Resumo: Artigo 36157
A Institucionalização da Análise Matemática Moderna no Brasil (20,35,77,94, 97)
Eliene Lima, Universidade Estadual de Santa Cruz, BrazilAndré Luis Mattedi Dias, Universidade Estadual de Feira de Santana, Brazil.
Apresentação: Wednesday, May 29, 2008 3:45PM - 5:45PM sala 202 - UNIRIO VII ESOCITE - Sessão 43 - Chair: Hebe Vessuri
Abstract.
Este trabalho investigou o processo de recepção, difusão e apropriação da Análise Matemática Moderna de origem européia pelos matemáticos brasileiros, em particular por Omar Catunda, a partir de 1934, ano da fundação da Universidade de São Paulo (USP) e da sua Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL). Tal estudo se junta às pesquisas produzidas pelo Grupo de Pesquisa em História das Ciências no Brasil do Programa em Ensino, Filosofia e História das Ciências, cujo objetivo geral é analisar historicamente as questões que envolvem a institucionalização, difusão, recepção e apropriação das ciências de origens européias nos contextos sócio-culturais brasileiros, acompanhando em particular os personagens, as instituições e as atividades científicas localizadas na Bahia. Esses trabalhos tornaram-se possíveis na medida em que seguem o caminho aberto pela produção historiográfica dos últimos vinte anos sobre as ciências em particular a matemática- no Brasil e na América Latina, baseada em novas abordagens e métodos que valorizaram temas e objetos anteriormente ignorados ou desconsiderados pela historiografia. No âmbito da historiografia da matemática, de forma inédita, valorizam-se o conhecimento e as atividades matemáticas como feito por pessoas inseridas dentro de um contexto social, com preocupações políticas e econômicas da sua época, submetidas a condicionamentos sociais e culturais de diversas ordens, destoando do discurso que enfatiza a matemática como puramente proveniente das reflexões sobre as articulações lógico-abstratas dos seus conceitos feitas por gênios com dons sobrenaturais. Assim, historiadores da matemática como Ugo Bottazzini e Craig Fraser, ou como Gert Schubring, entendem atualmente que o desafio essencial do historiador da matemática é compreender a produção matemática em seus mais diversos aspectos, fazendo uso das mais diversas abordagens teóricas, dos mais variados recursos metodológicos. Dentro desta perspectiva, analisamos, primeiro, como era ministrado o ensino do cálculo antes da criação da USP, particularmente na Escola Politécnica de São Paulo (EP-SP) e quais livros eram tomados como referência para o ensino dessa disciplina. Depois, relatamos sobre as transformações ocorridas no ensino do cálculo, após a criação da FFCL-USP e a sub-secção de Ciências Matemáticas, em 1934. O processo de formação dos matemáticos, independente da carreira de engenharia, a partir desse período, sofreu forte influência da presença de matemáticos estrangeiros, principalmente da escola italiana, como Luigi Fantappiè. Foi este matemático quem modernizou os programas das disciplinas de Geometria e de Cálculo Infinitesimal da EP-SP, inaugurando no Brasil a tradição trazida da Itália de se ensinar Análise Matemática Moderna. Isto era inovador para a estrutura antes estabelecida nas escolas politécnicas ou de engenharias, nas quais se escolhia ver apenas a parte fundamental do cálculo infinitesimal, que se resumia ao estudo das regras de derivação e integração. Por fim, fizemos também uma análise da apostila do Curso de Análise Matemática de Fantappié, que ele ministrou na FFCL-USP de 1934 a 1939, ano do seu regresso à Itália. Este estudo foi necessário porque este curso de Fantappiè serviu de base para o livro Curso de Análise Matemática de Omar Catunda. Nele escolhemos alguns aspectos, alguns pontos que serviram para evidenciar o caráter da apropriação feita por Catunda na sua publicação, já que, além de (re)elaborar alguns assuntos tratados por Fantappié, como a teoria dos números reais, também acrescentou outros, como os números complexos. Como resultado, pudemos verificar como Omar Catunda imprimiu na sua publicação a sua forma própria de entender e de produzir o conhecimento matemático, ou seja, como ele se apropriou da análise matemática moderna de origens européias de acordo com a sua identidade social e cultural.