Resumo: Artigo 36037
Gênero, sexualidade e construção de diagnósticos e intervenções farmacêuticas (15, 10, 38, 50, 81, 36)
Fabiola Rohden, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brazil.
Apresentação: Thursday, May 29, 2008 1:15PM - 3:15PM sala 201 - UNIRIO VII ESOCITE - Sessão 10 - Chair: Lilian Chazan
Abstract.
O domínio da sexualidade tem sido alvo, sobretudo nos últimos vinte anos, de um crescente interesse por parte de profissionais de diferentes áreas que têm se proposto a intervir em prol da realização de um ideal de sexualidade satisfatória. Um grande número de especialistas, entre os quais se destacam médicos, psicólogos e educadores, passa a se dedicar a distintas formas de intervenção com esse objetivo. Percebe-se, ao mesmo tempo, a conformação de um vasto mercado de resolução dos problemas sexuais com grande espaço na mídia e em boa parte impulsionado pela indústria das chamadas drogas pró-sexuais. Nos primeiros meses de 2007 temos assistido ao lançamento, pela indústria farmacêutica, de duas grandes campanhas publicitárias. A primeira se refere ao Distúrbio Androgênico do Envelhecimento (DAEM), pelo laboratório Schering, já circulando na imprensa brasileira. Segundo o anúncio, trata-se da andropausa, fenômeno diretamente relacionado ao decréscimo da produção de Testosterona após os 40 anos de idade e cujos principais sintomas incluem a perda da libido (desejo sexual), diminuição da massa muscular, perda de energia, depressão, disfunção erétil, além do risco de doenças cardiovasculares (Revista Época, 26 de março de 2007: 11). A segunda diz respeito à promoção, ainda no mercado europeu e sem previsão para lançamento no Brasil, do Intrinsa, medicamento da Procter & Gamble anunciado como o viagra feminino. Trata-se de um adesivo que promete recuperar a libido de mulheres que teriam entrado na menopausa precocemente, após passar por cirurgias de remoção dos ovários e do útero. Mais uma vez, a substancia em questão é a testosterona, hormônio ligado ao desejo sexual que seria reposto na corrente sanguínea (Revista Época, 2 de abril de 2007: 28). Em meio a um amplo e complexo jogo de interesses que envolvem o desenvolvimento de diagnósticos e medicamentos como os citados acima, podemos reconhecer a configuração de uma nova norma relacionada à idéia de saúde sexual, baseada na noção de desempenho e que obedece a fortes marcações de gênero. Este trabalho pretende investigar as raízes desse processo desde uma perspectiva antropológica centrada na relação entre gênero, ciência e intervenções médico-farmacêuticas. Para tanto, recorro a uma análise da história da constituição dos hormônios sexuais durante as primeiras décadas do século XX e da conformação de um corpo hormonal como chave explicativa para diversos fenômenos (anatômicos, fisiológicos, psíquicos e comportamentais) que afetariam os indivíduos atualmente. Além disso, também lanço mão de uma descrição da construção do campo recente da sexologia, na sua faceta clínica, orientado, em grande parte, pela administração de medicamentos.