Resumo: Artigo 35792
Interdisciplinary Production of Scientific Knowledge and the Environmental Issue (9, 13, 45, 67, 68 e 72)
Tatiana Maranhão, Universidade de Brasília/ Ministério da Ciência e Tecnologia, Brazil.
Apresentação: Friday, May 30, 2008 1:15PM - 3:15PM sala 205 - UNIRIO VII ESOCITE - Sessão 13 - Chair: Ismael Ledesma
Abstract.
PRODUÇÃO INTERDISCIPLINAR DE CONHECIMENTO CIENTÍFICO E A QUESTÃO AMBIENTAL Na contemporaneidade de um planeta cujo processo civilizador caracteriza-se por formar redes de interdependências dinâmicas e desiguais entre as sociedades dos indivíduos (Elias, 1994a: 112; 1994b: 264), diversos problemas interpenetram as fronteiras reais das nações e das grandes áreas do conhecimento científico. Problemas mundiais, como a desigualdade sócio-econômica e a degradação ambiental (Shiva, 2004: 163-164; Latour, 2002: 15-16), quando transformados em problemas científicos, transcendem os limites circunscritos pela organização disciplinar do conhecimento (Bursztyn & Sayago, 2006: 104; Nowotny, Scott & Gibbons, 2001; Latour, 2000; Gibbons et al, 1994; Knorr-Cetina, 1982). O presente artigo destacou fatores que permeiam os cenários da prática interdisciplinar: (1) miséria e pobreza são fenômenos mundiais gerados em processos de apropriação, produção e desenvolvimento desiguais e heterogêneos (Herrera, 1984: 62); (2) na arena internacional, a importância da questão ambiental parece ser compartilhada por diversos discursos políticos (Bursztyn, 1995: 97), embora países adotem estratégias diferentes de investimentos no desenvolvimento científico e tecnológico, produzido de modo desigual e concentrado (Barros, 1999; 2005); e (3) no Brasil, houve uma reorientação temática dos investimentos em C&T, algo que poderia incrementar a prática de pesquisa interdisciplinar, mas que, de fato, demonstra a dificuldade de superar a divisão de saberes disciplinares para pensar objetos complexos (Floriani, 2006; Baumgarten, 2006; Sobral, 2006a; Sobral 2006b; Bursztyn, 2005b). A produção de conhecimento interdisciplinar ocorre no campo científico (Bourdieu & Wacquant, 1992: 152-153) por meio de pesquisas cooperativas sobre temas que demandam novas epistemes (Floriani, 2006: 77; Zellmer et al, 2006: 181). Diante dessa complexidade, identifica-se que será preciso mais Ciências (Latour & Woolgar, 1997; Latour, 2000; 2001), num esforço coletivo de compreensão de fenômenos que ultrapassam as barreiras disciplinares do saber. Como se caracteriza a produção de conhecimento interdisciplinar no campo científico no Brasil, relacionada à questão ambiental? Analisaram-se aspectos da prática da pesquisa científica interdisciplinar (Sobral, 2006a; 2006b), com base nos três Censos realizados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq, em 2000, 2002 e 2004, sobre o diretório dos Grupos de Pesquisa. Foram identificados os grupos de pesquisa, as linhas de pesquisa, os pesquisadores, estudantes e a produção existente relacionada a quatro palavras-chave: meio ambiente, biodiversidade, recursos naturais e desenvolvimento sustentável (Bursztyn, 2004: 69). Propôs-se tal análise dos dados a fim de compreender quem produz esse tipo de conhecimento e em que lócus isso ocorre (Sobral, 2006b). Uma possibilidade dá-se por meio da análise temática relacionada às grandes áreas do conhecimento a que se vinculam grupos de pesquisa cadastrados na base CNPq-LATTES, até dezembro de 2006. Os principais resultados indicam que: (1) os grupos de pesquisa primeiramente relacionados às Ciências Sociais Aplicadas se referiram mais aos temas desenvolvimento sustentável (37,36%) e meio ambiente (24,06%), seguidas pelas Ciências Humanas, com referências de 21,52% dos grupos ao tema meio ambiente e 19,43% deles ao tema desenvolvimento sustentável; (2) nos grupos de pesquisa das Ciências Agrárias o foco foi prioritariamente nos recursos naturais: cerca de um terço deles estavam ligados a este tema (31,68%); (3) existe uma predominância dos grupos das Ciências Biológicas em pesquisas sobre biodiversidade, tema no qual representam mais de dois terços de todos os grupos com este foco temático (64,87%); (4) houve uma redução no percentual de grupos de pesquisa que se referiram a recursos naturais nas Ciências Sociais Aplicadas (de 17,65% em 2002 para 15,63% em 2006), o que também ocorreu nas demais áreas, exceto nas Ciências Biológicas, em que mais grupos relacionaram-se a este tema (7,06% em 2002 para 16,04% em 2006); e (5) houve um aumento no percentual de grupos de pesquisa da maioria das áreas do conhecimento pelo tema meio ambiente, exceto nas Ciências Biológicas (que representavam 10,27% dos grupos interessados nesse tema em 2002 e passaram para 7,2% em 2006) e nas Ciências Exatas e da Terra (que representavam 20,54% dos grupos interessados nesse tema em 2002 e passaram para 16,44% em 2006).