Na perspectiva CTS ou dos Estudos de Ciência e Tecnologia (ECT, dito STS, Science and Tecnology Studies ou ainda simplesmente Sciences Technologies Societies no mundo de língua inglesa), que se desenvolveram com particular intensidade a partir da década de 1980 principalmente na Europa e nos EUA com os chamados “estudos de laboratório”, os fatos e artefatos científico-tecnológicos, os conhecimentos e as inovações, não podem ser bem entendidos se os aspectos técnicos forem colocados de um lado e os aspectos sociais de outro, e as análises e projetos forem assim compartimentalizados.
Os governos dos países desenvolvidos, notadamente os dos países europeus, mas também o dos EUA, vêm recorrendo crescentemente aos profissionais do campo dos ECT para tratar as questões cada vez mais complexas do gerenciamento da tecnologia na sociedade – a doença da vaca louca, buraco de ozônio, lixo atômico, novas doenças, efeitos de obras como barragens, acidentes aéreos e espaciais (Columbia), para citar alguns exemplos. A mistura indissociável de elementos humanos e não humanos (como os computadores) imbricados nestas questões demanda novas ferramentas analíticas que os praticantes do campo dos ECT vêm desenvolvendo com intensidade crescente nos últimos 20 anos.
Os ECT já são reconhecidos pelas instituições mundiais de ensino e pesquisa de primeira linha, onde começam a constituir departamentos e programas autônomos, embora sua localização nessas instituições revele uma hesitação típica das áreas interdisciplinares quanto ao seu enquadramento no interior de fronteiras já consagradas entre as diversas áreas de conhecimento. Vamos encontrar os ECT ora colocados próximos às ciências humanas, ora próximos às ciências exatas, especialmente às engenharias. Em Paris, os ECT se concentram no Centre de Sociologie de L’Innovation (CSI), por sua vez abrigado no interior de uma das mais tradicionais escolas de engenharia da França, a École des Mines de Paris. Já em Edimburgo, a área faz parte da Escola de Sociologia. Tanto no MIT como em Stanford, os ECT estão junto às humanidades. Mas, independentemente do nome e da afiliação institucional, as universidades estrangeiras de renome estão tratando de desenvolver a área de ECT.
Na América Latina, pode-se dizer que os Estudos de Ciência e Tecnologia encontram-se em fase inicial. Mas também é possível que grupos ainda não identificados e vinculados representem uma grande porcentagem dos grupos de ensino e pesquisa que adotam sistematicamente as abordagens dos ECT, as quais são freqüentemente referidas como “antropologia da ciência”, “sociologia da tradução” ou “teoria ator-rede”. Uma decorrência visada das Jornadas Esocite é justamente o fortalecimento destes vínculos, condição primeira para a formação de uma comunidade latino-americana de estudos CTS.
1) Apresentar, discutir, solidificar e desenvolver a produção dos profissionais latino-americanos no campo dos Estudos CTS (Estudos de Ciência, Tecnologia e Sociedade), bem como fortalecer a comunidade latino-americana destes profissionais, colocando em cena uma lista de temas abrangentes tais como: Quais as relações de ciência e tecnologia com a América Latina? Nas últimas décadas os Estudos CTS trouxeram novas visões epistemológicas e abriram novos espaços de avaliação das ciências e das tecnologias. Quais a formas de relacionamento das ciências e tecnologias com a América Latina? Como os fatos e artefatos tecnocientíficos se incorporam à vida dos latino-americanos? Como se mede a produção de conhecimento na América Latina e como esta produção se relaciona com ciências e tecnologias? O que separa o conhecimento popular latino-americano do conhecimento científico-tecnológico? Como esta separação atua? Como ela é estabelecida? Como ela se relaciona como o direito à propriedade intelectual? Como ela atua no campo da saúde? Como ela coloca em cena o médico, o farmacêutico que receita, o curandeiro? Como ela condiciona o pesquisador e as doenças pesquisadas?
2) Dar continuidade às Jornadas ESOCITE que vêm acontecendo desde 1994 em diversas cidades da América Latina e se constituíram como um espaço de reflexão sobre as atividades de ciência e tecnologia na região.