Resumo: Artigo 36325
Estereótipos e preconceitos raciais na educação científica: uma analise da experiência do programa Oguntec na promoção da educação científica de jovens afrodescendentes na Bahia(3,6,11,12,13,14)
Lázaro Cunha, Universidade Federal da Bahia, Brazil.
Apresentação: Wednesday, May 29, 2008 1:15PM - 3:15PM sala 202 - UNIRIO VII ESOCITE - Sessão 34 - Chair: Nara Azevedo
Abstract.
A ciência é uma das atividades humanas que mais interferem nas relações sociais e constitui um elemento determinante na política de intercâmbio entre os povos, definindo o nível hierárquico dessas relações. No contexto das desigualdades raciais, verifica-se que a percepção de inferioridade dos povos africanos e da diáspora africana teve na ciência ocidental uma das suas mais fortes aliadas, na medida em que esta se tornou a referencia para mensurar a capacidade intelectual e o estado de desenvolvimento dos povos. Com efeito, a prática da ciência ocidental em países da diáspora africana como o Brasil, sem uma reflexão de suas bases sociais e históricas traz uma questão paradigmática para esses países: como promover a educação científica dos afrodescendentes tendo um quadro teórico referenciado em uma ciência eurocentrica que com o advento do racismo científico do século XIX contribuiu para propagação de estereótipos raciais que ainda hoje modelam o imaginário social sobre a população afrodescendentes? Segundo Silveira(1999) Os cientistas influenciaram os criadores do imaginário coletivo: literatos, teatrólogos, ilustradores e cartunistas. E os formadores de opinião: lideres comunitários, esportistas, educadores, legisladores e políticos. Seu grande prestígio virtualizou a implantação de políticas e padrões, avalizou uma iconografia depreciativa(...) não raras vezes incentivando a violência policial/militar e o autoritarismo quando praticados contra as raças inferiores (Silveira,1999;p.145). De fato, há que se questionar o impacto desses estereótipos raciais nos ambientes de educação científica, verificando os seus reflexos sobre a auto-estima e no desempenho educacional dos estudantes afrodescendentes. A proposta de nossa pesquisa foi justamente analisar esses efeitos dos estereótipos e preconceitos raciais no processo de educação científica de jovens afros descendentes. Para tanto, realizamos uma pesquisa qualitativa em uma experiência educacional inovadora produzida pelo Instituto Cultural Steve Biko , uma organização do movimento negro baiano que com um programa denominado OGUNTEC desenvolve ações para estimular o ingresso de estudantes afrodescendentes nas carreiras científicas e tecnológicas nas universidades baianas. A referida experiência nos revelou as estratégias empregadas por esse programa para a superação da baixa-estima e dificuldades de aprendizados, legados de escolas públicas deficitárias e pautados em projetos pedagógicos eurocentricos que desqualifica ou omite as contribuições culturais de outros povos. Acredito que as contribuições desse trabalho poderão fomentar propostas educacionais inclusivas que possibilitem um ambiente favorável ao desenvolvimento das potencialidades de grupos excluídos, na medida em que foram de fato verificadas melhorias efetivas no rendimento educacional e na estima dos estudantes. De sorte que isso pôde ser constado pelos resultados de aprovação no vestibular e pelo depoimento dos próprios educandos pesquisados quando se referiram ao desenvolvimento pessoal experimentado. A contribuição de alternativas educacionais , como essa, implementadas por atores sociais como as organizações do movimento negro devem ser examinadas com bastante atenção pela sociedade e pelo estado, na perspectiva de ações no âmbito das políticas públicas. O anseio por um desenvolvimento social e econômico sustentável demanda do poder público esse diálogo social com os segmentos mais excluídos, e, nesse caso, a visibilidade dessa experiência pode permitir a sua multiplicação e a substituição de modelos educacionais conservadores que têm como norma a desconstrução da estima dos nãobrancos dificultando a identificação destes com as carreiras científicas e tecnológicas que são encaradas dessa forma como coisa de branco.