Resumo: Artigo 35880
Educação CTS: uma Proposta para a Formação de Cientistas e Engenheiros (14, 35, 63, 70, 74, 78)
Rafael Dias, Milena Serafim, Renato Dagnino, Universidade Estadual de Campinas, Brazil.
Apresentação: Thursday, May 29, 2008 1:15PM - 1:45PM sala 213 - UNIRIO VII ESOCITE - Sessão 22 - Chair: Gilson Queluz
Abstract.
Nos últimos anos, vem ganhando força no Brasil a idéia do cientista/engenheiro inovador. Em parte, essa tendência reflete a aliança conformada, no âmbito dos Estudos Sociais da Ciência e da Tecnologia (ESCT) entre a visão ofertista-linear, cujas características centrais remetem ao relatório de Vannevar Bush (1945), e um enfoque teórico analítico-descritivo oriundo da Economia, que aqui chamaremos grosseiramente de enfoque evolucionário (ou evolucionista). Em um contexto onde a linha que separava empresas e universidades se torna cada vez menos perceptível, vozes provenientes tanto do mundo acadêmico quanto do mundo empresarial professam as vantagens atreladas a mudanças possíveis e, mais do que isso, desejáveis na formação desses profissionais. O discurso mais comum prega a necessidade de formar cientistas e engenheiros capazes de combinar profundo conhecimento técnico e científico a habilidades gerenciais, o que exigiria uma série de mudanças curriculares, tanto em termos de forma quanto em termos dos conteúdos. Implícito nesse discurso está, obviamente, o diagnóstico de que o modelo vigente de formação desses profissionais tornou-se inadequado à atual realidade brasileira. No artigo aqui apresentado, expressamos nossa total concordância em relação a esse diagnóstico. De fato, o perfil dos cientistas e engenheiros formados atualmente no Brasil não é condizente com a realidade social brasileira. Contudo, entendemos que o modelo proposto o do cientista/engenheiro inovador também é inadequado. A razão dessa inadequação é a mesma para os dois modelos. Em ambos os casos o modelo de formação não é pensado de forma integrada ao contexto mais amplo da sociedade brasileira. No caso do modelo vigente, isso não é feito porque este foi concebido dentro de uma racionalidade positivista extrema: o bom cientista/engenheiro é aquele que domina a ciência e a técnica. O modelo do cientista/engenheiro inovador, por sua vez, não o faz porque foi concebido a partir de uma percepção distorcida da realidade brasileira. Como modelo alternativo que julgamos mais adequado, propomos a educação CTS. Uma das principais características da educação CTS é a busca pela participação e pela democratização das decisões em temas sociais envolvendo ciência e tecnologia. Isso seria viabilizado através de uma compreensão crítica acerca das relações CTS fugindo, portanto, de alguns mitos do senso comum como o da neutralidade científica e do determinismo tecnológico, o da autoridade técnica, o da ciência inerentemente boa, etc. Ao longo dos anos oitenta e noventa, verificou-se um aumento dos cursos e programas CTS, sobretudo nos EUA e na Europa, mas também em alguns países latino-americanos, em especial no México e na Argentina. No Brasil, contudo, os passos dados nessa direção ainda têm sido embrionários e dispersos. Assim, argumentamos no artigo que há um diagnóstico correto acerca da não-funcionalidade do modelo de educação em ciências e engenharias vigente hoje no Brasil. Contudo, acreditamos que o modelo mais aceito como alternativa também não seria o mais interessante. Procuramos no artigo associar o sucesso do discurso do cientista/engenheiro inovador com a ascensão da ideologia política neoliberal. Por outro lado, a proposta que nos parece ser a mais adequada (a da educação CTS), conforme argumentamos, estaria na base de um processo de transformação social pautado por valores democráticos e de justiça social.