Resumo: Artigo 36115
Escassos Relatos de Um Desenvolvimento Local: A História Recente da Informática Brasileira (5, 12, 17, 18,19,20)
Raul Colcher, UFRJ, Brazil.
Apresentação: Thursday, May 29, 2008 3:45PM - 5:45PM sala 201 - UNIRIO VII ESOCITE - Sessão 44 - Chair: Debatedor a Confirmar
Abstract.
As Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), que compreendem a informática e as telecomunicações, são inquestionavelmente importantes para os indivíduos, as organizações e as nações. O Brasil não é exceção e, por essa razão, seria de se esperar que houvesse alguma historiografia brasileira a respeito dessa tecnologias, que servisse tanto de instrumento para compreender o caminho percorrido até o presente quanto de referência para especulações sobre possíveis alternativas futuras. Não é isso o que ocorre. Quem se dedicar a buscar trabalhos de pesquisa e análise histórica a respeito da informática brasileira estará inevitavelmente circunscrito a um pequeno universo de obras, parte da já limitada produção sobre história da ciência e tecnologia no Brasil. Além disso, a maior parte desses trabalhos são teses, dissertações e textos acadêmicos ou pequenas partes de textos mais genéricos. É verdade que o Brasil não teve papel proeminente na invenção/construção do computador ou de seu emprego pioneiro. Essa é uma história eminentemente norte-americana e européia, fortemente vinculada à história da segunda guerra mundial e à guerra fria, uma história científica e tecnológica, mas que também se presta a análises culturais e políticas, onde se correlacione o significado do computador como ferramenta às metáforas e símbolos que lhe são associados. Tal correlação e o vínculo entre a conformação do computador e a história da guerra fria foram dissecados pelo historiador norte-americano Paul EDWARDS, em trabalho considerado pelo jornal The Nation como uma alternativa radicalmente nova às histórias canônicas dos computadores e da ciência cognitiva. A ciência de computação tinha começado a emergir como disciplina independente, a partir da década de 1940, com a construção dos primeiros computadores eletrônicos digitais. A nova ciência logo enredaria pesquisadores dos mais diversos campos de origem e também a atenção daqueles que formulavam as políticas de investimento em ciência no pós-guerra. Mas o Brasil teve, nos anos que se seguiram ao armistício, uma rica história de penetração local da indústria internacional de informática, tendo percorrido caminhos próprios na apropriação dessa tecnologia e de seus artefatos para os usos adequados a sua economia e sua cultura, que reciprocamente ajudaram a construir essa economia e essa cultura. Uma passagem importante dessa história ocorreu a partir dos anos 70s com o desenvolvimento de uma indústria de computadores autóctone, ao abrigo de políticas tecnológicas e industriais diferenciadas em relação às práticas comuns em outros países. Se tais políticas e ações governamentais que delas derivaram conformaram, à época, um mercado substancial para a indústria local de computadores, também deflagraram polêmicas ácidas e foram alvos de contenciosos domésticos e internacionais que alcançaram status de crises governamentais e diplomáticas. Até hoje, suscitam controvérsias. Assim, não se pode dizer que não haja uma rica história da informática brasileira a ser construída e relatada. O computador é personagem proeminente de culturas que o construíram e que ele, por sua vez, ajudou a construir. O discurso associado a essas culturas, com seus costumes, suas metáforas, lendas urbanas e peculiaridades não é único para os diversos coletivos em que o computador se tornou componente crucial. O propósito deste trabalho é discutir possíveis linhas para investigação dessa construção recíproca na sociedade brasileira, com ênfase na história da apropriação do computador entre nós, posterior ao período da reserva, do governo Collor até os nossos dias.