. Além disso, pretende-se identificar se houve a participação dos agricultores nas implementações das políticas científicas e tecnológicas de modo a assegurar uma prática democrática e de sustentabilidade local.
Trata-se de uma pesquisa de caráter exploratório e qualitativo, utilizando-se da pesquisa de campo para coleta de dados. Possui também um caráter bibliográfico, utilizando-se de estudiosos da tecnologia e das políticas públicas em C&T, tais como: Jonas, Habermas, Echeverría, Herrera, Lisboa, Miranda.
Por fim, torna-se evidente a relevância desta pesquisa nos estudos em CTS, (re)pensando a atual problemática epistemológica do paradigma científico e tecnológico, desconstruindo a falsa ideia da instrumentalidade da prática científica e tecnológica, ao mesmo tempo em que se reafirma a responsabilidade como um princípio ético que pode nortear e garantir a participação democrática frente às políticas públicas em C&T.
Trajetórias de participantes de grupo de geração de renda por meio da costura_ aprendizado de técnicas, trocas de saberes e formação de redes
Mariana Amaral Tomaz (UTFPR), Marinês Ribeiro dos Santos (Universidade Tecnolígica Federal do Paraná)Grupo Temático: PROCESSOS TECNOLOGICOS E CULTURA: sociabilidades, saberes populares, assimetrias e meio ambiente
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O objetivo deste trabalho é mapear e interpretar trajetórias de artesãs participantes de um projeto de geração de renda, realizado em Curitiba de 2010 a 2014, com intuito de compreender e refletir sobre os valores, relações e conflitos envolvidos nos processos de capacitação, produção, comercialização e autogestão dos grupos. O projeto de geração de renda tem como objetivo capacitar sujeitos em situação de vulnerabilidade social para que conquistem a autonomia por meio do desenvolvimento de características empreendedoras pessoais, aprendizado da costura e do desenvolvimento e comercialização de produtos. Para iniciar a pesquisa, foi realizada observação não participativa por três meses nas feiras de artesanato onde as artesãs comercializam seus produtos e em eventos do programa. Os diálogos e observações foram registrados em diário de campo. Em seguida, foram feitas três entrevistas estilo história de vida com participantes das últimas turmas do projeto de inserção produtiva. O objetivo dessas entrevistas foi compreender o processo de “tornar-se costureira-empreendedora”, os saberes e técnicas aprendidos antes e durante o curso, os conflitos e negociações envolvidos, assim como os processos de desenvolvimento de produtos e da produção em si. Nos diálogos com artesãs mais experientes, fica evidente a adaptação das técnicas aprendidas, ou mesmo o abandono das mesmas, no desenvolvimento de produtos. Como a escolha de técnicas que podem ser feitas enquanto assistem TV, mesclando o trabalho com o tempo de lazer que tem disponível. Já entre os grupos mais recentes, nota-se também uma negociação com as técnicas ensinadas, mas em menor grau de liberdade de criação e adaptação. Nestes grupos é evidente a tentativa de aplicar a padronização característica da produção industrial a produtos artesanais, procurando apagar qualquer distinção entre produtos feitos por artesãs diferentes. Com relação a organização da produção e comercialização, se observa a tendência de não continuar o trabalho em grupo e migrar para um modelo de trabalho individual, realizado em horários flexíveis e na própria casa, a fim de conciliar trabalho produtivo e reprodutivo.
Contos de Fada no Ensino de Ciências:Possibilidades de trabalho com a História da Ciência
Mariana Sales de Araújo Carvalho (Prefeitura do Município de São Bernardo do Campo)Grupo Temático: História das Ciências e da Tecnologia aplicadas ao Ensino
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Muitas pesquisas e documentos oficiais têm ressaltado a importância do ensino das Ciências Naturais na formação do cidadão crítico, situando o homem enquanto indivíduo atuante e integrante do Universo, favorecendo o entendimento e o questionamento sobre as possibilidades de intervir e utilizar os recursos disponíveis. No entanto, a forma como os materiais didáticos disponíveis apresentam o trabalho com as Ciências Naturais, deixam dúvidas se realmente estamos contribuindo para a formação crítica do cidadão. Uma das possibilidades que objetivam esta formação, é a utilização da História das Ciências, a partir de uma abordagem interdisciplinar, que contribui para a contextualização das relações do ser humano com a natureza. No Ensino Fundamental I (modalidade de ensino cuja faixa etária contempla alunos de 6 a 10 anos), sugere-se que a dimensão histórica possa ser introduzida na forma de história dos ambientes e das invenções. Mas como fazer isso de forma contextualizada e significativa para os alunos? O presente trabalho apresenta uma proposta didática, de caráter interdisciplinar, que busca discutir as relações existentes entre sociedade, ciência e tecnologia. Para tanto, os contos de fada serão um importante recurso para a compreensão da história das invenções, favorecendo o debate acerca da contribuição da História das Ciências para a formação crítica do cidadão.
Constituindo o universo do saudável: ou como traduzir corpos, alimentos e práticas de prevenção
Marília Luz David (Universidade Federal de Santa Catarina), Julia Silvia Guivant (UFSC)Grupo Temático: Experiências contemporâneas em Antropologia da Ciência e da Tecnologia: etnografia, grandes projetos e escala planetária (ou não)
Resumo
Na década de 1990 a Sociedade Brasileira de Cardiologia criou um Selo de Aprovação concedido a alimentos que esta associação considerava saudáveis para o coração. Este selo compõe uma certificação para alimentos criada pela associação cardiológica brasileira como parte de atividades de prevenção promovidas pela entidade. Desde então, é possível encontrar nas embalagens de alimentos como óleos vegetais e azeites o símbolo de um coração que sinaliza que aquele alimento seria saudável. A proposta deste trabalho é analisar este selo para alimentos da Sociedade Brasileira de Cardiologia como um artefato sociotécnico que carrega um mundo social consigo.
O selo é um artefato que atribui identidades e objetivos aos atores com os quais se relaciona: ele configura os alimentos e os corpos, organiza relações de consumo, define problemas de saúde no Brasil e aponta soluções para estes. Seguindo à literatura dos estudos sociais da ciência, sobretudo a tradição da ANT e os autores pós-ANT, consideramos que o selo da SBC promove um universo específico em que deseja funcionar. A nossa proposta é analisar alguns desses elementos que são traduzidos pelo selo: o corpo e o alimento, a associação entre relações de consumo e as práticas de prevenção na área da saúde, a normatividade e o script deste selo. Para analisar estas traduções, destacaremos os nutrientes, os órgãos do corpo, os artigos científicos e o design do selo como os principais atores dessas mediações. A análise do mundo social promovido pelo selo Sociedade Brasileira de Cardiologia é bastante ampla, e por conta disso escolhemos apenas alguns elementos.
Esta análise do universo social que o selo promove é parte de uma tese de doutorado em andamento que analisa como o saudável era constituído na certificação para alimentos da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Neste trabalho a ser apresentado utilizamos como fontes: artigos relacionados ao selo publicados no jornal da associação cardiológica, algumas entrevistas com pessoas que trabalharam na equipe do selo da Sociedade Brasileira de Cardiologia, o material promocional do selo disponível online, assim como a publicidade de alimentos que já foram ou são certificados por este selo.
Entre moléculas e paisagens políticas: sexo/ gênero em uma neurociência feminista
Marina Fisher Nucci (Instituto de Medicina Social - UERJ)Grupo Temático: Saberes do corpo e sobre o corpo: formas de conhecimento, experiência, ciência e expertise
Resumo
A crença na existência de diferenças incomensuráveis entre homens e mulheres, assim como a suposição de que tais diferenças possuem origens biológicas, é um tema muito presente não apenas no senso comum, mas fonte de preocupação e de pesquisas de cunho científico. Levando em conta a centralidade do cérebro na atualidade, faz sentido pensar que ele seja acionado como o “local privilegiado” para explicar diferenças entre homens e mulheres.
Assim, meu interesse neste trabalho é refletir sobre as relações entre sexo, gênero, ciência e feminismo, a partir da análise da produção contemporânea da neurociência a respeito das diferenças entre homens e mulheres, bem como da crítica feminista a esta produção. Interessa-me aqui as tensões entre natureza/cultura, sexo/gênero, e como elas se articulam. Deste modo, meu objeto de análise é a produção científica contemporânea de um grupo de pesquisadoras que se descrevem como “neurofeministas” e que desde 2010 organizam-se em uma rede internacional chamada NeuroGenderings, onde procuram trazer uma perspectiva feminista crítica aos estudos recentes sobre o cérebro. As neurofeministas estão engajadas em produzir uma neurociência assumidamente feminista, que se debruce sobre a materialidade dos corpos – e especialmente do cérebro –, mas que se preocupe ao mesmo tempo, politicamente, com as hierarquias de gênero. Ou seja, produzir uma neurociência que, segundo elas, seria capaz de produzir “zonas de proximidade entre moléculas e paisagens políticas”. Trata-se, portanto, de um projeto de uma neurociência empírica situada, e que nos oferece relevante material analítico para refletirmos acerca dos ideais de cientificidade que estão em disputa na ideia de uma neurociência feminista – levando em conta a crença de que ciência e política pertenceriam a esferas separadas e imiscíveis, e que neutralidade seria característica obrigatória à boa prática científica.
Neste trabalho analisarei a produção científica aplicada das neurofeministas, e meu foco será em uma pesquisa sobre linguagem e três pesquisas sobre a relação entre hormônios, sexo/ gênero e o cérebro, desenvolvidas por elas.
Risco tecnológico: Contribuições teóricas para uma abordagem de natureza ética
Mario Sergio Cunha Alencastro (Centro Universitário Internacional - UNINTER)Grupo Temático: Riscos e controvérsias científicas: teorias e estudos empíricos
Resumo
Nos anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, principalmente a partir do final das décadas de 1970/1980, o risco tecnológico ocorreu frequentemente, tendo se manifestado essencialmente sob a forma de acidentes provocados pela indústria petrolífera ou química, de riscos associados ao funcionamento da indústria nuclear, ao consumo de produtos alimentares contaminados, às ondas eletromagnéticas nas suas diversas formas, às alterações climáticas, etc. Ulrich Beck (2011), em seu livro “Sociedade de risco, em direção a uma nova modernidade”, apresenta uma nova perspectiva para a compreensão da dimensão mais profunda desses acidentes e de seus danos e impactos para a vida. Para Beck, a produção social da riqueza na modernidade é sempre acompanhada por uma produção social do risco. O processo de industrialização é indissociável do processo de produção de riscos, uma vez que uma das principais consequências do desenvolvimento científico industrial é a exposição da humanidade a riscos e inúmeras modalidades de contaminação, nunca observadas anteriormente, constituindo-se em ameaças para os habitantes e para o meio ambiente. O problema é ainda maior porque os riscos gerados hoje não se limitam à população atual, uma vez que as gerações futuras também serão afetadas de forma até mais grave. Há, atualmente, a preocupação social de que os novos desenvolvimentos científicos e tecnológicos sejam objeto de uma análise de risco, antes de serem introduzidos em grande escala. No entanto, o debate sobre os riscos tecnológico-ambientais é feito sob diversas perspectivas e enfoques. Grosso modo, é possível identificar pelo menos duas posturas distintas em relação à questão dos riscos tecnológico-ambientais: (a) Os defensores de uma abordagem econômica, probabilística e pragmática, que tratam a questão ambiental (e consequentemente os riscos tecnológico-ambientais) dentro da lógica econômica, atribuindo ao mercado e ao desenvolvimento de novas tecnologias a capacidade de resolver a degradação ambiental; e (b) Aqueles que advogam por uma postura mais filosófica e moral. O presente ensaio, é um estudo de cunho teórico que enfatiza a segunda abordagem, ou seja, a que privilegia uma visão filosófica e moral – uma démarche de natureza ética –, por considerá-la muito interessante ao tratamento dos riscos tecnológico-ambientais.
A contribuição do Instituto Kirimurê na divulgação da ciência e da tecnologia em espaços não formais da Baia de Todos os Santos
Marlene Santos Socorro (Instituto Federal da Bahia), Maria Cristina Martins Penido (Universidade Federal da Bahia)Grupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
Resumo
Os avanços da ciência e da tecnologia, no último século, têm impactado no aumento e melhoria da qualidade das informações sobre ciência-tecnologia e seus adventos junto à sociedade. Entendendo a relevância do tema, é que este trabalho apresenta o resultado parcial da pesquisa de doutorado que está sendo desenvolvida, com o objetivo central de realizar o levantamento e análise dos métodos e abordagens das práticas de divulgação científica nos espaços não formais dos municípios da Baia de Todos os Santos e as contribuições na promoção da difusão do conhecimento científico e tecnológico nas áreas das ciências da natureza. O recorte aqui apresentado trata da análise das contribuições do Instituto Kirimurê na divulgação da ciência e tecnologia nos espaços não formais da Baia de Todos os Santos(BTS). A metodologia utilizada inclui entrevista com coordenadora do Instituto, análise dos documentos disponibilizados e obtidos no portal do instituto, além da participação na semana Kirimurê.Construímos um roteiro de entrevista composto por 17 perguntas que possuíam os seguintes objetivos:Identificação de atividades ou eventos voltados para a população do município que levasse tema da ciência e da tecnologia no ano de 2013 e 2014 ou projeto para 2015;Identificação da regularidade dos eventos ou projetos;Identificação dos temas abordados;Identificação das equipes elaboradoras e executoras do projeto ou evento;Identificação do público atingido;Identificação quanto à existência de acompanhamento e avaliação sobre as metas a serem alcançadas. Nas primeiras análises foi perceptível a relevância das pesquisas envolvendo problemas ambientais dos diversos municípios que compõem a Baia de Todos os Santos e o envolvimento de diversas áreas do conhecimento, como Oceanografia; Coordenação Eixo Artes; Coordenação do Eixo Recursos Naturais e Biodiversidade; Coordenação Eixo Educação; Coordenação do Eixo História e cultura.Observamos que não apenas a semana Kirimurê era responsável pela divulgação de temas científicos e tecnológicos, mas as pesquisas que eram realizadas nos mais diversos municípios também se constituíam em momentos dessa divulgação, principalmente nos projetos em que o item divulgar os resultados à comunidade, fazia parte dos objetivos.A riqueza de discussões disponibilizadas no portal do Instituto Kirimurê revela a importância do projeto na BTS.
Como são raras essas crianças!?: inovações terapêuticas e suas repercussões nas demandas por desospitalização de crianças com adoecimentos de longa duração
Martha Cristina Nunes Moreira (FIOCRUZ)Grupo Temático: Medicina na América Latina: práticas científicas, dispositivos tecnológicos e inovações terapêuticas
Resumo
Tratamos aqui das relações entre os diversos atores que conformam o cenário de atenção à saúde de crianças com condições crônicas complexas que as fazem viver em hospitais, e depois passarem por desospitalizações. Sem muitas vezes intencionalidade planejada, essas relações acabam provocando efeitos em rede, promotoras ou não de processos efetivos de comunicação e benefícios. O incremento no número de casos de crianças com condições crônicas complexas em hospitais brasileiros se cruza com os avanços no acesso à tecnologia para suporte a vida. Esse fato nos coloca diante de um paradoxo neonatal e pediátrico: a neonatologia e o suporte tecnológico fazem com que esses bebês sobrevivam, e a pediatria os torna crianças, com todos os desafios que simbolicamente as ligam a fragilidade, e aos rearranjos no âmbito familiar para assumi-las, no futuro. A ascensão da neonatologia como especialidade médica contribui para um investimento na sobrevivência de bebês sobre os quais há duas décadas pairava o signo da inviabilidade e/ou da incompatibilidade com a vida, e hoje são possíveis em sua existência. Esses casos reconhecidos hoje como “doentes raros” são investidos e sustentados pela ciência e tecnologia. A eles é muitas vezes reservada uma trajetória ou um itinerário nos ambientes hospitalares, que faz com que as enfermarias ganhem para essas crianças um qualificativo familiar, onde produzem vínculos, aprendem os códigos, reconhecem partes de seu corpo e sua funcionalidade. O hospital assustador para quem “vem de fora”, se torna “o” primeiro ambiente, “o” mais familiar para quem nasceu, cresceu e vive em suas enfermarias. Essas crianças se desenvolvem não sendo tanto mais reconhecidas como inviáveis, mas como frágeis, na constatação de que a ciência tornou possível a sua existência: sempre dignos de atenção, pela vulnerabilidade a que estão expostos em função de serem ainda muito invisíveis e raros no cenário da cidade. A identidade “raro / rara” evoca complexidade, marcas identitárias e corporais e a necessidade de problematizar as redes produzidas e/ou acionadas a partir do adoecimento de longa duração da condição crônica complexa em crianças e os desafios de serem reconhecidas e abordadas como sujeitos de fato e de direito. Isso justifica o debate sobre desospitalização e desinstitucionalização dessas crianças que queremos encaminhar no presente GT.
Percepção Além da Cognição: Experiências por Detrás das Telas de uma Sala de Controle
Michelle Karine Figueiredo (UFMG)Grupo Temático: Medicina na América Latina: práticas científicas, dispositivos tecnológicos e inovações terapêuticas
Resumo
As últimas décadas foram marcadas por um aumento das atividades realizadas por meio de sistemas informatizados e, como consequência, ocorreram mudanças na forma de realização do trabalho, pois, o trabalhador, antes em contato real com o campo, é levado para salas de controle, onde opera máquinas e processos que estão a quilômetros de distância. Essa nova configuração do trabalho atraiu o interesse de pesquisadores de diversas áreas que se interessaram em investigar e entender as ações e percepções dos trabalhadores nesse âmbito “virtual”. Contudo, o foco principal das pesquisas passou a ser na lógica subjacente do computador, sendo que a relação humano-máquina é vista como um campo de criação da cognição, acreditando-se que as experiências do indivíduo, que estavam implícitas em suas ações, poderiam se tornar explícitas pela informatização. Assim, de uma maneira simplista, é proposto que os trabalhadores agiriam de forma semelhante aos computadores, seguindo apenas uma grande quantidade de regras e procedimentos operacionais, independente do seu grau de experiência. O presente trabalho questiona essa visão predominantemente cognitivista por meio de um estudo de inspiração etnográfica das práticas de trabalho de uma sala de controle de uma companhia energética no Estado de Minas Gerais, onde se controla, remotamente, usinas hidrelétricas e subestações. Para analisar esse campo empírico, esse estudo se baseou na Fenomenologia da Percepção de Merleau-Ponty e no conceito de expertise proposto por Hubert e Stuart Dreyfus. A partir dessa análise, esse estudo argumenta que as ações e percepções dos trabalhadores acontecem devido a experiências práticas que tornam-se incorporadas e, desse modo, o trabalhador é capaz de perceber com significado e agir com expertise. Com essa proposta, esse estudo mostra que os operadores da sala de controle, ao incorporar as interfaces informatizadas em seu campo fenomenológico são capazes de perceber “além” das telas do computador. Entender que é por meio de experiências práticas incorporadas que os trabalhadores desenvolvem expertises pode contribuir positivamente para melhorar a forma como as organizações encaram a relação humano-máquina e, com isso, atualizar a maneira como são propostos os treinamentos e formuladas as regras e interfaces gráficas que vão além de prescrições universalistas sobre as ações dos trabalhadores.
Vítimas de violência sexual: prevenção e saúde
Michelle Rodrigues Cardoso (Hospital de Clinicas da Universidade Federal do Paraná), Sileide France Turan Salvador (IFPR- Campus Curitiba)Grupo Temático: Gênero, Ciência e Tecnologia: avanços e desafios
Resumo
O objetivo do artigo proposto é apresentar os resultados da oficina Vítima de Violência Sexual: Prevenção e Saúde, ofertada em uma escola de ensino da rede pública. A história da violência contra crianças e adolescentes demonstra a persistência de diferentes tipos de agressões (físicas e psicológicas) e a multiplicação dessas práticas nas instituições sociais. Nesse sentido, verifica-se que a violência sexual ainda é um tema permeado de tabus e mitos dificultando o acesso aos vários níveis de tecnologias em saúde como a primária para prevenção, secundária na qual se organizam as especialidades e terciária onde são ofertadas as tecnologias de alta complexidade. Refletindo-se sobre essa problemática, foi realizada uma oficina organizada pelo Núcleo de Gênero e Tecnologia (GETEC), do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia (PPGTE) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), no segundo semestre de 2014, junto aos alunos da Escola Estadual Alfredo Chaves, de Ensino Fundamental e Médio da cidade de Colombo-PR, com o intuito de sensibilizar as/os estudantes sobre a necessidade de discutir aspectos das vulnerabilidades da infância e da adolescência destacando suas relações de convivência, equidade de gênero e os serviços de acolhimento e profilaxia às vitimas de violência sexual disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No desenvolvimento da oficina, utilizou-se o método participativo, em base à tecnologia primária de Educação em Saúde, possibilitando às/aos participantes a reflexão sobre a temática, destacando-se neste processo, a avaliação das/dos estudantes. Os dados da investigação foram obtidos através da expressão escrita e oral das/dos estudantes, sendo eles interpretados à luz das teorias de violência, gênero, tecnologia e através dos procedimentos da análise de conteúdo. Verificou-se que as/os participantes, passaram a visualizar de forma crítica as situações de violência sexual em seu cotidiano, incluindo o ambiente intrafamiliar e as instituições públicas. Elas/eles demonstraram entendimento sobre as redes de serviços de saúde e interesse em divulgar seus saberes e participar do controle social dos mesmos. O grande interesse das/dos participantes mostrou a necessidade de se propiciar um maior número de discussões como essas no ambiente escolar, motivando a continuidade do projeto e o aprofundamento investigativo.
Mulheres corpulentas: o erotismo na fronteira entre o corpo controlado e o corpo experienciado
Mirani Cristina de Barros (IMS)Grupo Temático: Saberes do corpo e sobre o corpo: formas de conhecimento, experiência, ciência e expertise
Resumo
O presente trabalho pretende provocar reflexões a partir das questões que perpassam o corpo feminino nas relações de poder e resistência que o constituem, com especial interesse nos corpos “gordos” de mulheres, aqui chamadas de corpulentas. O dispositivo da sensibilidade (Duarte, 1999) sugere três aspectos a serem interrogados: a regulação da corporalidade de mulheres corpulentas; a dessensibilização de suas corpulências; e a moral do saudável. Em contrapartida, partir da hipótese do erótico como dispositivo montado na fronteira entre o corpo controlado e o corpo experienciado, sugere que a dimensão erótica pode revelar sentidos da corpulência das mulheres que são ofuscados pelos saberes e estratégias do binômio estético-saudável. Este trabalho traz uma revisão bibliográfica sobre o tema, além de elementos de uma excursão etnográfica na cena burlesca do Rio de Janeiro e em grupos congregados em redes sociais online que desenvolvem um foco de investimento estético-político nas performances eróticas e paródicas de mulheres corpulentas.
Gênero, educação científica e currículo: a importância de elementos simbólicos.
Monise de Jesus Siqueira (UFBA), Ângela Maria Freire de Lima e Souza (PROGRAMA DE PÓS-GRADAÇÃO EM ESTUDOS INTERDISCIPLINARES SOBRE MULHERES GÊNERO E FEMINISMOS)Grupo Temático: Gênero, Ciência e Tecnologia: avanços e desafios
Resumo
Os currículos dos cursos de graduação no Brasil, na grande maioria dos casos, podem ser caraterizados dentro do modelo tecnicista fundamentado no pensamento de Bobbit e Tyler (SILVA, 2001). Numa analogia entre a escola e uma empresa, Franklin Bobbit, em seu livro The Curriculum, de 1918, apresentava um currículo centrado na eficiência, com base no modelo científico hegemônico aplicado à educação, caracterizando-se assim também uma visão tecnicista de currículo. Em oposição a percepções tradicionais e partindo de uma concepção de currículo como um artefato fundamentado em relações de poder e de gênero, este artigo discute brevemente a importância dos elementos simbólicos do currículo encontrados na escola; a partir de situações do cotidiano em um curso de graduação em Ciências Biológicas de uma Instituição de Ensino Superior. Analisamos exemplos de violência simbólica revelados em prática docentes, bem como os modos pelos quais a “cegueira de gênero” resulta em lacunas importantes na formação dos/as estudantes em diferentes disciplinas. A proposta é fazer uma reflexão sobre que modelo de currículo está sendo adotado no curso em questão, explicitando relações de poder que estão em pauta. Este artigo é um recorte de um estudo que pretende analisar concepções sobre corpo, sexualidade e gênero veiculadas no ensino de Biologia a partir de depoimentos de egressos e egressas do curso. As análises dos depoimentos se farão segundo os pressupostos da Análise do Discurso Crítica.
Sociedades do Conhecimento no Século 21: O que nós precisamos para uma transformação para a Sustentabilidade?
Myanna H. Lahsen (Centro de Ciencia do Sistema Terrestre, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais)Grupo Temático: Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia e as Mudanças Climáticas
Resumo
Esta apresentação avalia as atuais estruturas da interface entre a produção de conhecimento e os processos de políticas públicas ao nível internacional e no Brasil, especificamente os esforços para redesenhar agêndas e instituições de pesquisa para melhor apoiar transições para a sustentabilidade. Destacando realizações e desafios contínuos para os esforços de institucionalizar uma nova visão, argumenta que resistências poderosas favorecendo o status quo precisam ser reconhecidos e combatidas nas instituições científicas internacionais e nacionais para fomentar o conhecimento necessário. A análise é informada por estudos sobre como as instituições lidam com conhecimentos "desconfortáveis" e baseia-se em duas décadas de observação e participação em comunidades de ciência ambiental nos Estados Unidos, Europa, Brasil e internacionalmente, incluindo o processo de visão que levou à Future Earth, um novo plataforma internacional para a coordenação de pesquisas ambientais.
Educação CTS nos bacharelados interdisciplinares em ciência e tecnologia na região nordeste do Brasil
Mycarla Míria Araujo de Lucena (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), Carla Giovana Cabral (UFRN)Grupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
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A expressão ciência, tecnologia e sociedade (CTS) se origina na segunda metade do século XX, quando diversos grupos questionaram com mais intensidade o uso da ciência e da tecnologia em guerras, os impactos ambientais, o controle do conhecimento pelo Estado. A partir desse momento, essa discussão influenciou o ensino das ciências e da engenharia, tanto na educação básica quanto superior, na direção de uma formação crítica que contemplasse dimensões filosóficas, históricas, sociológicas, políticas e ambientais na educação e no ensino. Esse movimento em torno da Educação CTS também ocorreu no Brasil. Como contraponto às experiências pioneiras e pontuais da Educação CTS na segunda metade do século XX no Brasil, foram implementados, nos princípios do século XXI os bacharelados interdisciplinares em Ciências e Tecnologia (BICT). Fruto do projeto de Reestruturação e Expansão das Universidades brasileiras (Reuni), os BICTs têm como um de seus princípios basilares contemplar os aspectos sociais, éticos, culturais e humanísticos na formação acadêmica dos/as discentes. No contexto de uma pesquisa iniciada em 2010 com abrangência nacional, este trabalho tem como objetivo mapear a presença das Humanidades nos cursos existentes na região Nordeste e identificar o enlace com o campo CTS, observando os documentos oficiais, projetos pedagógicos e currículos, entre outros. Foram analisados esses elementos nos bacharelados da 1) Universidade Federal da Bahia (UFBA), 2) Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), 3) Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB), 4) Universidade Federal do Maranhão (UFMA), 5) Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e 6) Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA). Os resultados dessa apreciação crítica mostram, por exemplo, uma diminuta presença das Humanidades e do campo CTS nessas universidades. É na UFRN e na UFMA que o enlace CTS aparece de maneira mais ativa. Nesse sentido, apontamos que o campo CTS oferece uma rica contribuição para a formação ética e responsável dos cientistas e engenheiros e que o espaço dos bacharelados interdisciplinares poderia acolher mais essa proposta.
Átomos, moléculas e um vácuo: Apontamentos sobre as iniciativas legislativas brasileiras para a regulamentação da nanotecnologia
Myrrena Inácio (Universidade Federal do Paraná), Carolina Bagattolli (UFPR - Universidade Federal do Paraná), Josemari Poerschke de Quevedo (Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas)Grupo Temático: Ciência e direito na coprodução dos fatos tecnocientíficos
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A nanotecnologia é apontada como a nova revolução tecnológica devido ao seu enorme potencial de inovação para o desenvolvimento industrial e econômico, capaz de tornar obsoletas as tecnologias existentes e ao mesmo tempo impactar os mais diferentes setores produtivos. Ocorre que há um vácuo entre a manipulação de átomos e moléculas e uma regulamentação específica e obrigatória para o desenvolvimento de pesquisas e produtos nesta área, com o fim de prevenir eventuais e possíveis danos ambientais e à saúde, fiscalizar a comercialização e produção, além de realizar uma gestão dos riscos que envolvem o emergente processo. Em observância a essa lacuna, a presente comunicação pretende identificar as proposituras de projetos de lei em tramitação que visam regulamentar a nanotecnologia no ordenamento jurídico brasileiro, buscando sistematizar os dados sobre os projetos de lei, facilitar o acesso à informação e até mesmo impulsionar novas articulações e políticas públicas para a área. Nessa seara, entende-se que a regulamentação poderá também proporcionar segurança jurídica e suporte aos operadores do Direito que logo estarão diante de perícias, audiências e fatos jurídicos envolvendo uma área convergente da ciência capaz de permear os mais diferentes ramos do Direito. A metodologia utilizada consiste em pesquisa bibliográfica e consultas públicas nos portais da Câmara dos Deputados e do Senado brasileiro para identificar os projetos de lei em tramitação referentes à nanotecnologia e a sua regulamentação. Destarte, com base no levantamento bibliográfico e, principalmente, nos acompanhamentos realizados nos portais do Congresso Nacional, é possível verificar que as iniciativas legislativas destinadas à regulamentação específica são recentes no país e ainda insuficientes para organizar juridicamente a sociedade brasileira, que vive com certo alheamento as controvérsias da nanotecnologia. Em razão disso, denota-se a relevância do fomento ao debate com o objetivo de estabelecer alternativas para a regulamentação ao se considerar ainda que a atual lacuna cria óbices para o desenvolvimento de políticas públicas à área, uma vez que falta uma diretriz capaz de garantir segurança jurídica diante da iminente disseminação de uma tecnologia cercada de incertezas sobre danos, benefícios e riscos.
Um framework para a aplicação do "Modo Operativo AND" como atividade colaborativa via web
Marlon Jonas de Oliveira Lima, Fernanda Eugenio, Laura Sánchez GarcíaGrupo Temático: Experiências contemporâneas em Antropologia da Ciência e da Tecnologia: etnografia, grandes projetos e escala planetária (ou não)
Resumo
O Modo Operativo AND é uma investigação baseada no cruzamento de procedimentos etnográficos (mecanismos de "posição-com") e artísticos (mecanismos de "com-posição") e vem sendo desdobrada pela antropóloga Fernanda Eugenio na interface com as artes performativas e os estudos de performance. Enquanto "filosofia praticada", tem se dedicado a mapear as modulações relacionais e os relevos quantitativos de que são feitos os acontecimentos em diferentes escalas, do entre-dois ao entre-muitos. Nos últimos anos, o Modo Operativo AND tem sido empregado em diferentes campos (das políticas de auto-gestão de coletivos às práticas pessoais de atenção de si) enquanto ferramenta ético-estética para a mediação do encontro, permitindo simultaneamente um trabalho auto-etnográfico em ato, e o manuseamento coletivo e a sustentação recíproca das relações.
O MO_AND apresenta-se sob a forma de um jogo de improvisação, com variações no número de participantes e na escala - entre a escala maquete, que permite simular um "fora", e a escala imersiva da convivência cotidiana, que é acessada apenas "de dentro" na medida em que corresponde ao corte fractal habitado pelo agente/jogador. Tal como um jogo de tabuleiro, o MO_AND funciona a partir da delimitação de uma zona de atenção compartilhada, mas difere de outros jogos num ponto crucial: as regras são emergentes e meta-estáveis; estabelecem um sentido-direção provisório e não um sentido-significado transcendente.
O MO_AND propõe, assim, a prática consistente e constante de modulações relacionais apoiadas na pergunta e não na resposta. Enquanto os jogos privilegiados nos planos de convivência modernos ocidentais teriam um funcionamento baseado na resposta sistemática às questões "por quê?" e "quem?" (gerando por consequência paisagens sociais organizadas sob a forma do "é"/"ou"), o AND ("e") desdobra-se a partir do adiamento deliberado da reposta (vive-se juntos enquanto adia-se o fim), organizando-se como um "jogo das perguntas" que, de modo a reperguntar, convoca as formas interrogativas situadas "o quê?", "como?" e "quando-onde?".
O presente trabalho aborda o processo de criação de uma aplicação de videoconferência que permite a execução de uma sessão do MO_AND de forma remota, distribuída e multiusuário baseado nos modelos de sistemas colaborativos da literatura e nas boas práticas no design de tecnologias persuasivas
A concentração da ciência, da tecnologia e da inovação do Brasil: apontamentos a partir da sociologia da expectativa
Marcio Felipe Salles Medeiros, Gabriel Bandeira CoelhoGrupo Temático: Expertise, deliberação de empreendimentos sociotécnicos e culturas de investigação científica e tecnológica
Resumo
Este trabalho tem por objetivo lançar questionamentos sobre os fluxos migratórios de pesquisadores dentro do País, tendo como referencial teórico condutor a sociologia da expectativa. Para tanto, será analisado de que forma a migração de pesquisadores, ligados à Pós-Graduação brasileira, tem interferido no desenvolvimento da CT&I no Brasil, bem como identificar quais as razões que desencadeiam este fluxo migratório de pesquisadores para os Programas de Pós-Graduação situados ao centro ou à periferia. Deste modo, este trabalho será desenvolvido em 3 partes. A primeira corresponde ao debate teórico que permite deslocar a categoria "expectativa", utilizada dentro da sociologia da expectativa para compreender os processos de inovação tecnológica, no intuito de compreender os processos migratórios na ciência. Em um segundo momento, será estabelecida a relação entre as expectativas e os conceitos de centro e periferia, no sentido de debater sobre a atração promovida por alguns centros de pesquisa no Brasil. Por fim, discutiremos como as expectativas podem ser encaradas como agentes construtores de realidade, influenciando, assim, a concentração de pesquisadores e, por consequência, a produção de ciência e tecnologia no Brasil.
La transformación de los imaginarios sociales, el Discurso Hegemónico y Masculinidad en medios radiotelevisivos en Venezuela
Moreno Orta EvelynGrupo Temático: Gênero, Ciência e Tecnologia: avanços e desafios
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Propuestas de pautas a la producción científica en ciencias sociales y de humanidades de los países iberoamericanos: google académico el indicador referencial
Manuel Paulino Linares HerreraGrupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
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A ciência e seu duplo: os psicólogos e as experiências metafísicas
Maria Fernanda Costa WaenyGrupo Temático: Estudos CTS, Práticas Psi e Modos de Produção de Subjetividades
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O objetivo é apresentar dados sobre as relações entre ciência e pseudo-ciência, a partir de relatos sobre fenômenos metafísicos na ciência psicológica, na virada dos séculos XIX para o XX. A validade de fenômenos metafísicos com médiuns foi avaliado por grupos de profissionais, alguns dos quais com a presença de psicólogos.
Pioneiros da psicologia falaram sobre as diversas sociedades psíquicas e respectivas vertentes, mostrando conhecimento dos estudos desenvolvidos nessas sociedades. Ou seja, este não era tema desconhecido ou rechaçado pela ciência da época.
Os motivos para tais relatos se explicam, em parte, pelos pressupostos científicos do período, isto é, a noção de que haveria um canal, o éter luminífero, para a passagem da luz, e sua comprovação -ou não- justificava o interesse e a avaliação nos então chamados fenômenos metafísicos; pois se os fenômenos observados nos médiuns fossem confirmados, desde que excluída a fraude, estaria também confirmada a existência desse meio físico para a propagação da luz, chamado na ocasião de éter luminífero.
Com a publicação da constante de Planck, em 1905, e depois a Teoria da relatividade, deixou de ser necessário que a luz fosse transmitida através de algum meio físico, e isto fez com que as experiências e avaliações dos fenômenos metafísicos dos médiuns fossem escasseando até seu completo desaparecimento, em meados de 1920, aproximadamente.
Ainda que datado, esta forma de relação entre ciência e pseudo-ciência são um interessante capítulo da psicologia e tem interessado alguns pesquisadores em história da psicologia.
Os modos de produção de subjetividades em economia solidária
Maria Sara de Lima Dias, Marilene Zazula BeatrizGrupo Temático: Estudos CTS, Práticas Psi e Modos de Produção de Subjetividades
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Através do suporte teórico da Psicologia Comunitária e da Economia Solidária se objetivou analisar os modos de produção de subjetividades. A econômica solidária tem sua capacidade de ser mediadora de relações interpessoais e expressões de si que são manifestas nos diferentes atores sociais. Tem também o intuito de proporcionar uma metodologia adequada ao trabalho coletivo e autogestionário gerando uma intervenção direta ou indireta nos arranjos locais principalmente na periferia das grandes cidades e em inúmeros pequenos municípios brasileiros. A Economia Solidária envolve tanto a comunidade como seus participantes em diferentes processos de engajamento, de participação e de fortalecimento subjetivo. Durante as feiras de economia solidária, em Curitiba, foram feitas observações e registros de campo no período de um ano. Tais registros e diálogos com os participantes permitiram realizar analises sobre as implicações objetivas e subjetivas dos processos de participação. Também nos permitiram observar a transformação dos modos de expressão e de consciência de si que a economia solidária possui em seu bojo. Considerou-se ainda que a atividade social cooperativa desenvolvida na formação dos grupos de econômica solidária foi primordial para o desenvolvimento dos vínculos entre os sujeitos, e para a transformação das relações sociais. A materialidade dos resultados da participação nos grupos se expressou na continuidade das atividades comuns e no compartilhar, que alteraram o processo histórico cultural deste grupo permitindo novas configurações subjetivas. O desenvolvimento da autoestima e da solidariedade que acontece no espaço social coletivo das feiras permitiu apontar que a economia solidária ultrapassa as limitações sociais provocadas pela exclusão social, assim como os sentimentos subjetivos de impotência que acomete a muitas das pessoas que se vinculam a coletivos da econômica solidária. Foi possível perceber como fundamental o trabalho de reflexão crítica que acontece na transição de uma atividade isolada para a outra coletiva, outro aspecto importante foi o desenvolvimento de ações coletivas para superação das condições sociais limitadas. Como resultado da mediação subjetiva da formação e da práxis social a economia solidária possibilita novas ferramentas culturais que permitem mudanças subjetivas que repercutem em novos modos de subjetivar a realidade.
Os seres e os "teres" da metamorfose: sobre Tobie Nathan e a Etnopsiquiatria
Mauricio Machado Siqueira FilhoGrupo Temático: Estudos CTS, Práticas Psi e Modos de Produção de Subjetividades
Resumo
O texto a ser apresentado possui um duplo propósito. O primeiro consiste em descrever e analisar algumas das ferramentas clínicas e conceituais forjadas durante as últimas décadas pelos profissionais que compõem o Centre George Devereux - dispositivo de atendimento etnopsiquiátrico a famílias migrantes situada em Paris (FR). O segundo consiste em sublinhar o contraste dessa experiência em relação a alguns pressupostos subjacentes à tradição fisicalista da psiquiatria moderna e ao familiarismo individualista endemicamente presente na doxa psicanalítica. Por fim, pautado sobre o corpus bibliográfico produzido por Tobie Nathan e alguns de seus comentadores, pretendo oferecer elementos que nos aproximem da resposta à questão: O que pode significar uma abordagem propriamente antropológica- isto é, etnograficamente orientada- do problema da produção de subjetividades? (Ou, ainda, o que pode significar a noção de "produção" em referência a um tal problema?). O texto procurará descrever, portanto, a singularidade do dispositivo etnopsiquiátrico em sua recusa do movimento de neutralização de questões "culturais" e/ou "religiosas" que frequentemente se manifesta sob os quadros da psicopatologia moderna. A hipótese desenvolvida é a de que o regime de signos implicado na prática etnopsiquiátrica deriva sua singularidade da radical recusa à adoção da partilha entre "interioridade" e "exterioridade" que funda a imagem hegemônica das práticas científicas modernas. Descreverei, assim, o modo pelo qual o caráter liminar assumido pela Etnopsiquiatria na atual ecologia de saberes modernos provem dessa recusa ao zoneamento ontológico que procura sancionar a incomensurabilidade entre o domínio dos "fenômenos" psicológicos e aquele dos "fatos" ("sociais" ou não).
¿Uma psicanálise "universitária"? O fenômeno de expansão da psicanálise no âmbito acadêmico argentino
María Eugenia GonzálezGrupo Temático: Estudos CTS, Práticas Psi e Modos de Produção de Subjetividades
Resumo
O presente trabalho tenta abordar as condições de possibilidade de "outro" processo de institucionalização da psicanálise além das sociedades psicanalíticas. Referimos-nos ao fenômeno de expansão da disciplina freudiana nas universidades argentinas, e mais especificamente nos programas de graduação em psicologia.
Esta situação resulta de especial complexidade e polemica para os fundamentos epistêmicos da disciplina freudiana, pelo que se revisam esses debates à luz do acontecido na historia da psicologia acadêmica argentina. Ali se observa que a grande difusão das ideias do autor vienense pelas terras argentinas e o predomínio da psicanálise como matriz preferida na formação e prática profissional do psicólogo, conformam um fenômeno atípico, já que esta forte conjunção de ambas as disciplinas não tem antecedentes quase nenhum outro território (Brasil seria possivelmente, uma das exceções). Contudo, na Argentina a identidade do psicólogo como psicanalista não resulta atípica para os próprios agentes do campo psi ou para a sociedade em geral. Contrariamente, essa homologia "psicólogo-psicanalista" constitui um dato fortemente arraigado e naturalizado.
Deste modo, este trabalho é realizado desde um enfoque sócio-histórico, por meio duma estratégia metodológica qualitativa. Assim, se revisa em primeiro lugar, literatura referida a formação acadêmica dos psicólogos na Argentina e à historia da psicologia e psicanálise nesse pais. Depois, se consultam documentos sobre a conformação e desarrolho dos programas de graduação e psicologia na Argentina e a legislação que regula os programas e o exercício profissional dos psicólogos. Posteriormente se realiza a leitura em detalhe desses textos e a consequente interpretação e analise dos mesmos. Estas atividades se apoiam numa perspectiva hermenêutica, que permite gerar compreensões mais precisas e complexas.
Por ultimo, visto que a psicologia acadêmica esta em estreita vinculação com diversas áreas (campo laboral dos psicólogos, circuitos de formação das instituições privadas, associações corporativas, agencias estatais que regulam estas praticas, população destinatária dos serviços que prestam estes profissionais, etc.), este trabalho significará uma contribuição não somente para os estudos internos à disciplina psicanalítica, mas também para diversas linhas de pesquisa.
A prova técnica e a prestação jurisdicional: questões sobre a interdição da pessoa com deficiência
Maria Clara Chaves AssunçãoGrupo Temático: Ciência e direito na coprodução dos fatos tecnocientíficos
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O presente trabalho tem como objetivo verificar a latente relação interdisciplinar que é estabelecida dentro do processo judicial de interdição. Neste sentido, pretende-se demonstrar que o instituto da curatela (e sua eventual revisão) depende especialmente da conexão entre ciência e direito, levando-se em conta que a decisão final do Magistrado sobre os interesses da parte é profundamente influenciada pela produção da prova técnica, consubstanciada no laudo psicológico. A pesquisa aborda, primordialmente, as situações em que o sujeito interditado é pessoa com deficiência e objetiva demonstrar através dos elementos integrantes dos autos, com base em processos exemplificativos, que a interferência tecnocientífica é requisito para a dicção jurisdicional no caso da ação de interdição, por isso, uma referência para a compreensão de que ciência e direito se interpenetram
A percepção da tecnologia no nacional-desenvolvimentismo brasileiro: as considerações de Álvaro Vieira Pinto
Marcos de Carvalho Dias, Enrique Viana ArceGrupo Temático: Álvaro Vieira Pinto
Resumo
Durante as décadas de 50 e 60 vários pensadores e intelectuais brasileiros se dedicaram a discutir o futuro do Brasil e surgem, neste período, intelectuais de duas correntes de pensamento com esse objetivo, porém com posições divergentes: um grupo que defendia o desenvolvimento dependente-associado, na Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), e outro grupo que defendia o nacional-desenvolvimentismo, no Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB).
O nacional-desenvolvimentismo, sob a ótica do ISEB, tinha por objetivo a elaboração e implementação de um projeto de desenvolvimento nacional de caráter sócio-humanista, baseado na evolução dos aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais do país, que culminaria num ambiente nacional mobilizador dos interesses nacionais, o que levaria ao desenvolvimento integrado do país.
Dentre os diversos intelectuais que constituíram o ISEB, o filósofo Álvaro Vieira Pinto, que se dedicou a estabelecer uma relação entre tecnologia, os aspectos sociais e humanos.
Assim, nosso objetivo deste trabalho é discutir, modestamente, qual a percepção do conceito de tecnologia no nacional-desenvolvimentismo brasileiro, pelas das considerações do filósofo Álvaro Vieira Pinto.
Argumentos:
A concepção de Vieira Pinto sobre o papel da tecnologia no desenvolvimento sócio-econômico demonstra o caráter sócio-humanista do nacional-desenvolvimentismo, pois para este autor a máquina significa o coroamento da condição humana, permitindo ao homem uma capacidade sem igual de produção. Considerava ainda que a finalidade humana está ligada a um agir técnico de fabricação que tem sua primeira manifestação efetiva na elaboração de ferramentas e posteriormente na construção de máquinas, destacando, assim, a 'essência' da realidade humana.
Metodologia:
A metodologia a ser utilizada é a revisão bibliográfica das principais obras deste autor, notadamente o livro "O conceito de tecnologia", além de textos que abordam a formação intelectual do ISEB e o papel deste autor nesta formação.
Contribuições para a literatura dos estudos em CTS:
Pretende-se, com esta discussão, aprofundar as discussões sobre Tecnologia e Sociedade a influência dos modelos de desenvolvimento econômico brasileiro, concebidas na primeira metade do século passado, na formação do pensamento brasileiro atual sobre Ciência, Tecnologia e Sociedade.
La salud pública y el mercado de medicamentos. El control farmacéutico por el Trust del dolor en la República neocolonial
Mercedes de la Navidad Valero GonzálezGrupo Temático: Ciência e Techné na História
Resumo
El presente estudio se ha propuesto un análisis de la relación entre la situación de la salud en Cuba y las condiciones objetivas en que se encontraba la adquisición de medicamentos en la República neocolonial hasta la década del treinta. Asimismo, muestra como la diferenciación del gremio de farmacéuticos tuvo su máxima expresión en el accionar del denominado Trust del Dolor, así como la caracterización de la lucha protagonizada por el gremio en contra del control de precios y comercialización de los productos.
Desde el punto de vista metodológico, la investigación parte del análisis histórico social, tomando como base la selección de las fuentes primarias y secundarias con el propósito de arribar a resultados que comprendan un amplio campo de posibilidades de interrelación con el proceso social y económico, así como el reconocimiento tanto legal como moral de la profesión. La investigación ha sido realizada desde la perspectiva de la Historia Social de la Ciencia y la Tecnología, teniendo en cuenta los aspectos socioeconómicos, ambientales y culturales.
Las investigaciones sobre la actividad científica y profesional de las ciencias de la salud, sus concepciones, logros y necesidad de asociarse durante el siglo XX, han contribuido de manera muy especial al progreso de la historia de la ciencia.
Presta una gran contribución al conocimiento y análisis de esta etapa la valoración de las condiciones políticas y económicas. Asimismo las marcadas consecuencias que significó para el gremio farmacéutico que quedó dividido entre los denominados minoristas y los grandes importadores o mayoristas y cuyos enfrentamientos estuvieron vigentes durante toda la República y en la cual los más acaudalados utilizaron diversas estrategias políticas con el propósito de empujar a los de menor recursos a condiciones de dependencia total.
Por otra parte permite un conocimiento de la existencia de las farmacias más representativas de La Habana, donde se encontraban las tres más poderosas del ramo, conocidas como Trust del dolor. Con este resultado ha sido elaborado un artículo, cuya publicación pretende apoyar los planes de enseñanza e investigación en centros educacionales e instituciones científicas y como contribución a la historia de la ciencia.
Se presentará en PowerPoint.
Um breve percurso pela ciência romântica: recusa e reencantamento na obra científica
Marcelo FetzGrupo Temático: Ciência e Techné na História
Resumo
Nas últimas décadas a ciência natural dos séculos XVIII e XIX tem sido importante tema de debate para os historiadores e sociólogos. Nesta comunicação apresentamos uma interpretação de algumas transformações na organização da história natural entre o final do século XVIII e início do século XIX, enfatizando a negociação das demarcações e fronteiras entre ciência, pintura de paisagem e literatura. Para isso, uma interpretação sociológica de índole compreensiva é feita sobre a teoria do conhecimento e sobre as atividades científicas presentes em três tipos diferentes de estilos de pensamento científico: a Encyclopédie, a Ciência Romântico e a Nova Ciência. Destacando a importância dos contextos históricos científicos britânicos e germânicos, trabalhamos as diferentes modalidades de interpretações históricas para campo científico de época. O objetivo central deste debate é contribuir com o estudo de questões científicas que envolvam a negociação social dos critérios de demarcação que geralmente delimitam o sentido histórico do fazer científico, com especial destaque para a proposta da ciência romântica e sua ênfase sobre a necessidade da revisão dos princípios racionalistas e empiricistas de ciência. Assim, destacando a necessidade de um estilo de conhecimento científico pautado na contribuição mútua entre obras literárias, artísticas e científicas, a ciência romântica surge como interessante tema de estudo da dinâmica histórica da ciência e de seus diferentes modos de vida e jogos de linguagens. Neste contexto, as fronteiras objetivas que tradicionalmente separam a imaginação da racionalização são fortemente criticadas pelos estilo de pensamento científico elaborado no contexto da ciência romântica.
O ensino em engenharia de computação no Brasil e a formação humanística pelo viés do campo de estudos da Ciência, Tecnologia e Sociedade
Márcia Cristina Gomes MolinaGrupo Temático: Dimensões da História e Memória da Informática no Brasil
Resumo
O presente artigo apresenta reflexões sobre engenharia de computação pela perspectiva do campo de estudos da Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS). Este trabalho é fruto de uma dissertação de mestrado que buscou analisar os artigos que debatem sobre o ensino superior em engenharia de computação no Brasil. Tal abordagem mostra-se relevante à luz das novas Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em engenharia, implementadas a partir de 2002. Iniciamos apresentando as discussões suscitadas na área de engenharia pela atual Lei de Diretrizes e Bases (LDB) e posteriormente, são apresentadas as ações que os cursos de engenharia de computação têm elaborado para atender a nova legislação vigente. E por fim, aborda-se como o campo de estudos CTS tem sido reconhecido como uma alternativa para o empreendimento da formação tecnocientífica pautada pelos aspectos sociais, culturais, políticos e econômicos do desenvolvimento científico e tecnológico.
Consumo, tecnologia social e logística reversa: qual relação?
Marcos de Carvalho Dias, Enrique Viana Arce, Marcos de Carvalho DiasGrupo Temático: GT Ciência, tecnologia e inovação social
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Modding de Jogos Digitais como Forma de Participação em Sociedade
Marcelo Simão de VasconcellosGrupo Temático: Jogos digitais e suas relações com a Ciência, Tecnologia e Sociedade
Resumo
Desde o início dos jogos digitais de computador existe a prática de modding, a criação por jogadores (os modders) de programas para ampliar, aperfeiçoar, subverter e mesmo reformular completamente jogos comerciais de entretenimento. Nos últimos anos a evolução tecnológica dos modders gerou situações marcantes: mods para "consertar" jogos que não funcionam, mods mais populares que o jogo em que se baseiam e até mods que inspiraram a indústria na criação de novos jogos. Além do aspecto tecnológico dos mods há um contexto cultural próprio, configurando-se como uma rede sociotécnica e incorporando muitos elementos da cultura participativa. Nem sempre suas regras são verbalizadas, mas assume-se que mods são uma atividade feita por prazer, cedidos ao público sem nenhum custo.
Em maio de 2015, a plataforma Steam, loja de jogos digitais para computadores e distribuidora de mods, decidiu permitir a venda de mods para o jogo Skyrim. Teve início um amplo debate entre os jogadores sobre a ética e os perigos de tal prática. Embora um número de jogadores e modders defendesse a opção de cobrança, um número bem maior se opôs violentamente à iniciativa, causando sua extinção em uma semana. Dentre as várias manifestações descontentes, destacou-se a criação de mods "de protesto", que eram vendidos a um valor exorbitante e/ou eram totalmente inúteis em jogo.
Neste trabalho partimos deste evento e, entendendo jogos digitais como participação que ocorre em três domínios (interpretação, reconfiguração e construção), buscamos compreender as inter-relações entre a Steam e os jogadores no seu papel duplo de consumidores e criadores. Para isso analisamos matérias publicadas nos principais sites de notícias de jogos e os mods de protesto mais baixados, apontando como o aparato tecnológico que viabiliza os mods é apropriado pelos jogadores para expressão crítica, utilizando a retórica procedimental materializada no mod como forma de ativismo político na promoção de seu ideal da cultura modder. A busca por empoderamento e protagonismo dos jogadores por esta via particular frente a uma companhia extremamente poderosa do setor de jogos digitais permite-nos concluir tecendo comentários sobre as como as novas mídias tecnológicas podem ser caminhos férteis e inovadores para expressão individual e comunitária frente às pressões do mercado e da sociedade.
Circulação de conhecimento e controvérsias científicas sobre a peste bubônica: entre Brasil e Europa (1894-1914)
Matheus Alves Duarte da SilvaGrupo Temático: Medicina na América Latina: práticas científicas, dispositivos tecnológicos e inovações terapêuticas
Resumo
O objetivo principal do trabalho é analisar a circulação do conhecimento sobre a peste bubônica e das medidas sanitárias para debelá-la entre Europa e Brasil. O recorte histórico vai de 1894, quando se afirmou ser a doença causada por um bacilo, a 1914, momento em que o conhecimento sobre a peste foi considerado estabilizado. A pesquisa divide o processo de circulação em três fases. A primeira, entre 1894 e 1899, foi marcada no Brasil pela importação de conhecimentos sobre a peste, motivada pela ausência dela no país e pela concentração de estudos sobre o tema em laboratórios europeus, como o Instituto Pasteur. Essa fase termina com a chegada da doença ao Brasil, em outubro de 1899. A partir dessa data, iniciou-se uma fase de incertezas quanto à forma a ser empregada para controlá-la no país, notadamente no Rio de Janeiro, onde ela se desenvolveu mais intensamente. Nessa fase, estiveram em disputa, tanto no Brasil quanto na Europa, dois modelos de controle da doença. O primeiro era centrado no combate aos ratos e defendido na Europa por Paul Simond, cientista francês, e no Brasil por Ismael da Rocha, editor do Brazil-Medico. O segundo modelo explicava a transmissão pelo contato com objetos e pessoas contaminadas, era defendido internacionalmente por Bruno Galli-Valerio e no Brasil por Nuno de Andrade, Diretor de Saúde Pública. A terceira fase, iniciada em setembro de 1903, mostra uma inversão em relação à primeira, pois o Brasil passou a "exportar" determinados conhecimentos sobre a peste bubônica, como a maneira de destruir sistematicamente os ratos. O sucesso do exemplo foi tanto que ele apareceu em textos publicados no Instituto Pasteur e em uma enciclopédia francesa sobre saúde pública. O presente trabalho está baseado nos recentes estudos sobre circulação de conhecimento, entre os quais o de Kapil Raj, e centra sua análise nos atores que agiram como mediadores entre diferentes conhecimentos. No caso estudado, esse papel foi desempenhado por Simond, que esteve no Brasil entre 1901 e 1905 e levou as ideias do combate à peste aplicadas aqui para a Europa. O trabalho procura seguir esse personagem, através de seus artigos e documentos pessoais, analisar os contatos realizados por ele e demonstrar que os cientistas brasileiros não agiram apenas como reprodutores de um conhecimento importado, mas como participantes na produção de um conhecimento original.
Descrevendo uma rede sociotécnica a partir das relações entre dos manguezais de Guaratiba (Rio de Janeiro - RJ) e as mudanças climáticas globais
Marciel Rocha de Medeiros EstevamGrupo Temático: Pedra, planta, bicho, gente... coisas: encontros da teoria ator-rede com as ciências ambientais
Resumo
A partir de um projeto de pesquisa, com pressupostos de duas disciplinas principais, Ecologia e Oceanografia, envolvendo o monitoramento ecológico de um sistema florestal (manguezal de Guaratiba) e a busca pelas relações entre comportamento da comunidade vegetal e variáveis climatológicas em escala regional e global. Apesar de possuir embasamento teórico-metodológico e de ter a disposição infra-estrutura e logística para execução, surge insatisfação no que diz respeito aos objetivos e as justificativas pelos quais este e outros estudos científicos são desenvolvidos. A "angustia" de não querer ser apenas "mais um" pesquisador reproduzindo nos passo a passo mais artigos científicos, deixando de lado o cientista que auxilia no progresso da ciência, deixando o senso critico, agindo como conformista alienado nos moldes atuais de (re)produção do conhecimento acadêmico. Deste ponto são levantadas questões sobre o sistema em que um estudo científico está enquadrado, como: o que esta sendo reproduzido? Por quê? Para que/quem? De onde vem o financiamento? Assim, neste estudo, à luz da Teoria Ator-Rede (TAR), foi problematizado o estudo dos manguezais de Guaratiba a fim de desvendar/descrever os atores e percorrer as conexões existentes entre os atores identificados. Foram visualizados três caminhos possíveis na relação entre manguezal de Guaratiba, mudanças climáticas globais e estudos científicos sobre a dinâmica destes manguezais: i) iniciar a observação partindo dos próprios manguezais - suas características intrínsecas como formação vegetal, comunidades limítrofes, pressões e história; ii) percorrer o caminho que os dados ecológicos coletados percorrem ao sair destas florestas - como são coletados, por quê, para quê/quem, como e onde são utilizados, e; iii) qual a história que dos manguezais de Guaratiba ao longo da história de assimilação dos dados, bem como quais variáveis e direcionamentos políticos, científicos e sociais para pesquisas cientificas. Problematizar determinada questão sem obscurecer ou omitir informações, é um exercício de extrema dificuldade, principalmente para aqueles não habituados e embasados em áreas do conhecimento que priorizam a contextualização dos objetos de estudo. Entretanto, com o olhar da TAR, auxilia no entendimento dos problemas de maneira mais integrada, uma vez que prioriza a descrição das ações e não suas interpretações.
Narrativas científicas: marcas do feminino na ciência?
Marília SilveiraGrupo Temático: PesquisarCOM e o feminino na ciência
Resumo
Este trabalho é parte de minha tese de doutorado desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Psicologia da UFF e está imerso no modo de existência de uma pesquisadora. Este trabalho é escrito no feminino. Não para declarar exclusividade a quem se destina, mas parar marcar uma singularidade em sua produção. Este trabalho nasce para marcar um lugar de onde se fala. É ela quem fala. A pesquisadora. Ela não escreve exclusivamente para mulheres, mas ela provocará que os homens possam se sentir incluídos e se identificarem quando o feminino aparecer marcando essa produção. Afinal levamos já um bom tempo na história das ciências considerando o masculino como neutro e, portanto, generalizável. É nesse ponto que encerramos a frase e iniciamos outro parágrafo.
A pesquisadora não é e não quer ser neutra. É uma mulher esta que se dirige a você, leitor e a você leitora. Esta é uma voz feminina que faz ecoar outras vozes, especialmente de um coletivo, também feminino, que se reúne as quartas-feiras pela manhã, para a orientação coletiva na UFF. Nosso grupo de orientação, apesar de trabalhar cada uma com as mais diversas temáticas, tem uma aposta comum.
Nossa aposta é narrativa, nos ocupamos de pensar como se escreve a ciência. Entendemos que as políticas de escrita são também performativas da realidade acadêmica na qual estamos inseridas. E que nem sempre acolhe nossa aposta narrativa, especialmente quando não se pretende genérica. Escrevemos ciência no singular, encarnada numa versão local e situada de nossos trabalhos. Com o auxílio de Vinciane Despret, Isabelle Stengers, Bruno Latour, Annemarie Mol e outros companheiros e companheiras nos engajamos nessa discussão intuindo que as marcas narrativas da ciência são marcas deixadas pelo feminino nas ciências. E que essas marcas nos convocam não só a situar de que lugar falamos, qual a nossa implicação com o tema de nossa pesquisa, mas também a nos comprometer com a realidade que produzimos a partir da ciência que fazemos.
Essa aposta de comprometimento com a realidade produzida encontra ressonância também entre algumas feministas, como Paul B. Preciado que nos ajuda a não situar a questão no gênero, margem há muito tempo borrada pela teoria queer, nos forçando a pensar também os limites de nossa proposição. A que feminino nos referimos aí?
As Organizações Sociais e a Gestão de Ciência, Tecnologia e Inovação no Brasil: trajetória das OSs em C,T&I
Milena Pavan Serafim, Carlos Alberto Montero Corrales, Evandro Coggo Cristofoletti, Núria Colom Toldrá Ebram, Rebeca RizzoGrupo Temático: Política de Ciência e Tecnologia
Resumo
Questões como processos de enxugamento das administrações centrais, redistribuição de funções e articulação entre níveis de governo e novas formas de gestão em parceria com organizações da sociedade civil foram orientadoras da agenda da reforma gerencial no Brasil na década de 90. Um dos instrumentos de intervenção administrativa presentes no projeto dessa reforma era o contrato de gestão, em especial, aquele firmado com as organizações sociais-OS. Estas foram instituídas a fim de viabilizar a construção de um novo modelo de organização pública focado na sociedade, e não mais no Estado. De forma concomitante ao processo de inserção desse novo ator - OS - no processo de implementação das políticas públicas, observou-se a valorização desse modelo de gestão na gestão do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. Atualmente, são quatro as organizações sociais que atuam no âmbito do SNCTI no Brasil: o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE); o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA); a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) e a Associação Brasileira de Tecnologia de Luz Síncrotron (LNLS). Nesse sentido, o objetivo central do artigo é compreender a relação entre atores, eventos e pontos de inflexão na trajetória histórica da constituição das OSs. O aporte teórico deste trabalho busca integrar conceitos e métodos apresentados pela Análise de Política Pública e o Enfoque Neoinstitucionalista. A pesquisa é fundamentada em atividades de pesquisa bibliográfica, na qual se insere um levantamento e tratamento de material referente aos temas pertinentes a essa pesquisa, tais como o Estado e suas formas de organização, setor público não-estatal, instituições de pesquisa, política científica e tecnológica no Brasil, etc., e pesquisa documental, que se refere à análise dos documentos oficiais publicados pelo Poder Executivo (Contratos de Gestão e seus Relatórios) e pelas instituições estudadas. Espera-se que este trabalho possa contribuir para as reflexões sobre a estrutura e a dinâmica das organizações sociais no País, sobre o setor público não-estatal e, em especial, sobre a política de ciência, tecnologia e inovação brasileira. A despeito dos estudos realizados sobre instituições públicas não-estatais no Brasil, aquelas relacionadas ao complexo de ciência, tecnologia e inovação têm recebido pouca atenção enquanto objetos de análises acadêmicas.
Avatares de la política nuclear en Argentina en tiempos de cambio: 1976-2014
Manuel José LugonesGrupo Temático: Política de Ciência e Tecnologia
Resumo
Durante el modelo de valorización financiera (1976-2002) se produjeron un conjunto de cambios sustantivos en el diseño e implementación de las políticas tecnológicas en Argentina. En esta dirección, entre mediados de la década del ochenta y principios de la década del noventa, en materia nuclear, las principales medidas adoptadas se distinguen la cancelación del programa de construcción de centrales nucleares de potencia y la reforma institucional de la Comisión Nacional de Energía Atómica (CNEA) lo que trajo aparejado una profunda transformación del sector nuclear, es decir, en la configuración de los distintos actores que lo conforman. No obstante estas medidas adoptadas, ello no implicó la paralización del sector nuclear ya que durante este período se produjo, por un lado, la inserción a los mercados externos a partir de la exportación de reactores de investigación y producción de radioisótopos, agua pesada, elementos radioactivos como cobalto 60 y componentes en aleaciones especiales. Y por el otro, la articulación con otros sectores para el desarrollo de tecnologías en campos, como por ejemplo, el espacial y el nanotecnológico. En este trabajo se busca explicar las consecuencias que tuvieron las medidas arriba mencionadas; y las estrategias de re-estructuración adoptadas por los actores del sector nuclear y que posibilitaron su conversión en exportadores de tecnología. En otros términos, si dichas transformaciones fueron el resultado de estrategias defensivas que buscaban preservar las capacidades adquiridas o estrategias ofensivas de re-especialización del sector en su conjunto. Este análisis cobra especial relevancia para identificar las potencialidades y limitaciones de la actual política nuclear, la cual se comenzó a implementar en el año 2006 y tiene como uno de sus aspectos centrales el relanzamiento del programa de construcción de centrales nucleares de potencia.
A Patenteabilidade do Software e dos Métodos de Fazer Negócios na Internet
Maria Fernanda Hosken de S. PeronginiGrupo Temático: Reflexões sobre Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: dimensões históricas, econômicas e sociais
Resumo
Desde 1998, os métodos de negócio são patenteáveis nos Estados Unidos, graças à decisão do Tribunal de Apelações no caso State Street Bank & Trust Co. versus Signature Financial Group, Inc., que - categoricamente e sem a menor cerimônia - rompeu com o entendimento anterior sobre a excepcionalidade da patenteabilidade de métodos de negócio. Até então, nenhum método de fazer negócios merecia a proteção patentária. Esta decisão apontou que "desde a Lei de Patentes de 1952, os métodos de negócio têm sido, e deveriam ter sido, sujeitos às mesmas exigências legais de patenteabilidade quando aplicado a qualquer outro processo ou método."
A importância do caso State Street Bank é que os métodos de negócio passaram a ser considerados matéria patenteável, levando a um número cada vez maior de pedidos de patentes arquivados no USPTO. O volume de negócios das patentes de método é surpreendente, e, em parte, reflexo do fato de que poucos países adotam esse entendimento. O volume pode ser atribuído também ao fato de que os métodos de negócio parecem fáceis de explicar, pelo menos conceitualmente; por isso muitas pessoas vêem nele oportunidade relativamente simples de inovar, sobretudo considerando a importância da Internet para o comércio global.
A última década testemunhou a explosão de novas e complexas tecnologias, trazendo inúmeras mudanças e desafios na área de propriedade intelectual e inovação. Especialmente nas áreas de biotecnologia e TI (Tecnologia da Informação) houve significativo crescimento nos pedidos de patentes e aumento na demanda de profissionais especializados na área, diante de questões que se apresentam inéditas e imprevisíveis.
A tecnologia vem trilhando seu caminho a passos largos, com grande impacto em países que apenas recentemente alteraram ou vêm alterando suas leis relativas à propriedade industrial em função dos acordos de TRIPS. Assim, nosso objetivo é levar à discussão o atual posicionamento do Brasil acerca da concessão de patentes a "métodos de negócios" por meio de softwares, as vantagens e desvantagens de se considerar a mudança do pensamento hodierno e como essas novas tecnologias poderiam atender ao requisito de aplicabilidade industrial requerida pela lei em vigor.
Corações em risco: o Framingham Heart Study e a origem dos fatores de risco para doenças cardiovasculares
Maiko Rafael SpiessGrupo Temático: Riscos e controvérsias científicas: teorias e estudos empíricos
Resumo
Nos dias de hoje, os fatores de risco para as doenças cardiovasculares são amplamente conhecidos, sendo alvo de ações coletivas (como, por exemplo, políticas de saúde pública para seu combate ou redução) e individuais (por meio de alterações de hábitos pessoais, de consumo, alimentação, etc). Este trabalho analisa as origens desse fenômeno, mais precisamente, os processos de construção social de conhecimentos médicos a respeito das doenças crônicas do coração e seus fatores de risco; procura problematizar sua difusão, circulação e adoção em contextos sociais distintos daqueles de sua origem, partindo da análise do Framingham Heart Study -- um estudo epidemiológico sobre a causalidade de doenças do coração, conduzido na cidade de mesmo nome, nos Estados Unidos, desde 1947 -- e seu papel no estabelecimento dos fatores de risco atualmente reconhecidos como determinantes para essas doenças.
A partir do ponto de vista dos Estudos Sociais da Ciência e da Tecnologia (ESCT) e da Teoria Ator-Rede, o trabalho analisa o estudo de Framingham e seus resultados como o alinhamento de uma série de elementos sociotécnicos heterogênos. Nesse aspecto, o texto apresenta um modelo de "antecedentes sociotécnicos", que abrange o perfil epidemiológico, as instituições governamentais e civis, conhecimentos científicos e tecnologias, e as noções de moralidade específicas do contexto histórico abordado como os elementos que possibilitaram a existência do estudo epidemiológico e que, posteriormente, moldaram e direcionaram seus resultados. O texto também analisa o processo de circulação dos enunciados produzidos no âmbito do estudo de Framingham, problematizando seu uso e adoção pela população e o poder público em contextos distintos daquele de sua produção como, por exemplo, os países de terceiro mundo.
Este trabalho é resultado de pesquisa realizada nos Estados Unidos, no período de 2012 a 2013. Metodologicamente, baseia-se na análise qualitativa de material histórico e documental, artigos científicos publicados pelos pesquisadores associados ao estudo de Framingham entre os anos 1950 e 1979, e entrevistas realizadas com pesquisadores e profissionais vinculados ao projeto de pesquisa.
Técnica moderna - A natureza modificada do agir humano segundo Hans Jonas
Michelle Bobsin DuarteGrupo Temático: Riscos e controvérsias científicas: teorias e estudos empíricos
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Resumo
A modificação da natureza do agir humano é, entre todas as consequências da modernidade apontadas por Jonas, a mais impactante. Em nenhum momento da história o homem pensou que sua permanência na Terra poderia ter fim pelas suas próprias mãos. Hoje, este tema se tornou uma possibilidade real do futuro humano devido à conjugação do desenvolvimento de tecnologia de destruição em massa, de técnicas de prolongamento e melhoramento genético da vida humana e aceleração da degradação ambiental do planeta.
Em O Princípio Responsabilidade, Jonas apresenta a sua preocupação com o futuro da humanidade e com os rumos que o uso impensado da tecnologia pode nos levar. Após algumas experiências do homem com a aplicação da técnica para fins nada nobres, como por exemplo, o uso da bomba atômica, restam muitas perguntas e um tipo de lacuna ética.
Afinal, quais são os limites do uso da tecnologia? Quais são as linhas de força que estão presentes no direcionamento de suas pesquisas? É possível discutir uma ética que vise os interesses das gerações futuras? Teriam os futuros homens direitos antes mesmo de terem existência?
Certamente este assunto é de difícil discussão. Talvez haja quem pense que seja mesmo impossível discutir os direitos dos que virão. Porém, torna-se cada vez mais urgente, pra não dizer inevitável pensar nas condições de existência de uma futura humanidade. Torna-se mais que evidente o fato de termos que pensar a questão do uso inescrupuloso da tecnologia e as suas possíveis consequências.
Hans Jonas propõe a construção de uma ética que seja adequada ao paradigma técnico científico moderno-contemporâneo. O autor aponta para a urgência desta questão e para a necessidade de trazê-la para a esfera pública de discussão, o que implica medidas práticas em relação à ameaça latente de desfiguração do mundo e, consequentemente, do homem em um futuro não tão distante. Ou melhor, uma possível paisagem catastrófica vem se afirmando como provável realidade.
Temos conhecimento que a aplicação excessiva da tecnociência e o modo de existência de nossa sociedade industrializada nos aproximam da possibilidade de destruição das condições necessárias para a perpetuação de uma humanidade que, de acordo com Hans Jonas, seja digna deste nome.
Arte-tecnologia e as possibilidades do corpo humano conectado à rede internet
Manoela Freitas VaresGrupo Temático: Saberes do corpo e sobre o corpo: formas de conhecimento, experiência, ciência e expertise
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Considerando a evolução de um crescente número de tecnologias que proliferam-se em nosso cotidiano, é cada vez mais comum presenciarmos sua aplicação para as mais diversas - e curiosas - finalidades. Entre elas, destacam-se os usos que artistas contemporâneos, explorando ao máximo sua criatividade, têm atribuído aos recentes desenvolvimentos científicos-tecnológicos. Nesse estudo, evidencia-se o emprego desses recursos em projetos artísticos que propõem o uso de tecnologias em associação com o corpo humano, em uma relação que quase pode ser chamada de simbiótica, devido às contribuições que estes trazem, um ao outro. Nesses trabalhos, enquanto as tecnologias vêem-se atribuídas de novas aplicações - por vezes muito diferentes do propósito para o qual foram criadas e experimentando mais uma de suas potencialidades - também o corpo humano é dotado de novos agenciamentos e corporalidades. A conexão de um corpo à rede internet, através de interfaces especializadas, confere a ele novas configurações: torna-se um corpo conectável, atualizável e público, além de serem alteradas suas relações com o espaço e tempo. Para fundamentar a discussão, são utilizadas obras do artista australiano Stelios Arcadiou, mais conhecido pelo pseudônimo Stelarc(1946-). No projeto chamado Fractal Flesh - Split Body: Voltage-In/Voltage-Out (1995), o artista liga-se a um estimulador muscular controlado por um computador conectado à rede internet, e participantes remotos podem estimular a interferência da tecnologia sob seu corpo - mesmo que estejam atuando em locais muito distantes da exibição do artista. Do mesmo modo, em outro projeto, Ear on Arm (2008-), Stelarc intenta que pessoas conectadas à rede internet, em diversos pontos do planeta, possam ouvir os sons do ambiente em que se encontra. Desse modo, as obras aqui referenciadas, permitem refletir sobre a atual condição humana da sociedade que vive a chamada supermodernidade, possuindo como uma de suas características, a necessidade constante de estar presente em vários lugares ao mesmo tempo.
Mosaico no tempo: uma inter-ação entre corpo, cegueira e baixa visão
Maria Rita Campello RodriguesGrupo Temático: Saberes do corpo e sobre o corpo: formas de conhecimento, experiência, ciência e expertise
Resumo
A presente tese se propôs a acompanhar e a levantar algumas questões produzidas da articulação entre corpo, cegueira e baixa visão, considerando que o trabalho corporal pode ser um interessante caminho para produzir outros modos de ver e não ver. Apostamos que essa articulação possa "performar" uma realidade que aponte para outras possibilidades de reinvenção de si diante da cegueira e da baixa visão, na contramão da concepção hegemônica de deficit, falta e incapacidade atribuída às pessoas nessa condição visual. Trata-se de uma pesquisa de campo realizada com jovens alunos cegos e com baixa visão do Instituto Benjamin Constant e que também resgata a memória encarnada que a pesquisadora traz consigo da prática profissional de 30 anos com crianças com tais condições visuais. O método empregado foi sendo construído com base em duas práticas distintas, como um mosaico em composição. São pedaços-cacos-fragmentos extraídos da prática na oficina de expressão e experimentação corporal com jovens criada especialmente para esta pesquisa, e pedaços-cacos-fragmentos obtidos da experiência profissional da pesquisadora com crianças ao longo do tempo. A experiência do passado se atualiza na prática do presente. No dispositivo das oficinas, as atividades envolvem o corpo em conexão com uma variedade de materiais; estimulam a expressão corporal, a criatividade, a percepção do corpo e seus movimentos; e fazem aparecer questões produzidas na "Inter-Ação" corpo e cegueira e baixa visão, tendo como pano de fundo a ludicidade. A escrita do texto se deu por meio de narrativas, em que destacamos diálogos e questões (a)colhidas do campo. Para dar suporte ao caráter processual da tese, nos inspiramos na Teoria Ator Rede tendo como aliados durante seu percurso, alguns teóricos do campo da antropologia das ciências, como Annemarie Mol, Bruno Latour, Vinciane Despret, John Law e Marcia Moraes.
Atores e Redes: Pesquisa Avaliativa sobre Condições da Produção de Conhecimentos nos Cursos de Pós-Graduação da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca no Programa Teias-Escola Manguinhos/RJ
Marly Marques da CruzGrupo Temático: Saúde, Trabalho e Desenvolvimento
Resumo
A pesquisa teve por objetivo analisar a ocorrência e condições implicadas na produção de conhecimentos nos cursos de pós-graduação da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da Fiocruz, sobre Complexo de Manguinhos (Rio de Janeiro/RJ). O interesse se deu devido à lacuna existente no setor saúde entre produção de evidências significativas provenientes das investigações científicas e o fato deste conhecimento não ser construído ou utilizado para melhorar e inovar as políticas públicas e os serviços de saúde. A análise quantitativa abrangeu mapeamento dos trabalhos de conclusão das modalidades Lato Sensu e Stricto Sensu , no período de 2004 a 2013, que realizaram seus estudos no ou sobre Manguinhos. A investigação qualitativa foi realizada por meio do referencial teórico-metodológico da Teoria Ator-Rede (TAR) que permitiu identificar aproximações, afastamentos, obstáculos e caminhos apontados acerca da relação entre ensino e pesquisa da ENSP e o Território de Manguinhos por entrevistas com atores chave. A TAR investiga um actante em ação em rede na conexão entre conhecimento e prática, que sugere ser nas fronteiras que se delimitam e instauram o que conta ou não como objetividade. Foram localizados 49 trabalhos de 71 alunos e 37 orientadores, sendo dissertações mestrado acadêmico (46%), monografias residência (22%) e dissertações mestrado profissional (20%) e outros (12%). As temáticas mais frequentes foram: Atenção Primária em Saúde (17%); Programa Distribuição de Renda/Bolsa Família (17%); Tuberculose (11%); Recursos Humanos (10%); Processo de Trabalho (10%) e outros (35%). A análise de redes sociotécnicas pode revelar parte substancial da natureza dinâmica e social presente nas modalidades formação em saúde pública, em termos de capacidade de adaptação, inovação e proposta de ação para solução de problemas locais. Há caminhos apontados para construção de pontes e parcerias como discussões conjuntas em fóruns de ensino; aproximação do stricto e do lato para pensar, escrever e atender às demandas por melhor qualidade de saúde da população; e reorientação dos orientadores para repensarem interesses em pesquisas voltadas para necessidades e lacunas existentes no território. A continuidade dos esforços em promover o uso de metodologia que propicie o pensamento em rede pode potencializar espaços de reflexão para produção de aproximações ensino-território-pesquisa.
Globalização, terceirização e saúde mental do trabalhador: discussões transversais ao campo de ciência, tecnologia e sociedade
Marilane Carneiro Di Mario, Mario Lopes AmorimGrupo Temático: Saúde, Trabalho e Desenvolvimento
Resumo
O objetivo desta comunicação é fomentar o debate sobre três temas de grande relevância social: globalização, terceirização e seus impactos sobre as condições de saúde do trabalhador. As mudanças provocadas pela globalização nos ambientes e rotinas de trabalho geraram novos riscos à saude da população, cujas proporções lhes colocam como uma questão central de saúde pública a nível mundial. Dados levantados por inúmeras organizações internacionais indicam que o crescimento do fenômeno do adoecimento mental decorrente do trabalho passou de 20 a 30% dos trabalhadores europeus num espaço de apenas 5 anos (EU-OSHA, 2007; SLIC, 2012). A Organização Internacional do Trabalho alerta sobre o desenvolvimento de uma "pandemia oculta", que adoeceu 160 milhões de trabalhadores, dizimou 2,02 milhões e consumiu o equivalente a 5% do Produto Interno Bruto Mundial (OIT, 2014). No Brasil, os últimos dados divulgados pela Previdência Social informam que 40,5% dos benefícios previdenciários estão distribuidos entre riscos ergonômicos e mentais (20,76% dos afastamentos do trabalho) e traumas (os "acidentes de trabalho tipicos", com 19,46%) (BRASIL, 2015). Compreender esse fenômeno, ligado à introdução de novas tecnologias nos ambientes de trabalho e aos desdobramentos da terceirização, e refletir sobre seu potencial de mudança da feição das sociedades enriquecera os debates do campo CTS. As modificações ocorridas nos bancos, em consequência da reestruturação produtiva, da terceirização e da inserção de novas tecnologias nos ambientes de trabalho, pode exemplificar como isto se materializa no cotidiano dessa população de trabalhadores e permitir a visualização dos desdobramentos concretos dessa discussão.
Trilhas para inteireza do ser em promoção da saúde no ambiente do trabalho
Manuela Barreto de AraujoGrupo Temático: Saúde, Trabalho e Desenvolvimento
Resumo
Autora: Manuela Barreto de Araújo
Co-Autor:José Claúdio Rocha
Principais argumentos: Na contemporaneidade, o conhecimento é um dos aspectos mais importantes da sociedade, pelo fato de sua imbricação favorecer ao desenvolvimento humano nos seus diversos aspectos, possibilitando um favorecimento para os novos arranjos no mundo do trabalho. Mesmo sendo coptados ao conhecimento, sendo o conhecimento dedicado apenas aos níveis de gerenciamento, contribuindo no processo do desmanche para a crise, em um favorecimento das máquinas em detrimento do homem. A Saúde e Promoção da Saúde apresentam neste sentido, como alternativa para a busca da melhoria qualidade de vida no ambiente do trabalho á comunidade envolvida no processo de construção e disseminação coletiva do conhecimento, por meio das práticas diversas que promovam a adoção de novas formas de convívio e mudanças no estilo de vida. Os processos de trabalho e funcionamento institucional, tem sua base nos regimentos estatais e regimento interno, o que torna a viabilidade da perspectiva de construção coletiva e novas formas de convívio no ambiente do trabalho, com sujeitos proativos na adoção de novas posturas para a melhoria da sua qualidade de vida, e multiplicadores do conhecimento em uma perspectiva freiriana.
Metodologia:
No que se refere á perspectiva metodológica, a presente pesquisa será de abordagem tipo qualitativa e quantitativa, com os trabalhadores do departamento de ciências humanas da UNEB.
Contribuição para a literatura dos estudos de ciências-tecnologias-sociedades: Difundir a importância da promoção da saúde para melhoria da qualidade de vida de trabalhadores visando compreender, caracterizar, sistematizar e propor rodas de conversa e intervenção no campo prático. Intervenções enquanto um processo de construção social do conhecimento no ambiente do trabalho, com sua cultura organizacional a partir das potencialidades sociais, institucionais, econômicas, pessoais, espirituais, resgatando os diversos saberes e conhecimentos.
Existe um Sistema Nacional de Inovação no Brasil? Reflexões de âmbito institucional, organizacional e relacionamentos estabelecidos
Martha Delphino Bambini, Ana Lúcia Vitale Torkomian, Ana Maria Nunes Gimenez, Maria Beatriz Machado BonacelliGrupo Temático: Sistemas de Inovação e seu Alcance Conceitual, Metodológico e Normativo
Resumo
A abordagem sistêmica da inovação foi desenvolvida com base em um construto teórico denominado "Sistema Nacional de Inovação (SNI)" que permite a análise integrada das instituições e organizações que interagem e desenvolvem relacionamentos visando à produção, difusão e apropriação de conhecimentos novos e economicamente úteis em um dado país. Esta abordagem permite analisar os grupos de instituições e organizações que influenciam as capacidades tecnológicas de uma nação, as redes de inter-organizacionais formadas para a geração de inovações; os processos de desenvolvimento de novos conhecimentos e tecnologias e os mecanismos para sua apropriação social e exploração comercial.
Edquist (2006) define organizações como estruturas formais com propósitos explícitos (empresas, universidades, institutos de pesquisa e agentes financiadores). O autor aponta que as instituições são formadoras das "regras do jogo" de um dado ambiente de inovação (na forma de práticas, leis e políticas públicas).
Pode-se dizer que as estratégias nacionais estabelecidas no campo da Ciência, Tecnologia e Inovação tem um importante papel na conformação de um SNI, entre elas: políticas educacionais para formar recursos humanos qualificados; subsídios para a pesquisa básica e aplicada; incentivos fiscais para a realização de pesquisa e desenvolvimento; estímulo à comercialização de novos produtos e tecnologias; dentre outros.
Este artigo tem o objetivo de promover reflexões sobre as características, forças e fraquezas do ambiente inovativo brasileiro a partir da abordagem sistêmica. Um dos resultados do estudo é uma análise descritiva e contextual dos componentes do SNI brasileiro, destacando as principais instituições e organizações envolvidas e seus papéis. Adicionalmente, o estudo oferece uma análise relacional, apontando as interações estabelecidas entre os atores, regulados por regras e práticas mercadológicas, pela legislação e por políticas públicas.
Referências
EDQUIST, C. Systems of innovation: Perspectives and Challenges. In: FAGERBERG. J. , MOWERY, D. , NELSON, R.R. The Oxford Book of Innovation. Oxford: Oxford university Press, 2006. pp.380-406.
Midiativismo e novos lugares do sujeito na produção e recepção de conteúdo informativo
Michele Nunes LimaGrupo Temático: Tecnologia e mediações
Resumo
As novas tecnologias de informação e comunicação vêm tornando o ecossistema midiático que compõe o Campo da Comunicação ainda mais complexo e desafiador para profissionais e estudiosos da área, com destaque para o fortalecimento da prática de uma comunicação interativa e democrática entre quem produz e consome conteúdo. Tal configuração, incentivada pela Internet e pelas redes sociais eletrônicas, também está ancorada na popularização de aparatos técnicos móveis como o celular. Este contexto traz à luz outras perspectivas para o entendimento da mediação, já que alguns mediadores tradicionais tendem a ser desprezados nesse ambiente de produção afeto-cognitiva descentralizada. Cabe aqui retomar a obra de Jesús Martín-Barbero - Dos meios às mediações: Comunicação, cultura e hegemonia (1986) para refletir sobre a experiência contemporânea das coberturas audiovisuais midiativistas realizadas por streaming ao vivo na Internet. Com celulares e aplicativos como o Twitcasting, que inclui a ferramenta chat ao lado da janela de exibição das imagens, midiativistas (produtores) e internautas (receptores) interagem em tempo real numa troca incessante, que vai sendo incorporada à narrativa, na medida em que a transmissão ocorre. O internauta tem a sensação de estar no lugar dos acontecimentos com o midiativista. Não se trata de apenas receber a informação sobre o fato, empacotada a partir de visões pré-estabelecidas, filtros e normas institucionalizadas, mas de participar da sua apuração e construção de sentido, abrindo frente para o imprevisto e novos entendimentos de mundo. Da mesma forma, o papel do midiativista vai além de reportar informações: ele é sujeito ativo dos fatos e regente das múltiplas vozes que compõem a transmissão.
Ao incluir o repertório sociocultural na formação do processo comunicacional na Teoria das Mediações Culturais, Barbero reposicionou o lugar do receptor, até então considerado passivo e manipulado pela mídia. Esse artigo se propõe a fazer uma leitura contemporânea da Teoria, considerando que a experiência de cobertura midiativista novamente reposiciona, e não só, o receptor - ao permití-lo interferir diretamente na cobertura; mas também o produtor. Ou seja, a apropriação da tecnologia pelos atores supera a mera instrumentalidade do aparato e tem como consequência o empoderamento e a formação de um sujeito político mais ativo e autônomo.
Trabalho, Tecnologia e a apropriação de outras dimensões da vida de trabalhadores de Tecnologia da Informaão: reflexões a partir do "Vida de Programador"
Mayara Cristina Pereira Yamanoe, Mario Lopes AmorimGrupo Temático: Um olhar sociotécnico sobre o software
Resumo
A reestruturação produtiva do capitalismo implicou em significativas mudanças para a classe trabalhadora. Nesse sentido, remetemos à discussão de como tal processo interfere em outras esferas da vida, especialmente para os trabalhadores. Com o novo modelo produtivo, requer-se do sujeito trabalhador novas características que ultrapassam o espaço da produção, e a tecnologia tem suas funções de controle ampliadas.
Ao inserir essa discussão no contexto dos trabalhadores de tecnologia da informação, pode-se visualizar as marcas dessas novas características, especialmente porque essa categoria de trabalhadores amplia-se significativamente após a Segunda Guerra Mundial, inserindo-se nos mais diversos ramos da produção com a informatização e automação dos processos produtivos. Nesse sentido, Antunes (2007) apresenta as transformações no mundo do trabalho analisando a forma contemporânea do trabalho como uma expressão do trabalho social, mais complexificado, socialmente combinado e ainda mais intensificado nos seus ritmos e processos.
Para tentar compreender como isso se apresenta na categoria de trabalhadores de tecnologia da informação, mais especificamente programadores de software, será analisada a categoria trabalho em tirinhas de quadrinhos da página "Vida de Programador" (www.vidadeprogramador.com.br). Amparado teórica e metodologicamente no materialismo histórico dialético, o texto consiste numa revisão de literatura e análise das produções veiculadas na página virtual. Apresenta-se um breve debate sobre trabalho e tecnologia a partir de Dagnino (2002), Dagnino e Novaes (2005), Antunes (1999, 2007) e Castillo (2009) e, na sequência, discorre-se sobre como a categoria de programadores de software é representada no contexto de trabalho, especialmente no que concerne a indissociabilidade entre a dimensão laboral e outras dimensões da vida.
Relevando o objetivo humorístico da página, entende-se que mais que uma crítica ao conformismo presente entre os programadores sobre essa condição, esse material é rico para analisar as narrativas sobre o cotidiano desses trabalhadores. Ao carregar um certo ar de denúncia e ao mesmo tempo naturalizar determinadas relações, a página permite um olhar sobre as contradições presentes nessa categoria de trabalhadores, que precisa ser compreendida considerando sua importância nas relações de reprodução do capitalismo atual.
N
Maria Lacerda de Moura na Revista Estudios (1930-1936): a busca de uma filosofia unicista libertária da natureza
Nabylla Fiori de Lima (UTFPR), Gilson Leandro Queluz (Universidade Tecnológica Federal do Paraná)Grupo Temático: Ciência e Techné na História
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Resumo
O grande interesse da cultura libertária na leitura, busca e difusão de conhecimento impulsionou no final do século XIX e início do século XX um importante papel da imprensa ácrata para a organização do movimento bem como a difusão de seus ideais e valores contraculturais à ideologia dominante.
A construção de uma sociedade alternativa demandava uma visão de mundo aliada a formas de vida que fossem coerentes com a proposta da sociedade libertária. Dentro disso, iniciativas editoriais de viés anarquista emergiram como parte de um programa cultural educativo visando a transformação social. Frente às descobertas científicas da época, o movimento libertário buscava não apenas transmitir conhecimento, mas, também, questionar o papel da classe científica e ressignificar os conhecimentos para transformá-los em instrumentos para a mudança revolucionária.
O periódico anarco-individualista espanhol Estudios é um local privilegiado de percepção destas concepções. Em suas páginas circulavam releituras críticas e emancipatórias de temas científicos tão diversos como a eugenia, o neomalthusianismo, o naturismo, a educação sexual, o vegetarianismo, o proteanismo, a plasmogenia. Conhecimentos estes, que aliados ao combate anticlerical e a um pacifismo radical, baseavam a crítica às políticas autoritárias exercidas pelos governos fascistas europeus.
A partir dos artigos da brasileira Maria Lacerda de Moura publicados no periódico entre os anos de 1930 e 1936, procuraremos demonstrar a importância historiográfica de perceber a existência e o fazer-se de diversas filosofias da natureza, conectadas a ideologias políticas e sociais progressistas, especialmente aquelas oriundas de grupos contestatórios radicais. Perceberemos que os anarquistas participavam de uma “tradição” de constituição de uma “ciência radical”, marcada pela busca de uma filosofia sintética, voltada para a construção de uma nova ética, de uma nova sociedade harmônica através da cooperação, educação, emancipação, avanço tecnológico e participação democrática direta. Maria Lacerda de Moura opta em suas experimentações na Estudios, por construir sólidas pontes ibero-americanas, combatendo inimigos comuns e os autoritarismos de todas as estirpes. Porém, seu esforço maior, parece empenhado na construção de uma filosofia unicista da natureza, enraizada nas lutas cotidianas libertárias.
Relações de gênero na pós-graduação da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e da Universidade Tecnológica de Compiègne (UTC- França).
Nadia V. J. Kovaleski (UTFPR)Grupo Temático: Gênero, Ciência e Tecnologia: avanços e desafios
Resumo
O presente estudo é oriundo de uma tese de doutorado onde se comparou as carreiras dos/as professores/as pesquisadores/as em duas universidades tecnológicas: a UTFPR e a UTC. Apresenta-se nesse artigo a analise comparativa entre homens e mulheres no cotidiano da profissão. As categorias comparadas foram : o trabalho de professor/a pesquisador/a em si e a inserção na Comunidade Científica. Trata-se de um estudo qualitativo, com princípios de analise de conteúdo e pode ser caraterizado como comparativo. A coleta de dados foi realizada com entrevista semiestruturada nas duas universidades. Conclui-se que o trabalho dos/as professores/as pesquisadores é extremamente próximo do sacrifício porque mistura várias competências nem sempre compatíveis entre elas e, não mudou muito do ideal-tipo descrito por Max Weber, no século XIX. Neste contexto o exercício dessa profissão é difícil para os homens e mais ainda para as mulheres já que são mais requisitadas, seja por razões biológicas (gravidez) ou por razões sociais (encargos do trabalho reprodutivo).
Tecnologia social, empreendimentos criativos e design para todos
Nadja Maria Mourão (Universidade do Estado de Minas Gerais), Rita de Castro Engler (Universidade do Estado de Minas Gerais)Grupo Temático: PROCESSOS TECNOLOGICOS E CULTURA: sociabilidades, saberes populares, assimetrias e meio ambiente
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Articulações entre CTS e Paulo Freire na definição de objetos de educação tecnológica
Nancy Rosa Alba Niezwida (Universidad Nacional de Misiones)Grupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
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O objetivo principal é analisar e inferir em proposições sobre ‘o que ensinar’ na educação tecnológica (ET), pautada pelo sistema educacional argentino, uma vez que a área naquele país é localizada num estado de crise, dadas as limitações dos deus padrões para modificar as atuais formas excludentes de produção tecnológica, apesar de sucessivas reformas educacionais e de pretensas inovações curriculares e epistemológicas fundamentadas em títulos como ‘enfoque CTS’, visão CTS, ‘modelo CTS’ , entre outros.
A questão central, portanto, é a defesa da ET como âmbito potencial de intervenção, mesmo que indireto, em questões de ciência e tecnologia desde que assuma pressupostos epistemológicos e pedagógicos adequados (Bazzo, Pereira e Von Linsingen, 2008, p. 73) e assumir uma perspectiva distinta de conceber professor, aluno e conhecimento em ET.
Apresenta-se, primeiro, ações educacionais pautados sobre CTS que supõem novos pressupostos e a crucialidade dos conceitos de “tema gerador” e de “investigação temática” na concepção de educação de Freire, pois segundo Delizoicov (2008).
A seguir, resultados de estudos produzidos sobre iniciativas de trabalho da proposta freireana na educação formal para destacar a convergência da perspectiva freireana para a educação formal com a postura que tem financiado o movimento sob o título de enfoque CTS. Com o auxilio de diferentes produções, como de Auler (2003), Nascimento e Von Linsingen (2006), Auler e Delizoicov (2006) se mostra articulação de ambas as perspectivas para esclarecer que: a) a ciência e a tecnologia são constituídas por e constituintes da sociedade, e b) a relação pedagógica e a postura epistemológica para a localização de objetos de ensino-aprendizagem.
Aqueles pontos congruentes levam a apresentar, a partir de Gehlen (2009) e do trabalho de Auler, Dalmonin e Fenalti (2009), os critérios a considerar em propostas de ET, principalmente nos objetos de estudo em termos dos atuais modos de produção de ciência e tecnologia. Admite-se a pertinência de trabalho da dimensão da demanda de ciência e tecnologia, sugerida por Delizoicov e Auler (2010), como temas CTS a serem estudados e situações a serem modificadas, dada a brecha tecnológica.
Ciência, tecnologia e interdisciplinaridade numa perspectiva histórico-crítica: aspectos pedagógicos na formação docente
Natalia de Lima Bueno (UFPR)Grupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
Resumo
O presente artigo traz um relato de experiência em um curso de Licenciatura interdisciplinar em Ciências Naturais numa universidade pública a partir de uma abordagem pedagógica histórico-crítica. Destaca experiências vivenciadas na relação docente-discente no ensino superior em torno da formação docente, na construção de atividades interdisciplinares que possam expor a contemporaneidade da ciência e tecnologia numa perspectiva crítica de modo a relacionar aos aspectos da realidade enfrentada pelo futuro professor de Ciências Naturais. Traz aspectos epistemológicos na formação docente no sentido de evidenciar a dimensão da tecnologia presente na organização do trabalho pedagógico. Busca enfatizar a abordagem interdisciplinar necessária a formação docente fundamentada numa pedagogia progressista e numa perspectiva crítica da ciência e da tecnologia atualmente.
O saber-fazer da cerâmica “vermelha” no Brasil do século XX: entre o laboratório acadêmico e as olarias
Natalia Maria Salla (USP)Grupo Temático: Ciência e Techné na História
Resumo
O uso da argila para a produção de cerâmica é registrado como um dos mais antigos saberes associados à transformação da natureza pela humanidade. A fabricação de louças e utensílios domésticos e de materiais de construção – tais como telhas e tijolos – a partir da matéria prima da argila consiste em diversas etapas de produção há muito estabelecidas, perpetrando-se em diversas sociedades ao longo da História. Tratados de engenharia, sobretudo portugueses e franceses a partir do início do século XIX registram a literatura técnica das descobertas e experiências na extração e preparação mecanizada das argilas e na fabricação de tijolos A ampliação da compreensão sobre a constituição física e química da matéria no início do século XX clarificou uma das questões centrais então associadas à produção cerâmica: a plasticidade da argila. Ao saber prático da principal característica da matéria prima foi então adicionada, ao longo do século XX, a ciência de materiais. A cerâmica é, assim, desde esse período, um elemento refratário fundamental, incorporado inclusive à tecnologia eletroeletrônica (como componente de isolamento térmico, por exemplo). Como escreve, em 1964, o engenheiro Horácio Lemos, a cerâmica “(...) começou a transformar-se de arte culinária de minerais à ciência aplicada em fins do século passado [século XIX]”. Ainda assim, a utilização da cerâmica na construção permaneceu presente ao longo do século XX, tendo sido objeto de estudo de alguns autores brasileiros que sobre ela escreveram entre as décadas de 1930 e 1940. Três livros publicados no Brasil nesse período atestam o caráter ao mesmo tempo técnico e científico do saber associado à cerâmica. Em 1931, com Rodolpho Hell e, em 1947, com Armando Arruda Pereira, com publicações voltadas principalmente aos engenheiros do setor. Distintamente de Pereira e Hell, Anibal Mascarenhas, em 1945, fornece aos oleiros explicações práticas, ligadas ao mesmo tempo às considerações científicas e aos saberes tradicionais de extração e preparação de argilas, para o incremento econômico dos produtores. A esses três exemplos pode-se também contrapor outros manuais técnicos, em que estão presentes os debates sobre a cerâmica e seu caráter ao mesmo tempo empírico e científico, além da sua necessidade para o desenvolvimento tecnológico do século XX e sua permanência como material básico de construção e utilitária.
A visão CTS nos relatórios de iniciação científica de engenharia de produção da Unifei
Nicole Cristiane Gica dos Santos (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ)Grupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
Resumo
O conhecimento produzido no processo de mudanças tecnológicas nem sempre considera os impactos para a sociedade como um todo. Esses impactos surgem não somente por causa da formação do pensamento tecnocrata abordado pelas bases curriculares da educação universitária brasileira, mas por vários outros fatores, como questões culturais, econômicas e políticas. Nesse contexto estão inseridos os cursos de engenharia no país, o que, muitas vezes, dificulta o alcance de pensamento crítico por parte do próprio engenheiro em atuação. Dessa forma, percebe-se que a produção de pesquisa científica e tecnológica no Brasil apresenta traços dos conceitos de neutralidade científica e do determinismo tecnológico. O pensamento técnico mostra-se consolidado nos cursos de engenharia, mas também é necessário demonstrar como esse pensamento pode ser utilizado de uma forma social que aborde os atores envolvidos. Os estudos que contemplam Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) podem incitar tal discussão. Os estudos CTS ganharam maior abrangência nas últimas décadas e mostraram-se importantes para a discussão de desenvolvimento social a partir da análise da geração e aplicação de conhecimentos técnicos. Nesse contexto, este estudo tem por objetivo identificar a visão de CTS compreendida nos relatórios de Iniciação Científica dos estudantes do curso de Engenharia de Produção da Universidade Federal de Itajubá (Unifei). As visões de C&T consolidadas por Renato Dagnino a partir de Andrew Feenberg possibilitaram a delimitação do método de análise utilizado ao longo da pesquisa em questão. Por intermédio das quatro visões de C&T – Instrumentalismo, Determinismo, Substantivismo e Teoria Crítica – pode-se identificar a visão de C&T contida nos relatórios de IC analisados, sendo a visão CTS compreendida na Teoria Crítica por meio da Adequação sócio-técnica. A partir desses estudos fez-se uma análise documental dos vinte e dois relatórios de iniciação científica a fim de levantar a visão de CTS contida na produção de conhecimento gerada por essas pesquisas. Os dados conclusivos iniciais demonstram que os relatórios intercalam visões de Ciência & Tecnologia e CTS, muitos ainda indefinidos quanto à sua origem. Dessa forma, a relevância do estudo apresenta-se por aprofundar a discussão de CTS no ambiente de iniciação científica da Unifei.
“Em torno de dez por cento”: considerações sobre o percentual de mulheres nos cursos de graduação em engenharia do ITA
Nilda Nazare Pereira Oliveira (Instituto Tecnológico de Aeronáutica)Grupo Temático: Gênero, Ciência e Tecnologia: avanços e desafios
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Anualmente o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) é questionado sobre a quantidade e a qualidade das mulheres de seu corpo discente. Esse questionamento é intensificado em três períodos: após a divulgação do resultado do vestibular, no início do ano letivo, e no dia 08 de março.
Entre as diferentes perguntas realizadas, sobretudo pela imprensa local, estão: “quantas meninas entraram no ITA este ano?”; “qual o percentual de meninas ingressantes?”; “o desempenho das meninas é igual ao dos meninos?”; “meninas recebem algum tipo de privilégio em razão do sexo?”.
A resposta para as primeiras duas questões, pelo menos nos últimos dez anos foi: “em torno de dez por cento”; para a terceira questão a resposta é “sim” e, para a quarta a resposta é “não”. Cabe ressaltar, entretanto, que os 10% de mulheres não é uma exclusividade do ITA, pois o percentual de alunas de graduação em Engenharias no país é pouco maior que isso.
Uma particularidade do Instituto, porém, foi o tempo de espera das mulheres para alcançarem esse ingresso. Em seus primeiros 50 anos de existência o ITA foi uma instituição que recebeu apenas cidadãos brasileiros do sexo masculino para cursar suas Engenharias. As mulheres só puderam ingressar, como alunas de graduação, no ano de 1996 e as primeiras engenheiras formadas pelo Instituto colaram grau no mesmo ano em que a instituição comemorou o cinqüentenário, no ano 2000. E somente no ano seguinte a Aeronáutica permitiu a formação militar para as mulheres.
Uma vez selecionadas, pelo rigoroso vestibular, o tratamento a elas dirigido, ao menos em espaços públicos (reais ou virtuais), não difere daquele dado aos alunos do sexo masculino. São tratadas como mulheres inteligentes, competentes e capazes.
A pesquisa que fornece bases para esse artigo ainda está em andamento e considera dados estatísticos obtidos junto ao Setor de Vestibular e da Pró-Reitoria de Graduação do ITA, além de uma série de entrevistas de história oral tomadas junto a alunas e ex-alunas. Seu principal objetivo é evidenciar a contribuição do ITA na formação de mulheres para carreiras tidas como “tipicamente masculinas”: a Engenharia e a Carreira Militar.
O PROBLEMA DA TÉCNICA EM GUSTAVO CORÇÃO (Notas avulsas para comparação com as ideias de Álvaro Vieira Pinto)
Norma Cortes (Instituto de História da UFRJ)Grupo Temático: Álvaro Vieira Pinto
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Esta apresentação pretende contribuir para a História da inteligência brasileira, adensando a nossa compreensão sobre os contextos de debate intelectual acerca da técnica e da tecnologia, e consiste numa primeira incursão exploratória das ideias de Gustavo Corção — engenheiro, romancista e pensador católico que se notabilizou por suas posições conservadoras contrárias ao Concílio Vaticano II — que visa apresentar os principais ensaios de As fronteiras da técnica (1954) para que, a partir daí, se identifiquem linhas de continuidade, proximidade ou dessemelhança entre as ideias de Corção e as de Álvaro Vieira Pinto.
A liderança política em rede: o caso dos movimentos sociais contemporâneos
Natasha Bachini Pereira, Tathiana Senne ChicarinoGrupo Temático: Internet: entre o capital e as ruas
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A presente proposta de trabalho apresentará parte dos resultados oriundos do projeto temático da Fapesp 12/50987-3 "Lideranças políticas no Brasil: características e questões institucionais", desenvolvido pelos pesquisadores do NEAMP (Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política do Programa de Estudos Pós-graduados em Ciências Sociais da PUC/SP).
Nessa etapa da pesquisa objetivamos compreender as singularidades das lideranças em rede, sejam elas concernentes ao comportamento político e/ou às ideologias socialmente manifestas nas novas tecnologias de informação e comunicação.
Partimos de algumas características iniciais que nos possibilitam delimitar o escopo de análise dessas lideranças e que se tornam um ponto de partida para a investigação proposta: a existência de práticas horizontalizadas em suas estratégias políticas e uma profunda desconfiança nas instituições políticas tradicionais (CASTELLS, 2013), bem como nas lideranças que delas emergem.
Entendendo que as lideranças em rede não se configuram de forma atomizada ou tendo características personalistas ou carismáticas que se antecipam à formulação do contexto de sua atuação, buscaremos realizar uma cartografia de alguns movimentos sociais e coletivos políticos que emergem ou se utilizam das redes sociais digitais, empreendendo um esforço de diferenciá-los empírica e conceitualmente. A partir da sistematização e conceitualização advindas dessa primeira abertura metodológica, buscaremos desenhar uma tipologia das lideranças politicas em rede.
A capacidade de ampliação de interlocutores possibilitada pelas mídias digitais é fundamental, à medida que amplifica as manifestações de diversos sujeitos sociais qualificando-os dentro da arena de debates dentro e fora da rede, on-line e off-line. A incorporação de novos sujeitos políticos nos debates vem proporcionando transformações importantes no campo da política e modificando os principais vetores do debate social. Significa dizer que não somente novas questões são introduzidas, mas, sobretudo o processo pelo qual elas são incorporadas no debate político.
Caracterizaremos as novas práticas políticas dos coletivos não hierarquizados, as dinâmicas estéticas presentes em suas manifestações e principalmente a autonomia dos participantes desses grupos que atuam sem formas de centralização das discussões e deliberações.
O
Gabriela e o ensino da computação
Odécio José Fernandes de Souza Junior (PUC-SP), José Luiz Goldfarb (PUC SP)Grupo Temático: Ciência e Techné na História
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Pretendemos neste ensaio apresentar o Computador Brasileiro denominado Gabriela I - composto somente de papelão, plástico e esferas coloridas -, contar um pouco de sua história, assim como indicar o contexto em que foi produzido. Apontaremos ainda os propósitos relativos à Cibernética e à Inteligência Artificial que nortearam sua criação e sugeriremos possíveis utilizações no ensino de aspectos elementares em Processamento de Dados. Este trabalho foi submetido para publicação no Periódico História da Ciência e ensino: Construindo interfaces, encontrando-se em fase de avaliação.
La participación pública en Ciencia y Tecnología y la Educación CTS. Caminos posibles basados en el lugar.
Ofelia Ortega Fraile (Professora Magisterio Superior)Grupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
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En la literatura sobre educación en Ciencia-Tecnología-Sociedad (CTS) se destaca el objetivo de educar para la ciudadanía como una de las principales metas, haciendo un énfasis especial en la participación pública en Ciencia y Tecnología (C&T) en la tomada de decisiones sobre cuestiones científico-tecnológicas, siendo esta una manera de ejercer el control y la regulación social de la C&T. La ciudadanía científico-tecnológica se ejerce mediante mecanismos y procesos de participación pública intrínsecamente relacionados con la visión de ciencia y tecnología. Muchas de las experiencias de participación pública analizadas en la literatura son mecanismos institucionalizados y ex-post, con una función más bien evaluadora. Sin embargo, existen otros procesos de participación ex-ante, en Latinoamérica destacan algunos ejemplos de co-producción de conocimiento científico y tecnológico en la extensión universitaria y en procesos de tecnologías sociales. A este respecto, los ESCT aportan referencias teórico-analíticas importantes para analizar casos de educación CTS. Con este trabajo se busca profundizar en las articulaciones posibles entre pedagogía crítica basada en el lugar y los Estudios CTS a través del análisis de un proceso de formación para la participación pública. El caso empírico está englobado en un proyecto investigación-acción educativa en Campinas (Brasil), que parece proporcionar mecanismos bottom-up de co-producción de conocimientos docentes y escolares con el propósito de elaborar currículos locales a partir de la escolarización de conocimientos académicos. Se analizó un proceso colectivo de formación para la participación pública a partir de la apropiación de la metodología de los Casos Simulados CTS, caracterizándose por la definición colectiva de “casos” a partir de problemas locales significativos para la comunidad, procesos analizados con categorías freireanas. Con la finalidad de recuperar social y ambientalmente un área degradada adoptada por la escuela en este proceso se ha pasado de un cierto “entrenamiento” para la participación, para una participación real con la comunidad escolar, local, académica y el poder público. Proceso en el que se manifiestan instrumentalizaciones de la participación, tensiones entre distintos tipos de conocimientos, contradicciones globales y logros colectivos configurados en el lugar.
Didáctica de los Estudios de Ciencia, Tecnología y Sociedad: dimensiones conceptuales.
Oscar Vallejos (Universidad Nacional del Litoral)Grupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
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Este trabajo presenta un análisis de dos grandes dimensiones de una didáctica de los estudios de Ciencia, Tecnología y Sociedad (CTS). En primer lugar, la reflexión didáctica sobre los Estudios de Ciencia, Tecnología y Sociedad implica una primera operación que tiene que ver con cómo se representa el propio campo. En este sentido y recuperando la tradición latinoamericana, se presenta una reconstrucción del campo como un conglomerado socio-epistémico con tres frentes: a) uno académico que indica la pretensión de comprender – en el sentido de producir conceptos, explicaciones y narrativas – la ciencia y la tecnología y, de manera general, el mundo actual; b) uno activista que indica la pretensión de transformar los mundos sociales (naturales y artificiales) del presente que incluyen la ciencia y la tecnología como factores decisivos; c) uno gubernamental que indica la pretensión de los Estados y de la sociedad civil por gobernar la ciencia y la tecnología de acuerdo a objetivos políticos específicos.
En segundo lugar, esta identificación orienta el diseño de una propuesta curricular en tanto estos tres frentes deben converger de manera tal que las y los estudiantes transiten por una experiencia cognitiva compleja que los ponga en contacto con saberes academizados que le brinden conceptos, narrativas y explicaciones sobre la dinámica de la ciencia y la tecnología; con escenarios de disputa de la transformación de los mundos sociales actuales en los que la ciencia y la tecnología son relevantes y con los problemas del gobierno de la ciencia y la tecnología. Cada uno de estos aspectos plantea una especificidad respecto del diseño didáctico de una asignatura CTS que implica construir distintas metodologías de aprendizaje y, de manera fundamental, definir el tipo de articulación que estos saberes enseñados y aprendidos mantienen tanto con las disciplinas propias del estudiantado y con las condiciones generales de debate sobre la ciencia y la tecnología. En este sentido, está en juego tanto la evaluación que se diseña como el tipo de circulación de los saberes construidos por el estudiantado en el contexto de la asignatura.
Problemas conceptuales en torno del Software Libre: la cuestión de la estabilización.
Oscar Vallejos (Universidad Nacional del Litoral), Gabriel Augusto (Universidad Nacional del Litoral, Universidad Autónoma de Entre Ríos), Martín Jorge Bayo (Facultad de Ingenieria y Cs Hídricas)Grupo Temático: Um olhar sociotécnico sobre o software
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Este trabajo presenta una trama conceptual para comprender algunos aspectos de las configuraciones sociales del software libre. Específicamente, el trabajo aborda el problema de la conceptualización de los procesos de estabilización del software libre. Como se sabe, uno de los problemas centrales de la conceptualización de la tecnología impulsada por el constructivismo es el proceso de estabilización de los artefactos (Pinch y Bijker, 1984) sin embargo falta un estudio más amplio de las condiciones generales en las que ese proceso acontece.
La primera es la referida a la identificación del Software Libre en tanto entidad compleja compuesta a la vez por series discursivas como por artefactos. Esta doble composición está articulada a la especial condición del software libre como artefacto inacabado (Padilla, 2012); un artefacto diseñado para ser completado, modificado, cambiado, canibalizado, de manera continua. El problema básico que emerge es conceptualizar la estabilización del software libre y los papeles que juegan en este proceso tanto la estructura del código (Krysa y Sedek, 2008) y su acceso como las formas discursivas diversas entre ellas, las llamadas documentación.
La segunda parte del trabajo analiza cómo el software libre produce tanto artefactos para fines específicos – sistemas operativos y aplicativos – como también artefactos para canalizar el proceso de estabilización. Para ello se analizan algunas funcionalidades de estos softwares asociadas fundamentalmente al control de versiones y a los modos en que se conforman las jerarquías de las comunidades como es el caso de Debian.
A diferencia de los procesos en los que los diseños y circulación de los artefactos ocurren vinculados a formas privativas de producción, el software libre se desarrolla con una explícita integración del proceso de estabilización.
De manera que el trabajo avanza hacia la identificación de una forma de estabilización ramificada y conceptualiza las consecuencias que se derivan de ello tanto para la identidad de los artefactos como para los grupos sociales relevantes.
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Os Discursos sobre a pílula anticoncepcional na revista Claudia no período de 1960 a 1985.
Pamella Liz Nunes Pereira (Instituto Fernandes Figueira - IFF/Fiocruz), Cristiane da Silva Cabral (Faculdade de Saúde Pública - USP)Grupo Temático: Estudos Sociais das Ciências e das Tecnologias em Saúde Sexual e Reprodutiva
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Novas tecnologias contraceptivas se difundiram no Brasil, nos anos 60, dentre elas a pílula anticoncepcional. Esses produtos eram distribuídos por entidades privadas de planejamento familiar, ou prescritas em consultórios privados e vendidas nas farmácias. Em poucos anos, milhões de mulheres brasileiras já usavam esses produtos. Há muitos estudos sobre a atuação das entidades supracitadas no país, porém poucos se debruçaram sobre o desenvolvimento do mercado de consumidoras. Hoje pensa-se no uso de métodos contraceptivos hormonais como “naturalmente” uma obrigação feminina. Esta pesquisa, de caráter sócio histórico, utiliza como fonte de dados as matérias publicadas na revista Claudia entre 1960 e 1985. Estamos analisando nas revistas os debates veiculados sobre os contraceptivos hormonais, e as suas repercussões nas relações afetivo-familiares, na moralidade e no trabalho feminino e nas relações médicos-mulheres. Para tal, utiliza-se a técnica de análise de conteúdo temática. No acervo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, fez-se o levantamento de matérias que versavam sobre a pílula anticoncepcional, publicadas na revista Claudia da Editora abril, entre janeiro de 1960 e dezembro de 1985, incluindo notas, reportagens, carta de leitoras, colunas e outras. As pílulas anticoncepcionais despertaram interesse e entusiasmo da imprensa feminina, principalmente a partir de meados dos anos 60. É possível encontrar, numa mesma edição, matérias sobre cuidados com o lar, a beleza feminina e as obrigações conjugais. Fala-se de sexo, sexualidade e contracepção, cujo conteúdo reafirma a ordem hierárquica do gênero no âmbito das relações conjugais heterossexuais. Em um processo ambivalente, as boas oportunidades atribuídas às novas tecnologias de gestão da fecundidade se conjugavam com visões tradicionais e estereotipadas dos papéis ditos femininos e masculinos, sobretudo no âmbito da família, conjugalidade e sexualidade, maternidade e trabalho feminino.
O que os olhos veem, o coração sente: o estudo sobre a detecção da malformação fetal na experiência das gestantes usuárias do SUS do estado na Bahia
Patricia Ávila da Costa (Instituto de Medicina Social/UERJ)Grupo Temático: Estudos Sociais das Ciências e das Tecnologias em Saúde Sexual e Reprodutiva
Resumo
Este artigo discute o impacto do Diagnóstico de Malformação fetal na experiência das gestantes usuárias do SUS na Bahia, destacando as noções de dia-gnosis e pro-gnosis associadas à medicina do risco no encontro médico-paciente. Refere-se a uma pesquisa qualitativa, com base na Grounded Theory, que combina a observação das consultas pré-natais, das mães na Unidade de Tratamento Semi-Intensivo Neonatal e entrevistas com as gestantes de alto risco fetal e profissionais de saúde de um hospital-maternidade público em Salvador. A tecnologia de visualização – o ultrassom obstétrico – é a primordial ferramenta para detecção de alguma alteração materno-fetal, porém o esclarecimento do Diagnóstico de Malformação fetal ocorre somente no serviço público de referência em medicina fetal do Estado da Bahia. No espaço pré-natal, destaca o discurso biomédico na formatação do diagnóstico, gerando diferentes percepções de risco e o forte engajamento das usuárias frente às tecnologias pré-natais e intervenções cirúrgicas neonatais, caucionadas na esperança de que o avanço da ciência seja capaz de reverter ou abrandar a condição do seu feto/bebê. È diante da responsabilização da mulher por não ter produzido um feto/bebê saudável, mas um feto/bebê malformado, que se observa a prevalência de normas culturais e de gênero que conferem à maternidade um lugar de auto-sacrificio, de dedicação e criação dos filhos, como também status social O espaço pré-natal é marcado pela ausência de discussão a respeito do prognóstico de tais condições, com a consequente busca pelas gestantes do conhecimento por meio da internet, da opinião do marido e da crença religiosa que servem de alicerce para lidar com a antecipação da deficiência. As gestantes acreditam ser este um Desígnio de Deus, uma espécie de provação e uma prova de amor incondicional ao futuro filho com deficiência (que poderá ou não sobreviver). A maioria das gestantes entrevistadas prefere, contudo, ter um filho com deficiência do que sofrer sua perda.
Formação científica de professores em Timor-Leste: análise de uma intervenção
Patrícia Barbosa Pereira (Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)), Francisco Fernandes Soares Neto (PPGECT - UFSC), Suzani Cassiani (Universidade de Coimbra)Grupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
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A partir de um processo de construção de uma proposta de ensino sobre o tema energia, realizada no contexto do Programa de Qualificação de Docente e Ensino de Língua Portuguesa no Timor-Leste (PQLP), o objetivo da proposta foi de analisar os contextos de formação de professores como ambientes coletivos de aprendizagens, envolvendo questões de saber e de poder, além das diretamente vinculadas aos cenários de formação inicial, dos participantes do programa, sejam eles professores formadores ou formandos. Utilizamos a perspectiva discursiva (ORLANDI, 2003), aliada à abordagem da investigação temática (FREIRE, 2005) e da Educação CTS (ECTS) que articula educação, ciência e tecnologia, funcionamento da linguagem e estudos pós colonialistas. As análises demonstram possíveis redes de sentidos que permeiam e constituem os processos formativos de professores, envolvendo respostas sobre que ciência e tecnologia ensinar em Timor-Leste.
“Supercomputador” Tupã: a saída tecnocientífica para o subdesenvolvimento? O transladar de interesses na rede científica do clima no Brasil
Patricia Benedita Aparecida Braga (Universidade Federal de São Carlos)Grupo Temático: Política de Ciência e Tecnologia
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Imiscuído à ideia de linearidade do desenvolvimento econômico está o imaginário de que por meio do desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação nações subdesenvolvidas, como o Brasil, alcançaria autonomia e quiçá um dia tornar-se-iam um países desenvolvidos. Contudo, como alertava Furtado (1956) o subdesenvolvimento não é uma categoria analítica em oposição a categoria desenvolvimento, pois o subdesenvolvimento na América Latina pode ser compreendido como uma condição inerente ao funcionamento da própria política econômica, tanto em termos nacionais, subnacionais e regionais. Neste sentido, ao pensar ciência e sociedade, estas podem ser compreendidas como interdependentes, pois tanto o conhecimento científico como a ordem social estão incorporados em práticas sociais, identidades, normas, convenções, discursos, instrumentos e instituições, o que Jassanoff (2006) denomina de co-produção.
Neste contexto nacional/histórico, o supercomputador Tupã, contém em si, um ideal de progresso científico que opera segundo a lógica de que, quanto mais o país avança em termos tecnológicos e de inovação, maior reconhecimento possuirá para gestar políticas, como a climática em termos mundiais, dentro do período que denomina-se de Regime Internacional de Mudança do Clima, o qual redefiniu a Política de Ciência e Tecnologia no país. Ou seja, um modelo linear que supõe que a transmissão automática da ciência pura à aplicada (BALVACHEVSKY, 2011).
Neste sentido, o presente artigo busca mapear ao longo da rede científica do clima no Brasil o transladar de interesses (LATOUR, 2005) entre os distintos atores, principalmente os que justificam o uso desta tecnociência como um modo de angariar autonomia e poder, em termos estatais. Portanto, busca-se acompanhar os resultados das múltiplas associações estabelecidas, durante o período de compra do supercomputador Tupã em 2012 até os dias atuais. Para isso, a fundamentação reflexiva pauta-se no que se denomina de Teoria Ator-Rede, por meio de análise documental de diversas fontes, como documentos oficiais, entrevistas em jornais e mídia televisiva, revistas científicas e governamentais, dentre outras, que abordem a temática.
Licenciandos de Biologia e as translações de interesses ao longo da produção de atividades didáticas sobre o aquecimento global
Patrícia Celeste da Silva Delgado (UFMG), Francisco Ângelo CoutinhoGrupo Temático: Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia e as Mudanças Climáticas
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O objetivo desse trabalho é descrever as translações de interesses ocorridas durante a elaboração de atividades didáticas sobre o aquecimento global, realizada por dois grupos de licenciandos em Ciências Biológicas participantes de uma programa brasileiro de iniciação à docência. Os licenciandos realizaram reuniões para a produção de atividades didáticas sobre o aquecimento global. Essas reuniões foram observadas, gravadas, transcritas e os dados obtidos foram analisados com objetivo de se compreender a posição dos licenciandos frente à controvérsia do aquecimento global. O conceito de translação, oriundo da a Teoria Ator-Rede (TAR), significa a série de operações pelas quais os interesses de diferentes actantes são modificados a fim de se construir um objetivo comum. Transladar interesses significa oferecer diferentes interpretações de interesses e canalizar as pessoas para direções diversas. Observamos que os interesses de outros actantes envolvidos, a supervisora do grupo 1 e os professores da escola onde atuava o grupo 2, levaram a resultados diferentes nos dois grupos: O grupo 1 alcançou seu objetivo inicial de produzir suas atividades e o grupo 2 precisou fazer um desvio de rota afim de concluir sua atividade. Também observamos que a supervisora do grupo 1 foi um actante essencial, um ponto de passagem obrigatório, que possibilitou a conclusão do objetivo inicial, enquanto os professores da escola em que atuava o grupo 2, fizeram oposição à realização da proposta do grupo.
O muro e a linha: cortes, fluxos e a questão da escala na etnografia de um mega projeto
Patrick Arley (Universidade Federal de Minas Gerais), Ana Luisa Jorge Martins (UFMG), Helena Santos Assunção (UFMG), Raul Lansky de Oliveira (UFMG)Grupo Temático: Experiências contemporâneas em Antropologia da Ciência e da Tecnologia: etnografia, grandes projetos e escala planetária (ou não)
Resumo
Em 2004, Vale S.A., terceira maior companhia de mineração do mundo, conquistou o direito de explorar as reservas de carvão mineral de Moatize, no noroeste de Moçambique, uma das maiores reservas do mundo. Estima-se que a partir de 2017, sejam produzidas e exportadas 22 milhões de toneladas ao ano, tornando Moçambique no segundo maior produtor mundial de carvão. Para escoar este volume, a companhia investe em infraestrutura de transporte e logística, construindo o Corredor logístico de Nacala, uma ferrovia com 913 km de extensão, que cruzará o norte do país, passando pelo Maláui, até um porto de águas profundas no litoral do oceano Índico. Estima-se que o investimento total do projeto chegue a US$ 8,3 bilhões, um montante inédito, tanto para a atuação da empresa no exterior quanto no que diz respeito a investimentos de empresas estrangeiras no país. Etnografar um projeto desta magnitude impõe uma serie de desafios, sendo um dos maiores a questão da escala: Em primeiro lugar, como abordar antropologicamente processos globais, se o conhecimento antropológico tradicionalmente se baseia nas relações construídas entre pesquisadores e nativos em escala local? Além disso, como levar em conta neste contexto as próprias elaborações nativas, bem como as apropriações e estratégias de resistência “locais” a estes processos? Este artigo, produzido coletivamente a partir da experiência etnográfica de quatro pesquisadores, tratará mais especificamente da construção, pela companhia, de um muro que isola a linha férrea que cruza a cidade de Nampula, a terceira maior do país, em toda sua extensão. Se a antiga linha férrea sempre foi caminho e passagem de trens e de pessoas, o novo projeto pretende viabilizar a circulação dos comboios de carvão a partir da não circulação das pessoas, interrompendo uma série de fluxos tradicionalmente constituídos nas comunidades situadas no entorno da ferrovia. Neste sentido, o muro, que é um empreendimento “menor” no que tange à perspectiva do mega projeto, torna-se “maior” para as pessoas impedidas de circular, na medida em que impõe novos fluxos que cortam seus fluxos cotidianos, impondo, portanto, a criação de novas estratégias. Estas variações perspectivas de escala, decorrentes de diferentes sistemas de referência nativos, produzem diferentes efeitos nas vidas das pessoas envolvidas, bem como no relato antropológico dessas experiências.
Um Olhar Sociotécnico sobre o Projeto de Arquitetura
Paulo Afonso Rheingantz (Universidade Federal de Pelotas)Grupo Temático: Qualidade dos lugares e paisagens híbridos
Resumo
Artigo explora argumentos de Um Olhar Sociotécnico sobre a Engenharia de Software (CUKIERMAN et al. 2007); fundamentos do Design Thinking (DT) – abordagem que busca entender métodos e processos utilizados na solução de problemas de projeto e combina empatia, criatividade e razão –; e o entendimento de que projeto é um Wicked Problem. Busca cartografar: o entendimento dos processos de concepção da ES e da AU como "culturas de projeto" (BOUTINET 2002) que padecem de "uma patologia de condutas de idealização" (BOUTINET 2002) e resultam de um esforço coletivo, perverso, complexo e criativo no qual a qualidade dos produtos (softwares e edifícios) depende fortemente das pessoas, das organizações e dos processos utilizados em sua produção e uso (CUKIERMAN et al 2007); (2) as semelhanças entre o desenvolvimento de sistemas de software da engenharia de software (ES) e a concepção de projetos de arquitetura (PA), ambos aparentemente envoltos por uma ortodoxia "técnica" e por uma liberdade "estética". Tanto ES quanto PA podem ser entendidos como processos complexos inevitavel e concomitantemente técnicos, sociais e estéticos. Seu desenvolvimento "apresenta problemas e desafios de complexidade muito além da técnica, ou seja, que exige a intervenção de saberes diferenciados, oriundos de outras áreas do conhecimento" (CUKIERMAN et al 2007: 201). Ambos são processos de concepção contínuos que envolvem escolha, circularidade e instabilidade que, permeados de subjetividade, são inseparáveis das intenções e pré-intenções de seus autores (BUCHANAN 1992). As definições de ES e AU oferecidas por dicionários – “aplicação da ciência e da matemática pelas quais as propriedades do software tornam-se úteis às pessoas ” (Boehm apud CUKIERMAN et al 2007: 206) e "arte e técnica de projetar espaços e edificações adequados a vivências e atividades humanas, e de acordo com padrões estéticos" – são coincidentes: tornar-se 'útil às pessoas' ou ser 'adequado a vivências e atividades humanas' implica em necessariamente incluir o emaranhado de conhecimentos relacionados com a dimensão social que, em geral, os pestudiosos de ES e de AU preferem evitar. Como resultado, esperamos que a cartografia sociotécnica do projeto de arquitetura contribua para contornar o enigma proposto por G. Bataille em 1943: "como sair por meio de um projeto do domínio do projeto?" (apud BOUTINET 2002: 16).
TECNOLOGIAS DE GESTÃO: uma análise crítica da padronização técnica de processos e tarefas laborais
Paulo Alberto Bastos Junior (UTFPR)Grupo Temático: Saúde, Trabalho e Desenvolvimento
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Resumo
O trabalho em questão consistirá em uma análise crítica da Padronização Técnica de Processos (aqui entendida como uma tecnologia de gestão predominantemente de ordem instrumental, porém com forte relevo comportamental e ideológico), tendo como tônica, a relação do sujeito trabalhador com o objeto de sua atividade laboral, tomando como premissa que os processos de padronização e os artefatos documentais que dele derivam expropriam em alto grau o saber do ofício e alienam o indivíduo que trabalha de seu saber da tarefa. Ou seja, o saber técnico produtivo não figura mais na "cabeça" das pessoas componentes desta organização, o trabalho não lhe pertence mais. Suprime-se assim, grande parte daquilo que se poderia constituir em um “trabalho tecnologicamente elaborado”, conceito proposto por Álvaro Vieira Pinto.
Ao contrário do que pregava o autor ao tratar do tema tecnologia, os processos de padronização, minimiza o envolvimento do trabalhador com técnicas e tecnologias sofisticadas. O trabalhador não mais precisa pensar o seu processo de trabalho, ele é “pensado” à montante. Percebe-se que a padronização de processos afasta o trabalhador da possibilidade de manusear a realidade com técnicas laborais e recursos cada vez mais elaborados, reforça-se assim o que Vieira Pinto chama de “amanualidade”, pois o conteúdo do trabalho empreendido se esvazia, não ocorre dessa forma a “acumulação qualitativa do trabalho”.
Ao analisar de maneira atenta e realista a questão dos processos de padronização, pode-se perceber que, de acordo com Dejours, por detrás de uma democrática e coerente participação do trabalhador em decisões sobre temas que o afeta cotidianamente, está presente mecanismos de cooptação e mediação de contradições, que causam tensões e desconfortos muitas vezes incontroláveis.
Depreende-se de forma subjacente à sistemática de implantação da padronização técnica de processos, que o desejado é moldar o comportamento das pessoas nas organizações. Tem-se aí, como bem ressalta Guerreiro Ramos, um exemplo genérico, daquilo que chamou em sua obra de “Síndrome Comportamentalista”, capaz de provocar em última análise a perda da autonomia do indivíduo. Dessa forma, portanto os operários podem ser trocados (reificação do trabalho humano) conforme os interesses da organização, sem maiores consequências ao fluxo normal do processo produtivo.
Educação em Ciência, Filosofia e Técnica
Paulo Roberto Wollinger (Universidade de Brasília)Grupo Temático: Álvaro Vieira Pinto - Resumo para Grupo Temático
Resumo
O homem, dentre todos os seres vivos, é o único a produzir sua existência. Fazendo-o livremente, graças à escolha consciente dos meios a empregar, dos caminhos a seguir, está obrigado a inventar. Aparece aqui a técnica, os recursos de que tem que se valer e os modos de aproveitá-los. (Vieira Pinto, 2005, pag. 149)
Ao longo de seu desenvolvimento, a espécie humana foi aprimorando suas ferramentas, materiais e métodos, pela transmissão às novas gerações dos saberes desenvolvidos naquela geração, assim sucessivamente a técnica através da linguagem consolida-se como conhecimento. Este, por sua vez, permite a busca de soluções para novos problemas, gerando mais conhecimento. Assim o conhecimento é gerado inicialmente pela técnica, isto é, à medida que o humanoide vai aprimorando suas habilidades na luta por sua sobrevivência, vai acumulando saberes cada vez mais úteis e efetivos às atividades de garantia de sua vida e de seu grupo. Ao longo do tempo a técnica permite a produção de excedentes, permitindo a dedicação de muitos da espécie ao ócio, quando o conhecimento passa a ser produzido para além da técnica, até por outras formas de interação entre o ser humano e a natureza e entre si mesmos, é a aurora do filosofar. É preciso destacar que, mesmo com o advento da filosofia, a relação direta homem-natureza continua a produzir conhecimento. Por outro lado a filosofia, propõe reflexões cuja verificação pode também necessitar de técnicas ou mesmo experimentos para sua confirmação ou refutação.
No Brasil, cuja história se construiu através da escravidão, relegando a técnica à atividade de escravos, seres considerados apenas meios de produção, completamente distanciada dos cidadãos, a atividade manual execrada como manifestação inferior, produziu efeitos culturais tão profundos, que ainda hoje estão presentes em todas as nossas relações, especialmente na educação, onde nossos teóricos almejam uma “educação propedêutica” propositalmente distanciada da técnica ou de quaisquer manualidades. Como resgatar uma formação humana completa, que seja composta por suas principais dimensões incluindo a Técnica?
Paulo Roberto Wollinger
Gustavo Henrique Moraes
A Reserva de Mercado pelo Olhar dos Sindicatos e Associações de Trabalhadores em Processamento de Dados
Pedro Henrique da Costa Braga (HCTE/UFRJ)Grupo Temático: Dimensões da História e Memória da Informática no Brasil
Resumo
Não se pode separar a história da Informática no Brasil da história da sociedade brasileira . Essa história se apresenta através de um conjunto tão complexamente relacionado às questões científicas, técnicas, éticas, sociais, políticas e econômicas, que não é possível pensá-la apenas em contextos técnicos, como se fossem mais importantes do que outras relações que a configura. Uma história que pode ser melhor compreendida como uma história da construção de redes sociotécnicas, ou, dito de outra forma, como uma combinação indissociável entre ciência, tecnologia e sociedade.
Da história da Informática no Brasil , o presente artigo, sob o ponto de vista dos trabalhadores da área de informática, organizados em seus sindicatos e associações de classe, discute o período da política protecionista da reserva de mercado de informática, que tem início em meados dos anos 1970 e termina em 1992 com a abertura do mercado de Informática para as empresas estrangeiras.
Nos anos 1970 e 1980 o Brasil viveu um momento interessante na história da informática, o período da reserva de mercado de minicomputadores. Durante esse período, uma aliança entre militares nacionalistas, professores de universidades públicas e administradores de empresas estatais conseguiu do governo barrar as importações de minicomputadores com o intuito de desenvolver uma indústria nacional de fabricação de computadores.
Esse movimento dos trabalhadores de informática, ou dos trabalhadores de processamento de dados, como chamava-se na época, usou do espaço da democracia relativa para levantar uma série de bandeiras democráticas, muitas das quais iam contra os interesses da ditadura. Dentre essas bandeiras destaca-se a luta pela soberania tecnológica. Essa luta é indissociável de todas as políticas protecionistas do período histórico e mantém a sua relevância ainda hoje, mesmo que de forma diferente: se antes a luta era pela produção de computadores brasileiros, hoje a luta é pelo domínio do conhecimento técnico necessário para se desenvolver tecnologia de relevância para o enfrentamento dos problemas brasileiros.
Olhares: quando o fora do dentro se volta para o fora
Pedro Peixoto Ferreira (IFCH/UNICAMP)Grupo Temático: Saberes do corpo e sobre o corpo: formas de conhecimento, experiência, ciência e expertise
Resumo
Algo incrível ocorre nas primeiras etapas da embriogênese humana: uma parte da ectoderme se dobra para dentro e, gradualmente, se diferencia no sistema nervoso do organismo. Diante desta observação, me ocorreu que o sistema nervoso - cuja função mais evidente, segundo Henri Bergson, é realizar a mediação entre o organismo e seu meio pela transformação de sensações recebidas em ações e pensamentos – é uma espécie de exterior do organismo que este interiorizou por meio de uma dobra originária. Tendo se originado de uma interiorização do exterior, o sistema nervoso depois dá origem a um órgão que, mais do que qualquer outro, devolve ao exterior este exterior interiorizado: o olho. Este trabalho parte então destes dois fatos embriológicos – (1) a gênese do sistema nervoso por uma interiorização do exterior e (2) a exteriorização deste exterior interiorizado na forma dos olhos) – para considerar quatro possíveis formas de compreensão deste modo de existência tão particular que é “o olhar”. Tais formas serão: (1) o olhar da câmara escura, que segundo o historiador Jonathan Crary surge no século XVI e se mantém o modelo dominante de visão até o século XIX; (2) o olhar do laboratório de fisiologia, que segundo Crary surge no século XIX; (3) o olhar do organismo em seu meio, como proposto pelo biólogo James Gibson a partir dos anos 1960; e (4) o olhar como ser da visão, como buscarei propor a partir das elaborações do filósofo Gilles Deleuze sobre “o ser da sensação”. Como pano de fundo deste exercício, buscarei na teoria ator-rede um recurso revelador/implicador da singularidade da agência de cada um desses quatro olhares.
Gênero nos livros infantis: uma análise sobre a representação da identidade feminina
Paula Teixeira AraujoGrupo Temático: Gênero, Ciência e Tecnologia: avanços e desafios
Resumo
O uso do livro infantil é uma prática pedagógica cultural capaz de auxiliar no processo de construção da identidade do sujeito, dada a sua importância simbólica de significados ao público infantil. As histórias infantis facilitam a transmissão de valores e costumes socialmente aceitos, sendo reconhecido seu caráter formador desde a sua origem (CARVALHO, 1980, LAJOLO e ZILBERMAN, 2007). Enquanto produto cultural de lazer e educação, a análise do seu conteúdo se justifica pela importância que este material possui no processo de formação inicial das crianças. Compreendemos que, enquanto produto de uma indústria cultural, o livro infantil possui a possibilidade de influenciar/sugerir, por meio de um discurso ideológico vigente, a maneira como as pessoas se veem e veem ao outro, aprendem comportamentos adequados ou não, assim como contribuem para a construção de uma identidade própria (KELLNER, 2001). Diante das representações sociais diversas apresentadas neste material, o gênero é fortemente identificado pela distribuição de papéis "femininos e masculinos", em geral pautadas sob os discursos científicos sobre a natureza das personagens. É possível perceber, a partir de uma leitura crítica, muitas "práticas culturais se encarregam de exercer uma ação formadora para conduzir os sujeitos por caminhos seguros e "certos" na conformação de suas identidades de gênero e para isso, uma série de artefatos são acionados no sentido de produzir significados e sentidos que garantam a normalização desejada" (ARGÜELLO, 2005, p42). Nesse sentido, esta pesquisa tem por objetivo refletir sobre como a figura feminina é representada em narrativas infantis. Para isso, pretende-se analisar como os discursos utilizados nesse produto cultural infantil, por meio de diferentes linguagens, contribuem - ou não - para o reforço de um padrão de comportamentos femininos social e tradicionalmente estabelecidos. Foram selecionados livros que apresentam a personagem galinha, comparando aos papéis respectivamente da mulher. Dessa forma, as análises das obras serão realizadas com o auxílio da teoria semiótica greimasiana e da análise do discurso, sob a perspectiva dos Estudos Culturais, a qual tem a intenção de possibilitar as múltiplas interpretações considerando o nosso contexto sócio-histórico e cultural predominantemente patriarcal e machista.
A ciência no corpo: discursos sobre a intersexualidade.
Paula Gaudenzi, Ana Cristina de Lima PimentelGrupo Temático: Estudos Sociais das Ciências e das Tecnologias em Saúde Sexual e Reprodutiva
Resumo
A apresentação proposta é parte de um projeto no campo dos estudos sociais em ciência e tecnologia que visa discutir as articulações entre tecnologia, corpo e subjetividade, tomando como objeto de análise algumas incidências da ciência no corpo, tais como as cirurgias de "correção" de genitais em caso de intersexualidade, as quais colocam em cena importantes discussões a respeito da definição do sexo e de sua assunção pelo sujeito.
Segundo a concepção biomédica, a definição do gênero depende de fatores genéticos e hormonais os quais iniciam o estabelecimento do sexo cromossômico na fecundação, seguido do desenvolvimento gonadal e da diferenciação da genitália externa e interna. Quando há interação anormal desses fatores no período pré-natal é caracterizado um Distúrbio da Diferenciação Sexual. A Resolução nº 1664 de 2003 emitida pelo Conselho Federal de Medicina considera que a genitália ambígua em crianças constitui uma "urgência biológica e social" e recomenda "uma conduta de investigação precoce com vistas a uma definição adequada do gênero e tratamento em tempo hábil". Apesar da literatura científica internacional apontar que não há consenso médico quanto à necessidade de realização imediata das referidas cirurgias (Guimarães & Barboza, 2014) e da Associação Americana de Psicologia (APA, 2006) apontar que "em geral, não é medicamente necessária a imediata realização de cirurgia de modo a torná-la reconhecidamente masculina ou feminina" não há, nesses discursos, uma problematização do binarismo sexual.
Tal problematização inicia-se na década de 1980 quando algumas pessoas que cresceram no silenciamento de suas condições diagnósticas e foram submetidas à cirurgia quando crianças se tornaram insatisfeitas com os resultados cirúrgicos e passaram a contestá-la (Pino, 2007). No meio acadêmico, a naturalidade dos binarismos começou a ser questionada na década de 1990 por pesquisadoras dos estudos de gênero (Fausto-Sterling, 1993; Kessler, 1998).
Partindo da concepção de sujeito como efeito do discurso e preocupada com a análise dos modos de subjetivação - fabricados e modelados no registro do social -, o recorte que proponho para essa exposição é apresentar os diferentes pressupostos epistemológicos dos discursos - médico, psicanalítico, sócio-antropológico - que incidem sobre as noções de "identidade sexual", "diferença sexual" e "intersexualidade".
Atenção em rede do #ProtestoRJ: emergência e captura no capitalismo cognitivo
Priscilla Calmon de AndradeGrupo Temático: Internet: entre o capital e as ruas
Resumo
A proposta deste trabalho é investigar as novas experiências de subjetivações produzidas pela hashtag #ProtestoRJ, no Twitter, que, a partir das Jornadas de Junho de 2013, ao revés de uma economia da atenção produzida e capturada pelo sistema capitalista, buscou resistir e lutar através da mobilização social capaz de produzir o comum, levando às ruas milhares de pessoas na luta por objetivos semelhantes. Entre as redes e as ruas, este movimento coloca o Brasil na rodada dos movimentos sociais globais, sendo fundamental analisar, portanto, suas particularidades, funcionamento, arquitetura, organização e autogestão. Neste trabalho, em particular, investigaremos o estouro das manifestações no Rio de Janeiro - que teve início com o aumento da tarifa do transporte público e a mobilização do Movimento Passe Livre - a partir da análise de 49.747 tweets extraídos do Twitter, entre os dias 16 e 21 de junho de 2013. A escolha pelo período em questão se dá por serem datas que antecedem e sucedem as duas grandes manifestações na cidade, a primeira do dia 17 de junho, com 100 mil pessoas às ruas, e a do dia 20, que contabilizou 300 mil manifestantes. Dessa forma, a hipótese inicial deste trabalho é de que as mobilizações políticas em rede utilizam táticas e técnicas de captura de atenção para garantir a visibilidade política, atraindo não só reconhecimento para determinada pauta como também a sua disseminação - a exemplo das viralizações, efeito em rede que se inicia a partir do grande compartilhamento de conteúdos entre as pessoas. Os avanços desta pesquisa, portanto, perpassam por dois caminhos metodológicos: a análise e mapeamento de mobilizações políticas em rede e a modelagem de tópico, um modelo de processamento computacional que permite medir a frequência de temáticas presente em determinado dataset. A ideia é que estes rastros em rede permitam a realização da análise do movimento de produção de tendências e focos de atenção, ou seja, a transferência e a transmissão de mensagens através de um contato com o outro, neste caso através de um tweet, como uma forma de compreender as subjetivações envolvidas e os processos de formação de comunidades que compartilham objetivos em comum. Portanto será possível entender como esses atores, ao assumirem a função de narradores em rede, constituem em sua timeline sua própria narrativa.
Archeage e league of legends: quando a interação nos game chats proporciona espaços de aprendizagem
Patricia Nunes MartinsGrupo Temático: Jogos digitais e suas relações com a Ciência, Tecnologia e Sociedade
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Resumo
Analisar os jogos eletrônicos como possibilidade de uso em educação pode trazer grandes desafios e críticas, bem como, novos olhares que podem fomentar novas maneiras de ensinar e aprender. Por meio deste estudo propoem-se os chats dos jogos como os da modalidade MOBA e os SANDBOX como espaços potenciais de aprendizagem. Para isto foram analisados alguns chats de jogos e suas relações aos textos de Lemke, Ausubel, McGonigal, Nicola e outros a fim de justificar a hipótese. Por meio deste estudo percebeu-se que os chats de jogos como League of Legends e Archeage, podem ser espaços de interação e aprendizagem, e não apenas um espaço de entretenimento ou diversão, contribuindo para ampliação do olhar do estudo sobre os jogos eletrônicos em educação e sobre as práticas de aprendizagem.
Concepção e Adoção do QUALISDATA
Paulo Coelho Ventura Pinto, Ricardo Pires MesquitaGrupo Temático: Seguindo cientistas em ação - desafios metodológicos das ciências de dados e das neurociências em CTS.
Resumo
A concepção do QUALISDATA, um algoritmo para efetuar a conferência entre pares registros de dados pessoais de bases de dados governamentais distintas, fora norteada por 5 propriedades que um processo de conferência automática de registros de dados deveria satisfazer para ter flexibilidade cognitiva nesse processo. Tais propriedades foram concebidas utilizando o know-how de analista com experiência em cruzamento de informações cadastrais de grandes bases de dados governamentais brasileiras e por um grupo de pesquisa da PESC/COPPE. Tais propriedades foram apresentadas em Simpósio Nacional de Sistema de Informação e na Scottish Informatics Programme Conference, ambos em 2013, para fins de validação entre pares. Essas 5 propriedades foram concebidas no primeiro bimestre de 2013, com intuito de doutoramento, com a motivação de compreender a problemática do cruzamento de dados cadastrais sob a ótica qualitativa para subsidiar gestores e stakeholders. Uma aplicação imediata seria o cruzamento de registros dados com informações contratuais do Cadastro de Beneficiários de Planos de Saúde da Agência Nacional de Saúde e do Cadastro de Pessoas Físicas da Receita Federal.
O QUALISDATA, além de ser caracterizado pela convergência de técnica e conhecimento, pode ser entendido como uma potencial inovação surgida na necessidade de articular o saber acadêmico com potencial para subsidiar projetos que envolvam, p.ex, cruzamentos de dados no Sistema Único de Saúde e na Saúde Suplementar no que tange a seus usuários.
Entender como esta rede foi tecida através das mãos de atores motivados cada qual por seus interesses técnicos, políticos e sociais, ora convergindo, ora divergindo. é a proposta deste trabalho. "Seguir Engenheiros e Cientistas em Ação..." a proposta de Latour, utilizando a pesquisa-ação, é o norte metodológico que serve de base para a narrativa. Muito além das negociações técnicas que envolvem a elaboração de um algoritmo - que abrangem desde o tipo de linguagem utilizada à representação da qualitativa das informações e seus resultados. Assim o QUALISDATA representa um conceito tecnológico em potencial na rede de melhorias dos processos na Saúde Suplementar. À luz da academia, O QUALISDATA pode ser entendido como uma inovação local dentro do ciclo de concepção e adoção (Callon) e um artefato importante no fazer Ciência Tecnologia e Sociedade no Brasil.
Políticas de fomento à inovação em etanol celulósico: como o Brasil está na corrida desta nova rota tecnológica?
Pollyana de Carvalho VarrichioGrupo Temático: Sistemas de Inovação e seu Alcance Conceitual, Metodológico e Normativo
Resumo
Nos últimos anos, o setor sucroalcooleiro tem atravessado problemas de liquidez, com endividamento crescente e queda na rentabilidade (Milanez & Nyko, 2014). A redução da competitividade do produto resultou em estagnação do setor e redução do investimento. Neste cenário, o Brasil começa a reduzir sua participação na indústria mundial na produção de etanol comparativamente aos EUA.
Para superar esses problemas do setor, é importante que o país desenvolva capacidades científicas, tecnológicas e produtivas em uma nova rota tecnológica - o etanol celulósico ou de segunda geração - o qual utiliza processos químicos e biológicos, além da fermentação tradicional da cana-de-açúcar. Estima-se que a produção de etanol celulósico, através da utilização de palha e bagaço de cana, possa aumentar a produtividade do setor em 45% (Cortez, 2013).
O desenvolvimento da produção industrial em larga escala do etanol de segunda geração é o grande desafio da atualidade e demanda de inovações tecnológicas no processo de produção. As empresas brasileiras ainda apresentam esforços tímidos nesta rota. A produção de etanol celulósico ainda não é economicamente viável, já que ainda demanda elevados investimentos em PD&I, sendo que outros países tem dispendido esforços mais vigorosos para viabilizar a produção, o que pode comprometer liderança tecnológica brasileira no etanol de primeira geração (Nyko, 2010).
Hoje no mundo existem cerca de oito plantas produtivas efetivamente em operação em etanol celulósico, das quais duas estão instaladas no Brasil (Granbio e Raízen), quatro nos EUA, uma no Canadá e uma na Europa (Novacana, 2015).
Diante deste contexto, este projeto de pesquisa pretende contribuir na discussão crítica sobre o desenvolvimento de etanol de segunda geração (2G), a partir de um estudo comparativo entre as políticas de fomento à inovação existentes no Brasil, nos EUA e no Canadá. A seleção nos países se pauta na existência de plantas produtivas de etanol 2G em operação. A metodologia de pesquisa consistirá em um estudo exploratório fundamentado na revisão bibliográfica e na coleta e análise de dados secundários. O referencial teórico se baseia na teoria evolucionista e nos sistemas setoriais de inovação. O trabalho irá contribuir na discussão sobre políticas de fomento à inovação no Brasil à luz das experiências observadas no mundo.
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PPGECTS – Uma Concepção de Programa Pós Graduação CTS - Pesquisa e Residencia em Política Científica e Tecnológica para Desenvolvimento Social
R.T. Neder (UNIVERSIDADE DE BRASILIA)Grupo Temático: Programas de Pós-Graduação em Estudos CTS & políticas científicas e tecnológicas para inclusão socioprodutiva: um debate
Resumo
Diante das preocupações contemporâneas sobre o conflito entre a excessiva especialização tecnocientífica e a necessidade de integração de equipes e projetos inter & multidisciplinares, não causa surpresa que haja certo interesse quanto à perspectiva interdisciplinar dos Estudos CTS. Há necessidade crescente de pesquisadores, professores e gestores de políticas de C&T com formação em Estudos CTS para compreensão alargada do tratamento articulado entre política cognitiva, fomento institucional às inovações vi-à-vis questões sociais e econômicas nas quais a tecnociência tem hoje papel decisivo para provocar viéses na própria produção do conhecimento na universidade. Como substrato geral (indiretamente) os Estudos CTS criam um caldo de cultura mais elaborado e receptivo conceitualmente para compreensão (e eventualmente ação reguladora e legislativa, fomento e financiamento) das políticas de C&T. Os Estudos CTS contribuíram nos ultimos 30 anos para fortalecer tendências importantes de democratização que influem nas iniciativas governamentais na área da pós-graduação e do ensino em geral na universidade contemporânea. Vale mencionar no quadro da política de pós-graduação no Brasil os altos e baixos da política específica da CAPES para consolidar a área de programas de pós-graduação interdisciplinares. Ao longo dos quatro encontros regionais promovidos entre 2010-2013 sobre ensino & pesquisa, gestão & avaliação além de um seminário internacional de encerramento em 2014, temos ainda um quadro inconclusivo sobre a que veio a multi & interdisciplinaridade para a produção tecnocientífica atual no País. Aparentemente tem sido dado um tratamento mais político-administrativo do que político-científico, à questão do “aumento de grupos de pesquisa e programas acadêmicos tratando de questões intrínsecamente interdisciplinares e complexas”. São apresentados os programas de pós-graduação no Brasil que tem relação direta ou afinidades declaradas com a abordagem dos estudos sociais da ciência e tecnologia, permitindouma análise comparativa entre sua localização institucional, concepção de ensino, relação tecnologia-sociedade, e possíveis vertentes para sua participação no movimento ESOCITE.
Inovação através da interação Universidade-Empresa? – Análise dos procedimentos, estratégias e resultados da cooperação na Universidade Estadual Norte Fluminense – UENF
Rachel Ferreira Klem de Mattos Morgades (UENF)Grupo Temático: GT Ciência, tecnologia e inovação social
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Resumo
O presente estudo visa analisar as atividades de produção de conhecimento científico da Universidade Estadual Norte Fluminense (UENF) em parceria com empresas privadas, no agora denominado novo modo de produção de conhecimento. O ponto de partida da análise gira em torno do breve comparativo entre o modelo tradicional de produção de conhecimento e o atual modo de produção de conhecimento, sob a visão da “ciência pós acadêmica” (Ziman, 2000, p. 66) e “modo 2” (Gibbons et al., 1994, p. 02), “tripla hélice” (Etzkowitz, 2013, p. 01), o qual também alcunha o termo Universidade Empreendedora. Através deste trabalho será possível ainda arrolar os critérios e procedimentos administrativos da UENF para a efetivação das pesquisas em parceria com os entes privados e reconhecer qual o tipo de conhecimento que é produzido na nova relação decorrente da interação universidade-empresa. Por fim, será possível constatar se tem ocorrido apropriação do conhecimento produzido na universidade e outras consequências das novas práticas em parceria com o setor econômico, em especial no que se refere à incorporação de novos valores, mudanças no ethos científico e verificar se há retorno social e econômico para a Universidade.
Projetos de paisagens originais: um olhar antropológico sobre o paisagismo ecogenético de Fernando Chacel (1931-2011)
Rachel Paterman Brasil (PPGSA/UFRJ)Grupo Temático: Experiências contemporâneas em Antropologia da Ciência e da Tecnologia: etnografia, grandes projetos e escala planetária (ou não)
Resumo
Esta comunicação aborda, com base em uma perspectiva antropológica, projetos de “recriação” de paisagens de autoria do arquiteto-paisagista Fernando Magalhães Chacel (1931-2011). Desenvolvidos em diversas localidades brasileiras, tais projetos propõem reconstituir espécies e associações vegetais nativas conforme imagens de natureza tidas como “originais” ou “anteriores” à presença humana. Chacel possui crescente destaque nos campos da Arquitetura e do Urbanismo em razão de sua proposta de conciliar medidas compensatórias de impactos gerados pela construção em larga escala com uma preocupação ambientalista de recuperar ecossistemas. Seus projetos contemplam desde barragens e entorno de hidrelétricas a condomínios residenciais. Projetadas com base na interlocução permanente com cientistas, as paisagens que procura “reconstruir” - com base em método intitulado “ecogênese” - emergem de mediações técnicas e científicas que lhes conferem aspecto aparentemente “puro” em relação às suas especificidades culturais. Sabendo-se que, neste processo, “paisagens originais” não são exatamente “reveladas”, mas sim “construídas”, propõe-se discutir as operações simbólicas que nele se fazem atuantes. Trata-se de aprofundar os sentidos que organizam as imagens específicas de natureza que porventura possam ser positivadas e “naturalizadas” por espaços assim projetados.
SIDA, Juventude e ARVs: uma interface necessária - O que pode nos dizer a antropologia
Rafael Agostini Valença Barreto Gonçalves (Universidade Federal Fluminense)Grupo Temático: Estudos Sociais das Ciências e das Tecnologias em Saúde Sexual e Reprodutiva
Resumo
Há mais de trinta anos a humanidade convive com o Vírus da Imunodeficiência Adquirida (VIH) e hoje milhões de pessoas vivem com VIH em todo mundo. Ao longo desse tempo, a administração da doença vem sofrendo mudanças consideráveis, sobretudo no que tange ao tratamento; os meios de diagnósticos foram aperfeiçoados e já existem mais de três dezenas de drogas específicas para arrefecer a replicação viral. Se o diagnóstico positivo já representou uma sentença de morte, hoje é cada dia mais associado, no discurso biomédico, a uma condição crônica. Essa mudança seria, supostamente, fruto dos avanços científicos como a popularização dos testes e aperfeiçoamento dos antirretrovirais (ARVs).
Encarar o VIH/SIDA sob a ótica da cronicidade, em detrimento da sentença de morte, representa um ganho nas formas sociais de lidar com a doença. Contudo, o prolongamento temporal que vem adquirindo impõe aos sujeitos VIH+ (re)posicionamentos no agenciamento da vida e da enfermidade – a partir da perspectiva de uma doença de longa duração. Necessidade de adequação de hábitos e comportamentos, frequente interação com profissionais da saúde – além da óbvia convivência com os impactos sociais, subjetivos e físicos da enfermidade – são apenas algumas das questões que podem ser problematizadas.
A utilização ininterrupta de medicamentos e seu uso social, bem como seus eventuais efeitos colaterais, toxicidade e interações com outros esquemas terapêuticos também parecem ser centrais para se entender a experiência com a doença. Para compreender esse processo, e os discursos que os circunscreve, contudo, indicadores epidemiológicos são inertes e a Saúde Coletiva precisa, a nosso ver, recorrer aos referenciais teóricos e metodológicos das Ciências Humanas e Sociais, mais especificamente da antropologia.
Nesse sentido, o objetivo dessa comunicação é abordar os sentidos e significados atribuídos à convivência com a doença, de modo geral, e ao uso contínuo de ARVs por jovens com sorologia positiva para o VIH, de modo específico. Buscaremos, pra tanto, refletir a partir da intersecção entre os dados produzidos em nossa pesquisa de dissertação desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal Fluminense e a literatura dos estudos de ciências-tecnologias-sociedades, com ênfase nas que versem sobre a utilização, consumo e apropriação das tecnologias biomédicas.
Redes sociais: jogo, trabalho e notoriedade
Rafael de Almeida Evangelista (UNICAMP)Grupo Temático: Internet: entre o capital e as ruas
Resumo
O propósito deste trabalho é entrelaçar, exploratoriamente, os ambientes das redes sociais online - que em suas características aditivas que unem diversão/brincadeira/jogo - com os sites de pôquer online. Estes, por um lado, funcionam como entretenimento, porém, ao mesmo tempo, são um ambiente de "trabalho" para milhares (ou milhões) de jogadores que atravessam seus dias participando de mesas, por vezes várias simultaneamente, com objetivo de, ao menos, obterem ganhos mínimos. Usando de entrevistas semi-estruturadas, busca-se descrever o cotidiano desse jogador/trabalhador, dando conta dos procedimentos para receberem esses ganhos e de ferramentas de performance utilizadas para medir o sucesso ou fracasso de estratégias de jogo empregadas e de seus próprios jogadores. Importante será registrar, além de seu cotidiano, as expectativas que esses jogadores tem de, após consecutivas boas performances, abandonarem a posição de jogadores anônimos para se tornarem jogadores-celebridades, reconhecidos em sua competência e estavelmente patrocinados por empresas do ramo.
O ramo do pôquer online será comparado com o ambiente das redes sociais. Para além de seu propósito imediato de comunicação entre usuários, estas tornaram-se plataformas para que milhares (milhões?) de artistas, comediantes, comunicadores, músicos, escritores exibam seus talentos e publiquem o produto de seu trabalho de forma amadora e gratuita. Ao lado do simples desejo de conversar e entreter amigos está a perspectiva - por vezes longínqua, por vezes um objetivo concreto - de sair do anonimato da rede e adquirir o status de um profissional estabelecido do entretenimento, regularmente pago por algum empregador. Será dada ênfase no caráter típico como fenômeno do capitalismo tardio, em que o trabalho intelectual é gratuitamente apropriado por algumas das empresas mais valorizadas da atualidade.
Atravessa o texto a ideia da internet como uma megamáquina que integra hardware, software e humanos, todos desempanhando papéis na atividade de fazer girar essa roda informacional.
Teoria ator-rede e a história dos dispositivos de atenção psicossocial: as práticas de cuidado e responsabilização por meio da liberdade
Rafael de Souza Lima (UFRJ), Amanda Araujo (UFRJ), Arthur Arruda Leal Ferreira (Universidade Federal do Rio de Janeiro)Grupo Temático: Estudos CTS, Práticas Psi e Modos de Produção de Subjetividades
Resumo
Análise do Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Viver Sem Limites: um estudo sobre tecnologias assistivas
Rafael Giglio Bueno (UNICAMP)Grupo Temático: Estudos Sociais das Ciências e das Tecnologias em Saúde Sexual e Reprodutiva
Resumo
Este trabalho se dá a partir de um recorte do projeto de pesquisa sobre a análise do Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Viver Sem Limite. A política, constituída de forma interministerial, articula-se em quatro eixos temáticos (acesso à educação, acessibilidade, inclusão social e atenção à saúde). Sua implementação, em 2011, representou, até então, a política com mais recursos públicos destinados às pessoas com deficiência. A atuação do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) possui, dentre outras funções, criar e manter o Centro Nacional de Referência em Tecnologia Assistiva (CNRTA). O CNRTA foi criado com a incumbência de mediar diferentes atores atuantes em TA, articular a Rede Nacional de P, D & I em TA e operar como facilitador no processo do desenvolvimento de dispositivos e o acesso do público a estes. O presente artigo objetiva entender o processo de incorporação das tecnologias assitivas (TA) na agenda decisória do MCTI, e de que forma o instituto público de pesquisa, Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer, incorporou esta temática em sua agenda de pesquisa. A metodologia adotada foi a abordagem analítico-descritiva, a partir de revisão bibliográfica e análise documental. O referencial teórico utilizado é da análise de políticas, partindo do viés neoinstitucionalista, de modo a expor fatos e contradições presentes em diferentes instâncias do poder público. Assumindo, assim, que as instituições públicas e outras organizações políticas ligadas às pessoas com deficiência, representam um importante fator condicionante nos comportamentos dos burocratas e na política pública. Outros modelos importantes do campo da análise de políticas serão utilizados no artigo, como o policy cycle (ciclo da política) e o advocacy coalitions (coalização de defesa), que discutem a atuação de grupos de interesse que se articulam de modo a exercer influência nas etapas da política. Como conclusão, entende-se que, à letra de documentos oficiais, a política Viver Sem Limite é vista com grande impacto positivo. Porém, vozes dissonantes têm mostrado que os grandes paradigmas referentes às tecnologias assistivas no Brasil se mantiveram presentes, como a dificuldade do acesso da população aos diferentes produtos de TA, seus altos custos e a falta de adaptação às diferentes limitações das pessoas com deficiência.
Curta o circuito da tela verde: proliferando os híbridos na rede da educação ambiental do audiovisual nacional
Rafael Nogueira Costa (UERJ)Grupo Temático: Pedra, planta, bicho, gente... coisas: encontros da teoria ator-rede com as ciências ambientais
Resumo
No ano de 2009 o Ministério do Meio Ambiente (MMA) em parceira com o Ministério da Cultura iniciou a difusão de “híbridos” (LATOUR, 2013) a partir da realização do Circuito Tela Verde (CTV). Desde então, anualmente, os servidores do Departamento de EA do MMA preparam novas rodadas de proliferação desses “híbridos”.
Eles são enviados para diferentes espaços de exibição como: Festival de Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA), TV Brasil (Empresa Brasil de Comunicação) e quase dois mil pontos em diversos locais do país. Esta agenda foi criada para “atender às demandas de inúmeras instituições que buscam, no Ministério do Meio Ambiente, materiais que subsidiem suas ações de Educação Ambiental” (CTV/MMA ).
Diante das telas e saboreando os sinais emitidos pelas caixas sonoras os coletivos se formam para assistir, debater e refletir as mensagens presentes nos “híbridos”. A ciência da comunicação pela imagem e som, incorporada pelo campo da EA, possibilita a proliferação de laboratórios, institucionais ou não. Esses laboratórios experimentam maneiras de agregar o conhecimento partido.
Os produtos em formato de narrativas são considerados “intermediários” (LATOUR, 2013: 79). Sociedade e natureza são misturados pelos “intermediários”, produzidos e montados coletivamente em forma de artesanato digital. Seguir os atores, mesmo sendo objetos (coisas), descrevendo as redes que eles (elas) se transportam de forma contextualizada com os seus enredos é a base de sustentação da Teoria Ator-Rede (LATOUR, 2012).
Os eventuais danos socioambientais que a empresa garimpeira poderá causar é transformada em práticas educacionais. Essas práticas são conduzidas dentro de um complexo jogo no qual a “indústria de compensação ambiental” passa a constituir o centro da rede.
Neste trabalho buscaremos descrever a rede sociotécnica (LATOUR, 2012) da produção de artefatos audiovisuais, construída na prática da Educação Ambiental (EA) no licenciamento de petróleo. Entraremos no Programa de Educação Ambiental (PEA) Humanomar executado desde 2007 pela firma de consultoria Abaeté Socioambiental e financiado pela empresa de extração de combustíveis fósseis Devon Energy.
Os “intermediários” produzidos no contexto desta prática de EA, objetos audiovisuais criados de forma coletiva, permanecem sendo produzidos por diversos laboratórios.
Mediações tecnológicas de bens culturais musicais no site YouTube pela prática das sessions
Rafael Togo Kumoto (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), Luciana Martha Silveira (UTFPR)Grupo Temático: Tecnologia e mediações
Resumo
Este trabalho busca compreender como a plataforma de compartilhamento de vídeos do site YouTube se constitui enquanto tecnologia mediadora de bens culturais musicais. Para este fim, tomamos como objeto de pesquisa a produção videográfica das sessions, registros de performances improvisadas de artistas e/ou bandas, realizadas em locais inusitados à prática musical, tais como espaços de circulação de pedestres em grandes aglomerados urbanos, becos, terraços, metrôs, barcos, pontes e monumentos públicos. Conectados pela plataforma do YouTube, sobretudo por meio de sua lógica de vídeos relacionados, a produção de diversos usuários se agrega naquilo que compreendemos como um fenômeno pontuado. Por meio de uma análise, relacionando a publicação e circulação destes canais aos códigos técnicos de participação e organização do YouTube, buscamos evidenciar como a arquitetura desta plataforma - estruturada por meio de botões, hiperlinks, formulários para comentários, dados estatísticos e marcações de avaliação positiva e negativa – contribui para a construção de imaginário e investimento de sentido acerca da circulação de bens culturais musicais, espaços de performance e circuitos alternativos de música, constituindo-se em um processo de coautoria junto a artistas e espectadores.
Se tiver coração: inteligência artificial e éticas do artefato quase humano
Rafael Wild (Universidade Tecnológica Federal do Paraná)Grupo Temático: Expertise, deliberação de empreendimentos sociotécnicos e culturas de investigação científica e tecnológica
Resumo
Sistemas computacionais inspirados pela Inteligência Artificial têm sido apresentados com destaque desempenhando capacidades agenciais comparadas às agências tipicamente humanas. Tais capacidades foram apresentadas inicialmente como o raciocínio lógico-matemático, e posteriormente como inferência baseada em dados, expressão de conhecimento especialista, capacidades de compreensão e manipulação de linguagem natural, sociabilidade e até mesmo emoção. O humano nesta disciplina é marco de comparação, visto como um agente autônomo e possuidor de um elenco de distintas características e capacidades a serem replicadas. Dentro e ao redor do campo da Inteligência Artificial, uma pergunta que produz incômodos tem se destacado recentemente: se a IA produz máquinas que replicam o humano, como deveremos lidar com estas máquinas no momento em que elas forem suficientemente próximas ao seu modelo – ou seja, qual o estatuto ético de um sistema avançado de inteligência artificial? A pergunta não tem seus contornos exatamente definidos, nem tampouco é recente historicamente; o incômodo produzido, entretanto, ganha mais urgência a cada vez que ocorrem novos eventos no campo tecnológico que produz estas máquinas. O presente trabalho não tem a intenção de responder à indagação em pauta, mas sim de examinar as condições em que ela ocorre e de procurar explicitar as maneiras pelas quais os próprios termos passam a fazer sentido, compreendendo este caso como uma instância de co-produção entre práticas tecnológicas e teorias do social. A progressiva constituição de um campo de possibilidades para a ética do artificial é discutida dentro de um contexto que inquire a agência de entes envolvidos em processos que os afastam ou aproximam do estatuto humano. Investigamos também se o que ocorre é uma produção ontológica, isto é, em que medida este campo tecnológico propõe estes sistemas como novos e diferentes entes, e em que meios práticos, conceituais e políticos esta produção seria ancorada. Esta produção, argumentamos, reconfigura de certa forma categorias fundantes da ontologia ocidental, os pólos cultura-natureza. Por fim, propomos que o que a Inteligência Artificial encena, de forma tecnológica, formas de pensar o humano peculiares, mesmo que apresentadas como universais, e que isso se aplica também à sua concepção de uma ética artificial.
Propostas terapêuticas das religiões espíritas brasileiras
Ramon Fiori Fernandes Sobreira (FIOCRUZ), Carlos José Saldanha Machado (Fundação Oswaldo Cruz)Grupo Temático: Medicina na América Latina: práticas científicas, dispositivos tecnológicos e inovações terapêuticas
Resumo
O presente trabalho é parte da pesquisa iniciada pelos autores em 2014, junto ao Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Saúde da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro. Investigando as estratégias terapêuticas das religiões espíritas praticadas no Brasil -máxime o espiritismo e a umbanda - os autores refletem sobre os resultados do modelo da medicina tradicional no Brasil, a partir da busca do usuário por propostas terapêuticas alternativas em distintos sistemas religiosos. Ao final, os autores procuram dar conta do novo paradigma de corpo doente que emerge dessas práticas que abrem mão da tecnologia médica hightech e privilegiam terapias em que o tratamento do componente espiritual (ou da alma) pressupõe a cura de patologias físicas ou mentais, redimensionando o conceito de fisiologia humana. Metodologicamente, a pesquisa envolveu trabalho de campo, com visitas a sessões em centros espíritas, terreiros de umbanda e centros espiritualistas (que assimilam ambas as vertentes), escrutinando os métodos empregados (passes, consultas com entidades do panteão afro-brasileiro, apometria e prescrição fitoterápica com base em conhecimento tradicional de matriz afro-indígena) para, com apoio também em revisão da literatura produzida no âmbito daqueles sistemas religiosos, redesenhar métodos nosológicos à luz do espiritismo brasileiro que dinamiza a vida em sociedade.
Quem foi um milionário? Embates, remoções, indecisões e indenizações na comunidade da Vila Autódromo no Rio de Janeiro
Ramon Silva de Carvalho (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)Grupo Temático: Qualidade dos lugares e paisagens híbridos
Resumo
Uma casa na Cidade do Rio de Janeiro no valor de R$ 3 milhões! A princípio nada de tão espantador tendo em vista a valorização imobiliária observada no município, principalmente nos últimos seis anos. Mas muito espantador quando se trata de uma residência de padrões construtivos medianos edificada em um terreno cujo proprietário da casa não é o dono da terra. A ocupação da área de domínio público às margens da Lagoa de Jacarepaguá, conhecida por “Vila Autódromo”, iniciou-se na década de 1960 e consolidou-se ao longo do tempo sem maiores entraves à permanência dos cerca de 760 imóveis. A intenção de remover a comunidade, sob o manto da proteção ambiental, desencadeou uma série de fatos que configuram a trama hoje estabelecida: brigas judiciais, decisões/indecisões políticas, argumentos de movimentos populares e de organizações não governamentais contrárias à remoção e a valorização da área devido à realização dos Jogos Olímpicos, entre outros.
O mapeamento destes e de outros fatos e a narrativa proveniente da hibridação entre eles pode contribuir para a compreensão da existência dos “novos milionários”, emergidos de uma trama que, inicialmente, não os considerava como personagens importantes. Para a realização deste mapeamento serão utilizadas as inscrições encontradas nas mídias impressas, audiovisuais e eletrônicas, tratadas de modo simétrico e com o objetivo de contar uma entre várias histórias da (tentativa de) remoção da Vila Autódromo para a implantação de acessos ao Parque Olímpico do Rio de Janeiro.
O caso da Vila Autódromo pode contribuir para os estudos de ciências-tecnologias-sociedades ao explorar os aspectos relativos ao traçado urbano e às condições de moradia e acesso à terra e a sua indissociabilidade dos fatos políticos, técnicos e econômicos. Dito de outro modo, a narrativa produzida por meio deste exemplo pode contribuir para o entendimento das relações estabelecidas entre os atores humanos e não humanos para a construção de um lugar/paisagem cujas qualidades não são determinadas apenas pelo seu projeto/desenho elaborado na mesa de um arquiteto-urbanista.
A (re)construção da divisão Norte-Sul nas negociações ambientais das Nações Unidas
Raoni Rajão (UFMG)Grupo Temático: Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia e as Mudanças Climáticas
Resumo
Desde a inauguração das negociações internacionais sobre meio ambientes em Estocolmo em 1972 surgiram debates entre os países do Norte e Sul globais para estabelecer as responsabilidades e definir o papel de cada país na resolução da crise ambiental. A proposta do que os países em desenvolvimento deveriam controlar o aumento populacional e restringir o seu crescimento sugerida pelos países do Norte e trazida pelo relatório do Clube de Roma foi fortemente repudiada pelos países do Sul global que viam o combate à pobreza como tendo maior prioridade do que as questões ambientais. A acomodação das demandas dos países do Norte e Sul globais, através do protagonismo do Brasil nas negociações, deu forma para o conceito das responsabilidades comuns porem diferenciadas da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas assinada em 1992 no Rio de Janeiro. De acordo com esse princípio os países do Norte global devem contribuir mais ativamente para a mitigação das mudanças climáticas do que os países do Sul tendo em vista as suas capacidades econômicas e responsabilidades históricas: medida que foi operacionalizada no protocolo de Quito onde somente os países industrializados reunidos na OCDE assumira metas vinculantes e entraram no chamado Anexo I. Nos últimos anos, porém, a divisão entre países divisão Norte e Sul globais está sendo questionada pelos países desenvolvidos com base em argumentos ambientais e econômicos. A presente pesquisa examina a mobilização de discursivas provindas das ciências climáticas, economia e direito internacional por negociadores do Norte e Sul global no contexto das negociações do acordo de Paris que deverá ser assinado em dezembro de 2015. Nessa apresentação serão discutidos os resultados preliminares obtidos a partir da analise documental, entrevistas com diplomatas e observação participativa das negociações durante a Conferência Rio+20, em 2012, a Conferencia das Partes (COP20) em Lima em 2014 e a Conferencia sobre Mudanças Climáticas de Bonn realizada em junho de 2015.
Dois discursos sobre tecnologias: determinismo e autoria no contexto pós-conflito timorense
Raquel Folmer Corrêa (UFSC), Irlan von Linsingen (UFSC)Grupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
Resumo
As discussões sobre produção de conhecimentos provocadas por Boaventura de Sousa Santos nas obras “Um discurso sobre as ciências” e “Conhecimento Prudente para uma Vida Decente”, além de inspiração ao título deste artigo, lembram-nos da ambiguidade e complexidade do tempo científico atual, o qual ele define como um período de transição. Definição que entendemos como pertinente a nossa proposta de reflexões sobre os contextos de produção de conhecimentos em Timor-Leste na última década. Após o final oficial da colonização portuguesa e o término de mais de vinte anos de ocupação violenta por parte da Indonésia, a sociedade timorense tem vivido um período de transições, com a restauração da independência e a organização das primeiras eleições presidenciais, em 2002. Essas transições pós-conflito contam com acordos internacionais em diferentes áreas consideradas estratégicas para o desenvolvimento do país. Uma dessas áreas é a educacional, na qual o Brasil participa com o Programa de Qualificação de Docente e Língua Portuguesa. Desde 2005, o programa envia professores brasileiros para trabalhar em Timor com o objetivo de formar, em Língua Portuguesa, professores timorenses de diferentes níveis de ensino. Nesse contexto, estivemos em Timor-Leste durante dois meses do ano de 2014 para investigar sentidos sobre educação, ciências e tecnologias na coletividade acadêmica timorense, com a qual o Brasil coopera. Uma de nossas ações consistiu em uma mesa redonda sobre educação e tecnologias sociais na Universidade Nacional Timor Lorosa’e. Os debates gerados naquela ocasião confirmaram algumas percepções inicias de que tanto educação quanto tecnologias são comumente entendidas genericamente, de modo linear e determinista do desenvolvimento econômico e social do país, cujo lema fundamental pós-conflito é a ideia de paz e desenvolvimento. Contudo, dos debates gerados naquele momento também surgiram demandas sobre possibilidades e limites nas articulações entre a produção de conhecimentos tradicionais timorenses e a produção científica atual, sobretudo em relação à educação científica e tecnológica. Tendo em vista a perspectiva educacional dos estudos CTS latino-americanos, um caminho possível apontado é uma perspectiva crítica de tecnologias sociais, que problematize a inclusão, considere a cidadania sociotécnica e mobilize para a autoria em ambientes educacionais.
A produção de conhecimentos em Ciência e Tecnologia (C&T) das mulheres cientistas do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais – CEFET-MG
Raquel Quirino Gonçalves (Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais - CEFEt-MG), Fabio Vasconcelos Lima Pereira (CEFETMG)Grupo Temático: Gênero, Ciência e Tecnologia: avanços e desafios
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Quando se trata da produção e divulgação de conhecimentos científicos e tecnológicos, estudos específicos com o recorte de gênero não são comuns nos meios acadêmicos. São raras as pesquisas que abordam a perspectiva das mulheres pesquisadoras, deixando-as quase invisíveis nas áreas técnicas e tecnológicas. Especificamente no Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais - CEFET-MG, instituição secular de ensino e pesquisa nas áreas de C&T, há uma predominância histórica de professores pesquisadores do sexo masculino, produtores de conhecimentos científico e tecnológico, tanto em seus programas de pós-graduação, quanto nos grupos de pesquisa cadastrados no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq. Nos últimos anos, no entanto, evidencia-se uma crescente inserção das mulheres na instituição, com expressiva participação na produção de conhecimentos em C&T. Este artigo se insere nessa discussão emergente da participação das mulheres na produção científica e tecnológica e apresenta um levantamento realizado por meio de estudos documentais da produção e divulgação científica e tecnológica das pesquisadoras docentes do CEFET-MG, objetivando problematizar sobre a baixa inserção das mulheres nas áreas tecnológicas e, sobretudo, dar visibilidade à participação das pesquisadoras na produção e divulgação do conhecimento científico e tecnológico.
Jogos móveis de localização e suas agências em um inquérito sobre os modos de existência da escola
Raquel Salcedo Gomes (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)Grupo Temático: Jogos digitais e suas relações com a Ciência, Tecnologia e Sociedade
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Que agências um jogo móvel locativo desenvolvido para ser jogado no Jardim Botânico de Porto Alegre exerce no decorrer de um projeto escolar interdisciplinar? Que agências exerce a produção de um jogo locativo em uma escola? Como tais agências possibilitam instaurar modos de existência não-modernos à instituição escolar? Tais indagações emergem na presente pesquisa, que intenta a proposição e o acompanhamento de um projeto escolar interdisciplinar com jogos móveis de localização como ponto de entrada nas redes da vivência educacional e método de inquérito sobre outras ontologias da escola. A pesquisa está sendo desenvolvida em uma escola privada da região metropolitana de Porto Alegre, com 81 alunos do 7o ano do ensino fundamental e seus 26 professores. A primeira etapa compreendeu incursões ao parque Jardim Botânico com professores e estudantes, durante as quais o território do parque foi explorado através de visitas guiadas por monitores de educação ambiental e mediante experiências com o jogo locativo Um Dia no Jardim Botânico. O jogo, criado pelo grupo de pesquisa Ecologias e Políticas Cognitivas (NUCOGS), integra o projeto Oficinando em Rede: processos de aprendizagem e jogos locativos, cujo objetivo maior é o mapeamento dos processos de aprendizagem experimentados em seu transcurso (MARASCHIN, 2013). A segunda etapa consiste na realização de ações pedagógicas interdisciplinares geradas a partir das vivências no Jardim Botânico e deve culminar com o desenvolvimento de um jogo móvel locativo para ser jogado no próprio território da escola, como dispositivo de acolhimento e aprendizagem sobre a instituição, seus espaços e história a novos alunos e pais que se agregam à comunidade escolar. Inserida nestes dois projetos, o da escola e o da universidade, esta pesquisa fundamenta-se na teoria ator-rede, inspirando-se, mais especificamente, no projeto AIME (An Inquiry into Modes of Existence) de Bruno Latour. Acompanhando os desdobramentos de ambos projetos, observamos como os jogos, actantes não-humanos, ativam outros fluxos de movimentos, provocam desvios, loops e retornos, mediando e intermediando nossas proposições e o modo como pensamos ontologias alternativas à instituição escolar.
"Útero de substituição: entre o natural e o fabricado."
Raquel Veggi Moreira (UENF)Grupo Temático: Ciência e direito na coprodução dos fatos tecnocientíficos
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Vivemos em um mundo influenciado pela ciência e tecnologia, onde podemos incluir a reprodução assistida. No entanto, tais “avanços” não ocorrem sem consequências para a sociedade. O objetivo deste estudo será o de abordar questões inerentes à reprodução assistida, com ênfase no útero substituto, buscando elucidar questões controversas entre o que é natural e o fabricado. A reprodução assistida é a denominação dada a um conjunto de técnicas que auxiliam o processo da reprodução humana, criando condições para casais considerados inférteis, impossibilitados de terem filhos por meios naturais. Se de um lado não há lei específica, de outro há regulamentação pelo CFM para tais procedimentos, adotando normas éticas para a utilização das técnicas de reprodução assistida, a Resolução nº 2.013/13, como dispositivo deontológico a ser seguido pelos médicos. Mesmo com ausência de uma Lei, há uma visão relativamente pacificada sobre a permissibilidade destes procedimentos. E, outra questão é a definição de regras para o uso do embrião na pesquisa científica, indagando se ele é sujeito humano ou não. São questões reflexivas entre o que é natural e o fabricado, numa era de grandes desafios biotecnológicos, que fatalmente imprimem um estado de constantes turbulências, potencializadas pela a criação e a invenção, entre o natural e o “não-natural”, entre a moral e a ética. Quanto à natureza jurídica do útero substituto, existem entendimentos diferentes, entre eles, a prestação de serviço realizada através de um “contrato de gestação”, e outro, um comércio de pessoas, sendo ilegal qualquer estipulação a respeito, pois seria nulo o contrato por ter objeto ilícito (ALMEIDA, 2000). Ainda assim, surgem debates conflituais, porque a entrada de um novo ser na vida e comunidade humana deixa de ser natural, deixa de ser “dada” e ingressa na ordem do “feito”; torna-se um ato de vontade materializado, não mais na união corporal de dois seres, mas em técnicas, alheias ao controle do casal. Essa alteração na ordem natural dos acontecimentos provoca interrogações essenciais sobre o sentido e o valor de tais poderes, gerando no seio da sociedade uma série de conflitos (LEITE, 2005).
Utilizaremos a metodologia de revisão de literatura, a partir de levantamento bibliográfico. Por isso, esperamos contribuir positivamente para a literatura dos estudos de ciências-tecnologias-sociedades.
Revelada ou impressa: considerações sobre a técnica e o suporte da imagem fotográfica
Regiane Aparecida Caire da Silva (Universidade Federal do Maranhão)Grupo Temático: Ciência e Techné na História
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A reprodução da imagem encontrou na gravura o seu principal divulgador por volta do século XV. Matrizes de madeira, metal, pedra até o século XIX foram os meios encontrados por impressores/editores, artesãos e artistas para multiplicar a imagem impressa em livros ou em gravuras soltas. Entre os processos mais conhecidos, nesse período, destacam-se a xilografia, calcografia e litografia. Niépce (1765-1833) aliou experimentos químicos com seu conhecimento sobre o processo litográfico e no inicio do século XIX consegue captar e fixar a imagem, sem o auxilio da mão humana para a confecção da matriz. Neste começo, o processo fotoquímico foi denominado Fotogravura, com o desenvolvimento do papel fotográfico como suporte da imagem fixa passou a ser denominada Fotografia e se distanciou das técnicas manuais da gravura. Este trabalho pretende abordar sobre a continuidade da reprodução da imagem com recorte no processo fotográfico na sua história, técnica e restauro. Refletir sobre o processo da imagem revelada quimicamente – analógico - e o processo digital – imagem impressa - e instigar como elementos técnicos tão diversos podem ser generalizados com o mesmo nome: Fotografia.
Reflexões sobre o determinismo tecnológico nos estudos sociais em ciência, tecnologia e sociedade
Rejane Cioli (Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR), Flávia Granzotto Fachini (Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR), Francis Kanashiro Meneghetti (UTFPR)Grupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
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A emergência da tecnologia é frequentemente relacionada com a Revolução Industrial e com todo o progresso e transformações que esse período originou, maravilhando os indivíduos com o bem estar e conforto proporcionados pelas grandes invenções. São comuns os discursos que entendem a tecnologia por sua função e que consideram o objeto tecnológico neutro e apoiam a ideia de que o desenvolvimento tecnológico é o grande propulsor do progresso e avanço das civilizações. O trabalho apresenta algumas contribuições dos estudos em Ciência, Tecnologia e Sociedade que fomentaram debates a favor de uma Política Nacional de Ciência e Tecnologia mais democrática e coerente com os valores sociais e regionais de um país e expor algumas abordagens sobre os estudos sociais que culminaram em críticas aos trabalhos em CTS a respeito do conceito de “determinismo tecnológico”. Como recurso metodológico utilizou-se a revisão de literatura, buscando a perspectiva de autores como: Feenberg, Dagnino e outros.
A fundamentação do trabalho dar-se-á principalmente sob as ideias de Feenberg. Na visão do “determinismo tecnológico” a tecnologia tem sido apresentada como a força motriz da sociedade, como sinônimo de produtividade e desenvolvimento através da incorporação de um crescente progresso técnico na produção, sendo ela responsável pela superação dos males da sociedade. A base da teoria crítica de Feenberg está no conceito de racionalização tecnológica que ele chama de teoria da instrumentalização. Apresenta a tecnologia como um artefato sociocultural e que, por isso, recebe influências históricas, políticas e culturais, não sendo constituída apenas de técnica. Destaca que a tecnologia também surge como ambiente possível para as disputas de diversas ordens, social, cultural, política ou econômica, no qual os sujeitos interagem, através de relações de poder para elaborar modos de vida.
Nesse contexto, as Políticas de Ciência e Tecnologia apresentam uma importância crescente em diversos países e são frequentemente apontadas como estratégicas para a promoção do desenvolvimento nacional, esse trabalho busca também, questionar a forma e os critérios sobre os quais essas são elaboradas e se de fato são direcionadas e atendem as demandas e objetivos da sociedade.
Teoria ator rede e cotidiano escolar: refletindo sobre o papel dos objetos na escola
Rejane Peres Neto Costa (UNIRIO)Grupo Temático: Pedra, planta, bicho, gente... coisas: encontros da teoria ator-rede com as ciências ambientais
Resumo
O trabalho aqui apresentado pretende descrever e refletir sobre o papel dos objetos no cotidiano escolar. Para tanto foi utilizado como referencial teórico metodológico o antropólogo francês Bruno Latour. Seus estudos se filiam à antropologia das ciências e das técnicas, que considera as contribuições dos sujeitos e dos objetos, híbrida de natureza e cultura, para a constituição e produção da realidade. A tentativa de dar voz a esses entes, os objetos que se expressam de outras formas com outras linguagens e códigos, é a pretensão deste estudo, em uma perspectiva mais democrática, dialógica e plural de construção de conhecimento. O reconhecimento da aprendizagem pelos sentidos, pelo corpo todo que é marcado e marca o mundo, das diferentes esferas que possuímos e interagimos no mundo: emoção, sensibilidade, cognição. Pretende descrever e compreender que aprendemos não somente com o intelecto, mas com nossa imersão no mundo, com o corpo todo, com o sensível, com as experiências compartilhadas por uma rede composta de humanos e não-humanos e através do tempo. Essa perspectiva considera que o conhecimento não é linear nem unidirecional, ao contrário, ele circula e sua construção realiza-se em diferentes e variados espaços e com atores científicos e não-científicos.
A internacionalização da “sociedade do conhecimento” e as possíveis perspectivas para o Programa Ciências sem Fronteiras
Renata Pereira Barreto (IFRN)Grupo Temático: Política de Ciência e Tecnologia
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Resumo
A pesquisa delineada traz discussões teóricas sobre a ideia de internacionalização da sociedade do conhecimento, contrapondo visões diferentes sobre o que hoje se conceitua como “sociedade do conhecimento”, e a perspectiva do Brasil diante deste cenário. Em especial, a análise permeia a política educacional em ciência e tecnologia diante da assim chamada “sociedade do conhecimento”, com o objetivo de demostrar as possíveis implicações do Programa Ciências sem Fronteiras na sociedade brasileira, implementado pelo governo em 2011. O estudo foi realizado a partir de dados bibliográficos: considerando teóricos como Castells, Dagnino e Schwartzman, e documental, através da análise de textos regulamentares e de fontes governamentais (Banco Mundial; Ministérios de Educação, do Planejamento e de Ciência e Tecnologia e Inovação do Brasil e Conselho Nacional de Pesquisa Científica do Brasil-CNPq). A recente implementação do Programa Ciências sem Fronteiras requer uma pesquisa exploratória e descritiva. No primeiro caso, por ser um tema ainda pouco discutido academicamente, cujos resultados são ainda parciais e preliminares, em vista do tempo de implementação do Programa; no segundo, por apresentar as possíveis perspectivas quanto ao Programa e sua implementação no Brasil. Como resultado, conclui-se que a análise de uma política pública é necessária durante todo o seu ciclo político, de modo que, ao longo de sua implementação, é fundamental a apresentação dos resultados preliminares que possam vir a contribuir para o aperfeiçoamento dessa política. No caso do Programa Ciência sem Fronteiras, fica evidenciado ainda seu emparelhamento com as perspectivas do cenário de internacionalização implementado pela sociedade do conhecimento.
Controvérsias sobre a ética na área de saúde
Renato Cerceau (UFRJ)Grupo Temático: Saúde, Trabalho e Desenvolvimento
Resumo
A produção científica quando envolve seres humanos deve observar normas estabelecidas pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa – CONEP. Contudo, não é incomum a ocorrência de entraves provocando conflito de interesses, gerando controvérsia entre os atores envolvidos e se anulando uma à outra de forma a não viabilizar o estudo. Desenrolar este “nó” é o objeto deste estudo a luz da teoria ator-rede. Neste relato, apresentamos as incoerências e as dificuldades para o estudos no período de 2008 a 2011, seguindo os passos de um pesquisador que atuava como servidor público. Abriremos a caixa-preta da tecnociência das experimentações a partir dos dados históricos obtidos. A controvérsia em questão começa com a aprovação do protocolo de pesquisa, cuja solicitação deveria ser encaminhada por meio do sistema SISNEP (www.saude.gov.br/sisnep), sendo necessário preenchimento de ‘Folha de Rosto’ e projeto de pesquisa, com preenchimento dos dados do pesquisador e de sua instituição corresponsável. A primeira barreira encontrada foi o uso do CNPJ da Instituição. A autarquia em questão não possui nenhum interesse na realização de pesquisas pelos seus quadros além de não pode ser categorizada como instituição de pesquisa. O enquadramento como 'pesquisador independente' representou um problema visto que o pesquisador não possuía nenhum vínculo ativo com nenhuma instituição de pesquisa. Atender ao interesse particular de desenvolvimento de pesquisa empregando os dados institucionais. A autarquia não possui interesse que seus dados sejam analisados. Finalmente, a autarquia ‘exige’ que a apresentação da aprovação do projeto no SISNEP para autorização do uso de seus dados . Tendo tentado conduzir uma pesquisa particular' não foi possível ao pesquisador realizar a inserção do pedido no sistema de informação. Durante 3 anos foram enviadas diversas comunicações ao CONEP. Como não houve aprovação da pesquisa, a instituição não liberou os dados. Sendo assim, a realização da pesquisa e o processo de negociação entre as partes, uma vez estudas a luz da teoria ator-rede nos permitirá o entendimento das traduções e translações dos interesses dos diferentes atores envolvidos (Latour), humanos e não humanos, assim como o fechamento ou não desta controvérsia. Aqui serão observadas discussões em andamento, brigas acaloradas e uma controvérsia não acabada – típicas dos estudos CTS.
Abordando as mudanças climáticas através de etnografia pós-normal
Renzo Taddei (Universidade Federal de São Paulo)Grupo Temático: Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia e as Mudanças Climáticas
Resumo
Esta comunicação explora as tensões e conexões possíveis entre o conceito de ciência pós-normal (Funtowicz and Ravetz 1991) e a aceitação tácita de certa(s) realidade(s) física(s) (ortodoxia, ontodoxia) pelas ciências sociais em geral, e pelo fazer etnográfico em particular. Usando materiais e discussões advindas tanto do pensamento Ameríndio quanto do Afro-Brasileiro sobre a(s) natureza(s) e o(s) papel(is) das ciências e das técnicas atmosféricas no contexto das mudanças climáticas, a pesquisa busca explorar o tópico das transformações atmosféricas como instancia privilegiada do desenvolvimento do debate sobre o tema da anarquia ontológica.
O nacional-desenvolvimentismo de Álvaro Vieira Pinto e o neodesenvolvimentismo do governo Lula: permanências, rupturas e contradições.
Ricardo Afonso Ferreira de Vasconcelos (INSTITUTO FEDERAL DO PARÁ), Mario Lopes Amorim (UTFPR)Grupo Temático: Álvaro Vieira Pinto
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As décadas de 1950 e 1960 constituíram o contexto sócio histórico no qual se expandiu a produção intelectual do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), que foi a mais importante referência teórico-ideológica do pensamento nacional-desenvolvimentista em nosso país naquela época. E dentre os vários pensadores vinculados a este Instituto destaca-se a produção teórica de Álvaro Vieira Pinto, que discutiu a referida temática do desenvolvimento econômico nacional. Por conseguinte, este artigo tem como objetivo promover uma breve reflexão a respeito das concepções de Nacional Desenvolvimentismo presentes na produção teórica de Álvaro Vieira Pinto, destacando a ciência e tecnologia, bem como, o fomento a educação popular como requisitos essenciais para o desenvolvimento socioeconômico do país. Logo, pretende-se discutir a contribuição teórica de Vieira Pinto para o debate em torno do desenvolvimento econômico-industrial e científico-tecnológico do Brasil, como parte de um projeto nacional de superação da condição de subdesenvolvimento de nosso país, bem como, de inserção do Brasil no contexto da economia mundial em condições mais vantajosas. Além disso, se discute a retomada de alguns dos pressupostos teóricos do pensamento desenvolvimentista a partir da política econômica neodesenvolvimentista do governo de Lula (2003-2010), especialmente durante o seu segundo mandato presidencial, buscando assim compreender os aspectos de permanência, ruptura e contradição deste novo ciclo desenvolvimentista em relação ao pensamento nacional desenvolvimentista preconizado por Vieira Pinto. E neste sentido, se utilizam os pressupostos do materialismo histórico-dialético para o seu embasamento teórico-metodológico, ressaltando que a opção por este método de abordagem se justifica em decorrência do manuseio de categorias de análise, como por exemplo, trabalho, contradição, ruptura, mediação e ideologia. E também considerando que, na referida perspectiva marxista, as categorias significam conceitos básicos que pretendem refletir os aspectos gerais e essenciais do real.
A importância de uma cooperativa ter estratégias de relacionamento e comunicação com seus cooperados
Ricardo Lemos Pimenta (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ)Grupo Temático: Educação e Trabalho
Resumo
Este artigo se propõe a realizar um levantamento bibliográfico acerca da importância de uma cooperativa ter estratégias de relacionamento e comunicação com seus cooperados evidenciando a necessidade do envolvimento de todos através da participação, da percepção e entendimento dos direitos e deveres enquanto associados e clientes. As relações estratégicas da cooperativa com os cooperados tendem a fortalecer o desenvolvimento local e constrói relações de confiança para que o grupo alinhe suas ideias e execute seus planos de maneira eficiente e sinérgica e, atue como agente de mudança da sociedade que está inserida, seja ela local, regional ou global, desenvolvendo as pessoas, potencializando suas qualidades e competindo de igual para igual no mercado capitalista. Para tanto, será elucidado a história e os conceitos de cooperativismo, cooperativas sociais e marketing de relacionamento e comunicação e como é possível, através de uma visão multidisciplinar, desenvolver uma tecnologia social que atenda a questão do relacionamento entre cooperativas e cooperados.
Estudo de Métodos Computacionais para Aportamento Molecular
Ricardo Pires Mesquita (COPPE/UFRJ)Grupo Temático: Seguindo cientistas em ação - desafios metodológicos das ciências de dados e das neurociências em CTS.
Resumo
A pesquisa sobre aportamento (docking) molecular integra estudos em química medicinal e teórica, com motivação, principalmente, na possibilidade de se otimizar, por meio de metodologias computacionais, o processo de desenvolvimento de novos medicamentos.
O processo de docking molecular consiste em uma tentativa de se prever a forma como uma determinada molécula ligante irá se acoplar na região de ligação de uma determinada molécula receptora, e o quão boa é esta ligação, avaliada por meio da quantificação da afinidade de ligação entre o receptor e o ligante (Magalhães, 2007).
Para isso, o problema de docking é resolvido em duas etapas. Em um primeiro momento, aplica-se um algoritmo para investigar a hiper-superfície de energia com o intuito de se encontrar a conformação e a orientação da molécula ligante em relação ao sítio receptor. Depois, procura-se prever o grau de afinidade de ligação do complexo receptor-ligante, através da aplicação de uma função de avaliação (scoring).
O problema de docking é de grande complexidade, pois é preciso avaliar um grande número de possíveis soluções para que então uma solução ótima possa ser encontrada. Para isso, vários métodos computacionais, que variam em relação ao grau de flexibilidade das moléculas e ao método de otimização empregado na investigação da hiper-superfície de energia, têm sido implementados na tentativa de se buscar tais soluções (Kitchen et al., 2004).
Este estudo se propõe a investigar a evolução dos algoritmos e métodos computacionais empregados na busca de soluções para este problema, apresentando a sequência cronológica, as conquistas e as principais questões em aberto ou parcialmente resolvidas.
An archaeology of carbon markets
Richard J.A. van der Hoff (Universidade Federal de Minas Gerais), Raoni Rajão (UFMG)Grupo Temático: Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia e as Mudanças Climáticas
Resumo
Since the 2000s, carbon markets have emerged as increasingly appealing instruments for addressing global climate change. The debates on these instruments are fraught with tensions and conflicts between advocates adhering mostly to economic reasoning, and critics emphasizing the social and environmental limitations of market-based approaches. Despite these tensions, however, carbon markets continue to thrive throughout the world. Responding to the predominantly economic arguments in the advocacy of carbon markets, this research paper aims to understand the conditions that underpin the existence of carbon markets, and which renders their advocacy legitimate, by using the Foucauldian notion of ‘discursive formation’. More specifically, a description of the discursive formation of carbon markets elucidates the degree to which specific statements are legitimate more than others, which accounts for their very existence. The results indicate that the legitimacy of this existence stems from three interconnected conditions. First, the social understanding of the natural environment conceptualizes nature as object or collection of objects that serve utilitarian purposes, rather than the larger system that encloses human societies. Furthermore, these human societies constitute a collection of individuals, rather than a social mass, which are equally approached in an objectified manner. Finally, social relations between individuals and objects occurs primarily through the application of monetary values. The combination of these relations denote a discursive formation characterized by ‘ruptured dependency’, which postulates the notion of full access to the products and services of the social and natural environmental without requiring a permanent attachment.
Jogos digitais na educação uma abordagem do jogo digital educativo Castelo Matemágico
Rodolfo Donisete Zanette (UFSCAR)Grupo Temático: Jogos digitais e suas relações com a Ciência, Tecnologia e Sociedade
Resumo
Os jogos sempre fizeram parte da vida do ser humano desde os tempos mais antigos, futebol, jogos olímpicos, jogos de cartas são apenas alguns passatempos que passa de geração a geração. Os jogos são uma atividade divertida e atrai as pessoas por seu caráter lúdico. Com o advento das tecnologias digitais os jogos evoluíram e estão fazendo, cada vez mais, parte da vida da sociedade. Visto os videogames, os jogos de computadores, “joguinhos” de celular entre outros. Observa-se que há inúmeras possibilidades de aproveitar os recursos que as tecnologias digitais proporcionam para as pessoas, inclusive os jogos digitais. As tecnologias digitais aplicadas em ambientes educacionais proporcionam diferentes possibilidades de ensino aprendizagem. No entanto, até que ponto os jogos digitais podem ser utilizados como ferramenta pedagógica ? será que eles podem influenciar os estudantes a buscar mais o conhecimento? Essas perguntas atiçam o pensamento de muitos educadores, os quais alguns podem achar que os games podem atrapalhar a educação, enquanto para outros os jogos digitais podem ser mais uma ferramenta pedagógica com grande potencial a ser explorado. O fato é que os jogos em si possuem um carácter lúdico que atrai seus jogadores, os quais muitos podem ficar minutos ou até horas se entretendo, nesse contexto faz-se a seguinte indagação: porque não incentivar o uso de games nas escolas, para despertar nos alunos o gosto incessante pelo conhecimento? Essas ferramentas digitais podem ser utilizadas em várias matérias, como matemática, física, música, história, no entanto para aumentar investimento nessas áreas é necessário que haja maior interesse tanto por parte dos educadores quanto de seus gestores. Esse trabalho tem por objetivo explorar a necessidade da utilização dos jogos digitais nas escolas como ferramentas lúdicas eficazes, e utiliza como exemplo o jogo digital Castelo Matemágico, que foi desenvolvido pelo autor em um trabalho de conclusão de curso. O Castelo Matemágico tem por objetivo incentivar as crianças de 2º do fundamental a compreenderem melhor a noção de números e as operações matemáticas básicas: adição e subtração. O game foi idealizado para ser educativo sem perder o caráter lúdico.
O fim do jornal? Interpretações possíveis para um meio em tempos de crise
Rodolfo Stancki Silva (UTFPR), Luciana Martha Silveira (UTFPR)Grupo Temático: Tecnologia e mediações
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O escritor Philip Meyer (2007) decretou a morte dos jornais impressos para setembro de 2043. A reflexão parte do princípio de que os leitores da mídia em papel não estão se renovando e, sem audiência, os veículos perdem a receita e correm o risco de desaparecer. Desde a virada do século, o tema desperta preocupações de empresários e profissionais do ramo, que temem que isso possa ser também o fim do mercado de notícias.
Nas últimas décadas, as novas tecnologias têm feito com que os consumidores de informações migrem para a internet, onde a disposição de conteúdo é mais ampla do que no papel. Um dossiê de 2013 da Revista de Jornalismo ESPM apresenta um panorama que mostra que todo o modelo de negócio envolvendo os jornais precisa se adaptar, pois o foco na mídia física já não faz tanto sentido. “Nos próximos anos, vamos ter produtos híbridos, impresso e digital. Mas a via digital pode ser inevitável se a publicidade no papel continuar em queda”, escreve Stephen Shepard (2013, p. 30) em um dos ensaios.
A transição do impresso para o digital é apenas uma etapa na evolução no jornal enquanto dispositivo tecnológico. O mercado editorial que nasce com a popularização da tecnologia de impressão, celebrada na figura de Johannes Gutenberg em 1450, levaria séculos antes de chegar ao formato dos jornais de hoje. Na Roma Antiga, documentos publicados em praças públicas, as Actas Diurnas, já traziam notícias de interesse social (PARRY, 2012). No século XVII, as chamadas “folhas volantes”, com informações moralistas e religiosas, cumpriam um papel muito semelhante (TRAQUINA, 2005). Foi somente com a revolução industrial e a vida urbana em franca expansão que o jornal começou a ganhar forma que tem hoje. Com a rotativa, popularizada na segunda metade do século XIX, o barateamento da impressão e do tipo de papel – aliado a uma demanda popular – fez com que o produto se tornasse um consumo das massas (GIOVANNINI, 1987).
A internet não deve acabar com o jornal, desde que o interpretemos como uma mediação tecnológica baseada na informação e que não depende de uma plataforma física, mas de sua função social. Sempre existirá um mercado para quem deseja relatar notícias, pois a sociedade interage a partir dessas trocas para garantir a sobrevivência de setores como a política e a economia. O fato de o meio ser em papel ou digital é apenas um detalhe.
A Política Nacional de Informática brasileira e sua aproximação à noção de "sociedade da informação": uma abordagem comparada
Rodrigo Costa Japiassu (Tribunal Regional Eleitoral/RJ)Grupo Temático: Dimensões da História e Memória da Informática no Brasil
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Trata-se de uma pesquisa bibliográfica de caráter qualitativo que, baseada em aportes teóricos das áreas de Sociologia, Ciência Política, Ciência da Computação e Ciência da Informação, objetiva abordar a elaboração e desenvolvimento da Política Nacional de Informática (PNI) brasileira no período entre 1984 e 2004 à luz da emergência da noção de "sociedade da informação" em âmbito internacional, verificando-se as possíveis influências desta noção sobre a elaboração do Programa Brasileiro para a Sociedade da Informação. Utilizando-se de metodologia comparada, buscou-se verificar e analisar os aspectos tecnológicos, econômicos e sociais que influíram na elaboração da PNI e da noção de "sociedade da informação". Conclui que o viés tecnoeconômico desta noção influencia significativamente o desenvolvimento da PNI brasileira, em especial a partir da década de 1990, através de sucessivos incentivos fiscais para o desenvolvimento do mercado da informática brasileiro. Contudo, também verificaram-se reduzidos impactos sociais mesmo entre os consumidores dos artefatos tecnológicos, sinalizando para uma necessidade de maior interação da PNI com políticas de informação que privilegiem a elaboração e apropriação de conteúdos por estes consumidores, em um processo considerado como "cidadania digital".
Artefatos Arquitetônicos: Contribuições sobre a Teoria Ator-Rede às Pesquisas em Arquitetura
Rodrigo das Neves Costa (PROARQ/FAU/UFRJ), Giselle Arteiro Nielsen Azevedo (FAU / UFRJ)Grupo Temático: Qualidade dos lugares e paisagens híbridos
Resumo
Este artigo discute contribuições da Teoria Ator-Rede (TAR) à arquitetura e ao projeto a partir dos estudos CTS. Acreditamos que esta reside em fomentar uma nova perspectiva de pensamento e análise do objeto arquitetônico em sua complexidade ao tratá-lo como artefato sociotécnico. Essa perspectiva traz desdobramentos: (a) considerar o processo de construção, antes de tornar-se uma caixa preta; (b) entendê-la como ator e rede simultaneamente; (c) descrever a prática profissional ao invés de tomar o discurso dos arquitetos. Investigar a construção dos lugares, compreendendo-os como uma “rede de interfaces sociotécnicas” (RHIENGANTZ; PEDRO, 2012) é voltar-se ao processo, às ações, conexões e interações, à “arquitetura em ação” (FALLAN, 2008: 88). Há duas possibilidades: durante a fase de construção (planejamento, design e construção), ou ainda, no período de uso e ocupação. É possível também compreender que há negociações entre grupos distintos e a incorporação de determinadas características à edificação é um efeito das diversas traduções e agenciamentos presentes (GIERYN, 2002). Outra contribuição é dada pela consideração da edificação como ator e rede simultaneamente, permitindo superar uma dicotomia tradicionalmente adotada nas pesquisas em arquitetura: analisar as edificações como produto ou como processo. Os edifícios são produtos socioculturais, influenciando e sendo influenciados simultaneamente. Isso vai de encontro aos estudos das relações pessoa-ambiente, notadamente a avaliação pós-ocupação e os projetos participativos. Por fim, focar na prática profissional é outra questão relevante. Na perspectiva da TAR, não podemos nos basear apenas no discurso dos arquitetos para explicar sua prática, pois não é atividade autônoma, mas segui-los em ação. Assim, a edificação deixa de ser um produto específico e passa a ser uma construção sociotécnica: o arquiteto não deve ser considerado como ator preponderante no processo – não há dominância e exclusividade a priori.
Amanualidade em Álvaro Vieira Pinto: ação, técnica e trabalho
Rodrigo Freese Gonzatto (UTFPR), Luiz Ernesto Merkle (Univerisidade Tecnológica Federal do Paraná)Grupo Temático: Álvaro Vieira Pinto
Resumo
O conceito de amanualidade é mencionado nas obras de Álvaro Vieira Pinto, como Consciência e Realidade Nacional (1960) e Ciência e Existência (1969), e pode ser identificado de forma indireta em suas demais obras. Este conceito está costurado a diversas noções do autor, como as de ação, técnica e trabalho, que permeiam sua compreensão de desenvolvimento, indivíduo e sociedade. Ao longo de sua obra, Vieira Pinto deixa de usar o termo 'amanualidade', mas continua utilizando os fundamentos desta, enfatizando as noções de trabalho, situação e mediação, como em seu livro O Conceito de Tecnologia (2005) e em El pensamiento crítico en Demografia (1973). Esta mudança pode ser entendida como uma busca em realçar a compreensão histórico-dialética da relação entre sujeitos e realidade. A amanualidade é um fundamento originado na fenomenologia e nas filosofias da existência europeias, reformulado por Vieira Pinto com base no conceito de trabalho, aproximando-o do materialismo histórico. No final da década de 1950, quando ele escreve sobre a amanualidade, esta se mostrava como categoria dialética, útil para uma compreensão de desenvolvimento das nações subdesenvolvidas. A amanualidade indica que o ser humano age com os artefatos disponíveis em seu entorno, e que, ontologicamente, também são sua realidade circundante. Entretanto, diferente de outras acepções de amanualidade, o autor se aprofunda em como, ao produzir e desenvolver para si a materialidade deste mundo envolvente, o ser humano produz a si mesmo. O filósofo estende a relação entre a ação de sujeitos com e em artefatos, considerando-os como feitos pelo trabalho humano e sendo necessário considerar a historicidade das técnicas, dos modos de fazer e do mundo construído. Esta concepção oferece um olhar ampliado para as práticas e os saberes, indicando o manuseio de artefatos como situado, histórico, sempre em processo e elaboração, dialeticamente. Ao indicar, pela noção de grau de amanualidade, a não-contemporaneidade dos conhecimentos e habilidades entre diferentes sujeitos, contextualiza o desenvolvimento de cada grupo social e reforça a necessidade de que cada trabalhador e trabalhadora sejam considerados a partir de suas próprias circunstâncias sócio-históricos, indicação útil para a problematização de fundamentos teóricos em tecnologia em um viés crítico de debate em Ciência, Tecnologia e Sociedade.
Contribuições teóricas sobre o estudo de redes de conhecimento interorganizacionais
Rodrigo Müller (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), Faimara do Rocio Strauhs (Universidade Tecnológica Federal do Paraná)Grupo Temático: Elementos e dinâmicas de desenvolvimento no contexto das cidades do século XXI
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As redes de conhecimento interorganizacionais podem ser vistas como espaços de interação entre os mais variados grupos e/ou segmentos da sociedade, tendo em vista a cooperação, o compartilhamento de informações, conhecimentos e experiências, e a elaboração de projetos diversos. Pela descrição de seus conceitos, é possível perceber a importância da existência das redes de conhecimento nos mais variados ambientes, bem como a necessidade de estruturação de suas práticas e metodologias. Neste contexto, esta pesquisa busca identificar as características do ambiente de cooperação interorganizacional e das redes de conhecimento e investigar como ocorre a criação do conhecimento organizacional dentro das redes de cooperação interorganizacional. A pesquisa desenvolve-se sob a metodologia teórico-exploratória, buscando identificar na literatura específica, por meio de uma pesquisa bibliométrica realizada em bases de dados nacionais e internacionais, os principais constructos da área, bem como identificar, a partir destes, as características dos ambientes de cooperação e as principais metodologias e ferramentas utilizadas para a criação e compartilhamento de informações e conhecimentos. Após a coleta de dados e a análise prévia dos materiais encontrados, verifica-se que o estudo de redes de conhecimentos é recente, iniciando-se a partir da década de 1990, e possui, ainda, poucos trabalhos empíricos sobre as redes interorganizacionais. No cenário brasileiro, a pequena quantidade de trabalhos encontrados, por meio da pesquisa bibliométrica, demonstra que o tema ainda é incipiente, carecendo de estudos e pesquisas direcionadas ao cenário nacional. Já no campo internacional, vê-se uma maior quantidade de trabalhos publicados, no entanto com poucas abordagens empíricas, o que vem sendo alterado nos últimos dez anos, apresentando resultados concretos dos estudos de redes. Após estas análises é possível perceber que as redes de conhecimento interorganizacionais são dinâmicas e dependem da criação de laços de confiança entre as empresas participantes. É possível ainda identificar que a maioria das redes interorganizacionais atuais se configura a partir da identificação de necessidades semelhantes entre empresas diferentes, o que indica uma posição de abertura destas organizações para o trabalho conjunto e o compartilhamento de recursos, informações e conhecimentos.
Inovação e Expertise
Rodrigo Ribeiro (UFMG)Grupo Temático: Estudos Sociais da Tecnologia e Expertise na Engenharia
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Existe uma tensão entre inovação e expertise. Por um lado, a expertise é responsável por maiores índices de produtividade, mais segurança e melhorias incrementais. Porém, a manutenção continua de uma expertise pode levar a “armadihas de competência” (March, 1995), quando empresas podem perder sua competitividade por inovações que ultrapassam, substancialmente, a maneira de se produzir algo—ou mesmo o próprio produto manufaturado. Isto significa que há uma necessidade constante de se trabalhar com pesquisa e desenvolvimento ou, pelo menos, de se monitorar as inovações propostas em seu mercado. Por outro lado, inovações são sempre acompanhadas “lacunas de competência”, ou seja, pela necessidade de se desenvolver uma expertise local para a produção e/ou uso da inovação proposta. Isto pode implicar em maiores custos, riscos e em uma longa curva de aprendizado. O nível desta “tensão” entre expertise e inovação vai variar, no caso de plantas industriais, de acordo com o grau de inovação pretendido. O desafio, portanto, é em encontrar o grau de inovação de uma planta industrial na prática. Este artigo apresenta como realizar tal análise pela classificação das tecnologias em três tipos: “fronteira absoluta”, “fronteira relativa” e “estabilizada”. Esses tipos de tecnologia distinguem entre os casos onde é possível que profissionais experientes antecipem e previnam problemas e acidentes e aqueles onde isso não é possível. Este artigo relata, assim, uma tentativa de analisar o grau de inovação de uma planta industrial de mais de US$8 bilhões localizada em uma área remota do Brasil e cujo start-up está previsto para 2017, e os desafios por detrás da aplicação deste modelo conceitual.
Problematizando o discurso do global nas comunidades de software livre: uma análise da localização geográfica dos desenvolvedores do WordPress
Rodrigo Sampaio Primo (UFRJ), Henrique Luiz Cukierman (Programa de Eng. de Sistemas e Computação-COPPE-UFRJ)Grupo Temático: Um olhar sociotécnico sobre o software
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Frequentemente as comunidades de software livre se apresentam como comunidades globais com a participação de pessoas de todos os cantos do mundo. Este trabalho apresenta uma análise do software livre WordPress (WP), um CMS (Content Management System) popular escrito em PHP, objetivando identificar a localização geográfica de seus desenvolvedores, inspirada pelos Estudos CTS (Ciências-Tecnologias-Sociedades) em sua desconstrução da ideia de uma ciência universal (ou global), propondo em seu lugar a hegemonia do contexto local onde as várias ciências são produzidas. Para eles, a ciência universal é uma ciência particular no poder, esta última entendida como a ciência produzida em alguns poucos países da Europa e nos Estados Unidos. Por essa razão, pesquisadores CTS latino-americanos, tais como Ivan da Costa Marques e Xavier Polanco, defendem a importância de se pensar as ciências latino-americanas comprometidas com os problemas locais e, portanto, produzidas localmente, em diálogo autônomo com as (e não submisso às) ciências dos países centrais.
Pretende-se verificar se essa concentração de produção de conhecimento em alguns poucos países ocorre também no caso dos desenvolvedores do WP, utilizando uma versão modificada do software gitinspector para identificar no sistema de controle de versão do WordPress todas as pessoas que contribuíram com código para o projeto, incluindo tanto o grupo com permissão de escrita quanto os que enviaram uma sugestão de modificação aprovada por esse grupo. Identificados todos os desenvolvedores, procurou-se determinar sua localização geográfica consultando o campo correspondente no perfil de cada um no site da comunidade. Espera-se com este estudo contribuir para: 1) discutir a importância da produção brasileira de softwares comprometidos com os problemas locais; 2) reduzir a distância entre a pesquisa acadêmica na área de Engenharia de Software e as comunidades brasileiras de software livre.
Metodologia para viabilizar a introdução dos resultados científicos das universidades na prática social
Ronara Cristina Bozi dos Reis (Universidad de Matanzas SEDE "Camilo Cienfuegos")Grupo Temático: GT Ciência, tecnologia e inovação social
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Videovigilância e Megaeventos: A rotinização da excepcionalidade nas práticas de segurança pública no Rio de Janeiro
Rosa Maria Leite Ribeiro Pedro (INSTITUTO DE PSICOLOGIA - UFRJ), Rafael Barreto de Castro (CEFET-RJ)Grupo Temático: Qualidade dos lugares e paisagens híbridos
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Desde o início das atividades de videovigilância urbana no Rio de Janeiro, oficialmente inauguradas em junho de 2005, e eminentemente voltadas para assegurar a segurança pública na cidade, uma importante iniciativa ocorreu em 2013: a inauguração do Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), ligado à Secretaria de Estado de Segurança do Rio de Janeiro (SESEG/RJ), buscando integrar as atividades de segurança pública e defesa social de oito órgãos de atendimentos emergenciais aos cidadãos. A proposta do CICC, que teve sua criação grandemente impulsionada pela escolha do Rio de Janeiro como local-sede de megaeventos, está apoiada na ampliação do sistema de vigilância, permitindo o intercâmbio de informações e de imagens entre os oito órgãos, a fim de aumentar a quantidade de dados disponíveis, melhorando e agilizando os processos de tomada de decisões, principalmente em situações de emergência, por parte dos gestores. Acompanhar as práticas em ação no CICC configura-se, assim, como uma oportunidade ímpar para discutir os fenômenos urbanos, o papel dos grandes eventos na reconfiguração das cidades e especialmente os efeitos performados pelas práticas de vigilância/monitoramento por câmeras de vídeo. Pode ainda muito nos ensinar sobre a configuração e as formas de gestão da cidade, bem como sobre nossos modos de aí nos relacionarmos. Argumentamos que os dispositivos tecnológicos não são meros objetos ou instrumentos totalmente determinados pela vontade humana, mas entidades que formam uma rede que “faz fazer” – portanto, nos mobilizam, desviam nossas ações. Alinhamo-nos, aqui, com a perspectiva da Teoria Ator-Rede (TAR) – que se configura sobretudo como um método capaz de instrumentalizar o pesquisador a rastrear as associações dos agentes heterogêneos que compõem os coletivos – e com a Cartografia das Controvésias, entendendo que é no vigor das controvérsias que as entidades que compõem o coletivo se tornam mais visíveis, possibilitando seu rastreamento. Assim, propomos explorar o fenômeno da vigilância urbana por câmeras, tal como este tem sido traduzido e performado na cidade do Rio de Janeiro, destacando o papel desempenhado pelos grandes eventos no fortalecimento desse fenômeno, analisando as apropriações e os principais temas que tem orientado e estabelecido a agenda dos coletivos articulados às práticas de segurança pública.
Quando novos atores entram em cena: tecnologias reprodutivas e casais de mesmo sexo
Rosana Machin (Universidade de São Paulo)Grupo Temático: Estudos Sociais das Ciências e das Tecnologias em Saúde Sexual e Reprodutiva
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As tecnologias reprodutivas (TR) emergiram para tratar a infertilidade auxiliando casais inférteis a conceber, mas essas tecnologias também abriram novas possibilidades para aqueles que vivem outras formas de relacionamento, com parceiros do mesmo sexo a imaginar a possibilidade da reprodução. Vivendo uma sexualidade não reprodutiva, mas expostos a valores sociais e simbólicos da continuidade e de familia, que valorizam a reprodução, essas pessoas vislubram nas técnicas médicas a chance de constituírem uma família com filhos. O desenvolvimento das TRs no país foi marcado por um contexto de pouca regulação. Assim, se por um lado a divulgação das técnicas e, em especial, de seus êxitos, na mídia recebe amplo espaço, sabe-se pouco sobre como as atividades dos serviços são desenvolvidas. Para regular as práticas uma resolução do Conselho Federal de Medicina foi criada em 1992 e regulou o campo até ser substituída pela resolução no.2013 em 2013. Esta define que pessoa solteira, casada com parceiro de sexo diferente ou do mesmo sexo pode acessar as técnicas. Partimos de um estudo de natureza qualitativa realizado em 2011, por meio de entrevistas semi-estruturadas com lésbicas (n=10 casais), que estavam em atendimento em clínicas de reprodução assistida na Grande São Paulo e profissionais de saúde (médicos, psicólogas, embriologista, urologista, n=10), que atuavam em clínicas privadas para abordar a temática de incorporação de tecnologia em saúde reprodutiva. O objetivo da apresentação é discutir a ampliação do uso das tecnologias em concepção para casais de mesmo sexo por meio do enfoque da dimensão normativa (médica) que cerca as práticas, as demandas formuladas pelos casais de lésbicas, as práticas efetivadas nos serviços e suas articulações com as lógicas de mercado.
Diagnóstico Tecnológico do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA: estudo de caso para apoio na gestão de tecnologia e transferência de tecnologia
Rosângela Fernandes Bentes (Universidade do Minho / Portugal), Adriano Premebida (FDB), Roniberto Morato do Amaral (UFSCar)Grupo Temático: Expertise, deliberação de empreendimentos sociotécnicos e culturas de investigação científica e tecnológica
Resumo
Alinhado com a atual preocupação nacional de estímulo à inovação tecnológica, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), unidade de pesquisa do Ministério de Ciência Tecnologia e Inovação – MCTI, vem desenvolvendo iniciativas visando a melhoria do seu processo de gestão da inovação, em que um fator-chave, em especial, é o monitoramento e o mapeamento das tecnologias pesquisadas e desenvolvidas. O objetivo deste artigo é apresentar os resultados alcançados pelo projeto Diagnóstico Tecnológico realizado nos últimos dois anos no INPA, que compreendeu quatro macro-atividades: 1] Capacitação em Propriedade Intelectual; 2] Mapeamento de ativos passíveis de patenteamento; 3] Filtro de tecnologias potenciais para transferência; e 4] Estudo de mercado para as tecnologias potenciais para transferência. Os resultados alcançados foram: a) Capacitação em propriedade Intelectual por intermédio da realização de visitas técnicas, eventos e atuação direta no projeto, e ainda, identificação das melhores práticas em gestão tecnológica externalizadas em um manual de referência; b) Mapeamento de pesquisa do INPA: Indicadores de produção científica e tecnológica do Instituto; c) Caracterização das tecnologias identificadas e classificadas em: 39 Tecnologias em Desenvolvimento, 13 Tecnologias Promissoras entre essas cinco Tecnologias Potenciais, incluindo uma matriz de comparação de Tecnologias Potenciais e Promissoras, de acordo com os níveis de desenvolvimento e atratividade econômica apresentados pelas tecnologias identificadas; e d) Estudo de mercado de tecnologias potenciais. Conclui-se que os resultados alcançados permitiram contribuir para a melhor compreensão do conhecimento científico e tecnológico desenvolvido e para a gestão da inovação no Instituto.
Inquiring into the visual practices and representations of engineers from different parts of the world (Inquirindo as práticas e representações visuais de engenheiros em diferentes países)
Rosário Durão (New Mexico Tech, EUA), Anastasia Parianou (Ionian University)Grupo Temático: Produção de conhecimentos e artefatos - Experiências interdisciplinares em design R
Resumo
STS foregrounds situated action and with it, the interconnectedness of multiple human and nonhuman factors. Research has increasingly pointed out the situatedness and interconnectivity of science and technology (S&T) and its visual(ization) practices and representations (e.g., Bailey & Leonardi 2015, Coopmans, Vertesi, Lynch, & Woolgar, eds. 2014, Harding 1998, Henderson 1998, Latour 1988, Lynch & Woolgar, eds. 2005, Pawels 2005, Verran 2001, Vink, ed. 2003, Weiss, Propen, & Reid, eds. 2014). Little research, however, studies the visual(ization) practices and representations of S&T professionals from an international perspective. The VISTAC – Science and Technology Visuals in Action project at New Mexico Tech seeks to do just that. Our presentation reports the initial results of a qualitative ethnographic and video-ethnographic pilot study on the visual(ization) practices and representations of S&T engineers in different countries. This study brings a sustained international focus on professional design practices to the field of STS.
(Os estudos de CTS salientam a ação situada e, consequentemente, a interconexão de numerosos fatores humanos e não-humanos. A investigação tem estudado cada vez mais o caráter situado e interconectado da ciência e tecnologia (C&T) e das suas práticas de visualização e representações visuais (por exemplo, Bailey & Leonardi 2015, Coopmans, Vertesi, Lynch, & Woolgar, eds. 2014, Harding 1998, Henderson 1998, Latour 1988, Lynch & Woolgar, eds. 2005, Pawels 2005, Verran 2001, Vink, ed. 2003, Weiss, Propen, & Reid, eds. 2014). Mas são escassos os trabalhos sobre as práticas de visualização e representações visuais dos profissionais de C&T de uma perspetiva internacional. O projeto VISTAC – Science and Technology Visuals in Action da New Mexico Tech tem esse objetivo. A nossa apresentação descreve of primeiros resultados de um estudo piloto qualitativo etnográfico e vídeo-etnográfico das práticas de visualização e representações visuais de engenheiros de diferentes países. A principal contribuição deste estudo para a literatura dos estudos de ciências-tecnologias-sociedades (CTS) é a orientação internacional das práticas profissionais de design.)
Meio Ambiente, Sociedade, Política e ator-rede: Educação Profissional em ação
Roseantony Rodrigues Bouhid (UERJ)Grupo Temático: Pedra, planta, bicho, gente... coisas: encontros da teoria ator-rede com as ciências ambientais
Resumo
O governo federal, desde 2003, estabeleceu uma política para o desenvolvimento do interior do Brasil e como estratégia investiu na ampliação da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica e na criação dos Institutos Federais. Esses institutos surgiram em 2008 a partir da transformação dos Centros Federais de Educação Tecnológica e das Escolas Técnicas e Agrícolas que reúnem a experiência de formar profissionais para atuar no mercado de trabalho no campo da ciência, das técnicas e da tecnologia há mais de cem anos no país. O pressuposto pedagógico desses ambientes é a tríade indissociável entre ensino, pesquisa e extensão. Acredita-se que o profissional formado nesses institutos, que atue no campo ambiental, seja capaz de aliar conceitos técnicos de diversas áreas do conhecimento com as leis específicas ambientais e gestando disputas, conflitos e injustiças ambientais e sociais. Esse trabalho descreveu projetos de iniciação científica apresentados em eventos acadêmicos como experiências de articulações entre meio ambiente, leis, sociedade e a educação praticada em um instituto federal. A Teoria Ator-Rede (ANT) formulada por Bruno Latour e Michel Callon norteou as discussões e a rede sociotécnica foi a ferramenta analítica usada para compreender como os projetos de iniciação científica descritos foram criados a partir de disjunções como natureza/cultura, ciência/política, técnica/social e construídos por laços sociais e materiais: mutáveis, perenes e relativos.
Estado democrático e a construção do arcabouço jurídico sobre conhecimentos tradicionais associados à biodiversidade
Rosemary de Sampaio Godinho (Instituto Osvaldo Cruz), Rosemary de Sampaio Godinho (Instituto Osvaldo Cruz)Grupo Temático: Pedra, planta, bicho, gente... coisas: encontros da teoria ator-rede com as ciências ambientais
Resumo
No âmbito jurídico, a preocupação com a proteção de conhecimentos produzidos pela comunidade científica é uma realidade há alguns séculos, contudo a atenção para os conhecimentos tradicionais associados à biodiversidade tornou-se relevante apenas no final do século passado, com a aprovação da Convenção sobre a Diversidade Biológica, em 1992. A partir de então diversas discussões em órgãos internacionais e nacionais procuram encontrar maneiras de concretizar tal proteção. Ao longo da história da humanidade, podemos constatar diferentes tipos de criações e formas distintas de fomentar o desenvolvimento social e econômico, de acordo com as especificidades de cada grupo social que derivam, por exemplo, de fatores relacionados com o território, a cultura, com elementos éticos e morais, além do idioma. O que nos permite afirmar que a produção e o desenvolvimento do conhecimento são processos que não estão reservados a somente um povo ou a uma só nação. Existem diferentes formas de se produzir conhecimento sobre a realidade. Entretanto, essa afirmação não deveria significar a existência de um grau de hierarquia entre as diferentes formas de produção do conhecimento. Contudo, como processo civilizatório que é, o capitalismo exerce de algum modo, influência sobre tais formas de produção do conhecimento, permitindo assim que hierarquias, assimetrias, dominações e expropriações estejam presentes. O objetivo do presente trabalho é percorrer o caminho das discussões sobre o tema que ocorrem nos diferentes órgãos, para observar o papel que os diversos atores - inclusive os titulares do conhecimento tradicional associado à diversidade biológica – exercem, como são recebidas suas reivindicações e suas opiniões. Para tanto usaremos como referencial teórico metodológico a teoria ator rede que poderá demonstrar qual o peso que os anseios e reivindicações desses diferentes atores exerce nos fóruns de discussão e a existência ou não de hierarquia entre as vozes relacionadas ao tema. O rastreamento dos diversos atores através da rede sociotécnica nos permitirá verificar se a democracia está sendo verdadeiramente exercida nesta discussão.
O novo arcabouço jurídico nacional sobre acesso ao patrimônio genético, proteção e acesso ao conhecimento tradicional associado à biodiversidade e repartição de benefícios
Rosemary de Sampaio Godinho (Instituto Osvaldo Cruz), Carlos José Saldanha Machado (Fundação Oswaldo Cruz), Rosemary de Sampaio Godinho (Instituto Osvaldo Cruz)Grupo Temático: Política de Ciência e Tecnologia
Resumo
O objetivo do presente trabalho é avaliar se o novo arcabouço jurídico nacional sobre acesso ao patrimônio genético, proteção e acesso ao conhecimento tradicional associado à diversidade biológica e repartição de benefícios para conservação e uso sustentável da biodiversidade, instituído no dia 20 de março de 2015, alcançou o intento de simplificar os processos administrativos que permitam aos pesquisadores explorarem a biodiversidade para transformá-la em conhecimento científico e bem econômico. Qual concepção de pesquisa/trabalho científico que é reconhecida legalmente? Após mais de uma década com uma legislação provisória sobre o tema em questão, o governo federal, através dos Ministérios do Meio Ambiente, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e da Ciência, Tecnologia e Inovação, enviou ao Congresso Nacional, em junho de 2014 o Projeto de Lei n° 7.735 para ser votado em regime de urgência. Posteriormente as votações nas duas casas do Congresso, o texto final do projeto de lei foi sancionado pela presidente da república no dia 20 de maio de 2015, transformando-se na Lei Ordinária nº 13.123/2015. O antigo marco regulatório, ou seja, a Medida Provisória 2.186-16/01 foi duramente criticada pela comunidade científica por “engessar a pesquisa científica no país”, na área de biotecnologia, através de seu texto dúbio e dispositivos que exigiam imensa burocracia. Trata-se de verificar, portanto, através de um método comparativo entre os dois textos legais, em que medida houve avanços, limites e retrocessos em relação às condições necessárias, apontadas há mais de uma década por representantes da comunidade científica, para a realização de uma pesquisa voltada para o desenvolvimento biotecnológico do país. A atual legislação é uma convergência ou dissonância entre política e ciência no Brasil?
Capacidade Absortiva do Conhecimento: Uma teoria restritiva à construção social da tecnologia?
Rodrigo Deren DestefaniGrupo Temático: Expertise, deliberação de empreendimentos sociotécnicos e culturas de investigação científica e tecnológica
Resumo
A Participação das Mulheres na Matemática: um estudo de caso sobre a implicação de gênero na carreira acadêmica das ciências exatas
Rogério Monteiro de SiqueiraGrupo Temático: Gênero, Ciência e Tecnologia: avanços e desafios
Resumo
No presente trabalho, coletamos dados sobre a composição dos principais departamentos universitários de matemática do eixo Rio-São Paulo, cruzando as variáveis gênero e posição na carreira, e comparando com alguns estudos sobre acesso de mulheres aos cursos universitários de matemática. Enquanto o acesso na graduação parece bem distribuído entre os gêneros, contrariando a ideia de que a matemática seria uma prática preferencialmente masculina, conforme avançam na carreira, os homens passam ocupar em maioria os espaços de maior prestígio, chegando a quase 90% dos quadros entre os professores titulares. Embora as estatísticas seriais indiquem que há uma maior presença feminina nos níveis iniciais da carreira universitária, analisando o processo a longo prazo há ainda uma divisão social de trabalho razoavelmente estabelecida: os homens vão se dedicar à pesquisa e as mulheres ao ensino. Algumas hipóteses preliminares serão levantadas para explicar tal fenômeno.
A produção científica sobre vulnerabilidade no universo das mudanças climáticas: interdisciplinaridade e propositividade
Roberto Donato da Silva JúniorGrupo Temático: Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia e as Mudanças Climáticas
Resumo
O objetivo desse trabalho é propor uma análise sobre a produção científica em vulnerabilidade de um ponto de vista socioepistêmico, ou seja, através de um olhar para a interseção entre o artefato socialmente produzido e suas potencialidades de atuação no âmbito de formulação de políticas ambientais. De forma mais específica, pretende-se evidenciar aqui a relação entre interdisciplinaridade e propositividade nos arranjos conceituais que constituem a produção científica sobre vulnerabilidade. Dentro desta configuração analítica, pretende-se observar "se" e "como" os exercícios de interdisciplinaridade que permeiam o termo vulnerabilidade estruturam o campo de possibilidades de atuação política do conceito. Como forma de abarcar a amplitude e diversidade de arranjos conceituais possíveis para o termo, pretende-se analisar artigos abrigados em diferentes perspectivas cientificas (2000-2014). Essa proposta se constituirá a partir de duas dimensões sobre essa produção: uma, a partir da confecção das redes de sustentação bibliográfica ao debate contemporâneo sobre vulnerabilidade socioambiental nas grandes plataformas de divulgação científica (ISI - WebofScience e Scopus); e, outra, a partir da análise sociológica dos nexos discursivos de artigos que estão dispostos de forma estratégica na composição dessas redes. Situado nos estudos sociais das ciências dentro daquilo que Collins e Evans (2010) "problemática da extensão" - o questionamento das relações entre o artefato já produzido e a maneira como este se apresenta ao debate sobre as estratégias de enfrentamento dos problemas junto a esferas mais amplas da dinâmica social contemporânea. Será possível observar a dinâmica social e potencialidade política expressa nos próprios artigos, ou seja, o agenciamento potencial dos próprios enunciados científicos presentes nesses conjuntos bibliográficos. Espera-se, assim, constituir um cenário abrangente potencialidades que permeiam o termo vulnerabilidade no processo de construção das estratégias globais de sustentabilidade no tratamento das mudanças climáticas.
Desigualdades ambientais e democracia: compartilhando experiências escolares em CTS
Raquel Giffoni Pinto, Flávia Cópio EstevesGrupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
Resumo
O presente trabalho visa compartilhar experiências em ensino e pesquisa de Ciência, tecnologia, sociedade com professores e alunos do ensino médio técnico do Instituto federal do Rio de Janeiro, em Volta Redonda, RJ. As altas taxas de poluição atmosférica no município de Volta Redonda e as consequências na saúde da população já foram alvo de diversos estudos científicos Pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública e da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, ambas da Fiocruz. Historicamente, a ocupação do espaço urbano de Volta Redonda reproduziu a hierarquização existente dentro da fábrica (Veiga & Fonseca, 1990; Fontes & Lamarão, 1986) com a construção de bairros para operários e para os funcionários de maior qualificação. Conforme a pesquisa de Tobar e Peiter (1998), a poluição atmosférica e a disposição de lixo industrial atingem de forma desigual os bairros de Volta Redonda, sendo destinada , em sua maioria, aos bairros mais populares. Desta forma haveria uma correlação entre desigualdade social e riscos ambientais, destinando-se aos de menor renda uma maior carga dos danos ambientais produzidos.
Os moradores da cidade não são indiferentes a esta realidade e o interesse pelo debate sobre a questão ambiental tem crescido desde o final da década de 1990 (LOPES, 2004).
Ante esta problemática, os alunos do ensino médio do IFRJ, campus Volta Redonda, manifestaram o interesse de pesquisar a questão ambiental no município. Foi criado então um grupo interdisciplinar composto de professores de sociologia, história, artes e alunos do curso técnico de automação industrial para analisar os territórios onde ocorrem situações de injustiça ambiental no município, identificar os mecanismos institucionais, políticos e econômicos através dos quais a desigualdade na distribuição dos riscos e danos ambientais é produzida e conservada e produzir vídeos e outros materiais didáticos sobre o tema. A pesquisa é realizada no âmbito do Programa Petrobras de Formação de Recursos Humanos da Petrobrás. Observamos que as experiências pedagógicas em CTS veem contribuindo para a formação cidadã dos estudantes, ao propiciar o seu engajamento nas questões de justiça, democracia e meio ambiente e para melhor capacitação profissional , ao articular a abordagem técnica às questões políticas e sociais.
É possível uma educação científica e tecnológica crítica voltada para a cidadania?: olhares sobre a formação inicial de professores de ciências.
Rodrigo Diego de SouzaGrupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
Resumo
Ao partir do pressuposto que somos sujeitos históricos, culturais e socialmente referenciados, ressalta-se que o processo de formação de professores de ciências acontece em um horizonte impactado por valores e pressupostos histórico-filosóficos, culturais, políticos e ideológicos, sociotécnicos, econômicos, pedagógicos, curriculares, epistemológicos, entre outros; com ideais e perfis do 'ser professor' de ciências que sinalizam para a necessidade de uma Educação Científica e Tecnológica Crítica. Nesse sentido, o presente trabalho emerge de uma pesquisa de mestrado, caracterizada quali e quantitativamente, que buscou indagar em que perspectiva uma educação científica crítica e voltada para a formação do cidadão crítico pode ser constituída por meio de discussões balizadas por Estudos CTS, o que pode contribuir para problematizar no enfoque da teoria de Ludwik Fleck, os papeis dos atores da prática educativa em ciências no processo de produção do saber científico e tecnológico, como meio para desmistificar os sentidos que "solvatam" a educação Científica e Tecnológica para criticidade ou não. Sendo assim, participaram da pesquisa, acadêmicos e professores formadores do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas de uma Universidade Pública e Estadual do Paraná, e a partir da análise dos dados coletados e do currículo do curso na perspectiva epistemológica de Fleck, concluiu-se que existem lacunas presentes na organização do curso, porém evidenciou-se a importância significativa da atuação do professor formador de professores como um disseminador de Estilos de Pensamento, neste caso, de um possível Estilo de Pensamento da Educação Científica e Tecnológica Crítica para a formação inicial dos professores de ciências.
A "Geração Playstation": elementos para análise dialética da influencia dos jogos eletrônicos de simulação de futebol sobre o movimento de torcida para times estrangeiros
Romero Jasku BastosGrupo Temático: Jogos digitais e suas relações com a Ciência, Tecnologia e Sociedade
Resumo
O presente trabalho tem como principal interesse o estudo dos processos de identificação entre jovens torcedores brasileiros e times estrangeiros a partir da análise da relação de crianças, adolescentes e adultos recém-saídos da adolescência com sofisticados jogos eletrônicos de simulação de futebol como "FIFA" (Eletronic Arts) e "Pro Evolution Soccer" (Konami). As investigações partem da percepção do movimento de torcida de jovens brasileiros por times de fora do país como expressão ideológica de novas formas de pertencimento - baseadas no consumo de imagens e de mercadorias, tornando dessa maneira desnecessária a experiência de uma relação imediatamente vivenciada com o futebol - que refletem as transformações nas configurações institucionais do capitalismo tardio, onde as tecnologias de comunicação e de informação desempenham papel fundamental.
No atual contexto, os jogos eletrônicos de simulação de futebol, principal porta de entrada de jovens e adolescentes - mas, sobretudo, de crianças - para o futebol europeu, representam, portanto, uma estratégia de análise privilegiada do processo de construção de novas formas de identidade cultural no estágio atual de globalização do capital. Assim, procura-se analisar de que forma a relação de crianças, adolescentes e jovens com jogos eletrônicos de simulação de futebol pode influenciar na escola do time para que torcem e na maneira como vivenciam as experiências proporcionadas pelo futebol transformado em espetáculo pela indústria do entretenimento, partindo do lugar que os jogos eletrônicos e o futebol ocupam no atual contexto histórico e social de globalização do capital.
Nesse sentido, este estudo procura fazer uma interpretação dialética e materialista do movimento de torcida por times de fora do país, entendido aqui como expressão cultural e ideológica do processo de mundialização do capital - e, consequentemente, da transformação do futebol em mercadoria -, buscando compreender como sofisticados videogames de futebol se relacionam com os grandes fluxos de dinheiro e de informações na criação de condições adequadas para o surgimento de novas formas de identificação entre torcedores brasileiros e times do exterior.
O controle da máquina humana: desafios da medicina moderna
Renato Augusto PassosGrupo Temático: Medicina na América Latina: práticas científicas, dispositivos tecnológicos e inovações terapêuticas
Resumo
A preocupação em ajudar outra pessoa marcou o início das ações de saúde em território brasileiro. Instituições e profissionais de medicina dedicavam-se ao atendimento clínico e humanitário, sem remuneração, na tentativa de assegurar a saúde. No entanto, apesar dos altos investimentos em tecnologia médica nos últimos tempos, muitos pacientes ainda lutam na busca por condições básicas de saúde. Por este motivo, questiona-se: a preocupação médica gira em torno do domínio de técnicas na busca da cura da máquina humana ou consegue uma aproximação com o paciente através do diálogo terapêutico? Objetivos: retratar o cotidiano assistencial dos usuários de um sistema público municipal de saúde no Sul de Minas Gerais, bem como demonstrar a necessidade do fortalecimento do fator humano na relação médico-paciente. Metodologia: O município de estudo situa-se no sul de Minas Gerais, com população de aproximadamente três mil habitantes. Tratou-se de pesquisa qualitativa etnográfica e transversal. O levantamento de dados foi realizado por meio de observação participante nas unidades de saúde, eventos, em visitas domiciliares e por meio de análise documental. O total de amostras foi determinado por saturação. O projeto foi aprovado em 16/04/2014 pelo comitê de ética em pesquisas (CEP) da Faculdade de Medicina de Itajubá (FMIT), sob o parecer 618.702. Resultados: Notou-se nos relatos e na rotina dos participantes a diversidade de maneiras de lidar com a pluralidade do conceito de saúde. No local de estudo, os usuários do SUS demonstraram as dificuldades na relação médico-paciente devido à distância social existente entre ambos, o que faz com que estes usuários sintam-se muitas vezes estigmatizados por utilizarem o sistema público de saúde. Além disso, a grande oferta de remédios e exames aos moradores do município reforça o domínio do modelo biomédico tradicional. Considerações finais: Diferente da visão fragmentada de um estudo de doença baseado em anatomopatologia, sem incluir o homem em sua integridade, tratando-o simplesmente como máquina biológica, os relatos de diversos usuários do SUS envolvidos nesta pesquisa apontam para a necessidade de reconhecimento da unicidade de suas histórias e compreensão da pluralidade do conceito de saúde. A capacidade de ouvir e estar presente no encontro com o outro aponta novos caminhos para uma nova forma do "fazer" saúde.
O projeto ético de Donna Haraway
Ronald ArendtGrupo Temático: PesquisarCOM e o feminino na ciência
Resumo
O projeto ético de Donna Haraway
Ronald Arendt, PPGPS/UERJ
Uma afirmação de Vinciane Despret permite iniciar esta apresentação sobre a Donna Haraway: "Entre um vegetariano e um caçador, ela aceitaria concordar com os dois, que são contraditórios. É algo esquizo no sentido de Deleuze & Guattari, isto e isto e isto, sem a indiferença que eles imputam ao esquizo. É algo terreno, impessoal, local; com Haraway, trata-se de nunca interpretar e de resistir à tentação de resolver conflitos e verdades contraditórias de existir; há que aceitar e coexistir com as necessárias polêmicas". Esta afirmação toca em alguns dos principais temas explorados por Haraway. Não interpretar o caçador ou o vegetariano é não julgá-los a partir de um critério que resolveria o conflito e evitaria a controvérsia. Aceitar a coexistência polêmica de ambos será resistir à tentação de resolver suas verdades contraditórias. No mundo existem e vivem juntos caçadores e vegetarianos, cada um argumentando a partir de seus referenciais locais, materiais, terrenos e parciais, conectados àquilo que os interessa - locais enquanto situados, materiais e terrenos no sentido de algo visto daqui e não do alto e de longe. Viver junto e criar as condições necessárias para coexistir, em que pese a heterogeneidade que caracteriza humanos e não humanos, implica em aceitar a multiplicidade do mundo. Há que conviver com objetos complexos, com tecnologias avançadas, com ciborgues, com espécies companheiras. Como construir um mundo comum onde estas condições possam ser respeitadas? Qual o sentido da escrita de Haraway? Qual a qualidade do seu trabalho? Em que medida as análises e propostas que ela instaura são arriscadas? A partir das análises de Gilles Deleuze sobre a moral e a ética em Spinoza poderemos melhor compreender a afirmação de Despret. Como é possível que existam vegetarianos e caçadores no mundo? O que, em sua singularidade, cada um é capaz de fazer? Como coexistir com as verdades contraditórias e polêmicas? Como estabelecer uma aliança entre heterogêneos no coletivo, como criar outras possibilidades de relação, como incentivar outras potências de viver? Entendemos o projeto de Haraway como um projeto ético que abre uma investigação sobre o que existe, sobre o que humanos e não humanos têm e as possibilidades que uma situação parcial oferece sugerindo uma nova maneira de pensar a psicologia social.
Tecnologia, cerâmica vermelha e impacto ambiental: o norte do Paraná
Roberto Carlos MasseiGrupo Temático: PROCESSOS TECNOLOGICOS E CULTURA: sociabilidades, saberes populares, assimetrias e meio ambiente
Resumo
Roberto MASSEI
CCHE/UENP Jacarezinho - DICH/UFSC (PosDoc)
Marcos MONTYSUMA - DICH/UFSC (Tutor)
Esta comunicação visa apresentar pesquisa que venho realizando sobre cerâmica vermelha no norte do Paraná. O objetivo é analisar o impacto que a produção de telhas e tijolos provocou no ambiente nessa região do estado: no solo, nas várzeas dos rios que compõem sua bacia hidrográfica e na atmosfera, sem desconsiderar em momento algum as tecnologias empregadas no processo produtivo. Há conhecimentos passados de geração a geração que são menosprezados ou secundarizados diante de outras atividades. A cerâmica vermelha é entendida como atividade com baixo valor agregado e a argila um mineral não-metálico considerado inferior. A argila tem inúmeras aplicações e está presente no dia a dia das pessoas sob as mais variadas formas. As fontes se constituem de depoimentos de pessoas envolvidas direta e indiretamente na atividade e documentos oficiais e extraoficiais - Processos de Licenciamento Ambiental, relatórios técnicos, EIAs/RIMAs e papers - produzidos pelas agências estatais ou encomendados por elas. Pretende-se entender historicamente as tecnologias envolvidas no processo de produção - conhecimentos, máquinas e equipamentos - e o impacto ambiental que provocou - e tem provocado - no norte do estado do Paraná. Este trabalho procura destacar o papel da natureza na vida humana e das transformações impostas pelo homem por meio de suas técnicas e tecnologias, em uma relação assimétrica.
A CUP, o clima inovador no Brasil e o empreendedorismo do Visconde de Mauá
Ronald Castro PaschoalGrupo Temático: Reflexões sobre Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: dimensões históricas, econômicas e sociais
Resumo
A celebração da Convenção da União de Paris, em 1883, representou um marco importante, talvez fundamental, em direção à institucionalização de uma ordem capitalista mundial, reforçando os arranjos nacionais na consolidação dos regimes políticos e econômicos burgueses liberais.
O Brasil foi um dos primeiros signatários da CUP, o que indicaria ser uma economia em vias de modernização, posto que, de modo geral, os sistemas de patentes inserem-se em uma estrutura econômica capitalista e, por consequência, voltada à inovação, nos termos postos por Schumpeter. No entanto, embora se registre, nessa época, a constituição de uma indústria no país, cabe questionar se estava efetivamente em formação uma sociedade burguesa liberal, ou se esse movimento resultava de um esforço pontual de modernização do país, a partir de grupos progressistas inspirados na sociedade europeia.
Isto porque o arranjo político do império assentava-se sobre o controle da terra, base do poder das oligarquias rurais, e sobre o controle da mão de obra, inicialmente através da escravidão, depois via salários. Haveria uma postura, ou uma dinâmica econômica, que bloquearia qualquer tentativa de modernização que obscurecesse esse pacto político, o que se pode inferir dos trabalhos de Dolhnikoff (2005) e de Carone (1978).
O Visconde de Mauá é um ícone desse esforço desenvolvimentista. Participou ativamente da vida econômica brasileira, na segunda metade do século XIX, fundando empresas e participando de inúmeros empreendimentos. Sua importância superlativa, no entanto, apenas se afirma como exemplo de disposição empreendedora, seu legado empresarial desfez-se no embate com forças, talvez ainda hoje, não exatamente entendidas.
A questão que emerge desse quadro, é se a participação do Brasil na CUP, nesse movimento de ponta na constituição de uma ordem capitalista internacional, resultou de um efetivo processo de modernização da economia brasileira ou se foi apenas um engajamento ad hoc de alinhamento com os grandes mercados das exportações brasileiras.
Assim, o objetivo dessa pesquisa é avaliar as condições de estímulo ao desenvolvimento no Brasil, na segunda metade do século XIX, a partir das reivindicações e das análises do Visconde de Mauá em sua Exposição aos Credores e ao Público de 1878.
Controvésia tecnocientífica sobre a Lagoa da Conceição, Florianópolis SC: ampliando debate através da teoria do ator rede
Ricardo Francisco Paes, Déberson Ferreira Jesus, Nathalia Lima PintoGrupo Temático: Riscos e controvérsias científicas: teorias e estudos empíricos
Resumo
O objetivo deste artigo é analisar o processo de construção de uma controvérsia tecnocientífica jurídica e ambiental que se forma em consequência de uma decisão judicial despachada, no ano de 2010, por parte da Justiça Federal (Vara da Justiça Ambiental), que exige a desocupação de todas as áreas à pelo menos 30m das margens da Lagoa da Conceição, Florianópolis/SC, considerada Área de Preservação Permanente (APP). Esta decisão afeta diretamente diversos setores da sociedade, sobretudo, os proprietários de imóveis e comerciantes. O fato traz à tona uma série de conflitos em torno das percepções de risco, construção do conhecimento científico e embate de opiniões entre leigos e peritos fundamentalmente em decorrência das concepções de natureza e regulamentação ambiental divergentes entre os atores envolvidos. A partir da perspectiva construtivista da sociologia ambiental, o trabalho apresenta foco em entender o modo como os problemas ambientais são definidos, articulados e acionados pelos atores, propondo um enfoque centrado sobre os processos sociais, políticos e culturais nos quais as questões ambientais são mobilizadas entorno dos riscos e, portanto, passiveis de conflito. Deste modo, considera-se apropriado analisar como os diferentes atores constroem as suas verdades e como lutam para torna-las aceitas e legitimas pelos demais. A teoria do ator-rede é o referencial teórico metodológico central na presente análise, pois pode ser considerada um importante desdobramento da vertente construtivista no sentido de tornar evidentes as hibridas redes sociotécnica presentes no conflito no entorno das noções sobre preservação ambiental relacionadas a Lagoa da Conceição.
A neurociência aplicada à educação e a produção de conhecimento sobre o corpo: uma análise de artigos de divulgação científica na revista mente&cérebro
Rafael Cardoso ChagasGrupo Temático: Saberes do corpo e sobre o corpo: formas de conhecimento, experiência, ciência e expertise
Resumo
Este trabalho tem por objetivo apresentar a viabilidade e as possibilidades de estudar a constituição recente de um campo disciplinar científico, chamado de neuroeducação, na perspectiva da produção do conhecimento. Em um contexto em que o cérebro tem se tornado, na contemporaneidade, o principal órgão para se definir o sujeito, uma nova ideia de corpo é formada, produzindo novas formas de sociabilidade.
Nesse sentido, pretende-se discorrer sobre as formas de articulação de conceitos e práticas pelas neurociências na sociedade, mais especificamente na educação, e seus efeitos não apenas nos temas referentes à saúde, bem como em relação aos processos de ensino-aprendizagem e aspectos socioculturais. Ao reduzir o processo de aprendizagem às funções neurobiológicas, a neuroeducação também reduz a experiência e o corpo ao cérebro. Quem aprende é o cérebro e não o sujeito.
Nesse contexto em que as biotecnologias assumem novos contornos, ampliando sua esfera de intervenção para todas as esferas da vida, é possível discutir formas de biopolítica contemporâneas. Na atualidade, a biopolítica é percebida não tão somente como prática de governo, que pretende otimizar o corpo enquanto força de trabalho, mas, como também, uma prática de si e de coletivos com objetivo de maximizar suas performances, configurando novos tipos de sociabilidade em torno de expressões corporais e biomédicas.
Para isso, serão analisados 5 artigos, encontrados em 3 edições da revista "mente&cérebro", que tratam da relação entre neurociência e aprendizagem, por meio de uma pesquisa em seu arquivo. Esta revista tem como propósito divulgar, para um público mais amplo, descobertas científicas no campo da psicologia e das neurociências. Dois artigos foram encontrados em edições diferentes da revista, enquanto que os outros três estão agrupados em um dossiê, sob o título "o que de fato funciona para aprender", na mesma edição.
A partir dessa análise, serão discutidas as possibilidades de se pensar maneiras de produção do conhecimento, através do saber sobre o corpo que aprende, inaugurado pelos processos de subjetivação engendrados pela neuroeducação. Desse modo, um novo tipo de sociabilidade, formada por uma biotecnologia, constitui novas formas de conceber a produção do conhecimento.
Mediações tecnológicas em fluxos migratórios
Rodrigo Fessel SegaGrupo Temático: Tecnologia e mediações
Resumo
Este trabalho consiste em analisar a trajetória migratória de brasileiras e brasileiros que migram para Toronto, Canadá, a partir do visto de Trabalhadores Qualificados. Nosso foco será as relações estabelecidas no momento da mudança, mediadas por instrumentos tecnológicos e conectados à internet, unindo quem quer migrar e quem já migrou. Analisar estas mediações técnicas é importante pois é onde circulam valores e se (re)constroem o sentido de migrar, além de inserir os que desejam migrar numa rede migratória pré-existente. A cosmologia migratória criada e recriada nesse espaço, mediada por discursos virtuais e tecnológicos, é inserida no cotidiano de brasileiras e brasileiros durante o período de seleção pelo governo canadense, o que pode demorar alguns anos, e apresenta algumas vantagens no momento da mudança, como diminuir riscos econômicos e psicológicos, e desvantagens, como o enrijecimento e/ou distanciamento das desigualdades de gênero entre brasileiras e brasileiros em Toronto. Este trabalho, portanto, analisa como as mediações tecnológicas influenciam e são, em contextos específicos, determinantes para esse tipo de migração.
S
A tecnologia como instrumento de preservação dos saberes e fazeres locais
Samanta Borges Pereira (Universidade Federal de Itajubá)Grupo Temático: PROCESSOS TECNOLOGICOS E CULTURA: sociabilidades, saberes populares, assimetrias e meio ambiente
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O desenvolvimento do turismo de maneira sustentável, com relevância na geração de emprego e divisas propiciando a inclusão social é parte da missão do Ministério do Turismo responsável por esta atividade econômica. Para tanto, atributos naturais e culturais devem ser identificados e valorizados, como forma de proporcionar experiências singulares ao turista, muito além do conceito simplista de turismo como “chegar, estar e partir”. Ademais, apreciar os saberes e fazeres locais pode proporcionar a preservação destes como patrimônio além de desenvolver no turista o respeito às regionalidades e tradições. Sendo assim, o Ministério do Turismo produziu o Manual para o Desenvolvimento e a Interação de Atividades Turísticas com foco na produção associada como ferramenta de orientação para o levantamento das potencialidades locais com o objetivo de fomentar estratégias para desenvolvimento de modo que os setores produtivos da economia impulsionem um crescimento conjunto, para uma melhor qualidade de vida da população. O Circuito Turístico Caminhos do Sul de Minas, um dos quarenta e três circuitos existentes no estado de Minas Gerais, que contempla atualmente onze cidades, realizou o levantamento da Produção Associada ao Turismo (PAT) nos segmentos de artesanato, comidas e bebidas típicas e eventos. Contudo, estes dados estão formatados em documentos que não facilitam a visualização de informações relevantes para a tomada de decisão dos gestores do circuito e seus associados. O fortalecimento da atividade turística nesta região pode-se valer do uso das geotecnologias, ferramentas cada vez mais utilizadas dentro do setor de turismo para apoio às tomadas de decisões que podem proporcionar um planejamento mais apurado, com um número maior de informações territoriais. Portanto, o objetivo geral deste trabalho é subvencionar o Circuito Turístico Caminhos do Sul de Minas na tomada de decisão para o incremento do turismo na região a partir do georreferenciamento das Produções Associadas ao Turismo, identificando o que é produzido em cada cidade do circuito, usando um Sistema de Informação Geográfica (SIG). O uso deste instrumento poderá se mostrar eficiente por permitir diagnosticar e analisar informações territoriais relevantes para o planejamento turístico e consequentemente para a tomada de decisão.
Design, Empreendedorismo e Inovação: bases para um método de ensino orientado para uma formação empreendedora
Samara Pereira Tedeschi (Universidade Federal de São Carlos)Grupo Temático: Produção de conhecimentos e artefatos - Experiências interdisciplinares em design
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O momento político e econômico brasileiro oferece oportunidades jamais vistas ao empreendedor, principalmente sob a perspectiva das inovações tecnológicas. Contudo a complexidade das atuais demandas exige profissionais capazes de estabelecer diálogos entre a indústria produtiva e a pesquisa científica, tão necessária para a efetivação da inovação tecnológica. Assim, apesar da importância atribuída ao empreendedorismo e do apoio governamental por intermédio de diversos órgãos de fomento, nota-se que o ambiente educacional brasileiro, desde a pré-escola até os programas de pós-graduação, ainda tem dedicado poucos recursos ao tema. Neste contexto, o presente trabalho de pesquisa consiste em uma reflexão sobre a inserção de conteúdos tendo em vista a formação empreendedora em um curso superior de Design. Tais profissionais têm muito a contribuir, seja como participantes de projetos, cooperando com competências relacionadas a interface material ou informacional, seja numa esfera propositiva, criando seus próprios projetos de produtos inovadores. A pesquisa foi embasada nos resultados de um método utilizado nas disciplinas “Atividades Práticas” no cursos de bacharelado em Design Gráfico e no curso de bacharelado em Design de Produto da Faculdade de Administração e Artes de Limeira (FAAL). No final do processo, ao analisar-se os resultados dos projetos foram percebidas mudanças com relação a habilidade de observação e na capacidade propositiva dos alunos.
Ciberespaço, subjetividade e política: notas de teoria social para a composição do "ciberativista"
Samira Feldman Marzochi (UFSCar)Grupo Temático: Internet: entre o capital e as ruas
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O processo, a engenharia e o operador: conflitos interprofissionais no controle de processos contínuos de produção.
Samira Nagem Lima (UFMG), Rodrigo Ribeiro (UFMG)Grupo Temático: Estudos Sociais da Tecnologia e Expertise na Engenharia
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Este trabalho tem como objetivo esclarecer porque a intercompreensão, entre engenheiros e operadores, é um caminho não apenas cheio de obstáculos, mas que segue em direções opostas. Para isso, investigamos as relações entre a engenharia de processos e a operação a partir de especificidades da atividade dos operadores, acentuando as diferenças dessas em relação às representações que os engenheiros têm sobre o trabalho de seus subordinados. As análises foram desenvolvidas no âmbito da atividade concreta (trabalho real), evidenciando características da atividade dos operadores de controle de processos contínuos. Nossa hipótese é que determinadas características dessa atividade são objetivamente conflitantes com dois aspectos da atividade dos engenheiros: (1) o desenho e controle do processo de produção e (2) o projeto do trabalho dos operadores (quando definem normas e procedimentos operatórios). Essa hipótese de dissonância entre a atividade do operador e a do engenheiro e entre as visões que as pessoas têm da própria atividade e da atividade do outro fala em apenas dois aspectos da atividade do engenheiro porque o trabalho real desses atores, enquanto trabalhadores que também são, não foi objeto de análise direta, baseada em observações e variáveis comportamentais, com a riqueza de detalhes como foi analisada a atividade dos operadores. Portanto, esse trabalho não se colocará no âmbito da discussão de relação de poderes por si só, mas sim da explicitação “técnica” das razões por detrás dessa falta de intercompreensão. Desse modo, ela contribui para evitar que aqueles que utilizam o poder do cargo para valorizar a sua visão, não o façam somente porque acreditam estarem corretos e sim por motivos atitudinais. No final, o objetivo do engenheiro é apenas um: manter o processo de produção sob controle, quer atuando diretamente sobre o projeto do processo (projeto de equipamentos, parametrização do processo, etc.), quer “parametrizando” a ação dos operadores, isto é, desenhando as tarefas em diferentes níveis de detalhamento. Os trabalhadores aparecem, assim, como mais um elemento do processo de produção, o qual, como todos os outros (equipamentos, processos, materiais, etc.), acaba sendo tratado dentro de um mesmo modelo, que desconsidera as especificidades da atividade dos operadores, em especial o que é a vigilância de um processo contínuo de produção.
Vieira Pinto: traços de uma trajetória por meio de múltiplas recepções na mídia impressa brasileira
Sandra Andréia Ferreira (UTFPR), Luiz Ernesto Merkle (Univerisidade Tecnológica Federal do Paraná)Grupo Temático: Álvaro Vieira Pinto
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Apresentamos um trabalho de reconstituição da trajetória de Álvaro Borges Vieira Pinto e de sua recepção pela sociedade brasileira. A pesquisa, que está em desenvolvimento, tem por fontes informações veiculadas pela mídia impressa, arquivada no acervo on-line da Biblioteca Nacional. O conjunto de menções a este autor concentra-se, nesta base, em jornais dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e, em menor escala, do Paraná, e com maior incidência nas décadas de 1930, quando, ainda estudante, era convocado para provas e comparecimentos a órgãos oficiais; nas décadas de 1950 e início de 1960, quando integrava o corpo docente do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), ministrando cursos, conferências etc., seu trabalho ganhou visibilidade, e Vieira Pinto passou a dar entrevistas, além de ser citado em artigos. Porque apoiava movimentos sociais e estudantis foi cassado. Após o golpe de 1964, destituído do cargo de professor, permaneceu no exílio até 1969. Retornando ao Brasil, trabalhou sob pseudônimo e raramente aparecia em público. Durante a ditadura, e logo após, é citado com menor frequência, e, muitas vezes, de forma estereotipada. Pode-se dizer que fora, então, rotulado como desenvolvimentista. Silenciado, deixou de ser reconhecido como o era anteriormente. Mais recentemente, a publicação póstuma de alguns inéditos é mencionada na mídia. As formas como Vieira Pinto é citado são múltiplas, contraditórias, e ainda estão sendo levantadas no estudo e na classificação desses registros discursivos. O conjunto desses dados permitem retraçar parcialmente algumas facetas de sua trajetória profissional, as quais consideramos importantes para compreender sua obra, e sua controversa recepção pela sociedade brasileira. A perspectiva teórica adotada tem por base o dialogismo de Bakhtin/Voloshinov e de outros autores do Círculo, e explora o conceito de discurso citado, estudado por Castro. Almejamos contribuir para uma compreensão mais detalhada da biografia de Álvaro Vieira Pinto, por meio de situações e enunciados concretos, muitas vezes prosaicos, de sua história de vida, de seu cotidiano. Compreender parte da dinâmica destas vozes em confronto, favorecendo o reconhecimento e/ou privilegiando o silenciamento/esquecimento de Vieira Pinto, é um dos objetivos deste trabalho.
A inserção social e escolar dos haitianos em Santa Catarina
Sandra de Avila Farias Bordignon (UNOCHAPECO), Leonel Piovezana (Unochapecó - ACHJ)Grupo Temático: Políticas Públicas e Desenvolvimento Local: interveniências e interações entre tecnologia, sociedade e democracia
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As jovens nas Ciências: um estudo para a equidade de gênero no Ensino Médio
Sandra Unbehaum - Fundação Carlos Chagas (Fundação Carlos Chagas), Fundação Carlos Chagas - Thais Cristina Montaldi Gava (Fundação Carlos Chagas)Grupo Temático: Gênero, Ciência e Tecnologia: avanços e desafios
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A proposta deste estudo é investigar os percursos de jovens estudantes para as escolhas profissionais, com especial atenção, para as áreas de ciências, matemática e tecnologia. O objetivo é contribuir para equidade de gênero nessas áreas de conhecimento, considerando que nelas as mulheres estão sub-representadas. O estudo privilegia o Ensino Médio por sua importância na ressignificação para a vida de jovens dos mais diferentes contextos do país. Sendo a última etapa da educação básica, é quando são colocadas as expectativas referentes às ferramentas para a entrada no mundo do trabalho e a continuidade dos estudos para o ingresso no Ensino Superior. Análises estatísticas educacionais a partir dos recortes de gênero e raça mostram haver um aumento no acesso em todos os níveis educacionais para as mulheres, o que muitas vezes é interpretado como uma superação das desigualdades de gênero na Educação. No entanto, quando se observa os dados referentes às matriculas na graduação, segundo o sexo, e áreas de conhecimento, observa-se menor presença das mulheres em determinados cursos como aqueles vinculados às ciências e tecnologias. Neste sentido, olhar para o Ensino Médio nos coloca o desafio de buscar elementos que possam contribuir para entender os processos de escolhas das meninas em relação ao ensino superior e carreira profissional. Dentre várias questões uma delas é saber se há um viés de gênero, presente na comunidade escolar e na família que possam desencorajar as jovens em sua escolha para áreas das ciências e tecnológicas. O Brasil tem em seus princípios a educação como um direito, baseado em valores como equidade no acesso e na permanência, liberdade de ensinar e aprender, pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, gratuidade, valorização dos profissionais da educação, gestão democrática e garantia de padrão de qualidade. Desde o final do século XX, o país vivencia um período de melhoria significativa em todos os indicadores que medem as oportunidades de acesso, permanência, aprendizagem na Educação Básica. Este panorama nos possibilita olhar para o quadro da educação brasileira de outra perspectiva, não apenas buscando a universalização das políticas de acesso, mas também refletindo sobre a qualidade da educação oferecida e a necessidade da materialização dos resultados desta característica na vida das pessoas e, neste estudo, na vida das jovens.
Sistema Local de Inovação e Desenvolvimento Econômico Regional: Desafios e Limites
Sandro Renato Maskio (UMESP)Grupo Temático: Sistemas de Inovação e seu Alcance Conceitual, Metodológico e Normativo
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Profa. Dra. Anapatrícia Morales Vilha – Universidade Federal do ABC (UFABC)
Nas últimas décadas, o modelo produtivo industrial promoveu a ascensão de uma manufatura flexível com a introdução de novas tecnologias. Segundo Lahorgue (2006) neste novo padrão os países e suas regiões tiveram que se capacitar para produzir e difundir conhecimentos capazes de dominar as novas tecnologias. Para Tatsch (2006), há uma série de pesquisas que mostram a relação entre a dimensão regional, o dinamismo tecnológico e as vantagens competitivas decorrentes da interação entre empresas, organizações e instituições locais.
O desenvolvimento regional associado à inovação tem permeado constantemente os debates econômicos, sublinhando as relações entre o local e o global e o papel que cada uma destas dimensões desempenhará. Neste contexto, os sistemas locais de inovação são constituídos por empresas produtoras, fornecedores, clientes e demais firmas que contemplam a cadeia produtiva. Acrescentam-se as universidades locais e centros de pesquisa, incubadoras e demais instituições promotoras do conhecimento e aprendizagem (Lastres e Cassiolato, 2005).
Não obstante, Nelson (2006) nos alerta que a inovação não é um processo aleatório, mas sim fruto de esforços deliberados para desenvolver tecnologias. Neste sentido, o objetivo deste trabalho consiste em discutir as relações entre sistema local de inovação e desenvolvimento econômico regional, buscando entender os desafios e limites dessa intersecção. Portanto, parte-se do questionamento sobre os limites da interação dos atores políticos, científicos, tecnológicos e inovativos locais e os desdobramentos dessa dinâmica para o desenvolvimento econômico das regiões. Estão relacionadas a esta indagação a capacidade dos governos locais adotar ações de estímulo à inovação; o potencial de realização de pesquisa dos institutos especializados e das universidades locais; e também a capacidade de investimentos e ou de financiamento de um sistema local de inovação.
Nesta direção, os estudos neste campo de discussão evidenciam a importância dos laços comerciais e de parceria mais duradouros entre as empresas, bem como o papel das instituições públicas, cuja função reside em criar mecanismos de inovação, redes de cooperação, parcerias tecnológicas e a interação entre os atores.
Antiguidade grega e projetos industriais A influência do conceito grego de trabalho nas relações de trabalho na indústria
Saulo Costa Val de Godoi (Universidade Federal de Minas Gerais), Rodrigo Ribeiro (UFMG)Grupo Temático: Estudos Sociais da Tecnologia e Expertise na Engenharia
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A civilização grega é grande formadora da cultura ocidental. Sua filosofia, ciência, política e organização social influenciaram a fortemente história ocidental. Dentre suas influências, o conceito de trabalho grego ainda está presente – de modo atualizado e revigorado – nas relações de trabalho atuais. E tal conceito pode ser notado, por exemplo, no mundo industrial. Para os gregos do período homérico e clássico, o trabalho técnico e manual era destinado aos escravos. A valorização do ócio para atividades intelectuais, como o serviço público e político e a filosofia, era uma marca notável de Atenas. Este trabalho procura se situar na interseção entre os campos da Engenharia, da Ergonomia e da História, compreendendo como as relações de trabalho em uma planta industrial brasileira, cujas atividades foram acompanhadas desde 2012 a 2014, são influenciadas por conceitos que remontam à antiguidade grega. Desse modo, pretendemos entender como a cultura molda as relações produtivas ainda atualmente, também buscando lançar um olhar sobre o processo de criação de projetos tecnológicos e industriais.
A importância da imagem de serpentes e dragões no bestiário para os saberes em história natural no renascimento
Stefan Bovolon (PUC - SP)Grupo Temático: Ciência e Techné na História
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O tema de pesquisa se refere à importância que a imagem e outros tipos de representações pictóricas têm sobre as descrições de serpentes e os dragões, sua relação com os bestiários e a sua importância para a disseminação dos saberes no período do Renascimento. Várias transformações culturais ocorreram entre meados do Séc. XV e o Séc. XVII, que levaram, entre outra manifestações, a reconsiderar as idéias de antigas autoridades. Nesse caso, duas tendências predominaram: de um lado, a de se manter e complementar as idéias dos ´´antigos´´ e, de outro, a de criticá-las.
Essa importância ganha mais ênfase se considerarmos que durante o período renascentista a quantidade de pessoas que não sabiam ler era altíssima, mesmo considerando o crescente da capacidade leitora da população da época. Daí que as imagens tinham um relevante papel na difusão dos conhecimentos.
Focalizam-se aqui alguns tipos de representações pictóricas de dragões e serpentes retratadas nas obras de Ulisse Aldrovandi. E por ventura, obras que tenha relação de tempo e local com o autor citado.
Serão analisadas questões de existência de descrições desses seres vivos junto das imagens, existência de relações com o ´´bestiário´´, com os denominados ´´animais espetaculares, místicos e exóticos´´ e das possíveis relações existentes com a primazia da história natural italiana renascentista, entre outros fatores.
Também compõe com grande importância esse projeto, a questão das técnicas utilizadas para compor essas imagens, como por exemplo, a gravura sobre madeira e sobre metal, sua impressão, entre outros fatores importantes que condizem com o elemento da imagem.
Dessa forma pretende-se investigar se existem relações na presença de imagens do bestiário com algum fator de técnica empregado, fatores que estavam ocorrendo na sociedade no período determinado, ou outros fatores.
O uso de filmes infantis nas discussões sobre a História das Ciências e da Tecnologia no Ensino Fundamental I
Suseli de Paula Vissicaro (UNICAMP)Grupo Temático: História das Ciências e da Tecnologia aplicadas ao Ensino
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Crianças são curiosas por natureza, no entanto, constitui-se um desafio para o professor despertar seu interesse e curiosidade durante as aulas, principalmente de ciências, diante dos conteúdos escolares. Alguns pesquisadores apontam para a inserção do lúdico como forma de envolver os alunos. Neste sentido, propomos a utilização de filmes infantis, que na maioria das vezes apresentam noções e visões de ciência e tecnologia, equivocadas e contraditórias. A proposta de problematizar tais noções alinha-se a importância do ensino das Ciências Naturais na formação crítica do cidadão, destacando sua contribuição na compreensão do mundo e suas transformações, situando o homem como um indivíduo participativo e integrante do Universo, favorecendo o entendimento e o questionamento sobre as possibilidades de intervir e utilizar os recursos disponíveis, através da História das Ciências e da Tecnologia. Considerando-se o apontado anteriormente, elegemos alguns filmes infantis para o qual criamos roteiros de orientação e discussão. Um dos roteiros foi desenvolvido em uma turma do segundo ano do Ensino Fundamental I, caracterizando este trabalho como um estudo de caso. Os dados coletados a partir das discussões realizadas com os alunos serão analisados pela técnica interpretativa. Assim, são objetivos deste trabalho: discutir o papel das ciências e da tecnologia na sociedade; problematizar a visão do cientista e do trabalho realizado pelo mesmo; contribuir para a desconstrução das imagens veiculadas nos filmes infantis. Os resultados apontam para a necessidade de se problematizar as imagens veiculadas para o público infantil, haja vista que expressam visões e valores que refletem imagens muitas vezes distorcidas da atividade científica, construindo e legitimando determinadas identidades sociais. Concluímos que os filmes podem contribuir para a formação do cidadão, servindo como um elemento disparador para análise da cultura e para compreensão da História das Ciências e da Tecnologia.
Implantação do Hacklab na Universidade Federal da Bahia: uma construção coletiva
Silvia Maria Gomes CaldeiraGrupo Temático: Gestão da Tecnologia e Inovação nas Universidades Latinoamericanas
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Um hackerspace (também chamado hacklab, makerspace ou hackspace) é um pespaço de trabalho comunitário onde as pessoas com interesse comum, normalmente computadores, aparelhos mecânicos, a tecnologia de um modo geral, arte digital. Nesses espaços, as pessoas podem reunir-se, socializar e colaborar.
Já um Fab lab é uma plataforma de prototipagem técnica para a inovação e invenção, proporcionando um estímulo para o empreendedorismo local. Um Fab Lab é também uma plataforma para a aprendizagem e inovação: um lugar para jogar, para criar, para aprender, para orientar, para inventar. Porém, para ser um Fab Lab é necessário conectar-se a uma comunidade global de alunos, educadores, técnicos, investigadores, numa rede de compartilhamento de conhecimento, que abrange 30 países e 24 fusos horários. Porque todos os Fab Labs compartilham ferramentas e processos comuns, o programa está construindo uma rede global de laboratórios distribuídos para a investigação e invenção.
Como um espaço híbrido entre um hackerspace e um Fab Lab, surge o Haclab-UFBA. Espaço físico amplo (4 grandes mesas e cerca de 40 cadeiras, sofás, TV, materiais diversos, como jogos e elementos eletrônicos de sucata) pensado como área de encontro para discussão de ideias, associado a um laboratório com máquina de torno CNC, máquina fresadora mecânica e máquina de corte laser, equipamentos já existentes. Este espaço é uma iniciativa da Coordenação de Inovação da Pró-reitoria de pesquisa, criação e inovação, com a expectativa de que em pouco tempo tenhamos resultados relevantes, com produtos criados para o mercado consumidor. Esta expectativa baseia-se no fato do foco da inovação estar no estudante, que será o protagonista da criação, e não do professor, como até o momento esteve sendo feito.
Este trabalho usará a metodologia de pesquisa ação, e pretende descrever o aprendizado adquirido durante a trajetória de construção desta iniciativa inovadora da UFBA, a partir da minha perspectiva como auxiliar da implantação das regras de funcionamento do espaço, pretendendo servir de base para outras iniciativas dentro do próprio estado. Qual o perfil do estudante que procura o grupo? Qual o grau de envolvimento? Há maior tendência colaborativa ou competitiva entre os que buscaram o espaço? Essas e outras perguntas serão esclarecidas com a pesquisa.
Formação Continuada de Professores e Políticas Educacionais para uma Educação CTSA
Sidnei Quezada Meireles LeiteGrupo Temático: Educação e Trabalho
Resumo
Embora muitos países alcançaram avanços significativos, o 11° Relatório de Monitoramento Global de Educação para Todos (UNESCO, 2015) apontou que o compromisso assumido por 164 países, entre eles o Brasil, de melhorar a qualidade da educação até 2015 não será atingido globalmente. Conforme o documento de "Educação para Todos", que traz seis metas que integram o Acordo de Dacar (Senegal), assinado em 2000 (UNESCO, 2001), até 2015, os países deveriam, entre outras metas, universalizar o ensino primário, reduzir o analfabetismo em 50%, e alcançar paridade e igualdade de gênero, melhorando a qualidade da educação. Assim, é fundamental investir em práticas educativas, científicas, a fim de eliminar os preconceitos existentes na humanidade e conscientizar a população sobre o papel da ciência. Para isso, ressaltou o texto a necessidade de se investir em formação inicial e continuada de professores. No Brasil, surgiram as novas Diretrizes Curriculares Nacionais (BRASIL, 2013), com pressupostos e fundamentos para o ensino médio com qualidade social. Além disto, com relação ao Plano Nacional da Educação (PNL) com suas 20 metas estruturantes para a garantia do direito à educação básica com qualidade, ressalta-se a meta 16 que trata da formação continuada de profissionais da educação básica, considerando as necessidades, demandas e contextualizações dos sistemas de ensino (BRASIL, 2014). Considerando as tendências mundiais e nacionais no cenário da educação científica e o contexto da educação nos âmbitos nacional este GT tem o objetivo de refletir e discutir a formação continuada de professores de ciências da natureza com enfoque CTS/CTSA, no âmbito da educação básica, buscando articular políticas educacionais, tendências curriculares para a formação de professores e possíveis impactos na sala de aula da educação básica.
Educação CTS no currículo de Biologia em Timor-Leste
Suzani Cassiani, Alessandro Tomaz Barbosa, Irlan von LinsingenGrupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
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Buscamos compreender alguns processos históricos na construção do currículo de Biologia do Ensino Secundário Geral (ESG) do Timor-Leste, dando ênfase às relações entre Ciência, Tecnologia e Sociedade no ensino de Biologia. Investigamos na literatura e nos documentos nacionais do Timor-Leste, aspectos referentes ao contexto histórico da construção curricular do ESG. Os resultados sinalizam que sua elaboração se deu principalmente pelos portugueses (colonizadores de Timor-Leste do início do século XVI até 1975) e sem a participação dos timorenses. Segundo Ramos e Teles (2012), o ministro da educação de Timor-Leste tinha considerado que a estruturação do plano curricular deveria estar articulada aos professores timorenses, os quais formariam grupos e ou equipes homólogas. No entanto, isso não aconteceu por fatores como a carência de meio de comunicação, a falta de conhecimento na área específica e de Língua Portuguesa e a dificuldade do ministério timorense em efetivar a constituição das equipes. Com a não participação dos timorenses, o plano curricular se configurou como uma adaptação do modelo de currículo português, composto por aspectos usados em sociedades ocidentalizadas e, principalmente, industrializadas que na maioria das vezes não reflete a realidade. Diante dessa situação, problematizamos como os elementos da ciência e da tecnologia são trabalhados nesse contexto? Enfatizamos a importância dos professores timorenses desenvolverem sua autonomia docente, de forma que possam agir criticamente durante a sua atuação, relacionando os conteúdos do currículo exótico, com os conhecimentos tradicionais, de forma que os conteúdos científicos signifiquem, além de valorizar a cultura e a identidade timorense. A Educação CTS pode ser uma alternativa para uma educação científica e tecnológica emancipatória e mais condizente com os interesses e necessidades do país. Assim, o ensino de ciências deixa de ser enfocado em conteúdos distantes e fragmentados, baseados em conhecimentos científicos supostamente neutros e passa a ser enfocado em situações vividas pelos educandos em seu cotidiano.. Os resultados mostram a necessidade de aprofundar aspectos da transnacionalização do currículo e a importância de estudos de descolonização do saber e as epistemologias do sul.
Mme Curie e a técnica na pesquisa sobre a Radioatividade no final do século XIX e início do século XX
Sonia Regina TonettoGrupo Temático: Ciência e Techné na História
Resumo
Este trabalho tem como objetivo mostrar a importância das pesquisas realizadas pela cientista Mme Curie referentes à Radioatividade em seu laboratório em Paris, École Municipale de Physique et Chimie Industrielles e reconhecer a importância das técnicas desenvolvidas durante essas pesquisas para a construção do conhecimento científico. Através das análises da biografia de Mme Curie escrita pela filha Ève Curie, das cartas trocadas entre a cientista e colaboradores, dos diários, dos manuscritos, dos livros publicados para o curso de Física que Mme Curie dava na Sorbonne, das atas e artigos publicados em jornais da época vamos discutir as técnicas de pesquisa e o uso de instrumentos e materiais no estudo da Radiação. Sabemos que Mme Curie é conhecida pelos estudos referentes à Radioatividade e a descoberta dos elementos radioativos Rádio e Polônio. Estudos realizados entre o final do século XIX e início do século XX. Sabemos também da importância dessa cientista que viveu em uma época em que poucas foram reconhecidas no meio científico. Muitas, como Mme Curie, seguiram estratégias para desenvolver seus trabalhos e publicá-los, a fim de fazer parte do meio científico. Mme Curie realizou vários experimentos, fez uso de instrumentos de medição elaborados pelo marido e cientista Pierre Curie, usou vários minerais conhecidos na época, porém o que observamos em jornais publicados no início do século XX foi o sensacionalismo, onde a substância recém-descoberta, o Rádio, fazia parte de cenas de teatro e na publicidade de cremes de beleza que tinham em sua composição o elemento radioativo. Por outro lado, os livros da época, que apresentavam a descoberta dos Raios X, passaram a apresentar a descoberta da Radioatividade, mostrando os trabalhos de Henri Becquerel e do casal Curie. Encontramos também publicações referentes às pesquisas de médicos que, através de atas apresentadas em congressos, mostravam resultados positivos da aplicação do Rádio em tumores. Para incorporar esse tema nas aulas de física das universidades, Mme Curie elaborou um livro contendo seu trabalho sobre Radioatividade destinado ao curso de física que dava na Sorbonne. Através da análise desses documentos pretende-se discutir a importância da técnica desenvolvida e dos equipamentos utilizados nesse período por Mme Curie em suas pesquisas.
Política nacional de fomento à interatividade na TV digital brasileira: o middleware Ginga como ferramenta de inclusão digital
Sayonara LealGrupo Temático: GT Ciência, tecnologia e inovação social
Resumo
Este trabalho trata das conexões entre política de fomento à interatividade na TV digital brasileira, políticas de inclusão digital e desenvolvimento de aplicativos sociais sediados no middleware brasileiro Ginga (camada de software que permite a interatividade em nossa TVD). A escolha da TV como dispositivo de inclusão digital está associada a dois dados estruturais da sociedade brasileira. De um lado, a televisão está presente em 91% dos lares brasileiros e do outro, apresentamos um quadro importante de fratura digital. Partimos do problema de como uma tecnologia (Ginga), resultado de uma trama sociotécnica que implica a coordenação entre dimensões cívica, mercantil, industrial, funciona, apesar de sua ancoragem sistêmica (mercado e governo), segundo pressupostos da política de inclusão digital no Brasil? Propomos dois desenvolvimentos principais para apresentar a nossa discussão. Primeiro, colocamos em perspectiva o cenário atual de políticas públicas no Brasil voltadas para o fomento à inclusão digital (2002-2015), de forma geral, para discutir, em específico, o Ginga como configuração sociotécnica que se converte em política pública para inclusão social no país. Neste sentido, interessa-nos evocar iniciativas governamentais para estimular e "agenciar" a construção de aplicativos afinados com a politica de inclusão digital no país e de fomento à economia criativa via editais públicos. Segundo, analisar a participação de aplicativos sociais concebidos com incentivos públicos para incrementar a dimensão interativa do Sistema Brasileiro de Televisão Digital, com propósitos de justiça social, oferecendo serviços públicos a populações de beneficiados do Programa Bolsa Família. Operacionalizamos este trabalho a partir da realização de análise documental de programas de inclusão digital, nos governos Lula e Dilma; entrevistas semi-estruturadas com gestores públicos, envolvidos com os desenvolvimentos do Ginga e coordenadores e desenvolvedores do Projeto Brasil 4D, vinculados à Empresa Brasil de Comunicação. Discutimos, apoiados na sociologia da inovação, como o efetivo compasso entre política pública de inclusão digital e fomento à interatividade cívica a partir de uma tecnologia (Ginga) passa pelas relações e tensões entre sua invenção e seus usos, os quais resignificam sua atribuição de inclusão social.
Modelos de Análise de Políticas Públicas: Características e Aplicabilidade
Sidarta Ruthes, Christian Luiz da SilvaGrupo Temático: Políticas Públicas e Desenvolvimento Local: interveniências e interações entre tecnologia, sociedade e democracia
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Para compreender melhor a atuação do governo e a efetividade das políticas públicas, pesquisadores de diferentes áreas desenvolveram diversos modelos conceituais e explicativos que pudessem analisar políticas (Policy Analysis). A característica interdisciplinar no desenvolvimento de modelos fez emergir uma variedade de abordagens para as mais diversas situações. Além de representar a realidade, os modelos auxiliam o gestor público a compreender o sistema em que a política está inserida. Por meio de modelos de análises, o gestor pode ver emergir variáveis significativas e suas respectivas relações, indicando alternativas não conjecturadas antes, como também, pode perceber que variáveis que eram consideradas fundamentais, na verdade, são marginais ao problema. Nesse sentido, o objetivo deste artigo é apresentar os principais modelos de análises de políticas públicas, discutindo suas características e aplicabilidades. Para isto, realizou-se uma revisão de literatura sistemática, identificando fatos históricos que fizeram emergir determinados modelos de análise de políticas públicas, remontando evidências do final do século XIX (primeiros estudos sobre políticas) até os dias atuais. Os modelos identificados são: (1) de opção pública; (2) institucional; (3) de grupo; (4) racional; (5) de elite; (6) de processo; (7) de ciclo; (8) incremental; (9) sistêmico; (10) de rede política; (11) de jogo político; (12) político de decisão; (13) de arena política; (14) de definição de agenda; (15) anárquico; (16) de múltiplos fluxos; (17) de coalizão de defesa; e (18) de equilíbrio pontuado. Os modelos são abstrações que se complementam, portanto, não excludentes e podem ser classificados em três categorias: (i) descritivos - apresentam o modus operandi e como as variáveis impactam o sistema investigado; (ii) prescritivos - indicam como agir, como as instituições deveriam ser, como as decisões deveriam ser definidas; e (iii) normativos - expõem a situação ideal para o objeto em estudo. Por fim, independente do modelo utilizado, o rigor científico e técnico deve permear todo o processo. Não há somente um caminho de condução, existem muitas ferramentas, e cabe ao pesquisador avaliar a situação, ponderar sobre as condições subjacentes (motivações, interesses etc.), considerar as limitações de tempo e de recursos disponíveis para, sim, fazer as escolhas mais adequadas.
Fábrica De Software Baseada Em Métodos Ágeis: Experimentações Em Um Grupo De Educação Tutorial
Sergio Manuel Serra da CruzGrupo Temático: Seguindo cientistas em ação - desafios metodológicos das ciências de dados e das neurociências em CTS.
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O conceito fábrica de software (FS) refere-se a uma coleção estruturada de recursos (humanos, processos e metodologias) cujo objetivo produzir software para as necessidades específicas do cliente. Uma FS também pode ser vista como uma caixa-preta onde entram insumos e saem produtos. Na tecnociência o conceito da "caixa-preta" é muito utilizado para explicar fatos e artefatos científicos. Assim como abrimos a "caixa-preta de um avião quando cai para investigarmos as causas da queda, as caixas pretas da tecnociencia são abertas à medida que surgem questionamentos (controvérsias) sobre o seu funcionamento. A proposta deste trabalho é a partir da controvérsia sobre o funcionamento da FS através do trabalho experimental desenvolvido, abrir a caixa-preta e enxergar novas opções que viabilizam o funcionamento.
Experimentos piloto realizados pelos Programa de Educação Tutoria (PET-SI) da UFRRJ adotaram três métodos ágeis como metodologia de desenvolvimento de produtos de software. Embora o processo de ajudasse no desenvolvimento da capacidade criativa, na solução de um problema ou no atendimento a necessidade de um cliente, algumas expectativas por parte dos alunos para elaboração de softwares mais padronizados, por exemplo, não foram atendidas. A ideia de fazerem parte de uma "linha de montagem" também incomodava bastante a alguns integrantes - "tratar o desenvolvedor como um recurso é não só infantilizá-lo como também desumanizá-lo". Alguns adjetivos dados a FS, como a forma "rígida", "segmentada" e "centrada no produto final", com a qual foi classificada pelo grupo, fomentou um movimento por parte do mesmo para a criação de algo novo. Uma metodologia que democratizasse o papel do desenvolvedor, não apenas como um componente do processo fabril, mas também como um artífice do conhecimento.
Foi desenvolvida em contra partida a proposta de Fábrica De Software Baseada Em Métodos Ágeis (FSMA) que se difere do conceito de FS. A FSMA se alinha com a escola de pensamento proposta por Vygostky onde a educação é considerada como fonte de desenvolvimento. Este trabalho apresenta o relato de um experimento piloto centrado no aluno e adotou métodos ágeis para o desenvolvimento de novos produtos de software. O experimento foi conduzido durante um intervalo de cinco meses e resultou no desenvolvimento e disponibilização de dois produtos distintos.
Um Estudo sobre competências e habilidades de tutores na Educação a Distância
Sérgio Silva FilgueiraGrupo Temático: Tecnologia e mediações
Resumo
A evolução da Educação a Distância (EaD) ocorreu rapidamente e acompanhou o desenvolvimento tecnológico com os avanços das tecnologias da informação e comunicação. Surgiu assim, a necessidade de um profissional especializado com competências para aplicar os recursos tecnológicos de forma eficiente e eficaz nos cursos em EaD. Este trabalho pretende ressaltar a importância dos tutores na EaD, realçando quais são as funções que exercem nessa modalidade e quais as competências necessárias para a qualidade no desempenho de suas funções. Elaborou-se, a partir de entrevistas estruturadas e observação participante, uma matriz de competências. Os resultados encontrados podem servir como base para o desenvolvimento de programas de formação e capacitação de tutores e também para novos estudos e publicações. A modalidade de EaD estabelece uma certa autonomia do aluno, uma quase independência na construção de seu espaço-temporal, deixando a falsa ideia de que possa existir desenvolvimento intelectual e aprendizagem de forma totalmente isolada. Por traz dessa autonomia, existe a figura de um orientador, um mediador, uma nova modalidade de educador que apresenta novos caminhos e alternativas, fomenta ideias e projetos e faz, gradativamente, a interação entre as unidades de ensino, os conteúdos, o professor e a práticas, induzindo o aluno não apenas a replicar conhecimentos, mas, também, a desenvolver o aprendizado de forma sólida: o tutor. Esse novo educador é um facilitador da aprendizagem e tem como uma de suas principais funções possibilitar a mediação entre o professor especialista, o estudante, o material didático do curso e as atividades práticas. Segundo [5], "o tutor, respeitando a autonomia da aprendizagem de cada cursista, estará constantemente orientado, dirigindo e supervisionando o processo de ensino aprendizagem". Neste sentido, o tutor é quem tem o maior contato com o aluno e, dessa forma, é capaz de perceber as necessidades de seus alunos sob diversas condições.
A atuação do tutor baseia-se em ter, além de capacidades pessoais e técnicas, consciência sobre a modalidade em que atua. Além disso, é necessário saber utilizar de forma competente as tecnologias de informação e comunicação, que, certamente, contribuem para desenvolver competências dos alunos e para gerar colaboração entre o grupo.
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Cuidado com dissenso: interferências teóricas entre o cuidado e o feminino
Talita Tibola (Universidade Federal Fluminense)Grupo Temático: PesquisarCOM e o feminino na ciência
Resumo
Proponho, a partir de autoras que conjugam feminismo e Teoria Ator-Rede, uma interferência teórica entre as noções de cuidado e feminino. Em meu percurso estive interessada em pesquisar os modos de “estar com”, formas de coletividade e de habitar a cidade, mantendo as possibilidades de dissenso. A partir disso encontrei nas práticas e teorias feministas grandes aliadas, assim como em meu cotidiano, nos encontros de pesquisa PesquisarCOM que possibilitavam as discussões em torno do feminino na ciência, a partir de Márcia Moraes, Isabelle Stengers, Vinciane Despret e Maria Puig de la Bellacasa. As práticas de cuidado na matriz moderna ocidental foram associadas ao feminino, como uma qualidade e ao mesmo tempo enquadramento de gênero. As controvérsias ligadas ao “cuidado” e “feminino” vão estar no centro de diversas e diferentes estratégias feministas: a) situar o cuidado no centro do político; b) problematizar que a exploração das mulheres pode acontecer mediante seu produção afetiva; c) o cuidado e o encontro entre mulheres construindo e transformando o que é ser mulher, são algumas dessas estratégias que atravessam e desclocam as fronteiras do que é feminino e do que é cuidado. Situando-nos nessa controvérsia, Bellacasa (2012) nos ajuda a pensar as práticas de cuidado afirmando que não são apenas um estado “ético afetivo”, mas um engajamento material que demanda esforço para sustentar mundos interdependentes. Sustentando a relação entre cuidado e práticas de pensamento e conhecimento, propõe a expressão “dissenting-within”, à qual sugiro como tradução livre “cuidado com dissenso”. O cuidado aqui não é um mero qualificador do dissenso, mas sustância dele próprio. O “cuidado com dissenso” propicia combinar duas dimensões em meu percurso indispensáveis: por um lado, uma ética dos afetos que não seja pautada pela pacificação de um consenso, por outro lado, um dissenso que não se esvazie de uma positividade afetiva e de cuidado. Portanto, me interessa interrogar como o cuidado com dissenso pode contribuir para pensar e agir a relação entre cuidado e feminino nos termos do feminino da ciência, tomando os encontros de pesquisa como produtores de dissenso e deslocamento.
Redes de indignação e dominação
Tamara Egler (IPPUR/UFRJ)Grupo Temático: Internet: entre o capital e as ruas
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Resumo
A questão proposta para analise nesse artigo é examinar o efeito da invenção de novas tecnologias de informação e comunicação e as potencialidades de sua organização em rede sociotécnicas na transformação da política. Isso para examinar os resultados alcançados com políticas que emanam de cima para baixo e comparar seus resultados com políticas que emergem de baixo para cima.
O ponto de inflexão da proposta reconhece uma tensão conceitual entre planejamento urbano e políticas públicas. O planejamento urbano é um campo que se refere à capacidade de pensar o futuro do espaço, quando se valoriza o instrumento de plano diretor, dentro do qual se estabelece uma hierarquia que contempla a dimensão material, aquela que é produzida pela dimensão econômica. Quando nos referimos à política pública, estamos falando de programas de ação que vão além da dimensão visível e tangível do espaço, para examinar sua complexidade física e social. A proposta analítica é ir além da dimensão econômica e da intervenção do poder burocrático, para compreender a complexidade espacial como resultante também da dimensão relacional entre as pessoas e os grupos sociais aos quais elas pertencem.
A pesquisa proposta tem por objetivo reconhecer e mapear as redes sociotécnicas que associam corporações internacionais, governo em suas diferentes escalas, capitais privados e que atuam em defesa de interesses globais, e outras redes sociotécnicas que associam atores organizações não governamentais, instituições de governo, capitais privados e pessoas para atuar em defesa do bem comum.
Do ponto de vista metodológico será considerada a ação como categoria central da política. Serão examinadas três categorias: a primeira está associada aos atores; a segunda, aos processos; e a última, ao objeto da ação.
A Gazeta da Pharmacia: uma análise dos discursos acerca dos métodos anticoncepcionais nos anos de 1960 a 1980
Tânia Maria Dias (Instituto Fernandes Figueira/Fiocruz), Marcela Peralva Aguiar (Instituto Fernandes Figueira/Fiocruz)Grupo Temático: Estudos Sociais das Ciências e das Tecnologias em Saúde Sexual e Reprodutiva
Resumo
Desenvolvidas nos Estados Unidos ao longo dos anos de 1950, as pílulas anticoncepcionais foram introduzidas no Brasil, no início dos anos 1960. Esses produtos se difundiram rapidamente, por meio de dois circuitos principais: comercialização nas farmácias, atendendo a clientela de classes médias e altas, e distribuição gratuita por entidades privadas de planejamento familiar, que atuavam junto às mulheres mais pobres. O advento de novos métodos de controle da fecundidade, na década de 1960, é coetâneo do debate internacional sobre a “crise demográfica” e do neomalthusianismo, cujos ecos chegaram também ao Brasil e, em meio a inúmeras controvérsias e disputas, promoveram a remodelação do debate médico e social em torno da temática que articulava saúde da mulher, sexualidade e reprodução. Neste trabalho, são analisadas matérias do periódico “A Gazeta da Pharmacia”, publicados entre os anos de 1960 e 1981, que versam sobre métodos anticoncepcionais. Este recorte temporal foi selecionado devido ao fato de recobrir as primeiras décadas de difusão das novas tecnologias de contracepção no Brasil, dentre elas, pílulas, injetáveis e DIU. A Gazeta da Pharmacia - criada em maio de 1930, pelo órgão oficial dos sindicatos dos proprietários de farmácia e laboratórios, e, extinta em janeiro de 1981 – tinha o intuito de servir de meio de difusão de informações sobre produtos farmacêuticos entre os profissionais da saúde, sendo uma fonte privilegiada para análise dos debates que circulavam nos meios especializados sobre as pílulas anticoncepcionais e outros contraceptivos. O periódico foi acessado através da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional e as matérias foram selecionadas com seis palavras-chaves: anticoncepção, anticoncepcional, anticoncepcionais, anovulatório, contracepção e contraceptivo. Em nossas análises preliminares percebemos a emergência de conexões e associações suscitadas pelo advento dessas tecnologias médicas bem como a constituição de circuitos locais de produção e comercialização destes novos produtos.
Disciplinas CTS em cursos de graduação e pós-graduação: estudo de caso em uma universidade pública no Brasil
Tatiana Galieta Nacimento (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)Grupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
Resumo
A Educação Científica e Tecnológica (ECT) no Brasil tem enfrentado desafios no que tange à adequação das demandas reais dos atores que atuam em diferentes cenários educacionais às políticas públicas oficiais regulamentadas pelo Ministério da Educação deste país. No caso específico da educação formal, esta questão está posta tanto na educação básica quanto no ensino superior, mais especificamente em cursos de formação de professores. No caso de professores de Ciências da educação básica, observamos um confronto entre as diretrizes curriculares (como os Parâmetros Curriculares Nacionais e os Currículos Mínimos regionais), as avaliações sistemáticas (como o Exame Nacional do Ensino Médio e o Sistema de Avaliação da Educação Básica) e as necessidades de estudantes cujas realidades socioeconômicas são as mais diversas. Isto tem suscitado debates, sobretudo no âmbito acadêmico, sobre como proceder para a seleção dos conteúdos e das metodologias, além dos próprios saberes docentes, que devem integrar os currículos em ação das disciplinas científicas. Tal aspecto acaba, por consequência, reverberando nos cursos de formação de professores da área das Ciências da Natureza os quais devem preparar profissionais que se adequem às diretrizes oficiais, bem como aos cenários diversos encontrados nas escolas onde atuarão. É dentro deste contexto que reconheço nos Estudos CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade) a possibilidade de formação de professores (nos níveis de graduação e de pós-graduação) antenados com questões atuais sobre Ciência e Tecnologia dentro de uma perspectiva crítica, humanística e integradora de ECT. Por este motivo, criei e ministrei duas disciplinas CTS na Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, sendo uma delas no curso de licenciatura em Ciências Biológicas, e outra no curso de Pós-Graduação em Ensino de Ciências, Ambiente e Sociedade, ambas de caráter eletivo. Neste trabalho tenho como objetivo contar as trajetórias de constituição dessas disciplinas acadêmicas, a opção pelos referenciais teóricos nelas discutidos, as metodologias empregadas e, finalmente, realizar uma análise dos trabalhos finais apresentados pelos estudantes (licenciandos e mestrandos) buscando identificar as contribuições e as limitações dessas disciplinas na formação inicial e continuada destes sujeitos.
Delegando ações a não-humanos: como a tecnologia influencia práticas laboratoriais e o fazer científico
Thaís Garcez Capovilla (Universidade Estadual de Campinas)Grupo Temático: Experiências contemporâneas em Antropologia da Ciência e da Tecnologia: etnografia, grandes projetos e escala planetária (ou não)
Resumo
Autora: Thaís Garcez Capovilla (Unicamp), Coautor: Prof. Dr. Pedro Peixoto Ferreira (Unicamp)
Resumo: As implicações da objetivação das ações de máquinas em práticas científicas laboratoriais se estendem muito além da mudança na ordenação de instrumentos no auxílio de pesquisas. Na medida em que ações humanas são delegadas a máquinas no contexto da vida laboratorial, novos agentes não-humanos passam a exercer um papel essencial no desenvolvimento científico e tecnológico do próprio laboratório, assim como no mundo exterior a ele. Seguindo a linha da Teoria Ator-Rede de Bruno Latour, a análise da objetivação de máquinas exibe uma ampla gama de complexas conexões estabelecidas entre diferentes agentes no processo científico, mostrando a grande importância de nos atentarmos às influências da tecnologia na ciência em construção. Ao passo em que a consciência acerca da profunda relação entre diferentes agentes no processo científico cresce, também se mostra necessária uma investigação dos vínculos estabelecidos entre as esferas teórica, técnica e social na atividade dos cientistas e na repercussão de suas produções na sociedade. A função de intermediação designada para a tecnologia se mostra, nos dias atuais, cada vez mais densa e começa a transpor os limites de suas funcionalidades para agir sobre praticamente todas as atividades humanas, e a sua influência no meio científico passa a se mostrar como um ponto crucial no fazer científico, transformando-o de acordo com a contemporaneidade. O presente resumo pretende investigar como essa transformação da prática científica está se desenrolando, através da objetivação de agentes não-humanos, em pesquisas laboratoriais. Para tanto, a análise se baseia em uma incursão etnográfica realizada previamente, ao longo de dois anos, no Laboratório de Materiais e Baixas Temperaturas do Instituto de Física Gleb Wataghin da Unicamp. Com o trabalho pretende-se contribuir com a literatura dos estudos de Ciência, Tecnologia e Sociedade em termos de exposição de novos parâmetros sociais no âmbito da ciência e da tecnologia, assim como colaborar com a troca de conhecimentos entre a comunidade científica e a sociedade.
"Hqtrônicas" e jogos eletrônicos no século XXI: diálogos entre tecnologia e quadrinhos digitais
Thiago Estevão Calixto de Castro (UTFPR), Marilda Lopes Pinheiro Queluz (UTFPR)Grupo Temático: Tecnologia e mediações
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Resumo
A linguagem dos quadrinhos está intimamente ligada às condições tecnológicas de sua história, constituindo e sendo constituída nos processos de interação e apropriação dos leitores. No decorrer do século XX e início do XXI, a página impressa e o suporte papel passaram a dividir espaço com o suporte digital, possibilitando novas características de produção, distribuição e leitura.
Segundo Edgar Franco (Franco, 2000), houve uma revolução na linguagem dos quadrinhos, pois o meio digital permite a inserção de elementos hipermidiáticos tais como som, animação e interatividade. Para o autor, essas são as "HQtrônicas", narrativas sequenciais com mediações tecnológicas de diversos tipos.
Este estudo tem como objetivo analisar algumas "HQtrônicas" recentes na indústria, a fim de verificar dois pontos principais: 1) de que maneira sua linguagem está sendo utilizada e dinamizada pelas tecnologias atuais, gerando outros usos e práticas colaborativas; 2) analisar até que ponto os caminhos de experimentação digitalmente possíveis estão democraticamente disponíveis para o acesso de artistas e curiosos.
Devido a sua semelhança com os jogos eletrônicos, foram selecionadas três "HQtrônicas" que dialogam com a indústria dos "games": "Mass Effect Genesis", "Batman Arkham Origins", e "The Witcher: Reason of State 1". Elas conversam com o gênero dos jogos eletrônicos que as originaram, seja complementando a narrativa do jogo ou servindo de ligação entre diferentes episódios dos jogos. A HQtrônica Mass Effect Genesis, por exemplo, narra os acontecimentos entre o Mass Effect 1 e Mass Effect 2, distribuído para computadores e videogames.
A produção dessas "Hqtrônicas" sugere a significativa influência do gênero jogo em relação ao quadrinho. Existe nessas HQtrônicas um forte apelo que direciona o leitor para o consumo, e não tanto para a experimentação da "arte sequencial". As reflexões propostas dialogam com as concepções bakhtinianas de linguagem (Bakhtin, 1992), bem como com a Teoria Crítica de Tecnologia, compreendendo que os sistemas e artefatos tecnológicos devem ser entendidos como parte da vida e não podem ser compreendidos como um compartimento separado da sociedade (Pacey, 1990). Com o debate, esperamos demonstrar que o desenvolvimento de quadrinhos digitais ocorre a partir de uma concepção determinista de tecnologia.
A relação consciência-mente-corpo nos conhecimentos do Yoga: possíveis contribuições à reflexão das ciências humanas sobre os novos ambientes propostos ao humano no contexto da hiperconexão digital
Thiago Pires Galletta (Unicamp)Grupo Temático: Saberes do corpo e sobre o corpo: formas de conhecimento, experiência, ciência e expertise
Resumo
O objetivo do trabalho é refletir sobre a compreensão do Yoga (enquanto conhecimento filosófico e saber prático-experimental) a respeito dos novos e singulares ambientes propostos ao humano pela recente e acelerada popularização das redes sociais online e dos suportes de internet móvel (celulares, tablets, smartphones, etc.). Mais especificamente, o estudo em curso investiga o lugar e a possível importância específica que assume a relação de si para consigo, as técnicas de si e o cuidado de si, neste novo cenário digital emergente, buscando discutir potenciais implicações sócio-políticas desta relação e deste tipo cuidado tal como entendidos e experienciados no Yoga. Aqui se coloca a questão da soberania do humano sobre si mesmo, seu corpo e sua mente, em um ambiente que tende a promover a hiperestimulação dos processos mentais, e no qual a atenção e o tempo de navegação do humano na internet se convertem em fontes de crescente exploração pelo capital. Apoiando-se no estudo aprofundado da bibliografia pertinente ao objeto proposto, a pesquisa – cujos resultados preliminares são apresentados neste trabalho – se volta ainda ao levantamento de percepções e perspectivas de mestres e praticantes yogues brasileiros sobre o panorama sócio-técnico abordado. Dada a dimensão essencialmente prática, experiencial e corporificada dos conhecimentos yogues sobre a íntima e recíproca relação entre corpo e mente, procura-se mapear, a partir da escuta destes praticantes e mestres, possíveis contribuições do Yoga à consideração das ciências humanas a respeito das problemáticas específicas propostas – no contexto da imersão digital contemporânea – à relação do humano com seu complexo corpo-mente. A crescente disseminação e estudo do Yoga na sociedade global capitalista atual, ao mesmo tempo em que engendra impasses e contradições bastante significativos, propondo desafios e novas realidades a estes conhecimentos e tecnologias psicofísicas gestados ao longo de milênios na península indiana, pode estar promovendo a abertura de novas oportunidades de reflexão e consideração sobre as relações entre ciência e ética, tecnologia e sociedade, corpo e mente, conhecimento sensível e conhecimento intelectual, a partir de paradigmas distintos dos hegemonicamente estabelecidos na epistemologia das modernas ciências ocidentais.
Arte, engenho e ciência: contribuições para uma história dos conceitos (Portugal, ca. 1550-1800)
Thomás A. S. Haddad (Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP)Grupo Temático: Ciência e Techné na História
Resumo
Não foi antes da metade do século XIX que a palavra 'técnica' começou a ocorrer como um substantivo na língua portuguesa, ainda que em sentido adjetivo ela já seja atestada por volta de 1780, junto com o vocábulo 'tecnologia'. Contudo, ela aciona justamente o amplo e mutável campo semântico que se procura delimitar com o termo 'techné', campo este que foi significado em séculos anteriores, em português, por palavras como 'arte' e 'engenho'. Esta comunicação tem o objetivo de contribuir precisamente para uma semântica histórica desses conceitos em Portugal, entre meados do século XVI e início do XIX, bem como de seu complementar indissociável, a ideia de 'ciência'. A partir do exame de listas lexicais, vocabulários latino-portugueses e dicionários propriamente ditos, bem como da utilização de ferramentas da linguística de corpus aplicadas a documentos de várias naturezas (incluindo textos ostensivamente "técnicos" ou "científicos", mas não apenas eles), buscamos reconstruir as variações de sentidos desses termos e os regimes discursivos em que tomam parte - reflexos, eles próprios, de ordens epistemológicas às quais dão acesso. Inspirados por investigações de R. Koselleck e J. Starobinski sobre história dos conceitos, sugerimos como as temporalidades dessas mudanças de sentido (lentas e cumulativas ou rápidas e abruptas) se inserem em processos sociais e históricos mais amplos que se verificam no Portugal da época moderna.
A resistência negra que não resiste à dublagem de/em Django Unchained
Tiago Costa Pereira (UFSC), Pedro de Souza (Universidade Federal de Santa Catarina)Grupo Temático: Presença Africana no Brasil: conhecimento tecnológico, linguagem, educação e interação social
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Em 2012 foi lançado o mais recente filme do polêmico diretor Quentin Tarantino, Django Unchained. Henry Louis Gates Jr. (2013, p. 62) classificou o filme como "[...] a postmodern slave narrative western". Tarantino, como ele mesmo afirma em diversas entrevistas a respeito do filme, resolveu tratar de um assunto que fazia parte do período histórico das narrativas de todos os westerns, mas que os diretores nunca tiveram interesse ou coragem de abordar: a escravidão. Logo nas cenas iniciais, Tarantino, como classifica Johnson (2014), traz à cena western a presença atípica da escravidão: as costas marcadas por enormes cicatrizes de chicotadas ganham destaque em uma paisagem costumeiramente e predominantemente ocupada por montanhas e heróis com seus chapéus de abas largas e montados em seus belos cavalos. A intenção de nossa fala, e de nossa pesquisa, é propor uma reflexão sobre como é também pela edição/direção/modulação da banda sonora (aqui, incluímos as músicas, a dicção das personagens, os ruídos) que Tarantino constitui a narrativa de seu filme, e de seu herói negro. E é exatamente nesse gestou autoral que, em nossa hipótese, a dublagem do filme opera. A versão dublada para o português do filme, que circula no Brasil como Django Livre, acaba por se constituir em uma narrativa em que a sonoridade negra (principalmente as modulações e ritmos característicos do black english ou afican american english ou ebonics) é, em diversas ocasiões achatada, silenciada. A intenção de nossa pesquisa, enquanto gesto de escuta, como propõe Jean-Luc Nancy (2007), é mais do que defender tal abordagem, é fazer ouvir a sonoridade negra norte-americana que vem em/por Django Unchained e que, em alguns momentos, parece não resistir à dublagem.
Percepções das Ciências do Norte e o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas
Tiago Ribeiro Duarte (Universidade de Brasília)Grupo Temático: Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia e as Mudanças Climáticas
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O Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) foi fundado em 2009 pelo governo brasileiro para produzir relatórios revisando a literatura científica sobre as mudanças climáticas e fornecer informações para a formulação de políticas para o clima. Esse painel é uma tentativa de reproduzir no Brasil o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Seus objetivos, grupos de trabalho e o template de seus relatórios são idênticos aos do IPCC. Nesse sentido, o governo brasileiro explicitamente aceita a ideia segundo a qual reproduzir uma instituição fundada e amplamente dominada por países desenvolvidos irá aprimorar o fluxo de informações de cientistas climáticos para formuladores de políticas. Todavia, trabalhos já publicados na literatura dos ESCT (Lahsen 2004; 2007) revelaram que entre cientistas e formuladores de políticas climáticas brasileiros há grupos que rejeitam as conclusões do IPCC partindo da ideia de que ele é uma instituição do norte global e que tem uma agenda que visa beneficiar os países desenvolvidos. Há, portanto, uma percepção compartilhada entre eles que o mundo é dividido entre países centrais e periféricos, a qual informa suas atitudes com relação ao IPCC.
Neste trabalho, apresento resultados preliminares de um projeto de pesquisa que examina a percepção de cientistas e formuladores de políticas climáticas brasileiros sobre o PBMC e como estas percepções influenciam a interface entre ciência e políticas públicas no Brasil. Os resultados são baseados em entrevistas com cientistas e com formuladores de políticas para o clima.
Ciências, Tecnologias e o jovem do campo: pensando caminhos para a Educação do Campo em Ciências Naturais
Tatiana Souza de CamargoGrupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
Resumo
Este trabalho busca pensar e problematizar o ensino das Ciências e das Tecnologias no contexto da Educação do Campo. O ponto de partida é uma análise discursiva dos enunciados trazidos por duas reportagens, uma publicada em um jornal regional e uma televisionada por uma grande empresa de telecomunicações. As duas reportagens abordam a relação entre Educação, desenvolvimento rural e sucessão familiar no campo, no entanto os enfoques são diferenciados. A primeira discute como o acesso à conhecimentos científicos e tecnológicos apropriados apoia o jovem em sua escolha por permanecer na pequena propriedade familiar, desenvolvendo inovações que aumentem os rendimentos e autonomia dos empreendimentos de agricultura familiar. A segunda mostra como a possibilidade de acesso aos conhecimentos científicos e tecnológicos de ponta, através de entrada no ensino superior de jovens provenientes de famílias de trabalhadores assalariados da agricultura, tem sido decisiva na decisão desses jovens por permanecer no campo, em atividades ligadas ao agronegócio, na maioria dos casos envolvidos na produção de soja no Centro-Oeste brasileiro. Os apontamentos trazidos pela análise servem como entradas para uma discussão acerca do desafio da construção e desenvolvimento de um curso de Licenciatura em Educação do Campo - Ciências da Natureza, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que objetiva a formação de educadores para a Educação Básica do Campo e instituições que desenvolvam assistência técnica e extensão rural, e que, neste sentido, propõe-se atender a uma nova demanda, qual seja a das populações do campo (agricultores familiares, indígenas, quilombolas, assentados, trabalhadores assalariados da agricultura, entre outros), que historicamente lutam por uma educação diferenciada e de qualidade, que respeite as especificidades da vida neste contexto. A pesquisa, em fase inicial, tem como seus primeiros desenvolvimentos as discussões ligadas à vivência da docência compartilhada, à elaboração coletiva de um currículo de formação de professores por área de conhecimento, ao ensino científico e tecnológico alinhado com a desenvolvimento rural das comunidades, atrelado ao conceito de tecnologia social. E nesse movimento, a intenção é a de produzir referenciais que auxiliem na construção de um ensino das Ciências e das Tecnologias alinhado com as singularidades do campo.
Genética, raça e políticas de ações afirmativas a partir de questões sociocientíficas
Thiago Leandro da Silva Dias, Claudia de Alancar Serra e Sepulveda, Juanma Sánchez ArteagaGrupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
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Ao longo da história, é possível verificar como discursos científicos e práticas das tecnociências estiveram comprometidos com processos sociais de dominação entre povos, compondo complexas relações de poder. Os conhecimentos derivados das ciências naturais que contribuíram para criação e legitimação do conceito de raça ao longo da história, com objetivos explícitos de inferiorização, marginalização e dominação étnicas - seja na política expansionista das potências europeias do século XIX, pautada nos discursos darwinistas sobre competição inter-racial e extinção racial, ou nas políticas eugênicas do século XX - atualmente põe em questão a própria existência de raças dentro da espécie humana, a partir da investigação genética contemporânea. O debate em torno dos de um conjunto de estudos da genética humana com marcadores de ancestralidade sobre a composição étnica da população brasileira, realizado por Sergio Pena e colaboradores, tornado público sob o título Retrato Molecular do Brasil, se mostra relevante para as reflexões sobre o papel que o conhecimento científico-tecnológico pode exercer na conformação das relações sociais e políticas na sociedade ocidental moderna. Especificamente, as discussões em torno da implementação de políticas de ações afirmativas, como o sistema de cotas raciais, um exemplo que pode indicar como conhecimentos científicos da Nova Genômica são apropriados ideologicamente por alguns grupos sociais e geram tensões entre demandas sociais diversas. Este trabalho objetiva apresentar uma Questão Sociocientífica (QSC) construída com base no debate entre grupos sociais diversos a respeito dos resultados dos referidos estudos sobre a composição étnica da população brasileira, e suas implicações para as políticas de ações afirmativas. São discutidos meios para sua aplicação no ensino de ciências e biologia e suas potencialidades para promover uma educação das relações étnico-raciais. É feita uma breve consideração teórica sobre o uso de QSC no ensino de ciências e biologia como uma estratégia pedagógica derivada da abordagem educacional ciência-tecnologia-sociedade-ambiente (CTSA). Assinalamos algumas considerações sobre a perspectiva de ensino apresentada, bem como algumas possibilidades futuras de aplicabilidade e pesquisa em salas de aula e espaços não formais de educação científica, como em exposições museais.
Práticas de inovação inclusiva na América Latina: experiências no Brasil, Chile e México
Tildo José Furlan JuniorGrupo Temático: GT Ciência, tecnologia e inovação social
Resumo
A inclusão social como objetivo de políticas públicas tem desempenhado um importante papel na agenda governamental de muitos países em desenvolvimento, especialmente na América Latina. Nesse contexto, a política pública de ciência, tecnologia e inovação (PCT&I) pode contribuir para reduzir desigualdades e aumentar a coesão social por meio do fomento à inovação inclusiva. Inovações inclusivas podem ser definidas, de forma ampla, como inovações capazes de promover a inclusão de grupos marginalizados em algum aspecto da inovação.
Este artigo procura investigar e analisar três experiências de inovação inclusiva realizadas no Brasil, Chile e México. Dessa forma, pode ser caracterizado como um estudo qualitativo e exploratório. Sua metodologia é baseada principalmente em revisão de literatura, assim como em pesquisa e coleta de dados.
O desenvolvimento do estudo proposto exige a definição de dois grupos de categorias de análise que permitem o enquadramento das três experiências indicadas de acordo com a natureza de seus processos inclusivos. O primeiro grupo é relacionado ao grau de inclusão do processo inovativo e se baseia em seis níveis: intenção; consumo; impacto; processo; estrutura; e pós-estrutura. O segundo grupo é relacionado aos diferentes modelos de inovação inclusiva, como: plataformas de inovação; cluster innovation; interação usuário-produtor; grassroots innovation; e frugal innovation.
A combinação dessas categorias (níveis e modelos) sugere três questões chave para avaliar as experiências selecionadas: a) quais grupos marginalizados estão sendo incluídos? b) em quais aspectos da inovação tais grupos estão sendo incluídos? c) em quais modelos de inovação inclusiva tais práticas podem ser associadas?
Um antropólogo formadoCOM mulheres: "ser afetado" pelo feminino e pela cegueira no Instituto Benjamin Constant
Thiago José Bezerra CavalcantiGrupo Temático: PesquisarCOM e o feminino na ciência
Resumo
Esta comunicação é uma espécie de crônica da minha iniciação em grupos de pesquisas. Trata-se de uma experiência de três anos (2012-2014) como bolsista e pesquisador no Instituto Benjamin Constant, quando estive vinculado ao projeto transdisciplinar "Perceber Sem Ver". Além do ambiente de trânsito entre disciplinas, criado com o acolhimento adequado a um grupo majoritariamente composto por psicólogas, me vi diante de uma situação absolutamente nova para mim: eu estava trabalhando exclusivamente com mulheres. Como único homem e único antropólogo inserido no cotidiano de pesquisa, com certeza me vinha à mente questões da limitação do corpo no trabalho de campo: ser homem ou ser mulher - ou ser visto como "mais masculino" ou "mais feminino" - inscreve uma determinada circunscrição ou limitação espacial e mesmo ritual. Ao pesquisarCOM cegxs e com todas aquelas colegas da academia, fui duplamente afetado pelas experiências e pude tanto questionar-me quanto apontar para um caminho pautado numa ciência COM política que busca a horizontalização da pesquisa.
Trabalhadores haitianos em Pato Branco - PR: desafios para a inserção social, educacional e linguística
Taize Giacomini, Maria de Lourdes BernarttGrupo Temático: Políticas Públicas e Desenvolvimento Local: interveniências e interações entre tecnologia, sociedade e democracia
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Resumo
O olhar sobre o mundo biotecnocientífico do trabalho através da interface entre bioética e saúde do trabalhador
Thiago Amorim LinsGrupo Temático: Saúde, Trabalho e Desenvolvimento
Resumo
A intervenção das ciências e tecnologias sobre a dimensão biológica tem produzido efeitos físicos e subjetivos sobre os trabalhadores e sobre o mundo do trabalho que, por certo, precisam ser levados em conta nas análises que a ele se voltam. Aspectos como as técnicas de aprimoramento humano, a expansão sem precedentes da indústria farmacêutica, as novas capacidades de intervenções cirúrgicas, o mapeamento genético, dentre inúmeros outros exemplos possíveis de serem elencados, estabeleceram e continuam a estabelecer novas configurações ao mundo no qual, queiramos ou não, estamos imersos.
Ao tomarmos cuidado para não cair em certa postura saudosista em relação ao paradigma biotecnocientífico, que passou a fazer parte da vida (subsequentemente, é parte também do trabalho humano), nossa proposta é por considerar a biotecnociência como chave de leitura primordial às análises ético-políticas das novas configurações que se assentam sobre o campo da saúde do trabalhador.
Ora, o vetor biotecnocientífico pode e poderá ser fator de potência ou de enfraquecimento da relação homem-trabalho-produção-ambiente. Neste sentido, entendemos que o fato de a biotecnociência vir a estar localizada em um ou outro extremo, da disputa potência versus enfraquecimento, dependerá fundamentalmente de nossa apropriação sobre o máximo possível de vetores que se refiram a este cenário, bem como de nossa implicação propositiva na direção de produzir reflexões que, mediante o exercício ético, considere as metamorfoses que compõem o novo mundo biotecnocientífico do trabalho. Por conta do percurso reflexivo e prático da bioética, em seu arcabouço, no que se refere às questões que emergem a partir do cenário biotecnocientífico, acreditamos que a interface deste campo com o campo da saúde do trabalhador poderá oferecer modos reflexivos e interventivos, até então inéditos.
A presente proposta apresenta-se como um processo em construção que se fundamenta metodologicamente em revisão bibliográfica e ensaio teórico realizados em pesquisa para o mestrado (concluído em 2013), e que tem continuidade em pesquisa para o doutorado (iniciado em 2014).
Rede no Rio: dominação e indgnação
Tamara EglerGrupo Temático: Um entre o capital e as ruas
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Resumo
A questão proposta para analise nesse artigo é examinar o efeito da invenção de novas tecnologias de informação e comunicação e as potencialidades de sua organização em rede sociotécnicas na transformação da política. Isso para examinar os resultados alcançados com políticas que emanam de cima para baixo e comparar seus resultados com políticas que emergem de baixo para cima.
O ponto de inflexão da proposta
reconhece uma tensão conceitual entre planejamento urbano e políticas públicas.
O planejamento urbano é um campo que se refere à capacidade de pensar o futuro
do espaço, quando se valoriza o instrumento de plano diretor, dentro do qual se
estabelece uma hierarquia que contempla a dimensão material, aquela que é
produzida pela dimensão econômica. Quando nos referimos à política pública,
estamos falando de programas de ação que vão além da dimensão visível e
tangível do espaço, para examinar sua complexidade física e social. A proposta
analítica é ir além da dimensão econômica e da intervenção do poder
burocrático, para compreender a complexidade espacial como resultante também da
dimensão relacional entre as pessoas e os grupos sociais aos quais elas
pertencem.
A pesquisa proposta tem por objetivo
reconhecer e mapear as redes sociotécnicas que associam corporações
internacionais, governo em suas diferentes escalas, capitais privados e que
atuam em defesa de interesses globais, e outras redes sociotécnicas que
associam atores organizações não governamentais, instituições de governo,
capitais privados e pessoas para atuar em defesa do bem comum.
Do ponto de vista metodológico será
considerada a ação como categoria central da política. Serão examinadas três
categorias: a primeira está associada aos atores; a segunda, aos processos; e a
última, ao objeto da ação.
V
Um estudo da relação entre arte e ciência: a perspectiva de Piero della Francesca em seu tempo
Vagner Rodrigues de Moraes (PUC - SP)Grupo Temático: Ciência e Techné na História
Resumo
Piero della Francesca foi pintor e geômetra e destacou-se por apresentar uma postura revolucionária quanto aos princípios estéticos. Realizou investigações sobre questões pictóricas, geométricas e arquitetônicas. Dos tratados que escreveu, conservam-se apenas três, sobre perspectiva (De Prospectiva Pingendi), geometria (Libellus de Quinque Corporibus Regullaribus) e aritmética (Trattado d’Abaco).
Ao observarmos os estudos realizados sobre perspectiva durante o Renascimento por Piero della Francesca (c.1420 – 1492), pretendeu-se compreender, entre outros aspectos, de que modo este autor teve acesso aos documentos necessários para construção de seu conhecimento e quais seriam alguns deles. Além disso, buscamos entender em que contexto social, político e econômico ele estava inserido, ou seja, a que família pertencia, em que lugar(es) estudou e quais foram seus mestres, enfocando a esfera de relações entre ciência e sociedade.
Para alcançar as respostas com relação aos aspectos citados no parágrafo acima foram usados, como documento, a edição crítica aos cuidados de Nicco-Fasola de De Prospectiva Pingendi e, como bibliografia secundária, livros e artigos sobre a sociedade em que a teoria da perspectiva estava inserida, sobre os escritos de óptica e de arte desenvolvidos e estudados no século XV, aos quais Piero della Francesca, muito provavelmente, teve acesso.
Representações sociais da matemática: possibilidades de interação entre o saber científico e o senso comum
Valessa Leal Lessa de Sá Pinto (UFRJ)Grupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
Resumo
A Teoria das Representações Sociais trata da investigação de como se dá a apreensão dos diferentes aspectos da realidade social, ou seja, de como compreendemos os fenômenos, os definimos e estabelecemos um modelo de comportamento para lidar com os fatos ligados a eles.
A influência para estudos neste campo está presente principalmente em Durkheim, que serviu de base a Moscovici, a partir da noção de representação coletiva. Este autor, porém, deu preferência ao estudo das representações sociais, uma vez que em nossa sociedade em constante transformação, permeada de pluralismos, são poucas as representações verdadeiramente coletivas. Nos estudos de Durkheim era possível encontrar uma interessante definição segundo a qual não existem representações falsas: todas respondem de diferentes formas a condições dadas da existência humana.
Esta teoria é o principal referencial teórico de um anteprojeto de pesquisa que abordará as representações sociais da matemática no cenário acadêmico. O objetivo é relacionar tais concepções com as carreiras escolhidas por graduandos de diferentes cursos, através da identificação de fatores que atuam como elementos determinantes de níveis de aprendizagem e utilização da matemática. A investigação partirá de um modelo de análise composto por categorias como “afetivo”, “escolar”, “instrumental”, constituídos por diferentes questões que se integram, estruturando-se mutuamente e que são sustentadas pelos contextos sociais dos quais os indivíduos fazem parte.
Quando um sujeito aprende conceitos científicos, acredita-se que tais conceitos serão utilizados por ele também na instância social, empregando-os no cotidiano de sua vida. Isto significa que, embora os conceitos partam de universos reificados, acabam por ceder à exigência da funcionalidade, que se remete ao campo das representações sociais, dada a necessidade de incluir os conceitos no cotidiano do indivíduo, ao dar-lhes significação. Como consequência, o conceito desloca-se para o universo consensual. Então, as representações sociais, sendo formas de conhecimento prático, inserem-se mais especificamente entre as correntes que estudam o conhecimento do senso comum. Tal estudo favorece a compreensão de como formamos conceitos e ideias a respeito de objetos e fenômenos e qual a relação entre os tipos de conhecimentos dos indivíduos e grupos de indivíduos e a realidade social.
Cientistas na TV: questões de gênero nas duas principais emissoras brasileiras
Vanessa Brasil de Carvalho (Univeresidade Federal do Rio de Janeiro), Luisa Massarani (Fundação Oswaldo Cruz)Grupo Temático: Gênero, Ciência e Tecnologia: avanços e desafios
Resumo
Neste trabalho, apresentamos a representação dos cientistas nas duas emissoras de maior audiência da TV brasileira, TV Globo e TV Record, sob a perspectiva de gênero. Analisamos duas semanas construídas representativas de seis meses 2013, nas quais buscamos por peças que apresentassem a imagem de cientistas. Consideramos as 24 horas de programação de cada dia e de cada emissora, analisando as diversas categorias televisivas, incluindo filmes, desenhos animados, séries, novelas, programas educativos e de variedades, telejornais e publicidades. Ao todo, foram assistidas 672 horas, das quais identificamos 89 peças com esse perfil: 6 horas, 16 minutos e 45 segundos, o que representa 0,8% da programação analisada. Identificamos uma presença maior de cientistas homens (109) do que mulheres (apenas 28). A TV Globo, a líder de audiência, foi a emissora que mais apresentou cientistas em sua programação, com 59 das peças (66,3%). As publicidades foram as peças mais recorrentes, mas as programações de entretenimento, como programas de variedades, filmes, desenhos animados e seriados também estiveram presentes em nosso corpus. O laboratório foi o local em que os homens cientistas foram mais filmados (55,9%), seguido por estúdios de TV (13,7%) e escritórios (11,9%). A imagem desse profissional foi, recorrentemente, atrelada ao jaleco (64,2%), aos óculos (34,8%) e a vidrarias ou equipamentos técnicos (19,2%). As programações voltadas para o entretenimento e as publicidades foram as que mais veicularam homens cientistas (37,6% e 35,8%), seguidas pelas programações informativas (26,6%). Os homens se destacaram nos assuntos sobre Engenharias e Tecnologias (28,4%), em especial nas peças da TV Globo, e em Medicina e Saúde (17,4%), em itens da TV Record. Já as mulheres tiveram um perfil diferente. Das 28 cientistas identificadas, 22 delas estavam em laboratórios. O jaleco foi a vestimenta de 25 mulheres (89,2%) e o computador foi atrelado a imagem delas em 10 peças. Pouco mais da metade das mulheres cientistas identificadas estavam em publicidades: 15 mulheres (53,6%), todas elas na TV Globo. Nas peças informativas encontramos oito mulheres e, em programações de entretenimento, cinco mulheres. Onze mulheres cientistas (39,3%) estavam relacionadas às Engenharias e Tecnologias, todas as peças veiculadas pela TV Globo.
Análise do Panorama do Ensino de Biotecnologia Entre os Alunos do Ensino Básico no Município de Campos dos Goytacazes - RJ
Vanessa de Souza Rodrigues (Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro)Grupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
Resumo
No decorrer das últimas décadas, grandes inovações tecnológicas e pesquisas importantes na área biotecnológica tem causado um grande impacto em todos os setores da sociedade. Porém, apesar de estar fortemente inserido no nosso cotidiano, o termo Biotecnologia e os seus fundamentos básicos ainda são desconhecidos para a maioria da população. Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi realizar uma análise do nível de aprendizagem sobre Biotecnologia em alunos do nono ano do Ensino Fundamental e do terceiro ano do Ensino Médio de quatro diferentes colégios, sendo dois da rede pública (Colégio Estadual Liceu de Humanidades de Campos e Colégio Estadual Benta Pereira) e dois da rede privada (Colégio Alpha e Colégio Salesiano) de ensino em Campos dos Goytacazes – RJ, além de levar aos alunos os conceitos introdutórios e as aplicações da Biotecnologia no nosso cotidiano. Para tal, foi aplicado aos alunos um questionário contendo quinze perguntas objetivas referentes ao tema Biotecnologia e em seguida foi realizada uma palestra sobre o tema, juntamente com a demonstração de material vegetal propagado in vitro. Além disso, os alunos dos colégios foram estimulados a visitar à UENF. Após a análise dos dados obtidos a partir dos questionários aplicados, pode-se concluir que as turmas de terceiro ano do Ensino Médio mostraram ter um domínio maior sobre os temas relacionados à Biotecnologia, comparado às turmas de nono ano do Ensino Fundamental. Além disso, não foram observadas diferenças significativas no nível de conhecimento entre os alunos dos colégios da rede pública e privada de ensino. Por fim, ficou claro que a maior parte dos alunos de todos os colégios, independentemente de grau de ensino, apresentaram um nível muito baixo e limitado de conhecimento acerca da Biotecnologia e seus fundamentos, havendo assim a necessidade do desenvolvimento de abordagens mais eficientes ao ensino de Biologia voltado para a Biotecnologia, além de maiores investimentos em cursos de capacitação e formação continuada em Biotecnologia para professores de Biologia, dada a importância que esses professores assumem no ensino desta temática.
Subsistema de Saúde Indígena: quando as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) viabilizam uma atenção em saúde integral e diferenciada aos povos indígenas brasileiros
Vanessa Ferraz Leite (Distrito Sanitário Especial Indígena de Cuiabá)Grupo Temático: Saúde, Trabalho e Desenvolvimento
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vinculado ao Sistema Único de Saúde (SUS) e estabelecido pela Lei Arouca nº 9836/99, o Subsistema de Saúde Indígena, versa uma atenção em saúde diferenciada e integral junto aos povos indígenas brasileiros (BRASIL, 2002). No entanto, em virtude dos desafios das distancias remotas, prevê-se, a implantação das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) nas Casas de Saúde Indígena (CASAIs) e Polo-bases, com o intuito de superar o isolamento e fixar trabalhadores nas comunidades indígenas (BRASIL, 2011), aperfeiçoada e reiterada pela criação da Rede Universitária de Telemedicina (RUTE, 2012). Este estudo objetiva descrever narrativas do uso (in) formal das TICs na Saúde Indígena e refletir sobre como estas têm viabilizado que trabalhadores da saúde assistam de modo integral e diferenciado em áreas onde não há Telessaúde configurada. Metodologia: trata-se de um estudo interdisciplinar alocado no campo interdisciplinar das Ciências, Tecnologias e Sociedade (LATOUR, 1994; POLS, 2012). Para desenvolvimento, foi incorporado elementos da etnografia simétrica, ou seja, as narrativas de atores sociotécnicos (humanos e não humanos) (LATOUR, 1994). As narrativas são provenientes de um diário de bordo, as quais são referentes à experiência de uma enfermeira com TICs em uma CASAI. Contribuições: a) o uso in -formal das TICs como cuidado à distância: “- Olá colega! está no polo?[...] gostaria de saber se vocês irão buscar, ou, somos nós (CASAI) que iremos levar o pajé para aldeia?!” É recorrente o uso de aplicativos (Whatsapp) de telefones móveis, com o intuito de romper com o isolamento dos trabalhadores da saúde. Tais artefatos favorecem firmar “cuidado à distância” (POLS, 2012); b) conhecimento integrativo e diferenciado: “- encontrei a posologia do medicamento[...], mas não posso esquecer que o paciente toma o chá das folhas [...], acho que vou rever com o médico se tem como substituir”. A Internet alarga o acesso ao conhecimento (bulários eletrônicos, artigos científicos, acesso a e-mails), bem como permite articulá-los à realidade local. Conclui-se, assim, que, a incorporação de novas tecnologias interferem e remodelam, de algum modo, a atenção à saúde (GEMERTPIJNEN et al., 2011). Logo, a implantação e efetivação da Telessaúde é indispensável, no entanto, há exigência de se integrar a medicina ocidental à medicina tradicional indígena (LANGDON, 1995).
Diálogos e olhares sobre CTS em Timor-Leste: uma experiência no curso de Políticas Públicas da Universidade Nacional Timor Lorosa’e
Vanessa Lessio Diniz (Unicamp)Grupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
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Este trabalho propõe apresentar um relato de experiência vivenciada a partir da co-docência na disciplina Ciência, Tecnologia e Ciências dos Valores Humanos, ministrada para estudantes do 6º período, do curso de Políticas Públicas da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Nacional de Timor Lorosa’e (UNTL), localizada em Díli, capital de Timor-Leste. A atuação como co-docente desta disciplina ocorreu a partir da minha participação na Cooperação Brasileira em Timor-Leste pelo Programa de Qualificação de Docentes e Língua Portuguesa (PQLP). Entre muitos desafios enfrentados ao ministrar disciplina como docente ou co-docente na UNTL gostaria de destacar dois: 1. Os alunos possuem diferentes níveis de compreensão da língua portuguesa, e 2. Dificuldade dos professores timorenses e brasileiros em interpretarem e compreenderem as ementas (sílabus) das disciplinas, já que muitas vezes essas são traduções da língua indonésia. A disciplina Ciência, Tecnologia e Ciências dos Valores Humanos foi optativa (eletiva) e a turma contou com a participação de apenas nove estudantes, fator que contribuiu para o desenvolvimento do trabalho. Acredito que a Educação CTS não deve ser tratada apenas nessa disciplina, mas sim ser tratada transversalmente nas demais disciplinas da proposta curricular desse curso. Segundo Linsingen (2007) educar nessa perspectiva, é, fundamentalmente, favorecer um ensino de/sobre ciência e tecnologia que vise à formação de indivíduos com a perspectiva de se tornarem cônscios de seus papéis como participantes ativos da transformação da sociedade em que vivem. Para esse autor, a renovação educativa proposta por essa perspectiva pode ser favorecida por uma mudança de olhar, de educadores e de educandos, através da qual o ensino de ciências e tecnologia deixa de ser enfocado em conteúdos distantes e fragmentado, baseado em conhecimentos científicos supostamente neutros e autônomos, e passa a ser enfocado em situações vividas pelos educandos em seus contextos vivenciais cotidianos. Dessa forma, busco apresentar o trabalho realizado durante a disciplina e discutir os diálogos e olhares relacionados a Ciências, Tecnologia e Sociedade (CTS) apresentados pelos alunos. Para isso, foi realizada uma sequência didática que por fim contou com questões sobre o que esses estudantes entendem sobre CTS.
A negociação de um corpo com dor: racionalidade biomédica na dinâmica ritualizada do trabalho de parto hospitalar.
Vanessa Maia Rangel (Instituto de Medicina Social. IMS-UERJ)Grupo Temático: Saberes do corpo e sobre o corpo: formas de conhecimento, experiência, ciência e expertise
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O objeto deste artigo é revisitar e analisar os achados de campo da minha dissertação de mestrado, relativos ao ritual do trabalho de parto hospitalar, a partir do entendimento de que o paradigma obstétrico se caracteriza pela intervenção técnica e tecnológica no corpo feminino, na crença de sua biologia instável e do caráter liminar da parturiente, na expectativa do nascimento de um bebê saudável. A metodologia utilizada para o trabalho original foi qualitativa, baseada na observação participante dos atendimentos obstétricos que aconteceram nas salas de admissão, pré-parto e parto de uma maternidade pública do município do Rio de Janeiro. A análise dos achados foi feita a partir da teoria antropológica dos rituais e de trabalhos que consideram a intervenção técnica e tecnológica no corpo das parturientes a partir da racionalidade biomédica. O diálogo que se estabelece entre obstetras e parturientes considera a multiplicidade dos atores, perspectivas, instrumentos e locais e estabelece o sofrimento corporal a partir da dor do trabalho de parto como o principal negociador da dinâmica ritual.
A Ciência vai à Sociedade: Projeto de Extensão Universitária “Oficinas Filosóficas em Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS)”
Verusca Moss Simões dos Reis (Concursado)Grupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
Resumo
As consequências dos avanços tecnológicos, sobretudo aquelas geradas a partir de modelos como os da Big Science (meados do século XX), e de uma ciência “pós-acadêmica” (Ziman, 1996; 2000), desenvolvida a partir de uma parceria entre Universidade, indústria e Governos (anos de 1980), trouxeram a sociedade para o interior dos debates sobre ciência. Os Estudos Sociais de Ciência e Tecnologia (CTS) têm procurado diversas formas de inserção da sociedade nos debates sobre ciência, quer seja para normatizar que esta deva ser socialmente responsável (Gibbons et al., 1994), ou que deve seguir o princípio de precaução (Lacey, 2005) em assuntos controversos, tais como transgênicos ou células tronco. A sociedade, no entanto, para debater tais temas, precisa ter um conhecimento mais profundo que se encontre além das informações veiculadas na mídia e que não é contemplado pelo curriculo escolar (Ziman, 1980). Sendo assim, neste trabalho pretendemos apresentar os resultados parciais de nosso projeto de extensão universitária “Oficinas Filosóficas em Ciência, Tecnologia e Sociedade” na Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF). Este, que teve início em Maio de 2013, tem como objetivo levar os alunos do ensino médio de Campos dos Goytacazes a refletirem sobre as consequências dos avanços tecnológicos. Para tal realizamos um ciclo de 3 encontros com cada turma: (I) debate sobre um tema específico (ex: uso de animais, poluição); (II) palestra com pesquisadores da UENF; (III) visitação a laboratórios da UENF. A partir da aplicação de questionários no inicio e no final de cada ciclo, pretendemos compreender a concepção que os alunos possuem de ciência, bem como de Universidade. O projeto, que conta com o auxilio de 3 bolsistas já atendeu cerca de 151 alunos e, foi contemplado, em 2014, com melhor apresentação oral do CCH na VI Mostra de Extensão.
A Teoria Ator-rede na redefinição dos papéis indivíduo e sociedade na Educação Ambiental
Virgínia Ostroski Salles (UTFPR), Ana Caroline Haile (UTFPR), Eloiza Aparecida Silva Avila de Matos (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), Simone Woytecken de Carvalho (Colégio Sagrado Coração)Grupo Temático: Pedra, planta, bicho, gente... coisas: encontros da teoria ator-rede com as ciências ambientais
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A educação ambiental no Brasil construída teoricamente na relação indivíduo-meio ambiente, aponta o indivíduo como o agente principal sobre o ambiente. A teoria ator-rede (TAR) (Latour e colaboradores) pode ressignificar ou ao menos redimensionar a relação indivíduo-meio ambiente. Neste caso, o meio ambiente também age sobre o indivíduo e ambos interagem, construindo outras perspectivas relacionais. Isso muda a forma de pensar a educação ambiental? Acreditamos que sim, porque, passamos a entender a educação ambiental, não mais como uma entidade estática, mas sim como um ator, composto por inúmeras relações e inter-relações.Como exemplo disso, podemos dizer que na educação ambiental o indivíduo/sujeito é o elemento chave na criação e recriação do meio ambiente, numa relação dialética. E como podemos trazer a TAR para discussões em sala e atuar em rede? O que fazer para tornar o ensino real? Uma educação ambiental crítica, nos faz repensar o papel (ação) do meio ambiente como ator em rede. Um tema que acompanha esse paradigma atual e que nos evidencia esse elo da conexão em rede, é a questão do reaproveitamento e reutilização “de coisas”. O uso das tecnologias oportuniza o estudo sobre a reutilização dessas “coisas”, como o lixo eletrônico em pesquisas nas mídias, TIC (Tecnologia de Informação e Comunicação) , realizar as atividades escolhidas e oportunizar oficinas e coletas com a comunidade. Nesse viés, a relação da Ciência e Arte na era digital, na cultura da interface entrelaçam-se pelo uso do computador em projetos e temas, focos de estudo e locais de trabalhos hibridizados pela presença de profissionais que se influenciam mutuamente, explorando as fronteiras entre o que é o domínio artístico ou do científico.A arte, ciência e tecnologia hoje “sem limites”, onde engenheiros, biólogos, físicos e cientistas da computação se unem em uma proposta comum, a exemplo do grupo Artecno. Expostos os pressupostos, esse grupo de pesquisadores assume a relevância do levantamento das implicações decorrentes de análise da relação entre ciência, tecnologia e sociedade e sua abordagem em meio educacional.
Gestão da normalidade de segurança: as variabilidades e estratégias mobilizadas na atividade do eletricista de linha viva
Vitor Guilherme Carneiro Figueiredo (UFMG), Rodrigo Ribeiro (UFMG)Grupo Temático: Estudos Sociais da Tecnologia e Expertise na Engenharia
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As estratégias mobilizadas pelos operadores na gestão das variabilidades reais de campo não são contempladas pela gestão. Diante disso, evidencia-se uma enorme lacuna entre a prescrição e a execução real da atividade, pois, os operadores ao mobilizarem competências e estratégias para gerirem as dificuldades e situações de aparente normalidade no campo se silenciam para a gestão e não revelam o real. Por outro lado, a gestão cria procedimentos e normas que cada vez mais se distanciam do real de campo e não contemplam os saberes advindos da experiência dos atores sociais em situações reais. Diante desse cenário, esse artigo, por meio de uma pesquisa exploratória de campo, apresenta as variabilidades e situações de normalidade geridas pelos operadores. Além disso, como uma forma de atenuar esse distanciamento entre o prescrito e o real, são apresentadas situações de discussão da atividade em espaços de retorno de experiência. Palavras-chave: eletricistas linha viva. Espaços de discussão. Retorno de experiência.
O caso da oficina de virolas: o papel do aprendizado individual e coletivo na construção de uma rede sociotécnica.
Victor Bernardino SilvaGrupo Temático: Estudos Sociais da Tecnologia e Expertise na Engenharia
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O Start-up de uma planta industrial complexa é um processo que envolve diversas variáveis e demanda a gestão de múltiplas atividades, que vão desde a compra de equipamentos de alto valor, como, por exemplo, um calcinador rotatório de mais de cento e trinta metros, até processos de administração diária, como a confecção de crachás e procedimentos de entrada. Essa vasta gama de atividades requer um planejamento muito bem feito pela empresa, e, obviamente, uma distinção entre o que é vital para o funcionamento da usina, e o que pode ser levado com uma menor urgência.
Dentro desse contexto, é importante que os atores envolvidos no processo de construção dessa planta tenham capacidade de fazer essa priorização de operações criticas para o processo, para que o resultado final atenda as expectativas. A capacidade de perceber a importância de cada atividade vem, necessariamente, da vivência das pessoas envolvidas no start-up, trazendo experiências passadas para a resolução e antecipação de problemas.
O presente artigo busca estudar a importância de se gerir esse conhecimento baseado em experiências no processo de construção de uma planta industrial em uma área remota, através de um estudo de caso interpretativo na área de caldeiraria da empresa. Estabelecer prioridades e correlações é o principal desafio de uma boa gestão de projetos, principalmente quando esse projeto tem restrições como as encontradas no caso, uma planta complexa feita em uma área remota do norte do Brasil, em um segmento que a empresa nunca tinha atuado, o beneficiamento de níquel.
A metodologia utilizada para esse estudo foi a de estudos de caso interpretativos (Walsham, 1995), baseando-se em entrevistas e dados coletados em campo durante os cinco anos de desenvolvimento da oficina, iniciada em 2010. Para analisar os dados coletados, foram utilizados os conceitos que permeiam a gestão do conhecimento tácito (Ribeiro, 2013), e os conceitos de trabalho e organização na perspectiva sociotécnica (Leonard-Barton, 1988; Biazzi, 1994). A relação entre o aprendizado individual e coletivo dos trabalhadores e a construção de uma rede sociotécnica que permita o bom funcionamento de uma oficina industrial é a principal contribuição desse texto, que busca ampliar os estudos da expertise no start-up de plantas industriais.
O conceito de amanualidade em Álvaro Vieira Pinto - uma conexão com nosso tempo.
Vicente Estevam SandeskiGrupo Temático: Álvaro Vieira Pinto
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O objetivo desse trabalho é investigar o conceito de amanualidade em Álvaro Vieira Pinto, em conexão como o século XXI, as contribuições desse conceito existencialista para fazermos algumas leituras de nosso tempo. Utilizamos o concito de amanualidade que foi uma caminhada que Vieira Pinto inicialmente empreendeu para conhecer a realidade nacional. O ponto de partida é a compreensão de seu entorno. Compreender o mundo que está ao seu redor, como e porque está dessa maneira. E como está se estabelecendo uma relação com ele, como está sendo manuseado. "Ele precisa entender que esse mundo que ele está manuseado, é um mundo fruto do trabalho" . No século XXI, as conexões, a multiplicidade de equipamentos, os maquinismos são tão somente mais um meio de lidar com esse mundo, naturalmente com mais significados, ambientes que exigem uma maior leitura para estar em sintonia, manuseá-lo de maneira que atendamos aos anseios sociais. É importante considerar que os diversos contextos históricos ainda coexistem no Brasil do século XXI. Demonstrando o quanto ainda é atual o pensamento de Vieira Pinto, houve alterações no conjunto de valores, mudanças econômicas restritas a pequenos grupos e classe social, o distanciamento entre as mesmas ainda é grande, não houve alterações das estruturas. Este estudo são fragmentos da reflexão do estudo de Álvaro Viera Pinto, no curso de Doutorado, na tese que pretendo finalizar em 2016. Acreditamos que o estudo sobre amanualidade de Álvaro Vieira Pinto, faz uma conexão com nosso tempo e tem a contribuir para um projeto de autenticidade das reflexões que muito precisa avançar em diversas áreas.
A antiga associação entre baço, melancolia e escorbuto à luz de Albrecht Dürer
Vera Cecília MachlineGrupo Temático: Ciência e Techné na História
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Grosso modo, entre o Quinhentos e a primeira metade do Seiscentos, o escorbuto foi considerado uma enfermidade melancólica, suscitada pela obstrução do baço. Supunha-se que a incapacidade anómala desta víscera de atrair e eliminar a bile negra engendrava excesso deste humor no organismo. Como resultado, no caso do escorbuto, a parte mais pesada da bile negra provocaria inchaço, fraqueza e manchas escuras nas pernas. Já a porção mais leve desse humor - sozinha ou combinada a um excedente de fleuma - ocasionaria gengivas inchadas, dentes soltos e hálito fétido. Naqueles tempos, tratava-se o escorbuto sobretudo com ervas quentes e secas, como a artemísia e o mastruço. Outra planta considerada antiescorbútica é o agrião, que por vicejar em áreas úmidas foi denominado Sisymbrium nasturtium-aquaticum por Carolus Linnaeus (1707-1778).
Um testemunho da associação entre o baço e a bile negra levada a cabo por Galeno de Pérgamo (129-c. 200/216) é o auto retrato do pintor e gravurista Albrech Dürer (1471-1528) no qual este aponta para a área próxima de seu baço, destacada em amarelo. Possivelmente datando de 1512 ou 1513, esse retrato é conhecido como O Dürer Doente, dado o artista parecer sugerir que ele padecia de melancolia. Segundo o historiador da arte Erwin Panofsky, duas obras de Dürer aludem a um "paliativo contra os perigos do humor melancholicus," a saber, "folhas de plantas de natureza aquática." Em termos cronológicos, a primeira é a xilogravura Alegoria da Filosofia, feita em 1502, que exibe ranúnculos aquáticos na secção dedicada ao elemento "Água." A segunda é a célebre água-forte Melencolia I, executada em 1514. Panofsky informa que, feita de ranúnculos aquáticos e agriões, a guirlanda ostentada pela figura central dessa obra retrata o costume de se portar sobre a cabeça plantas aquáticas para contrabalançar os efeitos danosos da secura própria da bile negra. Portanto, tem-se um novo dado acerca da antiga associação aqui em tela à luz de Dürer, apesar de ele não abordar o escorbuto.
Uma abordagem dialética da internet: entre a apropriação e a socialização das informações
Vinicius Aleixo GerbasiGrupo Temático: Internet: entre o capital e as ruas
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Os transgênicos, a causa humanitária e a pesquisa científica.
Vivianne Caroline Santos SobralGrupo Temático: Política de Ciência e Tecnologia
Resumo
A tecnociência tem sido exaltada como via de solução para muitas problemáticas. Neste contexto, algumas controvérsias científicas podem ser suavizadas em nome de causas humanitárias como o combate à fome e à desnutrição. Esse posicionamento fica evidente na fala de cientistas, de políticos e mesmo no discurso alguns de dirigentes de organizações internacionais como a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura). Para demonstrar a articulação explícita entre transgênicos e combate à precarização alimentar algumas falas são trazidas ao longo do texto. Ademais, considerando as evidências mencionadas é desenvolvido um estudo de caso para avaliar até que ponto os transgênicos e o combate à fome se articulam. Para tanto, foi investigada a Rede Nordeste de Biotecnologia que tem como um de seus preceitos "(...) estimular a participação e inserção do Brasil na utilização dos avanços da biociência para reduzir a fome e minimizar graves problemas de saúde pública, em particular os relacionados com a mortalidade infantil (...)". Partindo do enunciado mencionado, foram elencadas as pesquisas, os produtos, os processos e os cientistas que desenvolviam algum tipo de transgênico para fins agroalimentares. Dessa maneira, foi possível averiguar a representatividade dos transgênicos (particularmente, dos cultivares desenvolvidos para agricultura) no cenário geral das pesquisas desenvolvidas no setor de biotecnologia. A rede pesquisada atua no Nordeste e no Espírito Santo e desenvolve pesquisas em instituições públicas (majoritariamente), a rede também dispõe de um programa de pós-graduação (mestrado e doutorado) na área de biotecnologia.
Cidade-ciborgue: paisagem tecnológica e a cena urbana contemporânea
Valci Rubens Oliveira de Andrade, Aldemar Norek de Oliveira LimaGrupo Temático: Qualidade dos lugares e paisagens híbridos
Resumo
O eixo central deste trabalho é a problematização de questões relativas à cidade contemporânea e, mais detidamente, a ideia de paisagens tecnologicamente produzidas e percebidas. Para tanto, foca-se a discussão no binômio fronteira-interface buscando dimensionar as relações que, na paisagem urbana de grandes metrópoles, geram tensão, conflito e prazer. Nesse binômio, campos opostos e complementares se estabelecem entre humano e máquina, natureza e cultura, sujeito e objeto.Conseqüentemente, essas relações ocupam a zona de gravitação do conceito ciborgue, que por sua vez, afeta produção e percepção de paisagens urbanas, surgidas pelas transmutações-resultantes de dispositivos artificiais e definidas por processos de clonagem, enxertos e implantes-que as tornam híbridas. Nesse contexto, a metafísica destas paisagens deriva de "novas realidades físicas" constituídas pelo par cibernética-organismo. A ideia de paisagem, se faz e refaz a partir de organismos animados ou inanimados e seus pontos de intercessão, induzindo a perspectiva de um mundo útil, ágil, normatizado. Um lugar que, aos nossos olhos, é sobre-humano ou pós-humano, visto como estrutura equilibrada, perfeita, locus em que o humano não está inscrito, inflacionado de dispositivos ciborgues que dissipam barreiras do cotidiano. Estacionamentos inteligentes, marca-passos, aplicativos digitais que conectam pessoas e ideias são cada vez mais presentes na paisagem, transformando cidades em palcos de atividades ciborguianas nas quais os elementos que surgem nem sempre são distinguidos. À medida que se perdem as referências para dimensionar até que profundidade a tecnologia penetrou a superfície de nossa pele e, conseqüentemente, ativou novas modalidades de percepção do urbano, os referenciais pré-existentes perdem a força e confundem os nossos sentidos. A produção de paisagens de complexos híbridos, onde natural e artificial estão entrelaçados, define novas relações entre o homem e máquina que seguem pari passo construindo simbioses e interdependências.Ao movimentar os referenciais inscritos na ideia ciborguiana e aos atributos que envolvem os conceitos de paisagem, este trabalho pretende refletir a produção do espaço urbano contemporâneo a partir da onipresença tecnológica e dos entrelaçamentos entre o orgânico e o artificial; o humano e máquina, que desenham paisagens e cadenciam o cotidiano de nossa vida.
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Fragmentos de uma história em construção: PPGCTS - UFSCar
Wilson José Alves Pedro (PPGCTS - UFSCAR)Grupo Temático: Programas de Pós-Graduação em Estudos CTS & políticas científicas e tecnológicas para inclusão socioprodutiva: um debate
Resumo
O Programa de Pós-Graduação Ciência, Tecnologia e Sociedade – PPGCTS, após a aprovação da CAPES em 2007 inicia as atividades acadêmicas do Mestrado (em 2008) e o Doutorado (em 2013). Integrando estudos e pesquisas que se pautam-se nos aportes filosóficos, teóricos e metodológicos do campo CTS. Estrura-se em três linhas de pesquisa: 1) Dimensões Sociais da Ciência e da Tecnologia; 2) Gestão Tecnológica e Sociedade Sustentável; 3) Linguagens, Comunicação e Ciência, promovendo a reflexão e tessitura da interdisciplinariedade junto a um corpo docente e discente originário das mais distintas formações acadêmicas e regiões geográficas. Em sua existência fomentou a realização de 124 dissertações de mestrado, com estudos que visam a compreensão e/ou intervenção dos impactos da ciência e da tecnologia nas diversas esferas econômica, profissional, educativa, social e institucional da sociedade brasileira contemporânea. A intencionalide do Programa é a formação de pesquisadores, docentes e profissionais com habilidades, competências e atitudes no deciframento das inter-relações entre a Ciência, Tecnologia e Sociedade, de modo a contribuir para a solução dos desafios atuais. O PPGCTS tem se constituido em um Programa com grande aderência ao campo CTS por meio de uma proposta interdisciplinar que integra a compreensão das dimensões sociais da ciência e da tecnologia, das inovações tecnológicas e seus processos de gestão, o emprego e funcionamento das linguagens na comunicação científica e cultural.
Concepções de alunos sobre a tematica dos combustíveis fósseis e alternativos durante intervenção didática com enfoque CTS
Wilka Karla Martins do ValeGrupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
Resumo
O trabalho buscou abordar estratégias didáticas que favorecem a abordagem CTS, introduzindo a temática dos combustíveis fósseis e alternativos com conceitos de entalpia de reação. Foi aplicado nuuma turma de 2º ano de ensino médio de Camarabige-Pe tendo 26 alunos participantes. O estudo contou com o levantamento de concepções prévias dos alunos, aula teórica expositiva e dialogada, experimentação investigativa e debate em grupo, para contemplar as atividades que remetem a temática e aula expositiva e dialogada sobre entalpia de reação. A análise de dados, consistiu em verificar as principais concepções dos alunos sobre a origem dos combustíveis fósseis e alternativos, descrever a participação do aluno ao longo da aula teórica expositiva e dialogadas e articulações mais relevantes sobre o conteúdo através da analise de painéis comparativos elaborados pelos alunos sobre a relação entre as vantagens e desvantagens dos combustíveis fósseis e alternativos. Os resultados apontam ênfase em relação aos efeitos destes combustíveis meio ambiente, e suas relações com os setores industriais, políticos e econômicos e sociais.
Quando os de fora entram: resistências, colaboração e sociabilidades entre astrônomos amadores online
Walter Eler do Couto, Dolores GalindoGrupo Temático: Internet: entre o capital e as ruas
Resumo
Sob a perspectiva dos estudos sociotécnicos (Latour 2014, Stengers 2013, Mol 2008), esta pesquisa se dedica a estudar as tecnologias da comunicação de caráter atópico (Di Felice, 2009) e as modificações nas relações cotidianas de astrônomos amadores com o saber. Com foco, portanto, nas tecnologias relacionadas à astronomia amadora, estudamos a realidade aumentada, as redes sociais, tecnologias Wikis, iniciativas "open science" e "citizen science" em suas intersecções com a ética hacker e as epistemologias políticas. As tecnologias, controladas por grandes corporações e universidades, são apropriadas pelas pessoas em seu cotidiano e proporcionam agenciamentos (Deleuze, 2011) e produção de resistências (Lazzarato, 2006). Considerem-se, ainda, os vetores de subjetivação, com semióticas significantes e a-significantes (Lazzarato, 2014). Estudamos a construção do saber coletivo sobre o céu (compartilhamento de livros e informações raras, aplicativos e clubes de astronomia online) na dita Cultura Livre (Lessig, 2004), através de descrições sociotécnicas. A produção de resistências em nome da libido sciendi (Latour, 2013 e Serres 1990) é amplificada, e talvez até possibilitada, em muitos casos, pelas novas tecnologias da cibercultura. Estas possibilitam uma interação mais íntima com o mundo e a criação de vetores extra-cognitivos baseados na ideia de Políticas da Cognição (Kastrup, 2008). Tome-se o exemplo de (1) aplicativos para smartphone como o Google Sky Map, um aplicativo de realidade aumentada e georreferenciamento que garante uma maior interação com o céu; (2) projetos colaborativos como o Zooniverse, Planet Hunters e o SETI@Home. E, ainda, (3) comunidades virtuais, fóruns e sites de astronomia organizados colaborativamente. Muitas dessas resistências e colaborações ocorrem em nome do saber pelo saber (libido sciendi), e menos em nome de uma mercantilização fundamentada na criação de credenciais modernas.
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Educação Profissional: entre os limites e possibilidades da contradição
Yara Dias Fernandes CerqueiraGrupo Temático: Estudos CTS e Educação CTS: Articulações Pertinentes
Resumo
A história da Educação Profissional está intimamente ligada ao objetivo de atender as demandas do processo industrial, bem como preparar o trabalhador para sua inserção na divisão social do trabalho. Partindo da premissa que esta Educação vinculou-se ao atendimento à lógica capitalista, mesmo após décadas de avanços, mudanças e reconfigurações, há ainda a tendência de uma educação que proporciona a formação do cidadão mínimo, do profissional reprodutor, instrumentista e tecnicista.
É possível pensar numa Educação crítica, politécnica, omnilateral, inserida na sociedade capitalista? Quais as possibilidades de a Educação Profissional se consolidar como possibilidade de construção de alternativas contra- hegemônicas?
Para Frigotto (2001) a educação profissional está subordinada à lógica mercadológica e do capital, dentro de um modelo de desenvolvimento concentrador de renda, excludente e predatório, e está vinculada a uma perspectiva de adestramento e acomodação. Kuenzer (2010) aponta que, por meio de novas estratégias de disciplinamento, ordenamento e relocação dos trabalhadores em postos de trabalho precarizados, a formação das subjetividades flexíveis e polivalentes são preponderantes para o desenvolvimento e manutenção do regime de acumulação.
É importante ressaltar que esta Política de Educação, contraditoriamente, oportuniza a ascenção de escolaridade dos trabalhadores, e amplia a possibilidade de melhorias na vida social, familiar, comunitária e pessoal, uma vez que ultrapassa a mera certificação e amplia as vantagens de mudanças de emprego e melhorias salariais. A Educação Profissional não pode transformar, por si só, radicalmente, uma realidade que é estruturada por fatores que ultrapassam sua autonomia de intervenção.
Enquanto existir este modelo de sociedade, capitalista, tem-se a clareza que toda ação será paradoxal, mas recheada de possibilidades. Uma vez que tem-se a lógica de atendimento às demandas do capital, não desconsidera-se as alternativas existentes neste campo de contradições, uma vez que a classe trabalhadora, inserida nesta política pública, tem maior potencialidade de ascensão e desenvolvimento do senso crítico. E a Educação Profissional não deixa se ser um campo fértil para construção de novas possiblidades e transformação de realidades.
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A classificação das disciplinas matemáticas de Adriaan van Roomen e as matemáticas mecânicas
Zaqueu Vieira Oliveira (Universidade de São Paulo)Grupo Temático: Ciência e Techné na História
Resumo
Durante os séculos XVI e XVII encontramos diversos estudos acerca da classificação das disciplinas, suas especificidades e diferenças. Pensadores desse período como Petrus Ramus (1515-1572), Christoph Clavius (1538-1612), Adriaan van Roomen (1561-1615) e Francis Bacon (1561-1626) se debruçaram sobre o tema não somente para classificar, organizar e hierarquizar aquelas disciplinas que eles denominavam de “disciplinas matemáticas”, mas também para estudar a natureza do conhecimento matemático buscando compreender se o tipo de demonstração realizada pelas disciplinas matemáticas produzia um conhecimento certo e indubitável, além de estabelecer relações com outras áreas, principalmente com a filosofia. Nas obras Universae Mathesis Idea (1602) e Mathesis Polemica (1605), Adriaan van Roomen descreve brevemente dezoito disciplinas que ele denomina de “matemáticas”. Tais disciplinas estão divididas em dois grupos: as matemáticas principais que buscam a especulação das quantidades sejam abstratas (mathesis universalis, aritmética, etc.), sejam concretas (música, astronomia, geografia, etc.); e as matemáticas mecânicas que estão relacionadas ao uso e construção de instrumentos, a saber, sphaeropoeia, manganaria ou mechanaria, mechanopoetica, organopoetica e thaumatopoetica. A primeira das disciplinas está relacionada à produção de instrumentos para auxiliar as matemáticas principais; a segunda é a arte de produzir instrumentos para estudar os pesos; a terceira estuda as máquinas que necessitam de um agente externo para realizarem suas ações; a quarta tem como foco o estudo de máquinas bélicas; e, a última, é o estudo de instrumentos que movem-se a si próprios. Então, todas as disciplinas estão ligadas ao uso e produção de instrumentos matemáticos e, na opinião de van Roomen, tais disciplinas fazer parte do conjunto das ditas “matemáticas”. O estudo deste conjunto de disciplinas nos permite perceber relações entre o conhecimento matemático e tecnológico daquele período da história.