Resumo: Artigo 36366
Na trilha das drogas, vínculos de risco: explorando a controversa difusão de objetos sócio-técnicos (5, 10, 38, 46, 50, 108)
Eduardo Vargas, Universidade Federal de Minas Gerais, Brazil.
Apresentação: Thursday, May 29, 2008 3:45PM - 5:45PM sala 212 - UNIRIO VII ESOCITE - Sessão 54 - Chair: Debatedor a Confirmar
Abstract.
Há pouco mais de um século uma inusitada proliferação de objetos sócio-técnicos tem incrementado de maneira impressionante os dispositivos de segurança terapêutica. Refiro-me notadamente às substâncias que convencionamos chamar de medicamentos ou de drogas. As invenções/descobertas das drogas e suas apropriações terapêuticas resultam de complexos processos sócio-técnicos que redefiniram e rearticularam domínios os mais diversos; ao mesmo tempo, elas são inseparáveis do funcionamento de dispositivos biomédicos mais amplos que permitiram um acréscimo sem precedentes da duração da vida. Entretanto, ainda que as drogas venham contribuindo para que vivamos mais, elas também têm contribuído para que morramos mais, ou de outros modos, seja em virtude da criminalização do uso de algumas drogas, seja sob a forma de efeitos iatrogênicos os mais diversos, efeitos estes decorrentes do próprio incremento do dispositivo das drogas. Uma das conseqüências mais intrincantes desse paradoxo diz respeito ao aumento concomitante da segurança terapêutica e das condutas de risco, seja porque é notável a ampliação dos tópicos ou das práticas sob vigilância, seja porque não é menos notável a ampliação da busca mais ou menos deliberada de condutas de risco, entre as quais se destacam aquelas configuaradas em torno do uso ilícito de drogas. Este trabalho explora a controversa difusão destes objetos sócio-técnicos problematizando a partilha moral entre drogas de uso lícito e drogas de uso ilícito e mostrando que a história da emergência e da expansão da indústria farmacêutica é também a história da criminalização e da guerra às drogas. Em seguida, a partir de etnografias realizadas em Juiz de Fora e em Belo Horizonte, Minas Gerais, junto a usuários de drogas e de medicamentos, este trabalho explora as drogas e os medicamentos não como objetos prontos, mas do ponto de vista dos vínculos de risco em que se/nos envolvem, e que por sua vez envolvem diferentes modos de efetuação da vida e de composição do mundo. Enfim, este trabalho procura diagramar alguns dos modos de existência em curso em vínculos de risco como aqueles em que matérias como as drogas estejam em pauta.