Resumo: Artigo 36311
Ciência e tecnologia no jornal nacional um exercício de análise discursiva para se pensar o trabalho da linguagem televisiva em aulas de ciências (58, 70 74, 76, 78, 90)
Mariana Ramos, Universidade Estadual de Campinas, BrazilIrlan von Linsingen, Depto de Engenharia Mecânica - Centro Tecnológico - UFSC, BrazilSuzani Cassiani de Souza, Depto. Metodologia Ensino - CED - UFSC, Brazil.
Apresentação: Friday, May 30, 2008 3:45PM - 5:45PM sala 213 - UNIRIO VII ESOCITE - Sessão 6 - Chair: Bernardo Oliveira
Abstract.
Vimos refletindo sobre as influências mútuas entre ciência, tecnologia e sociedade e o papel da educação formal (ensino de ciências) na mediação de discursos sobre e, também, provenientes destes campos. A partir destas reflexões, acreditamos que uma maior atenção deva ser considerada no que diz respeito à linguagem e a como vem sendo pensada na relação entre o ensino e a circulação de conhecimentos científicos e tecnológicos. Inserimos nesta discussão um modo de pensar o ensino de ciências que considere, além do debate de conteúdos dos estudos CTS, as próprias formas como estes atingem o público de estudantes formais, de modo a ensaiar uma não separação entre forma e conteúdo. Uma reportagem que aborde o tema transgênicos em um telejornal pode produzir efeitos de sentidos sobre seu referente diferentes daqueles estudados na escola, ou lidos em um folder de uma empresa que vende alimentos transgênicos. Os próprios modos de circulação destes temas podem favorecer a um sujeito significá-los de maneiras diferentes. Assim, procuramos nos apropriar de referenciais que nos auxiliem a estudar a materialidade discursiva em C&T, tornando a linguagem um de nossos objetos de estudo. Compreendemos a televisão como importante produtora de discursos sobre/de C&T no Brasil. Além de destacar-se pela quantidade de programas que fazem circular de diferentes formas os discursos científicos, consideramos este espaço relevante pelo alcance, em termos de audiência (ampla e heterogênea), e pela legitimidade com que muitos destes discursos são encarados (especialmente os gêneros televisivos jornalísticos, como telejornais e documentários) no que respeita à construção e à filiação de sentidos sobre ciência pelos telespectadores. Levando em conta que a televisão situa-se como um dos eixos de construção de sentidos de/sobre ciência, consideramos relevante abordá-la como objeto de estudo de educação em ciências, buscando compreender como este espaço se articula na produção de textos destinados a seus telespectadores e como produz efeitos-leitor de ciência através desta articulação. Para começarmos a ensaiar uma apropriação deste espaço, visando futuras estratégias de ensino que busquem trabalhar em aulas de ciências também o modo de circulação do texto televisivo, analisamos alguns momentos da programação televisiva de rede aberta do país. Neste trabalho, apresentamos um exemplo de análise de quatro dias do Jornal Nacional (programa telejornalístico de maior audiência do país), onde selecionamos reportagens nas quais circulava a questão da aprovação da lei de biossegurança nacional que regulamentava, entre outras coisas, a utilização de células-tronco embrionárias para pesquisa científica e a pesquisa, produção e comercialização de organismos transgênicos no país. Para esta análise, traçamos um recorte nos efeitos de sentido possíveis de/sobre ciência, tendo como foco um debate entre ciência e religião, bastante explorado nesses episódios. Chamamos a atenção para a explicitação de um debate entre ciência e religião como um dos mecanismos jornalísticos de inserção de polêmicas para chamada de atenção para a reportagem. Questionamos, também, um silenciamento das polêmicas que emergem das relações entre os cientistas/especialistas, como se todos estes adotassem um mesmo posicionamento perante os discursos científicos que estão envolvidos na lei. Neste caso, discutimos como este modo de construção da reportagem pode contribuir para uma determinada filiação de sentidos sobre práticas científicas e tecnológicas que as situam no domínio do estático, do lógico, do objetivo, da novidade, como se, entre as diferentes comunidades científicas não houvesse controvérsias e polêmicas, mas sim, uma grande verdade científica. A partir destas análises, buscamos apontar modos de trabalhos que, além da discussão da formação de uma visão de ciência, insira esta discussão nos modos de circulação das ciências e de uma possível re-leitura destes modos nas aulas de ciências.