Resumo: Artigo 36033
A construção de um sistema operacional Unix-like no Brasil: O sistema operacional Sox. ( 5, 19, 86, 114)
Marcia Cardoso, Vitor Barcellos, UFRJ, Brazil.
Apresentação: Friday, May 30, 2008 3:45PM - 5:45PM sala 203 - UNIRIO VII ESOCITE - Sessão 25 - Chair: Ivo Theis
Abstract.
Durante a década de 1980, os laboratórios da empresa brasileira Cobra Computadores construíram o sistema operacional SOx. No Brasil, a comunidade de informática convergia na tentativa de licenciar o Unix junto à empresa americana AT&T, buscando aliados e articulando negociações que efetivassem o licenciamento. Tais negociações, divulgadas nas revistas especializadas da época, encontravam resistências, principalmente nas negativas da própria AT&T de negociar sem uma legislação de software brasileira. Concebido originalmente como um projeto de um sistema operacional portável e de tempo real, o SOx acabou por se basear inicialmente nas especificações SVID, produzidas pela AT&T em apoio e, ao mesmo tempo, como reação à proposta de adoção do seu sistema Unix como um padrão por um grupo americano de usuários de Unix (/usr/group) que editou uma especificação chamada /usr/group Standard Proposal em 1984. Na cena brasileira da ocasião, o SOx entra como um ator que poderá substituir os anseios por um padrão de sistema operacional e manter um discurso caracterizado por uma linguagem nacionalista. Ao mesmo tempo, o mundo Unix tinha a sua batalha. A filosofia Unix requeria duas interfaces básicas: uma interface entre usuário e sistema e uma interface entre programas e sistema. A primeira, permitia que as diferentes implementações do Unix pudessem produzir comandos idênticos para funções idênticas. A segunda, era composta de rotinas de pedidos de serviços e que intermediavam tais pedidos. Esta interface foi objeto da tentativa de padronização existente, nas décadas de 1980/1990, para que programas desenvolvidos em um Unix de um fabricante pudessem ser utilizados no Unix de outro. Assim, existiam negociações entre grupos de empresas desenvolvedoras do Unix para o estabelecimento de um padrão. Em 1985, o consórcio X/OPEN, formado inicialmente por empresas européias, propunha utilizar o Unix como parâmetro para extrair especificações para o que foi definido como sistemas abertos, que reduziria os custos de transferência (porte) de software. Posteriormente, o SOx obteve a sua certificação como um sistema baseado nas especificações X/PG2, que haviam sido definidas pelo consórcio X/Open. O SOx se envolveu em uma disputa em que entraram em cena os conceitos de padrões e sistemas, pressões de empresas que queriam licenciar o Unix original, leis de software e de similaridade de produtos, geração de empregos de nível, importação seletiva de aplicativos, disseminação do sistema nacional, mas que parece à primeira vista posta em uma só questão presente nos debates da comunidade : Sox ou Unix. No início da década de 1990, o projeto SOx foi desativado. Embora possuísse a certificação como um sistema aderente ao Unix, prevalece a visão do SOx como um padrão que se queria adotar em detrimento ao que o resto do mundo utilizava. O SOx não passou em seus testes de resistência e desestabilizou-se como artefato. Passou de fato à ficção. As perguntas que permeiam este trabalho são: por que construir o SOx? E a que testes o SOx não resistiu? Uma investigação sociotécnica para produzir respostas sugere que as perguntas acima sejam reformuladas como: que vínculos se criaram? E que vínculos se desfizeram?